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A Bioética Noticiada | Bioética | Medicina | UFCSPA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
DISCIPLINA DE BIOÉTICA
ALUNO: ELIÉZER DA CUNHA RODRIGUES		 TURMA: AD2024 B
A BIOÉTICA NOTICIADA
O texto subsequente baseia-se na reportagem “Terminally ill Noel Conway loses Supreme Court appeal”[endnoteRef:1] (“Paciente terminal, Noel Conway perde processo na Suprema Corte” - em tradução livre), veiculada pela BBC, em 27 de novembro de 2018. [1: BBC - Terminally ill Noel Conway loses Supreme Court appeal - https://www.bbc.com/news/uk-england-shropshire-46359845/ Acesso em 26/03/19] 
	Preso a máquinas que o ajudam a respirar e condicionado a dores crônicas espalhadas pelo corpo, Noel Conway é um cidadão inglês de 67 anos que, desde 2014, luta na justiça pelo direito de realizar suicídio assistido, a eutanásia médica. Diagnosticado com uma rara condição de deficiência neuro-motora que o lega a pouco mais de 6 meses de vida, os movimentos de Noel limitam-se aos de sua mão direita, de sua cabeça e de seu pescoço. Em junho de 2018, o inglês perdeu o apelo por meio do qual buscava recorrer da decisão da Suprema Corte, que julgou inconstitucional o seu pedido de morrer sob a administração médica de uma dose letal de drogas injetáveis.
	Segundo o caso registrado em tribunal, a decisão foi tomada com base na seção 2 do Tratado do Suicídio de 1961, que julga a ação requerida por Conway como ilegal e punível com uma pena de até 14 anos na prisão. Noel e seus advogados, contudo, tentaram provar que o seu direito à uma morte digna era garantido pela somatização institucional deste mesmo Tratado do Suicídio - que, em 1961, descriminalizou a retirada da própria vida – e do princípio constitucional e direito humano que garante ao indivíduo o direito à vida privada (Artigo 8 do Convênio Europeu de Direitos Humanos). A argumentação de Noel não se sustentou, e, por fim, a sua luta judicial culminou em um fracasso que, segundo ele, o condiciona a uma morte sofrida e difícil:“A única opção que me resta é desligar as máquinas que me mantêm vivo e respirando e, sob o efeito de sedativos, sufocar-me até a morte. Para mim, isso é inaceitável” ("The only option I currently have is to remove my ventilator and effectively suffocate to death under sedation," he said. "To me this is not acceptable."). Isso posto que, se qualquer pessoa que não ele, profissional da saúde ou não, retirasse o seu aparelho respiratório, esta seria condenada a 14 anos de reclusão.
	O fato é que a decisão proibitiva do Estado, no que se refere ao suicídio assistido, não impede que os ingleses retirem suas próprias vidas por intermédio do auxílio médico. No país, os doentes que ainda apresentam condições físicas de fazer grandes deslocamentos viajam para a clínica suíça ‘Dignitas’, instituição conhecida pela prática legal, humana e digna da Eutanásia. Noel, entretanto, não mais possui condições de viajar até o centro suíço.]
	Isso posto, concluo em meu parecer pessoal que a decisão da Suprema Corte vilipendia a autonomia individual de Noel Conway. Isso se justifica no fato de que este tomou a sua decisão em pleno estado de consciência e em pleno exercício do seu livre arbítrio - racional e consciente de tal forma que o inglês se preocupa, inclusive, com a possibilidade de que a doença possa deixá-lo em um estado de sequelas físico-mentais no qual a justiça possa declarar a sua incapacidade de decisão autônoma. É por essa razão que Noel age rapidamente. Ademais, a decisão fere o princípio de benevolência e de não-malevolência que regem as condutas médicas, pois, se o suicídio assistido de Conway estivesse em conformidade com a jurisdição legal, não haveria terceiros prejudicados pela ação e ele, em si, almejaria o objetivo: morrer de modo digno e sem dor. Por fim, há uma violação clara do princípio de justiça, pois, na condição de sua deficiência, Noel não é um cidadão típico, precisando ter as suas diferenças consideradas no processo decisório. O seu desejo pela morte nasce de uma vida que, de tão dolorosa, não mais vale a pena ser vivida.

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