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Luís Fernando Lipka Insfran | Medicina UFMS/CPTL ACIDOSE METABÓLICA INTRODUÇÃO À ACIDOSE METABÓLICA ❖ Definição ➢ pH < 7,35 ➢ Origem Renal ou Metabólica ▪ Cetoacidose diabética (CAD) ▪ Acidose tubular renal (ATR) ▪ Acidose lática ▪ Intoxicação por substâncias ➢ Grupos (3) ▪ 1- Acidoses Metabólicas com Ânion GAP negativo → “detalhe do detalhe” ▪ 2- Acidoses Metabólicas com Ânion GAP normal ▪ 3- Acidoses Metabólicas com Ânion GAP elevado ÂNION GAP ❖ Fisiologicamente, o sangue é uma solução que busca um equilíbrio dinâmico entre as cargas POSITIVAS e NEGATIVAS → a diferença entre essas cargas é chamada de Ânion GAP (AG) ❖ A primeira coisa que devemos fazer diante de uma Gasometria com Acidose Metabólica é calcular o Ânion Gap ➢ Fórmula: AG = Na – (Cl + Bic) ▪ Um AG normal varia de 8 a 12 pois, ou seja, o Na tem que ser de 8-12 maior que Cl + Bic: Positivos: K = 4,5 Ca = 5 11 (mais o Na) Mg = 1,5 Negativos: PO4 = 2 Diferença de 12, com sobreposição das cargas negativas SO4 = 1 Alb = 12 23 (mais o Cl e o HCO3) Proteínas = 3 Ácidos orgânicos = 5 ➢ Principais causas de Acidose Metabólica com AG ELEVADO (mnemônico CLITORIS – veremos logo a frente): ▪ CAD ▪ Acidose Lática ▪ Outras: Uremia, intoxicação por AAS, intoxicação por metanol... ➢ Principais causas de Acidose Metabólica com AG NORMAL → Diferenciação pelo AG Urinário: ▪ ATR ▪ Diarreia Mais comuns ACIDOSES METABÓLICAS COM AG ELEVADO E AG NORMAL ACIDOSE METABÓLICA COM AG ELEVADO ❖ Ao ficarmos diante de uma Gasometria com Acidose Metabólica, devemos sempre calcular o AG. ➢ Em casos de AG ELEVADO, devemos pensar nas suas principais causas. Para isso, existe o mnemônico CLITORIS: ▪ C → Cetoacidose Diabética (CAD) / Cetoacidose alcoólica / Jejum prolongado → AG elevado devido a Cetoácidos ▪ L → Acidose Lática →2 tipos: A e B ➢ Tipo A → Hipóxia, Hipoperfusão (Choque) ➢ Tipo B → Drogas (metformina), Mitocondriopatias, Erro inato do metabolismo ▪ I → Insuficiência Renal Aguda ou Crônica: IRA ou IRC ▪ T → Tóxicos: ➢ Etanol ➢ Etilenoglicol → Produto de bateria de carros de países frios ➢ Metanol → Bebidas alcoólicas contaminadas ou intoxicação por produtos à base de metanol → Cegueira ▪ O → Oxoprolina → É um produto da metabolização do Paracetamol: ➢ Intoxicação por Paracetamol (Tylenol) → ↑ Oxoprolina → ↑ Ácido Piroglutâmico → AG elevado ▪ R → Right → D-Lactato → Isômero do Lactado produzido por Bactérias ➢ Condição: Alça Cega do Intestino ▪ Reconstrução de Trânsito Intestinal (Y de Roux) • É necessário dosar o D-Lactato Intoxicação por D-Lactato → comprometimento Neurológico (Alteração do nível de Consciência) ▪ I → Injúria celular → Rabdomiólise e Hemólise ▪ S → Salicilatos → Intoxicação por AAS – Ácido Acetilsalicílico ACIDOSE METABÓLICA COM AG NORMAL ❖ Ao ficarmos diante de uma Gasometria com Acidose Metabólica, devemos sempre calcular o AG. ➢ Em casos de AG NORMAL, devemos pensar nas suas principais causas. Para isso, existe o mnemônico HARD-UP: ▪ H → Hiperalimentação → na verdade, está relacionada ao Início de NPT (Nutrição Parenteral) ▪ A → Acetozolamida → Diurético que age no TCP (Túbulo Contorcido Proximal) ➢ Pode causar ATR II (Acidose Tubular Renal tipo II / proximal) ▪ R → RTA (Renal Tubular Acidosis) → Acidose Tubular Renal - ATR (Tipos I, II, III e IV) ➢ Por exemplo, diuréticos que atuam no Túbulo Coletor (diuréticos poupadores de K) também podem causar ATR tipo IV ▪ D → Diarreia → Perda de Bic pelas fezes ➢ Para diferencial ATR de Diarreia é pelo exame de Ânion Gap Urinário (discutido mais a frente) ▪ U → Ureterosigmoid fistula → Fistula enterovesical ➢ Consequencia: a urina libera muito Cl- no intestino → o intestino absorve muito Cl- e secreta muito Bic ▪ Leva a uma Acidose Metabólica Hiperclorêmica (AG normal) ▪ P → Pâncreas → Fístulas Pancreáticas → liberação de Bic ➢ Outra causa importante que não entra no mnemônico são as soluções com SF 0,9%, que também podem levar a uma Acidose Metabólica Hiperclorêmica (Acidose metabólica com AG normal) Em geral, as principais causas de Acidose Metabólica com AG Normal são: ATR e Diarreia (diferenciadas pelo AG urinário: Positivo na ATR e Negativo na Diarreia) ACIDOSES TUBULARES RENAIS (ATR) ACIDOSES TUBULARES RENAIS (ATR) ❖ Lembrar que as ATRs são causas de Acidose Metabólica com AG normal ❖ Existem diferentes tipos de ATR: ➢ Tipo I (ou Distal → Túbulo Contorcido Distal) ➢ Tipo II (ou Proximal → Túbulo Contorcido Proximal) ➢ Tipo III → não será abordada ➢ Tipo IV (Ducto/Túbulo Coletor) ❖ ATR tipo I (ou Distal) ➢ Defeito na Bomba de H+ no Túbulo Coletor ➢ É uma ATR distal caracterizada por: ▪ Acidose Metabólica com AG normal ▪ Hipocalemia ▪ Ânion Gap Urinário POSITIVO ▪ pH urinário > 5,5 (por falta de H+ na urina) ➢ Fisiopatologia ▪ Devido a Deficiência na bomba de H+, a Célula do Túbulo Coletor acaba espoliando muito K+ (Hipocalemia) para compensar a falha na liberação de íons H+, levando assim a uma Hipocalemia. Além disso, como não há liberação de H+ (acidose metabólica) na urina, esse fica menos ácida (diferentemente do que ocorre na ATR tipo II) ➢ Principais causas: ▪ Mieloma múltiplo ▪ Amiloidose ▪ Anfotericina B ❖ ATR tipo II (ou Proximal) ➢ Aqui há uma disfunção na Reabsorção do HCO3- nos Túbulo Contorcido Proximal (TCP) ▪ Um dos mecanismos possíveis da ATR tipo II pode ser pela inibição da Anidrase Carbônica (AC), importante para a reabsorção do HCO3- nos TCP (perdendo muita Bic → Acidose Metabólica). Consequentemente a essa falha na reabsorção do Bic, haverá uma dificuldade na reabsorção do Na+ pela troca de H+ → Levando a um acumulo de íons H+ nas células que retornaram à circulação ao invés de serem eliminados na urina (acidose metabólica) ▪ Consequentemente a essa diminuição na reabsorção de Na+ nos TCP, chega muito Na+ nos Túbulos Distais (TD), fazendo com que a ENaC absorva muito Na+. Em troca disso, espolia muito K+ (hipocalemia) e liberar mais H+ (acidificando muito a urina – diferentemente da ATR tipo I) ▪ Além disso, haverá uma maior reabsorção de Cl- nos TD devido à grande concentração de Bic no filtrado (Acidose Metabólica Hiperclorêmica) → ➢ Causas de ATR tipo II: ▪ Acetozololamida – inibe AC ▪ Topiramato – inibe AC ▪ Mieloma múltiplo ▪ Sd. de Fanconi ➢ Características da ATR tipo II ▪ Acidose Metabólica com AG normal → Bic de 16-18 (Acidose leve) ▪ Hipocalemia ▪ Ânion Gap Urinário pode ser NEGATIVO ou POSITIVO ▪ pH urinário < 5,5 (o pH urinário pode ser básico: 1) no início do quadro devido ao excesso de HCO3- na urina [depois normaliza] ou 2) quando submetido a uma infusão de HCO3-) ❖ ATR tipo IV ➢ Causado por disfunção do ENaC → resulta da deficiência de aldosterona ou ausência de resposta do Túbulo Coletor (TC) à aldosterona ▪ Não há reabsorção de Na+ no Túbulo Distal → não há liberação de íons H+ e K+ na urina → Acidose metabólica + Hipercalemia ➢ É uma ATR caracterizada por: ▪ Acidose Metabólica com AG normal ▪ Hipercalemia ▪ Ânion Gap Urinário POSITIVO ➢ Causas de ATR tipo IV ▪ IECA e BRA causam uma ATR tipo IV → Diminuindo a liberação de Aldosterona → Menor função da ENaC → Hipercalemia ▪ Outras drogas capazes de causar Hipercalemia (ATR tipo IV) são: Ciclosporina, Espironolactona (Aldactone), Tacrolimus, Bactrim (Sulfametazol + Trimetoprim → trimetoprim bloqueia ENaC) Por exemplo, no pós-op de transplante renal usa-se: Tacrolimus (imunossupressor), IECA (controle pressórico) e Bactrim (atbprofilaxia) → 3 drogas que causam Hipercalemia ▪ Outra condição de ATR tipo IVé a Insuficiência Adrenal, em que há pouca produção de Aldosterona → não há estímulo na ENaC → não reabsorve Na+ → não libera K+ (hipercalemia) e H+ (acidose) Obs.: No Hiperaldosteronismo Primário ocorre o contrário → A ENaC está superfuncionante pelo excesso de aldosterona, reabsorve muito Na+ (causando Hipertensão) e libera muito H+ (Alcalose) e K+ (Hipocalemia) TIPO II TIPO I TIPO IV ÂNION GAP URINÁRIO ❖ Diferença entre AG sérico e AG urinário ➢ AG sérico → íons importantes: Na+, Cl- e Bic ▪ AGs = Na – (Cl + Bic) ➢ AG urinário → nos indica o equilíbrio iônico na urina ▪ Íons importantes: Na+, K+, NH4+ e Cl- Cátions = Ânions → Na + K + NH4 = Cl → ou seja, NH4+ = Na + K - Cl ➢ O AGU é, basicamente, um indicador da excreção de amônio (NH4+) ▪ NH4+ = Na + K – Cl → de outra forma, temos → AGu = Na + K - Cl O resultado normalmente será negativo, pois estamos “procurando” o valor de NH4+ e há mais Ânions (Cl) do que Cátions (Na e K) na nossa fórmula O valor encontrado nos indica a quantidade de cátion que está “faltando” para o equilíbrio iônico, que no caso é referente ao NH4+ ➢ O valor normalmente encontrado fica entre -8 e -12 → para gravar esse valor: “é o negativo do do AG sérico”, que vai de +8 a +12) Ou seja, o AGu normalmente é NEGATIVO (-8 a -12) e é referente ao NH4+ ❖ Quando pensamos em Acidose Metabólica com AG normal, devemos pensar principalmente em Diarreia ou ATR ➢ Para diferenciá-las, precisamos calcular o AG urinário ▪ Na diarreia → AG Urinário será Negativo (ou seja, normal → sugere acometimento extrarrenal [ou ATR tipo II]) ▪ Na ATR → AG Urinário será Positivo (ou seja, alterado → sugere ATR tipo I ou tipo IV) ❖ Motivo do AGu ser POSITIVO nas ATRs (Classicamente, na ATR I e ATR IV – porém, na ATR II também pode ocorrer) ➢ Normalmente, com o funcionamento normal da ENaC, da ROMK e da Bomba de H+, há uma