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APG 05 – SOB PRESSÃO • Revisar a anatomia cerebral, produção e fluxo do líquor; • Analisar como funciona a pressão intracraniana; • Compreender a etiologia, epidemiologia, fatores de risco da HIC; • Estudar a fisiopatologia e as complicações da HIC; • Entender o quadro clínico, diagnóstico e tratamento da HIC. REVISÃO DA ANATOMIA CEREBRAL - MENINGES: São as três camadas de membranas que circundam o cérebro e a medula espinhal. A sua função é proteger o sistema nervoso central, sustentar os vasos sanguíneos e formar uma cavidade preenchida por LCR. De superficial para profundo, elas são: dura-máter, aracnóide e pia-máter. Dura-máter é a meninge mais externa e localiza-se diretamente abaixo do crânio. Ela é formada por duas membranas; uma periosteal externa, que é bastante aderente ao crânio, e uma meníngea interna. Entre a camada externa e a tábua óssea craniana e entre a camada interna e a aracnoide, existem espaços virtuais, local em que frequentemente se localizam os hematomas traumáticos extradural e subdural, respectivamente. A dura-máter é bastante inervada e sua compressão ou tração (trauma, neoplasias) causam cefaleia. A aracnóide é a meninge do meio. Ela se encontra logo abaixo da dura-máter, mas sem estar aderida a ela. Em alguns pontos, a aracnóide possui protrusões para dentro da dura-máter, chamadas de granulações aracnóideas. Estas estruturas permitem o efluxo do LCR. Também chamada de folheto médio, é muito delicada, com incontáveis trabéculas, o que lhe confere semelhança à teia de aranha. Carece de inervação e de vascularização. Entre a pia-máter e a aracnoide, existe o espaço subaracnóideo, pelo qual circula o líquido cefalorraquidiano ou liquor. Nos processos inflamatórios (meningites ou leptomeningites), as raízes e os nervos participam do quadro clínico por atravessarem o referido espaço e banharem -se no líquor, alterado pela inflamação das meninges. A pia-máter é a camada mais profunda e se adere aos tecidos do cérebro, entrando em seus sulcos e fissuras, mostra-se transparente e delicada, porém resistente. Recebe rica inervação, sobretudo na base e no terço inferior da convexidade encefálica. Juntas, a aracnóide e a pia-máter são conhecidas como “leptomeninges”. A membrana interna da dura-máter, a aracnóide e a pia-máter atravessam o forame magno para circundar a medula espinhal, formando as meninges espinhais. Existem três espaços entre as meninges. O espaço epidural (extradural), um espaço virtual entre as duas membranas da dura- máter, o espaço subdural, um espaço virtual entre a dura-máter e a aracnóide e o espaço subaracnóide, um espaço real entre a aracnóide e a pia-máter. O espaço subaracnóide contém vasos cerebrais e líquido cefalorraquidiano (LCR). - SISTEMA VENTRICULAR: O sistema ventricular é uma rede de cavidades preenchidas com líquido cefalorraquidiano (ventrículos) dentro do cérebro. Cada um dos dois hemisférios cerebrais possui um ventrículo: são os dois ventrículos cerebrais laterais, independentes. Existem quatro ventrículos: • Dois ventrículos laterais dentro dos lobos do cérebro; • Terceiro ventrículo encontrado entre os tálamos; • Quarto ventrículo localizado sobre a ponte e a medula e abaixo do cerebelo. Eles não se comunicam entre si, mas em cada um há uma pequena abertura, o chamado forame interventricular de Monro, que estabelece a ligação com o III ventrículo (central). Estes ventrículos são conectados por forames através do qual o LCR passa. • Forame interventricular (de Monro) entre os ventrículos laterais e o terceiro ventrículo; • Aqueduto cerebral (de Sylvius) entre o terceiro e o quarto ventrículos; • Duas aberturas laterais (de Luschka) entre o quarto ventrículo e a cisterna magna; • Abertura mediana (de Magendie) entre o quarto ventrículo e o canal central da medula