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Problema 7 - Módulo Saúde da Mulher PLACENTA PRÉVIA: - Total ou parcialmente no segmento inferior do útero. - Incidência: 0,5 a 1%. - Classificação: menor (não alcança o OI) → baixa (margem da placenta à < 2 cm do OI); e maior (alcança o OI) → marginal (margem da placenta alcança o OI, mas não o ultrapassa), parcial e total. - Fatores de risco: cesárea anterior (risco aumenta com o número de procedimentos), cicatriz uterina, idade avançada, tabagismo e gravidez gemelar. - Quadro clínico: hemorragia indolor, de sangue vermelho brilhante, desvinculada à esforço ou traumatismo ocorre em 90% dos casos. Perdas se sucedem → exsanguinam a gestante. Na palpação a estática fetal está alterada (situações oblíquas e transversas, apresentação pélvica e cefálica alta (interposição da placenta). Exploração digital do canal cervical está PROSCRITA. Exame especular confirma que a hemorragia tem origem no canal cervical. Hemorragia tende a crescer com a dilatação. No secundamento, o acretismo é comum, retenção de placenta (risco de infecção no puerpério devido proximidade entre zona de inserção e vagina) e miocontração deficiente do segmento inferior. - Ultrassonografia: US abdominal de 20 a 24 semanas, confirmação com a USTV (não causa sangramento). Mulheres com sangramento e que permaneçam hemodinamicamente estáveis podem ser conduzidas ambulatorialmente. Estima-se que 90% das placentas prévias diagnosticadas em 2º trimestre resolvam-se com a migração placentária. Colo com comprimento < 3 cm indica possibilidade de cesárea de emergência por sangramento importante anteparto. PLACENTA ACRETA E VASA PRÉVIA: - A acreta (aderência anormal da placenta) eleva a morbiletalidade da mãe (1: 2500 partos) e a vasa prévia a do feto. - O fator de risco mais importante para o acretismo é placenta prévia em mulheres cesareadas (deficiência de decídua basal na zona de cicatriz uterina). - A US e RM são sensíveis e específicas. A US é mais utilizada por praticidade e baixo custo. RM é útil para caracterizar o tipo de acretismo (acreta, increta, percreta) e invasão de estruturas vizinhas (bexiga e paramétrios). - Vasa prévia: vasos umbilicais cursam sobre o orifício interno do colo e à frente da apresentação fetal, desprotegidos da estrutura placentária e do cordão umbilical. Tipo 1 (inserção velamentosa do cordão) e tipo 2 (vasos entre os lobos de uma placenta sucenturiada/bilobada). Incidência de 1: 2000-6000 gestações. Em ⅔ está associada à placenta baixa. Fatores de risco: fertilização in vitro, placenta sucenturiada/bilobada e placenta prévia. Quadro clínico: exsanguinação fetal (100 mL são suficientes para determinar choque e óbito fetal). Diagnóstico antenatal assegura a sobrevida de quase 100% dos fetos, enquanto o diagnóstico no parto de apenas 40-50%. Diagnóstico diferencial de placenta prévia com DPP: a primeira possui instalação insidiosa, hemorragia indolor, sangue vermelho-rutilante, hemorragia de repetição, hemorragia de surgimento inesperado e sem causa aparente, cardiotocografia normal e exame de urina normal; a DPP é caracterizada por início súbito, dor forte no local placentário, sangue escuro (hemorragia inicialmente interna), hemorragia única, hemorragia vinculada à toxemia ou traumatismo, cardiotocografia anormal e exame de urina com proteinúria. Tratamento: - Em pacientes sintomáticas, o prosseguimento da gravidez depende da estabilidade hemodinâmica, risco para PPT devem receber corticoide profilático. Se ao realizar US de 3º trimestre tiver a confirmação de placenta prévia, informar sobre o risco de PPT e sangramento. Sintomáticas com placenta prévia maior devem ser hospitalizadas com 34 semanas; assintomáticas ou com placenta prévia menor podem ser conduzidas ambulatorialmente. - Placenta acreta: identificação dos fatores de risco, correto diagnóstico pré-operatório e tratamento adequado (histerectomia-cesárea nas 34 semanas). Operar tendo à mão 10 unidades de concentrado de hemácias e 10 de plasma fresco