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Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII Oncologia Problema 2 – Fechamento 1 Câncer de pênis • O câncer de pênis é um tumor raro, com maior incidência em homens a partir dos 50 anos, embora possa atingir também os mais jovens. • O câncer de pênis (CP) é uma neoplasia rara, cujo tratamento, muitas vezes mutilante, causa efeitos físicos e mentais devastadores nos pacientes. Tratável em estágios iniciais, a perda do órgão é inevitável em casos mais avançados Epidemiologia Fatores de Risco • A etiologia do câncer de pênis ainda não foi completamente elucidada, podendo ser considerada como multifatorial. • O principal fator de risco para CA de pênis é a higiene precária, às vezes corroborada pela presença de fimose na vida adulta = Acúmulo de esmegma (material formado de descamação de células epiteliais e gordura, que se acumula sob o prepúcio) leva a um processo inflamatório crônico local, contribuindo para a gênese desse CA • Tabagismo; • Número elevado de parceiros sexuais e a associação ao Papilomavírus Humano (HPV); • Homens que não se submeteram à circuncisão. • A presença de lesões pré-malignas como corno cutâneo, balanite ceratótica, linquen escleroso, papulose bowenoide também podem ser consideradas como importantes fatores de risco. Histopatologia • Desenvolve-se sob a forma de lesão exofítica, superficial ou ulcerada, que pode se tornar invasiva. • Ocorre mais comumente na glande – cerca da metade dos casos – e no prepúcio, mas pode acometer a haste peniana e o escroto. • Invasão uretral não é comum. • Disseminação acontece predominantemente por via linfática para linfonodos inguinais, pélvicos e periaórticos. ** A região inguinal é o principal sítio de metástases do CEP (fator prognóstico mais importante). • A progressão da doença é lenta, e pacientes não tratados em geral morrem de complicações, como infecção inguinal, necrose e erosão dos vasos femorais. • Seu curso é agressivo e costuma evoluir para óbito em menos de 2 anos após o diagnóstico da lesão primária (quando não tratado). • A fáscia de Buck (camada de fáscia profunda que cobre os três corpos eréteis do pênis) age como uma barreira natural temporária a invasão tumoral, protegendo os corpos cavernosos do acometimento neoplásico. - A penetração da mesma permite a invasão do espaço vascular intracorpóreo e estabelece o potencial de disseminação hematogênica da doença (a região inguinal representa o principal sítio de metástases). • O carcinoma epidermoide de pênis (CEP) é constituído por células escamosas, como o próprio nome diz, e forma tumorações exofíticas ou ulceradas que infiltram em diferentes profundidades os tecidos vizinhos. Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII → Classificação de risco : • O CEP é classificado em três grupos de risco com base no potencial de desenvolvimento de metástases regionais e sobrevida: - Baixo Risco : neste grupo incluímos o carcinoma verrucoso, carcinoma papilar e o carcinoma verrucoide (Warty). O primeiro, caracteristicamente, não produz metástases e os outros dois apresentam baixo potencial de disseminação secundária. - Risco Intermediario : carcinoma epidermoide usual. - Alto Risco : neste grupo incluímos o carcinoma sarcomatoide e o carcinoma basiloide, em geral invasivos e de alto grau, apresentando elevada incidência de metástases e mortalidade. Diagnóstico • Paciente apresenta lesão peniana com mau aspecto e odor, resistente a tratamento local, evolutiva e muitas vezes exsudativa, ocasionando dificuldades no convívio social e interferindo na qualidade de vida. • Dor e sintomas sistêmicos são incomuns na apresentação inicial, quando 70 a 80% têm doença restrita ao pênis. • Pode estar associado ou não ao espessamento ou mudança na cor da pele do pênis ou prepúcio. • O diagnóstico é feito, basicamente, pela biópsia incisional de qualquer lesão peniana suspeita para se diferenciar as lesões malignas (bem como seus subtipos) das lesões pré-cancerosas e das benignas. • RM e TC ajudam a estadiar o câncer localizado, verificando a invasão dos corpos cavernosos e avaliando os linfonodos. • Linfadenopatia à inspeção e à palpação não é conclusivo, visto que metade desses casos não tem comprometimento tumoral. • Na fase inicial, raramente identificam-se metástases linfonodais. Estadiamento Estádio I: Tumor limitado à glande e/ou ao prepúcio