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ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO 2 Sumário Altas Habilidades e Superdotação ................................................................... 4 Breve conceito histórico de altas habilidades/superdotação ........................ 6 Características e identificação ................................................................ 10 Políticas Públicas e o atendimento da criança com Altas Habilidades/Superdotação .................................................................................... 15 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 27 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 Altas Habilidades e Superdotação A Política Nacional de Educação Especial define, como portadores de altas habilidades/superdotados, os educandos que apresentam notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados, capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora. Dos tipos mencionados, destacam-se os seguintes: Tipo Intelectual: apresenta flexibilidade e fluência de pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, compreensão e memória elevada, capacidade de resolver e lidar com problemas. Tipo Acadêmico: evidencia aptidão acadêmica específica, atenção, concentração; rapidez de aprendizagem, boa memória, gosto e motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse; habilidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento; capacidade de produção acadêmica. Tipo Criativo: relaciona-se à originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora, sensibilidade para as situações ambientais, podendo reagir e produzir diferentemente e, até de modo extravagante; sentimento de desafio diante da desordem de fatos; facilidade de auto expressão, fluência e flexibilidade. Tipo Social: revela capacidade de liderança e caracteriza-se por demonstrar sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para estabelecer relações sociais, percepção acurada das situações de grupo, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo. Tipo Talento Especial: pode-se destacar tanto na área das artes plásticas, musicais, como dramáticas, literárias ou cênicas, evidenciando habilidades especiais para essas atividades e alto desempenho. Tipo Talento Espacial: destaca-se por apresentar habilidade e interesse pelas atividades psicomotoras, evidenciando desempenho fora do comum 5 em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora. Esses tipos são considerados nas classificações internacionais, podendo haver várias combinações entre eles e, inclusive, o aparecimento de outros, relacionados a outros talentos e habilidades. Assim, em sala de aula, os alunos podem evidenciar maior facilidade para linguagem, para socialização, capacidade de conceituação expressiva ou desempenho escolar superior. No desempenho linguístico destacam-se o raciocínio verbal e vocabulário superior à idade, nível de leitura acima da média do grupo, habilidades de comunicação e linguagem criativa. Os alunos superdotados são um caso especial, pois, apesar de não serem detentores de qualquer deficiência, nem apresentarem insuficiência de aprendizagem, enfrentam problemas quase sempre relacionados com adaptação: A capacidade de conceituação inclui apreensão rápida da relação causa- efeito, observação acurada, domínio dos fatos e manipulação dos símbolos, além de um raciocínio incomum. Na área da socialização, tais alunos apresentam facilidade de contato social, capacidade de liderança, relacionamento aberto e receptivo, além de sensibilidade aos sentimentos dos outros. O desempenho escolar compreende o alto nível de produção intelectual, a motivação para aprendizagem, a existência de metas e objetivos acadêmicos definidos, a atenção prolongada e centrada nos temas de seu interesse, além da persistência dos esforços face às dificuldades inesperadas. Entretanto, não se pressupõe que todos os alunos superdotados e/ou com altas habilidades apresentem todas essas características. Quando as apresentam, isso não se dá, necessariamente, em simultaneidade e no mesmo nível. O importante é que não se deve generalizar. Alunos podem ter desempenho 6 expressivo em algumas áreas, médio ou baixo em outras, dependendo do tipo de alta habilidade/superdotação. Por outro lado, há outros que, embora apresentem altas habilidades/ superdotação, têm rendimento escolar inferior e merecem cuidados especiais, pois, frequentemente, manifestam falta de interesse e motivação para os estudos acadêmicos e para a rotina escolar, podendo também apresentar dificuldades de ajustamento ao grupo de colegas, o que desencadeia problemas de aprendizagem e de adaptação escolar. Breve conceito histórico de altas habilidades/superdotação A polêmica acerca da terminologia mais adequada para se referir às pessoas com altas habilidades/superdotação não é recente, sendo possível constatar nos registros históricos existentes no Brasil que, desde 1924, há discordância entre os autores sobre quais termos devem ser adotados. Um exemplo do que se afirma foi registrado por Novaes (1979) ao apontar um relatório de Ulisses Pernambuco, no qual este já fazia distinção entre crianças “super -normaes” e “precoces”. A terminologia “super” foi adotada por Leoni Kaseff em 1931, e o referido autor foi o precursor do uso do termo “super- -normais”, com o prefixo “super” utilizado na legislação estadual do Rio de Janeiro e na Reforma do Ensino Primário, Profissional e Normal, nas quais se previa a seleção de alunos com AH/SD desde as séries iniciais. Concomitantemente, o atendimento junto ao público-alvo da Educação Especial, em específico, àqueles com altas habilidades/ superdotação, no Brasil, teve início em 1929, com o convite do Governo de Minas Gerais a Helena Antipoff7 , para ministrar aulas de Psicologia Experimental na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico, em Belo Horizonte. 