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Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Pneumonia Adquirida na Comunidade Pode ser vista sobre dois aspectos distintos: histopatológico: preenchimento do espaço alveolar por liquido necroinflamatório (leucócitos, debris celulares, bactérias, exsudato). Ou o clinico: processo infamatório agudo que acomete o parênquima pulmonar. Precisa estar relacionada a processos infecciosos, seja viral, bacteriano ou fungico. A PAC é aquela que é adquirida fora do hospital ou em até 48 horas da admissão. Existe também a pneumonia associada a assistência a saúde (nosocomial) como aquela que ocorre em hospitais, creches. Epidemiologia Cerca de 3 milhões de morte por ano de crianças no mundo. Houve uma redução considerável após a vacinação com a pneumo10. As crianças possuem cerca de 4 a 6 infecções agudas por ano, e 2-3% delas evoluem para pneumonia. Há maior mortalidade em crianças e idosos. Dependendo de onde é necessário que ocorra o tratamento da pneumonia, a mortalidade pode ser maior ou menor. (1%ambulatorial, 2%enfermaria e até 50% na UTI). Fatores de risco Idade inferior a 5 anos. Idade avançada Tabagismo: diminuição da atividade ciliar e capacidade fagocictica dos macrófagos. Alcoolismo: inibe a tosse e reflexos glóticos. Inibe quimiotaxia e metabolismo oxidativo de algumas células. DM Doenças cerebrovasculares. Baixo nível socioeconômico. Vacinação incompleta Desnutrição Comorbidades como asma, DPOC. (diminui a atividade ciliar) Etiologia Streptococcus pneumoniae: principal agente, exceto em crianças com até 36 horas de vida. Micoplasma pneumoniae Clamidia pneumonieae Vírus Vírus: vírus sincicial respiratório, Influenza, Adenovírus, Rinovírus. Bactérias: Típicas: Nas primeiras 48 horas de vida: Streptococcus agalactiae, E. coli. Após 48 horas: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Enterococcus. Atípicas: Recém-nascido: Chamydia trachomatis Escolares e adolescentes: Mycoplasma pneumoniae. Os agentes típicos são aqueles que crescem em qualquer meio de cultura e respondem aos betas lactamicos como Amoxicilina e Ceftriaxona. Ex: S. pneumoniae, Haemofillhus influenzae, Pseudomonas.. Os agentes atípicos, não crescem em meios de cultura normais. São intracelulares e não respondem aos beta-lactamicos, mas sim aos macrolideos. Ex: Micoplasma, Clamidia, Leishionela e os vírus. 1/3 dos pacientes possuem flora mista, e por isso necessitam de uma medicação que cobre as duas: Quinolonas respiratórias (levofloxarcino). Obs: alguns pacientes possuem predisposição a pseudômonas (típicos). Doença estrutural do pulmão, como bronquiectasia e fibrose cística). Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Uso de corticoides crônicos. Uso de antibiótico crônico nos últimos 7 dias. Risco de pneumonia aspirativa: anaeróbios e gram – Falta de dentição. Etilista crônico Déficits neurológicos Entrar com anti-microbianos (Metronidazol e Clindamicina). Pneumonia por Streptococcus pneumoniae: típica, com sinais e sintomas clínicos e radiográficos típicos. Pneumonia por Haemophilus influenzae: acomete mais crianças de três meses a cinco anos, idosos, DPCO ou outras doenças pulmonares. Pneumonia típica. Moxerella catarrhalis: comum em paciente com DPOC. Klesbiella pneumoniae: grave pneumonia. Extenso infiltrado pulmonar. Pneumonia do lobo pesado na Radiografia. Etilistas e diabéticos. Staphylococcus aureus: pneumonia grave. Pacinetes debilitados, usuários de drogas endovenosas.. crianças lactentes. Streptococcus pyogenes: quadro de faringoamigdalide agudo purulento Leishionela: ar condicionado. Diarreia, hiponatremia, elevação de enzimas hepáticas. Anaeróbicos: macroaspiraçao. Individuo com queda de consciência, disfagia.. Fisiopatologia A transmissão ocorre por inalação, aspiração, disseminação hematogenica, iatrogenia, reativação