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2018 2 - Bloco 01 - Identidade, Língua e Cultura 3

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Identidade, Língua e Cultura
Cristiane Rodrigues de Oliveira
03
Sumário
CAPÍTULO 3 – O preconceito linguístico .........................................................................05
Introdução ....................................................................................................................05
3.1 O preconceito linguístico e seus reflexos na sociedade brasileira ...................................06
3.1.1 O conceito de gramática normativa e sua influência 
na construção do preconceito linguístico ...................................................................09
3.1.2 O preconceito linguístico e as práticas pedagógicas ...........................................10
3.2 Variações linguísticas e preconceito ............................................................................16
3.2.1 Entendendo alguns conceitos: gramática natural, gramática padrão, 
variedades urbanas e variedades estigmatizadas ..........................................................17
Síntese ..........................................................................................................................21
Referências Bibliográficas ................................................................................................22
Capítulo 3
05
Introdução
Antes de começar a leitura deste material, reflita: qual seria a sua reação se ouvisse alguém falar 
“macaxeira me dá gastura” ou “você sabe que eu te amo”? Ao estudar o conteúdo apresentado 
aqui, você entenderá o que significa preconceito linguístico e quais os reflexos na sociedade bra-
sileira. Você encontrará informações, conceitos e exemplos que podem complementar e reforçar 
a sua formação nos estudos sobre a língua portuguesa.
 Você sabia que o preconceito linguístico deve-se à falta de esclarecimento e de aceitação das 
variantes linguísticas? Ou, ainda, que o preconceito linguístico fomentou-se a partir da confusão 
que se faz sobre conceitos entre língua falada e língua escrita? A noção de “certo” em língua 
foi canonizada a partir de textos escritos ainda no século XIX. Mas você ainda ouve alguém falar 
da mesma maneira que naquela época? Provavelmente, não. Isso porque a língua é viva e sofre 
mudanças ao longo dos tempos.
Você já deve ter ouvido falar sobre preconceitos relacionados à língua, mesmo que de maneira 
informal. Contudo, se não conhece muito sobre o assunto ou ainda não presenciou uma situa-
ção desse tipo, a partir do estudo deste conteúdo, você entenderá que o preconceito linguístico 
é causado por um julgamento depreciativo em relação à existência de variedades linguísticas, 
assim como a confusão que foi criada, especialmente no “curso da história, entre o que é língua 
e o que é a gramática normativa” (BAGNO, 2000, p. 9).
A partir do conhecimento das causas, você poderá compreender o que é e como se faz o pre-
conceito linguístico, utilizando-se de diversos apontamentos, dados e práticas já realizadas por 
teóricos e linguistas renomados no meio acadêmico (BAGNO, 2000, p. 49). Mais adiante, você 
verá que, inclusive, a didática tradicional usada para o ensino da língua portuguesa reforça a ma-
nutenção do preconceito linguístico. Por isso, é preciso “remodelar o ensino da língua, de modo 
que tenha funcionalidade na vida de nossos alunos” (CAPELLO; LOBÃO; COELHO, 2010, p. 16).
Você entenderá, ainda, como algumas noções de “erro” e de “acerto” (desvio da norma culta pa-
drão) geram o preconceito linguístico, fortemente evidenciado em certas situações comunicativas. 
Bom estudo!
O preconceito linguístico 
06 Laureate- International Universities
Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
Figura 1 – A língua é um instrumento vivo e importantíssimo na comunicação humana.
Fonte: Shutterstock, 2015.
3.1 O preconceito linguístico e seus reflexos na 
sociedade brasileira
Você sabia que a língua é um instrumento vivo e de altíssimo valor? Graças à vivacidade, que é 
elemento próprio da língua, foi possível a evolução da comunicação humana. Assimilar a ideia 
de que a língua é viva e fundamental para compreender a sua evolução. E esse entendimento 
ajuda a desmitificar algumas questões concernentes à construção do preconceito linguístico. 
Antes de identificar os elementos que formam o preconceito contra as diversas variedades da 
língua, veja o que afirma Saussure (1995, p. 22-24), no livro de sua autoria, Curso de Linguística 
Geral: “a língua é um fenômeno exterior ao indivíduo, que por si só, não pode nem criá-la nem 
modificá-la [...] ela é um sistema de signos que exprimem ideias”. 
De acordo com Saussure (1995, p. 22-24), é a língua quem determina o seu próprio sistema. 
Dessa maneira, muitos elementos exteriores podem influenciar no movimento de construção feito 
pela própria língua. Em outras palavras, fatores sociais, culturais e até mesmo políticos podem 
alterar a língua falada por um grupo de pessoas de determinada região e/ou época, uma vez 
que é o reflexo do meio. Os elementos são fenômenos que vão além do domínio do grupo de 
falantes, que não conseguem modificar a própria língua. 
Nesse sentido, é muito importante que você tome por base alguns conceitos que serão vistos 
a seguir. A partir daí, você identificará os movimentos pelos quais a língua portuguesa – assim 
como outras – passou ao longo dos tempos. Ficará mais fácil entender, também, como se dão 
dois outros importantes processos que precisam ser analisados de antemão para dar sequência 
ao entendimento do que é e como surge o preconceito linguístico: a normatização da língua 
e as variedades linguísticas. Nossos estudos serão centrados, primeiramente, na questão da 
normatização da língua. 
