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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DO FORO REGIONAL DE ROLÂNDIA DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA – PR Autos: 35362/2016 Thiago Henrique de Oliveira, brasileiro, casado, motorista, RG xxx, CPF xxx, residente e domiciliado na Rua XXX, número X, Apucarana, Paraná, vem, por meio de suas advogadas regularmente inscritas na OAB/PR Isabelle Victória Lopes Frazon (OAB 87.986), Laura Bach Margraf (OAB 88.134), Letícia Przendziuk Franco Felix (OAB 88.536), Luísa Fiori Felippe (OAB 87.988) e Victória Gomes Gonçalves Carvalho (OAB 89.900), com endereço profissional na Avenida Sete de Setembro 3303, Curitiba, CEP 80230010, onde recebem avisos e intimações, legalmente constituídas, (com instrumento de mandato anexo), inconformado com a respeitável sentença, interpor APELAÇÃO O que faz com esteio no artigo 593, inciso I do Código de Processo Penal, requerendo que seja recebido e encaminhado ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Termos em que, Pede deferimento. Curitiba, 21 de novembro de 2016. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ Autos: 35362/2016 Apelante: Thiago Henrique de Oliveira Apelado: Ministério Público de Estado do Paraná RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO PELA DEFESA Eméritos Julgadores Colenda Câmara Criminal I – Síntese Fática Na data de 25 de abril de 2016, por volta das 00h10, o Denunciado Thiago Henrique de Oliveira conduzia pela PR-170, na Zona Industrial, no Foro Regional de Rolândia/PR o veículo Caminhão Trator Volvo FH, de placas XXX-XXXX e dois semi reboques Guerra, de placas XXX-XXXX e XXX-XXXX, todos na cor vermelha e de propriedade da transportadora Estrela Ltda-ME, quando capotou. Conforme aferido pelos Policiais Militares no Termo de Constatação de Sinais de Alteração Psicomotora, no momento da abordagem, o Denunciado em tese apresentava olhos vermelhos, soluço, desordem nas vestes, hálito alcoólico, arrogância, exaltação, ironia, dispersão, fala alterada, equilíbrio dificultado e confusão mental que indicavam a suposta ingestão de bebidas alcoólicas. II- Síntese Processual A denúncia foi oferecida em 28/04/2016, cujo recebimento se deu em 29/04/2016. Pessoalmente citado, o réu apresentou resposta à acusação (mov. 58.1). Em sede de instrução processual foi procedida à oitiva das testemunhas e interrogado o acusado com audiência realizada em 18/10/2016. O Ministério Público apresentou Alegações Finais, sob a forma de memoriais escritos, em 19/10/2019 e posteriormente a defesa em 07/11/2016. Foi proferida sentença condenatória pela prática do crime do art. 306 da Lei 9.503/97 em 10/11/2016, da qual o réu foi intimado em 14/11/2016. III- Fundamentação Jurídica - Do Mérito - Da absolvição por insuficiência probatória Em que pese a conclusão do Juízo de primeiro grau, que condenou o apelante pela prática do crime de embriaguez ao volante, não existem elementos probatórios aptos a ancorar uma condenação, destarte a sentença deve ser reformada por essa Egrégia Câmara Criminal. Verifica-se que não há nos autos provas capazes de comprovar que o recorrente estava com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool. A sentença condenatória é embasada apenas no Termo de Constatação e nos depoimentos dos policiais que atenderam a ocorrência. Ocorre que as características apresentadas pelo apelante descritas no Termo de Constatação e narradas pelos policiais (disperso, dificuldade de equilíbrio, não se lembrava onde estava, não sabia hora e data, não se lembrava dos atos cometidos, não respondia às perguntas com precisão) são condizentes com os sintomas de concussão cerebral, como a perda de memória recente, desequilíbrio e dificuldade de concentração. Sendo certo, ainda, que o apelante sofreu acidente ao tentar desviar de outro veículo, por esta razão a colisão foi inevitável, levando-o à concussão cerebral. Ainda, em seu depoimento, o Policial Gilmar não recorda se o acusado explicou do porquê ter perdido o controle, logo não é possível a efetiva constatação de que o motivo