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Direito Civil (Sucessões) 6º período - 2021 Vocação hereditária é a convocação de pessoa com direito à herança, para que receba o patrimônio deixado pelo falecido. A vocação hereditária pode ocorrer por sucessão legítima ou por disposição de última vontade do falecido, por meio do testamento. A legitimidade passiva é a regra e a ilegitimidade, a exceção. No direito sucessório vigora o princípio de que todas as pessoas têm legitimação para suceder, exceto aquelas afastadas pela lei. Princípio geral: a disposição genérica vem expressa no art. 1.798 do Código Civil, que se refere tanto à sucessão legítima quanto à testamentária. Art. 1.789 Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. Só não se legitimam, portanto, as pessoas expressamente excluídas. • Animais, coisas inanimadas e entidades místicas: como o dispositivo em apreço refere-se somente a “pessoas”, não podem ser contemplados animais, salvo indiretamente, pela imposição ao herdeiro testamentário do encargo de cuidar de um especificamente. Também estão excluídas as coisas inanimadas e as entidades místicas, como os santos. • Pessoas jurídicas: tanto as pessoas naturais como as jurídicas, de direito público ou privado, podem ser beneficiadas. • Nascituro: a regra geral segundo a qual só têm legitimação para suceder as pessoas nascidas por ocasião da abertura da sucessão encontra exceção no caso do nascituro. De acordo com o sistema adotado pelo Código Civil acerca do começo da personalidade. Respeitam-se, porém, os direitos do nascituro, desde a concepção. Os nascituros podem ser, assim, chamados a suceder tanto na sucessão legítima como na testamentária, ficando a eficácia da vocação dependente do seu nascimento. Podem, com efeito, ser indicados para receber deixa testamentária. Todavia, se porventura nascer morto o feto, não haverá aquisição de direitos, como se nunca tivesse existido. Com isso, não recebe nem transmite direitos. Nesse caso, a herança ou quota hereditária será devolvida aos herdeiros legítimos do de cujus, ou ao substituto testamentário, se tiver sido indicado, retroagindo a devolução à data da abertura da sucessão. Princípio da coexistência: o segundo princípio que se aplica a ambas as espécies de sucessão, legítima e testamentária, é o de que o herdeiro ou legatário tem de sobreviver ao de cujus. A herança não se defere no vazio, não se transmite ao nada. A delação da herança pressupõe que o herdeiro exista e seja conhecido: nascitur ubi sit et na sit. Se naquele instante o herdeiro já é morto, defere-se a herança aos outros de sua classe, ou aos da imediata, se for ele o único. Direito Civil (Sucessões) 6º período - 2021 Desse modo, só as pessoas vivas ou já concebidas ao tempo da abertura da sucessão podem ser herdeiras ou legatárias. Caducam as disposições testamentárias que beneficiarem pessoas já falecidas, pois a nomeação testamentária tem caráter pessoal. Trata-se do denominado princípio da coexistência, ao qual alude Carlos Maximiliano: “Herdar é adquirir a propriedade do espólio, ora o nada não pode adquirir. A sucessão transmite-se no momento da morte; logo nesse momento é preciso haver sucessor, coexistirem hereditando e herdeiro, testador e legatário”. Tal princípio, com a ressalva que admite a vocação do nascituro, aplicam-se também à sucessão testamentária, para a qual, todavia, o Código Civil dedica algumas regras especiais, como a legitimação da prole eventual (concepturo) e da futura fundação. Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; II - as pessoas jurídicas; III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. O dispositivo indica outras pessoas, além das existentes ou já concebidas quando da abertura da sucessão, que também podem ser contempladas. Diferentemente do art. 1.798, que trata dos que podem ser chamados a suceder, de forma genérica e abrangendo herdeiros legítimos, testamentários e legatários, cuida o presente artigo de pessoas que só podem receber a herança ou os legados por disposição de última vontade. Prole eventual (inc. I): o citado inciso abre exeção à regra geral ao permitir que os filhos não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, e vivas ao abrir-se a sucessão, venham a recolher a herança. Refere-se à prole eventual do anterior Código Civil. Não se trata mais do nascituro, mas do nondum conceptus, ou seja, de indivíduo nem ainda concebido. Em tais casos, a transmissão hereditária é condicional, subordinando-se a aquisição da herança a evento futuro e incerto. Legitimidade sucessória das pessoas jurídicas: o inciso II permite que a deixa testamentária beneficie “as pessoas jurídicas”. