Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Bases e Distúrbios da Cicatrização INTRODUÇÃO • Ferida: o Lesão do tecido em decorrência de trauma mecânico, físico ou térmico o Toda cicatrização se inicia decorrente de uma lesão em algum tecido → Aqui falaremos basicamente da lesão da pele, mas qualquer ferida de qualquer tecido vai obedecer ao mesmo processo (independente se for um trauma mecânico, físico ou químico) • Cicatriz: o Todas as vezes que nosso organismo tenta restaurar uma ruptura de algum tecido vai restar uma cicatriz ▪ Cicatriz → Tentativa biológica de restaurar a integridade do tecido através de uma série de eventos sincronizados e integrados, os quais levam à formação de um tecido fibroso de textura e elasticidade diferente do tecido são o Comum a todas as feridas o Diretamente relacionado às condições gerais do organismo o Cascata de eventos celulares, moleculares e bioquímicos que interagem e estimulam aglomerados celulares envolvidos para que se ocorra reconstituição tecidual PELE • Anatomia da pele: o A pele é formada por 3 camadas (epiderme, derme e hipoderme) o É o maior órgão do corpo o Além de recobrir e proteger todo o corpo, é um órgão que tem grande resistência e flexibilidade o Grande capacidade renovadora e de reparação o Causa um certo grau de impermeabilidade, principalmente pela camada mais superficial, que é a epiderme o É responsável por manter um equilíbrio com o meio externo o Tem aproximadamente 2m² o A espessura vai variar de acordo com a área do corpo, podendo ser extremamente delgada até muito espessa ▪ Delgada como a pele existente nas pálpebras, onde praticamente nãos e encontra derme e subcutâneo ▪ Muito espessa como a pele do dorso, onde a dimensão da derme é bem espessa ▪ Essa espessura vai varias de 0,5 a 3mm ▪ Sofre influência do tempo → Mais delgada na infância e na velhice ❖ Na criança é mais firme, com uma qualidade de colágeno melhor ❖ No idoso, a pele é pobre em derme e rompe com facilidade o Tem grandes funções e funções vitais para o ser humano PROFA. PATRÍCIA LYRA 2 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ É responsável pela proteção contra agressão do meio externo, contra raios UV e contra agentes microbianos e também tem uma capacidade imunológica, pois estimula a atividade imunológica do organismo a partir de células de defesa presentes (estímulo das células de Langerhans) o Contém corpúsculos sensoriais, que são responsáveis pela percepção de tato, de calor, de frio etc. o Auxilia na hemorregulação e na termorregulação (Ex.: Suor) o Responsável pela secreção e excreção de glândulas sebáceas e sudoríparas o Importante na metabolização de algumas substâncias, que vão culminar em mecanismos de vasodilatação e vasoconstrição ESTRUTURA E FISIOLOGIA • Epiderme: o Camada mais externa da pele o É basicamente formada por tecido epitelial estratificado, onde as principais células são os queratinócitos, que vão variar de acordo com a camada em que se encontram o Camada basal: ▪ A epiderme tem na sua porção mais inferior, junto à derme, a camada basal, que é rica em células troncos por ter grande capacidade de replicação, por isso também é chamada de célula germinativa ▪ Tem intensa atividade mitótica 3 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ No geral é formada por uma única camada, que está extremamente ligada a derme na junção dermo- epiderme pelas cristas epidermais ▪ Os queratinócitos dispostos aqui têm grande capacidade de multiplicação ▪ Além dos queratinócitos, encontramos nessa camada os melanócitos (células extremamente importantes, porque é a partir da atividade delas que a melanina, substância que dá cor à pele, é sintetizada e liberada pelos seus prolongamentos) ❖ De acordo com a atividade do melanócito, a capacidade de produzir essa melanina, é que torna o indivíduo com uma cor mais melânica ou menos melânica ❖ Se alguém não tem capacidade de produzir a melanina, culmina num indivíduo albino o Camada espinhosa: ▪ Acima da camada basal, encontramos a camada espinhosa, também formada por queratinócitos, que foram sofrendo modificações morfológicas e moleculares, passando para uma forma mais poligonal, com citoplasma mais acidófilo, rica em desmossomos (que vão garantir a junção de uma célula a outra) ❖ Quando olhado ao microscópio, dá impressão que tem vários espinhos, por isso é chamada de camada espinhosa ou de Malpighi ❖ A partir das células da camada basal, as células vão surgindo, se multiplicando e evoluindo. Os queratinócitos vão sofrendo modificações até chegar na camada mais externa do nosso organismo o Camada granulosa: ▪ Acima da camada espinhosa, temos a camada granulosa, que é formada por células repletas de grânulos (por isso camada granulosa) ▪ As células também sofreram modificação no citoplasma, que passa a ser rico em queratina hialina ▪ Tem grande capacidade metabólica e é onde começa a corneificação da pele o Camada córnea: ▪ A partir do momento que se passa a ter a corneificação, as células vão se tornando cada vez mais ácidas, mais achatadas e começam a formar a camada córnea ▪ É formada por células no geral sem núcleo, a partir da apoptose