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Direitos Humanos tema 3

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Direitos Humanos e Cidadania
Tema 3
A PERSPECTIVA DA AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS
Nesta unidade temática, você vai aprender
A identificar os pressupostos clássicos e as lutas pela liberdade e a limitação dos poderes estatais como momentos centrais anteriores às revoluções modernas.
A relacionar a afirmação moderna dos direitos humanos às revoluções norte-americana e francesa.
A estabelecer relações da afirmação dos direitos humanos na esfera constitucional a partir do século XVIII e dos direitos fundamentais dos cidadãos.
A inferir a afirmação dos direitos humanos na conjunção de consolidação internacional no século XX.
A sintetizar a afirmação histórica dos Direitos humanos a partir do reconhecimento de diversas dimensões de proteção.
Introdução
Neste capítulo, trabalharemos a perspectiva da afirmação histórica dos Direitos Humanos que é uma constante evolução.
No primeiro subitem, trataremos dos pressupostos clássicos e de lutas pela afirmação desses direitos anteriormente às denominadas revoluções modernas, como desde o Antigo Testamento e à Grécia Antiga.
No segundo ponto, o assento da afirmação moderna dos direitos humanos, com suporte especialmente nos momentos históricos de revoluções liberais nos Estados Unidos e na França.
Por terceiro e no constante evoluir, a afirmação desses direitos humanos no círculo constitucional no século XVIII, com foco nos direitos fundamentais dos cidadãos.
Em quatro, a análise da afirmação dita contemporânea desses direitos, a partir da consolidação que se deu no campo internacional no século XX, com o surgimento do denominado Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Por fim, e em quinto, veremos a afirmação dos direitos humanos em decorrência do reconhecimento de diversas dimensões protetivas.
Os pressupostos clássicos, as lutas por liberdade e limitação dos poderes do Estado, e as conquistas anteriores às revoluções modernas
Para a sabedoria antiga, a geração do mundo não tem apenas um sentido ontológico, com o nascimento dos diversos entes que o povoam, vez que exprime, antes, um sentido axiológico, com a organização de uma escala universal de valores, que vai aos poucos se explicitando (COMPARATO, 2015).
No que se refere à linha traçada de forma histórica, assinala-se que, segundo a teoria geralmente aceita, os cinco primeiros livros da Bíblia (o Pentateuco) procedem de quatro fontes distintas, amalgamadas no texto atual (COMPARATO, 2015). Ademais, a fonte javista, assim denominada porque nela Deus toma o nome de Iahweh, seria Originária do reino de Judá e, a fonte eloísta, na qual Deus é comumente designado Como Elohim, é originária de Israel (COMPARATO, 2015). Nesse passo, a Bíblia apresenta o ser humano entre o Céu e a Terra, como um ser a um só tempo espiritual e terreno. Contudo, foi o curso do processo de evolução vital que influenciou pela aparição da espécie humana, surgindo em cena um ser capaz de agir sobre o mundo físico, sobre o conjunto das espécies vivas e sobre si próprio, enquanto elemento integrante da biosfera (COMPARATO, 2015).
Reflita
Cabe pontuar que o cristianismo contribuiu diretamente para a disciplina dos Direitos Humanos, considerando que dispôs em vários trechos da Bíblia (Novo Testamento) a respeito da igualdade e solidariedade com o semelhante (RAMOS, 2017).
