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GASTRO – DOENÇAS DA VESÍCULA BILIAR LITÍASE BILIAR É uma doença em que há formação de cálculos biliares com sede predominante na vesícula, mas que podem migrar para os canais biliares. Os cálculos podem ser divididos quanto a sua composição: ✓ Colesterol: 70% de sua composição é colesterol; os outros 30% são sais biliares, ácido graxo, fosfolipídeos e proteínas ✓ Cálculos pigmentares: 25% de colesterol; o principal componente é o bilirrubinato de cálcio. FATORES DE RISCO ✓ > 50 anos ✓ Sexo feminino ✓ Historia familiar (predisposição genética) ✓ Perda de peso rápida ✓ Gravidez e paridade ✓ Jejum prolongado ✓ Sedentarismo ✓ Dieta rica em carboidratos e pobre em fibras ✓ Síndrome plurimetabólica ✓ Obesidade ✓ Nutrição parenteral total ✓ Drogas (clofibrato, estrógenos, progesterona, ceftriaxone, octreotide) ✓ Doenças do íleo terminal ✓ Lesões medulares FISIOPATOGENIA Saturação de colesterol O colesterol é formado por sais biliares, colesterol e fosfolipídios. A saturação biliar ocorre com a formação da bile litogênica (que contêm excesso de colesterol). Dessa forma, o colesterol não é dissolvido, tornando a bile bifásica (com colesterol cristalizado). Nucleação Agregação dos cristais de colesterol para formar macrocristais, mediado por mucina (glicoproteína/fator de pró-nucleação) Hipomotilidade vesicular Redução da motilidade vesicular relacionada à inflamação e ao acúmulo excessivo de colesterol na vesícula. Litíase pigmentada ✓ Pretos: ocorre na vesícula biliar e está associada à hemólise (beta-talassemia, esferocitose hereditária e anemia falciforme), cirrose avançada, NPT, estados pós-ressecção ileal e pancreatite. ✓ Marrons: podem ocorrer na vesícula ou nos ductos biliares. Colonização da bile por organismos entéricos e colangite ascendente. Os produtos desses processos enzimáticos podem se ligar ao cálcio formando sais insolúveis, culminando na formação de cálculos. QUADRO CLÍNICO Assintomática em 75% dos quadros, sendo acidentalmente diagnosticada em US abdominal. Quando sintomáticas na colecistolitíase, a apresentação é de dor biliar, caracterizada por dor em queimação no hipogástrio ou hipocôndrio direito, continua e com piora gradativa em 15-60min com platô por 1h. Náuseas e vômitos podem estar associados. Em episódio agudo, dor leve à palpação da vesícula biliar. DIAGNÓSTICO Ultrassom: exame de escolha. Imagens ecogênicas móveis e com sombra acústica. Colecistografia: indicado quando o US não identifica a litíase em quadros sugestivos e para candidatos à terapia de dissolução oral para excluir obstrução do ducto cístico. Raio X: só identifica cálculos de bilirrubinato US endoscópica: indicada para diagnostico de coledocolitíase TRATAMENTO Colecistolitíase assintomática: o tratamento é indicado quando: ✓ Expectativa de vida > 30 ou 40 anos ✓ Obesos candidatos a gastroplastia redutora ✓ Populações de alto risco de neoplasias de vesícula biliar ✓ Vesícula calcificada ✓ Hipomotilidade vesicular ✓ Pacientes que vivem em regiões sem condições de assistência médica ou que vão viajar para estas regiões. Colecistolitíase sintomática: sempre necessita de tratamento com colecistectomia videolaparoscópica. Tratamentos não-cirúrgicos possíveis são: dissolução oral com ácido chenodeoxicólico e litotripsia. Está indicada em pacientes sintomáticos com contraindicação ou que recusam a cirurgia, com cálculos pequenos, transparentes, vesícula