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1 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Problema 02 – Falta de ar. Objetivos: 1. Definir as síndromes coronarianas, suas principais etiologias, quadro clínico e caracterização diagnóstica; 2. Compreender o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) com supra de ST : Conceito; Epidemiologia; Fatores de risco; Fisiopatologia; Manifestações Clínicas; Diagnóstico; Diagnóstico diferencial; Tratamento. Definição O termo SÍNDROME CORONARIANA AGUDA (SCA) é usado para descrever o conjunto de isquemia miocárdica que engloba angina instável ou infarto (com ou sem elevação concomitante do segmento ST). O paciente com angina instável apresenta dor torácica de origem cardíaca que é nova, com padrão de piora (i. e., mais grave, mais prolongada ou mais frequente do que episódios anteriores da angina), ou ocorre em repouso, sem evidência bioquímica da necrose de miócitos (i. e., sem elevação sérica de troponina ou da isoenzima MB da creatina-quinase [CK-MB]). O paciente que apresenta dor torácica cardíaca com evidência bioquímica de necrose miocárdica e sem elevação do segmento ST tem um infarto agudo do miocárdio sem elevação do segmento ST (IAMSEST). Como a angina instável e o IAM sem elevação do segmento ST são caracterizados pela ausência de elevação do segmento ST , eles são denominados coletivamente SCA sem elevação do segmento ST ou SCA-SSST. O paciente que apresenta dor torácica cardíaca, de início agudo, com evidências bioquímicas de necrose miocárdica e elevação do segmento ST persistente (> 20 minutos) tem um IAM com elevação do segmento ST . Síndrome coronariana aguda (SCA) sem supradesnivelamento do segmento ST 2 Mírian Santos 7° semestre @medbymins inclui angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supra. O diagnóstico precoce e a instituição correta do tratamento estão associados à redução da letalidade tanto na fase intra- hospitalar quanto em médio e longo prazos. Epidemiologia Atualmente responsável por mais de 300 mil mortes por ano no Brasil, sendo a principal causa de morbidade e mortalidade nesse país e no mundo, a doença coronariana aguda compreende um espectro de doenças, com fisiopatologia comum. Mais de 1,4 milhão de pessoas nos Estados Unidos são hospitalizadas anualmente com SCA, das quais aproximadamente dois terços têm SCA-SSST. Mais da metade dos pacientes com SCA-SSST tem mais de 65 anos de idade e quase metade são mulheres. A SCA-SSST é mais comum em indivíduos com um ou mais fatores de risco para aterosclerose, doença vascular periférica ou um distúrbio inflamatório crônico, tais como artrite reumatoide, psoríase ou infecção. Fatores de risco Os fatores de risco cardiovasculares incluem hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito, dislipidemia, história familiar e tabagismo, mas não há uma correlação bem definida de sua importância na evolução clínica de pacientes admitidos com SCA. Idade (homens > 55 e mulheres > 65 anos) Tabagismo Dislipidemias: triglicérides ≥ 150 mg/dL LDL colesterol > 100 mg/dL; HDL 40 mg/dL Diabetes melito História familiar prematura de doença cardiovascular: homens < 55 anos e mulheres < 65 anos Hipertensão arterial sistêmica Classificação A SCA deve ser classificada em dois tipos, de acordo com os achados do ECG em: 1. IAMCST. 2. SCA SST , que deve ser reclassificada de acordo com os MNM em: A. Angina instável (MNM negativo). B. IAM SST (MNM positivo). 3 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Fisiopatologia Existem 3 mecanismos de instabilização de placa levando à síndrome coronariana aguda: ruptura de placa, erosão de placa e exposição de nódulo calcificado, sendo que estes levam a oclusão parcial da artéria comprometida. Ruptura de placa: É o evento inicial dos pacientes com SCA; Existem vários fatores que vão influenciar na deterioração da capa fibrosa de proteção que separa o ateroma na parede dos vasos do lúmen da artéria coronária. Inflamação local e sistêmica, características mecânicas e alterações anatômicas contribuem para a transformação de uma placa aterosclerótica estável para a chamada placa “vulnerável”, cuja ruptura desencadeia a aderência, ativação e agregação plaquetárias, com formação de trombo. A deposição de lipoproteína de baixa densidade (LDL) oxidada na parede arterial estimula uma resposta inflamatória, que causa acúmulo de macrófagos e linfócitos T na borda da placa. Essas células inflamatórias secretam citosinas (p. ex., interferon- γ), que inibem a síntese e a deposição de colágeno, bem como enzimas (p. ex., metaloproteinases da matriz e catepsinas), que promovem a degradação de colágeno e elastina, tornando, desse modo, a capa fibrosa sobrejacente vulnerável à ruptura. A inflamação sistêmica também pode influenciar na ruptura de placa. Além disso, as características mecânicas e a localização das placas parecem influenciar na estabilidade. Como por exemplo, capas fibrosas finas são mais propensas à erosão ou ruptura do que as espessas. Os locais de baixa tensão de cisalhamento, tais como bifurcações de vasos, têm produção reduzida de substâncias vasodilatadoras endoteliais (i. e., óxido nítrico e prostaciclina), o acúmulo acelerado de lipídios e células inflamatórias, aumento da degradação da matriz extracelular e adelgaçamento da capa fibrosa, todos estes fatores contribuem para a instabilidade da placa. Histologicamente falando, as placas ateroscleróticas tem uma rica neovascularização devido fatores de crescimento vascular endotelial, fator de crescimento de fibroblasto, 4 Mírian Santos 7° semestre @medbymins fator indutor de hipoxia que são secretados pelas células musculares lisas, células inflamatórias e plaquetas. Essa neovascularização contribui para o crescimento do ateroma e para o trafego de leucócitos, hemorragia de placa e desestabilização. Formação de trombo: As plaquetas desempenham um papel central na fisiopatologia da SCA. Após a erosão ou ruptura de uma placa “vulnerável”, as plaquetas circulantes aderem às proteínas subendoteliais expostas e, após isso, elas são ativadas. Com a ativação, as plaquetas mudam de forma discoide para estrelada, aumentando, assim, a área de superfície em que a formação de trombina pode ocorrer. As plaquetas, então, liberam os conteúdos de seus grânulos intracelulares (i. e., tromboxano, serotonina, adenosina difosfato, fator de von Willebrand, fibrinogênio) dentro do ambiente imediato e promovem vasoconstrição focal do segmento arterial adjacente e ativação das plaquetas adjacentes. As plaquetas também aumentam o número de receptores da glicoproteína IIb/IIIa da superfície e a afinidade desses receptores para se ligarem ao fibrinogênio circulante. O resultado é a agregação plaquetária, que ocorre conforme o fibrinogênio se liga aos receptores de glicoproteína IIb/IIIa das plaquetas adjacentes, criando, assim, um “ tampão plaquetário”. Simultaneamente à formação do tampão plaquetário, a ativação do sistema de coagulação com a geração de trombina é um potente estimulador da ativação e agregação plaquetárias. Além disso, a trombina converte o fibrinogênio em fibrina, que é incorporada ao trombo. A suboclusão arterial coronariana por esse trombo rico em plaquetas compromete o fluxo sanguíneona artéria envolvida, o que resulta em um desequilíbrio na oferta e na demanda de oxigênio dos miócitos perfundidos pela artéria. A embolização distal dos trombos ricos em plaquetas do local de uma placa rota contribui para o comprometimento no fluxo sanguíneo. Se o desbalanço na oferta-demanda for transitório, os miócitos envolvidos tornam-se isquêmicos, mas não morrem pelo fato de a isquemia não ter duração suficiente para causar necrose. 