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Exame do Coração Semiote ́cnica O exame físico do corac ̧ão inclui a inspeça ̃o, a palpação e a ausculta. A posic ̧ão fundamental do paciente é o decu ́bito dorsal; o médico deve ficar sentado ou de pé, do seu lado direito. Outras posições (sentado, decúbito lateral e de pé com o tórax inclinado para a frente) podem ser necessa ́rias em determinadas ocasiões, como sera ́ descrito adiante. Inspec ̧ão e palpac ̧ão Realizamse a inspeça ̃o e a palpaça ̃o simultaneamente porque os achados semióticos tornamse mais significativos quando analisados em conjunto. Os seguintes parâmetros devem ser sistematicamente investigados: pesquisa de abaulamentos, ana ́lise do ictus cordis ou choque da ponta, análise de batimentos ou movimentos visíveis e/ou palpa ́veis, palpaça ̃o de bulhas e pesquisa de frêmito cardiovascular. Para tornar mais fácil o reconhecimento de abaulamento, a observac ̧a ̃o da regia ̃o precordial deve ser feita em duas incide ̂ncias: tangencial, com o examinador de pé do lado direito do paciente, e frontal, o examinador ficando junto aos pés do paciente, que permanece deitado. Abaulamento dessa regia ̃o pode indicar a presenc ̧a de aneurisma da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e alterações da própria caixa torácica. Pormenor importante é diferenciar os abaulamentos por alteraça ̃o da estrutura osteomuscular dos causados pela dilatação do ventrículo direito. O elemento que os distingue é a presença de impulsões do precórdio, que aparecem nos casos de aumento cardi ́aco (Figura 16.23). O ictus cordis ou choque da ponta é estudado pela inspeça ̃o e palpaça ̃o, investigandose localizaça ̃o, extensa ̃o, intensidade, mobilidade, ritmo e freque ̂ncia. A localizac ̧ão do ictus cordis varia de acordo com o biotipo do paciente. Nos medioli ́neos, situase no cruzamento da linha hemiclavicular esquerda com o 4o ou 5o espaço intercostal; nos brevilíneos, deslocase uns 2 cm para fora e para cima, situandose no 4o espaço intercostal; nos longilíneos, costuma estar no 5o espac ̧o, 1 ou 2 cm para dentro da linha hemiclavicular. Nos portadores de enfisema pulmonar ou quando há obesidade, musculatura muito desenvolvida ou grandes mamas, o ictus cordis costuma ser invisi ́vel e impalpável, mas, mesmo em pessoas sauda ́veis, pode ser que o ictus cordis na ̃o seja visi ́vel. Nos pacientes idosos, o aumento de diâmetro anteroposterior do tórax, propiciando a interposiça ̃o pulmonar entre o coração e a parede torácica, torna o ictus cordis invisível e praticamente impalpável, a na ̃o ser que haja uma hipertrofia do ventrículo esquerdo. O deslocamento do ictus cordis indica dilatac ̧a ̃o e/ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, como pode ocorrer na estenose aórtica, insuficiência aórtica, insuficie ̂ncia mitral, hipertensa ̃o arterial, miocardiopatias e em algumas cardiopatias conge ̂nitas. Quando o paciente tem escoliose, depressão do esterno (to ́rax infundibuliforme), derrame pleural ou elevac ̧a ̃o do diafragma (ascite, obesidade), o deslocamento do ictus cordis não indica hipertrofia e/ou dilatação do ventrículo esquerdo. Cumpre assinalar que a hipertrofia do ventrículo direito pouco ou nada repercute sobre o ictus cordis, pois esta ca ̂mara não participa da ponta do corac ̧a ̃o (Figuras 16.22 e 16.24). Avalia-se a extensa ̃o do ictus cordis procurando determinar quantas polpas digitais sa ̃o necessa ́rias para cobrilo, calculandose, em seguida, a quantos