Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL Me. Lucimara Acosta GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS SABERES: Planejamento e Avaliação no âmbito da formação de professores Existem duas ocasiões distintas em que examinamos nossa própria conduta e buscamos vê-la sob a luz que o observador impessoal a veria: primeiro quando estamos prestes a agir; e segundo, depois que agimos (Adam Smith- 1759) Objetivo A epígrafe de um filósofo que viveu há três séculos e não de um educador contemporâneo pode causar algum estranhamento ao leitor. A escolha do mote desta conversa foi para oferecer a grande dimensão das três faces indissociáveis que regem nossas vidas. Planejar o futuro antes de agir / Agir no presente / Avaliar o passado depois de ter agido. Por ser um círculo virtuoso que instala a dinâmica das coisas e dos acontecimentos, ele também rege o processo de ensino/aprendizagem. Introdução Adam Smith usa o verbo agir que para nós educadores se reveste de sentidos ligados aos fazeres pedagógico. Com essa forma de entendimento planejar e avaliar não são meras estratégias de trabalho, mas algo que incorpora uma dimensão filosófica, tanto no âmbito moral como ético. Não é uma técnica que se usa e sim um componente essencial de nossa identidade que nos leva a vislumbrar metas que nos impulsionam a agir e depois a fazer o que antigamente, desde os cidadãos de república romana, chamavam de “Exame de consciência”. Acesse o endereço abaixo para se informar um pouco sobre Adam Smith e sua obra. http://www.infoescola.com/economia/adam-smith/ Desenvolvimento Hoje, uma palavra em desuso – consciência – não deixou de existir, eu a sinto remexer quando minhas ações são de indiferença, suspeita e acusação. Ela me incomoda e me obriga a ter cautela. Não é porque nos esquecemos dela, que ela deixou de existir, a consciência pesada causa muitos desconfortos internos, sentimo-nos estranhos a nós http://www.infoescola.com/economia/adam-smith/ 2 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mesmos e nem dietas, academias nem o mundo fitness diminuem o peso incômodo. Tentamos calá-la com a magia da elevação da autoestima, dos batons da temporada, nem com o tom de cabelo da moda com selfies que nos certificam minuto a minuto, com a mesma avaliação: continuamos jovens, belos, desejáveis, seguidos, invejados e aprovados conforme o paradigma do século XXI. Nem nos damos conta que tal avaliação feita em ritmo vertiginoso da tecnologia capta o engano no qual nos jogaram e que iludidos, aceitamos. Nossos antepassados faziam a avaliação pessoal e profissional olhando a própria consciência a partir dos valores pessoais em relação com o todo, ou seja, em relação aos outros, em relação à sociedade. Fui pesquisar em busca do início da autoavaliação e tive uma surpresa. Ela está antes dos tempos. Encontrei numa interpretação metafórica da Criação do Mundo. Vamos lembrar dos fatos narrados no livro Sagrado e fazermos uns comentários metafóricos. Deus planejou a criação do mundo, o que fazer na sequência dos dias e assim o fez. No último segundo, tomou o barro e com as mãos moldou uma figura, empregando um método diferente de tudo aquilo que havia criado. E concluiu a criação do Homem com um sopro. Depois de ter feito os planos e de ter agido olhou em volta e sentiu que faltava algo. ELE avaliou o próprio trabalho e deliberou que faltava algo. Decide continuar a Criação empregando uma nova metodologia. Faz o Homem dormir e da sua costela faz a Mulher. Vemos que só depois da retomada do plano, após a autoavaliação, Deus, O Todo Poderoso, pode pensar em ter um descanso – por pouco tempo – mas enfim, concluiu a primeira etapa de seu plano. Além da Criação do Universo narrada por aqueles que tem a fé, Gênesis nos apresenta a sequência indissociável entre Planejar – Fazer – Avaliar. E a educação, um dos fazeres humanos tão nobres, também precisa se sustentar nessa trilogia. Aqui em nossa conversa precisarei abordar a temática de forma didática e segmentar os conceitos, os saberes, as experiências. Por isso darei um tratamento em itens separados nos textos do Guia da Disciplina e nas videoaulas. 3 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Já entrando na linha da história de nosso país, a inclusão do planejamento no âmbito educacional acontece só com os Pioneiros (1935)1. É quando o planejamento passa a ser visto como um compromisso de aspecto amplo que apresentasse um paradigma a partir do qual cada uma das escolas pudesse se inspirar para que não houvesse a desorganização entre a educação oferecida por diferentes escolas, estados etc. O Manifesto dos Pioneiros parte da análise da situação da educação na República e afirmaram que nenhum problema nacional se sobrelevava em importância e gravidade ao da educação e afirmaram que todos os esforços educacionais nos 43 anos de República, “foram construções isoladas, fragmentadas e desarticuladas, sem visão global, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade” e, por isso “não lograram [até então ] criar um sistema de organização escolar, à altura das necessidades modernas e das necessidades do país”. A análise crítica apontou como causa da desorganização a falta “da determinação dos fins da educação (aspecto filosófico e social) e da aplicação (aspecto técnico) dos métodos científicos aos problemas de educação. Ou, em poucas palavras, na falta de espírito filosófico e científico, na resolução dos problemas da administração escolar”. Algumas iniciativas desse momento histórico vão marcar a trajetória do planejamento educacional no Brasil, até o momento atual de elaboração do Plano Nacional de Educação 2011-2020. É para se destacar: A presença de uma liderança do movimento dos educadores, organizados para a construção de um plano nacional de educação, que toma forma e expressão numa V Conferência Nacional de Educação de 1932, que até hoje existe na Conferência Nacional de Educação de 2014 (CONAE) • A ênfase na organização da educação brasileira de forma sistêmica, para a superação das reformas fragmentadas e desarticuladas, seja na relação da educação com o projeto de sociedade, seja entre as diferentes etapas da educação • A afirmação do direito de cada indivíduo à educação integral e o dever do Estado de oferecer escola para todos, meta perseguida há 81 anos. • A função social da escola e seu caráter eminentemente público, fundada nos princípios da laicidade, gratuidade e obrigatoriedade; 1Mani fes to dos P ione i ros d a Educaçã o Nova n o B ras i l h t tps : / /p t .w ik iped ia .o rg /w ik i /Ma n i fes to _dos_P ione i ros_ da_Educa%C3%A7%C3%A 3o_Nova 4 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • A autonomia na gestão da função educacional, assegurada “pela instituição de um fundo especial ou escolar (...) administrado e aplicado exclusivamente no Desenvolvimento da obra educacional, pelos próprios órgãos do ensino, incumbidos de sua direção” fato materializado apenas na década de 90 do século passado. • A busca da unidade na multiplicidade, pela aplicação da doutrina federativa e descentralizadora, materializada a partir de CF de 1988, superando “o centralismo estéril e odioso; • A associação entre sistema e plano, este situado no contexto da organização da educação brasileira, e destes com uma concepção de bases e diretrizes nacionais, a articular o todo num projeto nacional de educação. Para o planejamento chegar até nossas salas de aula, foi preciso ir ao longo dos tempos criar uma cultura de planejamentoda educação em âmbito nacional. No Link abaixo você lerá o capítulo 2 do livro Gênesis, do Velho Testamento E poderá acompanhar uma narrativa do momento do re-planejamento da Criação. http://www.camaramarilandia.es.gov.br/Arquivo/Documents/PAG/bibliasagrad a.pdf http://www.camaramarilandia.es.gov.br/Arquivo/Documents/PAG/bibliasagrada.pdf http://www.camaramarilandia.es.gov.br/Arquivo/Documents/PAG/bibliasagrada.pdf 5 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. O QUÊ E O PORQUÊ PLANEJAR NA ÁREA DA EDUCAÇÃO Objetivo Fazer uma relação entre o Plano Nacional da Educação que planeja a forma de “agir” no âmbito nacional e o planejamento educacional dos estados, municípios e nos diferentes sistemas de educação, até alcançar cada uma das escolas. Introdução Estamos no século da possibilidade de conexão de cada cidadão com todos habitantes do planeta e vivemos num mundo em que as fontes de informação são cada vez mais acessíveis, por isso é tarefa da escola possibilitar uma educação de qualidade a seus alunos e para que isto aconteça, o trabalho começa na gestão escolar. Entenda-se gestão escolar não apenas um fazer reservado a um número restrito de protagonistas e sim uma gestão escolar participativa em que o todo se faz com os protagonismos dos docentes, do corpo de coordenação, funcionários e comunidade a que pertence a escola. Afinal a gestão envolve todos os segmentos sob a batuta mobilizadora e orientadora da direção escolar. Desenvolvimento Como ponto de partida, temos o planejamento educacional anual, este deve ser inspirado no Plano Nacional de Educação e integrado com à jornada pedagógica, que são dias em que se dão as reuniões da Direção da Escola. As reuniões não devem ser