5 Mírian Santos 7° semestre @medbymins O paciente normalmente se queixa de dor torácica cardíaca em repouso, porém, sem evidências bioquímicas de necrose miocárdica, caracterizada por ausência de elevação sérica de troponina ou CK-MB, neste caso, é feito o diagnóstico de angina instável. Em contrapartida, se o desbalanço entre oferta-demanda for sustentado, os miócitos isquêmicos começam a morrer e o infarto ocorre. O paciente normalmente se queixa de dor torácica cardíaca em repouso e apresenta elevação bioquímica de marcadores de necrose miocárdica confirmando o diagnóstico de IM sem elevação do segmento ST . A maioria dos pacientes com SCA tem a chamada SCA primária, que é precipitada pela ruptura de uma placa coronariana aterosclerótica, com subsequente agregação plaquetária e formação de trombos, levando, por sua vez, ao comprometimento do fluxo sanguíneo na artéria comprometida. Ocasionalmente, um indivíduo pode ter a chamada SCA secundária, que é causada por um desequilíbrio transitório ou persistente entre a oferta e a demanda de oxigênio no miocárdico. Reduções substanciais na oferta de oxigênio, por exemplo, podem ser causadas por hipotensão arterial sistêmica grave, anemia ou hipoxemia; aumentos dramáticos na demanda de oxigênio podem ser causados por febre, taquicardia, hipertensão arterial sistêmica grave ou tireotoxicose. No indivíduo com diagnóstico de SCA secundária, a terapia deve ser dirigida para a correção da etiologia de base. Etiologia 6 Mírian Santos 7° semestre @medbymins As síndromes coronárias agudas são desencadeadas a partir da instabilização de uma placa aterosclerótica com trombose oclusiva em cerca de 90% dos casos. Outras vezes, elas podem resultar de processos patológicos de natureza diferente que também promovem um desequilíbrio entre a oferta de O2 ao miocárdio e o seu consumo. Entre as causas mais comuns de insuficiência coronária aguda não-aterosclerótica está o espasmo coronário. Normalmente produzido em áreas de aterosclerose incipiente, o vasoespasmo primário resulta de uma alteração da função vasodilatadora do endotélio (disfunção endotelial) com aumento do tônus vascular. Ele costuma acometer pacientes jovens do sexo feminino, provocando quadros de angina instável. O espasmo coronário também pode ser secundário ao uso de agentes simpatomiméticos, como a cocaína. Nesse caso, o caráter mais prolongado do espasmo com aumento do consumo de O2 pelo miocárdio pode causar quadros mais graves, como IM ou morte súbita. A embolização coronária a partir de trombos valvares também é uma etiologia a ser considerada em portadores de próteses mecânicas ou endocardite bacteriana. Quadro clínico A manifestação clínica varia desde quadros oligossintomáticos até a parada cardiorrespiratória, porém mais frequentemente a queixa inicial é a dor torácica. Ela deve ser caracterizada de acordo com: localização, irradiação, duração e sinais e sintomas associados. Essas características permitem diferenciar a dor em quatro tipos: 1. Dor definitivamente anginosa: dor ou desconforto em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face medial dos membros superiores. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. 2. Dor possivelmente anginosa: tem algumas características da dor típica, mas outras não. A SCA é o diagnóstico mais provável, porém necessitando de outros exames para confirmar. 3. Dor provavelmente não anginosa: sem as características de uma dor típica, tornando o diagnóstico de SCA menos provável, porém necessitando de outros exames para afastar. 4. Dor definitivamente não anginosa: não apresenta nenhuma característica de dor típica e tem diagnóstico diferencial provável ou definitivo, não necessitando de outros exames para descartar SCA. 7 Mírian Santos 7° semestre @medbymins O paciente com SCA – SSST geralmente se queixa de pressão retroesternal, aperto ou peso que pode ser intermitente e recorrente ou persistente. Se os episódios forem intermitentes e recorrentes, a duração de cada episódio pode variar de apenas alguns minutos a várias horas. A dor torácica pode irradiar para o braço esquerdo, pescoço ou mandíbula e pode ser acompanhada por diaforese, náuseas, dor abdominal, dispneia ou síncope. Apresentações atípicas de SCA-SSST não são incomuns e podem incluir dor contínua ou um desconforto torácico vago, dor epigástrica, indigestão de início agudo, fadiga inexplicada ou dispneia. Tais queixas atípicas são frequentemente observadas em pacientes mais jovens (de 25 a 40 anos de idade) e mais velhos (>75 anos de idade), mulheres e pacientes com diabetes melito, insuficiência renal crônica ou demência. Alguns pacientes com suspeita de SCA podem chegar com sintomas prolongados em repouso associados à instabilidade elétrica e hemodinâmica, enquanto outros podem chegar com sintomas equivalentes como dispneia e palpitações. Essas manifestações atípicas devem ser valorizadas, especialmente, em pacientes com múltiplos fatores de risco para doença arterial coronariana e em alguns subgrupos como mulheres e idosos. Angina instável (AI) O diagnóstico de AI é especialmente importante no contexto da doença arterial coronária. Apesar de ser a forma mais benigna dentre as SCA a AI é potencialmente grave, podendo progredir para IM e morte. Seu diagnóstico e tratamento precoce ajudam a prevenir síndromes clínicas de pior prognóstico. Além de sua importância clínica, a AI também se destaca do ponto de vista epidemiológico. Avaliação dos sintomas é fundamental para o diagnóstico de AI. Freqüentemente, os exames subsidiários encontram-se inalterados nessa condição, e o único instrumento diagnóstico disponível é a queixa dos pacientes. Seu reconhecimento, no entanto, pode não ser simples. Como o grau de isquemia miocárdica na AI tende a ser mais leve, os sintomas são, muitas vezes, atípicos e fugazes. As manifestações clínicas dessa condição intermediária entre a forma estável da doença coronária e o IM traduzem um fenômeno de instabilização incipiente da placa aterosclerótica com trombose limitada e oclusão vascular incompleta. A instabilização aguda da placa na AI pode se manifestar de três formas principais: angina de início recente, caracterizada pelo aparecimento de sintomas anginosos em pacientes 8 Mírian Santos 7° semestre @medbymins previamente assintomáticos. Normalmente, a angina é considerada instável dentro do 1° mês de aparecimento até que a placa volte a se estabilizar; angina progressiva ou em crescendo, que se manifesta pela exacerbação de sintomas anginosos prévios, como aumento da intensidade e duração da dor ou surgimento a esforços menores; angina em repouso ou a mínimos esforços, forma mais grave da doença. Nessecaso, a dor intensa é entremeada por períodos assintomáticos. Na AI, diferente da coronariopatia crônica, a dor torácica não tem evento desencadeante evidente como esforço físico ou estresse emocional e pode surgir ao repouso. Em relação ao IM, a AI costuma provocar dor menos intensa, com duração de até 20 minutos e sem manifestações simpáticas exuberantes, como palidez, sudorese ou náuseas. Angina de Prinzmetal A angina variante ou de Prinzmetal caracteriza-se por dor precordial isquêmica desencadeada por espasmo coronário associada a supradesnível temporário do segmento ST . Na angina variante não há um fator precipitante evidente que leve a um aumento do consumo de O2 como na angina estável. Ao revés, os episódios ocorrem normalmente ao repouso durante o período noturno ou manhã. Portadores dessa condição mantêm-se assintomáticos no restante do dia, mesmo a grandes esforços, a não ser que haja coronariopatia obstrutiva associada. Habitualmente, os portadores de angina vasoespástica são mais jovens, principalmente mulheres, e sem fatores de risco para coronariopatia, a não ser o tabagismo que pode precipitar as crises. Apesar de esses doentes poderem cursar com arritmias malignas e IM, levando à morte súbita, o prognóstico costuma ser bastante favorável com índices de sobrevida bastante elevados. O tratamento baseia-se na utilização de nitratos e bloqueadores de canal de cálcio tanto na fase aguda quanto crônica. Infarto do miocárdio (IM) O IM corresponde à forma mais grave de SCA. Nessa condição, a oclusão coronária é completa, ainda que de forma temporária no IMSST . O acúmulo de vultosas quantidades de produtos de decomposição do metabolismo energético, como a adenosina e o lactato, se traduz por profundo desconforto torácico com ampla irradição e resposta simpática exacerbada. Assim, além da forte dor que tende a se estender por mais de 30 minutos, costumam aparecer sudorese, náuseas e extremidades frias e úmidas. 