centímetros isso corresponde. Em condic ̧ões normais, corresponde a uma ou duas polpas digitais, ou seja, 2 a 3 cm de diâmetro. Nos casos de hipertrofia ventricular, sa ̃o necessa ́rias três polpas ou mais. Quando há grande dilatac ̧ão e/ou hipertrofia, o ictus cordis chega a abarcar toda a palma da mão. A intensidade do ictus cordis e ́ avaliada mais pela palpação do que pela inspeça ̃o. Para fazêla corretamente, repousase a palma da ma ̃o sobre a regia ̃o dos batimentos. Tente localizar o ictus cordis com o paciente em decúbito dorsal, palpando a regia ̃o usando as superfícies palmares de vários dedos. Caso na ̃o consiga, peça ao paciente para que, em decu ́bito lateral esquerdo, expire completamente e mantenhase sem respirar por alguns segundos (Figura 16.25). Em pacientes do sexo feminino, pode ser necessa ́rio afastar a mama esquerda para cima ou para o lado. esmo em pessoas sauda ́veis, sua intensidade varia dentro de determinados limites, sendo mais forte em pessoas magras ou após exercício e emoções, assim como em todas as situac ̧ões que provocam aumento da atividade cardíaca (hipertireoidismo, por exemplo). É na hipertrofia ventricular esquerda, no entanto, que se constatam os choques de ponta mais vigorosos. Quando a hipertrofia ventricular esquerda é conseque ̂ncia da insuficie ̂ncia ao ́rtica, observase ictus cordis extenso e de grande intensidade. Em 30% das pessoas sauda ́veis, não se consegue detectar ictus cordis nas posições sentada e em decúbito dorsal. Nestes casos colocase o paciente em decúbito lateral esquerdo, lembrandose que esta posiça ̃o desloca para fora o ictus cordis. De maneira simplificada podese dizer que as hipertrofias ventriculares impulsionam as polpas digitais com mais vigor do que as dilatações. Contudo, cumpre lembrar que na maioria das cardiopatias a hipertrofia e a dilatac ̧a ̃o esta ̃o combinadas. Determinase a mobilidade do ictus cordis da seguinte maneira: primeiro, marcase o local do choque com o paciente em decúbito dorsal. Em seguida, o paciente adota os dois decúbitos laterais (direito e esquerdo), e o examinador marca o local do ictus nessas posições. Em condic ̧ões normais, o choque da ponta deslocase 1 a 2 cm com as mudanças de posiça ̃o; se houver sínfise pericárdica, isto é, se os folhetos do perica ́rdio estiverem aderidos entre si e com as estruturas adjacentes, o ictus na ̃o se desloca. Este dado e ́ de pouca importância prática. O ritmo e a frequência do coraça ̃o são mais bem analisados pela ausculta; contudo, durante a inspeça ̃o e a palpação, o examinador consegue elementos u ́teis para o diagnóstico. De modo especial, merece ser ressaltado que o ritmo de galope pode ser reconhecido com facilidade pela palpação do precórdio. Além do ictus cordis, podem ser encontrados no precórdio e áreas adjacentes outros movimentos visíveis e/ou palpáveis, ou seja, retração sistólica, levantamento em massa do preco ́rdio, choques valvares palpáveis, pulsaça ̃o epigástrica e pulsação supraesternal. A retrac ̧a ̃o sisto ́lica apical se revela em casos de hipertrofia direita. Durante a sístole, em vez de um impulso, o que se percebe é uma retraça ̃o da ponta, enquanto as regiões esternal e paraesternal esquerda são projetadas para diante (impulso paraesternal esquerdo), constituindo o movimento em ba ́scula, que sugere grande ventrículo direito. O levantamento em massa do precórdio ocorre também na hipertrofia do ventrículo direito e é percebido como um impulso sistólico que movimenta