apenas do diretor ou do coordenador mas de todo o corpo docente que com espírito colaborativo contribui para desenhar o caminho pedagógico da escola. O planejamento surgiu da necessidade, quando a questão escolar transformou-se em uma questão política pública A ideia de planejar é projetar, organizar os objetivos da escola para o ano que se inicia. E também estabelecer prioridades, metas, agendas, instrumentos e espaços. Durante muito tempo a escola ficou estacionada quanto à atenção dada à avaliação. A avaliação era direcionada apenas para medir e rotular os alunos classificando-os em dois grupos: os bons e os que não sabiam nada. Esta avaliação era usada para formação de classes que eram planejadas segundo esses critérios impregnados de uma postura de exclusão. Era a avaliação da aprendizagem sedimentada em verdades filosóficas, psicológicas e sociológicas que abonavam a ideia de quem estava aprendendo dentro da escola eram apenas os alunos. Adultos e profissionais não precisariam mais aprender. Oras, como esses adultos supostamente não aprendiam, não eram avaliados 6 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Atualmente, avaliar é uma importante ferramenta para gestores e para os professores poderem acompanhar a consecução dos objetivos e das metas, pois a análise dos dados avaliados oferece alternativas de mudança. O verbo mudar ganha assim um novo sentido, não é mais mudar por mudar para ser original, criativo ou fazer propaganda da escola, mas mudar para transformar e garantir a aprendizagem de todos, numa sociedade complexa e com tantas diferenças. Saber as razões para mudar, demanda ter conhecimento detalhado de todo o Planejamento como as suas etapas. E para conhecê-lo o ideal é o docente participar de sua concepção. A avaliação do processo de aprendizagem possibilita investigar e refletir a respeito da ação do aluno e do professor, instigando a transformação consciente, tendo diferentes metas, sendo uma delas, propor novos métodos de ensino/ aprendizagem de estudo e pesquisa. Conforme Turra et al. (1996) antes de se p lane jar e avaliar é necessário conhecer a realidade dos alunos, a comunidade em que estão inseridos, os problemas sociais locais, entre outras informações. Hoje é fundamental se debruçar sobre os indicadores do IDEB, do Censo Escolar e os resultados do ENEM em escolas que ofereçam o ensino médio. Durante sua formação, o licenciando pode exercitar o olhar crítico, identificando momentos em que a avaliação foi apenas uma decisão, uma ação deliberativa de aprovar ou reprovar sem haver evidências da tomada de decisão. Ou aproveitar para relembrar avaliações que foram julgamentos de resultados. Essa postura crítica ajuda a proteger o jovem educador a não adotar uma atitude que seja apenas o reflexo dos modelos vivenciados por eles próprios, quando ainda eram estudantes no ensino básico. Engana- se o jovem educador que adota como paradigma, o conceito de avaliação empregada no milênio passado. Com o passar do tempo a escola se transformou da mesma forma que a sociedade, tanto que se fizéssemos uma avaliação da educação das décadas de 70, 80, 90 a partir dos depoimentos dos alunos que ainda não experimentaram o exercício do olhar crítico, todas as escolas foram perfeitas, porque até hoje estão embaladas nas lembranças saudosas da infância ( e assim devem ficar), mas são incapazes de dar uma explicação coerente para justificar o analfabetismo funcional e o baixo letramento que vivenciamos no presente. Isso para não falar do baixo desempenho social apresentado pelo país para produzir o crescimento econômico, de promover a melhora na proteção da vida e do 7 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância planeta, nos cuidados com a saúde e até mesmo encontrar formas para impulsionar a limitada produção científica. Por isso, quando discutimos sobre avaliação escolar nos deparamos com problemas, questões, acertos e desacertos em relação a cada um dos componentes que a constituem. Mesmo percebendo as limitações quanto ao processo de ensino e aprendizagem e buscando novos paradigmas, as décadas se passaram sem que fossem apresentadas melhoras em todos os níveis de ensino. CERVI (2008, p.66) ao analisar a educação das décadas passadas registra que “as escolas passaram a ser vistas como fábricas, os alunos como matéria-prima, e os conceitos pedagógicos, filosóficos e sociológicos foram submetidos a uma razão técnica”. Hoje estamos no meio do furacão e sentimos a ansiedade de ver o problema resolvido, pois na escola como no país não há de fato critérios definidos para toda educação, tanto que cada escola segue um rumo, um método, ou um palpite o que vem agravando o determinismo social da pobreza e a estagnação na caminhada para uma sociedade menos desigual. A avaliação é um instrumento criticado por educadores, que mesmo assim, não abrem mão de utilizá-lo e mais sério ainda, não sugerem uma alternativa a essa prática contestada. Reduzindo a avaliação a um instrumento de controle, uma simples conferência de resultados, um simples teste da capacidade do aluno de reproduzir conteúdos. Segundo Cervi (2008), a avaliação deve ser feita com objetividade, sabendo aonde se quer chegar em termos de eficiência, eficácia, efetividade, relevância e pertinência. E pergunta-se: onde devem estar explicitados com clareza os indicadores a serem analisados? O planejamento de aprendizagem da escola que precisa ser reelaborado a cada ano por educadores que vem estudando os descritores2 explicitados nas Provas Brasil e anunciados de forma detalhada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ao longo das últimas décadas. Planejar de forma genérica, vaga num documento que pode sustentar diferentes projetos é correr riscos, é construir em areia movediça, pois não haverá alicerces para se executar a avaliação e o docente estará assumindo um fazer pedagógico que desconhece. 2 um enu nc iado s i n té t i co, p rec iso e ob je t i vo , i nd icando o que se esp era que o a luno s e ja capaz de fazer . 8 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como é o docente que deve coletar informações confiáveis com o objetivo de formar um juízo de valor sobre o que foi avaliado, caso não tenha o domínio dos saberes, estratégias e métodos arrolados no planejamento, ele se sentirá incapaz de avaliar seus alunos. O planejamento é um conjunto de ações coordenadas entre si, que concorrem para a obtenção de muitos e de diversos objetivos. Planejar é uma atividade que está dentro da educação, pois controla a improvisação, imagina o futuro, estabelece caminhos que possam nortear mais apropriadamente a execução da ação educativa. É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, num projeto coletivo, articulando a atividade escolar e os desafios do contexto social. Para tanto, a atividade de planejar deve ser o resultado da contribuição de todos aqueles que compõem o corpo profissional da escola. Ouvimos a todo o momento, docentes e gestores falando a respeito das avaliações externas que estão acontecendo e revelam que essas provas permitem identificar fortalezas e debilidades, do sistema de ensino além de analisar a dinâmica do sistema em perspectiva histórica. Com isso, o sistema nacional de educação pretende mapear os locais com desempenhos abaixo do esperado e desencadear processos que ajudem a modificar a realidade. Se antes avaliar significava testar a capacidade de reprodução do conteúdo e regras transmitidas pelo professor, hoje a questão da avaliação torna-se mais complexa, pois esta não deve ser feita apenas através das provas e muito menos com repetição do que foi lido. De acordo com Pinto3 deve-se ter cuidado para não se adotar a política de ranqueamento e se esquecer dos fatores extracurriculares que influenciam diretamente na avaliação, como por exemplo, a realidade da escola e comunidade. “Desse modo os bons profissionais fogem das escolas com notas baixas e os exames punem quem mais precisa de auxílio”, PINTO (2008). 3 José Marc e l ino de Rezend e P in to , es pec ia l i s ta em p o l í t i ca educac io na l e p ro fess or da Facu lda de de F i los of ia , C iê nc ias e Let ras da USP em R ibe i rão P r e to , a u ma ent r ev is ta d ada a Rev is ta Nova Esco la , ed ição esp ec ia l Ges t ão Esco lar , agos t o 200 8 . 9 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A avaliação deveria ser vista como meio de buscar melhorias nas escolas. Infelizmente não é isto que acontece, de acordo com Vasconcellos (2000) houve uma inversão dos papéis: “[...] a avaliação que deveria ser um acompanhamento do processo educacional, acabou tornando-se o objetivo deste processo, na prática dos alunos e da escola; o famoso estudar para passar” (VASCONCELLOS, 2000, p.26). Com isso vem a importância do planejamento educacional. CERVI, Rejane de Medeiros. Planejamento e avaliação educacional. 2ªed. rev., atual e ampl. Curitiba: Ibpex, 2008. TURRA, Clódia Maria Godoy. Planejamento de Ensino e Avaliação. 11ª ed. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996. 