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Lavine Santos / 5ºP Objetivos: Compreender a diferença da ansiedade fisiológica e patológica Conhecer as manifestações clínicas dos transtornos de ansiedade. Entender as condutas terapêuticas para o tratamento da ansiedade. - Farmacológico - Não farmacológico -Estado emocional com valor motivacional negativo (i. e., aversiva). Ela se caracteriza por sensação de desconforto mental, inquietação interna, temor ou preocupação exagerada quanto ao futuro, acompanhados de uma série de sensações corporais características, como tontura, secura na boca, sensação de vazio no estômago, aperto no peito, batimentos cardíacos acelerados, suores, calafrios, tremores, formigamentos, cãibras, urgência para urinar e cólicas abdominais, na ausência de outras doenças ou condições médicas que os justifiquem. -Popularmente, trata-se de "nervosismo", "cabeça ruim”, "gastura”, "agonia" ou "aflição". -Na ansiedade, sempre existe um estado de conflito entre a busca de gratificação e a evitação do risco. -Tradicionalmente, o medo é diferenciado da ansiedade pela presença de um objeto desencadeante claramente delimitado. Não há mais conflito, sobrepõe-se a evitação de risco. -O medo é uma reação a um perigo específico, observável, enquanto a ansiedade é uma apreensão difusa, sem objeto definido. -O medo é relacionado a algo que o provocou, uma sensação de espanto ou terror, sempre com imobilidade, paralisia ou fuga ordenada. -Algumas vezes, o medo e a ansiedade são minimizados por comportamentos de esquiva que podem se tomar disseminados e altamente incapacitantes. Historicamente, a categoria dos transtornos de ansiedade constitui o tipo mais comum de transtorno psiquiátrico, com prevalência de mais de 25% durante a vida. Os transtornos de ansiedade são mais comuns em mulheres, com uma relação de 2:1, têm o seu início antes dos 30 anos de idade na maioria dos casos e tendem a ser crônicos. Existem grandes divergências nas estimativas de prevalência do transtorno de pânico e de agorafobia, além de mudanças nessas estimativas ao longo do tempo. A prevalência de agorafobia foi estimada anteriormente em 0,5%, com base em amostras populacionais do final da década de 1960. Entretanto, estudos epidemiológicos mais recentes mostraram prevalências significativamente maiores. A prevalência do transtorno de pânico com agorafobia (TPA) ao longo da vida é estimada entre 1,5 e 3,5%, sendo a prevalência cm 1 ano estimada entre 1 e 2%. A National Comorbidity Survey, conduzida nos Estados Unidos, relatou prevalência de 3,7% ao Lavine Santos / 5ºP longo da vida para TP sem agorafobia; 1,1% para TP com agorafobia; e 0,8%, para agorafobia sem transtorno de pânico. A prevalência ao longo da vida de crises de pânico isoladas (sem TP) foi de 22,7%. Em geral, o transtorno de pânico é uma doença da adolescência e do início da vida adulta. O transtorno de ansiedade generalizada é significativamente comum em serviços de atenção primária, podendo chegar a uma prevalência atual e ao longo da vida de 22 e 40%, respectivamente, entre utilizadores frequentes de serviços de saúde. Há uma prevalência cerca de duas vezes maior nas mulheres. Estima-se que entre 40 e 90% dos adultos já passaram por ao menos um evento potencialmente traumático em suas vidas. Apesar disso, apenas 25% dos que sofreram um ou mais traumas na vida desenvolverão transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), de forma que a prevalência de TEPT ao longo da vida é de cerca de 8 a 9% da população. Em São Paulo, a prevalência nos últimos 12 meses de TEPT foi de 1,6% com 51,1% dos casos considerados graves. Nessa amostra, 54,6% já haviam passado por pelo menos um evento traumático (17,6% por dois eventos e 6,1% por três ou mais). Os eventos mais comuns foram: presenciar alguém sendo ferido ou morto (35,7%), ser assaltado ou ameaçado com uma arma (34%}, ser perseguido (5,5%) e ver uma pessoa próxima ser sequestrada, torturada ou violentada (5,2%). A exposição à violência urbana também esteve associada com a gravidade dos transtornos mentais associados. Enquanto 20% daqueles expostos a um ou dois eventos traumáticos apresentavam transtorno