das células da camada granulosa, onde há a destruição do núcleo e de algumas organelas citoplasmáticas → Então se passa a ter uma célula morta e rica em queratina 4 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o As células mais importantes que vamos encontrar na epiderme e que vão fazer toda uma diferença na cicatrização são os queratinócitos, os melanócitos, as células de Langerhans e as células de Merkel o Lembrando que a epiderme é formada a partir do tecido ectodérmico e como já foi dito existem cristas que vão mergulhar na epiderme, muitas delas vão recobrir os pelos ▪ A camada basal está na epiderme e é a partir dessa camada basal que recobre os anexos, principalmente o folículo piloso, é que vai haver a possibilidade de uma regeneração celular ❖ Isso fica claro quando o paciente é vítima de queimadura e mesmo perdendo toda a porção de epiderme, ele consegue, a partir dos brotos remanescentes que recobrem os pelos, restaurar toda a pele do local • Derme: o Abaixo da epiderme, encontramos a derme o É formada por 2 camadas, camada reticular e camada papilar ▪ A camada papilar é uma camada mais superficial, fica logo abaixo das papilas dérmicas. No geral é constituída por um tecido conectivo frouxo ▪ A camada reticular é mais profunda e é constituída por tecido conjuntivo muito mais denso o Todas as camadas da derme são altamente ricas em fibras elásticas e colágenas, isso que dá a capacidade elástica à pele o Na derme também temos células que são muito importantes para a cicatrização, principalmente os fibroblastos o Também na derme vamos encontras vasos sanguíneos, músculos e terminações nervosas ▪ As terminações nervosas vão se difundir a partir da derme até a epiderme, sendo responsáveis, junto com os corpúsculos sensoriais, pelas sensações de tato, frio, calor, pressão e vibração ❖ Num enxerto, quanto maior a espessura da derme que eu levar, menor vai ser a perda de sensação nos locais da área receptora o As principais células da derme são os fibroblastos, mas não existem só eles 5 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Ali também vamos encontrar fibrócitos, macrófagos, linfócitos, plasmócitos etc. ▪ Dentre essas, os fibroblastos são mais importantes porque a partir deles que vai haver a produção das fibras colágenas e elásticas, além da substância fundamental presente na derme CICATRIZAÇÃO • Como a pele cicatriza? o A cicatrização nunca ocorre da mesma forma, mas as fases pela qual uma cicatriz inicialé são as mesmas, quanto tempo vai levar as fases é que pode ser diferente • Fases da cicatrização: o Uma cicatrização padrão/normal, no geral, envolve 3 fases ▪ Fase inflamatória ou inicial ▪ Fase proliferativa ou de fibroplasia ❖ Formação de brotos vasculares, que vai culminar com a granulação ❖ Epitelização da ferida → Forro da ferida, como se fosse um tapete de células (para ↓ ou impedir a comunicação do meio externo com o meio interno) ❖ Contração da ferida (onde os fibroblastos vão atuar) ▪ Fase de envelhecimento, maturação ou remodelação FASE INFLAMATÓRIA • Fase inicial: o Tem início imediatamente após a ferida o Logo após a disjunção / perda da integridade do tecido, o organismo tende a responder de 2 formas 6 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Se rompeu o tecido com exposição celular e exposição de colágeno, lesou a derme e houve lesão de vaso sanguíneo → O organismo entende que tem que parar esse sangramento (controle da hemostasia) ▪ Então, inicialmente o organismo responde com uma vasoconstricção transitória, que por sua vez vai evoluir para uma vasodilatação e é a partir daí que vai ocorrer todo o mecanismo inflamatório o Hemostasia (vasoconstrição) → Inflamação (vasodilatação) • Lesão tecidual: o Uma vez que o colágeno foi exposto pela lesão, vai haver ativação do sistema de coagulação e complemento o Isso vai estimular uma aderência plaquetária com degranulação e liberação de substâncias vasoativas e quimiotáxicas (como cininas, leucotrienos, fatores de crescimento, prostaglandinas etc.) • Vasodilatação: o Por sua vez, essas substâncias vão provocar uma vasodilatação, levam ao aumento da permeabilidade vascular e à migração de leucócitos por diapedese, promovendo um extravasamento de líquido do meio intravascular para o meio extravascular e migração de células (primeiramente os polimorfonucleares) para o meio extracelular, na tentativa de iniciar a limpeza da ferida (se for uma ferida suja) ▪ Se for uma ferida limpa (como uma ferida cirúrgica), não é necessária essa limpeza ▪ Embora os neutrófilos (PMN) sejam as primeiras células a chegarem na ferida, elas só vão ser necessárias se houver necessidade de limpeza ▪ Essa resposta vai ser diretamente proporcional ao dano causado no tecido → Se eu tenho um trauma muito grande, vai haver um efeito de vasodilatação muito grande e uma grande migração de PMN para o meio externo para favorecer o início da limpeza dessas feridas • Ativação do sistema de coagulação: o A cicatrização é um processo dinâmico → Ao mesmo tempo que os neutrófilos migram para promover a limpeza, ele também vai liberar substâncias quimiotáxicas, estimulando o processo de