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Farmacologia João Vitor Duarte - 144 ANTI-INFLAMATÓRIOS • Podem ser: não esteroides (AINES) ou esteroides (corticoides); • Os corticoides têm uma base estrutural comum: o núcleo ciclopentanoperidrofentano; • Já os AINES são vários fármacos com ações semelhantes, mas sem relação estrutural comum. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES • Atividade anti-inflamatória, analgésica e antipirética; • Não são hipotérmicos, mas sim antipiréticos; • Compartilham a habilidade de inibir a COX, reduzindo a produção de prostanoides; • Quando se reduz a atividade da via da COX, aumenta-se o substrato (AA) p/ outras vias, como a dos leucotrienos; • Nenhum deles é curativo – são todos paliativos! • Não produzem qualquer tipo de resistência ou dependência • Usado em artropatias crônicas mas também em afecções inflamatórias mais agudas; • Alívio apenas de dor leve a moderada (ex: dores pós-operatórias, odontológicas e menstruais, cefaleias e enxaqueca); SALICILATOS 1. AAS (Aspirina); • Derivada do ácido salicílico; • Boas ações anti-inflamatória, analgésica e antipiréticas; • Entretanto, o uso como anti-inflamatório é obsoleto (pois só é AI em altas doses); • Inibe indistintamente COX-1 e COX-2; • Atualmente, é mais usado como preventivo de distúrbios cardiovasculares, porque? O AAS é o único entre os AINEs capaz de se ligar (e inativar) irreversivelmente a COX. Os outros AINEs (e salicilatos) são inibidores reversíveis. Em doses baixas, o AAS é seletivo para a COX-1. É nessas doses que é usado como preventivo de distúrbios cardiovasculares. Como se dá esse efeito? O TXA2 aumenta a agregação plaquetária, enquanto a PGE2 a reduz. Doses baixas de AAS inibem irreversivelmente a produção de TXA2 nas plaquetas. Como as plaquetas não possuem núcleo, elas não podem sintetizar novas enzimas, e a falta de TXA2 persiste durante a vida da plaqueta (3 a 7 dias). Como resultado da diminuição de TXA2 a, aglutinação plaquetária (o primeiro estágio da formação do trombo) é reduzida, produzindo um efeito anticoagulante com aumento do tempo de sangramento. Além disso, o AAS também inibe a COX nas células endoteliais, diminuindo a formação de PGE2 (antiagregante); porém, células endoteliais possuem núcleo capaz de ressintetizar a COX. Por isso, a PGE2 continua disponível para ação antiplaquetária. Farmacologia João Vitor Duarte - 144 2. Ácido salicílico • É usado há pelo menos 2400 anos. Entretanto, causava diversos efeitos colaterais, sobretudo no TGI; • Por isso, a Bayer produziu o AAS como substituto menos irritante; • Uso atual: tem efeito ceratolítico e é usado topicamente no tratamento de calosidades, verrugas, etc. 3. Diflunisal • Efeito analgésico e anti-inflamatório 3 a 4x mais potente do que o AAS; • Sem atividade antipirética, pois não atravessa a BHE. ❖ Efeitos Adversos dos Salicilatos a) Efeitos Gastrintestinais: A prostaciclina (PGI2) inibe a secreção de ácido gástrico, enquanto a PGE2 e a PGF2α estimulam a síntese de muco protetor no estomago e no intestino delgado. Na presença de AAS, esses prostanoides não são formados, resultando no aumento da secreção acida e na diminuição da proteção da mucosa. Isso pode causar lesão epigástrica, ulceração, hemorragia e anemia por deficiência de ferro. Fármacos usados para a prevenção de úlceras gástricas e/ou duodenais incluem o misoprostol e os inibidores de bomba de prótons (iBP), como omeprazol; os IBPS são especialmente apropriados se o paciente precisa de tratamento continuado com AINEs. O AAS deve ser administrado acompanhado de alimentos e grande volume de líquido para reduzir a dispepsia. Adicionalmente, o misoprostol ou um iBP pode ser administrado ao mesmo tempo. b) Distúrbio do Equilíbrio Hidroeletrolítico (acidose respiratória/metabólica) Em doses terapêuticas o AAS aumenta a ventilação alveolar. (Nota: os