uma área relativamente grande da parede tora ́cica nas proximidades do esterno. (A borda ooo esternalesquerdaeo3,4 e5 espaçosintercostaisconstituemoquesedenominar egia ̃oventriculardireita.) Quando as bulhas cardíacas tornamse hiperfonéticas, podem ser sentidas pela ma ̃o como um choque de curta duraça ̃o. Este fenômeno denominase choque valvar palpável. O mesmo ocorre com os cliques de maior intensidade, que também chegam a ser palpáveis. Pulsac ̧ões epigástricas sa ̃o observadas e palpadas em muitas pessoas, e nada mais são do que a transmissão das pulsac ̧ões da aorta a ̀ parede abdominal. Todavia, podem denunciar hipertrofia ventricular direita; nesse caso,as pulsac ̧ões são mais intensas no nível da regia ̃o subxifoide, na qual se consegue, inclusive, sentir as contrac ̧ões do ventrículo hipertrofiado. Para isso, a palma da mão do examinador deve pressionar a parte superior da região epigástrica para cima. Outra causa de pulsaça ̃o epigástrica é o pulso hepático, que pode ser decorrente de estenose tricu ́spide – neste caso, a pulsac ̧a ̃o é présistólica – ou de insuficie ̂ncia tricúspide – pulsaça ̃o sistólica. Pulsac ̧a ̃o supraesternal ou na fúrcula esternal pode ser observada em pessoas saudáveis e depende das pulsações da crossa da aorta. Quando muito intensas, levantam a suspeita de hipertensa ̃o arterial, aneurisma da aorta ou síndrome hipercine ́tica (insuficie ̂ncia aórtica, hipertireoidismo). Frêmito cardiovascular e ́ a designac ̧a ̃o aplicada à sensac ̧a ̃o tátil determinada por vibrações produzidas no coraça ̃o ou nos vasos. E ́ habitual comparálo ao que se sente quando se palpa o pescoc ̧o de um gato que ronrona; daí a denominac ̧ão de frêmito catário. Ao se encontrar um frêmito, três características precisam ser investigadas: localizac ̧a ̃o, usandose como referência as a ́reas de ausculta; situac ̧ão no ciclo cardíaco, diferenciandose enta ̃o pela coincide ̂ncia ou na ̃o com o pulso carotídeo, os frêmitos sistólico, diastólico e sistodiastólico; e intensidade, avaliada em cruzes (+ a + + + +). Os frêmitos correspondem aos sopros, e sua presenc ̧a é de grande importância para o raciocínio clínico, como se vera ́ mais adiante. Ausculta Para se auscultar corretamente o corac ̧ão, devem ser obedecidas normas quanto: ◗ Ambiente de ausculta ◗ Posiça ̃o do paciente e do examinador ◗ Instruça ̃o adequada do paciente ◗ Escolha correta do receptor ◗ Aplicac ̧ão correta do receptor ◗ Relaça ̃o dos batimentos cardíacos com a respiraça ̃o. Ambiente de ausculta Ambiente silencioso e ́ condic ̧ão indispensável para se realizar uma boa ausculta. Os rui ́dos cardíacos são de pequena intensidade e, para ouvilos, é necessa ́rio completo sile ̂ncio. Conversas, barulhos produzidos por veículos ou outras ma ́quinas impossibilitam a realizac ̧ão de uma ausculta de boa qualidade. Posic ̧ão do paciente e do examinador O médico e o paciente devem se posicionar comodamente no momento da ausculta, que será efetuada com o paciente nas posic ̧ões deitada, sentada e em decúbito lateral esquerdo. Às vezes, usase outra posiça ̃o, na qual o paciente se põe de pé, inclinado para a frente ou debruc ̧ado sobre a mesa de exame ou o próprio leito. A posic ̧a ̃o habitual é o decúbito dorsal com a cabeça apoiada em um pequeno travesseiro, com o tórax completamente descoberto. O me ́dico posicionase do lado direito, de pe ́ ou sentado, conforme a altura da cama ou da mesa de exame. Outra posic ̧ão é o paciente sentado na beira do leito ou em uma