7 Nesse período, Antipoff implantou ideias inovadoras e foi precursora desse trabalho no país, desenvolvendo projetos e estudos que fomentaram programas de pesquisa na área da Educação em relação a esse tema. Sob esse formato, constituiu- -se sua principal contribuição à educação dos “excepcionais”,termo adotado na época para designar os que possuíam deficiência, mas também aos que apresentavam inteligência acima da média. No ano de 1938, Antipoff fundou a Sociedade Pestalozzi, em Belo Horizonte, com o marco da identificação de oito crianças supernormais, em que modificou a característica da instituição, mas também deu visibilidade ao atendimento de crianças com altas habilidades/superdotação. Sua preocupação com alunos que apresentavam características de AH/SD no meio rural e em classes menos favorecidas tornou-se um referencial no trabalho com esse segmento, em particular por ir contra o movimento que considerava que havia predominância desses indivíduos nas classes alta e média. Em razão do extenso trabalho desenvolvido, Antipoff tornou-se referência fundamental para a área no Brasil. A partir da influência de Antipoff, no ano de 1967, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) editou uma portaria, em que criou uma comissão que indicou um rol de critérios para que houvesse a identificação e, consequentemente, atendimento a esse alunado. Em 1971, a Lei 5.692, que estabelece as diretrizes e reforma do Ensino de 1º e 2º graus, em seu art. 9º, aborda pela primeira vez o termo “superdotado”, determinando que alunos identificados como tal devessem receber tratamento especial. Após a promulgação dessa lei, o Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp), lançou o Projeto Prioritário nº 35, que implantou uma política voltada para aluno com altas habilidades/superdotação. No ano de 1972, o Brasil foi influenciado pelo “Relatório Marland”, proposto pelo Departamento de Saúde e Bem Estar dos Estados Unidos, no qual as AH/SD foram consideradas por uma perspectiva multidimensional em decorrência, por exemplo, da Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, que identificou uma compreensão das AH/SD em que várias áreas foram contempladas, dentre 8 elas: a capacidade intelectual; o talento especial para artes visuais, a capacidade de liderança, as artes dramáticas e músicas, bem como a capacidade psicomotora. No que diz respeito às terminologias especificadas, evidencia-se uma ausência de concordância entre os especialistas da área, pois, enquanto alguns defendem a supressão do termo “superdotado”, por considerá-lo demasiadamente tendencioso e elitista, outros fazem uso do termo de forma equivalente ao talento; outros ainda optam por denominar esses indivíduos como “aprendizes capazes”, pois se referem não ao indivíduo, mas ao desenvolvimento de comportamentos superdotados. Segundo Guenther (2008), essa falta de concordância na terminologia ideal teve início logo na tradução do inglês americano dos termos giftedness e gifted, cujo significado literal é “dotação” e “dotado”, sendo acrescentado o prefixo “super”. Entretanto, o termo “superdotação” não foi muito bem aceito nos meios educacionais e, para suavizar esse efeito, adicionou-se a expressão inglesa High Ability, que, em português, significa “capacidade elevada”. Guenther (2011) critica também a tradução dessa última expressão para “Altas Habilidades”, no plural, uma vez que a tradução correta de ability é capacidade, e a passagem do termo para o plural não se justifica, e faz perder a essência do conceito. Para Gagné (2010), a dotação caracteriza-se por capacidades naturais notáveis denominadas de aptidões, em pelo menos um domínio de capacidade, com grau que coloca o indivíduo entre os 10% mais elevados no grupo de pares etários; e o talento volta-se para o desempenho notável de habilidades ordenadamente desenvolvidas, em pelo menos um campo de atividade humana, com o indivíduo tendo, no mínimo, 10% de desempenho mais alto quando comparado a grupos de pares etários que são ou já foram ativos em determinado período. Em termos conceituais e históricos, Landau (2002, p. 27) caracteriza o superdotado como: [...] uma criança como qualquer outra, mas há algo que a distingue: o talento. Todo talento deve ser estimulado, regado como se fosse uma planta. Entretanto, existe uma teoria antiquada, segundo a qual a criança 9 superdotada encontra um caminho para desenvolver seus potenciais sob quaisquer circunstâncias. Vale destacar que o termo superdotação não sofreu alterações por um período de vinte anos. Embora ainda existam autores que utilizam em