salicilatos desacoplam a fosforilação oxidativa, o que eleva o CO2 e aumenta a respiração.) Doses mais elevadas agem diretamente sobre o centro respiratório no bulbo, resultando em hiperventilação e alcalose respiratória que, em geral, é adequadamente compensada pelos rins. Em níveis tóxicos (salicilismo), ocorre paralisia respiratória central, e se estabelece uma combinação de acidose respiratória e metabólica não compensada devido à produção continua de CO2. c) Efeitos no Sangue Inibição da agregação plaquetária e prolongamento do tempo de sangramento. Por esse motivo, o AAS não deve ser administrado por pelo menos uma semana antes de uma cirurgia. Quando são administrados salicilatos é necessário diminuir a dosagem de anticoagulantes. d) Efeito Renal Os inibidores da COX impedem a síntese de PGE2 e PGI2, - prostaglandinas responsáveis pela manutenção do fluxo sanguíneo renal. A diminuição da síntese de PG’s pode resultar na retenção de sódio e água, podendo causar edema e hiperpotassemia em alguns pacientes. DERIVADOS INDÓLICOS e DO ÁCIDO ACÉTICO (no slide da profª, derivados indólicos) • Indometacina e Sulindaco (derivados do indol); Diclofenaco (derivado do acético); • Têm efeitos anti-inflamatório, analgésico e antipirético; mas, em geral, não usados como antitérmico. • A toxicidade da indometacina limite o seu uso no tratamento da artrite gotosa crônica; • Diclofenaco é mais potente do que a indometacina ou naproxeno. • Efeito adverso: ↓ Motilidade dos PMN DERIVADOS DO ÁCIDO PROPIÔNICO • Ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, etc; • Todos possuem atividade anti-inflamatória, analgésica e antipirética; • Efeito adverso: ↓ Migração leucocitária ❖ Os fármacos coloridos de laranja no quadro – fenamatos, derivados pirazolônicos e derivados do para- aminofenol – têm forte atividade analgésica e antipirética, mas tem baixa ação anti-inflamatória! Vamos detalhar um pouco cada um deles... Farmacologia João Vitor Duarte - 144 • O ácido mefenâmico (usado em cólicas), a dipirona e o paracetamol são analgésico não-narcóticos (não induzem sono); 1. Derivados da Pirazolona: • Dipirona, Fenilbutazona, Oxifenilbutazona, Feprazona, etc; • ↓ atividade anti-inflamatória; • Efeitos adversos: agranulocitose e anemia aplástica (produção de hemácias defeituosas). 2. Fenamatos: • Ácido mefenâmico (usado em cólicas) e ácido meclofenâmico; • ↑ Atividade analgésica; • Além de inibir a formação de PG’s pela inibição da COX, antagonizam receptores de PG’s (causa do efeito fortemente analgésico); 3. Paracetamol: • Inibe a síntese de PG’s no SNC – razão das ↑ propriedades antipiréticas e analgésicas; • Menor efeito sobre a COX de tecidos periféricos – razão da ↓ atividade anti-inflamatória; • Por causa dessa menor ação periférica, também não altera a função plaquetária e o tempo de coagulação; • Efeitos adversos... (relacionados ao metabolismo): HEPATOTOXICIDADE Em circunstâncias normais, o paracetamol é conjugado no fígado formando glicuronídeo ou sulfatos – metabólitos inativos. Uma parte é hidroxilada para formar N-acetilbenzoiminoquinona - metabólito altamente reativo e potencialmente perigoso que reage com os grupos sulfidrila. Em dosagens normais de paracetamol, a N-acetilbenzoiminoquinona reage com a glutationa, formando uma substância não tóxica. Em altas dosagens de paracetamol, a glutationa disponível no fígado se esgota, e a N- acetilbenzoiminoquinone reage com as proteínas hepáticas formando ligações covalentes. Pode ocorrer necrose hepática, uma condição muito grave e potencialmente fatal. Também pode ocorrer necrose tubular renal. • “Antídoto do paracetamol”: administração do antioxidante N-acetilcisteína que contém grupos sulfidrila aos quais o metabólito tóxico pode ligar-se pode salvar a vida do paciente quando realizada dentro de 10 horas da dosagem excessiva. • OBS: há a hipótese de que há uma