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MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 1 DEFINIÇÃO Doença heterogênea caracterizada por inflamação crônica em via aérea Definida pela história de sintomas respiratórios como sibilos, dispneia, opressão torácica (principalmente em região retroesternal) e tosse que variam com o tempo e em intensidade, associado com limitação variável de fluxo expiratório Os pacientes com asma possuem broncoconstricção e broncoespasmo que dificultam o fluxo expiratório EPIDEMIOLOGIA Estima-se que a cada 5 adolescentes no Brasil, 1 tenha asma, dos quais 87% com essa doença estão sem controle adequado ou parcialmente controlada Doença de alta morbimortalidade GINA: Global Initiative for Asthma. Grupo criado em 1983 que estuda para estabelecer novas diretrizes e protocolos referentes a asma PONTOS IMPORTANTES Pode ser controlada, mas não curada. É uma doença crônica O controle da doença é importante para melhorar a qualidade de vida do indivíduo, diminuição de comorbidades e complicações associadas a asma, expectativa de vida e redução da mortalidade Caracterizada pela presença de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse O paciente terá variação do fluxo expiratório que geralmente está associada a broncoespasmo, edema de via aérea e muco É desencadeada ou piorada por infecções virais, alérgenos, cigarro, exercício físico ou estresse OBS: exercício físico bem orientado pode ser utilizado como forma de auxiliar o paciente na doença Progressão da inflamação nas vias aéreas: 1. Inflamação aguda (edema de mucosa) 2. Inflamação crônica 3. Remodelamento das vias aéreas Estreitamento de via aérea (base fisiopatológica da asma): 1. Contração do músculo liso 2. Edema 3. Remodelamento 4. Secreção de muco (reduz a luz da via aérea) Fenótipos de Asma: são diferentes formas de manifestação da doença. Cada fenótipo pode ter um endótipo diferente. Endótipo é a base fisiopatológica envolvida na manifestação de um fenótipo ▪ Sibilantes transitórios: são crianças que cansam nos primeiros anos de vida, mas que tendem a melhorar ao longo da idade ▪ Asma/ atopia: criança que tem histórico pessoal ou familiar de rinite, dermatite atópica, alergia alimentar. É uma manifestação que começa ainda na infância ▪ Asma não alérgia: início mais tardio, normalmente não começa na primeira infância Atualmente, pelo GINA, considera-se cinco fenótipos diferentes: ▪ Asma alérgica ▪ Asma não alérgica ▪ Asma de início tardio ▪ Asma associada a limitação fixa do fluxo aéreo ▪ Asma associada a obesidade ASMA ALÉRGICA ▪ Fenótipo mais facilmente reconhecido ▪ Início geralmente na infância ▪ Associado a história pessoal e/ou familiar de atopia (quando um dos pais é alérgico, as chances de a criança já ter alguma manifestação alérgica pode chegar a 40%) MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 2 ▪ A base endótipa da asma alérgica está associada as interleucinas dos tipos: IL-4, IL-3, IL-5 ▪ O exame do escarro induzido desses pacientes antes do tratamento geralmente revela inflamação eosinofílica da via aérea ▪ Pacientes com este fenótipo de asma geralmente respondem bem ao tratamento com corticosteroide inalado (CI) ASMA NÃO ALÉRGICA ▪ Alguns adultos têm asma que não está associada à alergia ▪ O perfil celular do escarro desses pacientes pode ser neutrofílico, eosinofílico ou conter apenas algumas células inflamatórias (paucigranulocítico) ▪ A base endótipa da asma não alérgica está associada as interleucinas dos tipos: IL-8, IL-23, IL-17 ▪ Pacientes com asma não alérgica geralmente respondem menos ao CI ASMA DE INÍCIO TARDIO ▪ Alguns adultos, particularmente mulheres, apresentam asma pela primeira vez na vida adulta ▪ Os pacientes tendem a ser não-alérgicos, e muitas vezes requerem doses mais altas de CI ou são relativamente refratários ao tratamento com corticoide ▪ Está muito associado com o fator ocupacional (pessoas que trabalham com exposição a aero alérgenos) ASMA ASSOCIADA A LIMITAÇÃO FIXA DO FLUXO AÉREO ▪ Alguns pacientes com asma de longa data desenvolvem limitação fixa do