reabsorção do Na+ pela ENac, e liberação de K+ e H+ na urina. Esse H+ se liga ao NH3 e forma a NH4+. Assim, ao se calcular o AGu em uma situação normal, teremos a presença de certa quantidade de Na+, K+, NH4+ e Cl-. Como não conseguimos medir o NH4+, teremos em nosso cálculo um valor do AGu (Na + K – Cl) negativo próximo de -8 a -12, correspondente ao valor que “falta” de NH4+ ➢ Porém, em uma situação em que há um distúrbio em algum desses canais (ENaC, ROMK ou Bomba de H+), teremos uma alteração em toda essa dinâmica. ▪ Exemplo 1: ATR tipo I → Como não há liberação de H+ devido ao mal funcionamento da Bomba de H+, será secretado muito K+ e não haverá formação de NH4+, sendo assim, além da hipocalemia devido à espoliação de potássio compensatória, o ENaC irá ter um menor funcionamento, pois há muito K+ sendo liberado. Com isso, o AGu (Na + K – Cl) será positivo, pois quase não será produzido NH4+ (que é o “motivo” do AGu ser negativo, por ser o íon que falta na conta) ▪ Exemplo 2: ATR tipo IV → No caso da disfunção da ENaC, essa não reabsorve o Na+, assim nem o K+ nem o H+ serão liberados na urina, com isso não haverá formação de NH4+ e, consequentemente, o cálculo do valor do AGu (Na + K – Cl) também será positivo, pois há muito Na+ que não foi reabsorvido lá na ENaC e quase não haverá formação de NH4+ (que é o “motivo” do AGu ser negativo, por ser o íon que falta na conta) Obs.: A ATR tipo II pode cursar tanto com Ânion Gap Urinário NEGATIVO quanto POSITIVO. Acreditava-se que a excreção de NH4+ seria invariavelmente aumentada em ATR II (para a geração do “novo bicarbonato”, pela metabolização da glutamina nas células do TCP) → Assim, em geral, na ATR tipo II o AGu é NEGATIVO (ou seja, normal). No entanto, estudos recentes encontraram valores reduzidos de excreção de NH4+ em casos de ATR II, devido a dois mecanismos principais: 1) diminuição da síntese proximal de NH4+ ou 2) shunt excessivo para a veia renal. Como o AGU é um indicador da excreção de amônio, nesses pacientes, o valor do mesmo pode se apresentar POSITIVO. Assim sendo, deve-se ter cautela ao excluir o diagnóstico de ATR proximal em um paciente com AGu positivo. Referências e materiais de apoio: GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª ed., 2017 https://www.scielo.br/j/jbn/a/ddgdKLVQRgsYLMGtCsmT6bk/?format=pdf&lang=pt https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/08/jbn_v29n1a9.pdf https://www.sanarmed.com/interpretacao-de-gasometria-arterial-e-identificacao-de-disturbios-acido-base-yellowbook https://www.youtube.com/watch?v=oooV9MKY55Q&ab_channel=AdanRaul https://www.youtube.com/watch?v=EUUtf4K_2Kg&ab_channel=AntonioCastro https://www.scielo.br/j/jbn/a/ddgdKLVQRgsYLMGtCsmT6bk/?format=pdf&lang=pt https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/08/jbn_v29n1a9.pdf https://www.sanarmed.com/interpretacao-de-gasometria-arterial-e-identificacao-de-disturbios-acido-base-yellowbook https://www.youtube.com/watch?v=oooV9MKY55Q&ab_channel=AdanRaul https://www.youtube.com/watch?v=EUUtf4K_2Kg&ab_channel=AntonioCastro
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