local. Normalmente o microorganismo atinge os alvéolos pulmonares por meio da microaspiração do material de vias aeres superiores. (orofaringe e nasofaringe). Há a infecção por um agente infeccioso, que ao acometer o parênquima pulmonar, gera uma cascata inflamatória, uma vez que os macrófagos não conseguem conter a infecção, e por isso liberam citocinas e fatores de quimiotaxia, que ao se multiplicar nos espaços alveolares, libera substancias com efeito vasodilatador e quimiotáxico para neutrófilos, levando a congestão (alvéolo fica infiltrado com inflamação e retém menos ar, e os vasos ingurgitam e dilatam). Pulmão vai perdendo sua consistência (semelhante ao fígado) e ocorre uma exsudação de hemácias, neutrófilos e fibrina para interior dos alveolos (hepatização vermelha) e as hemácias começam a se degradar, levando a uma hepatizaçao cinzenta. – FASE DA HEPATIZAÇÃO. Alvéolo fica preenchido com infiltrado necro- inflamatório (padrão acinar radiológico). FASE DE RESOLUÇÃO: há reabsorção do infiltrado pelos macrófagos e o alvéolo volta a ser preenchido com ar. A ocorrência da pneumonia depende da competição entre a bactéria e as defesas do hospedeiro. Para que ocorra é necessário que haja contato com o alvéolo com um agente de alta virulência, grande inoculo de bactérias e defeito nos mecanismos de defesa. (movimento ciliar, tosse, secreção de IGa, surfactante alveolar). Pneumoco libera exotoxina e possui capsula polissacaridea que auxilia na proteção contra sistema humoral. Esse padrão acinar pode permanecer por cerca de 30-60 dias após melhora clínica, por isso, a melhora clinica não acompanha a melhora radiográfica. Um lobo pulmonar consolidado: pneumonia lobar Broncopneumonia: múltiplos focos coalescentes de consolidação alveolar- mais comum. Quadro Clínico: Típico: pneumococica Febre alta Hiperaguda Calafrios e tremores Tosse com expectoração puruenta Dispneia Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Cefaleia Dor pleurítica ventilatória dependente Adinamia Achados semiológicos: Inspeção: taquipneia, batimento de asas nasais, tiragens intercostais, fúrcula esternal. Palpação: expansibilidade reduzida, frêmito toracovocal aumentado. Auscuta: crepitações, diminuição de murmúrios vesiculares. Taquicardia. Percussão: macicez. Obs: idosos e imunosspurimidos nem sempre vão ter esses sintomas característicos. Atípica: Mycoplasma pneumoniae Progressão mais lenta. Faixa etária mais jovem Subaguda (cerca de 10 dias) Lembra uma virose respiratória alta Predominância de mais sintomas sistêmicos do que respiratórios. Dor de garganta Mal-estar Cefaleia Mialgia Temperatura mais baixa Tosse pouco produtiva, normalmente seca. Pouca dor pleurítica Semiologia respiratória pobre. (discretos estertores) Exames: não há grande predominância de leucocitose com desvio a esquerda. Infiltrado pulmonar ao Raio x normalmente é broncopneumonico. Outro agente de pneumonia atípica: Chlamydia pneumoniae – faixa etária mais velha (65-80 anos). Diagnóstico Basicamente clinico. Raio-x de tórax auxilia. USG de tórax vem se mostrando um bom exame, com maior acurácia na detecção de infiltrados pulmonares e complicações como derrame pleural Coleta de escarro é indicada somente se o paciente não responder a terapia empírica ou quadros mais graves. Exames complementares Hemograma: leucocitose com desvio a esquerda. Leucopenia indica péssimo prognostico. PCR aumentado. VHS aumentado. Função renal e hepática: avaliar se há alguma disfunção orgânica que possa nos levar a pensar em sepse. Gasometria: Fase incial: libera-semais CO2, pois há uma taquipneia – redução da PC02 – menor é a reação com agua e menor a formação de ácido – alcalose respiratória. Fase avançada: musculo vai fadigando – bradipneia – libera menos CO2 - aumenta a PC02 – acidose respiratória. Muito bradipneico: não inspira 02 e nem expira