foi devido à substâncias alcoólicas. Outrossim, no que se refere a justificativa da recusa do denunciado em realizar o exame de alcoolemia, percebe-se que os depoimentos dos policiais militares são contraditórios. O policial Gilmar afirma que o recorrente não quis fazer o teste do bafômetro dizendo que não estava embriagado, enquanto o policial rodoviário Carlos Roberto afirmou que o acusado se recusou a fazer o teste do bafômetro dizendo que iria dar alterado, pois tinha bebido pinga. Há no presente feito, fundada dúvida a respeito da materialidade e autoria delitiva do réu, de modo a ser imperiosa sua absolvição ante a aplicação do princípio in dubio pro reo, pois somente a prova séria e inconcussa é que pode respaldar a imposição de reprimenda, não devendo pairar sobre a condenação qualquer resquício de incerteza, por diminuta que seja. No processo penal, sob a égide do Estado Democrático de Direito, as provas colhidas devem ser robustas, positivas e fundadas em dados concretos que identifiquem tanto a autoria quanto a materialidade de maneira a assegurar a convicção quanto à solução condenatória, não sendo possível uma condenação fundada tão somente em indícios e incertezas. Observe-se a doutrina: Princípio do in dubio pro reo (...) por meio deste princípio, privilegia-se a garantia da liberdade em detrimento da pretensão punitiva do Estado. Apenas diante de certeza quanto à responsabilização penal do acusado pelo fato praticado é que poderá operar-se a condenação. Havendo dúvidas, resolver-se-á esta em favor do acusado. Ao dispor que o juiz absolverá o réu quando não houver provas suficientes para a condenação, o art 386, VII, do CPP agasalha, implicitamente, tal princípio. (AVENA, Norberto. Processo Penal. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo, 2020) Com efeito, o art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, determina que diante da ausência de prova suficiente para a condenação, deve o juiz absolver o réu. Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Paraná: APELAÇÃO CRIME. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE AGRAVADA (ART. 306 C/C ART. 298, II, AMBOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). ABSOLVIÇÃO, COM FULCRO NO ART. 386, VII, DO CPP. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PLEITO DE REFORMA DA SENTENÇA, SOB O ARGUMENTO DE HAVER PROVAS SUFICIENTES PARA A CONDENAÇÃO DO APELADO. NÃO ACOLHIMENTO. PROVAS FRÁGEIS. FUNDADAS DÚVIDAS QUANTO AO DOLO. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO EVIDENCIADO. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. HAVENDO FUNDADAS DÚVIDAS ACERCA DO DOLO, NÃO É POSSÍVEL FIRMAR A CONDENAÇÃO. DESSA FORMA, É CASO DE MANTER-SE A ABSOLVIÇÃO DO APELADO, NOS TERMOS DO ART. 386, VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. (TJPR - 2ª C.Criminal - 0008058-44.2019.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: DESEMBARGADOR JOSÉ MAURICIO PINTO DE ALMEIDA - J. 31.05.2021) A dúvida razoável apresentada demonstra que as provas colacionadas ao longo da instrução processual são insuficientes para confirmar de forma estreme de dúvidas a responsabilidade penal do acusado. Assim, diante da fragilidade probatória em relação a materialidade e autoria delitivas, apenas resta a absolvição do acusado, uma vez que as provas colhidas não são suficientes para ensejar um decreto condenatório. - Da Revogação da Suspensão do Direito de Dirigir Conforme narrado no decorrer do processo, o apelante é motorista profissional e responsável pelo sustento de sua família, razão pela qual pleiteia a revogação da suspensão de dirigir A aplicação da pena de suspensão do direito de dirigir, prevista no Código Brasileiro de Trânsito, para o motorista profissional, viola seu direito fundamental ao trabalho, assegurado na Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XVII. Neste sentido são os seguintes julgados: PENAL E PROCESSO PENAL – PRELIMINAR – LESÕES CORPORAISCULPOSAS – DIREITO DE REPRESENTAÇÃO – DECADÊNCIA – RECONHECIMENTO – PRELIMINAR ACOLHIDA – MÉRITO – HOMICÍDIOS CULPOSOS NO TRÂNSITO – EXCESSO DE VELOCIDADE – IMPRUDÊNCIA – ALEGAÇÃO DE IMPRUDÊNCIA DA VÍTIMA – IRRELEVÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DE CULPAS – RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. v.v.p: APELAÇÃO – HOMICÍDIO CULPOSO – MOTORISTA PROFISSIONAL – PENA DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR – INCONSTITUCIONALIDADE – DECOTAÇÃO. A pena de suspensão do direito de dirigir veículos aplicada ao motorista profissional viola o direito ao trabalho, assegurado constitucionalmente, no art. 5º XVII, devendo, em tais casos, ser declarada inconstitucional e decotada da condenação.” (Apelação Criminal, TJMG 1.0024.04.462734-7, Relator: HÉLCIO VALENTIM, Data de Julgamento: 15/05/2007, Data de Publicação: 02/06/2007) PENAL: HOMICÍDIO CULPOSO – CRIME DE AUTOMÓVEL – MOTORISTA PROFISSIONAL QUE AO ULTRAPASSAR COLETIVO ESTACIONADO EM PARADA DE ÔNIBUS LOGRA ATINGIR PASSAGEIRO QUE AO DELE SAIR TENTAVA ATRAVESSAR A PISTA. (…) SUA PRETENSÃO DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO DE SEU DIREITO DE DIRIGIR PROCEDE ÀS ESCÂNCARAS, POIS SENDO O MESMO MOTORISTA PROFISSIONAL UMA PENA NESTE SENTIDO O LEVARIA AO DESEMPREGO, E ISSO EFETIVAMENTE NÃO É DO INTERESSE DO LEGISLADOR NEM DO OPERADOR DO DIREITO, QUE DEVEM ATENDER AO INTERESSE MAIOR DO ESTADO EM RECUPERAR OS VIOLADORES DA LEI PERMITINDO-LHES UM MELHOR CONVÍVIO COM OS DEMAIS MEMBROS DA SOCIEDADE, SEM QUE ISSO, TODAVIA, SIGNIFIQUE QUALQUER ESPÉCIE DE IMPUNIDADE. SUSPENDER SIMPLESMENTE O DIREITO DO MOTORISTA PROFISSIONAL DE DIRIGIR EM VEZ DE CORRIGIR AQUELES QUE PORVENTURA TENHAM INFRINGIDO POR UMA ÚNICA VEZ A LEI, NÃO LEVA A NADA E A PENA VAI SERVIR PARA ENGROSSAR A MASSA DE DESEMPREGADOS NESTE PAÍS (…)”(Apelação Criminal 6382-0 – TJDF, 1ª Turma Criminal – Rel. P. A Rosas de Farias, DJU 04.09.2002) O que se tem, portanto, é a violação do art. 7° da Constituição Federal, que determina que toda pessoa tem direito à proteção contra o desemprego. Logo, a imposição da suspensão de dirigir configura, ao réu, uma forma de bis in idem, visto que o acusado sofrerá sanções além das impostas pelo devido processo penal. Em outros termos, ao ser proibido de dirigir, o réu ficará impossibilitado de exercer a sua profissão. Nota-se que o art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro determina que a suspensão se dá em decorrência da infração de conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão de álcool e/ou outros, contudo, este é justamente o objeto de discussão da lide. Ou seja, ao ter o seu direito de dirigir suspenso, o réu estará sofrendo sanções judiciais antes mesmo de confirmada a sua sentença, o que é veemente vedado pela legislação. A doutrina considera cabível tal suspensão, desde que justificada por comprovada infração penal, que não é o caso dos autos. É o que leciona o autor Eugênio Pacelli: “Sem sombra de dúvidas, a aplicação da pena de interdição temporária de direitos justifica-se na medida em que a condenação tenha sido motivada por uma infração penal praticada em violação às normas que regulem determinada atividade ou em circunstâncias que guardem relação estreita com determinados ambientes.” (PACELLI, Eugênio. Manual de direito penal parte geral. 6. Rio de Janeiro Atlas 2020 ) Ainda, é observada a violação do princípio da intranscendência da pena, pois a pena de suspensão do direito de dirigir não atinge apenas ao réu, mas à toda a sua família, que revela-se dependente do sustento de seu provedor, como informado nos autos. Assim, diante da dependência que a família do acusado tem de sua renda, e em observância aos direitos constitucionais e aos princípios norteadores do Código Penal, requer-se a revogação da pena de suspensão do direito de dirigir. IV- Dos pedidos Diante do exposto, requer seja o presente recurso CONHECIDO E PROVIDO, de modo que a sentença seja reformada, sendo i) o apelante absolvido, nos moldes do art. 386, inciso VII do Código de Processo Penal; ii) subsidiariamente, revogada a suspensão do direito de dirigir, conforme art.5º, XVII da CRFB. Curitiba, 21 de novembro de 2016.
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