Os filósofos católicos também merecem ser citados, em especial São Tomás de Aquino, que tratou no capítulo sobre o Direito na sua obra Suma Teológica (1273), ao defender a igualdade dos seres humanos e a aplicação justa da lei (RAMOS, 2017). E, foi para a escolástica aquiniana, aquilo que é justo (id quod justum est) que corresponde a cada ser humano na ordem social, o que reverberará no futuro, em especial na busca da justiça social constante dos diplomas de direitos humanos (RAMOS, 2017). Dessa feita, ao mesmo tempo em que defendeu a igualdade espiritual, o cristianismo conviveu, no passado, com desigualdades jurídicas inconcebíveis para a proteção de direitos humanos, como a escravidão e a servidão de milhões de indivíduos (RAMOS, 2017). Assume assim lugar de relevo o componente cultural, como faz ver Comparato:
“O homem passa a alterar o meio ambiente e, ao final, com a descoberta das leis da genética, adquire os instrumentos hábeis a interferir no processo generativo e de sobrevivência de todas as espécies vivas, inclusive a sua própria. Na atual etapa da evolução, como todos reconhecem, o componente cultural é mais acentuado que o componente ‘natural’.” (COMPARATO, 2015, p. 6-7).
Em verdade, a primeira reflexão do ser humano sobre si mesmo surgiu, concomitantemente, em várias civilizações, num período decisivo da História. O primeiro passo rumo à afirmação dos direitos humanos iniciou já na Antiguidade, no período compreendido entre os séculos VIII e II a.C., quando vários filósofos trataram de direitos dos indivíduos, influenciando-nos até os dias de hoje: Zaratustra na Pérsia, Buda na Índia, Confúcio na China e o Dêutero-Isaías em Israel, cite-se, que o ponto em comum entre eles é a adoção de códigos de comportamento baseados no amor e respeito ao outro (RAMOS, 2017).
Saiba mais
O Código de Hammurabi é considerado um dos principais instrumentos legislados de evolução dos direitos na história humana:
“Do ponto de vista normativo, há tenuamente o reconhecimento de direitos de indivíduos na codificação de Menes (3100–2850 a.C.), no Antigo Egito. Na Suméria antiga, o Rei Hammurabi da Babilônia editou o Código de Hammurabi, que é considerado o primeiro código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos (1792–1750 a.C.), em especial o direito à vida, propriedade, honra, consolidando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império. Chama a atenção nesse Código a Lei do Talião, que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor deveria receber a mesma ofensa proferida).” (RAMOS, 2017, p. 27-28).
Ramos dá conta de outras iniciativas dignas de nota:
“Ainda na região da Suméria e Pérsia, Ciro II editou, no século VI a.C., uma declaração de boa governança, hoje exibida no Museu Britânico (o ‘Cilindro de Ciro’), que seguia uma tradição mesopotâmica de autoelogio dos governantes ao seu modo de reger a vida social. Na China, nos séculos VI e V a.C., Confúcio lançou as bases para sua filosofia, com ênfase na defesa do amor aos indivíduos. Já o budismo introduziu um código de conduta pelo qual se prega o bem comum e uma sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser humano.” (RAMOS, 2017, p. 28).
A fé monoteísta alcançou em Israel sua expressão mais pura no século VI a.C., com o Dêutero-Isaías, o autor anônimo dos capítulos 40 a 55 do Livro de Isaías. Ainda, a relação religiosa tornou-se mais pessoal e o culto menos coletivo ou indireto, uma vez que passou a possibilitar que os indivíduos entrassem em contato direto com Deus, sem necessidade da intermediação sacerdotal ou grupal; enquanto isso, a força da ideia monoteísta acaba por transcender os limites do nacionalismo religioso, preparando o caminho para o culto universal do Deus único e a concórdia final das nações (COMPARATO, 2015). Coexistiam, no período axial, liberdade e razão, embora todas as diferenças:
Em suma, é a partir do período axial que, pela primeira vez na História, o ser humano passa a ser considerado, em sua igualdade essencial, como ser dotado de liberdade e razão, não obstante as múltiplas diferenças de sexo, raça, religião ou costumes sociais. Lançavam-se, assim, os fundamentos intelectuais para a compreensão da pessoa humana e para a afirmação da existência de direitos universais, porque a ela inerentes.