funcionante e ducto cístico patente. COMPLICAÇÕES ✓ Colelitíase aguda ✓ Cólica biliar ✓ Colangite aguda ✓ Pancreatite aguda biliar ✓ Colecistite enfisematosa ✓ Vesícula hidrópica ✓ Colecistite crônica ✓ Síndrome de Mirizzi ✓ Fístula e perfuração ✓ Obstrução intestinal (íleo biliar) ✓ Obstrução gástrica COLEDOCOLITÍASE É a presença de um cálculo biliar no ducto colédoco. Esse cálculo pode ser de origem: ✓ Secundária (95%): originado na vesícula biliar e migra para as vias biliares, compostos por colesterol e de aparência negra ou amarela. ✓ Primária: formado no próprio colédoco, geralmente resultante de estase e infecção biliar, de coloração acastanhada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Geralmente assintomáticos. Quando presentes, os sintomas indicam obstrução completa ou parcial das vias, sendo, em sua maioria, transitórios. Dor do tipo biliar: quadrante superior direito ou epigástrio, durante 1 a 5 horas, podendo irradiar para escápula direita ou dorso. A dor é mais intensa e de maior duração que a dor de cólica biliar e pode ser acompanhada de náuseas e vômitos. Síndrome colestática (transitória): icterícia, colúria (urina escurecida) e acolia fecal (fezes brancas). Exames laboratoriais (testes de função hepática e enzimas canaliculares e hemograma) podem indicar: ✓ Hiperbilirrubinemia da fração direta (>2-5mg/dL) ✓ Fosfatase alcalina (> 150 U/L) ✓ Aminotransferases (>100 U/L) ✓ Leucocitose em casos de complicações COMPLICAÇÕES ✓ Colangite bacteriana aguda (tríade de Charcot) ✓ Abscesso hepático piogênico ✓ Pancreatite aguda biliar ✓ Cirrose biliar secundária DIAGNÓSTICO Síndrome colestática, especialmente quando flutuante, ou em qualquer individuo que será submetido à colecistectomia por colelitíase que também apresente riscos de coledocolitíase EXAMES COMPLEMENTARES US transabdominal Colangiografia retrógrada endoscópica (CPRE): em pacientes de alto risco e suspeita de coledocolitíase (icterícia flutuante, colúria, episódios de acolia fecal ou colangite bacteriana aguda recorrente). TRATAMENTO Papilotomia endoscópica (esfincterotomia endoscópica): feita por meio do CPRE; consiste na retirada dos cálculos que estão obstruindo a via biliar. Antibioticoterapia profilática: indicada em casos em que há colangite associada. Cirurgia: feita por via videolaparoscópica em 2 situações principais: (1) descoberta de coledocolitíase por colangiografia transoperatória durante o procedimento de colecistectomia; (2) falha no procedimento endoscópico. COLANGITE É a inflamação aguda do trato biliar decorrente de uma infecção e/ou obstrução. É aplicada para designar sinais e sintomas produzidos por uma inflamação biliar, sem se ater muito à presença ou não de alterações patológicas. Por isso, o diagnóstico é clínico! FISIOPATOLOGIA Presença de bactérias no trato biliar, geralmente oriundas do intestino e que acessam o trato por meio do fígado + obstrução biliar parcial ou completa. É presumido que a lesão obstrutiva ou o corpo estranho predispõem à colonização e ao crescimento bacteriano. CAUSAS BASE ✓ Coledocolitíase ✓ Tumores malignos ✓ Estenoses benignas ✓ Anastomose bilioentérica e procedimentos invasivos ✓ Obstrução por corpo estranho ✓ Obstrução por parasitas (áscaris lumbricoides) QUADRO CLÍNICO Tríade de Charcot: dor abdominal moderada no QSD + febre com calafrios + icterícia Pêntade de Reynold: tríade de Charcot + hipotensão (choque) + depressão do SNC = colangite supurativa