controle de hemostasia ▪ A partir da conversão da protrombina em trombina, que por sua vez vai converter o fibrinogênio em fibrina ▪ É assim que vai ser formada a fibrina, que é uma rede que serve de alicerce para a migração de outras células, como os macrófagos e os fibroblastos, para atuarem no processo de cicatrização 7 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Sem essa rede de fibrina, há uma inibição da cicatrização • Macrófagos: o No geral, a partir de 24-36h, atraídos pelas substâncias liberadas pela degranulação da plaqueta, como os fatores de crescimento (fator de crescimento de necrose tumoral beta e fator de crescimento derivado de plaqueta), os monócitos passam a migrar dos vasos sanguíneos e se transformam em macrófagos ▪ Os macrófagos são as principais células da cicatrização, os maestros da cicatrização ❖ Vão completar a limpeza local a partir do processo de fagocitose das bactérias ❖ Vão coordenar a migração dos fibroblastos ❖ A partir da liberação de substâncias vasoativas, também há um estímulo da angiogênese (principalmente pelo TNF-α, FGF e TGF-β) ▪ Nessa fase a limpeza está quase completa e passa-se a observar, através de estímulos de interleucina I e complementos, a presença de linfócitos na ferida (são as últimas células a chegar ❖ O problema é que elas chegam quando já está tudo limpo e com o ambiente controlado, então sobre a função delas não sabemos explicar se elas vão atuar promovendo um reequilíbrio ou garantindo um aumento da imunidade local caso haja perpetuação de algum microrganismo o O macrófago já atuou nessa área, então houve muita destruição celular, o que encontramos nesse meio é uma ferida em que houve grande catabolismo, então é uma área extremamente acidótica, onde houve um gasto energético muito grande com consumo de oxigênio, então tem hipoxemia (muitas células mortas), hipercalêmico, hipercárbico e altamente rico em ácido lático ▪ Tem-se uma hipóxia local muito grande e todas essas características do ambiente, que consequentemente vão estimular a migração celular, a liberação de fatores angiogênicos e a produção de colágeno ▪ É necessário criar um ambiente capaz de melhorar a situação e trazer oxigênio para esse tecido → Para isso é preciso chegar sangue, nutrientes e oxigênio o Então, essa fase inicial começa a ter fim e passamos para uma segunda fase • Fase inflamatória x Clínica: o Essa fase é tão marcada que é muito fácil clinicamente observar quando uma ferida está na fase inflamatória o Lembrando que temos incialmente uma vasoconstrição depois uma vasodilatação o A vasodilatação vai levar ao aumento da permeabilidade vascular, então terá extravasamento de líquido do meio intravascular para o meio extracelular, levando à migração de leucócitos ▪ Célula + líquido no local → Edema, calor, dor e rubor (clinicamente a fase inflamatória se apresenta assim) ❖ O calor local ocorre pela vasodilatação, extravasamento de líquido e migração de células) ❖ Essa migração de células e formação de exsudato gera distensão dos tecidos → Dor 8 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 FASE PROLIFERATIVA A partir da fase inflamatória, o meio fica muito acidótico e com pouca oxigenação celular e é preciso resolver isso, então tem início a segunda fase da cicatrização, a fase proliferativa. • Fase proliferativa: o A fase proliferativa também é composta por outras fases, onde vamos ver: ▪ Formação dos brotos capilares pelo estímulo da angiogênese ▪ Formação de tecido de granulação (melhorando o fluxo de oxigênio e nutrientes para o local) ▪ Deposição de colágeno ▪ Epitelização da ferida o No geral, tem início ao redor do 4º dia após a lesão e se estende até o final da 2ª semana → Dependendo da área acometida • Angiogênese: o Vão começar a aparecer na ferida os fibroblastos, que vieram atraídos das bordas da ferida por quimiotaxia, a partir de mediadores inflamatórios que foram liberados por plaquetas, leucócitos e macrófagos ▪ A angiogênese é estimulada pelos fatores de necrose tumoral alfa (TNF-α) e beta (TNF-β), bradicinina e prostaglandinas o Os fibroblastos vão se movimentar dirigindo a partir da rede de fibrina (serve de anteparo) até que haja o recobrimento da área ▪ Os fibroblastos são de suma importância, porque vão promover uma secreção de colágeno que é peça chave da matriz extracelular o Essas migrações celulares vão ser possíveis a partir do controle local do pH, da oxigenação etc. e que só é possível a partir da formação dos brotos vasculares → Esses brotos vão iniciar a reposição dos vasos locais o Então, a partir da degranulação das plaquetas, com a liberação dos fatores de crescimento, e da migração de macrófagos, que também liberam esses fatores, há um grande estímulo à proliferação desses brotos vasculares ▪ Com isso, os vasos vão migrando através do tecido lesado, melhorando a oxigenação, tornando o ambiente menos acidótico, menos hipóxico, com menor produção local de ácido lático (atua na produção do colágeno) o A angiogênese se estende a partir do 4º diae, dependendo do tamanho da lesão, até 2 a 3 semanas • Tecido de granulação: o Esses brotos vasculares formados vão dar origem