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Vitória Alvarenga – Faculdade de Medicina de Rio Claro – Claretiano EDEMA – patologia e semiologia Este resumo segue o livro de Patologia: bases patológicas das doenças, do Robbins, e o livro Semiologia Médica, do Porto. PATOLOGIA Os distúrbios que afetam as funções cardiovascular, renal ou hepática acabam formando edemas (acúmulo de líquidos nos tecidos) ou efusões (acúmulo de líquidos nas cavidades corporais fechadas). Mas... como que eles são formados? O que balança a entrada e a saída de água e sais entre os capilares e o interstício é a pressão hidrostática (empurra sais e água do intravascular para o interstício) e a pressão coloidosmótica (puxa sais e água do interstício para o intravascular). Dessa maneira, quando a pressão hidrostática está elevada ou a pressão coloidosmótica diminuída, há o rompimento do balanço e a saída de líquidos dos vasos. Assim, quando a taxa de saída for capaz de exceder a taxa de drenagem, o líquido se acumula e forma o edema ou a efusão. Este líquido pode ou não ser inflamatório. Quando são, eles possuem o exsudato, que é rico em proteínas, que vão se acumular devido ao aumento da permeabilidade vascular causada por mediadores inflamatórios. Os edemas não inflamatórios são comuns em ICC, insuficiência hepática, doenças renais e desnutrição grave. AUMENTO DA PRESSÃO HIDROSTÁTICA: em geral, por disfunções que impedem o retorno venoso. • Obstrução localizada, como a TVP, edema limitado à parte afetada. • Aumento sistêmico da pressão venosa, como na ICC, causa um edema generalizado, chamado de anasarca. REDUÇÃO DA PRESSÃO OSMÓTICA PLASMÁTICA: em indivíduos normais, a albumina (produzida no fígado) constitui a maioria das proteínas plasmáticas. Portanto, as patologias/condições que levam à síntese inadequada ou aumento da perda de albumina da circulação levam à menor pressão oncótica plasmática. • Síntese inadequada: ocorre, sobretudo, na doença hepática grave, como a cirrose em estágio final, e na desnutrição proteica. • Perda de albumina: síndrome nefrótica (albumina é perdida na urina através de capilares glomerulares com permeabilidade anormal). A queda da pressão oncótica ocasiona no edema, na diminuição do volume intravascular, hipoperfusão renal e hiperaldesteronismo secundário (aldosterona é produzida na zona glomerulosa da adrenal). Desse modo, ocorre uma FALHA na retenção de sal e água pelos rins e há uma exacerbação do edema. RETENÇÃO DE ÁGUA E SÓDIO: provoca um aumento da pressão hidrostática (devido à expansão de volume e líquido intravascular) e diminuição da pressão oncótica (devido à diluição). Essa retenção ocorre toda vez que a função renal está comprometida (distúrbios primários dos rins e nos distúrbios do coração), que resultam numa menor perfusão renal. Uma das principais causas da hipoperfusão renal é a ICC, que, assim como a hipoproteinemia, resulta na ativação do eixo renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). • Conforme a ICC piora, o DC vai diminuindo e o líquido retido vai aumentando a pressão hidrostática, causando edema. • Há uma tentativa de correção com diuréticos. OBSTRUÇÃO LINFÁTICA: os traumas, as fibroses, os tumores invasivos e os agentes infecciosos são capazes de romper os vasos linfáticos, bloqueando a eliminação de líquido intersticial, resultando em linfedema na parte afetada do corpo. • Exemplo: filariose parasitária – ocasiona uma fibrose obstrutiva dos canais linfáticos e linfonodos, resultando, em geral, em edema da genitália externa e dos MMII. O edema grave dos MMSS pode complicar a retirada cirúrgica e/ou a irradiação da mama (linfedema pós mastectomia) e dos linfonodos axilares associados em pacientes com câncer de mama. AUMENTO DA PERMEABILIDADE CAPILAR: A parede do capilar serve como uma barreira para impedir a entrada e saída descontrolada de elementos. Contudo, quando essa permeabilidade está aumentada, pode, por exemplo, haver a saída de mais proteínas do vaso para o interstício, o que puxa água para o interstício e ocasiona edema. MORFOLOGIA – microscopia: clareamento e separação da MEC e uma discreta tumefação celular. Vitória Alvarenga – Faculdade de Medicina de Rio Claro – Claretiano - Edema subcutâneo: pode ser difuso ou evidente em regiões com a pressão hidrostática elevada, sendo que a sua distribuição, geralmente, é influenciada pela gravidade (edema gravitacional). Quando, ao realizar uma digipressão de 5 segundos sobre o tecido subcutâneo, há formação de um cacifo (depressão sobre a pele), pode ser chamado de edema com cacifo – sinal de Godet. - Edemas resultantes de disfunção renal: em geral, aparecem, primeiramente, nas partes do corpo com tecidos conjuntivos frouxos, como as pálpebras (edema periorbital). - Edema pulmonar: pulmão passa a apresentar 2-3 vezes do seu peso normal e a superfície de secção revela um líquido espumoso, sanguinolento, representando uma mistura de ar, líquido de edema e hemácias extravasadas. - Edema cerebral: localizado ou generalizado. O cérebro edemaciado apresenta sulcos estruturados e circunvoluções alargadas e achatadas, pois são comprimidas pelo crânio inflexível. CLÍNICA – o edema subcutâneo é importante porque ele vai sinalizar uma doença de base, seja ela cardíaca ou renal e, ainda, quando significativa, pode prejudicar a cura de lesões ou a eliminação de infecções, que é o que iremos estudar na parte de semiologia. O edema pulmonar é muito indicativo de ICCE, insuficiência renal, SARA e inflamação ou infecção pulmonar. Semiologia Para a semiologia, a mesma definição basta: edema é o acúmulo ou excesso de líquidos no espaço intersticial ou intracelular. • Existem 3 espaços no corpo: intracelular e extracelular (que se divide em intravascular e interstício). Ele pode acontecer em qualquer lugar do organismo devido à quebra de um ou mais mecanismos que controlam a distribuição do volume de líquidos no corpo, que foram explicitados anteriormente, na parte de patologia. • No exame físico, o que importa é o edema subcutâneo, que pode ser identificado pela inspeção e pela palpação (digipressão de 5 segundos). O diagnóstico do edema tem início na anamnese com 3 informações básicas: tempo de duração, local e evolução. No exame físico, investiga-se a localização e distribuição, a intensidade, a consistência, a elasticidade e a temperatura, sensibilidade e outras alterações da pele adjacente. INTENSIDADE: faz-se uma digipressão firme e sustentada, de encontro com uma estrutura rígida, como a tíbia, o sacro e os ossos da face. Se formar o cacifo, há edema. Quanto maior é a profundidade do cacifo, maior é a intensidade. Outras duas maneiras de medir intensidade do edema é se pesando diariamente ou medindo o perímetro da região edemaciada. CONSISTÊNCIA: • EDEMA MOLE: facilmente depressível, significa que. Retenção hídrica não tem uma duração muito grande e o tecido subcutâneo está infiltrado de água. • EDEMA DURO: resistência para obter a formação do cacifo, o que indica proliferação fibroblástica que ocorre nos edemas com duração maior ou que tiveram repetidos surtos inflamatórios. ELASTICIDADE: observa-se a volta da pele para a posição inicial. • ELÁSTICO: pele retorna imediatamente, portanto, o cacifo dura pouco. • INELÁSTICO: pele demora para retornar e o cacifo permanece por mais tempo. TEMPERATURA DA PELE CIRCUNJACENTE: compara- se com a pele ao redor. • TEMPERATURA NORMAL: desprovido de significado clínico • PELE QUENTE: edema inflamatório • PELE FRIA: comprometimento da irrigação sanguínea daquela área. SENSIBILIDADE DA PELE CIRCUNJACENTE: • DOLOROSO: desperta dor – indica processo inflamatório. • INDOLOR OUTRAS ALTERAÇÕES NA PELE ADJACENTE: coloração, textura, espessura da pele. Quando um edema é localizado, ele vai se restringir a um único segmento do corpo, seja a um dos membros inferiores ou não. Para o diagnóstico diferencial de um edema localizado,tem-se que ter em mente as seguintes informações: Etiologia Mecanismo Semiótica Testes e Conduta Eripsela (Inflamação) Alta permeabilidade do leito capilar Calor e rubor. Ardor e tugor. Antibióticos analgésicos. TVP Pressão venosa elevada e pH alto Edema assimétrico (circulação colateral) Anticoagulantes (heparina) Linfedema Obstrução linfática Edema assimétrico e duro, com gânglios. Causa base Edema alérgico Alta permeabilidade do leito capilar Edema elástico e quente Antagonista de cálcio Vasodilatação arteriolar (pH alto) Edema simétrico, indolor e nos tornozelos. Vitória Alvarenga – Faculdade de Medicina de Rio Claro – Claretiano As principais causas do edema localizado são: varizes, flebites e trombose venosa, processos inflamatórios, afecção dos linfáticos e postura. O edema ocasionado por uma inflamação é causado por um aumento da permeabilidade