9 Mírian Santos 7° semestre @medbymins A manifestação é máxima no IMST e classicamente acompanhada por uma sensação de morte iminente. Repouso e uso de nitrato costumam aliviar o quadro clínico no IMSST, mas pouco afetam os sintomas no IMST. Diagnóstico Apesar de o exame físico desses pacientes com SCA ser frequentemente inalterado, o achado de sinais de insuficiência cardíaca aguda (frequência cardíaca elevada, presença de B3, sopro sistólico e ausculta pulmonar com sinais de congestão) podem significar complicações potencialmente graves e definem o paciente como de muito alto risco, necessitando de diagnóstico e tratamento imediatos. O exame físico pode também ser útil para o diagnóstico diferencial da causa de dor torácica como o achado de assimetria de pressão arterial (PA) e pulsos ou sopro diastólico em foco aórtico (síndrome aórtica aguda), atrito pericárdico (pericardite aguda), sopro sistólico em foco aórtico (estenose aórtica grave), presença de alterações cutâneas (herpes-zóster), ausência de murmúrio vesicular (pneumotórax ou derrame pleural), entre outros. O paciente com suspeita de SCA deve ser avaliado prontamente, pois um diagnóstico apropriado e preciso permite o início da terapia apropriada no tempo certo, o que pode reduzir a taxa de complicações. A avaliação inicial deve ser direcionada para determinar se os sintomas do indivíduo são provavelmente causados por isquemia miocárdica, IAM ou algum outro diagnóstico diferencial. A probabilidade de SCA pode ser estimada com base em dados da história, exame físico e eletrocardiograma (ECG). Em casos agudos, a presença ou ausência de fatores de risco tradicionais para a aterosclerose é bem menos importante para determinar a presença ou ausência de SCA do que os sintomas do paciente, achados do ECG e evidência bioquímica de necrose miocárdica. Condições que aumentam a probabilidade de que o paciente sintomático esteja tendo isquemia miocárdica ou IAM incluem a idade mais avançada, sexo masculino, diabetes melito, doença vascular extracardíaca e dor torácica irradiando para o braço esquerdo, pescoço, ou mandíbula como o sintoma de apresentação. Isquemia miocárdica é altamente provável se sintomas anginosos estiverem acompanhados por anormalidades do ECG (i. e., depressão ou elevação do segmento ST ≥ 1 mm em magnitude ou inversão de onda T em múltiplas derivações precordiais), concentração sérica elevada de troponina ou CK-MB, ou evidência de disfunção ventricular esquerda. 10 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Em um paciente com doença arterial coronária conhecida, os sintomas típicos têm probabilidade de serem causados pela isquemia miocárdica ou IAM do que por outra etiologia, particularmente se o paciente afirmar que seus sintomas são semelhantes aos episódios anginosos anteriores. É importante perguntar sobre o uso de cocaína e metanfetaminas para o paciente com suspeita de SCA, especialmente em pacientes com menos de 40 anos de idade ou com poucos fatores de risco tradicionais para a aterosclerose. Estas drogas podem aumentar a demanda de oxigênio miocárdica e diminuir a oferta de oxigênio por causar vasospasmo e trombose. Uma análise toxicológica da urina deve ser considerada quando há suspeita de abuso de drogas como causa de ou contribuinte para a SCA. Exames complementares: Eletrocardiograma O eletrocardiograma de repouso (ECG) de 12 derivações deve ser realizado em todo paciente admitido no serviço de emergência hospitalar ou pré-hospitalar com suspeita de SCA. Recomenda-se que o ECG seja feito e interpretado em até 10 minutos do primeiro contato médico com o paciente. Anormalidades transitórias do segmento ST que se desenvolvem durante um episódio de isquemia em repouso e que se revertam quando o paciente está assintomático sugerem fortemente o diagnóstico de SCA-SSST. Depressão do segmento ST (ou elevação transitória do segmento ST) e anormalidades da onda T ocorrem em até 50% dos pacientes com SCA-SSST. Um ECG completamente normal não exclui a possibilidade de SCA-SSST; de fato, cerca de 5% dos pacientes que recebem alta do pronto socorro e são, por fim, diagnosticados com SCA têm um ECG normal. A isquemia ou infarto no território da artéria coronária circunflexa frequentemente escapa à detecção com um padrão de ECG de 12 derivações, mas pode ser detectado com derivações direitas (V4R e V3R) ou posteriores (V7 a V9). No paciente cujo ECG inicial é normal, os ECGs subsequentes devem ser obtidos nas primeiras 24 horas e durante episódios de dor ou na presença de sintomas e devem ser comparados a traçados prévios a fim de identificar novas anormalidades no segmento ST ou na onda T. A presença de inversão de onda T simétrica e profunda (> 2 mm) nas derivações anteriores é frequentemente associada a uma estenose hemodinamicamente significativa da artéria coronária descendente anterior. 11 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Mais da metade de todos os episódios de isquemia miocárdica ocorre de forma assintomática. Biomarcadores Séricos (VER TIPOS) A troponina é detectável no sangue com os ensaios convencionais dentro de três a quatro horas a partir do início da necrose miocárdica, mas, em alguns indivíduos, sua detecção pode ser retardada por até oito horas. Desta forma, uma única avaliação negativa de troponina sérica é insuficiente para excluir o diagnóstico de IAM em um paciente com sintomas recentes.Para confirmar ou excluir a necrose miocárdica, coletas seriadas de sangue e dosagens de troponina devem ser realizadas de seis a 12 horas após a avaliação inicial do paciente e após quaisquer outros episódios de dor torácica. Ensaios de troponina de alta sensibilidade podem detectar quantidades extremamente pequenas de troponina no sangue, auxiliando, assim, no diagnóstico precoce (i. e., dentro de 2 horas a partir do início do sintoma) de IAM. Os níveis de troponina podem ser medidos no laboratório central do hospital ou com instrumentos de dosagem rápida (point of care) à beira do leito do paciente com o uso de dispositivos de mesa ou ensaios qualitativos rápidos e portáteis. A principal vantagem dos sistemas de dosagem rápida está na rapidez da sua realização, e o seu uso deve ser ponderado em relação a seus custos mais elevados e à necessidade de um controle de qualidade rigoroso. Além disso, ensaios de dosagem rápida são qualitativos ou semiquantitativos e dependentes do observador. Até um terço dos pacientes com SCA cujas dosagens séricas de CK-MB são normais, têm concentrações séricas detectáveis