mental moderado a grave esse número subiu para 40% entre os que foram expostos a três ou mais. Além da agorafobia, ligada ao transtorno de pânico, as fobias podem ser divididas em fobia social e fobias específicas. As fobias específicas são o quadro psiquiátrico mais frequente na comunidade. Os dados brasileiros mostram uma elevada prevalência de fobias ao longo da vida, sendo de 3,5% no caso da fobia social e 4,8% no caso das fobias específicas. A prevalência em 12 meses foi de 10,6% para a fobia específica (35% de casos graves) e de 3,9% para a fobia social (55,6% graves). Por se tratar de estados emocionais presentes na vida psíquica normal, cabe ao médico diferenciar a ansiedade normal da patológica, área de atuação da medicina. A ansiedade patológica ocorre quando o estado emocional passa a ser disfuncional (i. e., traz prejuízos sociofuncionais e/ou sofrimento relevante para o indivíduo). Outra situação é aquela na qual, mesmo sem disfunção, existe sofrimento excessivo. A ansiedade patológica e a ansiedade “normal” podem ser diferenciadas pelo grau de interferência ou não desse estado nas atividades habituais, visto que a ansiedade patológica pode impedir a realização das tarefas cotidianas. Para que um transtorno de ansiedade seja diagnosticado, os sintomas não podem ser atribuídos aos efeitos fisiológicos de uma substância (intoxicação ou abstinência) nem a uma condição médica geral (p. ex., hipertiroidismo). O estado de ansiedade corresponde ao acionamento inadequado do sistema de resposta ao estresse (luta ou fuga) associado com uma variedade de respostas dos sistemas cognitivo, motor, neuroendócrino e autonômico, envolvendo assim não apenas o sistema simpático. Com isso, a ansiedade é caracterizada por emoções negativas, reflexos autônomos, comportamentos defensivos, vigilância e secreção de mineralocorticoides sem que haja estímulo externo. Em outras palavras, o indivíduo que sofre com os transtornos de ansiedade se sente como um indivíduo normal (não ansioso) se sente em situações de risco, a diferença é que o indivíduo com ansiedade em crise não está em situação de risco. A ativação autonômica e o aumento do estado de alerta estão entre as primeiras reações Lavine Santos / 5ºP comportamentais observadas em situações de medo ou ansiedade. O locus ceruleus (LC), estrutura do tronco cerebral, tem papel central no estado de alerta e é altamente responsivo a estímulos eliciadores de estresse. Em geral, para se obter ativação intensa do LC é necessário apresentar estímulos ameaçadores, e não apenas novos ou desconhecidos. Modelos recentes sugerem que o LC tem uma atividade basal que leva à avaliação atenciosa do ambiente, com respostas comportamentais diversificadas e variáveis. Sua ativação fásica promove a focalização da atenção e respostas estereotipadas. A inibição de comportamentos em andamento é uma das primeiras manifestações do medo ou da ansiedade. Segundo o modelo de Gray, a vulnerabilidade à ansiedade está relacionada à atividade do sistema de inibição comportamental septo-hipocampal (SICS). Este seria um dos principais sistemas emocionais, incluindotambém o sistema de aproximação comportamental e o sistema de luta e fugas. A função básica do SICS é comparar o estímulo real e o antecipado, com base em familiaridades estocadas na memória. Se houver discrepância, ou se o estímulo esperado for aversivo, os comportamentos em andamento serão inibidos e ocorrerá aumento do alerta e da atenção direcionada ao ambiente. A ativação do SICS é desencadeada por estímulos novos ou desconhecidos, ou pela antecipação de punição, e se relaciona com a ansiedade antecipatória. O sistema noradrenérgico ascendente e o SICS parecem ter funções complementares, e o primeiro mantém um estado de alerta basal e reage a perigos próximos, enquanto o segundo aumenta o estado de alerta diante de sinais de punição (estímulos condicionados) ou estímulos novos. Em todas as espécies de mamíferos, existem três regiões cerebrais que, quando estimuladas, elidam respostas completas de medo: ↪ as áreas laterais e centrais da amígdala, ↪ o hipotálamo anterior e medial e ↪ áreas específicas da substância cinzenta periaquedutal (SCP). Esse circuito, com origem na amígdala, passando pelo hipotálamo e depois para a SCP, é chamado de sistema executivo do medo, pois deflagra as reações de congelamento, luta e fuga e as reações autonômicas. Como a estimulação da SCP produz reações muito similares a ataques de pânico, essa região vem sendo diretamente implicada no transtorno de pânico. O circuito recebe projeções serotoninérgicas que diminuem a probabilidade de que as reações sejam desencadeadas, explicando a ação antipânico de drogas pró- serotoninérgicas, como os antidepressivos Acredita-se que o núcleo central da amígdala seja o principal componente na coordenação da resposta da ansiedade. A amígdala recebe a entrada glutamatérgica excitatória de várias áreas corticais e do tálamo, permitindo que sejam montadas respostas a vários estímulos, inclusive informações sensoriais do meio externo assim como estressores que são processados e reconhecidos por áreas de associação corticais. Sabe-se que o hipotálamo possui um papel central em orquestrar uma resposta humoral, visceromotora e somático-motora apropriada. Esta resposta é regulada pelo eixo hipotálamo- hipófise-adrenal (HPA). Já o hormônio cortisol, é liberado pela glândula adrenal em resposta a um aumento nos níveis sanguíneos do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), liberado pela hipófise anterior devido ao estímulo do hormônio liberador de corticotrofina (CRH) do hipotálamo. Lavine Santos / 5ºP Os neurônios hipotalâmicos que secretam CRH são regulados pela amígdala e pelo hipocampo. Quando o núcleo central da amígdala é ativado, interfere no eixo HPA e a resposta ao estresse é emitida, sendo que a ativação inapropriada tem sido relacionada com os transtornos de ansiedade. O hipocampo contém receptores para glicocorticoides que são ativados pelo cortisol, e com altos níveis de cortisol circulante, participa da regulação por retroalimentação do eixo HPA, inibindo a liberação de CRH e consequentemente de ACTH e cortisol. A exposição contínua ao cortisol, em períodos de estresse crônico, pode levar à disfunção e à morte dos neurônios hipocampais. Assim, o hipocampo começará a apresentar falhas em sua capacidade de controlar a liberação dos hormônios do estresse e de realizar suas funções de rotina. O estresse também influencia a aptidão de induzir a potenciação de longo prazo no hipocampo, o que provavelmente explica o porquê da falha de memória. A atividade elevada do córtex pré-frontal também tem sido relatada nos transtornos de ansiedade. A amígdala e o hipocampo regulam o sistema HPA e a resposta ao estresse de uma maneira coordenada, tanto com a hiperatividade da amígdala, relacionada a memórias inconscientes estabelecidas por mecanismos de condicionamento pelo medo quanto com a diminuição de atividade do hipocampo, o qual participa no armazenamento de memórias conscientes durante uma situação de aprendizado traumático. A patogênese de muitos transtornos ansiosos, especialmente a síndrome do pânico, pode ser explicada como interpretações equivocadas das sensações somáticas normais. Assim, um indivíduo que sofre dessa condição se torna consciente de uma sensação do corpo normal ou minimamente anormal, interpretando-a como algo preocupante, levando à excitação simpática e outra excitação autonômica, que por sua vez produz sensações somáticas (taquicardia, sudorese), formando um círculo vicioso de pensamentos e sintomas somáticos. No distúrbio obsessivo-compulsivo, entretanto, a patogênese parece envolver o funcionamento alterado das vias estriatofrontais, com participação dos sistemas serotoninérgicos centrais. As obsessões e compulsões podem representar a ativação inapropriada de “scripts” neurais envolvendo pensamentos e comportamentos considerados análogos a scripts relacionados com o aliciamento animal e outros comportamentos complexos. ➤ No DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), estão definidas onze categorias de transtornos de ansiedade: ↪ transtorno de ansiedade de separação, ↪ mutismo seletivo, ↪ fobias específicas, ↪ transtorno de ansiedade social (fobia social), ↪ transtorno de pânico, ↪ agorafobia, ↪ transtorno de ansiedade