suas obras os termos “altas habilidades”, “superdotação”, “talentos”, “bem-dotados”, dentre outros apresentados, ao longo dos anos, ocorreram algumas controvérsias na área e, portanto, em decorrência desses fatores, as terminologias ainda são adotadas de modos divergentes, inclusive por documentos oficiais como o descrito a seguir. A Política Nacional de Educação Especial apresentou, em 1994, por meio do MEC, uma primeira definição de aluno com AH/SD, cuja caracterização voltou-se para um: [...] notável desempenho e elevadas potencialidades em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora (BRASIL, 1994). Posteriormente, em 2001, a Resolução CNE/CEB n° 2 institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, que, em seu artigo 5º, inciso III, define os educandos com altas habilidades/superdotação como aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL, 2001b). No âmbito do governo federal, foram instituídos, em 2005, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAHS) em todos os estados brasileiros, com a missão de atuar em três eixos: aluno, professor e família. Embora essas ações consistam em vislumbrar um impacto positivo num país que até esse período não havia promovido nenhuma ação promissora relativa a esse grupo, os NAAHS não alcançaram grandes avanços, em razão das condições de implantação de políticas públicas voltadas para essa demanda. Vale destacar que Marques (2016) desenvolveu um estudo com o objetivo de 10 caracterizar os programas de atendimento em altas habilidades/superdotação no Brasil e, de acordo com o mapeamento realizado, encontrou 66 programas que poderiam participar de modo geral de sua pesquisa, entretanto 50 deles responderam ao convite e apenas 11 participaram efetivamente do estudo. O estudo revelou que os programas que efetuam triagem e diagnóstico de maneira sistêmica, atendendo a alunos, familiares e professores, fornecendo formação e divulgando o tema, conseguem alcançar resultados mais eficazes. O estudo revelou também que, apesar de haver a Lei que institui a implantação dos Núcleos (BRASIL, 2006), a quantidade dos mesmos é insuficiente, já que existe 1 em cada estado do país, e alguns não funcionam como deveriam. Assim, os alunos com AH/SD podem ser considerados os mais negligenciados dentre o público-alvo da Educação Especial. Características e identificação O Plano Nacional de Educação – PNE (BRASIL, 2001a) preconizou que a identificação de educandos com “altas habilidades, superdotação ou talentos” e o atendimento adequado de suas necessidades poderiam ser e estar atribuídos aos professores que, ao sentirem-se preparados para observar sistematicamente o comportamento e o desempenho desses educandos, não perderiam de vista o contexto socioeconômico e cultural, a fim de perceber a intensidade, a frequência e a consistência das características ao longo de seu desenvolvimento. Nesse documento norteador, a escola como um todo deveria ser flexível e atenta à diversidade das necessidades especiais e peculiaridades dos alunos, com o intuito de promover ações não apenas integradoras, mas, sobretudo, inclusivas (BRASIL, 2001a). Após mais de uma década, não foi possível verificar grandesmodificações no atendimento a esses educandos, de forma que o PNE (2014) tem apresentado novas indicações que contemplassem ações políticas 11 a esse segmento através da Meta 4, em que reafirma a importância da formação de professores para atender a esse público, estimular a pesquisa, o apoio e a assessoria em centros especializados multidisciplinares, dentre outros. Uma das formas de garantir que isso ocorra é discutido e postulado pela Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), que conceitua a Educação Especial como uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis e etapas, desde a Educação Básica até a Superior. Pesquisas desenvolvidas por Turnbull, Turnbull, Wehmeyer e Shogren (2015, p. 347, tradução nossa) sobre avaliações alternativas revelam que, para a identificação das AH/SD entre alunos de diversas origens, deve-se levar em consideração que: [...] avaliações alternativas proporcionam uma abordagem diferente para identificar estudantes que são dotados e talentosos em vez de medidas padronizadas tradicionais, tais como testes de QI. Avaliações alternativas são especialmente importantes para a identificação de estudantes de diversas origens, que muitas vezes são penalizados devido ao desenvolvimento e normatização de medidas tradicionais. Gardner (1994), Renzulli (2004), Virgolim (2007) e Pérez (2009; 2011) revelam que se faz indispensável a identificação das características de crianças com AH/SD para que de fato sejam incluídas em sistemas apropriados para suas aprendizagens, pois, quando não são identificadas, não podem receber orientações necessárias quanto ao reconhecimento e desenvolvimento de sua potencialidade. No que se refere à conceituação de alunos que se destacam, Cupertino (2008) adota um termo em inglês – oustanding –, traduzido para o português para aluno em “destaque”, para dar visibilidade a essa característica do aluno com AH/SD. Nesse sentido, o aluno em destaque posiciona-se fora de uma suposta posição compartilhada pelos demais, diverge nos parâmetros, posicionando-se a frente. E o fato do aluno se destacar não significa permanecer sem o apoio de um instrutor mais capaz, pois sua aprendizagem necessita ser mediada, independentemente de sua capacidade cognitiva. 