fluxo aéreo ▪ Provavelmente devido à remodelação da parede das vias aéreas (ocorre quando o paciente fica muito tempo sem controle da doença) ASMA ASSOCIADA A OBESIDADE ▪ Não tem relação com alergia ▪ Alguns pacientes obesos possuem sintomas respiratórios proeminentes e pouca inflamação eosinofílica ▪ Inflamação persistente devido a leptina, IL-6, IL- 1, TNF e PCR ▪ Fatores mecânicos pela adiposidade (aumento da gordura abdominal – diminuição da capacidade de expansibilidade torácica) DESENCADEANTES DE CRISES ▪ Infecções respiratórias: são os principais fatores desencadeantes de crises na infância (vírus respiratórios, rinovírus [principal], vírus sincicial respiratório) ▪ Exposição a alérgenos (ácaros, animais domésticos, baratas, pólens) ▪ Drogas e corantes – AINH, AAS ▪ Fatores ambientais – não alérgicos/irritantes (mudanças climáticas, exposição à fumaça de cigarro, exposição a poluentes atmosférico) ▪ Falta de uso de medicações de controle FATORES DE RISCO PARA ASMA POTENCIALMENTE FATAL ▪ Crise anterior grave ou com rápida piora ▪ Crise anterior com falência respiratória (IOT, UTI) ou com alteração de sistema nervoso central ▪ > 3 vezes em pronto socorro ou > 2 vezes internação de asma no último ano ▪ Uso de > 1 frasco de β-2 agonista de curta ação por mês (aerolin/salbutamol) ▪ Incapacidade em reconhecer a gravidade da crise ▪ História de doença ou problemas psiquiátricos ▪ Falta ou não adesão ao tratamento ambulatorial ▪ Alergia alimentar associada à asma SINTOMAS ▪ Mais de um dos sintomas clássicos (sibilância, dispneia, tosse e opressão torácica) ▪ Sintomas pioram a noite ou pela manhã ▪ Sintomas variam com o tempo e em intensidade ▪ Sintomas causados por infecções virais, exercício, alérgenos, mudanças no tempo, gargalhadas, irritantes como cigarro e cheiros fortes Não é asma: ▪ Tosse isolada sem outros sintomas ▪ Escarro crônico ▪ Dispneia associada a tonturas e parestesia ▪ Dor torácica ▪ Dispneia induzida por exercício com estridor inspiratório EXAME FÍSICO ▪ Coloração da pele MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 3 ▪ Uso de musculatura acessória – presença de retrações intercostais e/ou de fúrcula ▪ Frequência cardíaca/ frequência respiratória/ PA – paciente taquidispneico ▪ Fala ▪ Caracterização dos ruídos respiratórios (presença de murmúrio, sibilância, simetria) ▪ Nível de consciência OBS: quanto mais superior a retração, maior a gravidade Tórax silencioso (ausência de murmúrio vesicular)→ usa beta agonista → paciente vai ficar “chiando” (quer dizer que houve uma melhora, dilatação). A ausência de murmúrio vesicular pode ser um fator de maior gravidade Sinais de falência respiratória iminente: ▪ Alteração de consciência ▪ Incapacidade para falar ▪ Ausência de murmúrio vesicular ▪ Cianose central ▪ Diaforese (palidez cutâneo mucosa + sudorese) ▪ Intolerância para o decúbito ▪ Pulso paradoxal LABORATORIAL ▪ Hemograma (eosinofilia) ▪ Testes cutâneos in vivo (puntura, intradérmicos) ▪ Testes in vitro o Determinação de IgE total (em pacientes alérgicos estará aumentado) o Determinação de IgE específico RAIO X DE TÓRAX ▪ Não está indicado de rotina para diagnóstico ▪ Exceções: o Crise grave o Doente intubado/ventilado o Suspeita de barotrauma o Suspeita de atelectasia o Suspeita de pneumonia o Febre > 39°C o Suspeita de sibilância de outra etiologia (aspiração de corpo estranho, cardiopatia) ESPIROMETRIA É o exame mais recomendado para avaliar a capacidade funcional pulmonar É complexo, mas é importante para diagnóstico e acompanhamentoda asma O teste é feito sem broncodilatador e em seguida é novamente avaliado com o uso de broncodilatador Inicialmente é testada a capacidade vital forçada (colocar todo o ar para fora) e o volume que foi liberado no primeiro segundo é chamado de Volume Expiratório Forçado (FEV) Quando o paciente tem asma, o FEV do primeiro segundo deverá ser bem baixo, quando comparado com o normal. O segundo parâmetro avaliado é o fluxo em relação ao volume expirado DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ▪ Anel vascular ▪ Fístula traqueoesofágica ▪ Distúrbios de deglutição ▪ Infecções ▪ Bronquiectasias ▪ Bronquiolite obliterante ▪ Carcinoma brônquico ▪ DPOC ▪ DRGE ▪ Aspiração de corpo estranho ▪ Síndrome de Loeffler ▪ Obstrução das vias aéreas altas MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 4 ▪ Disfunção de cordas vocais ▪ Discenesia laríngea ▪ Fibrose cística ▪ Imunodeficiência TRATAMENTO DE CONTROLE É o tratamento de prevenção de exacerbação do quadro clínico e de manutenção. É realizado com acompanhamento médico de rotina Objetivos no tratamento da asma: ▪ Favorecer o controle dos sintomas (mínimo de medicamento suficiente para deixar o paciente assintomático) ▪ Reduzir os riscos Sempre avaliar o paciente, ajustar o tratamento e em 4 semanas reavaliar para checar a resposta do paciente Ensinar e reforçar habilidades essenciais: ▪ Técnica no uso da medicação ▪ Aderência ao tratamento ▪ Automedicação guiada: o Plano de ação escrito para asma (para guiar o paciente em momentos de exacerbação de sintomas) o Monitorização o Revaliação médica frequente Manejo clínico da Asma: Na avaliação: ▪ Diagnosticar ▪ Verificar controle de sintomas e fatores de risco ▪ Fortalecer a importância da técnica e aderência ao tratamento Ajuste de tratamento: ▪ Uso das medicações de ama ▪ Estratégias não-farmacológicas ▪ Tratar fatores de risco modificáveis Reavaliação do paciente: ▪ Avaliar se está tendo sintomas e exacerbações ▪ Checar se há efeitos colaterais ▪ Se está satisfeito com o tratamento ▪ Avaliar função pulmonar (através da espirometria) QUESTIONÁRIOS DE CONTROLE DE ASMA → Questionário de Controle de Asma (ACQ): As pontuações variam de 0 a 6 (quanto maior, pior) o 0,0 a 0,75: asma bem controlada o 0,75 a 1,5: zona cinzenta o > 1,5 asma mal controlada → Teste de Controle de Asma (ACT): As pontuações variam de 5 a 25 (quanto maior, melhor) o 20 a 25: asma bem controlada o 16 a 19: parcialmente controlada o 5 a 15: asma muito mal controlada CONTROLE DA ASMA Fatores que influenciam o controle da asma: MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 5 1. Falta de adesão: a principal causa de falta de controle da asma é a baixa adesão ao tratamento, decorrente de fatores voluntários (medos e mitos sobre o tratamento) e de faltores involuntários (falta de acesso ao tratamento ou dificuldade no uso do dispositivo). Apenas 32% dos asmáticos são aderentes ao tratamento 2. Tabagismo: a exposição ao tabagismo passivo, tanto em crianças como em adultos, aumenta o risco de exacerbações e dificulta o controle da asma. Além disso, o tabagismo aumenta a gravidade da asma, piora o controle da doença, acelera a perda da função pulmonar e diminui a responsividade ao corticoide inalatório 3. Exposição ambiental e ocupacional: a exposição ambiental (poeiras e poluição), domiciliar (queima de biomassa, ácaros, alérgenos de barata e pelo de animais) ou ocupacional (alergias a látex, agentes de baixo peso molecular e material de limpeza) 4. Uso de outras drogas que podem dificultar o controle da asma: aspirina e anti inflamatórios não esteroides podem causar exacerbação grave da asma em indivíduos sensibilizados, assim como β bloqueadores por via oral ou formulações oftálmicas podem causar broncoespasmo 5. Comorbidades: refluxo gastroesofágico, obesidade, disfunção de cordas vocais, rinossinusite crônica, polipose nasal, ansiedade, depressão, apneia do sono, DPOC, aspergilose broncopulmonar alérgica, bronquiectasias TRATAMENTO MEDICAMENTOSO → Beta-2 agonistas de curta duração (SABA): o Salbutamol o Terbutalina o Fenoterol → Corticosteroides sistêmicos: o Prednisona/prednisolona – via oral o Hidrocortisona o Metilprednisolona → Brometo de ipratrópio (atroven) → Sulfato de magnésio Para crianças de 6 a 11 anos seguir o protocolo abaixo: MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 6 Para crianças com < 6 anos, usar o seguinte protocolo: AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DA ASMA A gravidade da asma é avaliada de forma retrospectiva a partir da etapa de tratamento necessário para controlar sintomas e exacerbações Quando? ▪ Avaliar a gravidade