generalizada, ↪ transtorno de ansiedade induzido por substância/medicação, ↪ transtorno de ansiedade por conta de outra condição médica, ↪ outro transtorno de ansiedade especificado e ↪ transtorno de ansiedade não especificado. Os transtornos mentais e por uso de substância são a principal causa de incapacitação não fatal no mundo e os transtornos de ansiedade são a segunda principal Lavine Santos / 5ºP causa entre os transtornos mentais e por uso de substância, superados apenas pelos transtornos depressivos. A maioria dos indivíduos com transtornos de ansiedade apresentam um ou mais sintomas somáticos, os quais podem ser relativos a todos os órgãos e sistemas do corpo. As principais manifestações somáticas dos transtornos de ansiedade incluem palpitações, dor torácica dispneia ou sensação de estar sufocado, dispepsia, náusea, diarreia, inchaço ou dor abdominal, frequência ou urgência urinária, sudorese, tonturas e pré- síncope, parestesias, tremor, cefaleia, entre outros. As mulheres também podem passar por períodos menstruais irregulares e/ou dolorosos, além de terem libido diminuído. Os transtornos de ansiedade são ordenados em dois grandes grupos: ↪ grupo dos transtornos em que a ansiedade é constante e permanente, onde se enquadra a TAG; ↪ grupo do quadros em que há crises de ansiedade, que cursam com períodos discretos de sintomas agudos, descritos como ataques de pânico, no qual o indivíduo experiência uma elevação abrupta da ansiedade, associado a pensamentos de medo e sintomas somáticos dentro de alguns minutos (“início crescente”). Esses sintomas agudos normalmente se resolvem no período de uma hora. Os principais transtornos são descritos abaixo: No transtorno do pânico, o indivíduo sofre com ataques de pânico recorrentes. Alguns ataques são causados por situações conhecidamente estressantes, porém outros ataques são imprevistos. Esses pacientes apresentam ainda ansiedade antecipatória, que consiste no sofrimento psíquico contínuo provocado pela preocupação com o próximo ataque de pânicoou com seus efeitos, por exemplo, constrangimento quando o ataque ocorre em público. Os indivíduos com transtorno do pânico também manifestam comportamento de esquiva, afastando-se dos fatores conhecidos que provocam a crise ou de situações em que possa ser preocupante ou perigoso ter um ataque de pânico, por exemplo, espaço públicos ou dirigir. Os ataques de pânico são episódios de medo intenso acompanhado de vários sintomas físicos e cognitivos. Após o início, os sintomas atingem um pico em até 10 minutos e têm duração autolimitada. Os sintomas físicos incluem palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar ou sufocamento, parestesias, tontura, náuseas. dor ou aperto no peito. Os sintomas cognitivos comuns são sensação de morte iminente, medo de sofrer um ataque cardíaco, de perder o controle ou de enlouquecer. Após a caracterização da ocorrência de ataques de pânico, o passo seguinte é definir se os ataques são apenas situacionais ou se ocorrem ataques de pânico espontâneos ao longo do quadro. A presença de ataques espontâneos é essencial para o diagnóstico de transtorno de pânico. Ataques situacionais têm desencadeantes específicos, por exemplo, situações sociais (na fobia social) ou presença de objetos específicos como insetos ou animais (na fobia específica). Esse comportamento de esquiva pode se sobrepor aos sintomas de agorafobia, que consiste na sensação de medo angustiante e incapacitante de lugares ou situações em que escapar possa ser difícil ou constrangedor ou ainda, situações em que ajuda possa não ser disponível no caso da ocorrência do ataque de Lavine Santos / 5ºP pânico, como estar sozinho fora de casa, permanecer em pontes ou túneis, multidões e filas. O comportamento de esquiva e a ansiedade antecipatória podem, em muitos casos, ser mais incapacitante do que os ataques de pânico propriamente ditos. As fobias são definidas como condições em que um estímulo ambiental específico é capaz de provocar uma resposta de ansiedade patológica. Como quase sempre a exposição a estes estímulos provocam o estado ansioso, os indivíduos com fobia evitam o contato com esses estímulos sempre que possível