congelado (90% serão transfundidas e 40% precisam de mais do que isso). - Parto vaginal pode ser tentado em placenta baixa quando a borda está a mais de 2cm do OI. Cesárea eletiva: 38-39 semanas nas assintomáticas com placenta menor; 36-37 semanas nas assintomáticas com placenta prévia maior; 34 semanas em placenta acreta assintomática (maior indicação de histerectomia). Tratamento conservador (deixar a placenta in situ e embolizar a artéria uterina) está sujeito a hemorragia, infecção e histerectomia em 60% dos casos até 9 meses do parto. Enquanto se aguarda a histerectomia, pode-se colocar cateter balão de Bakri para interromper sangramento. - Vasa prévia: diagnóstico no parto indica cesárea de emergência; confirmada antes, paciente deve ser internada, iniciando corticoide com 28-32 semanas e fazendo cesárea por volta de 35-37 semanas. DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA: - Separação da placenta implantada no corpo do útero antes do nascimento do feto (o normal é o descolamento pós-parto). 0,5 a 1% das gestações. Mortalidade materna de 1-3% e perinatal de 12% (consequência da asfixia intrauterina e prematuridade). 15-20% dos RN podem apresentar sequelas neurológicas. - Etiologia: DPP em gravidez anterior, trauma, tabagismo, cocaína, gravidez múltipla, hipertensão, pré-eclâmpsia, idade materna avançada, RPM, corioamnionite, dengue, polidramnia e doppler de artéria uterina anormal. - Sangue chega à zona de clivagem deciduoplacentária e inicia separação → vasos maternos se abrem → espaço retroplacentário é invadido → útero reage com hipertonia → aumenta a tensão no local da coleção sanguínea → descolamento. - Parte do sangue coagula e fica aprisionado atrás da placenta → hematoma retroplacentário (eliminado somente após o parto). Outra parte descola e �lui para o exterior → hemorragia externa (80%); hemorragia oculta em 20%. - Se o sangue alcançar a cavidade amniótica → hemoâmnio. - Apoplexia uteroplacentária ou útero de Couvelaire → hemácias e soro do coágulo retroplacentário são impulsionados pelo miométrio e se dissociam em miofibrilas; coloração azulada marmórea no útero, tubas, ovários e ligamentos largos. - DPP pode ter origem no 1º trimestre de gravidez pela placentação defeituosa (deficiente invasão trofoblástica com remodelação incompleta das artérias espiraladas). Pode ser um processo agudo, como trauma e descompressão súbita (RPM ou parto do primeiro gemelar). A separação corta o suprimento fetal (oxigênio e nutrientes). Feto morre quando o descolamento geralmente é > 50%. - DPP é a causa mais comum de necrose cortical aguda. - Síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto): complicação do DPP, principalmente quando há grande sangramento, choque ou CIVD. - Cascata de coagulação é ativada pela liberação de tromboplastina na circulação materna proveniente do hematoma → consumo dos fatores da coagulação → CIVD (10% dos casos de DPP). - Quadro clínico: pode variar. Sintomas clássicos são sangramento vaginal e dor abdominal. Extensão do descolamento está associada ao óbito fetal. Hipertonia uterina acompanhada de contrações de elevada frequência e baixa intensidade. Útero duro e doloroso na palpação. Sinais de sofrimento fetal (diminuição de trocas placentárias, hipertonia uterina, hipotensão arterial e toxemia associada). Menos frequente, nos casos de DPP com hemorragia oculta e morte fetal, o primeiro sinal clínico é a coagulopatia (é comum choque hipovolêmico materno). - Toque no início mostra colo imaturo, longo e com dilatação mínima; cervicodilatação pode ser completada com rapidez, assim como a expulsão fetal; a placenta descolada é expelida logo depois juntamente com o hematoma retroplacentário. - No pós-parto são frequentes hemorragias incoercíveis (devido atonia uterina e distúrbios da coagulação). - Nas primeiras horas do descolamento, podem surgir sinais de discrasia (sangue vaginal que não coagula, hematomas nos locais de punção, gengivorragia). - DPP pode ser de grau 0 (assintomático → diagnóstico retrospectivo