da asma depois que o paciente já estiver em tratamento de controle há vários meses ▪ A gravidade não é estática – ela pode mudar ao longo dos meses ou anos, ou quando surgem novos tratamentos Níveis de gravidade da asma: ▪ Asma leve: bem controlada com as etapas 1 ou 2 (SABA ou dose baixa de CI) ▪ Asma moderada: bem controlada com a etapa 3 (dose baixa de CI/LABA) ▪ Asma grave: requer as etapas 4/5 (dose moderada ou alta de CI/LABA ± tratamento adjuvante), ou continua não controlada apesar do tratamento LABA = beta agonista de longa ação Beta-2 agonistas de curta ação, modo de usar e doses: Salbutamol: Aerolin® Fenoterol: Berotec® MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 7 Corticosteroides: efeitos ▪ Estabilização das membranas lisossomais/celulares ▪ Inibição da liberação de mediadores inflamatórios ▪ Redução da migração de neutrófilos ▪ Diminuição da sobrevida de eosinófilos/mastócitos ▪ Aumento da atividade beta-2 adrenérgica ▪ Aumento da síntese de surfactante Corticosteroides: modos de utilização Oral: ▪ Prednisona 1 a 2 mg/kg/dose (máx 40 mg) ▪ Prednisolona solução oral 1 a 2 mg/kg/dose (máx 40 mg) - predsim® Parenteral (IV ou IM) se não aceitar VO ▪ Metilprednisolona 1 a 2 mg/kg/dose (máx 125 mg) ▪ Hidrocortisona 5 a 10 mg/kg/dose (máx 200 mg) Anticolinérgico – Brometo de Ipratrópio ▪ Inibe tônus parassimpático: Ach ▪ Bloqueia receptores muscarínicos M3: broncodilatação ▪ Efeito dose dependente ▪ Uso inalatório: nebulização x aerossol ▪ Uso em asma moderada ou grave ▪ Doses máximas: 250 mcg = 20 gotas (< 20 kg) ou 500 mcg = 40 gotas (> 20 kg) Sulfato de Magnésio – ações: Antagonismo de transporte de cálcio nas membranas ▪ Diminui a captação de cálcio pela mucosa brônquica, levando ao relaxamento do músculo liso de vias aéreas ▪ Inibição da degranulação de mastócitos ▪ Diminuição da liberação de Ach em terminais nervosos ▪ Redução da excitabilidade da fibra muscular ▪ Sulfato de magnésio EV (somente em ≥ 2 anos): 50 mg/kg (25 a 75 mg/kg – dose máxima 2 g), infundir em 20 minutos com monitoração da PA Teofilina/Aminofilina: papel histórico no tratamento da asma – não é mais utilizado Antileucotrieno – Montelucaste VO ou EV: sem indicação na crise aguda. Pode ser usado com adjuvante, tem efeito antiinflamatório e broncodilatador. Usado no tratamento de manutenção e controle de crise. Quando utilizar oxigênio: ▪ Para todos os pacientes com SatO2 < 95% ▪ Em crianças com oxigênio que estão com SatO2 < 92% - chance alta de hospitalização ▪ Raro recaídas quando SatO2 inicial é menor ou igual a 95% MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS Evitar exposição à fumaça de cigarro o Fornecer aconselhamento e recursos para que os paciente parem de fumar; recomendar não expor crianças à fumação de cigarro Atividade física o Praticar regularmente uma atividade física devido aos benefícios para a saúde em geral. Oferecer aconselhamento sobre broncoconstricção induzida pelo exercício Asma ocupacionalo Perguntar sobre histórico laboral. Eliminar os agentes sensibilizantes o mais rápido possível Evitar medicações que possam agravar a asma o Perguntar sempre se o paciente tem asma antes de prescrever AINES ou betabloqueadores Eliminar umidade e mofo nas casas o Reduz sintomas de asma e uso de medicação em adultos MARIA GABRIELA CALAÇA DE ARAÚJO – MEDICINA - PEDIATRIA 8 CRISE ASMÁTICA Manejo na urgência Deve-se realizar 3 ciclos de 20 em 20 minutos de SABA ERROS E DEFICIÊNCIAS MAIS COMUNS DURANTE O TRATAMENTO NO PRONTO SOCORRO ▪ História e exame físicos inadequados ▪ Não usar peak flow (para medir o pico de fluxo expiratório) ▪ Não identificação de asma de risco ▪ Usar aminofilina como tratamento principal ▪ Subdoses de salbutamol ou grande intervalo entre as doses ▪ Técnica de inalação inapropriada ▪ Demora na administração de corticosteroides ▪ Na alta: o Liberação precoce do OS o Falta de orientação técnica de uso dos aerossóis o Não orientação sobre retorno à emergência se necessário o Não prescrição de prednisona ou equivalente o Não encaminhamento dos casos graves aos serviços especializados