07
Para Camacho (1984, p. 35), “toda língua varia, isto é, não existe comunidade linguística algu-
ma em que todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a variação é o reflexo de di-
ferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de circunstâncias da comunicação”. 
A língua, portanto, é um sistema dinâmico em transformação constante. A afirmação corrobora 
a teoria elementar de Saussure, que você viu anteriormente e pode ser notada em textos escritos 
em épocas diferentes. 
Para entender um pouco mais, leia um trecho da crônica Entre palavras, de Carlos Drummond 
de Andrade, que tem como tema a afirmação de Camacho: 
Entre palavras
“Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – circulamos. A maioria delas não figura 
nos dicionários de há 30 anos, ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se tomar 
conhecimento de novas palavras e combinações de. Você que me lê, preste atenção. Não deixe 
passar nenhuma palavra ou locução atual pelo seu ouvido sem registrá-la. Amanhã, pode preci-
sar dela. E cuidado ao conversar com seu avô; talvez ele não entenda o que você diz.
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguette, a chacrete, o linóleo, o nylon, 
o nycron, o ditafone, a informática, a dublagem, o sinteco, o telex... existiam em 1940? Ponha 
aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a motoneta, a Velosolex, o biquíni, o módulo 
lunar, o antibiótico, o enfarte, a acupuntura, a biônica, o acrílico, a tá legal, o apartheid, o som 
pop, a arte pop, as estruturas e a infraestrutura.
Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo, a descapitalização, o desenvolvi-
mento, o unissex, o bandeirinha, o mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem [...]” 
(ANDRADE, 2004, p. 55-56).
Nesse texto, o importante poeta do modernismo aponta que, em tempos distintos, as palavras 
mudam conforme o uso. Atualmente, termos como “motoneta” e “ditafone”, por exemplo, certa-
mente seriam desconhecidos por leitores com menos de 40 anos de idade. 
Leia agora outro exemplo extraído de um trecho da poesia de Manuel Bandeira publicada pela 
primeira vez em 1912, que elucida ainda mais a questão. Concentre-se no uso dos termos sele-
cionados para a construção do texto:
Paisagem noturna 
“[...]
O plenilúnio vai romper... Já da penumbra
Lentamentereslumbra
A paisagem de grandes árvores dormentes.
E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,
Tintas delinquescentes
Mancham para o levante as nuvens langorosas [...]” (BANDEIRA, 2014, p. 23).
Em ambos os exemplos, note que há certos vocábulos que causariam problemas para o enten-
dimento de leitores menos afeitos a essas palavras. Ao observá-los, você perceberá a ação do 
tempo nas variações da língua. 
Ainda vale lembrar que, na literatura, há certas intencionalidades no contexto literário. Por exem-
plo, você consegue imaginar alguém utilizando palavras como plenúrio, dormentes, cambiantes? 
Não seria algo considerado pedante ou culto demais? E, dependendo de quem ouvir o discurso, 
poderá concluir: “esse aí conhece bem a gramática
08 Laureate- International Universities
Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
Tanto Manuel Bandeira quanto Carlos Drummond de Andrade foram poetas que, para 
os cânones de sua época – primeiras décadas do século XX – “agrediram a língua” em 
sua concepção mais formal. Isso porque eles participaram do modernismo, importante 
movimento artístico-literário que tinha, entre outras premissas, “promover uma valori-
zação da língua falada no Brasil”, levando-a aos textos literários. 
VOCÊ O CONHECE?
Outro exemplo que demonstra como ocorre o movimento de transformação da língua é a ques-
tão do vocábulo você. Com o passar do tempo, o termo foi substituindo o pronome de tratamen-
to tu. Você origina-se de vossa mercê, que assumiu as formas vossemecê, vosmecê e, finalmente, 
você, alterando-se também em seu significante e significado. O português falado no Brasil não 
evoca um interlocutor hierarquicamente superior ao falante, mas, sim, passou a ser usado por 
interlocutores que se veem de igual para igual com os seus (NICOLA, 2014, p. 15). 
A partir do que você estudou até aqui, reflita: em sua região, como as pessoas usam os prono-
mes para se referirem a um interlocutor durante as conversações? Essa noção de “errado” está 
presente em seu dia a dia? Você já vivenciou alguma situação em que o interlocutor chegou a 
dizer que o correto seria o tu? Vale lembrar que, em algumas regiões, o pronome tu não neces-
sariamente é acompanhado de um verbo conjugado na segunda pessoa. 
Considerando o que você aprendeu, você sabe onde acontecem as transformações das 
palavras? Elas acontecem naturalmente, conforme são usadas nas ruas e nos prédios 
de grandes instituições, na linguagem de palestras, nos discursos de políticos e nos dos 
advogados. A mesma transformação acaba acontecendo também na escrita, o tempo 
todo e em todas as localidades, quer seja na cidade, quer seja no campo. Das poesias 
aos documentos, nada permanece igual. Para saber com mais profundidade como o 
processo acontece, consulte uma gramática histórica da língua portuguesa. Nesse tipo 
de gramática, é possível verificar que há alterações que vêm naturalmente com o uso 
das palavras. Há ainda as que são determinadas por lei, como é o caso do Acordo de 
Unificação Ortográfica, elaborado em 1990 e recentemente ratificado pelo Brasil, que 
pretende aproximar as maneiras de escrever de todos os países que têm o Português 
como idioma oficial.
NÓS QUEREMOS SABER!