pelo exame de placenta); grau 1 (leve → sangramento vaginalsem dor, mãe e feto estáveis); grau 2 (intermediário → sangramento vaginal, dor abdominal intensa, hipertonia uterina, feto em sofrimento); e grau 3 (grave → óbito fetal, pode ser 3A sem coagulopatia e 3B com coagulopatia). - Diagnóstico: pode ser clínico (sangramento, dor abdominal, história de trauma ou RPM), com US (coágulo identificado em 25-50% dos casos, depende da localização e extensão) e RM (diagnostica 100% dos casos de DPP, imagens hiperagudas ou agudas estão associadas aos quadros de DPP instável → grau 2 e 3; imagens subagudas estão associadas a DPP estável). - Tratamento: DPP com feto vivo e viável (> 24 semanas) está indicada a interrupção da gravidez com cesária (atonia uterina pode indicar histerectomia). DPP grave com morte fetal ou feto inviável → parto vaginal (após amniotomia o útero se contrai vigorosamente e o parto progride rapidamente). Em gestações pré-termo (< 34 semanas) com feto e mãe estáveis, pode-se recorrer a conduta conservadora; prescreve-se corticoide para amadurecer pulmão fetal, tocolítico de necessário, hospitalização para monitoramento e RM seriada para avaliar evolução do hematoma. - Em caso de trauma (ex.: acidente de carro) → feto monitorado por pelo menos 4h, traçado anormal indica DPP e interrupção da gravidez. - Aconselhamento: mulheres com DPP apresentam risco aumentado em 10 a 15x de repetir o acidente na próxima gestação. RUPTURA UTERINA - Episódio obstétrico mais grave, pode ocorrer na gravidez ou no parto. Incidência: 5,3/1000. A principal etiologia de ruptura nos países desenvolvidos é a pós-cesárea; e nos em desenvolvimento é o parto obstruído. - Fatores de risco: multiparidade, uso de uterotônicos, traumatismo, placenta percreta. RUPTURA UTERINA NA GRAVIDEZ: - Rara. Pode ser traumática (pancadas sobre o ventre, ferimentos penetrantes, manuseio da cavidade uterina - curetagem, implantação de DIU) e espontânea (zonas da matriz com resistência diminuída, ex.: cicatriz de cesariana). - No início da gravidez, possui quadro semelhante ao de gravidez ectópica (dor intensa, sinais de hemorragia interna com irritação peritoneal e sangramento vaginal) e o diagnóstico é confirmado apenas após laparotomia. Na segunda metade da gravidez a sintomatologia é mais discreta, evolução lenta, extrusão do feto para a cavidade abdominal é progressiva; dores no ventre e metrorragia; palpação revela duas massas (matriz e feto); choque e infecção se instala gradativamente. - Prognóstico fetal é óbito e o materno é grave. - Tratamento: laparotomia imediata. Caso a paciente queira ter mais filhos, tentar regularização das bordas da ferida e sutura; se multípara fazer histerectomia subtotal ou total. Antibioticoterapia profilática e hemotransfusão. RUPTURA UTERINA NO PARTO: - Pode ocorrer espontaneamente (sem interferência do parteiro), provocada ou consequente à administração intempestiva de ocitócitos (aumento exagerado da contratilidade). - Fatores predisponentes: multiparidade, processos infecciosos, penetração excessiva do trofoblasto - acretismo -, cicatrizes. Fatores determinantes: macrossomia, apresentações anômalas, malformações uterinas. - Contrações exageradas tentando vencer a passagem obstruída. - Pode ser completa, alcançar todas as camadas do útero; ou incompleta; pode alcançar órgãos vizinhos (bexiga, vagina, reto e ureter) e, nesse caso, é classificada como complicada. - Quadro clínico: na iminência da ruptura a paciente fica agitada, com contrações dolorosas, exteriorizando-se em sofrimento contínuo de localização hipogástrica (síndrome de distensão segmentária → sinal de Bandl e sinal de Frommel, ligamentos redondos retesados). Movimento inconsciente de colocar as mãos no segmento inferior do útero. Quando o miométrio esgota, ocorre a ruptura, caracterizada por dor súbita e lancinante na região hipogástrica; o útro roto não se contrai; nas lesões completas o útero se retrai e ocorre extrusão do feto para cavidade abdominal; hemorragia discreta e protusa (pode sair pelo canal vaginal ou permanecer oculta); ausculta do feto é negativa nas rupturas de grande extensão (com extrusão para o abdome ou comprometendo artérias uterinas). RUPTURA PÓS-CESÁREA: - A ruptura mais frequente ocorre em mulheres cesareadas que se submetem ao parto vaginal. - A ruptura é sintomática. Quanto ocorre ruptura completa ou incompleta assintomática e sem sequelas para mãe e para o feto, chama-se deiscência uterina. - Fatores de risco: múltiplas cesáreas anteriores, principalmente com intervalo < 18 a 24 meses, idade materna avançada, anomalias uterinas, sutura do útero em apenas uma camada, indução do parto (aumento de contrações uterinas e enfraquecimento de cicatrizes). Parto após 42 semanas e peso fetal > 4000g apresentam maior risco. - OBS: ocitocina não é contraindicada se usada com cautela, mas o misoprostol não deve ser administrado a pacientes anteriormente submetidas à cesárea. - Trabalho de parto pode ser oferecido para paciente com cesárea anterior, desde que não haja contraindicação, mas manter paciente informada dos riscos. Diabetes, macrossomia ou gestação múltipla são contraindicações para quem possui cesárea anterior. - Prognóstico: mortalidade perinatal de 45-70% e materna de 5%. - Tratamento: profilático (vigilância durante o parto, quando exacerbada a atividade uterina pode-se empregar tocolítico, limitar intervenções transpélvicas); curativo (intervenção abdominal, descrição detalhada das lesões - sede, extensão, propagação à órgãos vizinhos -, desembaraçar a cavidade abdominal de sangue, coágulo, líquido amniótico - lavagem com solução fisiológica morna); e histerectomia ou histerorrafia (depende das condições das paredes uterinas lesadas, sede da ruptura e estado da paciente, considerando também idade e paridade. INSERÇÕES ANORMAIS DO CORDÃO: - Vasos prévios: anomalias de inserção do funículo umbilical na placenta, na qual os vasos umbilicais cruzam o segmento inferior uterino e se colocam à frente da apresentação. O examinador cuidadoso poderá palpar um vaso fetal tubular e, na compressão, há alteração na FC fetal que podem ser visualizadas através da doppler�luxometria. - Rotura de vasa prévia: associada a inserções marginais do cordão, placentas bilobada ou sucenturiadas e inserção velamentosa do funículo umbilical. - Inserção marginal: associado ao aumento de CIR e natimortalidade. - Placentas bilobadas: separação da placenta em dois lobos com veias e artérias umbilicais distintas que se unem em um único cordão. - Placenta sucenturiada: lobos adicionais de tecido placentário a alguns centímetros do lobo principal. Lobos acessórios funcionam, mas podem se associar com placenta prévia ou vasa prévia; além disso, pode ficar retido após o secundamento, resultando em hemorragia ou infecção. - Inserção velamentosa: vasos sanguíneos deixam o cordão antes da inserção placentária e caminham em leque até a massa placentária, pode causar ruptura dos vasos e hipóxia fetal. - É possível identificar o local de inserção do cordão umbilical na placenta em quase 100% dos exames sonográficos de 20 a 24 semanas. INSERÇÃO ANORMAL DA PLACENTA: - Normalmente, o ovo penetra toda a espessura da porção superficial da decídua basal através de vilosidades coriais. Essa penetração não se estende à camada profunda, favorecendo o descolamento placentário no secundamento. Qualquer implantação placentária na qual há aderência anormalmente firme à parede uterina é chamada de “acretismo placentário”. - Placenta acreta: vilosidades penetram mais profundamente no endométrio, até a camada esponjosa e ficam mais aderentes. O plano de clivagem é irregular e defeituoso, dificultando o secundamento. Conduta: retirada manual seguida de curetagem, em caso de insucesso, indicar histerectomia (se não houver desejo reprodutivo, é padrão-ouro). - Placenta increta: vilosidades penetram até o miométrio, não há plano de clivagem para descolamento manual. Indicada histerectomia (remove-se parte do útero ou todo ele, depende da localização). - Placenta