C02, começando a fazer respiração anaeróbia, com produção de acido lático – acidose metabólica. Radiografia Há uma opacidade. Infiltrado pulmonar. Padrão lobar: ocupa todo um lóbulo. Padrão de broncopneumonia: várias regiões acometidas Mais comum** Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Outras: pneumonia necrosante, e do lobo pesado: Klesbiella pneumoniae. Tratamento O tratamento hoje é empírico com base na epidemiologia. Só será pesquisado o agente etiológico se houver motivos que levem a crer que o resultado alteraria o atb. Como decidir o tratamento? Ambulatório? Internação? Score de CURB-65 C: confusão mental. U: ureia > 50 R: FC maior ou igual a 30 irpm B: hipotensão (PAS < 90; PAD menor a 60; PAM < 65 ou queda da PS em >40). 65: Idade maior que 65 anos. Cada critério vale 1 ponto. 0-1 ponto: provavelmente TTO ambulatorial Avaliar: condições socioeconômicas, incapacidade de tto oral, comorbidades descompensadas, saturação <90%, raio x com comprometimento multilobar ou bilateral, e julgamento clinico. 2 pontos: considerar internação. – mortalidade intermediária. 3 ou mais: mortalidade alta. Tratamento hospitalar. 4 ou 5: considerar UTI. Internar na enfermaria ou na UTI? Escore de Ewig UTI: 1 critério maior ou 2 menores. Maiores: insuficiência respiratória necessitando de ventilação mecânica invasiva, choque séptico, necessitando de vasopressores. Menores: doença multilobar, PD<60, PAS < 90 e PAO2/F102 < 250 ( pressão de 02 no sangue/fração inspirada de 02),. Ambulatorial: Macrolideo ou betalactamico.. Enfermaria: Quinolona ou macrolideo + beta- lactamico. UTI: se houver risco de pseudômonas: quinolona + betalactamico. Se não houver: betactamico + macrolideo ou quinolona. Beta lactamicos que cobrem Pseudomonas: Cefebime, Imipenem, Meropenem, Piperacilina com Tazobactam. Ambulatório Sem comorbidades, sem uso recente de abt, sem fator de risco para resistência = amoxicilina (7dias) ou azitromicina (3-5) ou Claritromicina (7 dias). Com fator de risco, doença mais grave, uso recente de abt: betalactamico + macrolídeo. Enfermaria Betalactamico (ceftraixona) + macrolideo (azitromicina ou claritromicina) – 7-10 dias. OU Macrolídeo (ceftriaxona) ou Amoxicilina- 7-10. OU Quinolona (Levofloxarcino) 5-7 dias. Uti Betalactamico (Ceftriaxona) ou Ampicilina/sulbactam + um macrolideo (Azitromicina ou Claritromicina) – 7-14 dias. Betalactamico (Ceftriaxona) + quinolona Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Quando eu posso dar alta para o paciente ou mudar da terapia venosa para oral? A ausência de resposta ao tratamento ou piora clinica/radiológica em 48-72 horas é considerado um fracasso e o pode ser devido a antibioticoterapia errada; não era pneumonia; pneumonia por agentes pouco usuais, aconteceram complicações da pneumonia. Prevenção Vacina anti-influenza Vacina antipneumocócia PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE EM CRIANÇAS Uma das principais causas de morte em crianças menores de cinco anos. O diagnóstico e tratamento precoce auxilia muito na redução da morbimortalidade. Agentes etiológicos Até um ano de idade e em escolares: vírus são os principais responsáveis. (Vírus sincicial respiratório) Influenza, adenovírus, rinovírus. Estreptococo pneumoniae é a bactéria mais frequente, e causa pneumonias mais graves. Mycoplasma penumoniae é o agente atípico mais comum. E. Aureus: faixa etária menor e infecção cutânea e gravidade clínica. Quadro clínico Depende muito da faixa etária em que a criança se encontra e da extensão do acometimento e da gravidade do quadro. Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Tosse, febre, taquipneia, tiragens subcostais, creptaçoes. Dor torácica, hipoxemia, e sintomas sistêmicos podem aparecer. Obs: FR na criança: <2 meses: FR maior ou igual 60 IRPM 2-11 meses: FR maior ou igual a 50 IRPM 1-4 anos: FR maior ou igual a 40 IRPM Crianças de 2 meses a 5 anos com PAC e tiragem subcostal: pneumonia grave. Menores de 2 meses: FR maior ou igual a 60 irpm, tiragem subcostal, febre alta ou hipotermia, recusa do seio materno. Letargia, sono anormal, irritabilidade: grave. Maiores de 2 meses: tiragem, recusa de líquidos, vômitos, convulsão: grave. Achados semiológicos: Inspeção: taquipneia, batimento de asas nasais, tiragens intercostais, fúrcula esternal. Palpação: expansibilidade reduzida, frêmito toracovocal aumentado. Auscuta: crepitações, diminuição de murmúrios vesiculares. Taquicardia. Percussão: macicez. Lembrar de diferenciar de síndromes na infância: Síndrome infecciosa: Insuficiência respiratória aguda: bronqueolite viral aguda, asma, traqueobronquite aguda. – Normalmente possui sibilos, que não é comum na pnceumonia. Radiografia Não deve ser solicitada de rotina para o diagnóstico de rotina, sem sinais de gravidade. Deve ser realizada: Se há duvida do diagnóstico, apesar de radiografias normais não excluírem a pneumonia. Pneumonia com hipoxemia, desconforto respiratório ou outros sinais de gravidade. Falta de resposta em 48 a 72 horas de tto. Paciente hospitalizado. Exames complementares O diagnóstico em si é clinico, mas os exames podem auxiliar no processo de diagnóstico. Hemocultura: pacientes hospitalizados. Relação entre proteína total e desidrogenase lática do plasma pode ajudar a diferenciar transudado de exsudato. Sorologia para Mycoplasma pneumoniae, se evidencias. PCR VHS US de tórax e TC: auxilia a ver complicações como o derrame pleural Analise do liquido pleural: alguns marcadores podem sugerir quadro infeccioso: PH, LDH, glicose e proteínas, hemaceas. Tratamento Quando é considerada grave? Hospitalização Tiragens subcostais Dificuldade de ingestão de líquidos Batimento de asas nasais, gemencia, sinais de dificuldade respiratória mais grave. Cianose central Febre alta e sinais de infecção grave (enchimento capilar lento). Saturação <92%. Internação em UTI? Insuficiência respiratória ou sepse Incapacidade de manter a saturação maior que 92% com fração inspirada de 02 > 0,6, aumento da taquipneia/taquicardia com dificuldade respiratória grave, fadiga respiratória, apneias ou respiração irregular. Módulo de Clínica Médica Bárbara Rocha Aguilar Tratamento ambulatorial Empírico, baseando em agentes infecciosos em cada faixa etária e região. Amoxicilina é uma boa opção, recomendada para crianças de 2 meses a 5 anos – 50mg/kg/dia de 8 em 8 horas ou 12 em 12. Crianças maiores de 5 anos: amoxicilina é uma boa opção. Devido a maior chance de M.pneumoniae, pode se optar por inserir um macrolideo como eritromicina ou azitromicina quando houver suspeita clínica. Reavaliar a criança em 48 a 72 horas, e se estiver apresentando melhora, manter medicação por 7 dias. Hospitalar Dois a 59 meses de idade: Pneumonia sem tiragem subcostal deve ser tratada com amoxicilina oral: 50 mg/kg/dia duas ou três vezes ao dia, durante sete dias. Pneumonia grave deve ser tratada com ampicilina parenteral 50mg/kg/dose, de 6 em 6 horas ou penicilina cristalina 150 000U/Kg/dia a cada 6 horas. Gentamicina 7,5 mg/kg/ dia,a intervalos de 12 horas, deve ser associada nos menores de dois meses. A associação de amoxicilina com inibidores de beta- lactamase, como o clavulanato ou o sulbactam ou a cefuroxima podem ser utilizadas como segunda opção por via oral ou parenteral em doses habituais. Na suspeita de pneumonia atípica recomenda-se azitromicina 10mg/kg/dia dose únicapor 5 dias ou claritromicina 7,5 mg/kg/dose,12 em 12 horas, por 10 dias. Complicações Devemos pensar no derrame pleural: dor torácica, dor abdominal e vômitos. Estado geral fica mais cometido. Quer ficar deitado no lado acometido para causar analgesia temporária. Cianose. Saturação menor que 92%.
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