ou suportam o estímulo com angústia. Além da agorafobia, existem outros tipos de fobia, como a fobia social (transtornos de ansiedade social) e fobias específicas, como claustrofobia e glossofobia. O distúrbio de ansiedade generalizada (TAG) é uma condição mais heterogênea, caracterizada pela presença de ansiedade clinicamente significativa e sintomas somáticos associados a pelo menos 6 meses ou mais. Na prática, essa condição é assim definida quando não se consegue encontrar outros fatores desencadeantes da ansiedade. Na TAG, o indivíduo vive angustiado, tenso, preocupado, permanentemente nervoso ou irritado, e nesses casos é comum quadros de insônia, dificuldade de concentração, cefaleias, dores musculares (devido à dificuldade de relaxar), dores estomacais ou pirose, pré-síncope, parestesias e sudorese fria. A ansiedade tônica ou generalizada se caracteriza pela presença de expectativa apreensiva ou preocupação. Na realidade, a preocupação excessiva e suas consequências neurobiológicas são comuns a todos os transtornos de ansiedade. O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ocorre quando a preocupação excessiva ou incontrolável com questões cotidianas é a característica central. Ele deve ser diferenciado da preocupação restrita a temas específicos, como obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, possibilidade de ocorrência de ataques de pânico no transtorno de pânico, ou um possível defeito na aparência no transtorno dismórfico corporal. Assim, no TAG, a preocupação toma vários aspectos da vida da pessoa, incluindo saúde, filhos, futuro, questões financeiras,trabalho, entre outras. O distúrbio obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pelas obsessões ou compulsões recorrentes, e normalmente os pacientes têm ambas as condições (obsessões e compulsões). As obsessões são pensamentos recorrentes, persistentes e normalmente perturbadores, que são sentidos como intrusivos ou indesejáveis. As compulsões, por sua vez, são comportamentos ou atos mentais repetitivos, nos quais o indivíduo se sente compelido a executar a ação, de acordo com as obsessões ou regras rígidas, por exemplo, o indivíduo pode lavar as mãos de forma compulsiva por ter pensamentos obsessivos relacionados a germes e contaminação. Pacientes com TOC tentam ignorar e suprimir suas obsessões, porém passam por grande sofrimento psíquico quando o fazem, e muitas vezes estes gastam muitas horas por dia relacionadas com suas obsessões e compulsões. O TOC provavelmente está associado ao distúrbio corporal dismórfico, distúrbio de acumulação, tricotilomania (arrancar cabelos) e distúrbio de escoriação (arrancar a pele), porém não deve ser confundido com traços ou distúrbios de personalidade obsessivo- compulsiva. Abaixo, uma tabela descrevendo os tipos mais comuns de obsessões e compulsões no TOC: (tabela) Distúrbios de personalidade obsessivo-compulsivo são definidos por traços duradouros da personalidade que levam a sofrimento profundo ou disfunção nas mais variadas situações pessoais e sociais. A personalidade é caracterizada pelo repertório de padrões duradouros de experiência mental interior e comportamentos, incluindo afeto e regulação de impulsos, mecanismos de defesa e de Lavine Santos / 5ºP manejo das situações, além do relacionamento interpessoal. Personalidade e transtornos de personalidade são o resultado de interações complexas entre fatores genéticos, ambientais e de desenvolvimento. O distúrbio de estresse agudo e distúrbio de estresse pós-traumático (DEPT) são manifestações específicas de sintomas imputáveis a um evento extremamente traumático, mas vale ressaltar que nem todos os indivíduos que passam por experiências traumáticas irão manifestar esses transtornos mas podem desenvolver outros distúrbios de ansiedade, depressão, mania, entre outros. O evento desencadeante pode envolver exposição à morte ou ameaça, lesão grave ou violência sexual. O indivíduo nessas condições sofrem com exposições repetidas ou muito detalhadas do evento. Os sintomas de DEPT, por definição, persistem por mais de um mês após o evento traumático e incluem: intrusão, como memórias intrusivas, sonhos e outras respostas