307p. Para entender o que seja um descritor, peço que leia as tabelas que estão no endereço eletrônico. Faz parte da programação semanal a leitura e o entendimento de como são apresentados os descritores nos planejamentos e avaliações brasileiras. Basta você ter uma visão do conjunto e reconhecer alguns descritores da Provinha Brasil http://download.inep.gov.br/download/provinhabrasil/2011/matriz_provinh a_leitura.pdf http://download.inep.gov.br/download/provinhabrasil/2011/matriz_provinha_leitura.pdf http://download.inep.gov.br/download/provinhabrasil/2011/matriz_provinha_leitura.pdf 10 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. RELAÇÕES ENTRE CURRÍCULO E PLANEJAMENTO: “A avaliação e o planejamento estão interligados. Enquanto o planejamento é o ato pelo qual decidimos o que construir, a avaliação é o ato crítico que nos subsidia na verificação de como estamos construindo o nosso projeto. Portanto a avaliação não existe se não for prevista no planejamento.” Renata Dessbesel e Rosane Marlene Strieder Objetivo Já sabemos que Educar é mais que passar conteúdos, exercícios, provas. Para se entender esse algo a mais que é educar é bom ver o planejamento e a avaliação escolar diretamente relacionados com o prazer em ensinar, administrar, organizar, questionar e interpretar a Escola. Por isso convido você a ler este texto para compreender o planejamento escolar como atividade fundamental no desenvolvimento de atividades de ensino e aprendizagem nos espaços escolares e não escolares. Introdução Todo trabalho docente está orientado para finalidades educativas e para meios de ação de natureza genuinamente educativos. Portanto, o sentido da docência, em princípio, não é ensinar pura e simplesmente, mas mobilizar mecanismos para fazer com que o aluno aprenda e ganhe autonomia para aprender. Para isso, o docente deve dominar um conjunto de conhecimentos sobre desenvolvimento e aprendizagem, bem como sobre a didática e aplicação dos princípios de aprendizagem, no contexto da sala de aula. Apresentar habilidades para fazer a contextualização do ensino de acordo com os conhecimentos espontâneos dos alunos, e saber problematizar situações conceituais a partir dos interesses deles e vencer o desafio de manter o envolvimento do aluno durante a atividade de aprendizagem. Essas demandas devem ser previstas no plano de ação do ensinar, ou seja, no planejamento. Desenvolvimento Planejar implica trabalhar com competências e habilidades para o favorecimento de uma ação bem-sucedida. Para tanto, o docente precisa possuir domínio da didática, do conteúdo especializado e da prática de ensino. Ou seja: possuir noções básicas dos fundamentos educacionais e das áreas de atuação; conhecer os princípios de aprendizagem – seus mecanismos e resultados; ter habilidade para construção de um plano de ação docente consistente, com o projeto pedagógico da escola; e disponibilizar-se para 11 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância participar da elaboração das políticas educacionais da escola, cooperando dentro da instituição com professores, alunos e demais segmentos. Você está certo (a) ao achar que a docência requer também a mobilização de conhecimentos disponíveis no currículo, quer seja oculto4 ou oficial: os valores são construídos na diversidade cultural e étnica brasileira, surgem das necessidades especiais de aprendizagem, das diferenças, da postura e da prática do professor no cotidiano e são referências na construção das situações de ensino e aprendizagem em sala de aula. Para Guiomar Namo de Melo (2000), o professor deverá saber fazer relações entre os conhecimentos adquiridos no curso de formação de nível superior com os conhecimentos das demais áreas ou disciplinas do currículo da educação básica, trabalhando, assim, de maneira interdisciplinar e favorecendo em seus alunos a compreensão das relações entre as várias áreas do conhecimento. O planejamento deve ser construído de forma coerente com as abordagens didáticas, pedagógicas, bem como as concepções de currículo. Este não pode ser visto como um documento que determina um conjunto de matérias ou conteúdos... vai muito além disso, possui referências dentro e fora da escola a partir dos condicionantes socioculturais, pedagógicos e políticos. Estes fatores influenciam o projeto político pedagógico da instituição. Vamos conhecer as dimensõesa serem consideradas na estruturação do Planejamento nos diversos espaços educativos: • A dimensão socioinstitucional age como elemento relação entre a prática social e o que acontece nas instituições: uma dimensão de múltiplas faces e significa dizer que a prática educativa ocorre tanto em espaços escolares e não escolares, o que leva a contradições e conflitos. 4 CURRÍCULO OCULTO: usado par a deno mina r as in f l uênc ias que a f e tam a ap rend iz agem d os a lunos e o t raba lh o dos pro f essores , repr esent ando tudo o que os a lu nos apr ende m d iar ia ment e e m meio às vár ias prá t i cas , a t i t udes , com por t amen tos , ges t os , p ercepçõ es , que v igo ram no meio soc ia l e esco lar ; sendo oc u l to por que n ão ap arece no p lane ja mento d o pro fesso r . h t tp : / / cu r r i cu lo2 014. b logspo t .com. br /2 012/1 0 /aprese ntaca o.h tml Acesso em 11 de o utub ro de 2 01 6 http://curriculo2014.blogspot.com.br/2012/10/apresentacao.html 12 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Deve ser analisada cuidadosamente, pois a escola não é um universo a parte, compreende o todo social - suas tendências, práticas e abordagens pedagógicas são um “reflexo” da sociedade; ou melhor, podemos dizer que se orientam por um determinado paradigma. • A segunda destaca a história e a identidade dos sujeitos que estão envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. As reflexões sobre a construção do currículo escolar, de certo modo, sintetizam resultados que correspondem, também, às dimensões da identidade profissional e dos alunos, e fazem parte de um conjunto de intenções expressas em um projeto político cultural e de um conjunto de vivências que constituem as práticas que desenvolvemos as quais podemos também chamar de currículo. Resultam também em um projeto profissional e um “modelo” de ação pedagógica. • A dimensão que se refere à ação pedagógica integra a visão que dá origem aos currículos, aos programas de ensino, às práticas em sala de aula, aos procedimentos metodológicos, à avaliação, enfim, o planejamento. Atribui-se à escola a competência para concretizar um projeto de indivíduo para um projeto da sociedade. E esse projeto social está vinculado aos Princípios da Nação em sua Carta Magna. Essa preocupação com o projeto maior da educação, e por consequência da instituição, possibilita-nos estabelecer uma relação de trabalho cooperativo que é necessário em todos os espaços escolares, e serve como princípio norteador do planejamento em todos os níveis. Planejar pressupõe uma tarefa de organização que considera os fundamentos teóricos, pois eles determinam a constituição da atividade, ou seja, o reconhecimento dos fazeres e saberes que estão interligados à necessidade de compreensão da dinâmica da prática educativa. É uma prática sistêmica de organização do trabalho pedagógico, em que interagem elementos humanos, científicos e técnicos, como você está podendo constatar ao longo de sua formação universitária. 13 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância COM PARA Analisando o gráfico, podemos interpretar, em linhas gerais, cada fase do planejamento e determinar os passos essenciais, veja: 1. Caracterização do contexto: corresponde à análise da realidade na qual se deseja atuar – quais são as variáveis envolvidas na elaboração do projeto educativo e o desenvolvimento da ação. 2. Constituição da proposta: refere-se ao que se deseja; pautada em metas e objetivos em relação ao projeto pedagógico. 3. Coerência entre ensinar e aprender: A consequência entre o que se deseja com relação aos objetivos e o que se produz, é, também, a relação entre a teoria e a prática. O grande objetivo do ensino ou de uma ação pedagógica é, a aprendizagem do aluno, ou seja, o acompanhamento do processo através da avaliação contínua. 4. Objetivos: são planejados no início do projeto e vão se concretizando ao longo da. Os objetivos são atingidos quando os alunos respondem os descritores dos conteúdos, demonstram habilidades e competências. O aprender implica mudança de Caracterizar o projeto Coerência Ensinar/ aprender Ações compartilhadas Objetivos/ recursos/ metodologia Roteiro metodológico Executar o projeto Concretizar os objetivos 14 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância comportamento e a aceitação e respeito a valores projetados nos planos pedagógicos. 5. Ações compartilhadas: o professor não está sozinho no processo, pois deve ter em conta que seu aluno possui experiências prévias e que há condicionantes externos que devem ser referências para a ação docente e para a execução do projeto. 6. Execução do projeto: uma vez relacionados, todos os elementos serão colocados em prática levando em conta o equilíbrio das escolhas metodológicas feitas pelo professor. Enfim, o ciclo nunca se fecha, se pensarmos que o desejável é conseguir elaborar uma reflexão constante, envolvendo o professor e sua prática; e os alunos e seu projeto de aprendizagem. Para demonstrar que planejar e avaliar andam juntos apresento uma Tabela de Descritores da Prova Brasil que oferece um instrumento claro para o educador avaliar o seu planejamento: Avaliar o que o alunos aprenderem e o que ainda falta aprender. 