O preconceito linguístico não aceita as variedades da língua e decorre da percepção equivoca-
da de que há um modo correto de falar. De acordo com Bagno (2000, p. 12), “pessoas menos 
escolarizadas, de classes sociais de menor prestígio social, nordestinos, analfabetos” são estig-
matizadas por não se adequarem ao jeito “certo” de falar, construído e intensificado por diversos 
setores sociais. O preconceito linguístico está diretamente ligado à questão social e até mesmo 
à política, como aponta Bagno (2000, p. 73):
São transmitidos e perpetuados em nossa sociedade, cada um deles em grau maior ou menor, 
por um mecanismo que podemos chamar de círculo vicioso do preconceito linguístico que se 
forma pela união de três elementos: a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino 
e os livros didáticos.
09
A Língua de Eulália, de Marcos Bagno, publicado pela Editora Contexto. Nessa 
novela sociolinguística, o autor demonstra que a tradição educacional sempre negou 
a existência de uma pluralidade de normas linguísticas dentro do universo da língua 
portuguesa. De acordo com ele, a própria escola não reconhece que a norma padrão 
culta é apenas uma das muitas variedades possíveis no uso do português e rejeita 
de forma intolerante qualquer manifestação linguística diferente, tratando os alunos, 
muitas vezes, como “deficientes linguísticos”, o que gera ainda mais o preconceito.
NÃO DEIXE DE LER...
3.1.1 O conceito de gramática normativa e sua influência na construção 
do preconceito linguístico
A gramática normativa constituiu-se, com o passar do tempo, como aquela que estabelece um 
modelo “ideal” de uso da língua escrita e, para muitos, também da falada. Vale lembrar que 
“as gramáticas foram escritas precisamente para descrever e fixar como ‘regras’ e ‘padrões’ 
as manifestações linguísticas usadas espontaneamente pelos escritores considerados dignos de 
admiração, modelos a ser imitados. Ou seja, a gramática normativa é decorrência do uso da 
língua” (BAGNO, 2000, p. 64).
Figura 2 – A gramática normativa costuma ser a variante de maior prestígio da língua.
Fonte: Shutterstock, 2015.
O modelo de língua utilizado para escrever o que se consideravam (ou ainda se consideram, em 
muitas situações) os bons textos era totalmente baseado na fala. A partir do que foi dito, reflita: 
se a normatização da língua é proveniente da fala, por que a gramática normativa deve ser o 
único modelo “ideal” ou correto a ser seguido? 
É dessa premissa que surge a ideia de que há uma maneira certa e outra considerada errada na 
hora de falar, o que reflete nas questões sociais (BAGNO, 2000, p. 13). 
10 Laureate- International Universities
Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
Figura 3 – Mazzaropi inspirou-se no tipo e no jeito de falar do caipira brasileiro para criar os personagens que 
interpretou em dezenas de filmes.
Fonte: Adorocinema, 2015.
Pois bem, se há uma maneira “correta” de falar, que deva seguir a norma culta, imagine como 
ficariam as falas das pessoas de diferentes regiões do país, que não possuem a uniformidade de 
pronúncia em suas falas, apregoadas pelas gramáticas? 
Esse tipo de ideia consiste em um “provincianismo” destacado por Monteiro Lobato, em seu livro 
Emília no país da gramática (1934). Por meio da personagem Emília, que não “queria saber de 
nenhum tipo de preconceito” (BAGNO, 2000, p. 43), Lobato (2009, p. 114), provoca no leitor 
uma reflexão acerca da existência de preconceito “contra a fala característica de certas regiões 
do país” (BAGNO, 2000, p. 43).
Além disso, é um dos mitos mais prejudiciais na educação porque não “reconhece a verdadeira 
diversidade do português falado no Brasil” (BAGNO, 2000, p. 15). 
3.1.2 O preconceito linguístico e as práticas pedagógicas 
Como você já viu, anteriormente, há um empenho na área da sociolinguística para desmitificar 
a ideia de que a língua falada só é correta se obedecer à gramática normativa. Será que há 
trabalhos atuais e atuantes no combate à permanência do preconceito linguístico? Imagine que 
você esteja em sala de aula: como trataria o assunto com seus alunos? Já pensou em algum tipo 
de prática que valorize o conhecimento prévio dos estudantes, tanto dé que se refere ao apren-
dizado que acumularam na vida acadêmica quanto em relação às competências adquiridas em 
ambientes onde nasceram e foram criados? 
Para que você entenda e reflita sobre a importância da valorização da bagagem cultural que um 
aluno possui, leia o trecho a seguir, em que estão expressos os valores e os objetivos que devam 
ser atingidos nas escolas no que concerne ao ensino e à aprendizagem da língua portuguesa, 
conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais:
O exercício da cidadania exige o acesso de todos à totalidade dos recursos culturaisrelevantes 
para a intervenção e a participação responsável na vida social. O domínio da língua falada e es-
crita, [...] organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação científica, as condições 
de fruição da arte e das mensagens estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas 
diferentes concepções do papel da educação no mundo democrático, até outras tantas exigên-
cias que se impõem no mundo contemporâneo. Essas exigências apontam a relevância de discus-
sões sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas 
11
de discriminação, a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional 
propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e 
cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se como 
espaço social de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer 
ação de cidadania. (BRASIL, 1997, p. 24)
De acordo com Mollica (2004, p. 13), o preconceito linguístico tem sido um ponto bastante 
debatido na área da sociolinguística, uma vez que se nota ainda a predominância de “práticas 
pedagógicas assentadas em diretrizes maniqueístas do tipo certo/errado”, que tomam como refe-
rência o padrão culto. Um pouco mais à frente em sua reflexão, a autora aponta que os estudos 
sociolinguísticos “oferecem valiosa contribuição no sentido de destruir preconceitos linguísticos 
e de relativizar a noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a escola, por exemplo, 
procura desqualificar e banir como expressão linguística natural e legítima”.