12 No que diz respeito às características, Winner (1998) destaca que uma criança com AH/SD pode apresentar: precocidade, insistência em fazer as coisas à sua maneira e fúria pelo domínio. Nesse sentido, considera que ela consegue atingir um potencial na sua área de domínio antes da idade esperada e apresenta facilidade em aprender conteúdos antes dos pares. Em alguns casos, essa aprendizagem ocorre sem o auxílio direto de adultos, mas, de fato, ela consegue fazer descobertas sozinha e encontra maneiras diversas de resolver situações em sua área de domínio criativo e de interesse e mostra-se obsessiva e motivada pelo desejo de dominar essas áreas. A percepção de indicadores depende de um ambiente propício e acolhedor, a fim de se descartar concepções errôneas baseadas no senso comum. A esse respeito, Guenther (2000) afirma que o clima da escola deve ser favorável e promissor, com o objetivo da busca pela excelência e esforços dos alunos, reconhecendo e avançando quando possível, em múltiplos aspectos, com vistas a produzir níveis elevados de qualidade, visando à divulgação em exposições e eventos públicos. Alguns procedimentos que denotam a importância do processo de identificação são: (1) ser assertiva em termos dos objetivos as quais aspiram; (2) estar integrada ao sistema de educação, formando uma configuração maior e não constituída por um apêndice do trabalho escolar; (3) ser realizada em mais de uma fase, a fim de envolver mais que um grupo de pessoas e compreender, no seu desenrolar, uma determinada extensão de tempo; (4) ser diversificada, pluralística e ampla, estendendo-se a todos alunos da população; e, (5) ser prática, possível, viável e sem fugir aos objetivos e filosofia das medidas educativas disponíveis. 13 Esses procedimentos de sinalização utilizam diversas fontes de informação, notavelmente o rendimento escolar, as considerações dos professores, dos pais, dos pares e dos próprios alunos (MOON; FELDHUSEN; KELLY, 1991). Tuttle Jr., Becker e Sousa (1988, p. 31, grifos e tradução nossa) destacam características e habilidades de domínios que devem ser identificadas em alunos com potencial para AH/SD, sendo elas: Habilidade intelectual geral: esta categoria inclui indivíduos que demonstrarem características tais como curiosidade intelectual, poder excepcional de observação, habilidades para abstrair, atitude de questionamento e habilidades de pensamento associativo; Talento acadêmico: esta área inclui os alunos que apresentam um desempenho excepcional na escola, que se saem bem em testes de conhecimento e que demonstram alta habilidade para as tarefas acadêmicas; Habilidade de pensamento criativo e produtivo: esta área inclui estudantes que apresentam ideias originais e divergentes, que apresentam uma habilidade para elaborar e desenvolver suas ideias originais e que são capazes de perceber de muitas formas diferentes um determinado tópico; Liderança: inclui aqueles estudantes que emergem como os líderes sociais ou acadêmicos de um grupo; Artes visuais e ciências: englobam os alunos que apresentam habilidades superiores para a pintura, escultura, desenho, filmagem, dança, canto, teatro e para tocar instrumentos musicais. Habilidades psicomotoras: engloba aqueles estudantes que apresentam desempenho atlético, incluindo também o uso superior de habilidades motoras refinadas, necessárias para determinadas tarefas, e habilidades mecânicas. Renzulli (1978), em suas pesquisas e amostragens de indivíduos criativos/produtivos, constatou que se destacavam a partir de um aglomerado de traços, tais como: habilidade acima da média; criatividade e envolvimento com a 14 tarefa, sendo que, a partir da combinação das três áreas, os indivíduos alcançariam uma realização superior. Habilidade acima da média envolve aspectos gerais, que se voltam para a capacidade de processar informações, integrar experiências que resultam em respostas adaptativas e apropriadas a novas situações com vistas à capacidade de elaborar o pensamento abstrato, como pensamento espacial, memória e fluência de palavras. No que se refere às habilidades específicas, envolvem a capacidade de assimilar novos conhecimentos e habilidades para atuar em uma ou mais atividades de uma área especializada, como química, matemática, fotografia e escultura. Com relação à criatividade, deve-se levar em conta a fluência, a flexibilidade e a originalidade de pensamento, bem como a abertura a inusitadas experiências, curiosidade, sensibilidade a detalhes e ausência de medo em correr riscos. Diante do exposto, pode-se perceber que o modelo apresentado remete à questão da potencialidade, com uma concepção de inteligência mais ampla e abrangente, não se limitando a um conceito geral. Um dos obstáculos mais prementes no processo de identificação diz respeito aos mitos existentes acerca das pessoas com AH/ SD. Winner (1998) faz menção a alguns desses mitos, destacando aqueles que supõem que o fenômeno da “superdotação” seja infrequente, não dependendo dos fatores ambientais em que a criança esteja inserida; a autossuficiência, por