(COMPARATO, 2015, p. 10)
Cabe referir, que a ideia de que os indivíduos e grupos humanos podem ser reduzidos a um conceito ou categoria geral, que a todos engloba, é de elaboração recente na História. Foi durante o período axial da História que despontou a ideia de uma igualdade essencial entre todos os seres humanos, sendo necessários vinte e cinco séculos para que a primeira organização internacional a englobar a quase-totalidade dos povos daTerra proclamasse, na abertura de uma Declaração Universal de Direitos Humanos, que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.” (COMPARATO, 2015).
Fique de olho!
Assim, essa convicção de que todos os seres humanos têm direito a serem igualmente respeitados, pelo simples fato de sua humanidade, nasce vinculada a uma instituição social de capital importância. E também por meio da lei escrita, que passa a ter regra geral e uniforme, igualmente aplicável a todos os indivíduos que vivem numa sociedade organizada.
“A lei escrita alcançou entre os judeus uma posição sagrada, como manifestação da própria divindade. Mas foi na Grécia, mais particularmente em Atenas, que a preeminência da lei escrita tornou-se, pela primeira vez, o fundamento da sociedade política. Na democracia ateniense, a autoridade ou força moral das leis escritas suplantou, desde logo, a soberania de um indivíduo ou de um grupo ou classe social. soberania essa tida doravante como ofensiva ao sentimento de liberdade do cidadão. Para os atenienses, a lei escrita é o grande antídoto contra o arbítrio governamental, pois, como escreveu Eurípides na peça As Suplicantes (versos 434-437), ‘uma vez escritas as leis, o fraco e o rico gozam de um direito igual; o fraco pode responder ao insulto do forte, e o pequeno, caso esteja com a razão, vencer o grande’.” (COMPARATO, 2015, p. 10).
Os gregos desempenharam importante papel na construção da ideia de Direitos Humanos, no realce dado por Ramos:
“A herança grega na consolidação dos direitos humanos é expressiva. A começar pelos direitos políticos, a democracia ateniense adotou a participação política dos cidadãos (com diversas exclusões, é claro) que seria, após, aprofundada pela proteção de direitos humanos. O chamado “Século de Péricles” (século V a.C.) testou a democracia direta em Atenas, com a participação dos cidadãos homens da pólis grega nas principais escolhas da comunidade. Platão, em sua obra A República (400 a.C.), defendeu a igualdade e a noção do bem comum. Aristóteles, na Ética a Nicômaco, salientou a importância do agir com justiça, para o bem de todos da pólis, mesmo em face de leis injustas.” (RAMOS, 2017, p. 28).
Pontua-se que, ao lado da lei escrita, havia também entre os gregos uma outra noção de igual importância, qual seja, a lei não escrita. Tratava-se, então de uma noção ambígua, que ao passo que poderia designar o costume juridicamente relevante, também tratava das leis universais, originalmente de cunho religioso, as quais, sendo regras muito gerais e absolutas, não se prestavam a serem promulgadas no território exclusivo de uma só nação. Comparato refere o papel exercido pelo denominado ius gentium:
“Nas gerações seguintes, o caráter essencialmente religioso dessas ‘leis não escritas’ foi sendo dissipado. Em Aristóteles, elas são chamadas ‘leis comuns’, reconhecidas pelo consenso universal, por oposição às ‘leis particulares’, próprias de cada povo.” (COMPARATO, 2015, p. 11).
Saiba mais
“Foi nessa acepção de leis comuns a todos os povos que os romanos adotaram a noção grega de leis não escritas, com a expressão ius gentium, isto é, o direito comum a todos os povos.” (COMPARATO, 2015, p. 11).