Você sabe o que é norma culta? Trata-se de um conjunto de práticas linguísticas que 
pertencem a um dado lugar ou classe social de maior prestígio em um país, os quais 
definem o uso correto de uma língua. Confunde-se norma culta com a fala que, por 
sua vez, é a utilização oral da língua por um indivíduo. Por exemplo, de acordo com 
a norma culta, o correto seria “Diga-me o que sabe sobre o assunto”, fazendo a co-
locação do pronome oblíquo átono me após o verbo. No entanto, na língua falada, o 
que se ouve é “me diga”, fazendo o uso do pronome antes do verbo. Outro exemplo: 
em uma enunciação escrita de acordo com a norma culta, seria correto escrever “você 
está bem?” em vez do “ d tá bem?” que costumeiramente ouvimos e/ou falamos. Ou-
tras diferenças acontecem também na pronúncia, como menino com e fechado, mais 
comum nas regiões Sul e Sudeste, e o mesmo e com som aberto, na região Nordeste. 
NÓS QUEREMOS SABER!
O que a maioria das pessoas desconhece é a diferença de uso entre a norma culta e a língua 
falada, com suas origens e suas funcionalidades. A norma culta deve ser empregada em textos 
formais, a exemplo dos acadêmicos e jurídicos. Por sua vez, a fala é natural e se adapta de 
acordo com a situação. Em uma palestra, por exemplo, o esperado é que o interlocutor use uma 
linguagem mais sóbria, sem gírias ou palavras de baixo calão. Entretanto, se a intenção do fa-
lante é o uso de tais palavras, não haverá problema. 
Bagno (2000, p. 10) afirma que a norma é apenas um “iceberg na língua”. Em outras palavras, 
apenas um dos aspectos que devem ser observados. Podemos, agora, seguir adiante para iden-
tificar uma das causas do preconceito linguístico: ligar a norma culta (ou a gramática normativa) 
à língua falada é, portanto, a maneira mais acentuada de promover o preconceito linguístico. 
Não se pode negar que o papel da norma é 
[...] óbvio: o valor simbólico das variedades linguísticas disponíveis está em função da distância 
que as separa da variedade-padrão que a escola impõe. A tradição da instituição escolar 
consiste em não apenas ignorar a legitimidade da variação linguística, mas também submeter 
as variedades linguísticas ao critério de correção, como uma peneira fina. O que passa é um 
conjunto de expressões vinculadas ao registro formal da modalidade escrita e o que sobra é 
estigmatizado como realizações incorretas e deficientes em confronto com a matriz de valores 
eleita como a variedade-padrão (CAMACHO, 1984, p. 48).
12 Laureate- International Universities
Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
No entanto, é importante lembrar que há uma separação de valor simbólico entre as variedades 
linguísticas disponíveis e que há séculos vem sendo imposta pela própria escola. Se o primeiro 
cânone de “bem falar da língua” foram leituras de autores consagrados, somente estes, que es-
crevem de acordo com a gramática, seriam os falantes corretos? 
É sempre importante pontuar que as diferenças entre o português falado no Brasil e o falado em 
Portugal são acentuadas quando se trata da língua falada, muitas das quais geram dificuldades 
de entendimento não apenas nos sentidos de palavras e expressões, como também nas constru-
ções sintáticas e na própria questão da pronúncia. Por exemplo, você conhece as palavras uprar 
e dlibrar (escritas assim mesmo!), bastante usadas entre os portugueses? No Brasil, significam, 
respectivamente, operar e deliberar (BAGNO, 2000, p. 24).
Figura 4 – Gramática e fala são questões distintas.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Até hoje, na gramática normativa, as regras do bom português são colocadas em pauta para 
que os estudantes tenham de memorizar as regras da “língua correta” como uso adequado e 
colocação dos pronomes na frase, regras de sintaxe, regras de concordância verbal e nominal, 
regências, classificação morfológica – temas que não constituem a “real língua nem aprimoram 
o conhecimento do aluno” (CAPELLO; LOBÃO; COELHO, 2010, p. 39). Além disso, o uso das 
regras encontradas nas gramáticas tradicionais não reflete em nada a real – e natural – situação 
da fala. 
A postura de combater o preconceito contra a língua falada no Brasil já era perceptível em textos 
literários desde as primeiras décadas do século XX. Pontuações em favor do uso da língua de 
maneira mais natural podiam ser observadas em obras de Monteiro Lobato, Mário de Andrade, 
13
Oswald de Andrade, autores referências na literatura nacional. Vale lembrar que isso ocorreu 
antes de a sociolinguística se valer de diversos estudos e coletas de dados concretos, como o 
uso de gravações e de transcrições das falas de pessoas de regiões distintas do país, oriundas de 
diferentes camadas sociais (BAGNO, 2000, p. 49).
Figura 5 – Oswald de Andrade, assim como outros autores de sua época, lutou pela aceitação e pela valorização 
da diversidade da língua falada.