por sua vez ao tecido de granulação ▪ Esse tecido de granulação é um tecido altamente risco em brotos vasculares e dá um sinal de que o meio já é capaz de seguir com o processo de cicatrização o Se já tem tecido de granulação, mas a área é muito grande: 9 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Tem-se a opção de deixar fechar com segunda intenção → Mas vai levar um tempo muito grande para haver o fechamento dessa ferida a partir de brotos de tecido epidérmico que possa ter restado na base dos pelos ou a partir da migração celular de fibroblastos da borda da ferida até o centro ▪ Devo considerar como alternativa se vale a pena enxertar o Então, temos que tomar a decisão entre enxertar a ferida, tentar fechar por primeira intenção retardada (no caso de ferida menor) ou se fecha a lesão de uma vez • Fibroplasia: o Principais células da fase proliferativa → Fibroblastos e células endoteliais o Os fibroblastos aparecem a partir do 2º-3º dia → Predominância celular no final da primeira semana o Os fibroblastos dos tecidos vizinhos migram para a ferida o Então, nessa fase de fibroplasia, já tem o tecido formado, as células endoteliais já estão lá, os fibroblastos já estão migrando e também já estão funcionando ▪ Ao mesmo tempo que os fibroblastos migram eles entendem que precisam reestabelecer a estrutura da matriz, com isso há uma grande síntese de colágeno (função primordial dos fibroblastos) ▪ Até o 21º dia, então, a produção de colágeno é elevadíssima (ela continua depois mas muito menos), porque o organismo entende que tem que restaurar o equilíbrio da matriz dérmica 10 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Nessa situação, há uma grande produção de colágenos do tipo I e III, mas também haverá tipo II e tipo IV, mudando as características de acordo com o tipo de cicatrização ▪ Inicialmente há uma produção muito grande de colágeno, principalmente o tipo III, que depois acaba se convertendo para tipo I (é isso que muda a característica da cicatriz local) ▪ Isso ocorre porque o nosso organismo visa o equilíbrio dinâmico, produz o colágeno em excesso e depois para a produção e degrada para poder chegar no equilíbrio ▪ É a partir disso que a cicatriz começa a se tornar forte ▪ Embora possa haver uma restauração total da pele, a força daquele tecido lesado nunca mais vai ser a mesma, só se recupera cerca de 80% da força do tecido original o PDFG → Fator de crescimento mais importe na proliferação e ativação dos fibroblastos o TGF-β estimula os fibroblastos: ▪ Produção de colágeno tipo I ▪ Transformação em miofibroblastos → Contração de ferida o Além dos fibroblastos, também vamos encontrar os miofibroblastos, que são extremamente importantes porque têm características de musculatura lisa → Relação com a contração da ferida ▪ A contração da ferida é uma coisa esperada e desejada ▪ A contratura, que é um excesso/excedente decorrente dessa contração, é o que a gente não espera e pode levar a uma cicatriz patológica o O colágeno é a peça-chave da matriz extracelular → Vai ser o grande responsável pela sustentação e pela força tensil da cicatriz ▪ O colágeno é formado por 2 aminoácidos em cadeia tripla (a hidroxiprolina e a hidroxilisina) ❖ A partir de alterações na estrutura da cadeia também podemos ter alteração não só na cicatriz, mas também no tipo pele ❖ Pessoa que tem pouca hidroxilisina → Pode acabar concorrendo com déficit celular, pode levar a uma certa flacidez celular, a pele passa a não ter a mesma tensão/firmeza de uma pele normal. Com isso, o indivíduo pode culminar com uma Síndrome de Ehlers-Danlos (pele frouxa/flácida) • Epitelização: o Nessa fase, os fibroblastos já atuaram, estão migrando da periferia para o centro numa atuação da força centrípeta e estão ajudando a diminuir a ferida fazendo uma contração dela até que chega na epitelização o A epitelização celular vai levar a uma restauração da integridade inicial do tecido, com isolamento dos meios interno e externo o Com isso, há uma diminuição da penetração de bacterianas (↓ possibilidade de infecção na ferida) e da perda volêmica (para de perder líquido para o meio ambiente) o Ainda mantém atividade mitótica muito intensa, porque é preciso manter essa epitelização e fortalecer a pele ▪ Nesse momento é visto um espessamento da epiderme às custas da intensa atividade mitótica no local a partir da proliferação de células da camada basal ▪ Se eu tenho a camada basal funcionando de forma adequada, se ela está íntegra, se a ferida está limpa e se eu tenho um meio que favorece a migração celular (rede de fibrina, exsudato, superfície úmida com uma população bacteriana controlada...) → A lesão tende a cicatrizar de forma rápida e contínua 11 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Porém, se mantém uma atividade mitótica muito elevada na tentativa de restaurar o tecido, pode haver uma multiplicação desordenada e levar a uma atividade carcinogênica, culminando com a formação de um tecido neoplásico (como ocorre no carcinoma espinocelular) a partir da evolução longa de uma ferida FASE DE MATURAÇÃO Se é feita a epitelização completa da ferida, passa para a última