Descartado o fundamento religioso, foi preciso encontrar outra justificativa para a vigência dessas leis universais, aplicáveis portanto a todos os seres humanos, em todas as partes do mundo (COMPARATO, 2015). Para os sofistas e, mais tarde, para os estóicos, esse outro fundamento universal de vigência do Direito só podia ser a natureza (COMPARATO, 2015). A superação do individualismo e a assunção de um caráter de vida social coletiva são salientadas por Comparato:
“Em outros autores gregos, a igualdade essencial do homem foi expressa mediante a oposição entre a individualidade própria de cada homem e as funções ou atividades por ele exercidas na vida social. Essa função social designava-se, figurativamente, pelo termo prósopon, que os romanos traduziram por persona, com o sentido próprio de rosto ou, também, de máscara de teatro, individualizadora de cada personagem. No diálogo Alcibíades, por exemplo, o Sócrates de Platão procura demonstrar que a essência do ser humano está na alma, não no corpo nem tampouco na união de corpo e alma, pois o homem serve-se de seu corpo como de um simples instrumento.” (COMPARATO, 2015, p. 12).
A segunda fase na história da elaboração do conceito de pessoa inaugurou-se com Boécio, no início do século VI, tendo em seus escritos influenciado profundamente todo o pensamento medieval (COMPARATO, 2015). Ao rediscutir o dogma proclamado em Nicéia, Boécio identificou de certa forma prosopon com hypostasis, e acabou dando à noção de pessoa um sentido muito diverso daquele empregado pelo Concílio e, em definição que se tomou clássica, entendeu Boécio que persona proprie dicitur naturae rationalis individua substantia ("diz-se propriamente pessoa a substância individual da natureza racional") (COMPARATO, 2015).
Essa concepção medieval de pessoa foi importante na teorização do princípio da igualdade:
Foi, de qualquer forma, sobre a concepção medieval de pessoa que se iniciou a elaboração do princípio da igualdade essencial de todo ser humano, não obstante a ocorrência de todas as diferenças individuais ou grupais, de ordem biológica ou cultural. E é essa igualdade de essência da pessoa que forma o núcleo do conceito universal de direitos humanos. A expressão não é pleonástica, pois que se trata de direitos comuns a toda a espécie humana, a todo homem enquanto homem, os quais, portanto, resultam da sua própria natureza, não sendo meras criações políticas.
(COMPARATO, 2015, p. 15)
No que se refere à dignidade da pessoa, destaca-se que não consiste apenas no fato de ser ela, diferentemente das coisas, um ser considerado e tratado, em si mesmo, como um fim em si e nunca como um meio para a consecução de determinado resultado. Em verdade, ela resulta também do fato de que, por conta da vontade racional, só a pessoa vive em condições de autonomia, isto é, como ser capaz de guiar-se pelas leis que ela própria edita (COMPARATO, 2015).
A afirmação moderna dos direitos humanos a partir das revoluções democráticas norte-americana e francesa
O poder dos governantes na Idade Média europeia era ilimitado, uma vez que era fundado na vontade divina, contudo, mesmo nessa época de autocracia, surgiram os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos, como a Declaração das Cortes de Leão adotada na Península Ibérica em 1188 e ainda a Magna Carta inglesa de 1215 (RAMOS, 2017).
Fatos e dados
A Declaração de Leão consistiu em manifestação que consagrou a luta dos senhores feudais contra a centralização e o nascimento futuro do Estado Nacional.
Por sua vez, a Magna Carta consistiu em um diploma que continha o catálogo de direitos dos indivíduos contra o Estado, sendo redigida em latim, em 1215 – o que explicita o seu caráter elitista –, a Magna Charta Libertatum consistia em disposições de proteção ao Baronato inglês, contra os abusos do monarca João Sem Terra (João da Inglaterra) (RAMOS, 2017).