Fonte: Correio do Brasil, 2015.
Um dos principais literatos do movimento modernista, Oswald de Andrade citava, em suas poe-
sias, a necessidade de valorizar a língua falada no Brasil – nas ruas, pelo povo –, ou, como dizia 
este autor: “a fala do povo brasileiro”. De maneira sutil, em seus textos, o poeta já prenunciava 
a existência de um preconceito linguístico, de caráter muito mais social do que de qualquer outra 
questão. Para ilustrar essa colocação, leia o poema originalmente publicado no jornal Correio 
da Manhã, em 1924:
Pronominais
“Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido.
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.” (ANDRADE, 1924).
O que você precisa entender é que insistir na modalidade culta como a única a ser valorizada 
é fortalecer o preconceito linguístico. É negar também a existência de variedades linguísticas, 
relegando-as a uma desvalorização constante e permanente. Deve-se reforçar a presença de 
novos caminhos e posturas no que concerne ao ensino da língua portuguesa.
14 Laureate- International Universities
Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
Figura 6 – As variedades linguísticas devem ser aceitas e valorizadas.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Com o que você estudou até aqui, já pode concluir que ensinar a norma padrão aos alunos 
como maneira certa ou ideia de fala correta é não cumprir o que apontam as diretrizesdo PCN, 
que sinalizam um direcionamento formativo para o ensino da língua portuguesa que respeite a 
diversidade: “fazer o aluno decorar uma série de regras, sempre insistindo na tradição é senão, 
não apenas ignorar a legitimidade da variação linguística, mas também submeter as variedades 
linguísticas ao critério de correção, como uma peneira fina” (CAMACHO, 1984, p. 48). 
Ainda de acordo com Camacho (1984, p. 48), o que passa a ser ensinado nas escolas “são con-
juntos de regras e expressões vinculadas ao registro formal da modalidade escrita e, o que sobra, 
acaba sendo estigmatizado, e que pode ser percebido nas realizações incorretas e deficientes dos 
textos, em confronto com a matriz de valores eleita como a variedade-padrão”. 
Em outras palavras, há um descompasso no ensino do idioma materno nas escolas, mesmo dian-
te de esforços sendo realizados concomitantemente: professores, linguistas, entidades públicas e 
governamentais já sinalizaram e comprovaram que apenas ensinar a gramática normativa não 
dá conta de resolver a dissonância que há na formação de aluno – de quem se espera ser capaz 
de ler diversos gêneros textuais, escrever usando diferentes variantes da língua, além de estar 
apto a fazer o uso da língua nas diferentes situações em que ela é aplicada (CAPELLO; LOBÃO; 
COELHO, 2010, p. 16). 
A forma atual de encaminhar o ensino da língua portuguesa nas escolas, como você viu ante-
riormente, sobrepõe-se ao trabalho com uma linguagem viva e dinâmica, afastando, assim, os 
alunos dos sentidos que a linguagem tem em suas vidas. “Essa dificuldade de propiciar espaço 
para a interlocução na sala de aula leva o aluno a construir a ideia de subordinação à língua. 
Com isso, a língua deixa de ser concebida como um processo dinâmico realizado por seus fa-
lantes” (DUARTE, 2008, p. 2). 
15
O clássico My Fair Lady (1964) narra a história de um professor de fonética que deseja 
transformar a fala de uma florista (interpretada por Audrey Hepburn) que, segundo o 
professor, não sabe falar direito. O filme aborda questões acerca do preconceito lin-
guístico, ao mostrar que determinados valores sociais acabam se sobressaindo quando 
surgem diferenças. Nessa obra dirigida por George Cukor, é possível perceber um forte 
preconceito linguístico diretamente ligado aos dialetos da língua inglesa, falados pelos 
indivíduos de menor escolaridade e baixo poder aquisitivo. 
NÃO DEIXE DE LER...
Para refletir sobre as questões tratadas, leia o caso prático a seguir. Em 2011, o livro didático Por 
uma vida melhor, de Heloísa Campos, adotado pelo MEC e aprovado pelo Programa Nacional 
de Livros Didáticos (PNLD), causou uma verdadeira celeuma entre literatos, jornalistas e diversos 
cânones da literatura. Distribuído nas escolas públicas brasileiras para orientar o ensino da lín-
gua materna, o livro traz, em um de seus capítulos, que o uso de certas construções presentes na 
oralidade são variações linguísticas. 
Lidas fora do contexto, as expressões usadas para ilustrar e exemplificar a diversidade linguística, 
entre as quais “nós pega o peixe”, “os menino pega o peixe”, “mas eu posso falar os livro”, foram 
consideradas “erros de língua portuguesa que transgrediam profundamente a norma” por gra-
máticos, jornalistas e intelectuais, além de milhares de pais de alunos e professores. Houve quem 
afirmasse que o livro ajudava a cooperar com a manutenção de grande parcela da população 
no obscurantismo e na ignorância, não favorecendo ascensão social dos alunos que tivessem 
contato com tal instrumento pedagógico (SEGALLA; CAVALCANTI, 2011). 