de troponina T e I, indicando que ocorreu necrose miocárdica estabelecendo o diagnóstico de IAM-SEST. As recomendações atuais destacam o uso da concentração sérica de troponina para estratificação de risco no momento da chegada do paciente ao hospital. Testes não invasivos O paciente considerado como de baixa probabilidade de SCA (com base no histórico, exame físico, ECG e biomarcadores séricos) deve ser submetido ao teste de estresse em momento oportuno. Alternativamente, a angiotomografia coronariana com múltiplos detectores tem um alto valor preditivo negativo (>98%) para excluir a doença arterial coronariana quando realizada e analisada em centros com experiência em seu uso. Por outro lado, o paciente que é considerado como risco intermediário ou alto de SCA e que continua a ter dor torácica isquêmica típica com anormalidades do ECG ou biomarcadores cardíacos elevados não deve ser submetido ao teste de estresse 12 Mírian Santos 7° semestre @medbymins diagnóstico ou angiotomografia coronariana. Quando esses pacientes estiverem livres de sintomas com o tratamento clínico instituído e, se não tiverem indicações para a angiografia coronariana, o teste de estresse, muitas vezes com mapeamento de perfusão miocárdica, deve ser realizado antes da alta hospitalar. Um ecocardiograma pode ser útil em pacientes com dor torácica se o ECG não for diagnóstico (i. e., anormalidades discretas do segmento ST e onda T). Se hipocinesia ou acinesia ventricular esquerda for observada durante um episódio de dor torácica e apresentar melhora após o desaparecimento dos sintomas, então o diagnóstico de isquemia miocárdica é provável. No paciente com inversão de onda T nas derivações anteriores de etiologia incerta, a hipocinesia da parede ventricular anterior esquerda sugere que a anormalidade de onda T observada é devida a uma estenose grave da artéria coronária descendente anterior. Pelo fato de a ecocardiografia poder ajudar a avaliar e identificar os diagnósticos diferenciais para os pacientes com dor torácica, tais como miocardite, dissecção da aorta, ou embolia pulmonar, ela é recomendada em pacientes cujo diagnóstico seja incerto. Angiografia coronariana: A angiografia coronariana deve ser realizada em pacientes considerados como de alto risco de um evento isquêmico cardíaco (morte, IAM ou isquemia recorrente) nos próximos dias, semanas e meses (ver adiante); com isquemia miocárdica induzível apesar da terapia clínica apropriada; ou com uma apresentação clínica confusa ou difícil e avaliação não invasiva subsequente inconclusiva. Em pacientes com SCA-SSST, a angiografia coronariana encontra estreitamento de mais de 50% do diâmetro luminal no tronco da artéria coronária esquerda em cerca de 15% dos pacientes, das três principais artérias coronárias epicárdicas em cerca de 30% a 35% dos pacientes, de duas das três artérias epicárdicas em cerca de 20% a 30% dos pacientes e de uma artéria epicárdica importante em 20% a 30% dos pacientes. Aproximadamente 15% dos pacientes não têm nenhum estreitamento da artéria coronária de importância hemodinâmica. Mulheres com SCA-SSST são propensas a terem doença de artéria coronária menos difusa do que os homens, e os pacientes com IAM sem elevação do segmento ST , em geral, têm uma doença mais extensa do que aqueles com angina instável. A lesão arterial coronariana responsável pela SCA-SSST (a chamada lesão culpada) tipicamente é assimétrica ou excêntrica, com bordas sobreponentes ou irregulares e um colo ou base estreita. 13 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Estas características angiográficas refletem a ruptura da placa subjacente e formação do trombo. Embora o trombo óbvio seja visível angiograficamente em apenas um terço dos pacientes com SCA-SSST, a angiografia coronariana mostra uma ruptura de placa com trombo sobrejacente na maioria dos casos. Avaliação do Risco e Triagem A avaliação inicial do paciente com possível ou suspeita de SCA deve se concentrar em uma classificação de risco de o paciente vir a apresentar um evento isquêmico cardíaco agudo (morte, IAM ou isquemia recorrente). Os pacientes devem ser internados imediatamente em uma unidade de terapia intensiva coronariana ou em uma unidade de cuidados intermediários monitorados cuidadosamente em uma unidade de avaliação de dor torácica, ou liberados para casa conforme a classificação de seu risco de IAM. Os pacientes considerados de baixo risco para um evento isquêmico cardíaco devem receber alta, com uma avaliação mais aprofundada realizada ambulatorialmente . Por outro lado, os pacientes que não são de baixo risco devem ser hospitalizados para avaliação e tratamento. IMAGEM Após a classificação de risco inicial, as intervenções terapêuticas urgentes são indicadas com base no risco de eventos adversos nas horas, dias, semanas e meses seguintes – estimado por meio de escores de risco como TIMI (Thrombolysis in Myocardial Infarction) ou GRACE (Global Registry of Acute Coronary Events) – ponderando-se o risco de uma complicação hemorrágica pelo tratamento clínico agressivo ou um evento adverso decorrente de um procedimento cardíaco invasivo. Algoritmo para SCA - IMAGEM Existem vários algoritmos sendo utilizados para o diagnóstico de SCA no serviço de emergência, variando de acordo com os recursos diagnósticos disponíveis. No algoritmo aqui proposto: 14 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 1. Avaliação imediata do quadro clínico (queixa, história prévia e exame físico), com caracterização da tipicidade da apresentação. 2. Realização e interpretação do ECG em até 10 minutos, diferenciando-os em IAMCST e suspeita de SCASST. Os pacientes com IAMCST devem seguir seu algoritmo específico. Se recorrência de dor, o ECG deve ser repetido. 3. Nos pacientes com suspeita de SCASST, se quadro instável, classificar como muito alto risco e realizar estratificação invasiva de urgência em < 2 horas. 4. Nos demais pacientes com suspeita de SCASST, realizar dosagem de MNM. 5. Para pacientes elegíveis e em centros com disponibilidade, dosagem de TAS com 0 hora e repetir 1 hora ou 2 horas após. Para pacientes não elegíveis, ou em serviços sem disponibilidade, seguir com dosagem de MNM (com pelo menos 6 horas do início do quadro clínico),observação e estratificação. 6. Aplicação do escore HEART. A. Se início do quadro clínico > 3 horas e TAS 0 hora muito baixo ou TAS 0 hora baixo e variação baixa 0-2 ou 0-3 horas → baixo risco. Nesses pacientes, recomenda-se a utilização do escore HEART. Se escore ≤ 3, afastar diagnóstico diferencial e considerar estratificação de risco não invasiva ou manejo ambulatorial. B. Em pacientes com escore HEART > 3, seguir com observação e estratificação de risco. Em pacientes com TAS 0 hora alta ou variação significativa 0-2 ou 0-3 horas → alto risco: internação, preferencialmente em leito de unidade coronariana e realizar estratificação de risco, invasiva < 24 horas. Conceito; O infarto do miocárdio (IM) é uma necrose miocárdica causada por isquemia. Antes denominado Infarto Subepicárdio ou Infarto com onda Q ou Infarto Transmural, constitui hoje cerca de 48 a 60% dos casos de Infarto Agudo do Miocárdio, no geral. É causado pela obstrução completa da coronária, por ruptura de placa, hemorragia e coágulo, razão pela qual urge a abertura imediata do respectivo vaso. Aqui “tempo é vida”: cada 10 minutos de retardo, representam 120 dias de vida perdidos. O atendimento tem que obedecer a 15 Mírian Santos 7° semestre @medbymins uma “fast track”, sem atrasos de qualquer natureza. O termo IM agora deve ser qualificado no que concerne a tamanho, circunstância