cadeira com o tórax ligeiramente inclinado para a frente. O examinador põese de pe ́ do lado direito do doente. Esta u ́ltima posic ̧ão é mais propícia para a ausculta dos fenômenos estetoacústicos originados na base do corac ̧a ̃o. Uma terceira posic ̧ão é aquela em que o paciente permanece deitado em decúbito lateral esquerdo com a ma ̃o esquerda sob a cabeça. Desse modo evitase que o braço fique acolado ao tórax, impedindo livre acesso ao precórdio. O me ́dico continua de pé do lado direito. Esta posiça ̃o é mais adequada para se auscultarem os fenômenos da a ́rea mitral. Assim, algumas vezes a 3a bulha é mais audível em decúbito lateral esquerdo. Digna de nota, também, é a melhor audibilidade do ruflar diastólico da estenose mitral nesta posic ̧a ̃o. Quando ha ́ hipofonese das bulhas e quando se quer exacerbar os sons originados na base do coração, solicitase ao paciente que assuma a posiça ̃o de pé, debruc ̧andose sobre a mesa de exame. Assim posicionado, obtémse maior aproximaça ̃o do coraça ̃o com a parede torácica, tornando as bulhas e outros sons nele originados mais audíveis (Figura 16.26). Instruc ̧ão adequada do paciente As instruc ̧ões solicitadas ao paciente devem ser claras. Assim, quando se deseja que ele altere seu modo de respirar – aumente a amplitude, inspire profundamente, expire de modo forc ̧ado, pare a respiraça ̃o –, isso deve ser feito em linguagem compreensível. Quando se quer, por exemplo, uma expiraça ̃o forçada, a melhor maneira de obte ̂la é dizer ao paciente que esvazie o peito, soprando todo o ar possível. Escolha correta do receptor Referese a tipo e tamanho do receptor. De maneira geral, devese efetuar toda a ausculta utilizando o receptor de diafragma de menor diâmetro. Contudo, devese lembrar de algumas particularidades que apresentam valor prático; dentre elas, vale ressaltar que o receptor de diafragma é mais apropriado para se ouvirem ruídos de alta freque ̂ncia, enquanto a campânula capta melhor os rui ́dos de baixa frequência (3a e 4a bulhas, ruflar da estenose mitral). Ver Ausculta no Capítulo 5, Técnicas Ba ́sicas do Exame Físico. Aplicac ̧a ̃o correta do receptor O receptor, seja do tipo de diafragma ou de campânula, deve ficar levemente apoiado sobre a pele, procurandose, ao mesmo tempo, obter uma perfeita coaptaça ̃o de suas bordas na área que esta ́ sendo auscultada. Nunca se deve realizar ausculta através de qualquer tipo de roupa. A correta aplicaça ̃o do receptor impedirá a captaça ̃o de ruídos ambientais que ira ̃o interferir na percepça ̃o dos sons. Ademais, a compressão intensa da campânula sobre a pele transformaa em um receptor de diafragma – a própria pele do paciente distendida fortemente pelas rebordas do receptor faz o papel de membrana –, anulando sua vantagem na ausculta de ruídos de baixa frequência (Figura 16.27). Por fim, deve ser enfatizado que o receptor é colocado diretamente sobre a pele, e nunca sobre a roupa o paciente. Relação dos batimentos cardi ́acos com a respirac ̧ão O examinador deve prestar atenc ̧a ̃o à influe ̂ncia da respiraça ̃o sobre a intensidade dos ruídos cardíacos. A maioria dos sopros ou sons originados no corac ̧a ̃o direito aumenta durante a inspiraça ̃o, em virtude do aumento do retorno de sangue nesta fase da respiraça ̃o. Ver boxe Manobra de RiveroCarvallo, mais adiante. Focos ou a ́reas de ausculta Recordese, de início, que os clássicos focos de ausculta na ̃o correspondem às localizac ̧ões anatômicas das valvas que lhes emprestam os