espinhal. - LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO: O líquido cefalorraquidiano (LCR) circula nos ventrículos, espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula e canal central da medula espinhal. A sua função é absorção de força mecânica, funcionando como um coxim, proteção o SNC e transporte de nutrientes ao tecido nervoso. Além disso, ele remove resíduos metabólicos do tecido neural, permite o transporte de neurotransmissores e neuromoduladores e pode ser uma ferramenta diagnóstica muito útil em algumas doenças do SNC. O LCR é produzido por um tecido especializado chamado plexo coróide, que é encontrado nas paredes dos ventrículos (terceiro, quarto e laterais). A produção do LCR é igual à sua drenagem, então sempre há cerca de 150 mL de LCR circulando no sistema ventricular. Como ocorre a circulação? O líquido cefalorraquidiano passa dos ventrículos laterais para o terceiro ventrículo através do forame interventricular (de Monro). Do terceiro ventrículo, o LCR passa pelo aqueduto cerebral (de Sylvius) para o quarto ventrículo. Do quarto ventrículo, parte do LCR passa através de uma estreita passagem denominada óbex e entra do canal central da medula. A maior parte restante passa através da abertura mediana no quarto ventrículo (de Magendie) e das duas aberturas laterais (de Luschka) e entra nas cisternas interpeduncular e subaracnóidea. Dali, o líquido cefalorraquidiano flui para o espaço subaracnóideo ao redor do encéfalo e da medula espinhal e, finalmente, é reabsorvido nos seios venosos durais pelas granulações aracnóideas. REGULAÇÃO DA PRESSÃO INTRACRANIANA (Complacência: O cérebro funciona como uma esponja, que tem capacidade de aumentar ou diminuir até um certo limite, possuindo seu próprio sistema de autorregulação). Pressão intracraniana (PIC) é aquela encontrada no interior da caixa craniana, tendo como referência a pressão atmosférica. A PIC depende diretamente da constância do volume intracraniano, composto pelo líquor, sangue, meninges e tecido cerebral, considerados incompressíveis. Dessa maneira, qualquer aumento no volume de cada um dos três componentes deve ocorrer às custas de diminuição dos outros dois, a fim de manter uma PIC constante. O tecido encefálico ocupa em média 87% do volume intracraniano, sendo 9% preenchido por LCR das cisternas, dos ventrículos e do espaço subaracnóideo e 4% por sangue. O volume médio de LCR em adultos é de aproximadamente 160 ml, sendo produzido predominantemente pelo plexo coroide localizado no interior dos ventrículos à velocidade aproximada de 1 ml a cada 2 a 3 minutos (20 a 30 ml/hora). Um aumento da produção, obstrução do fluxo ou déficit de absorção do LCR acarretam um aumento de volume no espaço intracraniano e consequente aumento da PIC. A PIC, em condições normais, varia de 50 a 200 mm de água ou até 15 mmHg de mercúrio, sendo toleráveis até 20 mmHg de mercúrio, e é anormal somente acima desse valor. Alterações dinâmicas da PIC, isto é, alterações de pressão que ocorrem após variação aguda no volume de um dos compartimentos intracranianos, relacionam-se com a elastância intracraniana. O resultado de uma única medida (estática) da PIC pode situar-se na faixa de normalidade, apesar de a dinâmica intracraniana estar alterada por tumor, edema ou coleção sanguínea, graças à elastância intracraniana, que depende de: 1. Elasticidade das meninges. 2. Capacidade de expansão do volume intracraniano através do forâmen magno. 