Contudo, entre as diversas declarações em defesa da publicação, destaca-se a da escritora Ana 
Maria Machado, conhecida mundialmente por descrever o universo infanto-juvenil – gênero que 
lhe rendeu dezenas de prêmios, entre os quais o Hans Christian Andersen e o Prêmio Machado 
de Assis, pelo conjunto da obra. As impressões de Ana Maria Machado sobre o livro Por uma vida 
melhor foram publicadas na revista ISTOÉ (SEGALLA; CAVALCANTI, 2011): “[...] lendo o capítulo 
todo, dá para ver que não estão ensinando a falar errado, mas apenas registram as diferenças no 
falar. A frase deixa de ser uma lição do professor e passa a ser uma constatação de um linguista. 
Não é um absurdo”. 
A autora, Heloísa Campos, foi considerada “equivocada”, “inexperiente” e teve de justificar a 
presença de tais expressões em seu livro didático. Heloísa foi selecionada pela Editora Global 
por conta de sua larga experiência no ensino público. A professora aposentada redigiu o livro 
que foi adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e distribuído pelo Programa Nacional do 
Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLD-EJA). 
Foram tantas as críticas negativas que o MEC emitiu nota justificando a adoção do livro. Em 
contrapartida, importantes linguistas – Sírio Possenti, Ludmila Thomé de Andrade, Hélio Schwartz-
man, Marcos Bagno, Paquale Cipro Neto, entre outros – não somente saíram em defesa do livro, 
como também chamaram a atenção sobre a importância de se ensinar aos alunos as variedades 
linguísticas presentes no português falado.
Agora, reflita: o que você conclui a partir do caso descrito? A parcela tida como mais culta da 
sociedade deveria validar e reconhecer a existência das variações presentes na língua. Não 
reconhecê-las e não validá-las é deixar à margem uma grande parcela da população que se re-
conhece em diferentes falares. Tal ação negativa não somente perpetua o preconceito linguístico 
como também o reforça, impossibilitando a formação plena do indivíduo, que precisa conhecer 
tanto a norma culta quanto as diferentes manifestações de linguagem em seu dia a dia. 
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Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
Para fechar essa etapa de estudos, leia o trecho do artigo “Uma nação com variadas línguas” 
(GLOBAL, apud LEMLE, 2011, p. 24), da linguista Miriam Lemle: 
Mediante critérios científicos objetivos da ciência da linguagem não há como passar atestados 
de qualidade superior para uma forma de falar em detrimento da outra. Valorações sociais 
sobre a variação existem, tal como existem valorações sociais para cores de pele e olhos, lisura 
de cabelos, formato de narizes, preferências culinárias, artísticas, de parceria sexual, laborial 
e tantas outras.
3.2 Variações linguísticas e preconceito
Você já sabe que a língua é um elemento vivo. Partindo dessa premissa, ainda se pode afirmar 
que há uniformidade linguística no Brasil? E é possível insistir na ideia de que há um idioma 
único para os 200 milhões de falantes brasileiros? 
Nesta etapa dos seus estudos, você verá que alguns mitos sobre a língua falada já foram desfei-
tos, mas que ainda há muito a fazer para derrubar o preconceito linguístico, isso porque não há 
uma unidade linguística ideal, como costuma ser descrito nas gramáticas tradicionais. De acordo 
com Lemle (2011, p. 24), “é impossível atingirmos a uniformidade linguística, tendo em vista 
como acontece o processo de aquisição de linguagem: ele é baseado na interação entre prin-
cípios universais da gramática e parâmetros de variação que permitem um leque de alternativas 
para a diversidade na linguagem”. 
Dessa maneira, é preciso relembrar os conceitos a seguir, que provavelmente você já deva ter 
ouvido ou lido. Em língua, há duas modalidades:
1. a conhecida norma padrão, ou modalidade culta da língua, sempre de maior prestígio 
social e que, erroneamente, crê-se garantir ascensão social;
2. e a modalidade oral, ou seja, a “fala”, a qual apresenta as variações linguísticas. 
No item seguinte, você entenderá como tais variações estão profundamente ligadas à questão 
do preconceito linguístico. 
O dicionário Houaiss define preconceito linguístico como 
[...] qualquer crença sem fundamento científico acerca das línguas e de seus usuários, como, p. 
ex., a crença de que existem línguas desenvolvidas e línguas primitivas, ou de que só a língua 
das classes cultas possuigramática, ou de que os povos indígenas da África e da América não 
possuem línguas, apenas dialetos. 
Considerando essa definição, não se pode negar a existência do preconceito linguístico no Bra-
sil, em especial quando os envolvidos na questão, de maneira geral, são pessoas que não per-
tençam à elite econômica, intelectual e política. Isso nos permite dizer que preconceito linguístico 
é um tipo de preconceito social. Trata-se de um 
[...] tipo de discriminação sem fundamento que atinge falantes inferiorizados por alguma razão 
e por algum fato histórico. Nós o compreenderíamos melhor se nos déssemos conta de que falar 
bem é uma regra da mesma natureza das regras de etiqueta, das regras de comportamento 
social. Os que dizemos que falam errado são apenas cidadãos que seguem outras regras e que 
não têm poder para ditar quais são as elegantes (POSSENTI, 2011).
Qualquer um que não fale de acordo com a norma culta está sujeito a sofrer algum tipo de pre-
conceito linguístico. Entretanto, cabe aqui lembrar que as variações de uma língua são naturais 
e que nenhum falante que domine a norma culta fala, o tempo todo, de acordo com as regras 
estabelecidas pela gramática. Isso seria impossível, uma vez que a língua portuguesa não apre-
17
senta unidade, por conta de “um alto grau de diversidade e de variabilidade” (BAGNO, 2000, p. 
