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Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Sp1. Um número para não esquecer... Objetivos: 1. Diferenciar sd. consumptiva e caquexia. 2. Abordar as etiologias, quadro clínico e diagnóstico (clínico e complementar; protocolo dos "nove D´s") da caquexia. 3. Caracterizar síndrome do idoso frágil. 4. Explicar a importância do acompanhamento multiprofissional, grupos de apoio e relação familiar na sd. consumptiva. Síndrome consumptiva versus caquexia Na fisiologia normal do envelhecimento, a massa proteica e de sustentação são progressivamente substituídas por gordura, acarretando em uma perda funcional. Contudo, quando isso acontece involuntariamente e prejudica os sistemas orgânicos, a perda é considerada patológica. A síndrome consumptiva, ou emagrecimento involuntário, é um estado patológico resultante da total ou parcial deficiência de proteína e energia do indivíduo. Ou seja, é uma condição em que a perda de energia do paciente é maior que o consumo de energia, acarretando no emagrecimento involuntário. Obs. É importante ressaltar que um emagrecimento que ocorre de forma involuntária é patológico e deve ser tratado. Dentro desta temática de síndrome consumptiva, tem-se alguns conceitos: 1. Caquexia: perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É considerado o estado mais grave do emagrecimento. É uma síndrome metabólica complexa associada a uma doença subjacente, que pode ser: câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva e doença renal, entre outros. 2. Sarcopenia: é uma síndrome geriátrica em que ocorre a perda de massa muscular associada a perda de força e desempenho, gerando um déficit funcional ao indivíduo. O peso, por vezes, não se altera. Um ponto que tem que ser levado em consideração para enquadrar um paciente na perda de peso involuntária é o tanto de emagrecimento em x tempo de acordo com o peso basal do indivíduo; ou seja, considera-se emagrecimento involuntário se houve perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses, > 10% em 6 a 12 meses. As exceções são idosos, nos quais considera-se a síndrome consumptiva com perdas maiores que 5 a 6% em 12 meses e pacientes com anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas maiores que 15% do peso basal em 6 meses. Ressalta-se também que está perda de peso na ausência de febre ou outra causa que acarrete gasto de energia, é em decorrência da diminuição de ingesta de comida. Já a perda progressiva involuntária indica doença orgânica crónica. Obs. De forma generalizada, considera-se emagrecimento involuntário a perda de >10% do peso basal em 6 a 12 meses. FONTE: Tratado de geriatria e medicina interna de Harrison A caquexia se caracteriza por uma perda de massa muscular (musculatura esquelética), aumento da taxa metabólica e diminuição do apetite. É altamente associada a anorexia, inflamação, resistência à insulina e degradação de proteínas musculares, câncer, infecções crônicas, AIDS. Acredita-se que a perda da massa muscular seja proveniente de uma possível inflamação ou da resistência a insulina ou ao hipogonadismo. Ademais, a perda de peso a a fadiga são dois sintomas muito importantes, agravando uma variedade de doenças crônicas. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG FONTE: Fisiologia da caquexia, instituto superior de ciências da saúde Egas Moniz, 2014 De acordo com o clínica médica da USP, a caquexia é o grau máximo de emagrecimentos, que geralmente está associado a algum processo patológico subjacente. A caquexia sem processo patológico só ocorrerá em casos de grave dificuldade de acesso a alimentação. Etiologia, epidemiologia, quadro clínico e diagnóstico (clínico, complementar e diferencial) da caquexia Epidemiologia Possui incidência semelhante em homens e mulheres, tendo como seus principais fatores de risco o tabagismo, idade avançada, autorrelato de saúde precária, deficiências físicas e doenças sistêmicas crônicas. As principais etiologias são as neoplasias malignas, ocorrendo em 15 a 37% dos pacientes o emagrecimento involuntário. Em segundo e terceiro lugar estão as causas gastrointestinais não malignas e as psiquiátricas. Contudo, cabe ressaltar, que mais de 25% dos casos não apresentam uma causa definida. FONTE: Sanar Etiologia A maioria das causas podem ser identificadas em 4 grupos: neoplasias malignas, doenças inflamatórias ou infecciosas crônicas, distúrbios metabólicos (como o hipertireoidismo e diabetes) e transtornos psiquiátricos. Podem também ser causada por mais de uma dessas causas (como em pacientes idosos que normalmente possuem mais de uma comorbidade). é importante salientar que estas causas estarão atreladas a 1 destes 3 fatores que culminarão na perda de peso involuntária: diminuição do aporte de energia, aumento do gasto de energia ou perda de energia por via urinária ou intestinal - cabe salientar que está divisão é didática, uma vez que em pacientes idosos, a causa pode ser multifatorial. A diminuição de aporte de energia refere-se a jejum digestivo, como anorexia, dificuldade de mastigação e deglutição, falta de acesso a alimentação e saciedade precoce. O aumento do gasto de energia ocorre pelo aumento do catabolismo, por liberação de hormônios e citocinas inflamatórias, e nos excessos de atividade física. Aumento da perda de energia pode ocorrer pela pele, pela urina e pelas fezes, somada a diminuição na incorporação de nutrientes, água e sais minerais A causa mais comum são as anormalidades metabólicas causadas pela neoplasia maligna. Em primeiro, pode-se citar o fator do câncer ser uma doença de cunho inflamatórios, tendo várias interleucinas e citocinas envolvida, as quais são anorexícas. Além disso. A perda de musculo pode ser causada, principalmente, pelo aumento do consumo de energia associado a um hipercatebolismo (processo destrutivo de moléculas), com aumento da adrenalina e cortisol e diminuição de hormônios anabólicos, como a insulina). por fim, o sítio específico acometido pelo câncer também pode gerar mecanismos para o emagrecimento - por exemplo, cancêr no TGI, acarretando em vômitos, diarreia e má absorção intestinal. É normalmente associada a anorexia, saciedade precoce e astenia. Além do cunho fisiopatologico, esses pacientes normalmente apresentam uma baixa ingestão alimentar em decorrência de fatores como a perda de olfato, hiporexia, incapacidade de alimentação por dificuldade na mastigação e