capilar, sendo localizado, de intensidade leve a mediana, elástico, doloroso, mole, com a pele adjacente se apresentando lisa, brilhante, vermelha e quente (esses dois últimos: sinais flogísticos). O edema varicoso é localizado nos membros inferiores, acentuando quando o paciente fica muito em pé ou sentado, sendo muito intenso e de consistência mole de início, ficando cada vez mais duro. É inelástico e, com o tempo, a pele vai ficando mais escura, espessa e de textura mais grosseira. O edema ocasionado pela trombose venosa é mole, podendo ser intenso e a pele pode estar pálida (falta de circulação adequada), até mesmo cianótica. Tanto nas varizes como na trombose venosa, há o aumento da pressão hidrostática, seja ela por Insuficiência Valvar ou por oclusão do vaso O linfedema, como citado na tabela, é o edema originado de uma obstrução linfática (pós-eripsela, filariose) e caracteriza-se semiologicamente por ser localizado, duro, inelástico, indolor e com alterações da textura e espessura da pele, que fica grossa e áspera. O edema alérgico vai acompanhar os fenômenos angioneuróticos, sendo causado pelo aumento da permeabilidade capilar. Em geral, é causado pela histamina e pelas cininas que agem a nível capilar, alterando a sua permeabilidade, permitindo que água entre para o interstício. É um edema mole e elástico. Quando a opção de edema localizado é excluída, considera-se o edema generalizado ou anasarca, mesmo que aparentemente esteja em apenas uma porção do corpo. Assim, por mais que o edema se localize nos MMII, outras regiões precisam ser investigadas, como a face (regiões subpalpebrais) e a região pré-sacra (sobretudo em acamados, recém nascidos e lactentes). O edema generalizado se instala em diferentes segmentos corporais e pode ter como causa uma alteração cardíaca, renal, hepática ou nutricional e, por isso, existem algumas informações importantes a seguir: Etiologia Mecanismo Semiótica Exames Complementares Síndrome nefrótica Alterações da permeabilidade da membrana basal glomerular à diminuição da p. oncótica por perda de proteínas Urina Espumosa (por perda de proteínas), edema facial e matutino, anasarca, paciente hipotenso e desidratado. Proteinúria: 3,5 g/dia Hiperlipidemia Hipoalbuminemia Síndrome nefrítica IRA (ex: Streptococos b-hemolítico grupo A) Processo inflamatório do capilar glomerular HAS Hematúria Oligúria Náuseas Urina I (hematúria, cilindros) Creatina e ureia elevadas (azotemia) Eletrólitos ICC Aumento da pressão hidrostática Dispneia Estase jugular Hepatomegalia Edema vespertino RX de tórax Ecocardiograma Cirrose hepática Hipoproteinemia e hiperaldosteronis- mo Ascite Edema Icterícia Spiders Vasculares Hematemese e melena Tempo de protrombina, bilirrubinas, enzimas hepáticas, ultrassom abdominal, albumina, endoscopia O edema renal é observado nas duas primeiras síndromes da tabela: a nefrótica e a nefrítica (além da pielonefrite). Mesmo que a semiótica seja diferente, a característica do edema é bem parecida, ambos são generalizados, predominantemente facial, acumulando- se, sobretudo, na região subpalpebral, sobretudo no período matutino. O edema renal é mole, inelástico, indolor e a pele adjacente tem temperatura normal ou um pouco reduzida. Na síndrome nefrótica, o edema é mais intenso, podendo ter derrames cavitários. Como causas, encontram-se o hiperaldosteronismo secundário e na hipoproteinemia. Já na síndrome nefrítica, o edema é discreto ou pouco intenso. Nela, acontece retenção de sódio e água por desequilíbrio glomerulotubular, com aumento da permeabilidade glomerular. Agora, o edema da ICC é generalizado, com predominância nos membros inferiores, observado mais na parte da tarde (vespertino) e, em pacientes acamados, aparece na região pré-sacral. A sua intensidade varia e o edema é mole, inelástico, indolor e a pele adjacente pode estar lisa e brilhante. Ele é resultado do aumento da pressão hidrostática e da retenção de sódio e água, sendo provável o aumento da permeabilidade capilar por conta do fator natriurético atrial. • O aumento da pressão hidrostática reflete o aumento da pressão venosa, que causa os sinais da ICCD. E, por fim, na cirrose hepática, o edema é generalizado, discreto (na maioria das vezes), predominando nos membros inferiores, com ascite concomitante. Ele é mole, inelástico e indolor.
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