apresentarem uma capacidade diferenciada, sendo capazes de desenvolver suas habilidades sozinhos, não necessitando de serviços diferenciados. Nessa perspectiva, Almeida e Capellini (2005, p. 49) pontuam que: Pessoas superdotadas, de fato, podem evidenciar sinais de boa saúde física, energia, disposição, resistência ao stress, podem se destacar em relação ao uso dalinguagem ou socialização, bem como demonstrar um bom desempenho escolar. Todavia, igualmente há pessoas superdotadas que têm baixo rendimento escolar, necessitando de atendimento especializado, pois, frequentemente, tendem a manifestar falta de interesse e motivação para os estudos acadêmicos e rotina 15 escolar, podendo também apresentar dificuldades de ajustamento ao grupo de colegas, desencadeando problemas de aprendizagem e de adaptação escolar. No entanto, para que a habilidade natural se torne um talento, há de se oportunizar o desenvolvimento de quatro fatores imprescindíveis: habilidades naturais (altas habilidades/superdotação) associadas aos domínios catalisadores dos ambientes, catalisadores intrapessoais e o processo de desenvolvimento. Tais fatores devem ser integrados, são únicos para cada indivíduo, todavia, sem eles, o potencial não se torna capacidade, bem como a habilidade que cada qual possui, naturalmente, não se transforma em talento. Políticas Públicas e o atendimento da criança com Altas Habilidades/Superdotação As políticas públicas para a educação e atendimento de crianças com altas habilidades/superdotação (AH/SD) no Brasil estão incluídas no conjunto das políticas públicas em Educação Especial. No enfoque da Educação Especial, numa perspectiva inclusiva, vale ressaltar alguns dispositivos legais de amparo à categoria, em geral, e no tocante à área da Educação Especial. O atendimento especial aos alunos com Altas Habilidades/Superdotação, garantido pela legislação, surge respaldado na educação especial. Na LDB (Lei 4.024/1961), pela primeira vez a educação especial é tratada pela legislação brasileira e passa a regulamentar as funções do setor público e privado no que se refere ao atendimento educacional aos alunos especiais. Nesse sentido, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1961, nº 4.024, que define: 16 Percebe-se, através da referida lei, a regulamentação do compromisso com a educação dos alunos com deficiências. Nesses artigos, o termo altas habilidades/superdotação não é utilizado e sim a terminologia excepcional. Excepcional foi o termo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas com deficiência intelectual. No entanto, com o surgimento de estudos e práticas educacionais, nas décadas de 80 e 90, a respeito de altas habilidades ou talentos extraordinários, o termo excepcional passou a se referir tanto a pessoas com inteligências múltiplas acima da média (pessoas superdotadas ou com altas habilidades e gênios) quanto às pessoas com a inteligência lógica abaixo da média (pessoas com deficiência intelectual). Segundo Alencar (1986), antes da década de 1970, temos muito pouco a contar sobre o atendimento ao superdotado no Brasil. “Poucos autores fizeram referências à necessidade de programas especiais para este grupo” (p. 87). Desse modo, o movimento no Brasil referente ao atendimento dos alunos com AH/SD cresceu de forma bastante acentuada a partir de dois fatos importantes. O primeiro deles ocorreu em 1971, quando foi proposta a Lei 5.692 que fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus onde seu artigo 9º especifica que: Segundo Alencar (1986), somente em 1971, pela primeira vez, se encontra referência ao superdotado nas leis, o que torna obrigatório o atendimento especial a lhe ser prestado. Dessa forma, fica evidente a preocupação com o atendimento 17 especial não apenas de alunos com deficiências, mas também a necessidade de um atendimento especial àqueles que apresentam habilidades superiores. Para Alencar (1986), o segundo acontecimento importante se deu ainda no ano de 1971, quando ocorreu o primeiro seminário sobre o superdotado no País, congregando os principais educadores interessados no tema. A autora destaca o trabalho realizado pela professora Helena Antipoff, junto ao Instituto Pestalozzi do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1945. Esta reunia pequenos grupos de alunos com potencial superior à média e realizava junto aos mesmos estudos sobre literatura, teatro e música. A professora Helena Antipoff deu início, em 1962, no município de Ibirité em Minas Gerais, a um programa de atendimento ao aluno bem-dotado do meio rural e da periferia urbana. Após sua morte, o programa passou a ser dirigido pelo seu filho, o também professor Daniel Antipoff, o qual o faz até a presente data. Importante clarificar que entre as metas propostas pela experiência de Helena Antipoff, Além do problema educação que a toda nação se impõe, para conduzir sua juventude de acordo com os padrões mais adequados de felicidade social, existe ainda o problema de educação do superdotado, como investimento de ordem econômica (NOVAES, 1979). O atendimento suplementar para alunos superdotados da Educação Infantil inicia-se por volta dos quatro anos de idade, contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, como cooperação e