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EX 2 FESB

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Exercício 2
PROPOSIÇÃO:
Explicite a importância dos traficantes para o funcionamento da economia escravista
brasileira. Como a interpretação sugerida por Florentino e colaboradores confronta
com os esquemas de formação elaborados por Caio Prado Jr. e Celso Furtado?
O Brasil Colônia e os ciclos econômicos presentes nesse contexto possuem
forte relação com o tráfico negreiro que, além de constituir um mercado próprio
lucrativo, era responsável pela base do sistema escravista instaurado e de relações
na colônia. No artigo, “Aspectos Comparativos do Tráfico de Africanos para o Brasil
(Séculos XVIII e XIX)”, há uma análise e apontamentos de dados relativos aos
tráficos carioca e baiano, ocorridos entre o período de 1700 a 1830, quando há uma
transição da economia litorânea Nordestina para o Sudeste, com mudanças também
na origem dos negros usados como mercadoria de importação para o Brasil. A
realização de um paralelo entre esse artigo e os escritos de Caio Prado Jr. e Celso
Furtado, respectivamente, “A Formação do Brasil Contemporâneo” e “Formação
Econômica do Brasil”, enrique a discussão sobre a importância dos traficantes,
sobretudo, durante o ciclo mineiro, no aspecto da associação entre o capital externo
e a formação colonial do capital endógeno.
A produção de açúcar pelos holandeses em suas colônias nas Antilhas, após
serem expulsos do Nordeste brasileiro, resultou que o açúcar brasileiro ficasse em
segundo plano no mercado internacional, pois os holandeses conheciam todo o
processo de fabricação de açúcar e possuíam maior o controle sobre a distribuição
e comercialização deste produto. Apesar dessa mudança no mercado internacional,
a produção agrícola continuou a expandir sem controle, assim a concorrência
holandesa foi uma das principais causas da crise do açúcar brasileiro no período
colonial, culminando na decadência do sistema açucareiro, base da economia
colonial brasileira até então, com a economia estacionária, a Metrópole passou a
investir na exploração de metais preciosos. Essa iniciativa provocou mudanças de
cunho interno e externo, principalmente em relação às questões populacionais,
regiões de concentração de capital, fontes externas de investimento e estrutura do
sistema escravista.
No texto “Aspectos Comparativos do Tráfico de Africanos para o Brasil
(Séculos XVIII e XIX)”, o autor aborda, de maneira mais interna, sobre as relações
estabelecidas entre os traficantes e suas influências na economia. As pessoas que
se envolviam com o mercado tratado no artigo representavam grande influência nas
esferas sociopolítica e econômica da sociedade escravista de Salvador, Recife e do
Rio de Janeiro. Essa área possuía uma “natureza empresarial seletiva”, uma vez
que possuía muitos riscos e apenas alguns comerciantes chegavam à grandes
fortunas. O tráfico de pessoas escravizadas era um mercado limitado e geralmente
instável. Por conta disso, os comerciantes buscavam diversificar suas aplicações,
buscando aumentar a estabilidade. Essa estratégia era utilizada por todos os
traficantes, porém, os que tinham o monopólio exerciam maior influência sobre o
controle tanto dos corpos das pessoas negras africanas, quanto das formas e
relações produtoras. Tal relação fechada e tática, colabora para a nomeada pelo
autor como “comunidade de traficantes”, caracterizada por vínculos intensos de
interdependência estabelecidos entre os negreiros. A partir das ações dos
traficantes se desencadeou todo o entrelaçamento da economia mineira, pois
internamente, desenvolveu atividades dinâmicas acarretando em uma economia
urbana interna, como no fornecimento de animais para transporte; possibilitando
maior mobilidade econômica e social dos pequenos proprietários, assim como a
possibilidade real de obtenção da liberdade por parte dos escravizados e na
formação de famílias entre eles.
Esse conjunto de circunstâncias tornava a região mineira muito mais
propícia ao desenvolvimento de atividades ligadas ao mercado interno do
que havia sido até então a região açucareira. (Furtado - Formação
Econômica do Brasil, p. 88)
Já a abordagem dos autores Celso Furtado e Caio Prado Jr., em “Formação
Econômica do Brasil” e “A Formação do Brasil Contemporâneo”, possuem um foco
maior nas relações externas estabelecidas e em suas consequentes influências
para a formação do sistema interno brasileiro. A ação da metrópole teve início
desde a iniciativa de exploração dos minérios, ajuda técnica, fluxos de imigração,
até o controle fiscal e de exportação dos recursos mineiros e do tráfico negreiro. Os
determinantes dessa economia estavam, portanto, associada à própria questão
natural dos recursos não-renováveis, além da forte ligação com a metrópole.
Com o ciclo do ouro, o perfil migratório passou a abarcar públicos de
investidores portugueses de baixa renda que durante o período agrícola não
possuíam capital para negócios no Brasil, o investimento desse sistema de
exploração foi, portanto, desencadeado pelo investimento dos próprios imigrantes.
Internamente, com a mudança nas regiões “mais” ricas, ocorreram, também, fluxos
migratórios que permitiram a fomentação de centros urbanos ou semiurbanos,
possibilitando o desenvolvimento do mercado interno.
No entanto, esse desenvolvimento endógeno teve vários obstáculos impostos
pela Metrópole, sobretudo por causa do acordo de 1703 com a Inglaterra (tratado de
Methuen), responsável por destruir esse começo de desenvolvimento interno, que
foi de consequências profundas tanto para Portugal como para sua colônia. Tal
desenvolvimento, dependia primeiro de uma maior independência em relação à
ligação entre a Metrópole e a Inglaterra, para então atingir a economia interna
brasileira.
O declínio da produção do ouro e a inexistência de uma forma de economia
mais duradoura, com exceção da economia de subsistência que se instaurou nesse
momento, houve uma regressão geral econômica, pois aos poucos o capital
investido no ouro foi se tornando cada vez mais escasso. Dessa maneira, todo o
sistema montado durante o ciclo do ouro, desde o tráfico negreiro, ou seja, a relação
Brasil-África estabelecida pelos traficantes, assim como o pequeno, e ainda não
desenvolvido, mercado interno se desestruturou.
Dessa forma, uma região cujo povoamento se fizera em um sistema de alta
produtividade, e em que a mão-de-obra fora um fator extremamente
escasso, involuiu numa massa de população totalmente desarticulada,
trabalhando com baixíssima produtividade numa agricultura de
subsistência. (Furtado - Formação Econômica do Brasil, p. 89)
Apesar do auge da economia mineira, esta termina em um progresso de
regressão violenta. O não retorno de lucro e a ausência de novas jazidas,
encaminha os mineradores para faiscadores e esses numa economia de
subsistência. A busca por novos veios, trouxe um fluxo migratório enorme para o
Brasil. Tal expansão demográfica gera um atrofiamento da economia.
Referências
Florentino,M. ; Ribeiro, A. V. e Silva, D. D. ASPECTOS COMPARATIVOS DO
TRÁFICO DE AFRICANOS PARA O BRASIL (SÉCULOS XVIII E XIX). Afro-Ásia,
31 (2004), 83-126.
Furtado, C. FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL. Ed. 32, Companhia Editora
Nacional, 2005.
Prado, C. FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO. Ed. 6, 2000.

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