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Justiça Cristã - FILOSOFIA DO DIREITO PROF. SALAMANCA (3)

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INTRODUÇÃO 
AULA D£ TEOLOGIA na Sorbonne, onde Tomás de Aquino ensinou. Iluminura do final do século XV
90 MENTE, CÉREBRO & FILOSOFIA
em discussão), submetidos às mesmas regras de análise lógico-gramatical de todo e qualquer enunciado. No entanto,
como Abelardo é imediatamente anterior à recepção de Aristóteles, com a consequente modificação no padrão de
cientificidade, seu projeto não teve continuadores.
CIÊNCIA E REVELAÇÃO Tomás de Aquino toma o conceito de teologia da Metafísica de Aristóteles. Ora,
Aristóteles nunca usou a palavra "metafísica". A obra, um conjunto díspar de textos tematicamente agrupados,
recebe seu título do primeiro "editor", ainda na Antiguidade: "metafísica", no sentido etimológico, refere-se aos
livros "posteriores à física". O tema que dá alguma unidade ao conjunto diz respeito à "filosofia primeira", à
"ciência do ser enquanto ser" e à... "teologia", isto é, ao conhecimento de Deus, a causa primeira. Para Tomás, a
ocorrência de três nomes para uma mesma ciência, enquanto a física e a matemática cada uma só tem um nome,
indica diferenças no interior da metafísica. Em particular a diferença entre, por um lado, o conhecimento que
podemos ter da causa primeira, enquanto causa e, por outro, dela em si mesma. Vale dizer, conhecer Deus a partir
do efeito de seus atos (o mundo e tudo que nele há), remontando a ele como causa,
Tomás de Aquino
expôs a totalidade
da religião cristã
segundo parâmetros
aristotélicos
e conhecê-lo em si mesmo. O primeiro modo é acessível ao conhecimento humano e pode ser chamado de
metafísica, o segundo se confunde com o conhecimento que Deus tem de si próprio e só é acessível aos homens na
medida em que Deus mostra o que ele é, na medida em que se revela. Esta ciência pode ser chamada de teologia. O
pagão Aristóteles, como é evidente, só teve acesso à primeira, a segunda é própria dos cristãos, que conhecem o
Deus revelado.
Como ciência, a teologia não se confunde com a religião, continua a ser, como pensava Abelardo, uma
"preparação" teórica para a religião, mas perfeitamente compatível com a ciência de então. A tarefa é mais complexa do
que parece porque, na concepção aristotélica, a ciência é um tipo determinado de conhecimento que procede de
premissas evidentes para conclusões universais e necessárias, através de um encadeamento silogístico. Na religião, no
entanto, nem as premissas são evidentes, nem as conclusões são universais e necessárias; se o fossem, só haveria
uma religião (como só há uma geometria). Para contornar o problema,
Tomás lança mão de outros conceitos igualmente aristotélicos, indicando que a teologia é uma ciência subalterna,
que recebe seus princípios de uma ciência superior. Do mesmo modo que as premissas da astronomia decorrem das
conclusões da geometria, que são demonstradas pela geometria e não pela astronomia, as premissas da teo-logia
revelada são evidentes para Deus e conhecidas pêlos homens apenas por revelação. Assumidas as premissas, que só
são aceitas por fé, decorrem, então sim, conclusões necessárias.
Cabe ainda passar em revista as teses aristotélicas e mostrar que, por exemplo, Aristóteles, na verdade, não
demonstra a eternidade do mundo, ele apenas formula uma hipótese plausível. Como tampouco é possível demonstrar
que o mundo foi criado, não é contraditório acatar que, como ensina a religião, o mundo foi criado. As exposições
sobre Aristóteles seguem um programa ambicioso e delimitado, pois muitas vezes o comentário é apenas sobre parte
da obra, que começa com dois livros de lógica, o Da interpretação e os Segundos analíticos (particularmente
importante para a concepção de ciência em Aristóteles), passa pela Física e diversos tratados de filosofia natural,
incluindo o Sobre a alma, pela Metafísica e termina na filosofia prática, a Ética nicomaquéia e a Política.
É desse modo que Tomás constrói sua famosa catedral conceituai, expondo a totalidade da religião cristã
segundo parâmetros aristotélicos. Note-se que o principal efeito, muito menos do que salvar o cristianismo, é dar ao
aristotelismo carta de cidadania na "cidade de Deus" cristã. Ou "balizar" Aristóteles, como já se disse tantas vezes,
quase sempre em sentido pejorativo, esquecendo que sem o trabalho do pensador dominicano o destino da filosofia
aristotélica e de seus rigorosos padrões de cientificidade provavelmente teria sido o mesmo que teve no Islã: sua total
desaparição.
O cristianismo manteve seus dogmas, mas sua expressão teórica não saiu incólume da operação de
incorporação de uma nova metafísica e das consequências decorrentes. Para dar um único exemplo, Tomás
restabelece a importância da noção de Natureza, relegada a segundo
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