3. Deslocamento do LCR do espaço subaracnóideo do crânio para o da coluna. A elastância intracraniana pode ser medida através da relação volume/pressão: esta é a variação de pressão pela introdução de determinado volume de Iíquido (1,O ml) no espaço subaracnóideo. Quando há Iesão expansiva cerebral, à medida que aumenta o volume da Iesão, diminui a capacidade da PIC para se adaptar as variaçõesde volume. Quando se parte de uma PIC já elevada, a relação volume/pressão diminui pela introdução de um volume Iíquido no espaço subaracnóideo Se as estruturas intracranianas mantêm suas relações anatômicas normais, a PIC pode elevar-se acentuadamente sem que haja disfunção neurológica. Se, entretanto, a elevada pressão tecidual dentro do crânio não é distribuída, gradientes de pressão podem originar desvios do cérebro e isquemia focal, ou obstrução nas vias do LCR. Estudos experimentais têm demonstrado que os gradientes de pressão no neuro- eixo desenvolvem-se em três estágios: No inicial, a compensação para o aumento de volume em um dos compartimentos intracranianos evita o aparecimento de gradientes de pressão entre os mesmos. No segundo, começa hérnia transtentorial de componentes intracranianos, desenvolvendo-se um gradiente de pressão entre os compartimentos supra e infratentorial: neste estágio, a pressão ventricular é aproximadamente 20 mm Hg. No terceiro estágio, a hérnia está completa e a pressão supratentorial eleva-se rápida e catastroficamente Curva de Langfitt: A elevação da PIC é progressiva e exponencial, seguindo a curva de langfitt, constituída de 4 fases. A primeira fase é a fase compensatória em que o aumento do VSE não é capaz de aumentar a PIC acentuadamente, pois o líquor é extruído para fora e não ocorre o aumento da PIC, não há vasodilatação isquêmica, mantendo a PPE. - Primeira fase: Fase compensatória em que o aumento do VSC não é capaz de aumentar a PIC acentuadamente, pois o líquor é extruído para fora e não ocorre aumento da PIC, não há vasodilatação isquêmica, mantendo a PPC. Uma reação do organismo é um aumento da PAM para que haja uma maior PPC. Esse mecanismo é chamado de reflexo de Cushing (um mecanismo tampão), no qual a autorregulação se encontra preservada. - Segunda fase: Fase de descompensação, o início da curva exponencial ascendente positiva. As pequenas elevações de volume implicam elevações acentuadas da PIC, a qual diminui a PPC através de redução do FSC por compressão do leito vascular e saída do sangue para fora do crânio (edema oligoêmico), o que desencadeia isquemia e vasodilatação, manifestando-se clinicamente como sinais de HIC. Surge no traçado do monitoramento onda A patológica, que surge através de variações do VSE por meio da vasodilatação. Entretanto, o reflexo de Cushing consegue manter a PPE por aumento da PAM e a autorregulação está ainda presente. - Terceira fase: A fase em que a elevação da PIC é exponencial pelo mecanismo da cascata de vasodilatação, a isquemia gera vasodilatação isquêmica que causa aumento hipervolêmico da PIC e que gera mais isquemia e vasodilatação, iniciando-se novamente a cascata vasodilatadora. O resultado é um decréscimo na PPC, pois o reflexo de Cushing não é mais capaz de reverter o processo, e a autorregulação está gradualmente parético, por ação de acidose progressiva. - Quarta fase: Na fase da parada circulatória, tem-se um estado hipervolêmico da PIC, o VSC é máximo, em que há uma ausência total da autorregulação, a arteríola pré-capilar encontra-se plégica e há extravasamento do sistema vênulo- venoso e da microcirculação. A PIC iguala- se à PAM, fazendo que o FSC diminua consideravelmente, o que deixa a PPC=0. Representa a morte encefálica, devido à formação de isquemia global, e os neurônios não suportam hipóxia. Logo depois, há uma queda da PIC, PPC e PAM de maneira sincrônica até a parada cardiorrespiratória. DEFINIÇÃO O crânio é uma estrutura óssea rígida e inelástica (hermeticamente fechada), possuindo um volume sempre constante, formado por: encéfalo, sangue e líquor. Logo, o aumento em algum desses elementos pode causar um aumento na pressão desse compartimento, a chamada Hipertensão Intracraniana (HIC). Hipertensão intracraniana: Transtorno neurológico caracterizado por uma pressão