fase da cicatrização, que é a fase de maturação. • Fase de maturação: o Caracteriza-se pela contração e remodelação da ferida o Tem grande atuação dos miofibroblastos, que vão promover a contração o Geram uma diminuição no tamanho e aumento da espessura da ferida • Contração da ferida: o É possível observar quando deixa a ferida cicatrizar por segunda intenção o Movimento centrípeto de toda a espessura da pele circundante → As células vão migrar das bordas da ferida para o centro o As células vão migrando e só deixam de migrar quando uma célula tocar na outra (“fechar a ferida”), quando elas voltam a se multiplicar, para poder aumentar a espessura da ferida o Importante em feridas abertas → É vista a atuação da contração quando deixa elas fecharem por 2ª intenção o A partir do 21º dia numa ferida de evolução normal, começa a cair a síntese de colágeno, então o organismo começa a entrar num equilíbrio entre síntese e degradação do colágeno ▪ Se essa degradação e essa síntese ocorrem de forma correta → Cicatriz normal ▪ Se há desequilíbrio entre síntese e degradação (fibroplasia x colagenólise) → Cicatrizes patológicas (queloide, cicatrizes hipertróficas, cirrose e esclerodermia) • Remodelação: o A característica mais importante dessa fase é a deposição de colágeno de maneira organizada ▪ À medida que vai passando o tempo, essa ferida vai remodelando, porque a partir da colagenase vai havendo uma troca/substituição do colágeno → Se há um desequilíbrio disso gera problema o A maturação tem início durante a 3ª semana o O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o colágeno presente na pele normal, e tem orientação paralela à pele o Fibroblastos e leucócitos secretam colagenases que promovem a lise da matriz antiga o O colágeno inicial (colágeno tipo III) é reabsorvido e um colágeno mais espesso (I) é produzido e organizado ao longo das linhas de tensão o Aumento da força tensil da ferida → Embora nunca mais vá atingir a força inicial o Equilíbrio entre a síntese da nova matriz e a lise da matriz antiga 12 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Maturação: o Remodelação do colágeno → Número de fibroblastos diminui e colágeno tipo III é substituído pelo tipo I o Regressão endotelial o Cicatriz torna-se menos espessa, menos endurada e passa de coloração rosada para esbranquiçada → Passa a ter uma coloração mais próxima ao tecido inicial porque, como toda aparte de catabolismo inicial presente no processo inflamatório foi controlada, haverá uma redução de estímulo a novos brotos vasculares CONCLUSÃO DAS ETAPAS DO REPARO DE FERIDAS • Seguimento: o Espera-se que todo o processo esteja concluído no período de 21 dias → Se passou disso e está se arrastando, vamos tentar intervir de forma a estimular a diminuir o tempo de reparo dessa ferida ▪ É possível atuar de acordo como a ferida se mostra o A partir disso que se define o tipo de curativo que vou escolher para o paciente, por exemplo: ▪ Se está na fase inicial (migração celular, extravasamento de líquido do meio intravascular no meio extracelular), a ferida está muito exsudativa → Podemos usar um curativo para diminuir esse exsudato, manter umidade na ferida, mas sem excedente, que pode levar a uma proliferação bacteriana ▪ Se já tem broto vascular, mas está muito seca, isso dificulta a migração de fibroblastos → Usa-se um curativo que estimule uma certa umidade, umidade controlada para permitir a migração dessas células TIPOS DE CICATRIZ • Apresentação da ferida: o A ferida pode se apresentar de algumas situações Etapas do reparo de ferida 13 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Quando ela chega direto de um trauma inicial → Há a possibilidade de tratar ela com a limpeza local, o controle da hemostasia e uma sutura local (isso vai propiciar uma cicatrização dentro dos 21 dias, então uma cicatrização primária, de primeira intenção) ▪ Podemos também nos deparar com uma ferida no qual há uma condição de infecção local ou de pouco tecido de granulação, que não permita fechar inicialmente → Faz-se a limpeza da ferida e o controle de exsudato até que melhore o catabolismo inicial da reação inflamatória e surjam brotos vasculares, que é o tecido de granulação ❖ O tecido de granulação é a garantia de que se agora for feito o fechamento primário (que foi retardado), a ferida não irá abrir de novo ▪ Pode também ocorrer de um paciente estar em casa com lesão a um tempo (Ex.: Úlcera não tratada) e chega no serviço com tecido de granulação pobre → Tem a opção de não fechar (se é um ambiente que não sabe fazer enxerto ou retalho) e deixar cicatrizar por segunda intenção (sabendo que vai levar + de 21 dias) ❖ Demora para as células migrarem das bordas da ferida para o centro → A cicatrização pode levar meses até anos para fechar • Tipos de cicatriz: o Primária (primeira intenção) o Fechamento primário retardado o Secundária (segunda intenção) FATORES QUE INFLUENCIAM A CICATRIZAÇÃO Veremos primeiro os fatores que influenciam a cicatrização, e depois, sabendo deles, falaremos de como podemos intervir em algumas situações. • Fatores sistêmicos: o Idade → A qualidade da pele do idoso, da