Estádio II: Tumor invade corpo cavernoso Estádio III: Tumor com metástase(s) para linfonodo(s) inguinal(is) Estádio IV: Tumor invade estrutura adjacente ou presença de linfonodos inoperáveis ou metástase(s) a distância. Tratamento → Lesão primária: tratamento da lesão peniana visa a exérese completa do tumor com margem de segurança de 1 a 2 cm . - A penectomia parcial é apropriada se o tumor puder ser completamente excisado com margens adequadas, mantendo um coto peniano que permita a micção e a função sexual. → A penectomia total é necessária para grandes lesões infiltrativas. - Se os tumores forem de alto grau ou invadirem os corpos cavernosos, é necessária linfadenectomia inguinal bilateral. → Radioterapia: pode ser considerada para pacientes jovens com lesões penianas superficiais e exofíticas não invasivas, com tamanho variando entre 2 e 4 cm. **Mas o CEP costuma ser resistente à radioterapia. Uso limitado → Linfonodos regionais : Linfadenectomia bilateral superficial em todos os casos com linfonodos palpáveis ou naqueles com lesão primária estádios T2-T4 e/ou com grau de diferenciação celular G2-G3, características de mau prognóstico. Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII Prognóstico • Nos estádios iniciais da doença o prognóstico é bom, obtendo-se cura na maioria dos casos. • O fator prognóstico mais importante de CEP é o comprometimento linfonodal regional. Câncer de Próstata • O tipo de câncer da próstata mais comum é o Adenocarcinoma Anatomia • Localizada na pelve. • Se localiza inferiormente à bexiga, sendo atravessada pela primeira porção da uretra, limitada anteriormente pela sínfise púbica e posteriormente pelo reto. • A próstata normal possui consistência fibroelástica • Pode ser dividida em 3 zonas : - A zona de transição corresponde à região que envolve a uretra proximal → corresponde a 75% do total da glândula = região predominante do câncer. - A zona central, à porção que acompanha os ductos ejaculadores; - A zona periférica (maior), à parte que envolve a uretra distal e que corresponde à região posterior da próstata. Epidemiologia • No Brasil, estimam-se 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. • Ocupa a primeira posição no país em todas as Regiões brasileiras Fatores de Risco • Idade: o câncer de próstata é uma "doença da terceira idade". - Mais de 3/4 dos casos acometem homens > 65 anos. • História Familiar: cerca de 85% dos Ca de próstata são esporádicos (história familiar negativa); nos 15% restantes, o risco relativo aumenta em função do número de familiares acometidos, grau de parentesco e a idade em que a doença aparece. • Etnia: o risco em negros é quase 2x maior que em brancos. Asiáticos, por outro lado, possuem as menores taxas de incidência. • Dieta: uma elevada ingesta de lipídios (com destaque para os ácidos graxos saturados) se associa a um maior risco de câncer de próstata. • Mutações BRCA-1 e BRCA-2: tais mutações classicamente associadas ao câncer de mama também predispõem ao câncer de próstata, o que explica a coagregação familiar entre essas duas neoplasias. OBS : Tabagismo e etilismo não são fatores de risco, mas o tabagismo aumenta a morbimortalidade dos pacientes diagnosticados. - Hiperplasia prostática benigna não é fator de risco. Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII Etiopatogenia • O Ca de próstata é classificado em dois subgrupos: - Lesão histológica clinicamente oculta ou “latente”; - Doença clinicamentemanifesta; • A partir disso, pode-se afirmar que há então dois grandes passos na etiopatogênese dessa neoplasia: - (1) iniciação (que cria a doença “latente”); - (2) progressão (que torna a doença “clinicamente manifesta”) sendo que ambos são fortemente influenciados por mutações genéticas e alterações epigenéticas. Tipo Histológico • Quanto à patologia, o tipo histológico mais frequente é o adenocarcinoma acinar, uma lesão que em > 70% das vezes aparece na zona posterior da glândula, sendo potencialmente alcançável pelo toque retal. • As células tumorais do CA prostático se organizam num padrão “glandular” muito semelhante às glândulas normais, dificultando o diagnóstico microscópico. - Entretanto , percebe-se que as glândulas neoplásicas são menores do que as glândulas normais, e se agrupam com maior proximidade entre si, além de apresentarem pouca ou nenhuma ramificação. OBS : É importante saber que o grande achado patognomônico