intracraniana (PIC) maior que 15 mmHg em um adulto em repouso. Síndrome neurológica definida como aumento sustentado da pressão intracraniana (PIC) acima de 20 a 22 mmHg após um intervalo de > 5-10 minutos ou por medidas seriadas maiores que 22 mmHg em qualquer intervalo de tempo em posição de decúbito. Deve-se excluir as causas que sabidamente aumentam a pressão intracraniana, como tosse, posição de Trendelenburg, manobra de Valsalva. Sabe-se que quanto maior for a PIC, maior é a morbidade e mortalidade. ETIOLOGIA As possíveis etiologias são divididas em dois grandes grupos: Causas neurológicas e causas não neurológicas. - Causas neurológicas, encontram-se: aneurisma roto, acidente vascular cerebral, contusões cerebrais, encefalopatia hipertensiva, hemorragia subaracnoide, hematoma subdural, hematoma extradural, hidrocefalia etc. - Condições não neurológicas: o abuso e dependência de opioides, cetoacidose diabética, encefalopatia hepática aguda, edema cerebral pós-cirúrgico, hiponatremia, obesidade mórbida e trombose traumática de veias jugulares. Basicamente, as doenças que provocam hipertensão intracraniana (HIC) o fazem por um ou mais dos seguintes mecanismos: 1. crescimento de lesões que ocupam espaço na caixa craniana; 2. obstrução da circulação liquórica (hidrocefalia); 3. aumento de líquido nos espaços intersticial e/ou intracelular encéfalo (edema cerebral); 4. ingurgitamento da microcirculação (aumento do volume sanguíneo intracraniano). FISIOPATOLOGIA Um ponto-chave da fisiopatologia da PIC é a compreensão da doutrina de Monro- Kellie, que diz o seguinte: o volume do crânio é constante e preenchido por três componentes (sangue, massa cerebral e líquor). Logo, a inserção de um novo componente ou aumento de um dos três causará a redução do volume de um outro. Quando essa capacidade de acomodação volumétrica das estruturas intracranianas for ultrapassada ocorrerá aumento da PIC. Nesse sentido, um dos principais problemas do aumento da pressão PIC é a redução da pressão de perfusão cerebral (PPC) e consequente redução do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). Isso ocorre porque há uma relação entre PIC e PPC, mediada pela pressão arterial média (PAM). Qualquer situação que leve ao aumento da PIC causará prejuízo na perfusão cerebral. PPC = PAM – PIC Independente da causa da redução da PPC, o sistema nervoso possui capacidade de compensar mantendo um FSC constante. Entretanto, a partir de um certo ponto a PPC pode estar muito baixa ou muito elevada, o que impossibilita a manutenção de FSC adequado. Dessa forma, o aumento da PIC prejudica diretamente o FSC. Acredita-se que o volume acrescentado pode ocupar até 8 – 10% do espaço intracraniano, sem que haja aumento da PIC. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico da hipertensão intracraniana é determinado, principalmente, pela distorção e compressão do encéfalo e a evolução dos sinais e sintomas de HIC pode ser dividida em 4 fases: - É a fase assintomática, porque há deslocamento de um dos componentes normais do conteúdo intracraniano para compensar o volume acrescido; - Fase na qual os mecanismos de compensação já estão se esgotando, há comprometimento do FSE, isquemia de centros bulbares, surgem as ondas em platô e os primeiros sintomas e sinais da HIC, com redução da frequência cardíaca. - Nessa fase as ondas em platô já são mais frequentes e de maior amplitude e o comprometimento do tono vascular e a paralisia do mecanismo vasopressórico acarretam aumento do volume sanguíneo encefálico acentuando a HIC. Os sinais e sintomas de HIC tornam-se exuberantes, ocorrendo alterações no nível de consciência, na PA, na frequência cardíaca e ritmo respiratório. Nessa fase ainda há possibilidade de reversão do quadro clínico, caso o paciente seja tratado de forma adequada. - Nessa fase a PA cai, o ritmorespiratório