criança e do adulto são diferentes ▪ As crianças têm um alto metabolismo, então no geral elas cicatrizam muito rápido. E, justamente por esse metabolismo rápido, há uma grande chance de desequilíbrio entre síntese e degradação de colágeno, evoluindo para uma cicatriz patológica (queloide ou cicatriz hipertrófica) o Diabetes Mellitus → Pacientes com DM têm dificuldade de cicatrização e, no geral, têm problema na vascularização ▪ Por conta disso, os locais mais acometidos, que são os MMII, que têm uma cicatrização por si só já reduzida, são os que mais que mais sofrem nesses pacientes ▪ Feridas abertas em pacientes diabéticos costumam cursar com dificuldade de cicatrização Primária x Fechamento primário retardado x Secundária 14 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Desnutrição (hipoproteinemia, deficiência de vitamina C, vitamina A, cobre, ferro e zinco) → Essas substâncias podem auxiliar ou atrapalhar a cicatrização o Sepse → O paciente já tem um catabolismo grande no local da cicatrização, juntando com o catabolismo da sepse, terá um atraso na cicatrização o Distúrbio de coagulação → Se tem um distúrbio que impeça a cascata de coagulação de ir para frente haverá um problema na cicatrização o Radioterapia → Vai promover o fechamento dos vasos, edema local e grande dificuldade cicatricial (a pele fica inelástica) o Câncer e caxia → Tem um grande consumo, então vão apresentar dificuldades na cicatrização o Obesidade o Imobilidade → Pacientes que não se locomovem e mantêm uma grande pressão sobre a ferida dificilmente têm uma cicatrização naquele local o Drogas • Fatores locais: o Técnica cirúrgica (bordas não coaptadas, tensão na cicatriz, deiscência da sutura) o Infecção → Já há catabolismo local decorrente da reação inflamatória, se há uma infecção e população bacteriana no local, o processo de limpeza (atuação do macrófago) será retardado (pode estender por 7d) o Corpo estranho → Se não houver cuidado de promover a limpeza correta retirando o corpo estranho, também haverá dificuldade pois vai manter a fase inflamatória na tentativa de limpeza da ferida o Isquemia e estase venosa → Dificuldade de sangue chegar, mantém o catabolismo local por mais tempo, postergando o processo inflamatório o Mobilidade excessiva local (articulações) • Técnica cirúrgica: o Podemos intervir na técnica cirúrgica o Quando for dar um ponto, observar se as bordas da ferida estão bem coaptadas o Se recebo um paciente que tem tecido necrótico nas bordas da ferida, devo debridar para retirar esse tecido desvitalizado o Devo promover uma boa hemostasia (controle do sangramento local da ferida) → Terá um extravasamento menor, com menor possibilidade de acúmulo de sangue no leito da ferida, então menor chance de formação de hematoma ou de infecção local o Devo fazer pontos de forma que deixe pouco espaço morto na ferida residual → Contribui para a diminuição da população bacteriana e diminuição do espaço de migração celular o Usar fios e suturas adequadas o Sempre que possível, todas as incisões devem seguir as linhas de menor tensão da pele → Leva a uma cicatriz de melhor qualidade ▪ Linhas de Langer → As linhas de força da pele geralmente são paralelas às rugas e às fibras colágenas e elásticas do extrato reticular da derme e perpendiculares à musculatura adjacente 15 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 CICATRIZES PATOLÓGICAS • Queloide e cicatriz hipertrófica: o São as principais cicatrizes patológicas que veremos na pele o No geral, elas têm comportamento de tumor benigno o Histologicamente são iguais, formadas por tecidos fibrosos à custa de grande produção de colágeno o Nessas cicatrizes, a derme é espessa e a epiderme é muito fina o Elas ocorrem graças à proliferação de fibroblastos, que vai levar a uma grande produção de colágeno e ao acúmulo de matriz extracelular QUELOIDE • Características gerais: o O queloide tem um comportamento muito agressivo e peculiar o No geral, a multiplicação celular é tão grande que culmina com elevação do tecido, um tecido duro, com sensibilidade muito grande, podendo evoluir de um pequeno choque a uma dor importante e ardor da região o Não respeita o limite da cicatriz o Tem uma coloração mais escura (violácea) que a cicatriz hipertrófica o Tem uma grande concentração de colágeno tipo III o A principal característica é que ele ultrapassa os limites da ferida original, invadindo os tecidos vizinhos com crescimento ao longo do tempo → Por isso ele é tão temido, já que até a partir de pequenas cicatrizes (Ex.: Mordida de mosquito, foliculite, acne etc.) é possível ter o desenvolvimento de queloide o Não cede com compressão nem com massagem o Não regride espontaneamente → Pelo contrário, a tendência é piorar o Não tem tratamento padrão-ouro → Por isso tem alto índice de recidiva o É mais propenso a ocorrer em africanos e asiáticos → Mas, no Brasil, onde as pessoas são extremamente miscigenadas isso não é tão importante • Susceptibilidade dedesenvolver queloide: o Susceptibilidade máxima (principais áreas de desenvolvimento de queloide) → Região pré-esternal e dorso o Susceptibilidade acentuada → Pavilhão