desencadeadora e cronologia. O IAM com supra de ST é caracterizado por isquemia miocárdica aguda profunda (“ transmural”), afetando áreas relativamente grandes de miocárdio. A causa subjacente quase sempre é a interrupção completa do fluxo sanguíneo miocárdico regional (resultante de oclusão coronariana, em geral, aterotrombótica). Esta síndrome clínica deve ser distinguida do IAM sem elevação do segmento ST , no qual a obstrução do fluxo coronariano é incompleta e para a qual são indicadas diferentes tipos de tratamento. Epidemiologia; A doença cardiovascular é responsável por quase a metade de todas as mortes nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos, e por um quarto das mortes nos países em desenvolvimento. Por volta de 2020, a doença cardiovascular causará uma de cada três mortes em todo o mundo. A doença cardiovascular ocasiona quase 1 milhão de mortes nos Estados Unidos por ano; ela é responsável por 37% de todas as mortes e contribui para 58% das mortes. Anualmente, estima-se que 1,2 milhão de moradores dos EUA sofram um IAM fatal ou não fatal. A doença arterial coronariana, principal causa de morte cardiovascular, é substrato ou é causa associada de 650.000 mortes, ao ano. Metade das mortes por doença arterial coronariana (250.000/ano) é diretamente relacionada com IAM, e, pelo menos, metade destas mortes relacionadas com IAM ocorre dentro da primeira hora do início dos sintomas e antes que os pacientes cheguem à emergência de um hospital. Por ano, mais de 5 milhões de pessoas procuram serviços de emergências nos Estados Unidos para avaliação de dor torácica e sintomas correlatos, e quase 1,5 milhão são hospitalizadas em virtude de uma síndrome coronariana aguda. A presença de elevação do segmento ST ou um bloqueio de ramo esquerdo (BRE) novo no ECG distinguem os pacientes com diagnóstico de IAM que necessitam de terapia de recanalização imediata daqueles com síndrome coronariana aguda (IAM sem elevação do segmento ST/angina instável); As alterações demográficas, os estilos de vida e os tratamentos clínicos diminuíram 16 Mírian Santos 7° semestre @medbymins a proporção de IAM com elevação do segmento ST para síndromes coronarianas agudas sem elevação do segmento ST ao longo dos últimos 10 a 15 anos, de modo que o IAM com elevação do segmento ST agora se responsabiliza por cerca de 30% de todos os IAMs. Entretanto, o IAM com elevação do segmento ST é associado à maior mortalidade intra-hospitalar (mas não pós- hospitalar) do que o IAM sem elevação do segmento ST , permanecendo um importante contribuinte para a mortalidade total da população. Fatores de risco; Fisiopatologia; Tem-se atribuído a erosão, fissura ou ruptura de placas ateroscleróticas vulneráveis como sendo os mecanismos desencadeadores da oclusão trombótica, que gera hemorragia intraplaca, espasmo coronariano e trombose luminal oclusiva. A ruptura de placa ocorre com mais frequência em placas carregadas de lipídio com uma capa endotelial enfraquecida por atividade interna de colagenase (metaloproteinase), derivada principalmente de macrófagos. Com a ruptura da placa, elementos da corrente sanguínea são expostos ao núcleo e à matriz altamente trombogênicos da placa, que contêm lipídio, fator tecidual e colágeno. As plaquetas aderem, são ativadas e agregam-se; mediadores vasoconstritores e trombogênicos são secretados; ocorre vasospasmo; gera-se trombina e forma-se fibrina; e é gerado um trombo parcial ou totalmente oclusivo, rico em plaquetas e fibrina. Quando o fluxo coronariano é interrompido, ocorre elevação do segmento ST eletrocardiográfico (IAM com elevação do segmento ST). Oclusão parcial, oclusão na presença de circulação colateral e embolização coronariana distal resultam em angina instável ou IAM sem elevação do segmento ST . Isquemia por perfusão miocárdica prejudicada causa lesão ou morte de células miocárdicas, disfunção ventricular e arritmias cardíacas. Embora a maioria dos IMs seja causada por aterosclerose, ocasionalmente os pacientes podem desenvolver oclusões coronarianas completas devido a êmbolos coronarianos, trombose in situ, vasculite, vasospasmo primário, doenças infiltrativas ou degenerativas, doenças da aorta, anomalias congênitas de uma artéria coronária ou trauma. Manifestações Clínicas; 17 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Tradicionalmente, o diagnóstico do IAM tem base na tríade de desconforto torácico tipo isquêmico, anormalidades ECG e marcadores cardíacos séricos elevados. Considera-se um IAM quando, pelo menos, aparecem dois desses três indicadores. Com sua sensibilidade e especificidade crescentes, os marcadores cardíacos séricos (p. ex., troponina I [TnI] ou troponina T [TnT]) assumem um papel dominante na confirmação do diagnóstico de IAM em pacientes com características clínicas ou ECG sugestivas. O desconforto é caracterizado por sua qualidade, sua localização, sua duração, sua irradiação e seus fatores desencadeadores e aliviadores. O desconforto associado ao IAM é qualitativamente semelhante ao da angina pectoris, porém mais grave. Muitas vezes, ele é percebido como um peso, pressionando, esmagando, espremendo, ou como uma corda, um torno, estrangulando, constringindo, ferindo ou queimando; é raro ser percebido com dor nítida e, em geral, não ocorre como dor em punhalada. A localização principal da dor isquêmica típica é mais comum retroesternalmente, mas também pode se apresentar paraesternalmente à esquerda, precordialmente à esquerda ou através do tórax anterior. Às vezes, o desconforto é percebido de forma predominante no pescoço anterior, na mandíbula, nos braços ou no epigástrio. Geralmente, ele é um tanto difuso; a dor bem localizada (apontada com um dedo) raramente é angina ou IAM. O padrão mais característico de irradiação é para o braço esquerdo, mas o braço direito ou ambos os braços podem ser afetados. As áreas de ombros, pescoço, mandíbula, dentes, epigástrio e espaço interescapulartambém são locais de irradiação. Desconforto acima dos maxilares ou abaixo do umbigo não é típico de IAM. Frequentemente, os sintomas associados incluem náusea, vômito, diaforese, fraqueza, dispneia, agitação e apreensão. O desconforto do IAM é mais grave e dura mais (normalmente, 20 minutos a várias horas) do que angina, não sendo aliviado de maneira satisfatória pelo repouso ou por nitroglicerina. Não é comum o início de o IAM estar relacionado com exercício ou outros fatores precipitantes aparentes. Não obstante, o IAM começa mais frequentemente durante estresse físico ou emocional e após algumas horas de levantar- se do que pelo simples acaso. Estima-se que, pelo menos, 20% dos IAMs sejam indolores (“silenciosos”) ou atípicos (não reconhecidos). Pacientes idosos e pacientes com diabetes são bastante propensos a IAM indolores ou 18 Mírian Santos 7° semestre @medbymins atípicos, o que ocorre de um terço à metade desses pacientes. Uma vez que o prognóstico é pior em pacientes idosos e nos pacientes com diabetes, é necessária vigilância diagnóstica. Nestes pacientes, o IAM pode apresentar-se com dispneia súbita (que pode progredir para edema pulmonar), fraqueza, tonteira, náusea e vômito. Confusão, perda súbita de consciência, mudança de ritmo e queda inexplicada na pressão arterial são outras apresentações incomuns. EXAME FÍSICO: Nenhum achado físico é diagnóstico ou patognomônico de IAM. O exame físico pode ser inteiramente normal ou pode revelar apenas anormalidades inespecíficas. Um galope de B4 frequentemente é encontrado se procurado com cuidado. A pressão arterial muitas vezes está elevada no início, mas pode ser normal ou baixa. Sinais