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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ARTES LICENCIATURA EM TEATRO DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA ARTE NA EDUCAÇÃO PROFESSORA: SIMONE CASTRO NOME: ANA MARIA CASTRO SOUSA RESUMO DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Breve visão da arte no ensino brasileiro. In: DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação. São Paulo: Cortez, Autores Associados; Uberlândia, MG: Universidade Federal de Uberlândia,1981. Através de uma visão histórica e filosófica a respeito da educação oficial brasileira nós podemos notar claramente uma visão problemática com relação à cultura brasileira, isso porque nossa cultura nunca foi algo bem definido, esclarece Duarte Júnior ao iniciar o texto. O autor continua refletindo e sugere que primeiramente devemos considerar que o nosso país tem raízes de uma colonização que além de ter interesse em apenas usar o Brasil como uma “despensa” de onde eles podiam pegar riquezas e matérias-primas, eles também não tinham interesse nenhum em deixar o Brasil desenvolver uma cultura e identidade próprias. A criação de uma cultura baseada nas raízes anteriores aos portugueses era perigosa, segundo eles, pois levariam a colônia a certo nível de independência. Por conta disso, a cultura brasileira nasceu de um transplante da cultura portuguesa, com uma mistura de ideais europeus que eram completamente avulsos ao nosso território nacional. Com isso, veio a implantação de um modelo de cultura e educação europeias dentro do país, que gerou o apagamento de muitas culturas que existiam no Brasil pré-colonial, o ensino implantado aqui visava unicamente a atender os valores e ideais europeus de política, economia e educação. Após a conquista de Napoleão Bonaparte sobre Portugal em 1808, como aponta Duarte Júnior, seu príncipe-regente, D. João chega ao Brasil trazendo consigo a implementação da Imprensa Régia. No ano de 1816, D. João trouxe para o país artistas franceses para que fosse implementado o ensino de artes no país, constituindo a Missão Francesa que acabou por dar origem a Academia de Belas Artes, considerada o início de uma educação artística no país. Apesar de tudo isso, o ensino dos franceses seguiu sendo um ensino de imposição de valores, enquanto que no Brasil se destacava o estilo barroco, os franceses chegaram trazendo o estilo neoclássico, o que fez com que as elites de cara adotassem o “moderno” e dessem as costas para o barroco (provando mais uma vez a forma como as elites brasileiras vangloriava qualquer modelo europeu de manifestação). O autor considera que após a chegada dos franceses e a mudança do interesse das elites, a arte começou a ter uma reputação de ser algo supérfluo. Além disso, algo que tem raízes coloniais é o fato de que artes manuais sofriam preconceito por anteriormente serem atividades prioritariamente praticadas por escravos, o que fez com que a literatura e a música fossem vistas como mais eruditas do que as artes plásticas. Até a Proclamação da República de 1889, a arte era ensinada apenas como algo que servia para o trabalho industrial e para a produção de bens, nisso incluiam-se o desenho técnico e geométrico. Enquanto as atividades industriais e produtivas eram ensinadas para a classe trabalhadora e, para grande parte da burguesia, as “belas-artes” eram ensinadas nas academias e nos conservatórios especiais apenas para aquelas pessoas de classes mais abastadas. As artes só passavam a ser vistas com bons olhos quando se tornavam úteis no desenvolvimento de estudos científicos, era vista apenas como uma forma de preparação do intelecto para atividades que eram consideradas como “mais elevadas”. Com o crescimento do positivismo e do liberalismo podemos ter duas visões diferentes da época, enquanto os positivistas acreditavam que a arte deveria ser utilizada como um caminho para chegar à ciência, os liberalistas acreditavam que a arte possuía algum valor nela mesma, mesmo que pragmático. Com isso, os positivistas acreditavam em uma linguagem mais cientificista enquanto os liberalistas defendiam uma linguagem mais técnica, porém nenhum deles enxergava o real potencial da arte de ser algo independente, como reflete Duarte Júnior. Ele esclarece que em meados de 1922, a Semana de Arte Moderna trouxe ao Brasil uma nova visão sobre a arte, e uma nova forma de interpretar expressões artísticas. A arte deixa de ser vista como algo que serve para a preparação do intelecto e passa a ser vista como um instrumento de liberação de emoções e expressão de experiências. Porém, a grande influência modernista fez com que a arte continuasse sendo enxergada como algo ligado a valores pragmáticos e técnicos. Após esse período, em meados de 1971, a arte ocupa parte dos currículos, sendo dividida entre “artes industriais” e “artes domésticas”, a primeira sendo focada na produção de bens como bandejas e estantes, e era direcionada a alunos do sexo masculino; e a segunda sendo focada em tarefas como costura e culinária, que eram direcionadas a alunas do sexo feminino; enquanto isso as cadeiras musicais seguiam focadas nos hinários nacionais. Em 1948, no Rio de Janeiro foi fundada a primeira “Escolinha de Arte”, com o intuito do ensino exclusivo de artes. O autor relata em sua abordagem que o ensino direcionado às grandes massas de pessoas era sempre focado na produção de mão-de-obra, um ensino dirigido e sem brechas para a individualidade (sempre lembrando que as grandes elites consideravam as grandes massas como pessoas ignorantes e atrasadas). Além disso, qualquer manifestação de arte popular era vista pelos estudiosos como algo primitivo e vulgar. E continua sua abordagem mostrando que em meados de 1964 começaram a ser adotados métodos inspirados no sistema norte-americano, igualmente ligados a uma educação agora conhecida como educação bancária, na qual os alunos escutam e são obrigados a aceitar o que vem sendo dito sem haver questionamentos. Nos encontramos numa época que apesar de o sistema não ser mais baseado em ideais europeus, continua não sendo algo que represente a identidade e a cultura nacional. Em época de ditadura, as únicas formas de expressão permitida em atividades artísticas eram as que não faziam referências à situação sócio-cultural do país, caso fizessem eram vetadas. Parte da influência norte-americana se manifesta na forma como a arte difundida no país durante os anos 60 foi majoritariamente transmitida através da televisão, uma forma diferente, mas igualmente nociva de impor subculturas e uma única forma de pensar e sentir (por isso a televisão e seus produtos até hoje são vistos como produto de alienação). A partir desse período vemos um sistema educacional focado principalmente no capitalismo e na hegemonia, isso se torna claro na forma como o ensino técnico e industrial era disseminado pelo país como a única solução para o ensino das classes menos favorecidas do país. Enquanto as periferias eram metralhadas com uma forma de ensino estritamente focada na formação de mão-de-obra industrial, o governo criava mais e mais cidadãos alienados, a nova educação era voltada para a profissionalização técnico-industrial, não era mais sobre formar cidadãos, era sobre formar trabalhadores que eram ensinados a ver o mundo através de uma visão meritocrática irreal desde a sua infância O autor critica ainda a forma como a arte é ensinada nas escolas atualmente, com uma formação nacional em artes tão recente, é comum que a maioria dos professores lecionando artes sejam completamente leigos no assunto, o que muitas vezes faz com que eles transmitam a arte para seus alunos como uma forma de fórmula predefinida de beleza, quando a arte é na verdade sobre expressão e liberdade. A forma como a arte é ensinada faz com que as pessoas vejam o mundo através de um modelo predefinido que não se encaixa em suas realidades, e acaba esvaindo a oportunidade deles de expressar e representar suas realidades. Por fim, (parafraseando Noel Rosa) DuarteJúnior afirma que apesar de todas as reformas e objetivos professados, o samba - como outras formas de expressão - continua a não ser ensinado no colégio.
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