e os batimentos cardíacos são irregulares, surge o coma, as pupilas tornam-se midriáticas e paralíticas e a morte ocorre por parada cardiorrespiratória. As manifestações clínicas da HIC podem ser divididas em sinais e sintomas gerais e focais. - Os gerais decorrem do aumento da PIC e de todas as suas consequências, ou seja, o distúrbio do FSE, compressão e torção de estruturas encefálicas. - Os sinais e sintomas focais resultam da disfunção da área onde está localizado o processo responsável pela HIC. SINAIS E SINTOMAS GERAIS DA HIC: - Cefaleia: é o primeiro sintoma da HIC em 20% dos pacientes. A dor pode ser generalizada ou localizada e, nesta última circunstância, o local da dor coincide, em até 30% dos casos, com a situação do processo responsável pela HIC. Porém, algumas situações como o pseudotumorcerebral, levam a uma grande elevação da PIC, sem desviar estruturas e podem não ser acompanhadas de cefaleia. Essa manifestação clínica não decorre do aumento da PIC e sim da dilatação e tração das grandes artérias e veias, compressão e distensão de nervos cranianos e dura-máter por eles inervadas. (ocorre pelo aumento da pressão e por distensão da dura-máter, dos vasos e dos nervos cranianos, que são estruturas que têm terminações nervosas sensitivas) - Vômitos: constituem a queixa inicial em até 10% dos casos e ocorrem em 70% deles durante o curso da doença, surgindo com maior frequência pela manhã, ao despertar. Pode ser ou não precedido por náuseas, sendo que nessa última possibilidade é denominada de vômito em jato ou vômito cerebral; ele é explosivo e ocorre em apenas 20% dos pacientes com HIC. São devidos ao aumento da pressão e à irritação do assoalho do quarto ventrículo - Edema de papila: é o sinal mais característico da HIC, embora seja constatada em outras patologias. Resulta da compressão da veia central da retina pelo LCR contido no espaço subaracnóideo que envolve os nervos ópticos. Ocorre por propagação retrógrada da hipertensão pelo espaço subaracnóideo ao redor do nervo óptico, que funciona como um manguito e dificulta o retorno venoso pela veia oftálmica que tem um trajeto parcial dentro do nervo - Alterações da personalidade e do nível de consciência: caracterizam-se por fatigabilidade, apatia, irritabilidade, desatenção, indiferença, diminuição da espontaneidade, instabilidade emocional e são mais frequentes nos casos de neoplasias cerebrais. - Crises convulsivas: são mais precoces nos processos expansivos de rápida evolução e naqueles situados próximos ao córtex motor. - Tonturas: pacientes com HIC queixam- se de tonturas em caráter giratório. São mais frequentes quando o processo expansivo está localizado infratentorialmente e resultam do edema de labirinto secundário à comunicação existente entre a cavidade intracraniana e o ouvido interno. - Comprometimento de nervos cranianos: o envolvimento de nervos cranianos é frequente na HIC. Os mais cometidos são o abducente (75% dos casos), seguido do oculomotor (20%) e do troclear (5%). - A respiração: é caracterizada por inspirações profundas, com pausas ocasionais; muitos pacientes apresentam respiração do tipo Cheyne-Stokes SINAIS E SINTOMAS FOCAIS DA HIC: - São resultantes de uma disfunção da região onde está localizada a lesão responsável pela HIC, e seu reconhecimento auxilia na localização e tratamento da doença. Os principais achados são: paresia ou paralisia, convulsões focais, ataxia, distúrbios cognitivos, alterações endócrinas e comprometimento dos nervos cranianos. Além disso, à medida que ocorre elevação da PIC, o deslocamento da linha média e do tecido cerebral medialmente, pode resultar em uma herniação. As hérnias mais comuns são a subfalcina, do uncus e tonsilar. A tríade de Cushing (marcador de gravidade), encontrada no exame físico caracterizada por um aumento reflexo da pressão arterial, bradicardia