16). As variações se devem não somente à extensão territorial do país, mas também às questões 
de desigualdades, como as diferenças sociais, regionais e culturais. 
3.2.1 Entendendo alguns conceitos: gramática natural, gramática padrão, 
variedades urbanas e variedades estigmatizadas
Antes de prosseguir, retome algumas ideias iniciais deste estudo: gramática é um conjunto de 
regras. Entenda por gramática natural uma “associação de sons, de conceitos, de palavras que 
ordenadas permitem gerar e estabelecer comunicação” (NICOLA, 2014, p. 15). 
A gramática normativa é “aquela que tenta estabelecer um modelo ‘ideal’ de uso da língua cha-
mado de ‘norma-padrão’, no qual se espelham as variantes de prestígio” (NICOLA, 2014, p. 15).
Figura 7 – Cada falante usa a língua de maneira individual.
Fonte: Shutterstock, 2015. 
Não se pode, porém, deixar de salientar que o conhecimento e o uso da norma culta considerada 
variante de prestígio social é importante, uma vez que deve ser empregada em diversas situações 
de ordem social. Vale retomar o conceito de que não existe “igualdade em língua”, mas, sim, 
“uniformidade”, isso porque não se fala o português de maneira única no país – pronúncias são 
diferentes, vocábulos ganham novas acepções. Sem contar as marcas individuais da língua: estas 
costumam ser forças opostas, já que “a norma-padrão é um modelo criado, convencionado, por 
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Diversidade linguística e formação da língua portuguesa
meio de outras gramáticas normativas, que ditam o uso ideal de uma dada língua. Norma possui 
caráter abstrato, estático; enquanto a fala, possui caráter dinâmico” (TERRA, 1997, p. 40-41).
Já as variedades urbanas de prestígio social podem ser traduzidas por meio da norma culta. Em 
tese, são aquelas apresentadas e colocadas aos falantes da língua pelas instituições de ensino, 
ou seja, a língua que se deve aprender na escola, a mesma que também é usada em segmentos 
mais “escolarizados” da sociedade, bem como em diversas instituições, entre as quais órgãos 
públicos e imprensa.
Há também as variedades estigmatizadas, ou seja, o uso real da língua. Estas representam “as 
variantes das camadas sociais de menor prestígio, aquelas que aprendemos serem inadequadas 
ou inapropriadas, erradas. Tais variedades estigmatizadas costumam se desdobrar em níveis da 
fala” (TERRA, 1997, p. 61).
O que você entende por níveis da fala? Você sabia que o seu nível de fala é diferente do nível 
dos demais colegas de trabalho, dos familiares e dos amigos, mesmo que estes sejam da mesma 
região? Isso porque os níveis da fala são os atos individuais da fala, os quais são responsáveis 
pela diversidade da língua. “Cada falante usa a língua de maneira bastante individual, e damos 
o nome de ‘registro’ à variação na fala em função da situação que o falante se encontra” (TERRA, 
1997, p. 62). 
Figura 8 – Há diferentes níveis da fala que atuam diretamente na formação das variações linguísticas.
Fonte: Shutterstock, 2015. 
A diversidade na utilização da língua portuguesa no Brasil decorre de inúmeros fatores, como 
veremos a seguir.
Fatores regionais
São facilmente percebidos. Tome como exemplo as regiões Sul e Nordeste do país: o português 
falado no Rio Grande do Sul distingue-se do português falado na Bahia, não somente pelas 
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pronúncias características de cada um desses estados, mas também por vocábulos e expressões 
diferentes, que elucidam o mesmo significado no plano semântico. Exemplo: aipim no Sul; ma-
caxeira no Nordeste. 
Fatores culturais
Estão ligados diretamente à questão de escolarização. Esses fatores determinam os usos de di-
ferentes modos da língua, já que uma pessoa culta e escolarizada tende a usar um padrão mais 
normativo, o que não acontece primordialmente com alguém que não tenha o mesmo nível de 
escolarização. Uma pessoa de baixa escolarização tende a não respeitar a concordância verbal 
e/ou nominal (em que o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa). Exemplo: “a gente 
vai no cinema”. E quem tem maior grau de escolarização tende à concordância como dita a gra-
mática: “nós iremos ao cinema”. A variedade é legítima, mas sua variabilidade acentua o abismo 
linguístico em que muitas pessoas ainda vivem (BAGNO, 2000, p. 16-17).
Fatores contextuais 
Um mesmo falante pode alterar os níveis da sua fala de acordo com o contexto em que está 
inserido. Notar esse tipo de nível é de suma importância. Em uma roda de amigos, não se fala 
como em uma palestra ou em uma entrevista de trabalho. Em sala de aula, a reflexão sobre as 
possibilidades de adequação da fala, bem como da escrita, é primordial para acabar com a ideia 
de certo e errado.
Fatores naturais
Vários são os elementos que influenciam diretamente na fala do indivíduo: se o falante é uma 
criança do sexo feminino, se o falante é um adulto com baixo grau de escolarização e assim 
segue. Os fatores naturais podem criar diferenças acentuadas nas falas de diferentes indivíduos. 
No entanto, as diferenças entre gêneros, por exemplo, costumam ser menos marcadas nos cen-
tros urbanos, em especial em se tratando de determinados grupos sociais (TERRA, 1997, p. 61). 