percreta: vilosidades alcançam serosa,chegando a perfurá-la e podem causar hemorragia intraperitoneal. Vilosidades podem invadir órgãos adjacentes. Indicada histerectomia. - Ao diagnóstico, a mulher deve ser encaminhada para um centro com bons recursos de hemoterapia e capaz de realizar procedimentos necessários. - Implantação placentária anormal ocorre mais onde a formação decidual foi perturbada (placenta prévia, implantação no segmento inferior do útero, implantação sobre cicatriz de cesariana ou outras incisões uterinas prévias). - Fatores de risco: idade materna > 35 anos, multiparidade, defeitos endometriais (síndrome de Asherman), leiomiomas e tabagismo. - Quadro clínico: hemorragia profusa que ocorre na tentativa de descolamento placentário. Placenta percreta com invasão vesical pode causar hematúria durante a gestação. A invasão por vilosidades placentárias no local de cicatriz cesariana prévia pode levar à rotura uterina. - Diagnóstico: presença de achados na US e RM em torno de 20 a 24 semanas, paciente deve ser orientada em relação à anormalidade e melhor via de parto. Quando não ocorre no pré-natal, o diagnóstico ocorre pela dificuldade de extração placentária e estudo anatomopatológico (determina o grau). A doppler�luxometria é complementar à USG. - Sinais sugestivos de acretismo no exame de imagem: protusão de tecido placentário para dentro da bexiga, vascularização aumentada entre a serosa e bexiga. ACRETISMO PLACENTÁRIO - CONDUTA: - Histerectomia concomitante ao nascimento é a mais comum, sem tentar remover a placenta, é o habitual quando há diagnóstico de invasão placentária extensa. Quando é placenta percreta, outros procedimentos poderão ser necessários: cistectomia parcial, dissecção ou reimplante ureteral, intervenções sobre alças intestinais, ressecções teciduais. A realização de US antes da laparotomia pode ajudar a planejar o tipo e extensão da incisão. Fazer extração fetal e realizar chuleio simples na borda da histerectomia, a fim de promover hemostasia e permitir visualização da cavidade uterina e seguir com a retirada do útero. O colo só é retirado se causar sangramento, necessitar de avaliação histológica ou se for possível fazê-lo com segurança (não interferir na hemostasia). - Manejo conservador do acretismo: evitar histerectomia ou tentar manter o útero para preservar fertilidade. Apenas em casos selecionados e menos graves. Ao realizar a cesariana, a incisão uterina é realizada longe da placenta (quando permanece íntegra o sangramento é menor), o cordão é clampeado próximo à inserção placentária, e a histerotomia e incisão abdominal são fechadas como o habitual. O objetivo é que a placenta seja reabsorvida espontaneamente. Vigiar atentamente a paciente após o parto, em busca de alterações dos sinais vitais, exteriorização de sangramento, alterações laboratoriais indicativas de coagulopatia ou deterioração clínica. Tempo para resolução espontânea: 4 a 12 meses (média de 6 meses). - Outra alternativa no tratamento conservador é, após o nascimento e dequitação parcial da placenta, cortar e remover em bloco a área afetada do útero com a placenta aderida, reconstruindo a parede no mesmo procedimento (necessário que a placenta tenha envolvimento focal bem-delineado, que haja uma borda significativa de miométrio saudável e que seja possível obter hemostasia adequada). - Quando o grau de acretismo é mínimo, é aceitável tentar remover a placenta em pacientes que desejam preservar a fertilidade. Isso também ocorre quando não havia suspeita prévia de placenta acreta. O tratamento conservador só deve ser considerado mediante preparação e possibilidade de conversão imediata para histerectomia, se necessário. - Cateterização profilática das artérias hipogástricas: a fim de reduzir o �luxo uterino após o nascimento do bebê e facilitar a histerectomia. Antes da cesariana são inseridos dois cateteres com balonete nas artérias hipogástricas e, após o nascimento, são in�lados com soro, ocluindo o �luxo das artérias uterinas (processo