deglutição associados ao tratamento em vigência contra o câncer, entre outros... Contudo, nestes pacientes, a perda de peso não pode ser unicamente atribuída a dieta, ou melhor, a falta de ingestão alimentar adequada. Uma vez que, como citado anteriormente, a perda de peso está associada ao aumento do gasto de energia pelo hipercatabolismo, culminando com o balanço negativo energético e o emagrecimento, podendo evoluir para a caquexia. Isso acontece em decorrência de que estes estados de alta atividade catabólica são definidos pelo consumo, justamente, da massa magra, acarretando em graves consequências, como a atrofia muscular dos membros e da caixa torácica, trazendo gravidades ao paciente como perda da funcionalidade motora e respiratória, entre outros. Uma vez presente neste estado, o corpo tenta contrabalancear, preservando a massa magra, contudo, esses mecanismos metabólicos são bloqueados e ultrapassados pela resposta inflamatória, ou até mesmo uma resposta hormonal. Além disso, esté desequilíbrio catabólico induz o aumento de hormônios catabólicos e diminuição de hormônios anabólicos (como insulina, GH e testosterona), além de aumento da conversão de aminoácidos em glicose pelo fígado, rápida quebra da musculatura com utilização de aminoácidos como fonte de energia. Essa ação induz caquexia muscular. Falando mais explicitamente, a inflamação e consequente produção de citocinas causam o aumento na liberação do fator liberador de corticotrofina (CRF), um potente anorexígeno. Ele é conhecido como tal por modular a ingestão de alimentose o gasto energético. O CRF somado as prostaglandinas ainda suprime a produção de agentes orexígenos, principalmente o neuropeptídeo Y. dessa forma, o processo inflamatório induz a perda de apetite e suprime a enzima que poderia contrabalancear essa situação. Ademais, as citocinas atuam retardando o esvaziamento gástrico ao diminuir as concentrações de albumina sérica. Outro ponto relevante é que a produção excessiva de lactato proveniente das células tumorais, exacerba o desperdício de energia. Nestes casos, o suporte nutricional melhora a qualidade de vida, mas não melhora as taxas de mortalidade associadas à maioria dos casos, sendo necessário a intervenção medicamentosa - como o acetato de megesterol, um antagonista de citocina, pode ser útil. Além das neoplasias malignas, as doenças gastrointestinais também são causadoras de caquexia, entre elas, as principais são a úlcera péptoca, a doença celíaca e as doenças inflamatórias intestinais. Essas três doenças podem causar o emagrecimento através da dor durante a alimentação, disfagia, estado inflamatório (como nas neoplasias) e a perda de nutrientes nas fezes (síndromes absortivas). Os problemas dentários e orais podem passar despercebidos facilmente e evidenciam-se por halitose, higiene oral precária, xerostomia, incapacidade de mastigar, diminuição da força da mastigação, falha de oclusão, síndrome da articulação temporomandibular, ausência de dentes e dor causada por cáries ou abscessos. Tuberculose, doenças fúngicas, parasitoses, endocardite bacteriana subaguda e infecção por HIV estão entre as causas bem conhecidas de PPI. As doenças cardiovasculares e pulmonares causam PPI porque aumentam as demandas Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG metabólicas e diminuem o apetite e a ingestão de calorias. Intervenções cirúrgicas repetidas podem causar emagrecimento em razão da redução da ingestão calórica e aumento das demandas metabólicas resultante de uma reação inflamatória sistêmica. A uremia - presente na insuficiência renal crônica - causa náusea, anorexia e vômitos. As doenças do tecido conectivo podem aumentar as demandas metabólicas e alterar o equilíbrio nutricional. À medida que a incidência do diabetes melito aumenta com o envelhecimento, a glicosúria associada pode contribuir para a perda de peso. O hipertireoidismo do idoso pode evidenciar-se por manifestações simpaticomiméticas menos proeminentes e caracteriza-se por “hipertireoidismo apático” ou toxicose por T3. Em relação as doenças com insuficiência terminal de órgãos, tem-se o exemplo do DPOC, em que a hipóxia, ativação neuroendócrina crônica e a maior suscetibilidade a infecções nos pacientes pulmonates e cardiopatas induzem um estado de inflamação e hipercatabolismo. Essa condição, além de aumentar o metabolismo basal e perda de massa magra, induzem anorexia por ação no cento da saciedade no sistema nervoso central e enzimas do sistema imune. Esse conjunto de acontecimento afeta negativamente a função cardiorespiratória, piorando o mecanismo torácico (que já está comprometido), elevando o consumo de O2 e diminuição do CO2 tecidual, piorando o débito cardiorrespiratório e aumento do catabolismo proteico, fazendo com que o paciente possa evoluir para caquexia por causa cardíaca, que muitas vezes pode ser de difícil reconhecimento por conta do edema. Além da DPOC, a insuficiência renal crônica também se configura como uma doenças com insuficiência terminal de órgão que pode levar ao emagrecimento involuntário. Falando mais sobre infecções como o HIV, constata-se que, apesar dos portadores de HIV apresentarem com regularidade a perda de massa muscular e emagrecimento, na contra-mão dos pacientes com anorexia, o gasto de energia total é semelhante ao de um indivíduo normal. A perda de peso nesses pacientes ocorre pela diminuição do aporte de energia por anorexia, mucosites e diarreia, acompanhada, por vezes, da diminuição das atividades físicas. Contudo, está é uma condição de perda ponderal lenta; caso ela ocorra de forma rápida, deve-se estar atento ao aumento de enzimas inflamatórias circulantes e/ou estabelecimento de doença oportunista secundária. Em pacientes com tuberculose, endocardite subaguda e artrite reumatoide, foi encontrada aumento das enzimas inflamatórias quando acompanhadas por perda de peso, em especial o TNF- alfa. Com relação a doenças como o diabetes melito, ou seja, de cunho endocrinometabólicas, a perda de peso acontece com a descompensação da doença, apresentando o emagrecimento sofrido pelo paciente em docorrência da fome celular e hiperglicemia, com diversas perdas energéticas induzidas pelo déficit de insulina. O emagrecimento nesses pacientes é preditor de mau controle glicêmico e implica em pior prognóstico para órgãos alvo. Outro exemplo é o hipertireoidismo. Os distúrbios neurológicos como acidentes vasculares cerebrais (AVCs), tetraplegia e esclerose múltipla podem causar disfunções viscerais e autonômicas, que podem reduzir a ingestão calórica. A disfagia causada por esses distúrbios neurológicos é um mecanismo comum. Incapacidade funcional que interfere com as atividades da vida diária (AVDs) é uma causa comum de desnutrição na população idosa. Os déficits visuais causados por doenças oftálmicas ou do sistema nervoso central (inclusive tremor) podem limitar a capacidade de preparar e ingerir as refeições. A PPI pode ser uma das primeiras manifestações da demência de Alzheimer. O isolamento e a depressão são causas importantes de PPI e podem evidenciar-se por incapacidade de cuidar de si próprio, inclusive de atender às necessidades nutricionais. Uma reação metabólico-inflamatória em cadeia desencadeada pelas citocinas pode ser a causa e uma das manifestações da depressão. Luto pode ser uma causa de PPI e, quando ocorre, geralmente é mais acentuado nos homens. As formas mais graves das doenças mentais, como os transtornos paranoides, podem causar ilusões quanto aos alimentos e levar a emagrecimento. O alcoolismo pode ser uma causa importante de emagrecimento e desnutrição. Nas doenças psiquiátricas, o emagrecimento é comum na anorexia nervosa e na depressão, sendo que, nestes casos, a perda ponderal ocorre predominantemente por falta de ingestão alimentar; contudo, em alguns casos, podem se associar a diarreia por uso de laxativos e anorexia ao uso de antidepressivos como a fluxetina. Cabe destaque que outras psicopatias podem transcorrer com emagrecimento, dependendo da ingesta alimentar, atividade física e medicações, como, por exemplo, o transtorno bipolar. Já em relação ao uso de drogas, as ilícitas, como cocaína, álcool e tabaco, provocam anorexia por agirem no centro da saciedade. Já, medicações como opiáceos, podem diminuir o apetite e diminuir a mobilidade intestinal. A abstinência de drogas pode provocar emagrecimento com febre, tremores, alucinação e anorexia. Os idosos que vivem na pobreza podem ter que escolher entre comprar comida ou usar o dinheiro para outras despesas, incluindo fármacos. Institucionalização é um fator de risco independente, porque até 30 a 50% dos pacientes internados em asilos têm ingestão alimentar inadequada, além de um IMC<22Kg/m, queda de vitamina E e hipoalbuminemia. Além disso, fisiologicamente, em idosos, a colecistocinina, o hormônio da saciedade, encontra-se aumentada em pacientes idosos. Contudo, a maioria dos pesquisadores, classificam a perda ponderal na terceira idade em decorrência de 4 fatores: Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG social, psiquiátrica, secundárias às condições médicas e relacionadas a idade. Os fármacos podem causar anorexia, náuseas, vômitos, distúrbios gastrintestinais, diarreia, ressecamento da boca e alterações gustatórias. Isso é particularmente comum nos idosos, muitos dos quais utilizam cinco ou mais fármacos simultaneamente. FONTE: medicina interna de Harrison e artigo “caquexia: fisiopatologia e relevância clínica” Quadro clínico Anorexia, náuseas, disfagias, sensação de satisfação no ínicio da refeição (saciedade precoce), odinofagia,mucosites, disgeusia, constipação, fadiga, dor e problemas psicológicos. Um dos principais problemas atuais para a identificação da caquexia é a epidemia atual de obesidade, pois o excesso de tecido adiposo pode prostergar a detecção da caquexia, fazendo com que o diagnóstico tenha que ser feito de maneira mais subjetiva, através da alteração no número de roupas usadas, a confirmação de perda de peso por pessoas do convívio diário da pessoa e a estimativa dada pelo paciente. Durante a anamnese, há três pontos gerais que norteiam a hístoria sob o ponto de vista global do emagrecimento: A perda de peso (grau e velocidade em que ocorreu) - normalmente é a queixa principal do paciente, Diminuição ou aumento do apetite, Inflamação presente ou ausente (checar febre) ou sintomas associados - são os pontos que devem ser investigados. O peso é medido pela massa magra e a massa de gordura. Deve-se estar atendo aos pacientes com peso basal baixo que podem subestimar a perda de peso, enquanto aqueles pacientes obesos tendem a enxerga-la com mais clareza. Este é um dado que pode ser confirmado na entrevista através das trocas de roupa. Outra forma de obter essa relação é através de registros no prontuário do paciente (IMC feito anteriormente). Caso não tenham esse controle, essa informação deve ser obtido de maneira subjetiva. Cabe também, nesse momento, diferenciar e explicitar a queixa do paciente para construir a certeza de que aquilo realmente é uma perda de peso; e não uma depressão, mal-estar, fraqueza, fadiga. Obs. Alguns estudos demonstram que, por vezes, aqueles pacientes que realmente estão tendo perda de peso, a susbstimam (como pacientes com neoplasias); enquanto aqueles que não possuem perda ponderal, sempre queixam-se dela. Outro ponto é o apetite. Questiona se o paciente emagreceu por perda de apetite e baixa ingestão de alimentos ou se, apesar de não ter parado, ou até mesmo de ter aumentando a entrada de nutrientes, houve perda de peso. Nesse momento da história clínica, deve ser dada atenção as possíveis variações que esse apetite possa ter sofrido: dietas, compulsão alimentar, vômitos provocados após a alimentação, hábito intestinal, micção, dor torácica, palpitações, febre ou dor; além de buscar entender qual a percepção que o paciente tem da sua própria imagem corporal. Nestes casos, tende estar atento a perda de energia pela urina ou fezes, além de possíveis doenças crônicas. Entre as doenças associadas a está perda de peso, poucas são aquelas em que ocorre o emagrecimento com aumento do apetite. Elas são: diabetes melito, hipertireoidismo, síndromes de má absorção e excesso de atividade física. As outras doenças, causam o emagrecimento atrelado a perda de apetite e anorexia (nestes casos, a idade é fator importante por conta da prevalência das doenças em cada faixa etária. Já a inflamação deve ser pesquisada após a constatação da perda ponderal e da alteração de peso. Seu marcador clínico mais comum é a febre, porém sua ausência não exclui a presença de inflamação. É uma pesquisa importante em decorrência da separaração de doenças com cunho inflamatório (como traumas, doenças autoimunes, doenças intestinais) e não inflamatórias (psíquicas, drogas, doenças degenerativas crônicas e endôcrinas). Além da inflamação, deve-se