nomes. Como mostra a Figura 16.28, a projeção das valvas e dos anéis orovalvares se concentra na região do terc ̧o inferior do esterno, enquanto os focos ou a ́reas de ausculta se localizam nas seguintes regiões: ◗ O foco ou a ́rea mitral (FM) se situa no 4o ou 5o espac ̧o intercostal esquerdo da linha hemiclavicular e corresponde ao ictus cordis ou ponta do corac ̧a ̃o ◗ O foco ou a ́rea pulmonar (FP) localizase no 2o espaço intercostal esquerdo junto ao esterno ◗ O foco ou a ́rea aórtica (FAo) localizase no 2o espac ̧o intercostal direito junto ao esterno ◗ O foco ou área aórtica acesso ́ria localizase no 3o espac ̧o intercostal esquerdo, junto ao esterno ◗ O foco ou área tricu ́spide (FT) corresponde à base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda. Outras a ́reas de ausculta no precórdio e adjace ̂ncias são: ◗ Borda esternal esquerda (BEE), que corresponde ao espac ̧o situado entre a a ́rea pulmonar e a área tricu ́spide ◗ Borda esternal direita (BED), que compreende a região entre a a ́rea aórtica e o 5o espac ̧o intercostal direito, justaesternal ◗ Endoa ́pex ou mesoca ́rdio e ́ a a ́rea situada entre o foco tricúspide e o foco mitral ◗ Regio ̃es infra e supraclaviculares direita e esquerda ◗ Regio ̃es laterais dopescoço ◗ Regio ̃es interescapulovertebrais. A determinaça ̃o de focos ou a ́reas na ̃o significa que o receptor do estetoscópio deva ser colocado apenas naqueles locais. Todo o precórdio e as regiões circunjacentes precisam ser auscultados, e os focos nada mais são do que pontos de refere ̂ncia. Ciclo cardíaco Só se consegue compreender os fenômenos estetoacústicos quando se tem bom conhecimento dos eventos que constituem o ciclo cardíaco. O trabalho meca ̂nico do corac ̧ão utiliza duas variáveis: volume de sangue e pressa ̃o. A contrac ̧a ̃o das fibras miocárdicas determina uma elevac ̧ão da pressa ̃o intracavita ́ria. Seu relaxamento, de modo inverso, induz uma reduça ̃o pressórica. Em certo momento do ciclo cardíaco ocorre um repouso elétrico e meca ̂nico do corac ̧ão. Vamos partir daí para reconstituir a seque ̂ncia de fatos que o integram, tomando como exemplo o lado esquerdo do corac ̧a ̃o (Figura 16.29). Neste momento, fim da diástole (coraça ̃o no 8 da Figura 16.29), os folhetos da valva mitral estão semiabertos; entretanto, pouca ou nenhuma quantidade de sangue passa por eles. Isso se deve a ̀ pequena diferença pressórica entre o a ́trio e o ventri ́culo esquerdo. Esta fase denominase enchimento ventricular lento. O nó sinusal emite um novo estímulo que excita os átrios, cuja musculatura se contrai em seguida. Como conseque ̂ncia da contraça ̃o, há reduc ̧ão do volume interno do a ́trio esquerdo e elevac ̧a ̃o concomitante do ni ́vel pressórico dessa cavidade, que resulta na impulsão do sangue para o ventri ́culo esquerdo. Há que ressaltar os seguintes pontos: ◗ A elevac ̧a ̃o da pressão atrial corresponde à onda A da curva atrial (atriograma) ◗ As valvas atrioventriculares se afastam amplamente para permitir o afluxo de sangue para o ventri ́culo; após, mantêmse semicerradas (coraça ̃o no 7 da Figura 16.29) ◗ A elevac ̧a ̃o da pressão atrial é seguida de aumento da pressa ̃o ventricular, que e ́ denominada pressão diastólica final do ventrículo (Pd2 ou Pdf) ◗ A participaça ̃o da contrac ̧a ̃o atrial no enchimento ventricular situase em torno de 20 a 30% do volume sanguíneo total. O estímulo elétrico passa pela junça ̃o atrioventricular, distribuise pelo feixe de His e pela rede de Purkinje, excitando