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro. Qualquer pessoa jurídica pode ser contemplada, seja simples, seja empresária, de direito público ou de direito privado. Tratando-se, porém, de pessoas jurídicas de direito público externo, pesam restrições legais: estão impedidas de adquirir no Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação, excetuando-se os imóveis necessários para seu estabeleciemento no país. Pessoas jurídicas cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação: o inciso III abre, com efeito, outra exceção em favor das pessoas jurídicas cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. Esta pode ser criada por escritura pública ou por testamento. No último caso, por ain da não existir a pessoa jurídica idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a guarda provisória da pessoa Direito Civil (Sucessões) 6º período - 2021 encarregada de instituí-la, até o registro de seus estatutos, quando passará a ter existência legal. LEGITIMAÇÃO PASSIVA PARA SUCEDER A legitimidade passiva é a regra e a ilegitimidade, a exceção. “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”. Só não se legitimam, portanto, as expressamente excluídas. Ressalvou-se o direito do nascituro, por já concebido. • O citado art. 1.798 refere-se tanto à sucessão legítima quanto à testamentária. • Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: a. os filhos, ainda não concebidos (prole eventual), de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; b. as pessoas jurídicas; c. as pessoas jurídicas cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. O art. 1.801 do Código Civil menciona outras pessoas que não podem ser nomeadas herdeiras nem legatárias. Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. O dispositivo reporta-se à incapacidade testamentária passiva de pessoas que não podem adquirir por testamento, por serem consideradas suspeitas. Cuida da falta de legitimação, pois as pessoas mencionadas não podem ser beneficiadas em determinado testamento, conquanto possam sê-lo em qualquer outro em que não existam os apontados impedimentos. Pessoa que escreveu o testamento a rogo do testador (inc. I): figura-se em primeiro lugar entre os incapazes de receber por testamento, a pessoa que o escreveu a rogo do testador. Excluiu-a a lei por motivo de suspeição poispoderia tal pessoa, com efeito, ser tentada a abusar da confiança nela depositada pelo testador e modificar deliberadamente o teor de sua última vontade. Além de quem escreveu a rogo o testamento, igualmente não pode ser nomeado herdeiro ou legatário seu “cônjuge, ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos”. Testemunhas do testamento (inc. II): em segundo lugar, ainda para evitar a influência, por interesse, na vontade do testador, o legislador entende a restrição às testemunhas do testamento. A proibição alcança as testemunhas de auto aprovação, no testamento cerado, malgrado não tenham conhecimento do teor da cédula testamentária. Direito Civil (Sucessões) 6º período - 2021 Concubino do testador casado (inc. III): constituem concubinato, segundo estatui o art. 1.727 do Código Civil, “as relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar”. A restrição atinge tanto o homem quanto a mulher, mas limita-se ao caso de concubinato denominado adulterino, em que o testador vive com o cônjuge e mantém relação extraconjugal, não se aplicando às hipóteses em que a sociedade conjugal já se encontra dissolvida, de direito ou apenas de fato, há mais de 05 anos sem culpa sua. A proibição que incide sobre pessoas separadas de fato há menos de cinco anos não incide, todavia, sobre pessoas que estejam separadas judicialmente. Tabelião, civil ou militar: não pode ser nomeado herdeiro, nem legatário, o tabelião, civil ou militar, nem o comandante ou escrivão, perante quem se fez, assim como o que fez, ou aprovou o testamento. FALTA DE LEGITIMAÇÃO PARA SER NOMEADO HERDEIRO OU LEGATÁRIO a. da pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, vem como de seu cônjuge ou companheiro, e de seus ascendentes e irmãos; b. das testemunhas do testamento; c. do concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de 05 anos; d. do tabelião, civil ou militar, ou do comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder. Se, apesar das proibições previstas nos arts. 1.801, 1.798 e 1.799, I, do Código Civil, forem contempladas, de modo direto ou mediante simulação, pessoas neles mencionadas, nulas se tornarão as disposições testamentárias. A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: 1. O testador dissimula a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso: como exemplifica Washigton de Barros Monteiro, confessa o testador “ser devedor de obrigação inexistente ou alega haver prometido a venda de certo bem, tendo recebido do não legitimado o preço respectivo”. 2. O testador recorre a interposta pessoa para beneficiar o proibido de suceder: aduz o referido autor “ele se vale de testa de ferro, realizando assim obliquamente a operação que tinha em mente”. Simulação é uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visado aparentar negócio diverso do efetivamente desejado. Proclama o art. 167 que “é nulo o negócio jurídico simulado”, conquanto possam permanecer os efeitos do ato dissimulado, se válido for na substância e na forma.
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