de hiperatividade simpática (taquicardia, hipertensão ou ambas) acompanham com frequência o IAM de parede anterior, enquanto a hiperatividade parassimpática (bradicardia, hipotensão ou ambas) é mais comum com IAM de parede inferior. O exame é mais bem focalizado em uma avaliação global da função cardíaca. A normalidade dos sinais vitais e da perfusão periférica deve ser observada. Sinais de insuficiência cardíaca, tanto esquerda quanto direita (p. ex., galope de B3, congestão pulmonar, veias do pescoço elevadas) devem ser procurados, e a observação quanto a arritmias e complicações mecânicas (p. ex., sopros novos) é essencial. Se houver hipoperfusão, a determinação da sua causa primária (p. ex., hipovolemia, insuficiência cardíaca direita, insuficiência cardíaca esquerda) é fundamental para o tratamento. Diagnóstico; Nos pacientes com IAMCST, a classificação de Killip, baseada nos achados do exame físico, tem valor prognóstico. Os pacientes com Killip ≥ II têm maior mortalidade intra- hospitalar e em longo prazo. ELETROCARDIOGRAMA O eletrocardiograma de repouso (ECG) de 12 derivações deve ser realizado em todo paciente admitido no serviço de emergência hospitalar ou pré-hospitalar com suspeita de SCA. Recomenda-se que o ECG seja feito e interpretado em até 10 minutos do primeiro contato médico com o paciente. Nesse contexto clínico, a presença de supradesnivelamento do segmento ST ≥ 1,0 mm em duas ou mais derivações 19 Mírian Santos 7° semestre @medbymins contíguas ou bloqueio de ramo esquerdo novo ou presumidamente novo define o diagnóstico de IAMCST . Nas derivações V2 e V3, existem critérios específicos a depender do gênero e idade: ▪ Homens com < 40 anos ≥ 2,5 mm. ▪ Homens com ≥ 40 anos ≥ 2 mm. ▪ Mulheres ≥ 1,5 mm. Embora o ECG inicial não seja nem perfeitamente específico nem perfeitamente sensível em todos os pacientes que desenvolvem infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMCEST), ele desempenha um papel fundamental na estratificação inicial, na triagem e no tratamento. Em um contexto clínico apropriado, um quadro de elevação do segmento ST no ECG regional sugere oclusão coronariana causando isquemia miocárdica acentuada; a internação na unidade de terapia coronariana (UTC) de um hospital é indicada. Uma estratégia de recanalização de emergência (angioplastia primária ou fibrinólise) deve ser indicada, a não ser que haja contraindicação. Outros padrões ECG (depressão do segmento ST, inversão de onda T, alterações inespecíficas, ECG normal) em associação a desconforto torácico isquêmico são compatíveis com uma síndrome coronariana aguda sem elevação do segmento ST (IAM sem elevação do segmento ST ou angina instável) e são tratadas com estratégias diferentes de triagem e tratamento inicial. Evolução eletrocardiográfica: Traçados ECG seriados melhoram a sensibilidade e a especificidade do ECG para o diagnóstico do IAM e ajudam na avaliação dos resultados da terapia. Quando a elevação típica do segmento ST persiste durante horas e é seguida por inversões de onda T e ondas Q dentro de horas a dias, o diagnóstico de IAM pode ser feito com certeza. As alterações ECG no IAM com elevação do segmento ST evoluem através de três fases que se superpõem: (1) hiperaguda ou aguda inicial, (2) aguda evoluída e (3) crônica (estabilizada). 1. Fase Aguda Inicial Esta fase mais inicial começa dentro de minutos, persiste e evolui em horas. Ondas T aumentam em amplitude e se alargam sobre a área de lesão (padrão hiperagudo). 2. Fase Aguda Evoluída Durante a segunda fase, a elevação do segmento ST começa a regredir, ondas T nas derivações com elevação do segmento ST se tornam invertidas e ondas Q ou QS patológicas se tornam completamente desenvolvidas (> 0,03 s de duração ou profundidade > 30% da amplitude da onda R, ou ambas). 3. Fase Crônica A normalização da elevação do segmento ST é bastante variável. Em geral, ela está completa dentro de duas semanas no IAM 20 Mírian Santos 7° semestre @medbymins inferior, mas pode ser retardada ainda mais, depois de um IAM anterior. A elevação persistente do segmento ST, muitas vezes vista em um grande IAM anterior, indica uma grande área de acinesia, discinesia ou aneurisma ventricular. Inversões de onda T simétricas podem-se normalizar ao longo de semanas a meses ou podem persistir durante um período indefinido; por isso, a idade de um IAM na presença de inversões de onda T é frequentemente indeterminada. Em geral, ondas Q não se normalizam após IAM anterior, mas frequentemente desaparecem após IAM de parede inferior. Marcadores Cardíacos Séricos Marcadores ideais normalmente não estão presentes no soro, tornam-se rápidos e bastante elevados durante o IAM e não são liberados de outros tecidos lesados. A sensibilidade e especificidade cada vez maiores dos marcadores cardíacos séricos, que são macromoléculas (proteínas) liberadas de miócitos sofrendo necrose, os tornaram o “padrão-ouro” para detecção de necrose miocárdica. Troponinas I e T As troponinas substituíram os outros marcadores porque são mais específicas no contexto de lesões de músculo esquelético ou de outros órgãos e também são mais sensíveis no contexto de lesão miocárdica mínima. A troponina I (cTnI) e a troponina T (cTnT) que são proteínas do sarcômero derivadas do coração não estão normalmente presentes no sangue e não são detectadas com ensaios de sensibilidade-padrão, além de possuírem sequências de aminoácidos distintas das suas isoformas do músculo esquelético. Mesmo em IAMs pequenos, as troponinas aumentam 20 vezes ou mais os limites inferiores do ensaio, e as elevações persistem por vários dias. Em geral, as troponinas são detectadas primeiro dentrode duas a quatro horas depois da instalação do IAM, são extremamente sensíveis com oito a 12 horas do evento, chegam ao pico máximo com 10 a 24 horas e persistem por cinco a 14 dias. Sua longa persistência permitiu-lhes substituir outros marcadores para o diagnóstico de IAM agudo em pacientes que se apresentam tardiamente (> um a dois dias) após os sintomas. Entretanto, esta persistência pode obscurecer o diagnóstico de IM recorrente precoce, para o qual marcadores removidos mais rapidamente (i. e., CK-MB) são mais úteis. Clinicamente, a cTnI e a cTnT parecem ser de utilidade quase equivalente, exceto pelo fato de a insuficiência renal tender a estar mais associada a elevações falso-positivas de cTnT que de cTnI. 21 Mírian Santos 7° semestre @medbymins Ensaios de troponina ultrassensível aumentam a sensibilidade do exame e permitem, inclusive, diagnósticos mais precoces. Entretanto, como as troponinas também podem estar presentes em baixa concentração em uma série de doenças cardiovasculares não isquêmicas, a especificidade para IM permanece um problema. Exames por Imagem A radiografia de tórax é o único teste de imagem feito rotineiramente na internação em casos de IAM. Embora a radiografia de tórax frequentemente seja normal, achados de congestão venosa pulmonar, cardiomegalia ou mediastino alargado podem contribuir bastante para diagnóstico e decisões de tratamento. Por exemplo, um histórico de dor torácica e nas costas grave, “dilacerante”, em associação a um mediastino alargado deve suscitar a possibilidade de um aneurisma dissecante da aorta. Nesses casos, a terapia fibrinolítica deve ser evitada enquanto aguarda exame de imagem para diagnóstico mais definitivo da aorta. Ecocardiografia A ecocardiografia transtorácica bidimensional com Doppler colorido é geralmente o teste não invasivo mais útil obtido na admissão ou na fase inicial da internação hospitalar. A ecocardiografia avalia eficientemente a função