angustiantes a lembranças do trauma, fuga de memórias angustiantes ou de lembranças externas do trauma, cognições ou humor negativos, como amnésia em relação ao evento traumático, pensamentos negativistas sobre si mesmo, interesse diminuído nas atividades e alterações na excitação e reatividade. Já os distúrbios de estresse agudo se resolvem dentro de um mês, também cursando com sintomas de intrusão invalidação ou excitação, humor negativo e sintomas dissociativos, como no estado de torpor. Há ainda o transtorno de ansiedade de separação, comum entre crianças, que podem apresentar medo ou ansiedade significativos relacionados a separar-se de pessoas importantes, normalmente que lhe conferem sensação de proteção. Nesses casos, a criança tem muito medo e ansiedade em ir à escola, por exemplo, separar-se da mãe e de outros membros da família, podendo apresentar ainda dificuldade de dormir sozinha, associada a pesadelos, mas issotambém pode ocorrer com adultos, quando o mesmo se separa do companheiro. Existem também síndromes ansiosas de base orgânica, que são quadros de ansiedade provocados claramente por doença física, uso de fármacos, substâncias ou outras condições fisiológicas. Nesses casos, a síndrome ansiosa perdura o tempo da instalação da doença ou exposição às “substâncias gatilho”. As doenças que podem causar ansiedade incluem hipertireoidismo, DPOC, arritmias, hipoglicemia, câncer, entre outras. Medicamentos como antiparkinsonianos, anti-hipertensivos e corticoides também podem ter ansiedade como efeito colateral, além das drogas psicoativas como cocaína, álcool e maconha. Há ainda síndromes ansiosas associadas ao período pré-menstrual, puerpério e relacionados a grandes cirurgias, por exemplo. A presença de sintomas de ansiedade e depressivos concomitantemente é muito frequente. É comum tanto o surgimento de depressão como a complicação de um transtorno de ansiedade de base, por exemplo, surgimento de sintomas de ansiedade durante episódios depressivos. Dessa forma, deve-se priorizar o diagnóstico do transtorno do humor quando os sintomas de ansiedade surgirem somente durante um episódio de depressão. Na história clínica, também é essencial caracterizar se o início dos sintomas de ansiedade teve relação com o uso ou a abstinência de substâncias. De maneira geral, drogas ativadoras, como cafeína, cocaína e anfetaminas, aumentam a ansiedade durante a intoxicação, enquanto drogas depressoras do SNC, como álcool e benzodiazepínicos (BDZ). podem provocar sintomas de ansiedade quando retiradas. Indícios de transtorno de ansiedade secundário à condição médica geral devem ser pesquisados. Problemas endocrinológicos, cardíacos ou neurológicos podem mimetizar quadros primários de ansiedade. Sintomas atípicos são indícios de ansiedade secundária, como turvação de consciência, períodos de confusão mental, liberação esfincteriana e sintomas físicos não associados a sintomas psíquicos, corno taquicardia isolada. No exame físico: Durante o ataque de pânico, geralmente ocorre aumento da frequência cardíaca, da frequência Lavine Santos / 5ºP respiratória e da pressão arterial. Ocorrem vasoconstrição periférica e sudorese profusa. A hiperventilação pode levar a alcalose respiratória, evoluindo com parestesias, cãibras e contraturas musculares. Apesar da queixa de falta de ar, a ausculta pulmonar não evidencia sibilação, assim como não estão presentes sinais de dispneia. A ansiedade tônica excessiva pode levar a contraturas musculares e tremores, mas em geral o exame físico apresenta poucos achados. Esse exame deve buscar indícios de outras causas, como alterações no exame neurológico, exoftalmia, emagrecimento, arritmias e sibilos. Os tratamentos psicológicos e farmacológicos possuem eficácia bem estabelecida nos transtornos de ansiedade. Os dois tratamentos de primeira linha mais bem estabelecidos para a maioria dos transtornos de ansiedade consistem na TCC e no uso de ISRS, com base em dezenas de ensaios clínicos controlados em transtornos de ansiedade específicos. Outras psicoterapias, como as terapias psicodinâmicas breves, e outros medicamentos, como os benzodiazepínicos, demonstraram ser eficazes em determinados