autoconceito, e propicia aos alunos oportunidades para vivenciarem o processo de aprendizagem com motivação, tendo como objetivo oferecer condições para que eles explorem áreas de interesse, aprofundem conhecimentos já adquiridos e desenvolvam habilidades relacionadas com criatividade, resolução de problemas e raciocínio lógico. Nesse sentido, fica evidente a contribuição que o sujeito com AH/SD poderá trazer à sociedade quando há um compromisso ao atendimento adequado com o objetivo desde a identificação à participação de programas que potencializem suas habilidades, o que beneficia também a sociedade. Vale destacar que, neste seminário, foram várias as recomendações propostas pelos participantes, como: 18 Desse modo, percebe-se o quanto o atendimento adequado às necessidades de aluno superdotado é importante, para potencializar suas habilidades e não sufocar suas capacidades. Vale ressaltar que em relação à primeira experiência, ela aconteceu em 1972, conduzida pela professora Helena Antipoff, a qual, segundo Novaes (1979), lançou o Projeto Circula, Civilização Rural, Cultural e Lazer, organizando logo depois uma entidade, a Associação Milton Campos para o Desenvolvimento e Assistência à Vocação de Bem-dotados (ADV). Ainda segundo a autora, essa experiência atingiu cerca de 200 indivíduos de ambos os sexos, examinados em três grupos etários: de oito a dez anos, de doze a treze anos e de quatorze a dezesseis anos. Portanto, “esses indivíduos foram examinados por meio de exames psicológicos e, ao mesmo tempo, identificados na escola por seus professores como sujeitos acima da média” (NOVAES, 1979, p.90). A preocupação com o atendimento do sujeito com AH/SD fica bastante evidente nas ações realizadas neste período. No entanto, percebe-se a inexistência no que concerne à educação da criança com idade inferior a 7 anos com AH/SD, mais especificamente, a criança do segmento da Educação Infantil. Pode-se ainda enfatizar a urgência em se focalizar o atendimento à criança com AH/SD. Questão essa discutida por autores como Alencar (2003), Guimarães (2004), Fleith (2006), Sabatella (2005), Virgolim (2007), Marques (2013), dentre outros, comprovando que essa é uma preocupação não somente nacional, em busca de que se faça o atendimento apropriado a estes sujeitos para que suas habilidades sejam potencializadas. Guimarães (2004) ressalta que “é necessário o atendimento adequado, no 19 entanto, sempre com cuidado para que esse indivíduo não seja categorizado ou excluído” (p.68). Alencar (1986) descreve que, em 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CNESP), que passou a dar um apoio maior a todas as iniciativas de educação do superdotado em nosso País e que tem patrocinado vários encontros de especialistas sobre o tema, como o “Seminário de Educação do Bemdotado”,promovido pela Associação Milton Campos de Desenvolvimento e Assistência às Vocações dos Bem-Dotados, em 1974; a “Semana de Estudos sobre Educação Especial de Superdotados” na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1975 e o “Seminário sobre Técnicas de Enriquecimento de Currículos para Superdotados”, em Belo Horizonte, em 1975. Essa autora destaca, ainda, que em 1977, foi realizado o “ll Seminário sobre o Superdotado no Rio de Janeiro” e, por recomendação deste seminário, foi criada, em 1978, a Associação Brasileira para Superdotados. Desde então, de dois em dois anos, novos seminários foram realizados sob o patrocínio desta Associação, o último tendo ocorrido em outubro de 1985, em Belo Horizonte. Nestes seminários, foram apresentados diversos programas de atendimento aos superdotados em vigor no País, bem como palestras dos grandes especialistas da área. Todavia, Alencar ressalta que “Entretanto, o que se percebe é que os recursos são ainda muito poucos, predomina um conceito limitado de superdotado, e o número de alunos que tem se beneficiando com estes programas é ainda muitíssimo reduzido”. (1986, p.37). Mesmo com os movimentos referentes ao atendimento do aluno com AH/SD, segundo Martins (2012), durante esse período se demonstrou insuficiente diante do número pequeno de educandos que foram atendido. Outro marco legal para a construção de práticas inclusivas foi a Constituição Federal de 1988, que em seu Título III, no artigo 208, determina que deve haver “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (p.118). Desse modo, percebe-se a importância dessa lei quanto à inclusão de pessoas com deficiência no ensino comum. Todavia, acredita-se que essa mesma lei é bastante limitada, já que se 20 refere ao atendimento especializado dos educandos com alguma deficiência ao deixar à margem o que se refere ao atendimento de todos os alunos com necessidades educacionais especiais com (NEE), inclusive os alunos com AH/SD (Altas Habilidades/Superdotação). Já no documento que garante o direito à educação do aluno com deficiência a Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Percebe-se, nesse documento, que se repete no artigo 54, inciso III, exatamente o que se prevê na Constituição Federal de 1988, ou seja, “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (p.13). Trata-se de leis que garantem a educação dos alunos com deficiência no ensino comum, porém, percebe-se a ausência do