15 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. AS FORMAS DE PLANEJAMENTO DE ACORDO COM O PROJETO DA ESCOLA (PPP). Objetivo A seguir, você terá a oportunidade de conhecer algumas formas de organização do trabalho escolar e de planejar um projeto ou aula. Você, como aluno em formação e futuro professor, deverá selecionar em conformidade às orientações e decisões colegiadas de cada instituição. Introdução Há muitas formas de organização do ensino em um projeto político pedagógico de uma escola. Aqui veremos duas formas: Temas geradores e projetos de trabalho. Desenvolvimento Uma das formas de organização do ensino e de intervenção pedagógica: é por meio de temas geradores. Esta opção cabe muito bem se a proposta de educação for pensada por currículos modulados ou por competências. A modulação pode se apresentar como uma proposta diferenciada diante do conhecimento. Diferente se o conteúdo estiver organizado por disciplinas, assim como são a maioria das propostas educativas nas escolas brasileiras, com raras exceções. O módulo5 pode ser desenvolvido com um tema gerador. A adoção de um currículo modulado exige mudanças de paradigmas, principalmente quanto à postura do professor, que deverá ter uma atitude de mediador e líder de equipes, que, em conjunto com os alunos e outros professores, construirão o conhecimento de forma integrada, interdisciplinar ou multidisciplinar. Esta proposta de ensino concebe o aluno como um sujeito ativo, agente na construção do seu conhecimento, propõe claramente o que se espera dele e o que o aluno espera da instituição, sugere organização da escola e dos planejamentos com propostas educativas que incorporem aspectos fundamentais das disciplinas por meio da visão de focos mais abrangentes do conhecimento e não disciplinares. 5 É bom lembrar que o currículo por módulo também pode ser desenvolvido de forma linear e tradicional, se não houver uma postura política e crítica envolvida. 16 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância De maneira esquemática, podemos dizer que o “Método Paulo Freire” está dentro doque seria o trabalho por temas geradores, que levam a construir competências6 gerais, em que as disciplinas se entrelaçam, construindo um conjunto. O trabalho por temas geradores, cujo expoente é Paulo Freire, consiste de três momentos dialéticos ( tese, síntese e antítese) e interdisciplinarmente entrelaçados: 1. A investigação temática pela qual aluno e professor buscam, no universo vocabular do aluno e da sociedade em que ele vive, as palavras e temas centrais de sua biografia, ou do contexto. 2. A tematização (temas) que sugere as influências as quais os alunos estão submetidos; estes buscam, através dos temas, o significado social que gera uma consciência crítica do mundo vivido. 3. A problematização na qual os alunos buscam superar uma visão primária e de senso comum, construindo uma visão crítica. Esta surge da transformação do contexto vivido – na valorização do cotidiano de cada aluno. Dada essa interdisciplinaridade, a obra de Paulo Freire pode ser vista como referência na construção de uma visão contextualizada de mundo e que parte da realidade da sociedade em que os homens vivem e não de fora dela – ali, está incluída a dimensão política e ideológica do conhecimento, da educação e do mundo. Portanto, trabalhar com temas geradores não é trabalhar com um método, mas com uma proposta político-pedagógica, voltada à emancipação do sujeito ativo na sociedade em que vive. Outra forma de trabalho decorre da Organização do ensino e intervenção pedagógica por meio de projetos de trabalho. A organização do currículo por projetos de trabalho implica uma postura curiosa e interdisciplinar, além de uma atualização constante, tanto do professor, quanto do aluno. 6 As competências, enquanto ações e operações mentais, articulam os conhecimentos, o “saber”, as habilidades, o “saber fazer” elaborado de modo cognitivo, social e afetivo, os valores e as atitudes da ordem do “saber ser” e do “saber conviver”. (DELORS, 2000) 17 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em entrevista à revista Nova Escola, ed. 154/ agosto de 2002, Fernando Hernandez diz o seguinte: O modelo propõe que o docente abandone o papel de “transmissor de conteúdos” para se transformar num pesquisador. O aluno, por sua vez, passa de receptor passivo a sujeito do processo. É importante entender que não há um método a seguir, mas uma série de condições a respeitar. (p. 18- 25). Não há um método fixo a seguir. O professor precisa abandonar a postura de dono do saber ou transmissor de conhecimento, como dizia Paulo Freire (2002) sobre a educação bancária - o aluno deve ser “ensinado” a ter uma postura de “atividade” e agente do processo. Convém ler uma descrição de como são as etapas de um projeto de trabalho.Com base nos princípios apresentados por Fernando Hernández (2002) apontamos como possíveis etapas: 1. Escolher do tema para desencadear problema a ser lançado como desafio e/ ou para iniciar uma investigação. Pode partir de uma inquietação dos alunos, sugerida por eles ou pode ser uma sugestão do professor. Basta que se tenha “uma questão inicial” e se vá em busca de variáveis para o desenvolvimento. A partir daí, é importante trabalhar as maneiras de olhar o mundo, que são diversas. Mas não interessa só localizá-las, e sim entender o significado delas. O resultado é que se constrói uma situação de aprendizagem em que os próprios estudantes começam a participar do processo de criação, pois buscam resposta as suas dúvidas. 2. Planejar e organizar são as ações previstas para o desenvolvimento do tema - divisão dos grupos, definição dos assuntos a serem pesquisados, procedimentos e delimitação do tempo de duração, realizar o tratamento das informações. 3. Socializar periodicamente os resultados obtidos nas investigações (identificação de conhecimentos construídos) e discussões de estudo devem ser sistematicamente socializados em forma de atividades com os alunos. 4. Definir os critérios de avaliação: estabelecer com o grupo os critérios de avaliação. Avaliar cada etapa do trabalho, realizando os ajustes necessários. O portfólio é 18 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância uma técnica que tem sido usada e é uma importante estratégia de aprendizagem e feedback. 5. Finalizar o projeto, propondo uma produção final, como elaboração de um livro, apresentação de um vídeo, uma cena de teatro ou uma exposição que dê visibilidade a todo processo vivenciado e possa servir de foco para outro projeto educativo. E novas perspectivas para trabalho futuro – outras perguntas para futuros trabalhos. Para Hernandez (2002, p.18-25), “O projeto avança à medida que as perguntas são respondidas e o ideal é fazer anotações para comparar erros e acertos — isso vale para alunos e professores porque facilita a tomada de decisões”. Todo o trabalho deve estar alicerçado nos conteúdos pré-definidos pela escola e pode (ou não) ser interdisciplinar. Antes, defina os problemas a resolver, depois, escolha a(s) disciplina(s). Nunca o inverso. A conclusão pode ser uma exposição, um relatório ou qualquer outra forma de expressão. QUADRO SÍNTESE Tema ou problema O que se vai pesquisar, estudar ou desenvolver com os alunos? Questões ou hipóteses O que sabemos sobre o assunto? O que os alunos levantam sobre a temática? Quais são as principais curiosidades para que se possa iniciar o estudo? Fontes de informação Onde buscar as informações e fontes para desenvolver o tema – que estratégias vamos usar? Critérios de ordenação e de interpretação das fontes Como vamos tratar os dados coletados? O que vamos fazer com o que vamos coletando? Relações com outros problemas Que relações ainda são possíveis de ser feitas? Avaliação Como será a avaliação do processo junto com o aluno? O que vou avaliar no decorrer das atividades? 19 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Assim, de tudo o que foi abordado, é fundamental que você compreenda que existem Muitas maneiras de planejar o ensino e a aprendizagem. É interessante que o professor proporcione diversas alternativas de organização das situações de aprendizagem – aulas expositivas, seminários, trabalho em grupos e individualmente, uso de tecnologias, criação de mídias e ferramentas, como blog, fóruns, ou seja, proporcionar o estudo sob diferentes situações com atividades diversificadas. É importante lembrar, no entanto, que muitas formas de ensino e de conceber o currículo afastam os alunos do mundo real. Segundo Hernandez (2002, p. 18-25), Há muitas maneiras de garantir a aprendizagem. Os projetos são apenas uma delas. É bom e é necessário que os estudantes tenham aulas expositivas, participem de seminários, trabalhem em grupos e individualmente, ou seja, estudem em diferentes situações. É preciso planejar e programar propostas que promovam aproximação do aluno com o mundo, acolhendo, no interior dos projetos, suas necessidades; certamente, os resultados do professor serão melhores. Conexão com novo tema ou problema Há possibilidade de emendar outro projeto? Isto vai acontecer naturalmente? Produto final O que fazer com o resultado ao longo dos estudos e pesquisas? 