a musculatura ventricular. Devidamente despolarizada, essa musculatura se contrai e eleva a pressão ventricular até atingir e ultrapassar o nível pressórico intraatrial, que, por sua vez, estara ́ decrescendo. Neste momento ocorre o fechamento dos folhetos da valva mitral (coraça ̃o no 1 da Figura 16.29); este feno ̂meno constitui o principal componente da 1a bulha cardi ́aca. A pressão ventricular elevada impulsiona a face ventricular da valva mitral para cima, provocando um transitório aumento da pressa ̃o no interior do átrio esquerdo, que se traduz graficamente pela onda C do atriograma. Em seguida, prossegue o relaxamento muscular do a ́trio, que se acompanha, obviamente, de reduça ̃o da pressão no interior dessa cavidade. Este momento corresponde ao colapso X da curva atrial. A crescente tensa ̃o da parede ventricular produz elevaça ̃o da pressa ̃o intraventricular. O ventrículo acaba por se constituir em uma cavidade fechada, pois as valvas mitral e aórtica estara ̃o momentânea e concomitantemente cerradas. Esta fase é chamada de período de contrac ̧a ̃o isovolumétrica (coraça ̃o no 1 da Figura 16.29). Quando a pressão intraventricular supera a pressão intraaórtica, abremse as valvas sigmoides ao ́rticas, iniciandose a ejec ̧a ̃o ventricular (corac ̧a ̃o no 2 da Figura 16.29). A ejec ̧ão ventricular se divide em 3 fases: rápida, lenta e protodia ́stole de Wiggers. Nesta fase do ciclo cardíaco devem ser realc ̧ados os seguintes eventos: ◗ A ampla comunicaça ̃o entre ventrículo esquerdo e aorta gera um gradiente de pressa ̃o em torno de 5 mmHg, nível suficiente para manter a ejeça ̃o sangui ́nea ◗ A constituic ̧a ̃o ela ́stica da aorta é própria para receber sangue sob grande impacto pressórico ◗ A velocidade de ejec ̧ão ventricular é maior que a saída de sangue do sistema capilar para as vênulas. Daí resulta dilataça ̃o da raiz da aorta que se acompanha de estimulac ̧ão dos pressorreceptores localizados nas paredes deste vaso. Por aça ̃o dos centros bulbares, aos quais chegaram os estímulos captados pelos barorreceptores, instalase uma vasodilataça ̃o periférica, que, por sua vez, facilita a saída de um volume de sangue igual ao que aflui a ̀ aorta ◗ A reduc ̧a ̃o da pressão intraventricular para nível inferior ao da aorta propicia o fechamento das sigmoides ao ́rticas, que se constitui no primeiro componente da 2a bulha cardíaca (coraça ̃o no 3 da Figura 16.29). Neste momento termina a fase sisto ́lica do ciclo cardíaco. O período de relaxamento isovolume ́trico tem início com a 2a bulha e se acompanha de decréscimo da pressa ̃o intraventricular. Durante a diástole ventricular, o afluxo de sangue para o a ́trio esquerdo procedente dos pulmo ̃es, associado a ̀ recuperaça ̃o do tônus do mioca ́rdio atrial, resulta na elevaça ̃o passiva da pressão intraatrial. Este feno ̂meno corresponde ao ramo ascendente da onda V da curva atrial (coraça ̃o no 4 da Figura 16.29). A ocorrência de reduça ̃o da pressão intraventricular ao mesmo tempo em que ha ́ elevac ̧ão da pressão atrial favorece a abertura da valva mitral (pico ma ́ximo da onda V), iniciando o esvaziamento do a ́trio esquerdo. É um fenômeno passivo, o que não impede de haver um enchimento ra ́pido desta cavidade, com chegada de aprecia ́vel volume de sangue, aproximadamente 75% do volume diastólico de sangue do ventrículo. Este momento corresponde ao colapso Y da curva atrial, e esta fase da diástole é denominada enchimento ventricular rápido seguido do enchimento