E, após o reinado de João Sem Terra, a Carta Magna foi confirmada várias vezes pelos monarcas posteriores, apesar de seu foco nos direitos da elite fundiária da Inglaterra, a Magna Carta trouxe a ideia de governo representativo e ainda direitos universalizados, atingindo todos os indivíduos, entre eles o direito de ir e vir em situação de paz, direito de ser julgado pelos seus pares, acesso à justiça e proporcionalidade entre o crime e a pena. O surgimento dos Estados Nacionais de cunho absolutista na Europa substituindo a sociedade estamental de então significou algum avanço em termos de igualdade, no entanto, centrada na força do soberano:
“Com o Renascimento e a Reforma Protestante, a crise da Idade Média deu lugar ao surgimento dos Estados Nacionais absolutistas europeus. A sociedade estamental medieval foi substituída pela forte centralização do poder na figura do rei. Paradoxalmente, com a erosão da importância dos estamentos (Igrejae senhores feudais), surge a igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do rei. Só que essa igualdade não protegeu os súditos da opressão e violência.” (RAMOS, 2017).
Fique de olho!
As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivas Declarações de Direitos, marcaram a primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos (RAMOS, 2017).
A chamada “Revolução Inglesa” foi a mais precoce, pois tem como marcos a Petition of Right, de 1628 e o Bill of Rights, de 1689, que consagraram a supremacia do Parlamento e o império da lei (RAMOS, 2017). A “Revolução Americana” retratou o processo de independência das colônias britânicas na América do Norte, culminado em 1776, e a criação da primeira Constituição do mundo, a Constituição norte-americana de 1787 (RAMOS, 2017). E, assim, várias causas concorreram para a independência norte-americana, sendo a defesa das liberdades públicas contra o absolutismo do rei uma das mais importantes, o que legitimou a emancipação (RAMOS, 2017). A Declaração Francesa dos Direitos do Homem e dos Povos é um dos documentos históricos corroboradores da sustentação política e histórica dos Direitos Humanos:
Fatos e dados
“Em 27 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte adotou a ‘Declaração Francesa dos Direitos do Homem e dos Povos’, que consagrou a igualdade e liberdade como direitos inatos a todos os indivíduos. O impacto na época foi imenso: aboliram-se os privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas, em especial da aristocracia de terras. O lema dos agora revolucionários era de clareza evidente: ‘liberdade, igualdade e fraternidade’ (‘liberté, egalité et fraternité’).” (RAMOS, 2017).
Cabe referir, que a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão proclamou os direitos humanos a partir de uma premissa que permeará os diplomas futuros: “todos os homens nascem livres e com direitos iguais.” (RAMOS, 2017). Nota-se, uma clara influência jusnaturalista, pois, já no seu início, a Declaração menciona “os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem.” (RAMOS, 2017). Tema certamente afeito a todos os círculos de diálogo na atualidade, os direitos das mulheres já eram consignados em 1791:
“Também é importante marco para o desenvolvimento futuro dos direitos humanos o projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de 1791, proposto por Olympe de Gouges, que reivindicou a igualdade de direitos de gênero. Ainda, em 1791, foi editada a primeira Constituição da França revolucionária, que consagrou a perda dos direitos absolutos do monarca francês, implantando-se uma monarquia constitucional, mas, ao mesmo tempo, reconheceu o voto censitário. Em 1791, o Rei Luís XVI tentou fugir para reunir-se a monarquias absolutistas que já ensaiavam intervir no processo revolucionário francês. Após a invasão da França e derrota dos exércitos austro-prussianos, os revolucionários franceses decidem executar o Rei Luís XVI e sua mulher, a Rainha Maria Antonieta (1793).” (RAMOS, 2017, p. 40).
A afirmação progressiva dos direitos humanos no plano constitucional a partir do século XVIII e dos direitos fundamentais dos cidadãos
No século XVIII, passou-se a operar a transformação do direito natural, universal e absoluto em direito positivo, vindo a criar um vazio valorativo, sob certo aspecto, fundamentado em ideais, para então transformarem-se em ideologia (PEREIRA, 2013).