isoforma COX-3 especialmente no SNC, e que o paracetamol, dipirona, e etc teriam efeito nela! Por isso o baixo efeito anti-inflamatório periférico e a ausênciade grandes efeitos adversos gástricos e plaquetarios. Essa hipótese carece de estudos. Estudos mais antigos consideram que o paracetamol é um inibidor discretamente seletivo da COX-2. INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 Significa que têm ligação preferencial pela COX-2; 1. Nimesulida • Boa atividade anti-inflamatória, analgésica e antipirética; • Inibidor preferencial da COX-2: afinidade para a COX-2 é 5 a 16 vezes superior relativamente à COX-1, enquanto a afinidade dos inibidores altamente seletivos é de 400-800 vezes superior; • Incidência muito baixa de efeitos colaterais adversos, sobretudo no TGI; • Em estudos de toxicidade de dose repetida, apresentou toxicidade hepática, renal e gastrointestinal; 2. Oxicans (é um grupo) • Meloxicam e Piroxicam; • Meloxicam apresenta uma seletivade para inibição da COX-2 em comparação com a COX-1 de 10 vezes; • Por isso, apresenta menos efeitos colaterais em relação aos não-seletivos da COX; • OBS: a professora incluiu no slide o grupo de oxicans como seletivos para a COX-2, mas o Piroxicam é NÃO- SELETIVO. INIBIDORES ALTAMENTE SELETIVOS DA COX-2 (COXIBES) • Afinidade pela COX-2 é de 400 a 800 vezes maior do que pela COX-1; • Celecoxibe e Etoricoxibe; • As recomendações atuais restringem o uso dos coxibes a pacientes para os quais o tratamento com AINEs convencionais traria uma probabilidade alta de efeitos adversos gastrintestinais sérios. Entretanto, os Farmacologia João Vitor Duarte - 144 distúrbios gastrintestinais ainda podem ocorrer pois a COX-2 está envolvida no fechamento de úlceras preexistentes. • Prescritos sob análise de risco cardiovascular! Algumas pessoas apresentam problemas cardiovasculares... É preciso lembrar que também há COX-2 constitutiva. Um dos locais onde essa COX-2 está presente é nos rins, modulando funções hemodinâmicas e excretoras. As PG’s renais são sobretudo vasodilatadoras e natriuréticas. A biossíntese de prostaglandinas é baixa em condições basais. No entanto, quando são liberados vasoconstritores (p. ex., angiotensina II, norepinefrina), a PGE2 e a PGI2, modulam seus efeitos sobre o rim, causando vasodilatação compensatória. Os AINEs aumentam a pressão arterial nos pacientes tratados de hipertensão por comprometerem a vasodilatação mediada por PG’s e a eliminação de sal (exacerbam a retenção de sal e água). A explicação mais plausível é que a hipertensão advém da inibição da COX-2 na região da mácula densa renal secretora de renina. COMENTÁRIOS ADICIONAIS SOBRE FARMACOCINÉTICA, EFEITOS COLATERAIS E EFICÁCIA • Em geral, os fármacos aqui trabalhados têm boa absorção via oral, pois são ácidos orgânicos fracos; • Em relação à distribuição: se ligam à albumina, mas a % de ligação é bem variável entre os AINEs; o tempo de meia-vida reflete justamente essa maior ou menor % de ligação; • IMPORTANTE: em termos de eficácia (efeitos produzidos), os medicamentos (nimesulida, meloxicam, celecoxibe, refecoxibe, etc...) não têm diferença em relação ao AAS. A diferença está relacionada sobretudo ao tempo de meia-vida, potência, efeitos adversos, etc! (ex. é preciso doses altas de AAS para fazer efeito equivalente ao de fármacos mais modernos, como o celecoxibe). • Alguns autores relacionam o uso de AINEs ao aumento de reações anafiláticas. Isso pode que estar relacionado ao fato de que a inibição da COX aumenta a disponibilidade de substrato para a LOX produzir leucotrienos (relacionados à reação anafilática e broncoconstrição); • Pode haver inibição da motilidade uterina. Por isso, nas mulheres pré-parto, usa-se dipirona e paracetamol, tendo em vista o fato de que eles têm menos efeitos periféricos (hipótese da COX-3).
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