buscar outros sintomas associados; estes podem estar associados com: 1. Malignidade da perda ponderal - como sudorese, febre e fadiga 2. Má absorção - como esteatorreia, perda muscular, diarreia e hematomas 3. Psiquiátricos - depressão, avolia, pensamentos e planejamento suicidas, presença de desgaste nas unhas e pontas dos dedos. Outros pontos a serem colhidos são as antecedentes familiares, antecedentes pessoais e hábitos. O exame físico pode ou não confirmar o emagrecimento e o grau de comprometimento sistêmico que a doença causou no paciente. Ao realiza-lo, enfoca-se nos dados antropométricos do paciente, dados vitais, gánglios e massas, tireoide, dentição e exames neurológicos sistemas e órgãos sintomáticos, exame da visão, boca, dentição e exames neurológicos, além do exame mental, por meio do MMSE. O exame físico geral inicia-se com a observação clínica simples do paciente ao se aproximar da sala de atendimento: capacidade de deambular e expressar-se, psiquismo/humor/lucidez, posições antálgicas, fácies típicas e atrofias musculares. Deve-se estar atento para a aparência geral do paciente e para sinais de desnutrição proteico- energética, buscando estes sinais nas áreas mais afetadas: cabelo, olhos, lábios e cavidade oral e pele com fácies emagrecida. Além de enfoque no exame do abdome, muscolo- esquelético e neurológico. Se houver alteração de sensório, fazer MMSE ou GDS. Os dados clínicos mais importantes no exame físico em paciente emagrecido são o peso e a perda de massa magra com atrofia muscular como a musculatura temporal, diâmetro dos membros, em especial as panturrilhas (dando a impressão de que os joelhos aumentaram), costelas e escápulas “saltadas” no tronco (destaque das “asas” posteriores) e abdome cavo. A carência proteica também pode induzir descamação cutânea, queilite, unhas fracas e quebradiças, cabelo fino (lanugo) e cílios longos (sinal de Pitaluga). Os dados antropométricos (peso, altura, IMC) sem-pre devem ser feitos a cada consulta, em balança tarada, com o paciente despido ou com a mínima quantidade de roupas; além da medida da espessura da prega cutânea, na avaliação da porcentagem de gordura corporal e gordura total do corpo (estar atendo a pacientes desidratados e idosos). Deve-se conferir os dados vitais, como a pressão arterial e pulsos periféricos, a frequência respiratória e a temperatura (avaliar a febre). Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Obs. As medidas da prega cutânea baseiam-se no fato de que metade de todo o tecido adiposo do corpo está localizado no subcutâneo, dando uma estimativa razoável da gordura corporal, principalmente em mulheres e jovens. A perda de massa magra pode ser observada pela atrofia muscular, descamação cutâneia, queilite. Presença de icterícia sugere infiltração hepática ou anemia hemolítica enquanto a cianose central ponta para a insuficiência respiratória ou cardiovascular secundário a inflamação pulmonar, como tuberculose e DPOC. FONTE: Clínica Médica da USP Diagnóstico Os critérios diagnósticos são: perda de peso de pelo menos 5% do peso basal em 6 a 12 meses, sendo os 6 meses na presença de uma doença subjacente + fadiga, anorexia, baixo índice de massa livre de gordura e bioquímica alterada - PCR > 5,0mg/l, IL-6 >4,0pg/mL, baixa albumina no soro (<3,2g/dL) e anemia (<12 g/dl) - transferrina. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Entre estes exames citados, a dosagem sérica de albumina é uma das grandes protagonistas. Tendo grande importância no rastreamento, na determinação do risco de desnutrição e na monitorização da resposta à terapia, além de ter um custo acessível a população. As causas dessa baixa de albumina é a diminuição do aporto proteico do paciente, enteropatias perdedoras de proteínas, doenças hepáticas e síndrome nefrótica. A avaliação do paciente deve incluir história e exame físico detalhados, hemograma completo, dosagens das enzimas hepáticas, proteína C-reativa, velocidade de hemossedimentação, provas de função renal, provas de função tireóidea, radiografias do tórax e ultrassonografia abdominal. Também é necessário realizar exames de triagem de cânceres específicos para a idade, o sexo e os fatores de risco, inclusive mamografia e colonoscopia. Os pacientes de risco devem fazer teste para HIV. A radiografia do tórax é o exame mais útil na propedêutica da perda de peso por ser capaz de mostrar sinais de cardiomegalia, massas, infiltrados, cavitações, derrames e adenopatias. Além disso, aqueles pacientes com suspeita de doença orgânica clínica, possuem valores de hemoglobina e colesterol mais baixos em relação com aqueles que apresentam doenças não orgânicas. Já os níveis de VHS e transaminases, estão mais altos. Todosos pacientes idosos com perda de peso devem fazer um rastreamento para demência e depressão por meio de instrumentos como o Miniexame do Estado Mental e a Escala de Depressão Geriátrica, respectivamente. A Miniavaliação Nutricional e a Iniciativa de Triagem Nutricional também estão disponíveis para a avaliação nutricional dos indivíduos idosos. Quase todos os pacientes com neoplasias malignas e > 90% dos indivíduos com outras doenças orgânicas têm no mínimo uma anormalidade laboratorial. Nos pacientes com PPI expressivo, as doenças orgânicas e malignas principais são improváveis quando a avaliação inicial é absolutamente normal. A conduta recomendável é o acompanhamento cuidadoso em vez de exames aleatórios, porque o prognóstico do emagrecimento de causa indeterminada geralmente é favorável. Diagnóstico por imagem São de grande valor diagnóstico os seguintes exames: função tireoidiana, pesquisa de sangue oculto nas fezes, enema opaco, retossigmoidoscopia, endoscopia digestiva alta e estudo contrastado do trato digestivo superior. FONTE: Medicina interna de Harrisson Avaliação e tratamento da perda de peso involuntária e signifcativa, Antônio Vaz de Macedo Diagnóstico diferencial Sarcopenia: apesar de o principal sintoma ser a perda de massa muscular, nessa síndrome, o peso não é necessariamente alterado. FONTE: Fisiologia da caquexia, instituto superior de ciências da saúde Egas Moniz, 2014 Protocolo dos 9Ds’ Robbins sugere, para o diagnóstico do emagrecimento involuntário no idoso, o protocolo dos 9 “d”, sendo que, alguns autores, indicam a adição do 10 “d”. Sendo estes os “Dez D’s do Emagrecimento no Idoso”: Dentição (próteses mal adaptadas, dentes mal cuidados, dor ao mastigar, diminuição do paladar, lesões gengivais), Disgeusia (Perda do paladar associada a perda do olfato, anosmia, com a idade), Disfagia, Diarreia, Doenças Crônicas, Depressão, Demência (perda progressiva dos instintos de fome e sede), Disfunção (perda de entes queridos, condições socioeconômicas precárias, dependência), Drogas, Don’t Know (Não sei – Uma boa parte dos pacientes idosos exibem emagrecimento sem uma causa conhecida). Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Fluxograma do diagnóstico: Anamnese e exame físico → pesquisa laboratorial direcionada a HD ou, em casos em que não possui HD, a pesquisa laboratorial deve ser feita em duas etapas → 1) investigação de inflamação - pedir VHS, PCR e leucograma → Confirmada a inflamação: suspeita de neoplasia e doença sistêmica orgânica; caso não confirmado → 2) avaliação de etiologia específica: perfil hepático, albumina, TSH, Urina tipo I, sangue oculto nas fezes, mamografia, papanicolau, PSA e colonoscopia. Tratamento A primeira prioridade e o ponto de partida e identificar e tratar as causas subjacentes. O tratamento da causa pode ser suficiente para recuperar, graduadamente, o peso e até mesmo o estado nutricional do indivíduo. Caso o paciente esteja fazendo o uso de algum fármaco que cause anorexia ou náusea, o mesmo deve ser suspendido e substituídos. Nos casos de PPI inexplicável, os suplementos nutricionais (p. ex., bebidas hipercalóricas) revertem a perda de peso em alguns casos. Orientar os pacientes a consumir suplementos entre as refeições, em vez de junto com as refeições, pode ajudar a atenuar a supressão do apetite e facilitar o aumento da ingestão oral. Os fármacos orexígenos, anabólicos e anticitocina estão sendo investigados com essa indicação. Em pacientes selecionados, o antidepressivo mirtazapina produz aumentos significativos do peso corporal, da massa gordurosa e da concentração de leptina. Os pacientes com distúrbios debilitantes e que podem aderir a um programa de exercícios apropriados adquirem massa proteica, força e resistência musculares e podem ampliar suas capacidades de realizar as AVDs. FONTE: Medicina interna de Harrisson O tratamento do emagrecimento involuntário e a correção da desnutrição/caquexia são multifatoriais e necessitam de estratégia integrada multidisciplinar. Visam à maior recuperação possível da função fisiológica adapta-da com capacitação física, melhora da função muscular e orgânica e competência imunológica. Requerem um tempo muito maior que o tempo de instalação do pro-cesso e está baseado, na prática, em três pontos: 1. Definir metas significativas e possíveis: peso, com-posição corpórea, força, desempenho e status, apetite e qualidade de vida específicos individualmente para cada paciente. 2. Definir medidas de tratamento (multidisciplinar): nutrição, medicação, exercício (dentista, assistência so-cial, fisioterapia, fonaudiologia, enfermagem, médico). 3. Para perdas de peso causadas por doença especí-fica, deve- se seguir a terapia prescrita no tratamento da causa de base. FONTE: Clínica médica da USP Em primeiro lugar, deve-se buscar o tratamento da doença base que gerou a condição de perda ponderal no paciente. Para correção da perda de peso, existem diversas formulas para calcular as necessidades calóricas de um indivíduo, que são baseadas na idade e intensidade do estresse sofrido pelo metabolismo. Usa-se como parâmetro a meta de 35kcal/kg/dia de acordo com o peso ideal da pessoa, sendo que essa dieta deve ser constituída com 20% de proteínas ou mais, dependendo da necessidade nutricional. As forma de suporte nutricional que podem ser oferecidas são: nutrição enteral (via de entrada nasal), parenteral (intravenosa) e por gastro ou jejunostomia. A alimentação realizada por via oral deve ser realizada sempre que for possível, seja somada a uma das medidas de suporte nutricional ou sozinha; isso deriva da necessidade de se manter a integridade da via gastrointestinal e pelos benefícios psicológicos. Obs. Em idosos, o suporte nutricional só deve ser contínuo até o paciente atingir ao menos 10% do seu peso ideial e conseguir se alimentar a ponto de manter o peso nesse nível. Em relação ao tratamento medicamento, algumas drogas podem ser usadas com o intuito de manter de aumentar o apetite e do peso. Estas podem ser dividas em: 1. Agentes orexígenos; entre eles estão os corticosteroides (metilprednisolona); prosgestágenos; dronabinol; antagonistas da serotonina; entidepressivos tricíclicos. 2. Agentes anabólicos; entre eles estão hormônio do crescimento, fator de crescimento insulina-símile, andrógenos (testosterona, diidrotestosterona, análogos da testosterona, oxandrolona) 3. Agentes anticatabólicos; entre eles estão anticitocinas dietéticas (ácidos graxos ômega 3); derivados de metilxantinas (pentoxifilina); inibidores de gliconeogênese (sulfato de hidrazina); drogas com possível atividade anticitocina (talidomida, melatonina) ATENÇÃO: estas drogas apresentam efeitos colaterais diversos e não há evidências concretas para sua indicação. Podem ser adotadas determinadas condutas como o uso de agentes procinéticos em casos de gastroparesia diabética e de nitratos ou bloqueadores de canais de cálcio na angina abdominal. Casos secundários à depressão costumam ter boa resposta a antidepressivos tricíclicos. Pode contribuir para o aumento na aceitação da dieta pelos pacientes com doenças debilitantes crônicas, como doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência cardíaca avançada, a instituição de medidas práticas como fracionamento da dieta em múltiplas pequenas refeições e administração de medicamentos com os alimentos (para minimizar efeitos adversos potenciais como anorexia, saciedade precoce e náusea). Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Deve-se atentar para restrições dietéticas muito rigorosas que possam dificultar a aceitação da dieta. A realização de atividades físicas, por sua vez, com intensidade adaptada para cada paciente, costuma melhorar o apetite e a condição de bem-estar geral. Em idosos, além de suporte social adequado, a abordagem da deficiência nutricional deve incluir, em cada caso, orientações em relação à dieta, saúde oral, preferências individuais, suplementos dietéticos, tempero de alimentos, assistência à alimentação e supervisão por nutricionista.As possibilidades terapêuticas para a doença de base são restritas, com atenção especial para a melhoria das condições gerais do doente, respeitandose sempre o limite terapêutico e tendo como princípio a qualidade de vida do paciente. FONTE: Avaliação e tratamento da perda de peso involuntária e signifcativa, Antônio Vaz de Macedo Síndrome do idoso frágil Atualmente, considera-se como “idoso frágil” aquele que possui dependências tanto de grau funcional quanto de grau fisiopatológico, isso acontece em decorrência de achados em pesquisas da redução tanto das reservas funcionais quanto disfunções no sistema orgânico. A maior consequência disto está na diminuição da capacidade fisiológica desse indivíduo de recuperação orgânica após agressões externas (sistema imunológico comprometido), além da diminuição de possíveis eficácia terapêuticas em ativar as respostas do sistema de defesa (inadequada resolução ou reposição da homeostasia) e, neste interím, a capacidade de sobrevida do mesmo. Ou seja, por ter seu fator na integração de múltiplos componentes com variadas manifestações, os idosos acometidos levam os piores desfechos em termos de mortalidade, morbilidade e necessidade de institucionalização. Dessa maneira, defini-se fragilidade como uma síndrome com declínio constante de energia e aumento da vulnerabilidade sustentada por três sinais e sintomas da senilidade, são eles: 1. Sarcopenia 2. Desregulação neuroendócrina 3. Disfunção imunológica - Proposição fisiopatológica comum ao estado de fragilidade do idoso - é um estado de elevada suscetibilidade a consequências adversas para a saúde. Aqueles idosos portadores dessa tríada entrariam em uma situação de espiral, com a regular baixa de massa muscular e um estado inflamatório crónico, fazendo com que, uma vez exposto a fatores extrínsecos (como doenças, má ingestão alimentar, etc), entre em um ciclo vicioso de redução de energia e aumento da suscetibilidade a agressores. O atual investimento é em intervenções que modifiquem está situação. Uma das grandes questões hoje em dia é como fazer o diagnóstico deste idoso, ou até mesmo, o seu grau de fragilidade. Existem diversos instrumentos para o diagnóstico de fragilidade, alguns baseados na detecção da redução de reservas funcionais (p. ex., velocidade de marcha, força muscular), outros baseados na detecção de déficits funcionais e biológicos acumulados Epidemiologia Segundo os critérios diagnósticos de Fried e Walston: - Varia de 2,5% entre as idades de 65 e 70 anos à mais de 30% entre idosos com 90 anos ou mais. No Brasil, segundo os mesmos critérios diagnósticos, 8% dos idosos (em um estudo com 5.638) foram considerados frágeis, enquanto 52,7% foram considerados como pré-frágeis. Esse estudo foi feito pela Rede de Pesquisa sobre Estudos da Fragilidade em idosos brasileiros, rede FIBRA). Entre os frágeis, 65,7% eram mulheres e 64,2% tinham mais de 75 anos. Acredita-se que entre as mulheres, a obesidade é um grande fator determinante Segundo a maioria dos estudos sobre o tema, os idosos classificados como frágeis apresentem a maior taxa de hospitalização, sofrem mais quedas, apresentam pioras nas atividades de vida diária e maior mortalidade - ou seja, a presença de fragilidade implica em pior prognóstico ao indivíduo (ponto importante para classificar a fragilidade como síndrome). Além disso, o estudo FIBRA ainda relaciona a maior presença de fragilidade em idosos com idade mais avançada, menor nível educacional, baixa renda, comorbidades, maior presença de quedas e dependência funcional. Fisiopatologia e fatores de risco Alterações relacionadas com a idade em múltiplos sistemas são fundamentais para o desenvolvimento de fragilidade, principalmente nos sistemas musculosquelético, endócrino e imunológico. Estas alterações interagem entre si de forma cumulativa e deletéria, resultando num declínio da função e reserva fisiológica e, assim, a capacidade de um indivíduo manter a homeostasia e resistir a eventos stressantes, mesmo que pequenos, fica comprometida o que por fim resulta em fragilidade. Os pesquisadores acreditam que está síndrome surge através da redução da atividade de eixos hormonais anabólicos (desregulação neuroendócrina), na instalação da sarcopenia e na presença de um estado inflamatório crônico (disfunção imunológica). Pontua-se que, estas condições podem criar umas as outras - como a inflamação crônica e a alteração hormonal poderiam induzir a sarcopenia - como que elas podem ser agravar - uma vez instalada a sarcopenia, esta pode diminuir a atividade física realizada pelo indivíduo e promover mais inflamação e alteração hormonal. É por esta linha de pensamento que os pesquisadores afirmam que está síndrome é um ciclo autossustentado de redução de energia. Mas como o ciclo inicia? Através de diversos fatores, muitos deles, próprios do envelhecimento do indivíduo, ou doenças que foram acumuladas com a idade, efeitos de medicamentos, possíveis quedas, entre outros; todos contribuem para a instalação dessa condição. Pode citar também anemia, Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG aterosclerose, disfunção autonómica, obesidade e anomalias hormonais. A exemplo específico da sarcopenia, existem múltiplas causas para o seu desenvolvimento primário, como as alterações relacionadas com a idade nos neurónios motores alfa e fibras musculares tipo I, , atrofia muscular, má nutrição, alterações na produção de hormona do crescimento, nos níveis de esteroides sexuais e na atividade física. Por sua vez, a inflamação crônica - que faz parte da tríade do idoso. Já em questão das disfunções neuroendócrinas, os hormonios esterioides sexuais e o IGF-1 são essenciais para o metabolismo muscular. O IGF-1 é um hormonio que fica em baixa nos idosos frágeis em decorrência da baixa de GH nos mesmos. Esta baixa é associada com a incapacidade progressiva, força muscular diminuída, diminuição da velocidade da marcha e aumento da mortalidade - protagonismo do eixo GH-IGF-1 no desenvolvimento da fragilidade. Outra alteração hormonal ocorre por conta das desregulação do eixo hipotálamo-hipófise, levando ao aumento do cortisol, levando a diminuição da massa muscular e da força muscular. A vitamina D, outra importante hormona, está em baixa também, fazendo com que o idoso tenha mais probabilidade de quedas, fraturas, sarcopenia e incapacidade. Em relação ao sistema imune, dados demonstram relação entre os níveis aumentados de leucócitos e fragilidade, mais especificamente os neutrófilos e monócitos. Na subpopulação de linfócitos T, a fragilidade está associada