transtornos de ansiedade. A) NÃO FARMACOLÓGICO: Terapia cognitivo comportamental As TCC para os transtornos de ansiedade são psicoterapias breves baseadas na observação de que os pacientes manifestam distorções cognitivas (pensamentos negativos irracionais) que mantêm a ansiedade e os comportamentos de evitação, e que impedem as oportunidades capazes de refutar os medos ou desenvolver uma habituação dos sintomas de ansiedade. Os componentes dessa terapia podem incluir reestruturação cognitiva, exposição e técnicas de relaxamento. Nos casos típicos, o terapeuta ativo ajuda o paciente a identificar as distorções cognitivas e os comportamentos de evitação e introduz abordagens alternativas para enfrentar as situações temidas. O terapeuta e o paciente colaboram para realizar as exposições às situações temidas na presença do terapeuta e por meio de tarefas realizadas em casa. À medida que o paciente passa a utilizar novas habilidades de enfrentamento para o manejo da ansiedade por meio de exposição sem recorrer a esquiva ou rituais, ocorre novo aprendizado, e o ciclo habitual de medo e evitação desaparece. A psicopatologia advém de perturbações que ocorrem no pensamento de um indivíduo, colorindo assim a sua percepção de um modo específico. Durante o processo de tratamento a TCC busca organizar a perturbação no pensamento que está por trás dos transtornos, identificando e trabalhando três níveis de cognições, são eles: pensamentos automáticos (PAs); pressupostos subjacentes e crenças nucleares ou centrais. Integrando técnicas e conceitos vindos de duas principais abordagens, a cognitiva e a comportamental. A TCC focaliza os fatores cognitivos da psicopatologia, reconhecendo a influência do pensamento sobre o afeto, o comportamento, a biologia e o ambiente. Os objetivos das técnicas cognitivas é identificar os pensamentos automáticos, reconhecer conexões entre estes pensamentos, afetos e comportamentos, testar na realidade e substituir as distorções cognitivas e esquemas disfuncionais por interpretação mais realistas. Enquanto que as técnicas comportamentais envolvem tarefas de observação e experimentação e, são usadas para a modificação de sintomas comportamentais como também para eliciar cognições associadas a comportamentos específicos. A TCC é utilizada para eliminar e corrigir os padrões de distorções do pensamento, que geram os sintomas a ansiedade produzindo mudanças cognitivo- comportamentais, isso porque, o indivíduo pode trabalhar os dois aspectos de forma simultânea no processo terapêutico. B) FARMACOLÓGICO: Lavine Santos / 5ºP Mecanismo de ação dos benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são os ansiolíticos mais usados. Eles substituíram os barbitúricos e o meprobamato no tratamento da ansiedade e da insônia por serem fármacos considerados mais seguros e eficazes. Ainda que os benzodiazepínicos sejam comumente usados, eles não são necessariamente a melhor escolha contra ansiedade ou insônia. Certos antidepressivos com ação ansiolítica, como os inibidores seletivos da captação de serotonina (ISCSs), são preferidos em vários casos. Os alvos para as ações dos benzodiazepínicos são os receptores do ácido γ-aminobutírico tipo A GABAA. (Nota: o GABA é o principal neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central) Os receptores do GABAA são compostos de uma combinação, no somatório de cinco subunidades α, β e γ inseridas na membrana pós- sináptica. Para cada subunidade existem vários subtipos. A fixação do GABA ao seu receptor inicia a abertura do canal iônico central, permitindo a entrada de cloro através do poro. O influxo do íon cloreto causa hiperpolarização do neurônio e diminui a neurotransmissão, inibindo a formação de potenciais de ação. Os benzodiazepínicos modulam os efeitos do GABA ligando-se a um local específico de alta afinidade (distinto do local de ligação do GABA), situado na interface da subunidade α e da subunidade γ no receptor GABA. Os benzodiazepínicos aumentam a frequência da abertura dos canais produzida pelo GABA. (Nota: a ligação do benzodiazepínicoao seu receptor aumentará a afinidade do GABA por seus locais de ligação, e vice-versa). Os efeitos