Reflita
Nesse passo, foi a partir da Declaração Francesa que se encontram aspectos culturais que ainda deveriam ser construídos, qualificando como direitos naturais a liberdade, a propriedade e a igualdade em direitos, considerando que referidos direitos não eram, de fato, naturais, e eram acessíveis a uma minoria, posto que a estruturação da sociedade em estamentos apenas acabara de ser abolida (PEREIRA, 2013).
Os ideais encontravam pontos fundamentais em comum, consistentes na necessidade de limitação e controle dos abusos de poder do Estado e de suas autoridades constituídas, bem como na necessidade de se consagrarem postulados básicos de liberdade, igualdade e legalidade, sendo esses ideias que dariam origem mais tarde (século XVIII) ao fenômeno do constitucionalismo (PEREIRA, 2013). Frisa-se que, enquanto técnica jurídica de tutela das liberdades, houve a possibilidade dos indivíduos exercerem, com base em Constituições escritas, os seus direitos fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo uso da força e do arbítrio (PEREIRA, 2013).
A afirmação contemporânea dos direitos humanos no contexto de consolidação internacional no século XX
E foi com base no universalismo que ocorreu a futura afirmação dos direitos humanos no século XX, com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos. E, até meados do século XX, o Direito Internacional possuía apenas normas internacionais esparsas referentes a certos direitos essenciais, como se vê na temática do combate à escravidão no século XIX, ou ainda na criação da OIT (Organização Internacional do Trabalho, 1919), que desempenha papel importante até hoje na proteção de direitos trabalhistas, tendo na criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos a nova organização da sociedade internacional no pós-Segunda Guerra Mundial (RAMOS, 2017). Como marco dessa nova etapa do Direito Internacional, foi criada, na Conferência de São Francisco, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU), denominada “Carta de São Francisco”.
Saiba mais
A reação à barbárie nazista gerou a inserção da temática de direitos humanos na Carta da ONU, que possui várias passagens que usam expressamente o termo “direitos humanos” (RAMOS, 2017).
O caráter não exaustivo da Carta da ONU é focalizado por Ramos:
“Porém, a Carta da ONU não listou o rol dos direitos que seriam considerados essenciais. Por isso, foi aprovada, sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, a Declaração Universal de Direitos Humanos (também chamada de ‘Declaração de Paris’), que contém 30 artigos e explicita o rol de direitos humanos aceitos internacionalmente. Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos tenha sido aprovada por 48 votos a favor e sem voto em sentido contrário, houve oito abstenções (Bielorússia, Checoslováquia, Polônia, União Soviética, Ucrânia, Iugoslávia, Arábia Saudita e África do Sul). Honduras e Iêmen não participaram da votação.” (RAMOS, 2017, p. 43).
Comparato (2015) leciona que a escravidão acabou sendo universalmente abolida, como instituto jurídico, somente no século XX, mas a concepção kantiana da dignidade da pessoa como um fim em si leva à condenação de muitas outras práticas de aviltamento da pessoa à condição de coisa, além da clássica escravidão, tais como o engano de outrem mediante falsas promessas, ou os atentados cometidos contra os bens alheios.
A alteridade é valor relevante, neste degrau:
“Tratar a humanidade como um fim em si implica o dever de favorecer, tanto quanto possível, o fim de outrem. Pois, sendo o sujeito um fim em si mesmo, é preciso que os fins de outrem sejam por mim considerados também como meus.” (COMPARATO, 2015, p. 16).
Os horrores da história humana, em eventos que são lamentavelmente lembrados até hoje, foram marcantes pela evolução da proteção pelos direitos humanos:
“A criação do universo concentracionário, no século XX, veio demonstrar tragicamente a justeza da visão ética kantiana. Antes de serem instituições penais ou fábricas de cadáveres, o Gulag soviético e o Lager nazista foram gigantescas máquinas de despersonalização de seres humanos. Ao dar entrada num campo de concentração nazista, o prisioneiro não perdia apenas a liberdade e a comunicação com o mundo exterior. Não era, tão-só, despojado de todos os seus haveres: as roupas, os objetos pessoais, os cabelos, as próteses dentárias.” (COMPARATO, 2015, p. 16).