20 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO Objetivo Nesse capítulo, você será convidado a refletir sobre a importância do Projeto Político- Pedagógico como instrumento teórico-metodológico, bem como compreender seu significado, e a relação que se estabelece com a escola. Você verá também aspectos quedefinem e caracterizam um projeto, bem como conhecer as possibilidades de se estruturar um PPP. Introdução Entendendo-se que a importância e a finalidade do Projeto Político- Pedagógico no contexto educacional é elaborado por meio de um processo que coletivo, reflexivo e dinâmico. Por isso na formação profissional daqueles que irão integrar a comunidade pedagógica é fundamental um conhecimento sólido e a capacidade de dialogar empregando argumentos válidos e aceitos pela academia e assim se afastarem do senso comum. Desenvolvimento Você sabe quanto o Projeto Político-Pedagógico contribui para a organização do trabalho pedagógico como um todo e aponta no sentido de transformar a realidade escolar. Para a construção de um projeto eficiente é importante a participação de todos os envolvidos, no sentido de apontar um diagnóstico da situação atual da escola, assim como a definição de novos objetivos. Sendo assim, cada escola deve elaborar sua proposta pedagógica com a participação de todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão ligados à dinâmica do processo educativo: diretor, orientador educacional, professores, alunos e comunidade escolar. Para dar início ao processo de construção do Projeto Político-Pedagógico, é fundamental sensibilizar e comprometer o grupo, a escola e toda comunidade, fazendo-os perceber a necessidade do empenho e dedicação de todos os envolvidos no processo, para que, de fato, se concretize. Tal construção não deve ocorrer simplesmente porque é uma exigência legal, mas, por constituir-se no instrumento que norteia as ações da escola para a promoção da cidadania e, por consequência, para a promoção das mudanças sociais. Pensando em todas as dimensões do termo, podemos dizer que: 21 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O termo Projeto busca um norte, um rumo, uma direção. E se traduz numa ação intencional, num compromisso que é assumido e definido coletivamente. (VEIGA, 2010a). Já o termo Político se traduz no sentido de que toda a ação pedagógica é também política. E, segundo Vasconcellos (2009, p.20), “Ser político significa tomar posição nos conflitos presentes na Polis; significa, sobretudo, a busca do bem comum. Não deve ser entendido no sentido estrito de uma doutrina ou partido”. O termo Pedagógico, “no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade.” (VEIGA, 2010a, p. 13). A escola é formada por uma teia de relações, tendo no seu centro sujeitos que, ao se modificarem, modificam seu entorno. Ela é um espaço complexo e dinâmico que traz em seu centro possibilidades de mudança. Pois bem, para Veiga, “a escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos.” Há, então, esta questão mais elementar hoje colocada, que é a valorização do planejamento, o estar mobilizado para fazê-lo, entendê-lo realmente como uma necessidade. Trata-se de um problema filosófico-axiológico, de posicionamento valorativo, de ver sentido, acreditar. O planejamento é político, é hora de tomada de decisões, de resgate dos princípios que embasam a prática pedagógica. Mas para chegar a isto, é preciso atribuir-lhe valor, acreditar nele, sentir que planejar faz sentido, que é preciso. (VASCONCELLOS, 2010). Nessa lógica, entende-se que o Projeto Político-Pedagógico é um instrumento de intervenção na realidade educacional, constituindo-se como proposta para transformar e superar as concepções que desvinculam a prática dos professores e da escola do contexto social. Se no PPP é fundamental a construção dos sujeitos, portanto, na parceria professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem, tem-se que as interações planejadas em sala de aula contribuem para a [...] construção compartilhada de significados, orientados para a autonomia do aluno, e que não opõe a autonomia – como resultado de um processo – à ajuda necessária que este processo exige, sem a qual dificilmente se poderia alcançar 22 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância com êxito a construção de significados que deveriam caracterizar a aprendizagem escolar. (ZABALA, 2002, p. 92). Volta-se aqui ao valor que a interação planejada, intencional, em no processo de ensino-aprendizagem. O Projeto Político-Pedagógico é imbuído de intencionalidade, mas não pode ficar apenas na intenção. “Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. ” (VEIGA, 2010a, p.12). É altamente enriquecedor que o Projeto Político-Pedagógico mostre em sua sistematização, um texto que revele um desejo de mudança, de querer transformar a realidade; onde a intencionalidade se traduz ao documentar a proposta do trabalho da escola, em busca da melhoria da qualidade de ensino. Para que a construção do Projeto Político-Pedagógico seja possível, Veiga (2010a, p. 16) nos apresenta, como organização do trabalho pedagógico na escola, os princípios que deverão nortear a escola democrática. Igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com simultânea manutenção da qualidade. Qualidade que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais. O desafio é propiciar uma qualidade para todos. A qualidade na formação dos profissionais é condição imprescindível da participação de todos os envolvidos na construção do PPP. Gestão democrática é um princípio consagrado pela Constituição vigente (CF, art. 206, VI) e abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica, na prática administrativa da escola. Autonomia é outro princípio educacional. A autonomia faz parte da própria natureza do ato pedagógico. E também o compromisso dos adultos para garantir o direito aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o saber direcionados para uma intencionalidade definida coletivamente e com tomadas de decisão colegiadas. 23 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Valorização do magistério é um princípio central na discussão do projeto político- pedagógico. A qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica, política e cultural do país relacionam-se estreitamente com a formação (inicial e continuada), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à profissionalização do magistério. (VEIGA, 2010a). Para a construção do projeto político-pedagógico, devemos ter claro o que se quer fazer e porque vamos fazê-lo. Assim, o projeto não se constitui na simples produção de um documento, mas na consolidação de um processo de ação-reflexão-ação que exige o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar. (VEIGA, 2010b). Veiga sugere pelo menos sete elementos básicos constitutivos da organização do PPP pois contribuem para a elaboração do projeto: “a definição de suas finalidades da escola, a estrutura organizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as relações de trabalho, a avaliação”. A escola persegue finalidades. É importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza das finalidades de sua escola. Para tanto, há necessidade de se refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com basenas finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades de uma escola referem-se às mudanças que ela pretende realizar. A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de estruturas: administrativas e pedagógicas. As primeiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. As estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às interações políticas, às questões de ensino-aprendizagem e de currículo. Nas estruturas pedagógicas, incluem-se todos os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho pedagógico. O Currículo é um importante elemento constitutivo da organização escolar e promove, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente. Neste sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar. Na organização curricular, é preciso considerar alguns pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O C A P ÍT U L O 2 24 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância segundo ponto é o de que o currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que é historicamente situado e culturalmente determinado. O terceiro ponto diz respeito à organização curricular que a escola deve adotar. O quarto ponto refere-se à questão do controle social, já que o currículo implica em controle. O tempo é um dos elementos constitutivos da organização do trabalho pedagógico. Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores, fortalecendo a escola como instância de educação continuada. Uma estrutura administrativa da escola, adequada à realização de objetivos educacionais, de acordo com os interesses da população, deve prever mecanismos que estimulem a participação de todos no processo de decisão. É importante reiterar que, quando se busca uma nova organização de trabalho pedagógico, está se considerando que as relações de trabalho, no interior da escola, deverão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de participação coletiva, em contraposição à organização regida pelos princípios da divisão do trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. Acompanhar as atividades e avaliá-las leva-nos à reflexão, com base em dados concretos sobre como a escola se organiza para colocar em ação seu projeto político- pedagógico. O processo de avaliação envolve três momentos reflexivos: a descrição e a problematização da realidade escolar, a compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas de ação, momento de criação coletiva. 25 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Objetivo Refletir sobre a avaliação como elemento integrante da organização e da dinâmica do trabalho pedagógico, necessária ao aprimoramento dos processos educativos, sob a ótica da avaliação da aprendizagem e da avaliação institucional. Introdução Diante dos desafios que se impõem atualmente à melhoria da qualidade da educação, a avaliação destaca-se como um conjunto de conhecimentos imprescindíveis à atividade docente, à medida que se deve constituir como prática reflexiva do processo ensino e aprendizagem. Desenvolvimento No âmbito educacional, a avaliação não decorre de forma isolada. Assim como outros elementos do processo, a avaliação decorre de forma articulada com outras etapas de ensino, como por exemplo, a do planejamento. Isto quer dizer que, sem ações pedagógicas planejadas, não há como avaliar a aprendizagem, pelo menos da forma que se deseja, ou seja, comprometida. Para que a avaliação seja possível, Luckesi (2011) considera que o passo inicial é o de estabelecer uma ação claramente planejada, sem o que a avaliação fica sem possibilidades de dimensionar-se e ser praticada, pois o seu mais profundo significado, a serviço da ação, é oferecer apoio com o propósito de chegar aos resultados almejados. Por muito tempo vigorou uma perspectiva de avaliação como momento determinado, separado do processo de aprendizagem. Nesse sistema, a transmissão de informações precisava ser memorizada progressivamente e o aluno era considerado como receptador passivo. Lembre-se que Paulo Freire denominava “educação bancária” pois se faz com o deposito de conteúdos e a retirada deles com juros e correção monetária. A avaliação faz parte de um processo, por este motivo não podemos fazer o caminho inverso e equivocado cuja ideia é creditar que apenas mudando o processo de avaliação, se alcançará a qualidade da educação. A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu 26 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância sentido à medida que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino e aprendizagem, (LUCKESI, 2011). As práticas de avaliação constituem-se em valiosos procedimentos que possibilitam conhecer o sistema educativo desde o estabelecimento de políticas públicas, em geral, até as realidades escolares. Discutir e analisar as práticas de avaliação é uma das melhores maneiras de compreender o que se vivencia na escola. De acordo com Esteban (2003), é importante continuar discutindo a avaliação como parte de um processo mais amplo que engloba a questão do fracasso escolar, a questão dos mecanismos que o constituem e possibilidades de reversão desse cenário, com a construção do sucesso escolar de todos os alunos, especialmente daqueles que estejam limitados por carências individuais ou sociais e que efetivamente vivem cotidianamente com o fracasso escolar. Vamos agora fazer um retrospecto breve sobre a dimensão histórica do conceito de avaliação Por séculos, a avaliação esteve associada à ação de medir e de verificar as aprendizagens. Portanto, é importante, a partir de agora, que você reflita se esta postura tem se revelado nas práticas de avaliação. Mas é desde o século XVII, a partir da proposta de Comenius, que o exame surge de forma institucionalizada. Em 1631, Comenius, em sua Didática Magna, toma o exame como um problema metodológico, que deve ser entendido como instrumento de aprendizagem e não de verificação. Para Comenius, se o aluno não aprendesse, seria necessário repensar o método, pois para ele o exame era um precioso auxílio a uma prática docente mais adequada ao aluno. Comenius foi considerado o primeiro educador ocidental a interessar--se pela relação ensino e aprendizagem. A sua obra Didática Magna é reconhecida como o primeiro tratado sistemático de Didática. Comenius compreende a Didática como a arte universal de ensinar tudo a todos. 27 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Mas é desde o século XVII, a partir da proposta de Comenius, que o exame surge de forma institucionalizada. Em 1957, Comenius, em sua Didática Magna, toma o exame como um problema metodológico, que deve ser entendido. Na definição de Libâneo (1994), a avaliação é um componente do processo de ensino e aprendizagem que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, então, embasar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. No mesmo sentido, Luckesi (2011) define a avaliação como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão. Observe que os dois conceitos indicam que avaliação envolve valor, e isso envolve pessoa, pois quandovocê avalia alguém, envolve-se por inteiro, ou seja, o que você sabe, o que sente, o que conhece e a relação que se tem com essa pessoa. E é partir destes elementos que o professor constrói sua relação com o aluno. Por conta disso, o sentimento de compromisso em relação aquela pessoa e com a verdade com quem se está relacionando é a premissa básica do processo de avaliação. Avaliar é muito mais que conhecer o aluno, é reconhecê-lo como pessoa digna de respeito e de interesse. Um aluno que está numa caminhada durante a qual deve evidenciar seu processo de crescimento em todos os aspectos de sua personalidade com nos saberes: entender, fazer e ser. O conceito de avaliação é formulado a partir das determinações da conduta de atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação, que, por si, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. Isto quer dizer que o ato de avaliar vai além da verificação. A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção de configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ela. A seguir nos dedicaremos às Funções da Avaliação a fim de identificar os propósitos da avaliação escolar. Há diferentes posicionamentos e entre eles há os que consideram como meio de coerção e controle exercido por professores, escolas e sistemas educacionais que representam o poder. Há também quem veja a relação entre avaliação e controle, mas diferencia duas dimensões distintas para o controle: uma delas vê controle como cerceamento e outra 28 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância como acompanhamento. Para a primeira dimensão, o controle serve para julgar, basta observar, registrar, coletar dados do processo de desenvolvimento. Na outra dimensão, quando o controle se dá para ajudar, é necessário acompanhar o aluno no seu desenvolvimento, apoiando-o, conversando, negociando, sugerindo rumos adequados. A dinâmica da avaliação tem seu grau de complexidade e uma delas se deve ao fato da necessidade em acompanhar os percursos individuais de aprendizagem que se dão no coletivo. Note que em cada momento do processo de ensino e aprendizagem o professor precisa avaliar de diversas maneiras. Numa proposta mais radical, há o ponto de vista que prevê que uma escola sem avaliação, em que o aluno passaria sua trajetória escolar sem qualquer apreciação sobre seu empenho e seu aproveitamento. Como consequências de tal posicionamento, o professor ficaria impossibilitado de emitir qualquer juízo de valor e, por consequência, sem qualquer hipótese de tomar decisões e sem também receber dados para sua autoavaliação. Mesmo apresentando alguma sedução a proposta de não haver avaliação da aprendizagem é necessária visto que a avaliação possui funções sobre as quais o sistema educacional se apoia. 29 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Objetivos Refletir sobre os processos de avaliação institucional nas perspectivas interna e externa e discutir a auto avaliação da escola quanto seu desempenho. Introdução As práticas de avaliações institucionais são procedimentos fundamentais para encontrar alternativas a novos encaminhamentos em relação ao sistema educacional, em geral, e a novas práticas educativas, em particular. Tais práticas que, além da avaliação da aprendizagem, abrangem outras propostas de avaliação como as de curso e de currículo, da instituição e de sua gestão e do próprio do sistema educacional. Desenvolvimento I - Avaliação externa No contexto da educação brasileira, a partir dos anos noventa do século XX, a a importância da avaliação se tornou ainda maior à medida que inúmeros programas e sistemas passaram a ser criados sob a coordenação dos governos federal, estadual e, em alguns casos, municipal. Deste modo, para além das questões relativas à avaliação da aprendizagem, aquela realizada pelo professor em sua sala de aula, agora a avaliação passou a se constituir em uma das tarefas das diferentes instâncias de governo. Por serem demandas de governo, neste caso, são consideradas avaliações de caráter externo, mesmo sabendo que muitas envolvem diretamente as escolas, e cumprem uma legislação que acompanha indicadores para monitorar a melhoria dos índices de desempenho dos sistemas. A Constituição de 1988 estabelece como um dos princípios do ensino “a garantia de padrão de qualidade” (Art. 206, inciso VII). Em sintonia a LDB n° 9.394/1996 vem reafirmar esse princípio e estabelecer como uma das incumbências da União o papel de [...]assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino [...] e [...] assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino. (Art. 9°, inciso VI e VIII). 