e alterações do ritmo respiratório na vigência de HIC, é fenômeno inconstante que parece estar relacionado com a gravidade da hipertensão, ou seja, aparece em fases avançadas da descompensação da hipertensão e constitui uma situação muito grave, com evolução para a morte, a não ser que a PIC seja rapidamente reduzida com medidas terapêuticas apropriadas. Esse fenômeno é atribuído a um aumento da resistência vascular sistêmica a um aumento do débito cardíaco, causados por influxos autonômicos, provenientes do tronco cerebral isquemiado ou comprimido, ou causado pela liberação de substâncias simpaticomiméticas, a partir de centros vasopressores do tronco cerebral. A ocorrência de edema pulmonar em pacientes com TCE grave é conhecida desde há muito tempo e procura-se relacionar o fenômeno ao aumento da PIC A dilatação pupilar também pode ocorrer em consequência da compressão das fibras do nervo oculomotor – também é um marcador de gravidade e necessita de intervenção urgente. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é a monitorização da PIC, por meio de exames clínico, radiológico, parâmetros hemodinâmicos, metabólicos e medidas de PIC. O exame clínico é baseado na avaliação neurológica utilizando as escalas de Glasgow e Jouvet (escalas de coma). A tomografia computadorizada de crânio é o melhor exame para avaliar a HIC aguda. A monitorização hemodinâmica é indicada no coma barbitúrico induzido, pacientes susceptíveis a sobrecarga volêmica ou que apresentem instabilidade hemodinâmica não terminal. RADIOGRAFIAS SIMPLES DO CRÂNIO: Os sinais de HIC, que são observados nas radiografias simples do crânio, são a macrocefalia e a desproporção craniofacial em lactentes, a diástase de suturas em crianças e, às vezes, em adultos jovens, o aumento das impressões digitiformes e as erosões na sela turca. - As duas últimas dependem respectivamente da pulsação acentuada dos giros corticais contra a tábua interna do crânio e da pulsação do terceiro ventrículo dilatado sobre a sela, causando desmineralização óssea. - Essas alterações não aparecem nos quadros agudos de HIC. - Ocasionalmente, a radiografia simples revela calcificações patológicas (neoplasias e lesões inflamatórias) e desvio das calcificações fisiológicas (pineal e plexos coróideos). - Após a introdução da Tomografia Computadorizada, sua utilidade foi muito reduzida TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTADORIZADA (TC): A TC não permite predizer o valor da PIC, mas fornece dados indiretos muito importantes para a sua avaliação. Entre os sinais estão: presença de uma lesão expansiva, geralmente com efeito de massa (desvio de estruturas normais de sua posição original), desvio da linha média, desaparecimento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo, dilatação do sistema ventricular, principalmente se acompanhado de hipodensidade ao redor (transudato periventricular), desaparecimento das cisternas perimesencefálicas e visualização de herniações intracranianas. - A TC é o exame ideal para pacientes com HIC aguda. - A TC é realizada em uma fase chamada simples e noutra posterior à injeção de contraste iodado endovenoso. - A fase contrastada contribui muito no esclarecimento diagnóstico de doenças em que há quebra da barreira hematoencefálica. - A partir desses dados, pode-se determinar o mecanismo fisiopatológico e o diagnóstico da causa da hipertensão. - Além disso, através da TC, pode-se determinar o mecanismo fisiopatogênico e o diagnóstico da causa da hipertensão. - Tendo como base a tomografia de crânio, é possível definir a melhor conduta para esses pacientes através da classificação de Marshall. - Diante da classe em que o paciente se encontra, ocorrerá a definição da melhor terapêutica. MEDIDA DA PIC: Uma medida isolada da PIC não é adequada para a sua avaliação. - A maneira ideal de avaliação