Reflita
Analogamente, a transformação das pessoas em coisas realizou-se de modo menos espetacular, mas não menos trágico, com o desenvolvimento do sistema capitalista de produção, como denunciou Marx, a inversão completa da relaçãopessoa-coisa. Assim, enquanto o capital elevou à dignidade de sujeito de direito, o trabalhador é aviltado à condição de mercadoria, de mero insumo no processo de produção, para ser ultimamente, na fase de fastígio do capitalismo financeiro, dispensado e relegado ao lixo social como objeto descartável.
Os Direitos Humanos passam então a ter ângulo positivo (de ação), em superação ao anterior, negativo (de inação):
“A ideia de que o princípio do tratamento da pessoa como fim em si mesma implica não só o dever negativo de não prejudicar ninguém, mas também o dever positivo de obrar no sentido de favorecer a felicidade alheia constitui a melhor justificativa do reconhecimento, a par dos direitos e liberdades individuais, também dos direitos humanos à realização de políticas públicas de conteúdo econômico e social, tal como enunciados nos artigos XXII a XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos.” (COMPARATO, 2015, p. 17).
A afirmação dos direitos humanos em face do reconhecimento de diversas dimensões de proteção
A compreensão da pessoa consistiu no reconhecimento de que o homem é o único ser vivo que dirige a sua vida em função de preferências valorativas (COMPARATO, 2015).
Reflita
Logo, a pessoa humana é, ao mesmo tempo, o legislador universal, em função dos valores éticos que aprecia, e o sujeito que se submete voluntariamente a essas normas valorativas (COMPARATO, 2015).
Destaca-se, ainda, que a compreensão da realidade axiológica transformou, como não poderia deixar de ser, toda a teoria jurídica, sendo os direitos humanos identificados com os valores mais importantes da convivência humana, aqueles sem os quais as sociedades acabam perecendo, fatalmente, por um processo irreversível de desagregação (COMPARATO, 2015).
Por outro lado, com base no conjunto dos direitos humanos, forma-se um sistema, correspondente à hierarquia de valores prevalecente no meio social, existindo sempre uma tensão dialética entre a consciência jurídica da coletividade e as normas editadas pelo Estado (COMPARATO, 2015). Portanto, o conceito de pessoa abriu-se no século XX, com a filosofia da vida e o pensamento existencialista, reagindo contra a crescente despersonalização do homem no mundo contemporâneo, como reflexo da mecanização e burocratização da vida em sociedade, a reflexão filosófica da primeira metade do século XX acentuou o caráter único e, por isso mesmo, inigualável e irreprodutível da personalidade individual (COMPARATO, 2015).
E, com base na reflexão filosófica contemporânea, nota-se que o ser do homem não é algo permanente e imutável, visto que ele é, propriamente, um vir-a-ser, um contínuo devir (COMPARATO, 2015). Tudo no planeta Terra e na humanidade vem de constante evolução, não diferindo assim os Direitos Humanos.
“A ciência contemporânea, aliás, afasta-se sempre mais do pressuposto de equilíbrio estável, que dominou toda a teoria físico-química no passado. Reconhece-se, hoje, a função primordial do tempo irreversível na natureza, muito diferente do tempo reversível da física teórica, e, por conseguinte, a função decisiva das flutuações e da instabilidade. As leis naturais exprimem, assim, antes possibilidades do que determinismos necessários. Em todos os níveis, da cosmologia à vida social, passando pela geologia e pela biologia, o caráter evolutivo da realidade afirma-se sempre mais claramente. Ou seja, a ordem no universo só pode ser mantida por meio de um processo incessante de auto-organização, com a permanente adaptação ao meio ambiente.” (COMPARATO, 2015, p. 20).

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