intermitente para não causar necrose com a oclusão prolongada). Cateteres são retirados após o procedimento ou na cirurgia quando ligadas as artérias hipogástricas. Há riscos, como lesão arterial, trombose e infecção. - Intervenções clínicas: dada a probabilidade de PPT, considerar uso de corticosteróide para maturação pulmonar fetal. - É obrigatória a ciência do paciente sobre os potenciais de riscos e efeitos colaterais do tratamento (histerectomia, futuro reprodutivo, transfusão sanguínea, risco de lesão orgânica, necessidade de correção intraoperatória ou futura, possibilidade de internação prolongada, internação em UTI, risco para o feto, incisão e aspecto estético, risco anestésico e tromboembólico). ALOIMUNIZAÇÃO RH: - Doença hemolítica perinatal (DHPN) ou eritroblastose fetal → afecção generalizada, acompanhada de anemia, destruição das hemácias e aparecimento de suas formas jovens (eritroblastos) na circulação periférica. - Incompatibilidade sanguínea maternofetal. Anticorpos da gestante específicos para antígeno localizado nas hemácias do feto. - Pode ser reduzida a níveis mínimos de incidência com o emprego de medidas profiláticas. - Incidência: 6,8/1000 nascidos vivos. - Etiopatogenia: incompatibilidade sanguínea, aloimunização materna, passagem de anticorpos da mãe para o feto e ação desses anticorpos no feto. Feto apresenta fator hemático de herança paterna, ausente na mãe. OBS: pai Rh+ heterozigoto e mãe Rh- = 50% filhos Rh+; pai Rh+ homozigoto e mãe Rh- = todos os filhos Rh+. Os indívidos Rh+ são portadores de D. Aloimunização materna: pode ser ocasionada pela administração de sangue incompatível produzida por hemotransfusão (raro atualmente, a não ser em emergência); consecutiva à gestação de produtos Rh-discordantes pela passagem de hemácias fetais na gestação ou parto. Na maioria dos casos, a carga antigênica do antígeno D das hemácias fetais é insuficiente para estimular o sistema imunológico materno, mas no caso de hemorragia fetomaterno antenatal, os linfócitos B passam a reconhecer o antígeno D, ocorre a produção de anti-D materno IgM (curta duração) com rápida mudança para IgG. A memória dos linfócitos B espera nova exposição em gravidez subsequente e, se estimulada pelo antígeno D do feto, rapidamente os linfócitos se proliferam e produzem anticorpos IgG. Metade das mulheres se sensibiliza na 1ª gravidez e metade na 2ª. Passagem de anticorpos da mãe para o feto: IgM e IgA não passam para o organismo fetal. IgG se liga ao receptor Fc da membrana do trofoblasto e consegue atingir o feto. Os anticorpos irão produzir hemólise das hemácias. Os macrófagos reconhecem a porção Fc do anticorpo e a fagocitam, gerando bilirrubina. A subclasse IgG1 migra mais cedo, tem teor elevado e a regeneração (eritroblastose) leva ao empobrecimento proteico do feto, causando edema, ascite e hidropsia. IgG3 tem passagem tardia, níveis menores, só ascendem após 28 semanas. Feto nasce anêmico e a icterícia irrompe depois do parto (se não tratada progride para kernicterus). - Diagnóstico anteparto: incompatibilidade do sistema Rh poucas vezes acomete o 1º filho. Histórico de 1 ou 2 filhos normais, seguidos de RN com icterícia grave, anemia e morte sugerem aloimunização Rh; ou natimortos e hidrópicos que se repetem. - US: orienta a identificação dos fetos mais gravemente atingidos por anemia hemolítica (grau de comprometimento). Sinais de descompensação fetal e hidropsia, Ht < 20% e Hb < 7 g/dL. O aumento da espessura placentária (> 4cm), perda de arquitetura e maior homogeneidade parecem ser os primeiros indicadores. Polidrâmnio e aumento da circunferência abdominal indicam agravamento do processo hemolítico. - Cordocentese: para determinar Ht, Hb e grupo sanguíneo fetal, tem sido substituída pelo Doppler da artéria cerebral média. - Diagnóstico pós-parto: RN apresentam-se muito deformados pela infiltração edematosa, abdome de batráquio (ascite, fígado e baço enormes). Transfusões intrauterinas têm impedido a morte de muitos bebês hidrópicos. Icterícia instalada