da PIC é através do seu registro contínuo, pois dessa forma podem ser observadas não somente as suas variações numéricas, mas também o aspecto morfológicodo traçado, que por si só pode indicar anormalidades - A PIC pode ser monitorizada através do estabelecimento de uma coluna líquida entre o LCR e um transdutor de pressão, através da implantação de um transdutor no espaço epidural ou através da implantação de um transdutor sobre a fontanela bregmática, em recém- nascidos - A PIC pode ser mensurada por meio de cateter (intraparenquimatoso, ventricular, subdural, epidural e subarac- nóideo). - O método com maior acurácia é a ventriculostomia e apresenta outras vantagens, como a drenagem do LCR e a possibilidade de diagnóstico de infecção. - A monitorização não serve só como método diagnóstico, mas também é utilizada como parâmetro para determinação de prognóstico. - Devem ser adotadas medidas terapêuticas para HIC quando a PIC está acima de 22mmHg. MARSHALL 1: Sem patologia visível na tomografia. MARSHALL 11: Cisternas visíveis, não há inchaço cerebral, lesão pequena que pode não dizer nada. MARSHALL 111: Marshall avançado, indicativo de cirurgia. MARSHALL 1V: Indica cirurgia. MARSHALL V: Indica cirurgia MARSHAL VI: Paciente já sangrou muito e não há muito o que se fazer. TRATAMENTO OBJETIVO: é diminuir a pressão intracraniana para que o fluxo sanguíneo cerebral aumente e que as hérnias sejam reduzidas, visando evitar o surgimento de lesões secundárias. Quando o paciente estiver estável e não necessitar de intervenção cirúrgica, ele deve ser encaminhado para a unidade de terapia intensiva. O tratamento segue uma gradação de condutas de primeira à segunda linha até o nível mais “avançado”, que seria a craniectomia descompressiva. No entanto, é válido salientar que nenhuma conduta clínica deve atrasar a conduta cirúrgica, caso o paciente tenha indicação. Tratamento de primeira linha: Feito em unidade de terapia intensiva, com a pressão de perfusão cerebral monitorada continuamente, assim como a monitorização da PIC e controle da PAM de maneira invasiva. A pressão de perfusão cerebral deve ser mantida maior do que 60 mmHg, principalmente no TCE. As diretrizes atuais recomendam uma monitorização adicional por meio da saturação do oxigênio jugular (SjO2) sendo um meio de avaliação do acoplamento e oxigenação do tecido cerebral. Nesses pacientes não há indicação de restrição hídrica, pois os distúrbios hidroeletrolíticos pioram a HIC, principalmente a hiponatremia. Além disso, a hipovolemia causa uma diminuição no fluxo sanguíneo cerebral, o que pode ocasionar lesões neurológicas secundárias. Não deve ser permitido altos níveis glicêmicos, pois aumenta a possibilidade de lesões isquêmicas. Drenagem ventricular: é uma alternativa para reduzir a PIC, porém de curta duração. O LCR deve ser removido lentamente, em especial, nos pacientes com hidrocefalia sintomática por hemorragia subaracnóidea para evitar sangramentos recorrentes. Posição do paciente: Pacientes estáveis hemodinamicamente, a posição ideal é a de decúbito dorsal com cabeceira elevada a 15 – 30o. Analgésicos, anestésicos e sedativos: profilaxia ou controle da HIC e convulsões. Eles agem diminuindo a PIC por meio da diminuição do metabolismo neuronal e induzem a vasoconstrição, congestão venosa e resposta simpática de hipertensão e taquicardia. Logo, a sedação realizada de forma correta diminui o gasto energético do paciente, e apresenta uma vantagem por prevenir as convulsões. Os sedativos possuem um mecanismo protetor por meio da inibição da peroxidação de lipídeos mediada por radicais livres de oxigênio. Os medicamentos mais utilizados são: benzodiazepínicos, etomidato, propofol, lidocaína e barbitúricos. O medicamento mais indicado é o propofol, devido seu tempo de meia-vida curto e à propriedade de deixar o paciente no nível