Por conta dos fatores que influenciam diretamente na fala de um indivíduo, precisamos observar 
ainda os níveis de fala. 
Nível coloquial e popular 
Usado pela maioria das pessoas, letradas ou não, em particular nas situações menos formais. 
Caracteriza-se pela naturalidade com que se fala. Não há preocupação em falar de acordo com 
a norma culta, mas, sim, em usar (inconscientemente) as “regras” ditadas pelo registro de uma 
comunidade (TERRA, 1997, 64). Para exemplificar, veja este pequeno diálogo entre dois adoles-
centes: “Vamô nessa aê?”, “Saca só, tô afim não, morô!”, “Tô na mó brisa...”. 
Nível formal-culto 
É o mais comum utilizado pelas pessoas de alto grau de escolarização – fundamental, médio, 
graduação e pós-graduação. O aumento no grau de escolaridade altera a composição dos 
enunciados de seus interlocutores, assim como a escolha e o cuidado com vocabulários. Esse 
nível está mais consonante com “com as regras ditadas pela sociedade” (TERRA, 1997, 64), 
além de ser utilizado em situações formais. É o nível também utilizado pela maioria dos órgãos 
públicos ou por pessoas que estejam ligadas aos meios de comunicação escrita. Veja o trecho 
em que esse nível pode ser percebido: “O governo quer selecionar os integrantes do segundo 
escalão por meio de concurso público. Depois de passarem na prova, os pretendentes aos car-
gos de secretário-executivo de ministérios e diretor de empresas públicas farão curso que será 
ministrado por órgãos da administraçãofederal.” (TERRA, 1997, p. 65).
Nível técnico ou profissional 
Também nomeado como “jargão”, uma vez que pertence diretamente à fala de grupos especí-
ficos e de profissionais de determinadas áreas. Para os jornalistas, por exemplo, brinde é jabá; 
letra maiúscula é caixa alta; foto 3x4 é boneco. É importante salientar, contudo, que o uso 
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exagerado de jargões pode dificultar o entendimento e prejudicar a comunicação entre grupos 
diferentes, em especial de pessoas que estejam ligadas às profissões beletristas. 
Nível artístico ou literário 
Ocorre quando a língua é utilizada de maneira expressiva, com fins estéticos. Esse nível tem 
intenções claras de ressaltar o próprio código, oferecendo uma mensagem original e repleta de 
criatividade. Aqui, as variedades podem ser mescladas, sempre com o intuito artístico (TERRA, 
1997, p. 66).
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é um bom exemplo de escrita original 
e criativa. A partir da trajetória de Riobaldo, o autor trabalha a reprodução da língua 
falada do homem sertanejo, procurando trazer toda a poesia e musicalidade em uma 
prosa poética, que valoriza o falar natural e a variedade linguística. 
NÃO DEIXE DE LER...
Gíria 
Variante da língua padrão utilizada por indivíduos de determinado grupo social, ou profissional, 
que sempre surge na comunicação em situações especiais. Cada grupo social tem a sua gíria 
específica, como os skatistas, surfistas e até os jogadores de futebol. Veja exemplos: “mano”, 
“brother”, regularmente gírias usadas pelos skatistas e também surfistas. “A gíria, por ser uma 
variante da língua, também sofre evolução: constantemente surgem novas gírias e outras desa-
parecem. Na década de 1960, era moda dizer fiquei gamada naquele broto, ele era um pão” 
(TERRA, 1997, p. 67). Em geral, a gíria é descontraída, debochada e dá “colorido” à linguagem, 
“mas ainda há preconceito contra esse modo de falar. Por trás do preconceito contra a gíria há 
sempre um conflito entre conservadores e juventude, grupo social contra grupo social” (BRA-
GANÇA, 1991, p. 34).
21
Síntese
Nesse capítulo, você: 
• entendeu a importância do empenho dos estudiosos para combater o preconceito 
linguístico; 
• aprendeu que algumas noções de “erro” e de “acerto” geram o preconceito linguístico tão 
fortemente evidenciado em certas situações comunicativas; 
• identificou a língua como instrumento vivo e que determina o seu próprio sistema; 
• refletiu a respeito de dois importantes processos na construção e manutenção do 
preconceito linguístico: a normatização da língua e as variedades linguísticas; 
• compreendeu que o preconceito linguístico é um fator sociocultural e, em certa medida, 
também político; 
• aprendeu que elementos sociais, culturais e políticos podem alterar a língua falada por 
um grupo de pessoas de determinadas regiões e épocas, uma vez que é o reflexo do meio;
• refletiu sobre a não aceitação das variedades da língua e a construção errônea do 
conceito do modo correto de falar; 
• conheceu o ensino tradicional da língua materna e quais são as consequências da 
manutenção da ideia de que “a língua certa é a da gramática”;
• viu que há esforços de vários segmentos da sociedade na tentativa de combater o 
preconceito linguístico;
• entendeu que o modelo de ensino da língua materna precisa ser modificado para tornar 
os alunos aptos a usarem a língua ao seu favor;
• entendeu que, embora a norma culta não seja a única variedade, ela deve ser aprendida 
para ser usada nas situações adequadas;
• conheceu os conceitos de norma culta, variedades linguísticas, variantes e níveis da fala 
e refletiu sobre como fatores naturais, geográficos, sociais e profissionais podem interferir 
na fala de um indivíduo e levá-lo a sofrer preconceito linguístico. 
Síntese
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