cardíaca global e regional e capacita o clínico a avaliar as suspeitas de complicações relacionadas com IAM. A ecocardiografia é útil para determinar a causa da falência circulatória com hipotensão (hipovolemia relativa, insuficiência de VE, insuficiência de VD ou complicação mecânica do IAM). A ecocardiografia também pode ajudar a diferenciar pericardite e miopericardite de IAM. A ecocardiografia com Doppler é indicada para avaliar um sopro novo e outras suspeitas de complicações mecânicas do IAM (disfunção ou ruptura de músculo papilar, defeito septal ventricular agudo, ruptura da parede livre do VE com tamponamento ou pseudoaneurisma). Mais adiante, na evolução do IAM, a ecocardiografia pode ser usada para avaliar o grau de recuperação do miocárdio atordoado após terapia de recanalização, o grau de disfunção cardíaca residual e as indicações de inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) e outras terapias para insuficiência cardíaca, além da presença de aneurisma do VE e trombo mural (exigindo anticoagulantes). Mapeamento Nuclear, Ressonância Magnética e Outros As técnicas radionucleares geralmente são muito demoradas e complicadas para uso de rotina no contexto agudo. Mais comumente, elas são usadas em estratificação do risco 22 Mírian Santos 7° semestre @medbymins antes ou depois da alta hospitalar para aprimorar o teste ergométrico ou o exame de estresse farmacológico. Tratamento Tratamento por FASES. ASSISTÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR O prognóstico dos pacientes com IAMEST está amplamente relacionado com a ocorrência de dois tipos gerais de complicações: (1) elétricas (arritmias) e (2) mecânicas (“falência de bomba”). A maioria dos óbitos por IAMEST ocorridos fora do hospital é decorrente da súbita ocorrência de fibrilação ventricular. A maior parte dos óbitos provocados por fibrilação ventricular ocorre nas primeiras 24 horas após o início dos sintomas e, dentre estas, mais da metade ocorre na primeira hora. Por essa razão, os principais componentes do atendimento pré-hospitalar aos pacientes com suspeita de IAMEST são (1) o reconhecimento dos sintomas pelo próprio paciente e a busca imediata de auxílio médico; (2) o rápido deslocamento de uma equipe médica de emergência capaz de realizar manobras de reanimação, incluindo a desfibrilação; (3) o transporte imediato do paciente a um hospital que possua médicos e enfermeiros treinados no tratamento das arritmias, bem como no provimento de suporte cardíaco avançado à vida; e (4) a diligente implementação do tratamento de reperfusão. Em geral, o maior atraso não ocorre durante o transporte ao hospital, e sim entre o início da dor e a decisão do paciente de procurar ajuda. Esse atraso pode ser reduzido mais facilmente pela instrução do público leigo por profissionais de saúde quanto ao significado da dor torácica e da importância de buscar auxílio médico imediato. As consultas regulares com pacientes que têm história ou estão em risco de cardiopatia isquêmica são “momentos de orientação” importantes para que os médicos revisem os sintomas de IAMEST e o plano de ação adequado. MANEJO NO PRONTO SOCORRO No pronto-socorro, os objetivos do tratamento dos pacientes com suspeita de IAMEST são controlar a dor cardíaca, identificar imediatamente os candidatos à terapia de reperfusão urgente, fazer a triagem dos pacientes de menor risco para o setor apropriado e evitar a alta inadequada de pacientes com IAMEST. Muitos aspectos do tratamento do IAMEST são iniciados no setor de emergência e, em seguida, mantidos no manejo intra-hospitalar. O objetivo abrangente é minimizar o tempo a partir do primeiro contato clínico até o início da terapia de reperfusão. Isso pode envolver a transferência de uma instituição sem ICP para uma que seja capaz de realizar o procedimento, com o objetivo de iniciar a ICP dentro de 2 horas do primeiro contato clínico. 23 Mírian Santos 7° semestre @medbymins O ácido acetilsalicílico é essencial para o tratamento dos pacientes com suspeita de IAMEST e é eficaz em todas as síndromes coronarianas agudas. A rápida inibição da cicloxigenase 1 plaquetária, seguida pela redução dos níveis de tromboxano A2, pode ser conseguida pela absorção oral de um comprimido de 160 a 325 mg mastigado no setor de emergência. Essa medida deve ser seguida pela administração por via oral (VO) diária de ácido acetilsalicílico em uma dose de 75 a 162 mg. Nos pacientes com saturação arterial de O2 normal, a administração de O2 suplementar traz pouco ou nenhum benefício clínico e, portanto, não é custoefetiva. Contudo, na presença de hipoxemia, o O2 deve ser administrado por cateteres nasais ou máscara facial (2 a 4 L/min) nas primeiras 6 a 12 horas após o infarto; então o paciente deve ser reavaliado para verificar a necessidade de continuar esse tratamento. Os pacientes com dor torácica devem receber nitroglicerina sublingual (0,4 mg a cada cinco minutos até três doses), seguida por uma avaliação quanto à necessidade de nitroglicerina intravenosa. A dor isquêmica persistente pode ser tratada com doses tituladas de morfina intravenosa (i. e., 2 a 4 mg por via intravenosa [IV], repetida cada cinco a 15 minutos para aliviar dor). A terapia com β-bloqueador em geral é indicada, especialmente em pacientes com hipertensão, taquicardia e dor continuada; entretanto, insuficiência cardíaca descompensada é uma contraindicação ao início de terapia β-bloqueadora na fase aguda, principalmentepor via intravenosa. A atropina (0,5 a 1,5 mg IV) deve estar disponível para tratar bradicardia sintomática e hipotensão relacionada com vagotonia excessiva. A transferência direta para o laboratório de cateterismo ou a fibrinólise seguida por transferência para a UCO devem ocorrer logo que possível. Departamento de emergência: A avaliação de pacientes com dor torácica e outras suspeitas de síndromes coronarianas agudas começa com um ECG de 12 derivações. Quando há elevação do segmento ST de pelo menos 2 mm em duas derivações precordiais contíguas e de 1 mm em duas derivações periféricas adjacentes, o paciente deve ser considerado candidato ao tratamento de reperfusão. Deve-se iniciar o monitoramento ECG contínuo, obter um acesso venoso e realizar testes sanguíneos na admissão (incluindo marcadores cardíacos como cTnI ou cTnT). Logo que possível, o paciente deve ser classificado como tendo um provável IAM com elevação do segmento ST, um IAM sem elevação do segmento ST, provável ou possível angina instável ou provável dor torácica não cardíaca. Em pacientes com IAM com elevação do segmento ST por critérios clínicos e ECG, 24 Mírian Santos 7° semestre @medbymins deve-se escolher uma estratégia de recanalização: as alternativas são intervenção coronariana percutânea primária (ICP primária; o paciente é transferido diretamente para o laboratório de cateterismo, com um tempo ideal da porta ao balão de menos de 90 minutos) ou fibrinólise (começada imediatamente no setor de emergência, com um tempo da porta à agulha de menos de 30 minutos. MEDIDAS TERAPÊUTICAS ESPECÍFICAS Terapia de Recanalização A reperfusão precoce do miocárdio isquêmico no infarto representa o avanço conceitual mais importante e prático para IAM com elevação do segmento ST, constituindo o principal objetivo terapêutico. A recanalização coronariana é realizada usando-se ICP (INTERVENÇÃO CORONARIANA PERCUTÂNEA) primária com angioplastia e, comumente, colocação de stent ou com terapia fibrinolítica (trombolítica). Com a ampla aplicação da terapia de recanalização, as taxas de mortalidade de 30 dias do IAM com elevação do segmento ST declinaram progressivamente ao