de sedação desejado. - Normotermia: Sabe-se que a hipertermia aumenta a demanda metabólica do tecido nervoso, o que acarreta no aumento do FSE e, por conseguinte, aumento da PIC. Por isso, em casos de febre, o tratamento deve ser imediato com antitérmicos e esfriamento físico. A hipotermia induzida é uma outra medida que exerce um efeito neuroprotetor potencial. - Diurético osmótico: O medicamento a ser escolhido é o manitol. Deve ser administrada em bolus e nunca em gotejamento. Causa uma queda acentuada na PIC, pois há uma reversão abrupta da vasodilatação isquêmica e até uma certa vasoconstrição, isso é, uma consequência do aumento da volemia e da PAM, além da diminuição da viscosidade sanguínea. Deve-se manter uma vigilância quanto a osmolaridade plasmática, sendo mantida em torno de 300 mOsm/kg, se atingir valores maior que 320, deve-se interromper o diurético. - Solução salina hipertônica: A solução salina apresenta menos efeitos colaterais do que o mantol e favorece um controle melhor da PIC. Além do seu efeito osmolar, a solução salina apresenta um efeito hemodinâmico, podendo ser utilizada em pacientes hipotensos para reduzir a PIC, em virtude de não levar a diurese, e melhora da autorregulação. - Corticoides: O medicamento de escolha é a dexametasona. Atua sobre o edema vasogênico, o que restaura a permeabilidade vascular e atenua a produção de radicais livres, diminuindo o estresse oxidativo. Outro mecanismo de ação importante é a sua interferência na produção do LCR, em virtude de alteração na troca de membrana celular no plexo coroide. Está indicado para os pacientes com tumores cerebrais e processos infecciosos. - Inibidores da anidrase carbônica: São medicamentos que impedem a produção do LCR a partir do CO2 que bloqueia o transporte do íon HCO3, sendo indicado, principalmente, em casos de papiledema. - Profilaxia das convulsões: Deve ser feita em todos os pacientes com HIC. Pois, as convulsões nesses pacientes complicam o quadro e cursam com mais elevação da PIC, além de estar associada com o surgimento de lesões secundárias. - Tratamento de segunda linha: São utilizados em caso de refratariedade ou pela falta de efetividade da primeira linha. - Barbitúricos: O coma barbitúrico reduz a atividade elétrica e metabolismo cerebral, mecanismo protetor neuronal. Por atuar reduzindo o metabolismo dos neurônios, ocasiona uma queda do FSE, VSE e PIC. Os medicamentos da classe são o fenobarbital e o tiopental. A medicação deve ser mantida por pelo menos 24h após a estabilização da PIC e retirada de forma gradual nas próximas 24h. - Hiperventilação: A hiperventilação provoca uma hipocapnia, ocasionando uma vasoconstrição das artérias cerebrais por causa da alcalose provocada. Essa vasoconstrição provoca um aumento na resistência vascular encefálica, que diminui a chegada de sangue na microcirculação e, consequentemente, diminuição do VSE e da PIC. No entanto, essa medida só deve ser instituída nos casos de refratariedade ao tratamento, pois possui alguns efeitos colaterais deletério a longo prazo, como aumento de isquemia e infarto cerebral. - Craniectomia descompressiva: A craniectomia descompressiva pode ser realizada de duas maneiras: bifrontal e hemicraniana unilateral. Geralmente é indicada em casos de tumefação cerebral e hematoma subdural agudo, ou mesmo para patologias não traumáticas. Quando ocorre a retirada de uma parte do crânio, há um escape do alto volume intracraniano, fazendo com que haja uma diminuição da PIC e permite a expansão do encéfalo. A queda da PIC provoca um desvio na curva de Langfitt para esquerda. A craniectomia isolada provoca uma redução de até 15% do valor da PIC e quando associada à abertura da dura-máter é capaz de reduzir em até 70%, resultando em uma melhora na pressão de perfusão cerebral.
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