30 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Deste modo, em articulação com esse preceito legal, presenciou-se no país, a implementação de exames, por vezes definidos como sistemas de avaliação educacional, que visavam aferir o nível de domínio de conteúdos em determinadas disciplinas ou campos de saber, e que vieram a influenciar na gestão dos sistemas de ensino e das próprias escolas. Na educação básica, implantou-se o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e, no ensino superior, implantou-se o Provão, posteriormente substituído pelo ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). E posteriormente a nota do IDEB (índice de desenvolvimento da Educação Básica). Na perspectiva da avaliação, vale lembrar o papel significativo dos Parâmetros Curriculares Nacionais, quanto à constituição de padrões de desempenho esperados. Assim, os conteúdos a serem ensinados nas escolas serão os exigidos nas provas elaboradas pelas instâncias externas à escola e recomendados também para as escolas particulares. Os resultados dos sistemas de avaliação externa podem vir organizar o que se ensina nas escolas, potencializando assim o poder dos testes de rendimento. É importante ressaltar que os resultados dos sistemas de avaliação evidenciam o ranquiamento das escolas baseado na premiação ou na punição de escolas, fato que deve ser combatido pela sociedade, uma vez que é redutor a aplicação de testes como meios de medir o rendimento escolar. Potencializar a dimensão educativa e formativa da avaliação, supõe, certamente, na promoção da autonomia pedagógica e didática da escola e não a sua conformação. É fato que avaliação tem ocupado lugar central nas políticas educacionais no país. Assume-se como uma estratégia capaz de propiciar o alcance dos objetivos de melhoria da eficiência e da qualidade da educação, os quais têm sido declarados em planos e propostas governamentais, direcionadas às várias instâncias e instituições dos sistemas de ensino. A melhoria que se anuncia visa à eficiência, a qual refere-se ao fluxo escolar pelas taxas de conclusão, de evasão, de repetência, estimulando a implantação da progressão continuada, classes de aceleração, organização curricular em ciclos, bem como a racionalização orçamentária via programas de avaliação de desempenho e descentralização administrativa. Com o Plano Nacional de Educação as avaliações externas tornaram-se 31 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância instrumentos de acompanhamentode recuos e avanços nas metas estipuladas pelo Conselho Nacional da Educação. Avaliação interna da escola serve para análise do desenvolvimento dos alunos e para que haja a sua evolução, ainda podendo servir de parâmetro avaliativo do professor. Mesmo estando relacionadas, a avaliação da aprendizagem dos alunos e da escola, devem ser diferenciadas. A análise das condições institucionais da escola pode ajudar a explicar os resultados da avaliação da aprendizagem, que por sua vez, é um importante referencial para avaliação institucional. Mas, a aprendizagem pode ser apenas uma das dimensões a ser avaliada na escola. O MEC (Ministério da Educação) elaborou em 2005 indicadores de qualidade para as escolas com seis dimensões orientadoras: ambiente educativo; prática pedagógica e avaliação; gestão escolar democrática; formação e condições de trabalho dos profissionais da escola; espaço físico escolar; e acesso e permanência dos alunos na escola. Torna-se importante ressaltar que para além destas dimensões, as escolas podem construir e desenvolver outros indicadores de qualidade, explorando espaços para construí- las e incluí-las nas atividades avaliativas. Para cada uma das dimensões é constituída por um grupo de indicadores. Os indicadores, por sua vez, são avaliados por perguntas a serem respondidas coletivamente. A resposta a essas perguntas permite à comunidade escolar avaliar a qualidade da escola quanto aquele indicador, sendo a situação classificada como: boa, média ou ruim. A avaliação dos indicadores deve levar a análise da dimensão. Por pertencer a um mesmo país, a um mesmo momento histórico, é compreensível e esperado que haja entendimentos muito próximos do que é uma escola de qualidade. Nesses dois contextos, muitos educadores e gestores podem concordar com o fato de que uma boa escola é aquela em que os alunos aprendem coisas essenciais para sua vida, como ler e escrever, resolver problemas matemáticos, conviver com os colegas, respeitar regras, trabalhar em grupo. Mas, quem pode definir bem e dar vida às orientações gerais sobre qualidade na escola, de acordo com o s contextos socioculturais locais, é a própria comunidade escolar. Não existe um padrão ou uma receita única para uma escola de qualidade. Qualidade tem a ver com profundidade, perfeição, principalmente com participação e criação. Está mais para o ser do que para o ter. 32 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Apesar de não existirem padrões e modelos para todas as escolas, existem referenciais constituídos para auto avaliação, com sugestões de critérios e indicadores de qualidade, que podem servir como ponto de partida. Outro documento que pode ser consultado na auto avaliação escolar é o documento “Indicadores da Qualidade na Educação Infantil”. (MEC, 2009). Os Indicadores da Qualidade na Educação foram criados para ajudar a comunidade escolar na avaliação e na melhoria da qualidade da escola. Este é seu objetivo principal. Compreendendo seus pontos fortes e fracos, a escola tem condições de intervir para melhorar sua qualidade de acordo com seus próprios critérios e prioridades. Para tanto, identificamos sete elementos fundamentais – aqui nomeados de dimensões – que devem ser considerados pela escola na reflexão sobre sua qualidade. Para avaliar essas dimensões, foram criados alguns sinalizadores de qualidade de importantes aspectos da realidade escolar: os indicadores. Confira os indicadores da qualidade em documento oficial do MEC http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_indqua.pdf - Acesso em 22 de outubro. A auto avaliação da escola é um processo que deve se fazer presente não só em sala de aula entre professores e alunos ou entre gestores e professores, mas, entre todos os sujeitos envolvidos no processo educativo. A constituição dos conselhos escolares, embasados pela ótica da gestão partilhada, tem esse papel de envolver a comunidade escolar na participação de avaliação da escola. É uma proposta de avaliação reflexiva, sem a intenção de punir ou constranger, indo em busca de resultados e soluções para o crescimento mútuo e contínuo. Quando a escola se organiza para construir um processo de avaliação institucional ela está se auto avaliando e, por consequência, está buscando a sua qualidade. Quando a escola se organiza para construir um processo de avaliação institucional, a partir do planejamento participativo, ela conecta de forma substantiva gestão democrática com avaliação. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_indqua.pdf 33 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. AVALIAÇÃO MEDIADORA “Corrigir não é avaliar, interpretar é avaliar” J. Hoffmann Objetivos Para abordagem do tema Avaliação Mediadora, optamos por introduzir uma concepção ousada para inspirar os educadores a fim de estudarem, debaterem as ideias de Jussara Hoffmann e aos poucos coloquem em prática em suas escolas de forma responsável, pois afinal, nós educadores não nos sentimos confortáveis com a longa vigência da avaliação burocrática a que estamos engajados. Introdução Jussara Hoffmann é Professora Mestre reconhecida por suas contribuições à melhoria da educação no país, é autora de dez livros, de vários capítulos em livros no Brasil e no exterior, de numerosos artigos em jornais e revistas, destacando-se, entre suas obras mais conhecidas: Avaliação mito & desafio: uma perspectiva construtivista, Avaliação mediadora; uma prática em construção da pré-escola à universidade, Avaliar para promover: as setas do caminho; O jogo do contrário em Avaliação e Avaliação e Educação Infantil: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. Desenvolvimento Voltando à epígrafe, não podemos deixar de nos surpreender com a revolucionária afirmação da autora, chega até a ser provocativa. Afinal ela mexe com uma tradição de canetas vermelhas e contar os erros para abaixar as notas. Para ressignificar o ato de acompanhar a aprendizagem de alunos Jussara introduz na Avaliação, o conceito de Mediação, ou seja: um “diálogo intelectual” para compreender o pensamento do aluno. Para que isso aconteça, é