auricular, tórax, deltoide e abdome o Susceptibilidade média → Região mastoidea, barba, cervical, axilar, pubiana e inguinal o Susceptibilidade mínima → Couro cabeludo, região frontal, membro superior, inferior e glúteo o Susceptibilidade zero → 1/3 médio da face, genitais, região lombar, regiões palmar e plantar 16 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Tratamento: o Não tem tratamento padrão-ouro, o que fazemos é combinar tratamentos o Cirurgia → A cirurgia sozinha está associada a 70-80% de chance de recidiva ▪ Quando combinamos ela, por exemplo, com uso de corticoide (principalmente triancinolona) e radioterapia (betaterapia ou terapia de elétrons), diminui muito a possibilidade de ter um queloide o Uso de corticoide profilático → Para tentar diminuir a degradação/síntese de colágeno e garantir uma cicatriz mais uniforme o Uso de silicone gel, com terapia compressiva (25 mmHg) e de desidratação → Impede a respiração celular, aumentando o catabolismo na área e evoluindo com desidratação celular (deixa a cicatriz mais fina) o Radioterapia → Betaterapia ou terapia de elétrons o Laserterapia o Crioterapia → Nitrogênio líquido o Dita adesiva microporosa (micropore) o Outras → Atualmente tem surgido o uso de interferon, 5-fluoracil, bleomicina, imiquimode, metotrexate, pentoxifilina, entre outros, para tentar diminuir as desordens fibroproliferativas CICATRIZ HIPERTRÓFICA • Características gerais: o Cicatriz elevada e tensa o Diferente do queloide, a cicatriz hipertrófica fica confinada às margens da cicatriz original, ela não extravasa para tecido são o A coloração dela, no geral, é rósea (enquanto a queloide tem uma coloração mais arroxeada) o Como a queloide, ela também tem prurido e dor, mas geralmente em menor quantidade o Tende à regressão espontânea (diferente do queloide) → Pode começar como uma cicatriz bem espessa e depois de um tempo simplesmente desaparecer, voltando a uma cicatriz com aspecto normal o Pode regredir com compressão ou massagem • Tratamento: o Assim como o queloide, não existe tratamento 100% eficaz, então é feita uma combinação o Também lançamos mão de cirurgia, corticoide, gel de silicone, terapia compressiva, radioterapia, laserterapia, crioterapia e fita adesiva microporosa CONTRATURA CICATRICIAL O queloide e a cicatriz hipertrófica são as principais cicatrizes patológicas, mas também podemos ter a contratura cicatricial. 17 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Contração x Contratura: o Contração → Os miofibroblastos são responsáveis pela contração da cicatriz, um processos biológico normal e comum a qualquer cicatriz ▪ É um processo que deve ocorrer, é benéfico e vai facilitar o fechamento mais rápido da ferida porque reduz a superfície de exposição ▪ A contração é esperada e é benéfica o Contratura → É o encurtamento patológico da cicatriz ▪ No geral, vai levar a uma perda de função, fora o péssimo aspecto estético ▪ É decorrente de uma contração que ocorreu de forma patológica (tempo de epitelização menor) • Contratura: o Quando evoluo com uma contratura, há algumas possibilidades para resolver essa situação o A contratura pode ser tão grave a ponto de impedir uma função/movimento (Ex.: Se o paciente tem contratura na região cervical, ele não consegue fazer extensão do pescoço) o Há formas mais complexas de se resolver, como com enxerto/retalho, mas há uma forma muito simples de resolver, que é a partir da confecção da zetaplastia • Zetaplastia: o Técnica cirúrgica utilizada para tratar cicatrizes com retrações o É um retalho onde eu vou transpor retalhos triangulares, trocando a posição de um retalho para o outro (transposição de dois retalhos triangulares com troca de posição) o Isso leva a um aumento da cicatriz no sentido longitudinal o O que vai variar esse alongamento da cicatriz é o ângulo em que vou desenhar o Z ▪ A linha maior do Z é feita na linha de maior tensão da cicatriz (no corpo da cicatriz, onde forma o cordão fibroso) ▪ A partir dessa linha maior são feitas as pernas externas do Z de acordo com o ângulo escolhido o Ângulos de 30° a 60° ▪ 30°-25% → Se eu desenhar o ângulo do Z em 30°, posso levar a um aumento de 25% no tamanho da cicatriz ▪ 45°-50% → Se eu desenhar o ângulo do Z em 45°, posso levar a um aumento de 50% no tamanho da cicatriz ▪ 60°-75% → Se eu desenhar o ângulo do Z em 60°, posso levar a um aumento de 75% no tamanho da cicatriz o Então, dependendo do ângulo que eu colocar no Z, muda o tanto que a cicatriz vai aumentar 18 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o O ângulo escolhido vai depender de como eu quero alongar a cicatriz, de quanto quero e do tamanho da cicatriz Exemplo de zetaplastia – Nessa imagem, a linha vermelha é o corpo da cicatriz (onde formou um cordão fibroso), a perna preta e a perna azul são as pernas externas do Z. No lado esquerdo do paciente foi feito só 1 Z, já no lado direito há a opção de fazer 2 Z’s. De acordo com o ângulo colocado entre essas incisões, pode haver um aumento de 25, de 50 ou de 75% na cicatriz e, com isso, permitir que o paciente estenda o braço ou estenda o pescoço. Nessa cicatriz do pescoço podem ser feitos múltiplos Z’s. Exemplo de zetaplastia – É preciso examinar o paciente e definir onde abriga / onde houve a contratura. Definido isso, são desenhados múltiplos Z’s e, dependendo do ângulo colocado, pode haver um alongamento em até 75% dessa cicatriz, isso vai permitir que o paciente hiperestenda o pescoço sem haver formação da contratura. 