ventricular lento (corac ̧ão no 5 e no 6 da Figura 16.29). Merecem destaque os seguintes fatos: ◗ Durante o enchimento ventricular o relaxamento dessa cavidade continua a se processar até que o tônus do mioca ́rdio volte ao normal e passe a oferecer resiste ̂ncia a novo aporte sanguíneo ◗ A saída de grande volume sanguíneo do a ́trio esquerdo para o ventrículo esquerdo determina um declínio da pressão atrial responsável pelo colapso Y da curva atrial ◗ A mais baixa pressa ̃o intraventricular durante a dia ́stole é chamada pressão diastólica inicial (Pd1 ou Pdi). Os folhetos da valva mitral, amplamente abertos durante a fase de enchimento ventricular rápido, colocamse em posic ̧ão semiaberta no fim dessa fase, em razão da pequena diferenc ̧a de pressa ̃o entre o a ́trio e o ventrículo esquerdos. Este pequeno gradiente de pressa ̃o reduz de modo significativo o afluxo sanguíneo. É a fase de enchimento ventricular reduzido (coraça ̃o no 6 da Figura 16.29). A fase diastólica termina com o período de contrac ̧ão atrial (corac ̧a ̃o no 7 da Figura 16.29). Neste momento, o coraça ̃o volta a se manter, momentaneamente, em repouso ele ́trico e meca ̂nico, até que um novo esti ́mulo gerado pelo no ́ sinusal reinicie a sequência de fenômenos que constituem o ciclo cardi ́aco. Os períodos das fases sistólica e diastólica em relac ̧a ̃o ao ciclo cardíaco sa ̃o mostrados no Quadro 16.9. Bulhas cardíacas Primeira bulha (B1) O principal elemento na formaça ̃o da 1a bulha cardíaca é o fechamento das valvas mitral e tricu ́spide, o componente mitral (M) antecedendo o tricu ́spide (T) pelas razões observadas ao se estudar o ciclo cardíaco (Figuras 16.30 e 16.31). As vibrac ̧ões de origem vascular e muscular na ̃o sa ̃o audíveis, mas são registráveis no fonocardiograma, em que aparecem como pequenas vibrac ̧ões que correspondem a ̀ contraça ̃o dos ventrículos e ao fluxo inicial de sangue para o interior dos grandes vasos. A 1a bulha coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo. É de timbre mais grave, e seu tempo de durac ̧ão um pouco maior que o da 2a bulha. Para representála usamos a expressão onomatopaica TUM. Em condic ̧ões normais a 1a bulha apresenta maior intensidade no foco mitral, no qual costuma ser mais forte que a 2a bulha. Em 50% das pessoas sauda ́veis percebemse separadamente os componentes mitral e tricu ́spide, feno ̂meno não relacionado com a respiraça ̃o e sem significado patolo ́gico (Figura 16.31). Segunda bulha (B2) A segunda bulha (B2) é constituída por quatro grupos de vibrações, mas somente sa ̃o audíveis as originadas pelo fechamento das valvas aórtica e pulmonar. Ouvese o componente ao ́rtico em toda a regia ̃o precordial, enquanto o ruído originado na pulmonar é auscultado em uma área limitada que corresponde ao foco pulmonar e à borda esternal esquerda. Por isso, no foco aórtico e na ponta do corac ̧ão a segunda bulha é única pelo simples fato de se auscultar apenas o componente aórtico nestes focos Normalmente, o componente ao ́rtico (A) precede o pulmonar (P) Durante a expiraça ̃o, ambas as valvas se fecham sincronicamente, originando um u ́nico ruído. Na inspiraça ̃o, quando a sístole do ventrículo direito se prolonga ligeiramente, em funça ̃o do maior afluxo sanguíneo a este lado do corac ̧a ̃o, o componente pulmonar se retarda por tempo suficiente para se perceberem de modo ni ́tido os dois componentes. Este fato se chama desdobramento inspiratório ou fisiológico da segunda bulha (Figuras 16.32 e 