preciso aproximar-se dele para conhecer a história do sujeito. Refletindo sobre as notas atribuídas aos estudantes, Jussara salienta que “o problema da análise quantitativa pouco significa como dado a apreensão de habilidades e saberes, pois números não me falam das pessoas e nem do que elas estão aprendendo”. Em palestra, a professora que vem se dedicando ao estudo e pesquisa da Avaliação Mediadora aponta o que é preciso mudar para que a prática a Avaliação Mediadora seja 34 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância adotada pelas escolas, para argumentar a professora reflete sobre os conceitos de avaliação. Vejamos: Uma grande questão é que avaliar envolve valor, e valor envolve pessoas. Nós somos o que sabemos em múltiplas dimensões. Quando avaliamos uma pessoa, nos envolvemos por inteiro - o que sabemos, o que sentimos, o que conhecemos desta pessoa, a relação que nós temos com ela. E é esta relação que o professor acaba criando com seu aluno. Então, para que ele transforme essa sua prática, algumas concepções são extremamente necessárias. Em primeiro lugar, o sentimento de compromisso em relação àquela pessoa com quem está se relacionando. Avaliar é muito mais que conhecer o aluno, é reconhecê-lo como uma pessoa digna de respeito e de interesse. Em segundo lugar, o professor precisa estar preocupado com a aprendizagem desse aluno. Nesse sentido, o professor se torna um aprendiz do processo, pois se aprofunda nas estratégias de pensamento do aluno, nas formas como ele age, pensae realiza essas atividades educativas. E identifica o quanto o aluno deseja aprender. Só assim é que o professor pode intervir, ajudar e orientar esse aluno. É um comprometimento do professor com a sua aprendizagem. Assim o docente tornar-se um permanente aprendiz. Aprendiz da sua disciplina e dos próprios processos de aprendizagem. Por isso a avaliação é um terreno bastante arenoso, complexo e difícil. Eu mudo como pessoa quando passo a perceber o enorme comprometimento que tenho como educador ao avaliar um aluno. (Hoffmann) Como o professor avalia o aprender, é essencial que se reflita sobre o que é aprender. A avaliação tradicional se centrou basicamente no "aprender que". Exemplifico: eu aprendo que todas as palavras proparoxítonas são acentuadas, e muitos professores ainda estão centrados nessas informações que precisam ser memorizadas. No entanto a aprendizagem é muito mais ampla do que o "aprender alguma coisa. O aprender envolve o desenvolvimento, o interesse e a curiosidade do aluno, a sua autoria como pesquisador, como escritor, como leitor. Aqui, Jussara ao enumerar os múltiplos papéis do aprendiz envolve o seu desenvolvimento pleno e aproxima-se muito da conhecida MOTIVAÇÂO que na Educação infantil e Ensino Fundamental precisa de um estímulo externo, já a partir do 35 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ensino Médio e sobretudo no Superior, carece apenas da automotivação que impulsiona o indivíduo a aprender. É lógico que não se pode atribuir pontos por participação, por tarefas, pela motivação do aluno. Não há como somá-las. A análise da aprendizagem é uma análise de conjunto de saberes e de fazeres. Esse aprender é um aprender muito mais amplo do que muitos professores hoje concebem. No entanto de onde vem esse dever de quantificar e registrar toda a caminhada da aprendizagem e atribuir valor? Isso nasceu e ainda perdura porque é uma forma de os professores documentar seu trabalho e sua atuação junto ao aluno para que haja garantia de que informação foi transmitida ao aluno. Numa sociedade competitiva como a nossa é muito difícil para a família aceitar a ideia de que algumas crianças aprendem rapidamente e outras levam mais tempo para aprender, daí é que nascem as desconfianças e a imaginação nefasta de que há professores que gostam ou perseguem os alunos. Esse é o lado desgastante de nossa profissão e garanto que é muito difícil tentar modificar essa visão distorcida da sociedade. A ideia de medir e valorar provas e tarefas também ganha necessidade para o professor justificar uma reprovação no Ensino Médio, quando os pais entram com um recurso junto à Diretoria Regional de Ensino e o recurso chega à instância do Conselho Estadual de Educação, pois fica muito difícil argumentar a partir a avaliação global do aluno. Por isso todos os registros acabam constituindo o processo do aluno. Veja você a contradição em que vivemos: no ensino fundamental quando por lei, há progressão dos alunos e apenas retenção (jamais reprovação) ao final dos ciclos, a sociedade grita que quer a volta da reprovação. Mas quando se chega o Ensino Médio quando a reprovação é prevista por lei, os pais recorrem para que seus filhos sejam aprovados. Há necessidade de darmos informações precisas e embasadas na legislação para as famílias e a sociedade. Na tentativa de mudar as concepções de educação e de avaliação para moldes mais avançados, muitas escolas acabam optando por transformar todos esses conceitos dos objetivos cognitivos, atitudinais e comportamentais em nota ou conceitos, deixando de lado a concepção mediadora de ensino/ aprendizagem. O grande desafio da Educação ainda é implementar um sistema que expresse de forma razoável a evolução de saberes e aprendizagens de um estudante, tanto que Jussara Hoffmann se dedica a desenvolver estudos no sentido de “avaliar para promover”. Não uma promoção burocrática, mas uma avaliação para promover o desenvolvimento moral e 36 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância intelectual. Avaliar para promover a cidadania do aluno, como um sujeito digno de respeito, ciente de seus direitos e que tenha acesso a todas as oportunidades que a vida social possa lhe oferecer. Por isso é preciso promover a aprendizagem significativa que busque a formação de um aluno pesquisador, autor, autônomo para ir além da sala de aula e poder usufruir dos benefícios da Internet, ou seja retirar da rede internacional de informação (NET) conhecimentos, pesquisas para seu crescimento pessoal a não se limitar ao vício das sufocantes mensagens de redes sociais. Espera-se sim, que na escola haja a realização de testes e tarefas, mas com a finalidade de auxiliar e orientar o aluno para uma aprendizagem cada vez mais significativa. Voltando ao pensamento de Jussara, ela declara que para a avaliação mediadora chegar à escola é preciso, em primeiro lugar, que princípios sejam fundamentados, muito mais do que se transformar metodologias, pois as metodologias são decorrentes da clareza dos princípios avaliativos. São três os princípios defendidos pela prática avaliativa mediadora. O primeiro princípio é o de uma avaliação a serviço da ação. Toda investigação sobre a aprendizagem do aluno é feita com a preocupação de agir e de melhorar a sua situação. Uma avaliação que prevê a melhoria da aprendizagem. O segundo princípio é o da avaliação como projeto de futuro. Melhor explicando: a avaliação tradicional justifica e documenta a não-aprendizagem. Ela olha para o passado e não se preocupa com futuro. Em uma cultura avaliativa mediadora, por exemplo, 20% do tempo em que os professores estiverem reunidos em conselho de classe, eles irão discutir o que vem acontecendo com seus alunos e, no restante do tempo, vão encaminhar propostas pedagógicas para auxiliar os alunos em suas necessidades. Essa é uma avaliação como um projeto de futuro. O terceiro princípio que fundamenta essa metodologia é o princípio ético. A avaliação, muito mais do que o conhecimento de um aluno, é o reconhecimento desse aluno. Cada aluno é importante em suas necessidades, em sua vivência, em seu conhecimento. Não há regras gerais e nem normas que valham para todas as situações. Alunos com necessidades especiais precisam de atendimento especial. Não há tempos padronizados para todos, mas há, sim, clareza de princípios, parâmetros de qualidade estabelecidos em consenso pelos professores, uma proposta político-pedagógica clara para que a prática avaliativa seja coerente com o que a escola pretende. Como conclusão deixo o pós-escrito para expressar a minha adesão aos estudos de Jussara Hoffmann. “Avaliação é sinônimo de evolução!” 37 Planejamento e Avaliação na Educação Especial Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. SUGESTÕES DE JUSSARA HOFFMANN PARA ADOÇÃO DA AVALIAÇÃO MEDIADORA PELAS ESCOLAS Objetivo Por reconhecer que mudanças em sistema de avaliação geram mais polêmicas do que consensos, apresento nesta última sessão do Guia da Disciplina – a fim de submeter à sua reflexão – algumas sugestões da professora Jussara pelas quais eu tive muito interesse e já fiz algumas poucas tentativas na busca de uma forma de avaliar mais livre de tensões e pressões e que possa desencadear novas formas de aprender. Introdução Mesmo não obtendo êxito na minha busca de avaliação e aprendizagem significativas, compartilho com você algumas orientações que podem ir ressignificando sua atuação pedagógica. Desenvolvimento Para que haja a transformação de uma prática de avaliação tradicional, centrada nas provas finais, na recuperação com hora marcada, Jussara Hoffman oferece algumas experiências para se alcançar um processo de avaliação contínua mediadora. Para que
Compartilhar