atendimento as demais necessidades educacionais especiais (NEE) que os alunos podem ter. Um documento que provocou uma mudança bastante significativa quanto a uma atenção maior referente à inclusão dos alunos com NEE foi a Declaração de Salamanca do ano de 1994. Esta em conformidade com a Declaração Universal de Direitos Humanos e com a Declaração Mundial sobre Educação para todos em que se estabelece a estrutura de ação em educação especial: “[...] o princípio que orienta esta estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (UNESCO, 1994). Diante dessa premissa, crianças com necessidades educacionais especiais têm seus direitos assegurados a um atendimento especializado perante toda e qualquer necessidade educacional especial apresentada por ela e, desse modo, contribuindo para com a inclusão de forma efetiva. Ao partir da perspectiva da escola inclusiva, pontua-se a educação de qualidade para todos os alunos, independente de suas individualidades. Destacando-se, ainda, a necessidade de prover assistência e apoios necessários 21 aos alunos que assim necessitarem. Outro fator de extrema importância é referente à formação dos professores do ensino comum, os quais deverão receber assistência oferecida por professores especializados quanto ao atendimento das crianças com NEE. Destaca-se que no documento Saberes e Práticas da Inclusão definem como portadores de Altas Habilidades/Superdotação os educandos que: Conforme o exposto fica evidente que os educandos com AH/SD compõem um grupo heterogêneo e apresentam também perfis heterogêneos, inclusive se comparados entre eles mesmos. Dessa forma, necessitam de práticas pedagógicas diferenciadas, já que apresentam habilidades diferenciadas e avançadas em diversas áreas do conhecimento. Há uma lacuna no se refere ao trabalho realizado nas instituições com as práticas inclusivas, pois essas se distanciam sobremaneira dos aspectos legais relacionados ao delineamento da legislação brasileira. Apenas conhecer/identificar a criança com AH/SD, nesse segmento, não se caracteriza como inclusão. As crianças identificadas com Altas Habilidades/Superdotação amparadas, portanto, pela legislação brasileira, necessitam de ações diferenciadas a fim de garantir o desenvolvimento de suas habilidades. Para tanto, a LDB, nº 9.394/96, estabelece as atuais diretrizes e bases da educação nacional, a qual descreve questões da Educação Especial em um capítulo próprio, o Capítulo V, e estabelece: artigo 4º, III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. No referido artigo, é importante destacar que dependendo da interpretação, a inclusão poderá ser negligenciada, já que a própria lei descreve que o atendimento especializado dos educandos com necessidades educativas especiais se dá preferencialmente na rede regular de ensino [grifo nosso]. Termo esse que abre 22 precedentes para que esses educandos recebam uma educação segregacionista e não inclusiva. O artigo 58 adverte que: entende-se por educação especial, para efeitos desta lei, a modalidade da educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades educativas especiais (LDB, 1996, p.25). Nota-se, mais uma vez, o termo preferencialmente, o que leva a entender que a educação de alunos com NEE poderá acontecer num espaço de segregação, o qual não contribui com a inclusão efetiva desses indivíduos. Um fator importante a se ressaltar aqui é que a terminologia portadora de necessidades educativas especiais foi substituída por alunos com necessidades educacionais especiais. Sujeitos esses, público alvo da Educação Especial. Desse modo, a referida lei prevê no § 1º que “[...] haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, pra atender às peculiaridades da clientela de educação especial” (LDB, 1996, p.25). Isto evidencia a garantia de apoio de profissionais especializados aos professores do ensino comum para que esses possam conhecer estratégias pedagógicas apropriadas ao atendimento das necessidades educacionais especiais que seus alunos apresentarem. Já o artigo 59 preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos estudantes currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades. Assegura a terminalidade específica aqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, no art. 24, inciso V, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (LDB, 1996, p.25). 23 Ainda conforme o mesmo documento no art. 59, quando se refere ao atendimento dos alunos com AH/SD, (BRASIL, 1996, p.21-22) prevê: Currículos, métodos, recursos educativos e organizações específicos (I); Aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar (II); Professores especializados (III); Educação especial para o trabalho (IV) e Acesso igualitário aos programas sociais (V). Nota-se que a lei se difere de muitos outros documentos legais quando prevê para a educação básica novas modalidades de organização escolar (Art. 23) e classificação em série ou etapa independentemente da escolarização anterior ou avanço de séries, conforme art. 24, II c; V c (LDB, 1996, p.14). Diante do exposto, percebe-se que, nas últimas décadas, o Ministério da Educação (MEC) passou a apresentar vários documentos referentes à educação e atendimento dos alunos com AH/SD, documentos como: a) A Hora do