de Ca de próstata na biópsia é a presença de invasão perineural. • O restante dos tipos histológicos se divide-se entre sarcomas, carcinomas epidermoides e carcinoma de células transicionais. Disseminação • O Ca de próstata costuma se disseminar localmente(vesículas seminais e a base da bexiga-pode causar obstrução urinaria) e à distância. • O sítio mais comum de metástase à distância é o esqueleto axial, onde observam-se lesões osteoblásticas. • Disseminação LINFÁTICA: linfonodos obturadores; para-aórticos. Manifestações Clínicas • Em sua fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa. • Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite). • Obstrução urinária(jato intermitente e/ou fraco) acompanham a doença localmente avançada (invade uretra ou o colo vesical). • Apontam para um diagnóstico de Ca de próstata a coexistência de hematúria e, principalmente, hematoespermia, achados não esperados ao crescimento prostático benigno. • São indícios de disseminação linfática locorregional (com obstrução de linfonodos pélvicos) : edema de membros inferiores e uma vaga sensação de “desconforto” pélvico ou perineal constante. • Envolvimento da coluna: Síndrome de compressão epidural da medula espinhal (paraplegia, nível sensitivo, distúrbio esfincteriano). → Crescimento lento. Depois tendem a apresentar crescimento rápido. • Em ordem decrescente de frequência, as regiões mais acometidas pela metástase são: (1) coluna lombar; (2) fêmur proximal; (3) pelve; (4) coluna torácica; e (5) costelas. Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII Diagnóstico → Escore de Gleason • Utilizado para avaliar o grau de diferenciação do adenocarcinoma prostático . • Se relaciona ao comportamento biológico do tumor e, consequentemente, ao seu prognóstico. • Ele classifica a citoarquitetura tecidual em 5 graus distintos: - Grau 1= o mais bem diferenciado (ou seja, o mais “parecido” com o tecido normal); - Grau 5 o menos diferenciado (sem formações glandulares, apenas células “soltas” infiltrando o estroma); - Os demais graus são intermediários entre esses dois extremos. • Como a doença tende a ser multifocal, em geral são encontrados pelo menos 2 graus distintos na mesma biópsia e, por isso, a pontuação final é dada pelo seu somatório. - EX: quando o padrão dominante possui grau 3 e o padrão secundário possui grau 4, o Gleason final é 7. Quando apenas um padrão é encontrado, deve-se duplicar seu grau para chegar ao Gleason. Dessa forma, o Gleason varia de 2 a 10. → Toque Retal • Tumores de próstata identificados pelo TR em geral já possuem um tamanho relativamente grande, o que implica maior chance de doença avançada. • O TR é “positivo” quando se nota a presença de nodularidade, induração ou assimetria lobar acentuada; é mandatório realizar biópsia em caso de positividade (mesmo que o PSA esteja normal). → Antígeno Prostático Específico (PSA) • O PSA é “próstata-específico”, e não “câncer-específico”, ou seja, ele é um marcador laboratorial exclusivo de dano ao epitélio prostático, que pode estar aumentado não só no CA, mas também em condições não neoplásicas. • Os níveis séricos se elevam nos casos de câncer por conta da distorção na arquitetura do parênquima, o que aumenta a permeabilidade dos ductos prostáticos fazendo o PSA secretado refluir para a circulação. • Evitar ejaculação 48h antes da coleta. → Biópsia Transretal da Próstata Guiada por USG: • A Bx-TRUS é o método de escolha para a confirmação histopatológica do diagnóstico de Ca de próstata. - Nas patologias prostática benignas, o PSA costuma se manter na faixa entre 4-10 ng/ml. - Valores > 10 ng/ml são mais específicos para câncer. - Quando o PSA estiver acima de 10 ng/ml há indicação formal para biópsia - Valores muito aumentados (> 100 ng/ml) predizem com grande acurácia a existência de doença metastática. - O acompanhamento evolutivo dos níveis séricos de PSA é útil para monitorar a resposta ao tratamento. - O médico atento deverá lembrar-se ainda de situações que modificam a dosagem do PSA : como ejaculação recente, inflamações e infecções prostáticas, trauma perineal frequente (ciclistas), toque retal vigoroso ou massagem prostática, biopsia de próstata recente, uso de produtos para reduzir o volume prostático (finasterida/dutasterida). Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII • Recomenda-se uma coleta padronizada de, no mínimo, 12 fragmentos, englobando todos os setores da próstata (base, meio e ápice, medialmente e lateralmente, dos dois lados da glândula), além de coletas adicionais caso exista uma ou mais áreas suspeitas. • USG: tumor hipoecoico na maioria das vezes. • Não serve para rastreamento e sim p/ diagnostico. → TC de abdome e pelve: Razoável para avaliação do comprometimento linfático da pelve e do abdome. → RM com sonda endorretal: Método de escolha para avaliação extraprostática e o envolvimento das vesículas seminais; além do envolvimento linfonodal. → Cintilografia óssea: para detectar metástases esqueléticas em casos de grande suspeita de doença disseminada. Tratamento • Deve-se levar em consideração a extensão da doença e as condições clínicas do paciente. → Conduta Expectante: • Ideal para pacientes que possuem curta expectativa de vida (< 10 anos) por conta de uma idade mais avançada e/ou presença de comorbidades significativas, particularmente na vigência de fatores de bom prognóstico em relação ao tumor. - (Ex: níveis não tao altos de PSA, Gleason baixo,lesão de pequeno volume) = Esses indivíduos provavelmente não vão morrer por causa do Ca de próstata, então não há motivo pra submetê-los tratamentos tão agressivos. • Acompanhamento clínico(com TR) e dosagem de PSA(6-6m). → Prostatectomia radical (remoção de próstata e vesículas seminais e linfonodos regionais: • É provavelmente melhor para pacientes < 70 anos de idade com tumor confinado à próstata. • Pode-se lançar mão da radioterapia em casos de margem de ressecção comprometidas pela doença. • Linfadenectomia pélvica não é obrigatória em todos os casos, mas é recomendada para pacientes com tumor T3-4, PSA > 10 ng/ml, Gleason > 7. • Preservar sempre que possível feixe neurovascular posterolateral da próstata, por onde passam os nervos cavernosos responsáveis pela ereção peniana. → Radioterapia: • Para pacientes de alto risco cirúrgico ou como estratégia de resgate ou recidiva bioquímica. • Radioterapia com feixes externos ou braquiterapia (implante de sementes radioativas no interstício prostático pela via transperineal). • Efeitos adversos: proctopatia e a cistopatia induzida por radiação → Deprivação Androgênica: • Na vigência de metástases, a cura pela cirurgia/ radioterapia não é mais possível. • Para essesdoentes a conduta prioritária consiste na eliminação dos hormônios androgênios, já que as células tumorais prostáticas, dependem do estímulo desses hormônios para sobreviver e se proliferar. • Nesses casos, o tratamento “padrão-ouro” é a orquiectomia bilateral (castração cirúrgica), porém, esta abordagem não costuma ser aceita pela maioria dos pacientes, exigindo soluções alternativas como as terapias hormonais. → (1)Agentes que reduzem a produção de androgênios: - Inibidores do Eixo Hipotálamo- Hipofisário-Gonadal ( AGONISTAS GnRH – pode resultar em síndrome da deprivação androgênica[ondas de calor, fraqueza, impotência sexual, sarcopenia, anemia, dislipidemia, obesidade, depressão, resistência à insulina, DM, osteoporose]). *Mais utilizado. Daniela Rocha Fonseca – 2020- XXVII → (2) agentes que bloqueiam o receptor de androgênio. → Quimioterapia: quando o tumor progride mesmo com terapia de deprivação androgênica. • Os efeitos adversos mais comuns são a impotência sexual e a incontinência urinária. - Ambos tendem a estar presentes no pós-operatório imediato, podendo melhorar com o passar do tempo. - Já nos pacientes submetidos à radioterapia, ambos podem estar ausentes logo após o tratamento, surgindo evolutivamente. Rastreamento • Como o câncer de próstata é uma doença heterogênea, não há como determinar ao diagnóstico que tumores evoluirão de forma agressiva e que tumores permanecerão “silentes” por longos períodos, logo, não há evidências de que há beneficio em rastrear tal CA. • O rastreamento do cancer de próstata é recomendado apos os 50 anos de idade, em individuos sem historia familiar para a doença, e apos os 45 anos de idade, em individuos que apresentam um ou mais parentes de primeiro grau portadores de cancer de prostata e/ou em afro-descendentes. - O pico de incidência da doença ocorre entre 70 e 74 anos de idade. • Para o rastreamento da doença, dois exames devem ser utilizados: a dosagem sérica do antigeno prostático especifico (PSA) total e os dados do exame fisico localizado, caracterizado pelo toque retal.
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