precocemente. Palideze anemia, com descoramento intenso das mucosas visíveis. - Acompanhamento na gravidez: evidenciação da incompatibilidade sanguínea, determinação de possível aloimunização materna (se presente, monitorar comportamento durante a gestação atual), avaliação das condições do feto pela dosagem espectrofotométrica de bilirrubina no líquido amniótico, US, Doppler e cordocentese. - Os anticorpos anti-Rh são identificados por meio de exame imuno-hematológico no período pré-natal → teste de Coombs indireto. Na primeira consulta da gestante faz a pesquisa e, caso o resultado seja negativo, repete na 28ª semana. Se os teores aumentam em cada medição, é provável que esteja sendo gerado um feto Rh+ que sofrerá DHPN. - US: a hidropsia é dividida em leve, grave ou terminal. A classificação indica o grau de comprometimento e valor prognóstico. - Cardiotocografia: só se altera em fetos gravemente anemiados, hidrópicos, nos quais as medidas terapêuticas já não seriam eficazes para reduzir morbimortalidade. - Doppler: método não invasivo utilizado na avaliação do grau de anemia fetal. Valores da velocidade sistólica máxima (VSmáx) acima de 1,5 múltiplo da mediana (MoM) são indicativos de anemia fetal (indica oportunidade para transfusão intravascular, poupando grande número de cordocenteses). Técnica: localiza-se a asa anterior do osso esfenoide na base do crânio, o Doppler colorido é acionado para localizar a ACM (artéria cerebral média); o ângulo de insonação é mantido próximo a zero. A ACM proximal é insonada imediatamente após sua saída do polígono de Willis (segmento distal falseia os resultados). Feto deve ser examinado em período de repouso. Medidas podem ser iniciadas a partir das 18 semanas e repetidas no intervalo de 1 ou 2 semanas. - Cordocentese: acesso direto à circulação fetal, especialmente para detectar o seu grau de anemia. Procedimento relacionado com 1-2% de taxa de óbito fetal, indicação reservada para a eventualidade de VSmáx > 1,5 MoM. - Dosagem espectrofotométrica de bilirrubina: com o uso do Doppler, ficou para 2º plano. - Protocolo de acompanhamento: baseia-se na história materna e resultado dos exames. A 1ª gravidez sensibilizada envolve risco mínimo fetal/neonatal, as subsequentes envolvem piora do grau de anemia fetal. NA PRIMEIRA GESTAÇÃO AFETADA, estando a grávida sensibilizada, o teste de Coombs é repetido mensalmente; ao atingir título > 1:8, a partir das 24 semanas inicia-se o Doppler da ACM (repetido a cada 1-2 semanas), valor > 1,5 MoM entre 24 e 35 semanas indica cordocentese, determinação do hematócrito e transfusão intravascular (interromper a gestação com 35 semanas). Valores < 1,5 MoM possibilita prolongar a gravidez até 38 semanas. - Gestação anterior com feto afetado: o Coombs é desnecessário, indicação de Doppler seriado da ACM após 18 semanas. - A determinação não invasiva do Rh fetal pode ser realizada utilizando-se a técnica PCR real time do DNA fetal livre no plasma materno. - Provas imuno-hematológicas no RN: teste Coombs direto (avalia a sensibilização das hemácias do RN pelos anticorpos maternos, deve ser feito no sangue do cordão umbilical em bebês nascidos de mulheres Rh-), anatomopatológico (núcleos da base podem tornar-se amarelos esverdeados → icterícia nuclear ou kernicterus). PREVENÇÃO: imunoglobulina anti-D é um produto sanguíneo que contém títulos elevados de anticorpos que neutralizam o antígeno RhD das hemácias fetais. Anti-D atravessa a placenta e se liga às hemácias, sem causar hemólise, anemia ou icterícia. Via de administração IV ou IM. Profilaxia anteparto: 300 μg de IgG anti-D devem ser administrados em grávidas não sensibilizadas com 28 semanas de gestação quando o grupo sanguíneo fetal for Rh+ ou desconhecido. Profilaxia pós-parto: 300 μg de IgG anti-D dentro de 72h do parto para mulheres Rh-; anti-D adicional para hemorragia fetomaterna com mais de 15 mL de hemácias fetais; pode ser utilizado em até 28 dias com algum efeito protetor.
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