16.47). A 2a bulha é ouvida depois do pequeno sile ̂ncio; seu timbre é mais agudo, soa de maneira mais seca, de tal modo que a designamos pela expressão TÁ. Quando a bulha esta ́ desdobrada, seu ruído corresponde a ̀ expressão TLÁ. O grau de desdobramento varia de indivi ́duo para indivi ́duo, e é observado em praticamente todas as crianc ̧as. Em condic ̧ões normais, a segunda bulha é mais intensa nos focos da base (ao ́rtico e pulmonar). Explicase tal fato pela maior proximidade das estruturas em que se originam esses sons. Nas crianc ̧as, a segunda bulha tem maior intensidade no foco pulmonar. Em adultos e pessoas idosas, observase o contra ́rio. Para o reconhecimento da 2a bulha, devese estar atento para o fato de ela ocorrer depois do pequeno sile ̂ncio, ser de timbre mais agudo e ressoar de maneira mais seca. Essas características permitiram comparála ao som produzido quando se pronuncia a expressão TÁ. Terceira bulha (B3) A 3a bulha é um ruído protodiastólico de baixa frequência, que se origina das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento ventricular rápido. A 3a bulha normal é observada habitualmente em crianças e adolescentes, raramente em adultos. É mais audível na área mitral, em decúbito lateral esquerdo; o receptor mais apropriado é o de campa ̂nula, isto porque, esta bulha é um ruído de baixa freque ̂ncia. Pode ser imitada pronunciandose de modo rápido a expressão TU. Quarta bulha (B4) A 4a bulha é um ruído débil, que ocorre no fim da diástole ou présístole, e, por isso, mais difícil de ser percebida. Em condições normais, pode ser ouvida em crianc ̧as e adultos jovens. A 4a bulha originase pela brusca desacelerac ̧ão do fluxo sanguíneo, mobilizado pela contraça ̃o atrial, ao encontrar a massa sanguínea existente no interior dos ventrículos, no final da dia ́stole. Posições do paciente e manobras Para se efetuar a ausculta do coração, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com o tórax descoberto, e respirando tranquilamente. O examinador permanece sentado ou de pé, ao seu lado direito. Essas são as condic ̧ões básicas e de rotina; no entanto, algumas situac ̧ões exigem a adoça ̃o de outras posic ̧ões, além do decúbito dorsal, que sa ̃o a posiça ̃o sentada, a posic ̧ão de pé com o tórax inclinado para a frente e o decúbito lateral esquerdo. Sa ̃o usados também alguns artifícios, tais como manobras respiratórias (inspiraça ̃o ou expiraça ̃o forçadas), exercício fi ́sico, para tornar mais nítidos alguns dados de ausculta. Nos momentos oportunos, as referências a esses procedimentos sera ̃o feitas. Ritmo e frequência do corac ̧ão Reconhecidas a 1a e a 2a bulha cardíaca, o objetivo seguinte do examinador é a determinac ̧a ̃o do ritmo cardíaco e do nu ́mero de batimentos por minuto. Havendo apenas duas bulhas, caracterizase o ritmo binário. Se houver uma 3a bulha falase, então, em ritmo tríplice. Determinase a frequência cardíaca contandose o número de batimentos durante um minuto inteiro. Em seguida, comparase a cifra obtida com os valores do pulso radial para a pesquisa de “déficit” de pulso (ver Capítulo 13, Exame dos Pulsos Radial, Periféricos e Venoso). Em pessoas adultas considerase normal uma frequência de 60 a 100 bpm, em repouso. As alterac ̧ões do ritmo cardíaco podem ser reconhecidas com os dados da ausculta, acrescidas das informações obtidas na anamnese e no exame do pulso radial, mas a confirmação é feita pelo eletrocardiograma.
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