longo das três últimas décadas (de 20% a 30% para 5% a 10%). Cada comunidade deve desenvolver e seguir um sistema de cuidados multidisciplinar ao IAM com elevação do segmento ST que ofereça consistentemente cuidados ideais ao IAM com elevação do segmento ST dentro dos recursos disponíveis. FIBRINÓLISE Se não houver contraindicações (ver adiante), o tratamento fibrinolítico deverá ser iniciado preferencialmente nos primeiros 30 minutos da chegada do paciente (i.e., tempo da porta à agulha ≤ 30 minutos). O principal objetivo da fibrinólise é restaurar imediatamente a completa patência da artéria coronária. Os fibrinolíticos, como o ativador do plasminogênio tecidual (tPA), a estreptocinase, a tenecteplase (TNK) e a reteplase (rPA, de tissue plasminogen activator), foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para uso IV em pacientes com IAMEST. Todos esses fármacos atuam estimulando a conversão do plasminogênio em plasmina, que em seguida dissolve os trombos de fibrina. Embora inicialmente tenha sido dada ênfase considerável à distinção entre os agentes mais específicos para a fibrina, como o tPA, e menos específicos, como a estreptocinase, hoje está claro que essas diferenças são apenas relativas, pois os agentes anteriormente mencionados estão associados a algum grau de fibrinólise sistêmica. A TNK e a rPA são conhecidas como fibrinolíticos para infusão rápida, pois sua administração não requer infusão IV prolongada. Durante a avaliação angiográfica, o fluxo na artéria coronária relacionado com o infarto é descrito por uma escala qualitativa simples 25 Mírian Santos 7° semestre @medbymins conhecida como Thrombolysis in Myocardial Infarction (TIMI) grading system (sistema de graduação para a trombólise no infarto agudo do miocárdio): o grau 0 indica a oclusão total da artéria relacionada com o infarto; o grau 1 descreve alguma penetração do contraste além do ponto de obstrução, mas sem a perfusão dos segmentos coronarianos distais; o grau 2 indica a perfusão de toda a artéria relacionada com o infarto até os segmentos distais, porém com fluxo mais lento em comparação com o de uma artéria normal; e o grau 3 refere-se à completa perfusão do vaso associado ao infarto, com fluxo normal. Este último é a meta da terapia de reperfusão, porque a plena perfusão da artéria coronária relacionada com o infarto consegue resultados melhores na limitação da extensão do infarto, na manutenção da função do VE e na redução das taxas de mortalidade em curto e longo prazos. O tPA e outros ativadores do plasminogênio relativamente específicos para a fibrina (rPA e TNK) são mais eficazes do que a estreptocinase na recuperação da plena perfusão – ou seja, fluxo coronariano grau 3 no TIMI – e têm pequena margem de aumento da sobrevida. O esquema recomendado atualmente para o tPA consiste em infusão rápida de 15 mg, seguida da infusão IV de 50 mg nos primeiros 30 minutos e 35 mg nos 60 minutos seguintes. A estreptocinase deve ser administrada na dose de 1,5 milhão de unidades IV em 1 hora. A rPA deve ser aplicada por um esquema de bolus duplo: primeiro bolus de 10 milhões de unidades administrado em 2 a 3 minutos, seguido de um segundo bolus de 10 milhões de unidades após 30 minutos. A TNK deve ser administrada em injeção IV única de 0,53 mg/kg em 10 segundos. Além dos agentes fibrinolíticos citados anteriormente, a reperfusão farmacológica geralmente inclui agentes antiplaquetários e antitrombóticos coadjuvantes, conforme discutido adiante. As contraindicações inequívocas ao uso dos agentes fibrinolíticos são história de hemorragia cerebral em qualquer época; acidente vascular cerebral (AVC) não hemorrágico ou outro evento vascular encefálico no último ano; hipertensão grave (PA sistólica aferida de maneira confiável > 180 mmHg e/ou pressão diastólica > 110 mmHg) em qualquer época durante a apresentação aguda; suspeita de dissecção aórtica; e sangramento interno ativo (exceto menstruações). Embora a idade avançada esteja associada ao aumento das complicações hemorrágicas, o efeito benéfico da terapia fibrinolítica nospacientes idosos parece justificar seu uso, desde que não existam outras contraindicações e a extensão do miocárdio ameaçado pareça significativa. As contraindicações relativas do tratamento fibrinolítico, as quais impõem uma avaliação da razão risco-benefício, são uso corrente de 26 Mírian Santos 7° semestre @medbymins anticoagulantes (razão normalizada internacional [INR, de international normalized ratio] ≥ 2); procedimento cirúrgico ou invasivo recente (< 2 semanas) ou reanimação cardiopulmonar prolongada (> 10 minutos); diátese hemorrágica conhecida; gravidez; distúrbio oftálmico hemorrágico (p. ex., retinopatia diabética hemorrágica); doença ulcerosa péptica ativa; e história de hipertensão grave adequadamente controlada na ocasião. Devido ao risco de reação alérgica, os pacientes não devem usar estreptocinase se tiverem sido tratados com esse fármaco no período de 5 dias a 2 anos anteriores. A hemorragia é a complicação mais comum e potencialmente a mais grave. Como os episódios de sangramento que necessitam de transfusão são mais comuns quando os pacientes precisam ser submetidos a procedimentos invasivos,as intervenções venosas ou arteriais desnecessárias devem ser evitadas nos indivíduos tratados com agentes fibrinolíticos. O AVC hemorrágico é a complicação mais grave e ocorre em cerca de 0,5 a 0,9% dos pacientes tratados com esses fármacos. O cateterismo cardíaco e a angiocoronariografia deverão ser realizados após a terapia fibrinolítica se houver evidências de (1) insucesso da reperfusão (persistência da dor torácica e elevação do segmento ST por mais de 90 minutos), devendo, nesses casos, ser considerada a ICP de resgate; ou (2) reoclusão da artéria coronária (reaparecimento da elevação do segmento ST e/ou dor torácica recorrente) ou desenvolvimento de isquemia recorrente (p. ex., angina recidivante nos primeiros dias de internação ou prova de esforço positiva antes da alta), casos em que a ICP urgente deverá ser considerada. A angiografia rotineira e a ICP eletiva, mesmo nos pacientes assintomáticos submetidos ao tratamento fibrinolítico, são usadas com menos frequência, tendo em vista os inúmeros avanços tecnológicos ocorridos no laboratório de cateterismo e o crescente número de médicos intervencionistas habilidosos. A cirurgia de revascularização com bypass das artérias coronárias deve ser reservada aos pacientes com anatomia coronariana inadequada à ICP, porém nos quais a revascularização pareça recomendável, tendo em vista a extensa área de miocárdio sob risco ou a isquemia recorrente. 27 Mírian Santos 7° semestre @medbymins IMAGENS Probabilidade de ser SCA por ruptura de placa arterial coronariana 28 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 29 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 30 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 31 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 32 Mírian Santos 7° semestre @medbymins 33 Mírian Santos 7° semestre @medbymins REFERÊNCIAS: Cecil medicina / editado por Lee Goldman, Andrew I. Schafer ; tradução Angela Freitas , Cyro Festa Neto, Fábio Fernandes Morato Castro. - 24. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014. il. Medicina interna de Harrison [recurso eletrônico] / J. Larry Jameson... [et al.] ; tradução: André Garcia Islabão...[et al.] ; [revisão técnica: Ana Maria Pandolfo Feoli... [et al]. – 20. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2020. Livro-texto – Sociedade Brasileira de Cardiologia.
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