ao aumento das células CCR5+T [13] e das células CD8+/CD28-. A síndrome de fragilidade está, também, associada a uma resposta comprometida dos anticorpos o que explica uma eficácia apenas moderada da vacinação destes idosos com vacinas contra influenza e pneumococos. Obs. A inflamação pode induzir a sarcopenia através do aumento de mediadores como e PCR, TNF-α e IL-6 Pontos fisiológicos da senilidade somados a resquícios de patologias pregressas ou presentes nesse indivíduo, contribuem para a desregulação neuroendócrina (ex, câncer, problemas para dormir, queda hormonal senil, entre outros), fazendo com que ocorra a disfunção imunológica e a fasa de inflamação crônica, que, por sua vez, induz a perda de massa muscular com perda funcional e a instalação do quadro de sarcopenia. No final, o idoso se enquadra na “síndrome do idoso frágil”. Obs. Como é um ciclo, o ínicio pode ser em qualquer um dos três pilares. Apesar desta ser a teoria mais aceita, diversos autores propõe outras teorias: envolvimento de carga genética, estilo de vida pregresso e doenças; além de carga alostática ao longo da vida, acúmulo de lesões oxidativas do DNA, declínio na capacidade de reparo, anormalidades na transcrição, deleções e mutações no DNA mitocondrial, encurtamento telomérico e alterações proteicas como glicação e oxidação (forte teoria genética). Um estudo realizado pelo próprio tratado, confirma uma série de genes diferencialmentemodulados quando compara-se a carga genética de idosos sádios e idosos frágeis. Além disso, a partir dessas diferenças, diversas vias de processos biológicos foram demonstradas comprometidas, em especial a via de reparo de lesões no DNA, vias relacionadas a resposta ao estresse e sistema de processamento e degradação de proteínas; demonstrando que além da tríada e da pontuação de fatores externos, fatores internos também são relevantes para a instalação da síndrome, ou seja, a predisposição do indivíduo de naquela circunstâncias desenvolver a síndrome. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Figura 90.2 Ciclo da fragilidade, conforme proposto por Fried et al. Observa-se a existência de um ciclo central, em que a redução da massa e da força muscular se associam a redução da atividade física e redução da ingestão alimentar que, por sua vez, precipitam a piora da massa e da força muscular. Vários fatores (“entradas”) se precipitam e perpetuam esse círculo vicioso. (Adaptada de Fried et al., 2001.) Uma questão especial na fisiopatologia são os idosos obesos. Muitos mecanismos relacionam a obesidade com sarcopenia, como, através da diminuição da atividade física, níveis diminuídos de hormonas como testosterona, hormona do crescimento e IGF-1, níveis aumentados de citocinas pró- inflamatórias, leptina, adiponectina e resistina que induzem um estado de inflamação crónica. Pelo que a obesidade confere um risco acrescido de desenvolvimento da síndrome de fragilidade. Quadro clínico e diagnóstico diferencial Perda de peso de forma não intencional Fraqueza muscular Fadiga Redução da velocidade da marcha Redução do nível de atividade física Além disso, o diagnóstico clínico da sarcopenia tem que ser verificado. Ainda que não sejam os principais pontos a serem avaliados, são sinais frequentes nos portadores dessa síndrome as anormalidades na marcha e no balanço, ocorrência de quedas, sintomas depressivos, redução da massa óseoa e alterações cognitivas e sensoriais. Também a vulnerabilidade a processos infecciosos ou traumáticos e a má resposta às terapêuticas instituídas são características frequentes desta população. Incapacidade versus fragilidade: → Enquanto a fragilidade é um quadro multissistêmico, de instalação lenta e que promove uma vulnerabilidade homestática; a incapacidade pode acontecer de maneira aguda e comprometer um único sistema, deixando sequelas, mas que não, necessariamente, implica em instabilidade homeostática (não envolve disfunção neuroendôcrina). Comorbidade versus fragilidade → Do mesmo modo, a fragilidade deve ser diferenciada da presença de comorbidades. Embora bastante frequentes com o envelhecimento, as comorbidades não necessariamente são associadas a redução de reservas de múltiplos sistemas e inadequação da manutenção da homeostase frente a estímulos agressivos, o que a diferencia da síndrome de fragilidade. Sarcopenia e caquexia versus fragilidade → A sarcopenia é definida como a perda da massa muscular associada a redução da força e função. Ou seja, ela pode está presente sem necessariamente fazer parte do trípe da síndrome do idoso frágil. E, quando presente na síndrome, é apenas uma parte de um quadro maior. Contudo, cabe ressaltar que sua presença singular configura-se como fator de risco para para a instalação da síndrome. → Por sua vez, a caquexia é definida como a forma mais grave de emagrecimento involuntário, através da perda de massa muscular, associada ou não a perda de gordura, que segue uma doença; é também considerada uma síndrome metabólica. Está é mais díficil de diferenciar clinicamente pois possui muitas semelhanças, como a perda de peso, redução da força e fadiga. Contudo, a caquexia, como a sua definição traz, é induzida e instalada através de uma doença crônica, como o câncer ou o HIV, por exemplo; enquanto a síndrome da fragilidade incide de maneira independente destes diagnósticos. Além disso, a fisiopatologia da síndrome da fragilidade não está envolvida no desenvolvimento da caquexia. Envelhecimento versus fragilidade → Mesmo que suas definições sejam semelhantes, o processo de envelhecimento ocorre de forma gradual e global, para que quase todos os sistemas se adequem; contudo, a fragilidade tem suas principais alterações a nível imunológico e neuroendocrino Critérios diagnósticos Clínicos Primeira escala: a Escala de Fragilidade de Edmonton, propõe dez indicadores de fragilidade e um score máximo de 17 que representa o nível mais alto de fragilidade. Dois dos indicadores são baseados no desempenho de tarefas, o teste do relógio para avaliação das capacidades cognitivas e o teste da performance funcional para avaliação da mobilidade e equilíbrio. Os outros indicadores são, o humor, a independência funcional, o uso da medicação, o suporte social, a nutrição, estado geral de saúde, continência e qualidade de vida. Segunda escala: o fenótipo de Fried é o critério mais usado internacionalmente, onde estão presentes cinco critérios diferentes. Afirma-se que os idosos portadores de três ou mais desses critérios são classificados como frágeis; com um ou dois, são pré-frágeis, e quando não apresenta nenhum deles, são não fragéis. Os critérios são os mesmos do quadro clínico: perda de peso não intencional, diminuição da força muscular, diminuição da resistência e energia, lentificação e diminuição da atividade física. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Contudo, está escala de diagnóstico é criticada por alguns estudiosos por ter um dois dos seu críterios de díficil identificação, sendo feito de forma subjetiva, além de não encobrir a natureza multidimensional da síndrome. Terceira escala: ABVD aplicada diretamente somada a AIVD. Contudo, esse seria considerado um diagnóstico de rastreio uma vez que tais escalam devem ser aplicadas anualmente em indivíduos com mais de 70 anos. Através dessa utilização anual, pode-se perceber que o surgimento de certas incapacidades na ABVD procedem outras. Ou seja, elas demonstram um padrão de declínio das atividades. Sendo a ABVD começa normalmente com dificuldades para higiene pessoal e segue ate dificuldade na alimentação, enquanto na AIVD começa com dificuldade na manipulação de medicamentos e segue até utilização de meios de transporte. Critérios laboratoriais Mesmo que, dada a fisiopatologia da fragilidade, diversos exames laboratoriais possam estar alterados (marcadores de aumento da atividade inflamatória, redução da creatinina sérica, redução da albumina sérica, anemia, alterações hormonais), nenhum destes testes, empregados isolados ou em conjunto, possibilita o diagnóstico de fragilidade ou para ele contribui de modo definido. Diagnóstica diferencial A insuficiência cardíaca congestiva, polimialgia reumática, doença de Parkinson, artrite reumatoide, neoplasia oculta e infeção são os principais, que se podem apresentar primeiramente como fragilidade e por isso precisam de ser excluídos. Abordagem terapêutica Os objetivos do tratamento desta síndrome são por um lado prevenir a sarcopenia e por outro, atingir um controlo ótimo de todas as patologias que possam causar ou agravar a fragilidade. Os tratamentos medicamentos exclusivos para a fisiopatologia da doença, como anti-inflamatórios, reposição hormonal, anabolizantes com o intuito de reduzir a massa muscular não mostraram-se eficazes isoladamente. Atualmente, sabe-se que o tratamento ouro para a síndrome da fragilidade é uma avaliação geriátrica integrada, que constitui uma avaliação do paciente, plano de tratamento e reavaliação regularmente pela equibe multidisciplicar (médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e assistente social). Essa estratégia é considerada padrão ouro por reduzir as admissões em hospitais e possibilitar uma vida ativa destes doentes em suas casas. Dessa maneira, as intervenções atuais são: 1. Recomendação de atividade física para promover aumento da massa muscular 2. Suplementação alimentar, para reduzir a perda de massa magra e melhorar o estado energético (fadiga) 3. Suplementaçãohormonal, buscando retirar da tríade fisiopatológica a desregulação neuroendócrina 4. Terapia medicamentosa citada anteriormente Entre estes, o exercício físico e a avaliação geriátrica integrada são os métodos terapêuticos que mostram impacto mais positivo. Contudo, existem pontos relevantes a serem discutidos sobre a prática de atividade física. Isto por que, estudos apontam que a prática, de forma isolada, pode ajudar o individuo. Contudo, no conjunto do tratamento, pode aumentar o risco de lesões. Laura Vieira Gomes de Oliveira - Medicina UNIFG Dessa forma, opta-se por um treinamento de força com exercícios de flexibilidade, equilíbrio, capacidade aeróbica e resistência, pelo menos 3x na semana. Porém, a atividade é de suma importância, uma vez que ela sozinha melhora a capacidade funcional do indivíduo, a qualidade de vida e ajuda a prevenir quedas; tendo um impacto positivo nos sistemas mais debilitados por essa síndrome: o musculoesquelético, endócrino e imunitário. Outro ponto é a suplementação alimentar, que somada ao exercício físico, apresenta diversos benefícios. Recentes estudos demonstram que a necessidade de proteínas de idosos, nesse tipo de condição, é superior a preconizada pela faixa etária. Desta forma, suplementos proteico-calóricos, especialmente associados temporalmente ao exercício físico, mostramse benéficos para estimular a síntese proteica em idosos. Contudo, ainda é motivo de estudo a quantidade específica de proteína diária. A suplementação hormonal também não pode ser feita sem parâmetros. Na verdade, os estudos mostram que a suplementação de testosterona em homens frágeis, associada a atividade física, possui diversos efeitos benéficos. Enquanto outros hormônios não apresentam nenhum benefício. A suplementação de vitamina D pode ser positiva para diminuir a chance de quedas. Ademais, a creatina somada ao exercício físico trabalha aumentando a força muscular, a massa e a resistência. Cabe ressaltar que, além do tratamento da síndrome em si, o tratamento de comorbidades associadas é de igual importância. Caso não ocorra melhora, em sua fase final, a síndrome pode assemelhar-se a uma doença terminal, passando para um tratamento sintomático e paliativo, fazendo com que o principal objetivo seja melhorar a qualidade de vida - para isso pode ser necessário recorrer a certos fármacos com antidepressivos, sendo os preferidos os inibidores da recaptação da serotonina, ou para o controlo da dor os AINEs, sendo que, apenas se deve recorrer aos opioides em casos de dor grave. Prevenção Mudanças no estilo de vida Suspensão do tabagismo, da ingestão excessiva de álcool e de substâncias psicoativas Tratamento rigoroso de doenças crônicas Tratamento rápido de doenças agudas Alimentação balanceada e diversificada Manutenção da atividade física Uso apenas necessário de medicamentos Prevenção de quedas Correção de perdas com órteses Reposição de vitaminas e minerais É importante ressaltar que a fragilidade não é um processo inevitável, uma vez que está relacionada ao envelhecimento, mas não está presente em 100% da população. FONTE: Tratado de Geriatria e o artigo de revisão para mestrado “Síndrome da fragilidade no idoso”, de Ana Luísa, 2017https://eg.uc.pt/bitstream/10316/82733/1/Ana%20Luisa %20Correia.pdf Acompanhamento multiprofissional, grupos de apoio e relação familiar na sd. consumptiva.
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