Superdotado (Brasil,1987), b) Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional aos Alunos Portadores de Altas Habilidades/Superdotação e Talentos (Brasil,1995), c) Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial: Área de Altas Habilidades (Brasil,1995), d) Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: altas habilidades/superdotação (2006) e e) quatro volumes de livros didático pedagógicos com orientações para professores e familiares (2007). Compreende-se, assim, um olhar diferenciado aos alunos com NEE, especificamente ao educando com AH/SD em que se busca respeitar suas peculiaridades com o objetivo de identificar e potencializar suas habilidades. Dessa forma, tendo como parâmetro as diretrizes e os dispositivos legais referentes à educação dos alunos com AH/SD, é possível perceber que esses 24 documentos asseguram o atendimento diferenciado as suas necessidades educacionais especiais. Esses dispositivos legais contemplam ações pedagógicas adequadas à educação dos alunos que apresentam habilidade superior. Desse modo, o direito ao atendimento e apoio especializado é assegurado a todos os alunos com necessidades educacionais especiais. Percebem-se também nesses documentos as adaptações necessárias, as quais visam contribuir com uma educação na perspectiva inclusiva. Destaca-se, portanto, alguns dos documentos legais recentes que também visam assegurar o direito da criança com NEE a uma educação de qualidade e orientar as práticas pedagógicas do professor, a favor de uma escola inclusiva de fato, nos quais se busca ressaltar a educação e atendimento da criança com altas habilidades/superdotação. Conforme a Resolução CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica), nº 2, de 11 de fevereiro de 2001, elaborada para estabelecer as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, em seu Artigo 1º, a educação especial deve ser oferecida desde a educação infantil. Desse modo, refletir e buscar ações em prol do atendimento da criança com AH/SD desde o segmento da educação infantil, torna-se fator primordial com vista à escola inclusiva, para detectar precocemente as crianças dessa primeira etapa de escolarização. Conforme a Resolução CNE/CEB, nº. 02/2001, artigo 3º, a educação especial, modalidade da educação escolar, é compreendida como: Ainda no artigo 5º, inciso III, a resolução considera que alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) são aqueles que apresentam durante seu processo educacional, “altas habilidades/superdotação, grande facilidade de 25 aprendizagem que os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes” (BRASIL, 2001, p. 2). Em 2003, o Ministério da Educação, por meio do documento “Adaptações Curriculares em Ação: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos com Altas Habilidades/Superdotação” (BRASIL, 2003, p.30), apresenta diferentes alternativas de atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais. Segundo este documento, os alunos com altas habilidades/superdotação devem cursar, como os demais alunos, a escola regular comum, nos diversos níveis de escolaridade, em turmas não muito numerosas, a fim de facilitar o atendimento a suas necessidades, bem como sua inclusão escolar. Observado esse critério e de acordo com suas potencialidades, esses educandos podem também ser atendidos na classe regular comum, em salas de recursos e por meio do ensino com professor itinerante. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Brasil, 2008) se fundamenta nos preceitos de uma escola em que cada aluno tem a possibilidade de aprender, a partir de suas aptidões e capacidades. Em sinalização de um novo conceito de educação especial, o documento enseja novas práticas de ensino com vistas a atender as especificidades dos alunos que constituem seu público alvo e garantir o direito à educação a todos. Entretanto, abordar a inclusão de alunos com Altas Habilidades/Superdotação na escolarização comum, especificamente na Educação Infantil, requer aprofundar a discussão das práticas pedagógicas. Esta articulação deverá permitir a identificação desse aluno, bem como promover condições necessárias para que este desenvolva e potencialize suas habilidades. São muitos os desafios enfrentados pelas famílias de superdotados, entre esses a falta de sincronia que caracteriza o seu desenvolvimento, ou seja: são crianças com habilidades intelectuais avançadas, enquanto as habilidades emocionais, motoras e sociais são, geralmente, apropriadas para a sua idade cronológica. O funcionamento de uma família com criança superdotada torna-se diferente em virtude de características apresentadas pela criança, tais como perfeccionismo, sensibilidade e argumentação. 26 27 REFERÊNCIAS ALENCAR, E. M. L. S. Criatividade e educação de superdotados. Petrópolis: Vozes, 2001. ______; FLEITH, D. S. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. 2. ed. São Paulo: EPU, 2001. ALMEIDA, M. A.; CAPELLINI, V. L. M. F. Alunos talentosos: possíveis superdotados não notados. Revista Educação, Porto Alegre, ano 28, v. 55, n. 1, p. 45-64, 2005. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia de Assuntos Jurídicos. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. 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