EXAMES LABORATORIAIS ✓ Leucocitose com desvio ✓ Hiperbilirrubinemia direta ✓ Aumento de fosfatase alcalina, GGT, AST e ALT ✓ Pesquisa por germes (E. coli; Klebsiella; E. faecallis; B. fragilis → gram-negativas!) DIAGNÓSTICO É clínico, mas deve-se buscar a causa base. CPRE: para confirmar coledocolitíase US: confirmar colelitíase e espessamento do trato biliar TC: suspeita de massas tumorais de fígado, pâncreas e vesícula TRATAMENTO 1º dar suporte ao paciente, sobretudo através de antibioticoterapia empírica: ✓ Amoxicilina + clavulanato ✓ Ampicilina + sulbactam ✓ Ceftriaxona/ciprofloxacina/levofloxacina + metronidazol COMPLICAÇÃO A colangite supurativa pode evoluir em um abscesso hepático COLECISTITE AGUDA Inflamação da vesículaque resulta da obstrução do ducto cístico por um cálculo. Geralmente ocorre em associação à colelitíase. FISIOPATOLOGIA A maioria dos casos é secundaria a uma obstrução intermitente do ducto cístico por um cálculo. A estase da bile, entretanto, pode resultar em dano à mucosa vesicular. Assim, há um aumento na pressão intraluminal, obstrução venosa e linfática, edema, isquemia, ulceração da parede e finalmente, uma infecção bacteriana secundária. A inflamação é decorrente da fosfolipases A, conversora da lectina em lisolectina (mediador químico da inflamação). Agentes bacterianos: E. coli, Klebsiella, E. faecallis; proteus e clostridium MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Mulher de meia-idade que já apresentava problemas na vesícula biliar e nota que a duração de seus sintomas é maior e não se resolvem sozinhos. Dor abdominal que aumenta paulatinamente, podendo começar no epigástrio e depois se estabelecer abaixo do gradil costal direito. Ao contrario da dor da colelitíase, a dor da colecistite persiste por mais de 6h. Pode estar presentes anorexia, náuseas, vômitos e febre baixa a moderada A região subcostal direita é hipersensível à palpação e há sinal de Murphy positivo (o paciente inspira profundamente e palpa-se a região subcostal direita; o paciente interrompe uma inspiração profunda) LABORATÓRIO ✓ Leucocitose ✓ Aumento discreto da bilirrubina direta (< 4mg/dL) ✓ Aumento discreto da FA e TGO ✓ Aumento da amilase sérica EXAMES DE IMAGEM US: é o primeiro a ser pedido Cintilografia de vias biliares TRATAMENTO ✓ Internação hospitalar ✓ Hidratação venosa ✓ Analgesia ✓ Dieta zero Antibioticoterapia: 5 a 7 dias ou até após a cirurgia ✓ Amoxicilina + clavulanato ✓ Ampicilina + sulbactam ✓ Ceftriaxona + metronidazol ✓ Ciprofloxacina/levofloxacina + metronidazol Cirurgia: colecistectomia por via videolaparoscópica. Deve ser realizada o mais precocemente possível. COMPLICAÇÕES ✓ Perfurações ✓ Fistulas ✓ Íleo biliar (obstrução do I. delgado por um calculo biliar volumoso que foi parar no intestino por meio de uma fistula) ✓ Síndrome álgica pós-colecistectomia COLECISTITE CRÔNICA É a inflamação prolongada da vesícula biliar por crises repetidas de dor abdominal aguda e intensa do tipo cólica que podem ocorrer devido a estenoses dos ductos biliares ou microcálculos que migram e atingem os ductos biliares. O paciente não apresenta febre, mas pode referir náuseas ou vômitos. A vesícula não é palpável e pode estar reduzida de tamanho com paredes espessadas e fibróticas (vesícula em porcelana). Exames laboratoriais podem estar normais. Raio X e US Tratamento por cirurgia de colecistectomia laparoscópica.
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