19 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o A finalidade dos retalhos de interpolação é o alongamento e mudança de eixo da cicatriz o A zetaplastia confere elasticidade à cicatriz (graças à redistribuição das tensões) o O ângulo ideal vai depender do que eu quero, mas se eu quero um ângulo de extensão máxima eu uso 60° ▪ Pode ser usada uma angulação maior dependendo da área que quer atingir, mas a partir do ângulo de 60° ele não alonga muito mais ▪ Não deve ser maior que 130° e nem menor que 30° DISCROMIA Outra forma de cicatriz patológica decorrente das proliferações celulares pode ser as alterações de cor. • Características gerais: o São alterações da cor da cicatriz (hipercromia, hipocromia e acromia) o Ocorre um transtorno na pigmentação o Lembrando que para dar cor à pele temos: ▪ Principal pigmento → Melanina ▪ Pigmentos amarelos (decorrentes de caroteno, os carotenoides) ▪ Oxiemoglobina e carmoxihemoglobina → Se é um tecido mais vascularizado com vaso arterial, ele é mais vermelho. Se é um tecido com mais vaso venoso, ele terá uma cor mais escura o Se há algum transtorno nos queratinócitos e nos melanócitos, pode evoluir com uma hipercromia, com uma hipocromia ou com uma acromia o Na epiderme temos 4 tipos de célula, os queratinócitos, os melanócitos, as células de Langerhans e as células de Merkel ▪ Langerhans → São dendríticas e estão envolvidas em resposta imunológica. Acabam funcionando como receptor e estão fracamente espaçadas na camada basal ▪ Queratinócitos → A partir da migração deles teremos formação das células mais córnicas e eles sofrerão ação dos prolongamentos dos melanócitos ❖ Se houver algum problema nessa transferência de melanina, pode evoluir com alteração de coloração o Se vai ser hiper, hipo ou acromia vai variar de acordo com a circulação presente no local 20 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 DEISCÊNCIA • Causas de deiscência:o Ruptura da sutura cirúrgica ▪ Se durante o fechamento da ferida, se eu mantiver uma sutura com grande tensão, pode acabar evoluindo para deiscência da ferida ▪ Uma das principais causas da deiscência é decorrente de má técnica cirúrgica (deixar a ferida muito tensa) o Infecção ▪ Se não foi tomado o cuidado, feito uma limpeza adequada da ferida, pode haver uma abertura/deiscência da ferida, tanto total quanto parcial ▪ Ter presença de fibrina na cicatriz é de suma importância, mas ela não pode ser excesso, porque senão vai acabar mantendo a ferida constante e não irá cicatrizar • O que fazer? o Intervir para evoluir com o processo de cicatrização o Controlar a infecção local se for por infecção, para poder diminuir a população de PMN e macrófagos no meio extracelular tentando reparar o Quanto maior a limpeza promovida durante o curativo será melhor para acelerar a cicatrização o Utilizar um curativo que não estimule a secreção de exsudato para o meio extracelular e consequentemente diminua a perda de líquido para o meio externo o Quando estiver controlado, o tecido estiver vermelhinho com todo o tecido de granulação eu posso optar por fazer um fechamento primário retardado ou posso deixar fechar por segunda intenção ▪ Lembrando que o fechamento por segunda intenção dessa ferida vai levar meses pelo espaço muito grande a ser preenchido por células MALIGNIZAÇÃO • Malignização: o Se eu não controlo a migração celular e mantém-se um grande um estímulo para fazer a epitelização da ferida, pode cursar com uma multiplicação desordenada dos queratinócitos e acabar desencadeando um processo neoplásico o Esse processo é conhecido como úlceras de Marjolin o Histologicamente trata-se de um carcinoma espinocelular o Está relacionado a feridas crônicas (que levam 20/30 anos e não fecham) o Isso é muito comum em úlceras de perna de longo prazo e em pacientes vítimas de queimadura 21 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 CONCLUSÃO • Descreva 3 principais diferenças básicas entre cicatriz hipertrófica e queloide: o Queloide não respeita a área de cicatriz o Queloide costuma ser muito dolorosa o A coloração do queloide é mais arroxeada que a cicatriz hipertrófica (no geral é rósea) • Zetaplastia: o O objetivo da zetaplastia é alongar a cicatriz, que deixa de ser restritiva o Não confundir ângulo com alongamento ▪ Os ângulos podem ser de 30°, 45° e 60° ▪ As porcentagens de alongamento possíveis são de 25%, 50% e 75% Descrição da lesão – Ferida descontínua, uma ulceração com tecido de granulação nas bordas, tecido desvitalizado/necrótico na parte central, que é seguido por uma pequena parte de tecido de fibrina. Para estimular a cicatrização dessa ferida deve ser feita a retirada do tecido desvitalizado, com lâmina de bisturi, com fricção com gás (debridamento mecânico) ou com debridamento químico (usando substâncias).
Compartilhar