clínicos dos vários benzodiazepínicos se correlacionam bem com a afinidade de ligação de cada fármaco pelo com- plexo receptor GABA-canal de íon cloreto. Pode-se desenvolver dependência física e psicológica aos benzodiazepínicos se doses elevadas forem administradas por longos períodos. Todos os benzodiazepínicos são fármacos controlados. A interrupção abrupta resulta em sintomas de abstinência, incluindo confusão, ansiedade, agitação, intranquilidade, insônia, tensão e (raramente) convulsões. ● Inibidores seletivos da receptação de serotonina Os inibidores seletivos da captação de serotonina (ISCSs) são um grupo de fármacos antidepressivos que inibem especificamente a captação da serotonina, apresentando uma seletividade de 300 a 3.000 vezes maior para o transportador de serotonina do que para o de norepinefrina. Além disso, os ISCSs têm escassa atividade bloqueadora em receptores muscarínicos, α- adrenérgicos e H1-histamínicos. Portanto, os efeitos adversos comuns associados aos ADTs, como hipotensão ortostática, sedação, xerostomia e visão turva, não são observados comumente com os ISCSs. Como têm efeitos adversos diferentes e são relativamente seguros, mesmo em dosagens excessivas, os ISCSs substituíram os ADTs e os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) como fármacos de escolha no tratamento da depressão. Os ISCSs incluem fluoxetina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina, paroxetina e sertralina. O escitalopram é o S-enantiômero puro do citalopram. Os ISCSs bloqueiam a captação de serotonina, levando ao aumento da concentração do neurotransmissor na fenda sináptica. Os antidepressivos, incluindo os ISCSs, em geral precisam de 2 semanas para produzir melhora significativa no humor, e o benefício máximo pode demorar até 12 semanas ou mais. A indicação primária dos ISCSs é a depressão, para a qual eles são tão eficazes quanto os ADTs. Vários outros transtornos psiquiátricos também respondem favoravelmente aos ISCSs, incluindo transtorno obsessivo-compulsivo, de pânico, de ansiedade generalizada, de estresse pós- traumático, de ansiedade social, além de transtorno disfórico pré- menstrual e bulimia nervosa embora se considere que os ISCSs tenham efeitos adversos menos graves do que os ADTs e os IMAOs, eles não são isentos de efeitos adversos, como cefaleia, sudoração, ansiedade e agitação, efeitos gastrintestinais (GI) (náuseas, êmese e diarreia), fraqueza e cansaço, disfunções sexuais, alterações de massa corporal, distúrbios do sono (insônia e sonolência), Além disso, os ISCSs são Lavine Santos / 5ºP associados com hiponatremia, especialmente em pacientes idosos e naqueles cuja volemia esteja diminuída ou que estejam fazendo uso de diuréticos. BARBITÚRICOS Os barbitúricos foram, no passado, a base do tratamento usado para sedar o paciente ou para induzir e manter o sono. Com o tempo, foram amplamente substituídos pelos benzodiazepínicos, principalmente porque os barbitúricos induzem a tolerância e a dependência física e estão associados a sintomas de abstinência graves. Todos os barbitúricos são substâncias controladas. Certos barbitúricos, como o de ação muito curta tiopental, foram usados para induzir anestesia, mas são menos empregados atualmente devido aos novos fármacos com menos efeitos adversos. Mecanismo de ação A ação hipnoticossedativa dos barbitúricos se deve à sua interação com os receptores GABAA, potencializando a transmissão gabaérgica. O local de ligação dos barbitúricos no receptor GABA é diferente daquele dos benzodiazepínicos. Os barbitúricos potenciam a ação do GABA na entrada de cloreto no neurônio, prolongando o tempo de abertura do canal de cloreto. Além disso, os barbitúricos podem bloquear os receptores excitatórios glutamato. Concentrações anestésicas de pentobarbital também bloqueiam os canais de sódio de alta frequência. Todas essas ações moleculares diminuem a atividade neuronal. Referências: SANAR Farmacologia ilustrada 6º edição Tratado de neurologia 13º edição Fisiopatologia – Porth Artigo: “A terapia cognitivo comportamental no tratamento da ansiedade generalizada.” Lavine Santos / 5ºP
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