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PATOLOGIA MÉDICA II Marcela Brito 28/04/2021 DOENÇAS VASCULARES RENAIS HIPERTENSÃO ARTERIAL ● Hipertensão arterial primária → multifatorial ● Hipertensão arterial secundária → possui uma doença de base que justifica a hipertensão, como por exemplo: feocromocitoma (tumor na adrenal que produz catecolamina - eleva a PA). ● A HAS secundária é potencialmente tratável → eliminando a doença de base Hipertensão benigna ● Grande maioria dos casos → cerca de 95% dos casos de HAS ● Cifras tensionais não são muito elevadas → paciente com pressão sistólica (PS) que não ultrapassa 200 mmHg geralmente, e pressão diastólica (PD) que se mantém abaixo dos 110 mmHg. ● Complicações graves são tardias → ocorrem habitualmente nos órgãos alvo ● Longa sobrevida Hipertensão maligna ● Minoria dos casos → cerca de 5% ● Cifras tensionais são muito altas → pressão sistólica ultrapassa 200-220 mmHg, e pressão diastólica ultrapassa 120 mmHg. ● Complicações graves são comuns e precoces ● Sobrevida curta → meses ou poucos anos ● Mais comum em afrodescendentes A hipertensão habitualmente é uma doença silenciosa, que demora décadas para dar complicações e levar o paciente a óbito, já na hipertensão maligna demora meses ou poucos anos, portanto se diz que são precoces as complicações. Nefroesclerose vascular benigna ● Comprometimento renal causado pela hipertensão arterial benigna → é o tipo que compromete a maioria dos pacientes ● Esclerose das arteríolas renais e das pequenas artérias, associado ao depósito de um material amorfo, hialino, róseo na parede desses vasos → espessamento da parede → luz dos vasos reduzida → leva a isquemia focal do parênquima. ● A redução do lûmen contribui para o aumento da resistência vascular periférica → manutenção do estado hipertensivo. ● O paciente pode evoluir para insuficiência renal com uremia, mas essa complicação é incomum → geralmente ocorre quando o paciente já possui uma doença prolongada (anos ou décadas), ou quando tem alguma outra doença associada, ou quando é um paciente afrodescendente. Nefroesclerose vascular maligna Pode aparecer de duas formas: 1. Quando o paciente já se apresenta em um primeiro momento com a hipertensão maligna → mais comum em indivíduos jovens, homens e afrodescendentes 2. Quando o paciente possui hipertensão arterial benigna, e por algum motivo (geralmente não bem elucidado) evolui para hipertensão arterial maligna → pode haver comprometimentos renais tanto pela forma benigna quanto pela maligna da nefroesclerose ● 5% dos casos ● Comprometimento renal na hipertensão maligna ou na fase maligna (acelerada) de hipertensão por qualquer causa ● Mais comum em indivíduos mais jovens, do sexo masculino e afrodescendentes ● Complicações acentuadas são mais frequentes e mais precoces → Retinopatia hipertensiva acentuada, hemorragias do sistema nervoso central, infarto do miocárdio e insuficiência renal grave Macroscopia da Nefroesclerose vascular benigna Rim de tamanho reduzido → menor que 10 -12 cm (tamanho normal do rim de um adulto) Superfície externa finamente irregular / granular → granulações finas na superfície que refletem áreas de fibrose do parênquima renal. ● a esclerose que compromete a parede dos vasos renais reduz o lûmen deles → leva à isquemia crônica e prolongada do rim → sofre pequenas áreas de necrose que posteriormente serão substituídas por fibrose → superfície irregular Microscopia Nefroesclerose vascular benigna Arterioloesclerose hialina ou Hialinose intimal → Espessamento da parede das arteríolas renais devido à deposição de um material amorfo, hialino, acelular → esse material amorfo vem das próprias proteínas do plasma sanguíneo, e se depositam na parede dos vasos → lûmen reduzido → com o tempo leva a isquemia do parênquima renal. Uma outra alteração que pode ser vista na hipertensão benigna é a fibroelastose → duplicação da lâmina elástica no vaso. (não demonstrada nas imagens). Macroscopia da Nefroesclerose vascular maligna ASPECTO → tamanho normal, superfície lisa e presença de petéquias ● Rim de tamanho normal → em torno de 10 a 12 cm. ● A superfície externa permanece lisa (normal) com a presença de vários pontos pequenos enegrecidos → áreas de pequenas hemorragias → petéquias. Na hipertensão benigna o rim fica menor, devido ao tempo de evolução da doença (evolui em anos ou décadas). Na hipertensão maligna, a doença evolui de forma muito rápida → se o paciente não for tratado ou se não responder bem ao tratamento, pode vir a óbito antes de dar tempo do rim reduzir em tamanho (meses ou poucos anos) Microscopia Nefroesclerose vascular maligna Figura superior à esquerda:Hemorragia intratubular → justifica a presença de petéquias na macroscopia Figura inferior à esquerda: Necrose fibrinóide arteriolar → formato do vaso relativamente preservado, porém necrosado → formação de um trombo no interior → a parede pode se romper e levar a pequenas hemorragias. Figura à direita: Arterioloesclerose hiperplásica ou Fibrose em casca de cebola → espessamento acentuado da parede das pequenas artérias e arteríolas, pela proliferação de células, especialmente os fibroblastos → luz do vaso muito reduzida. O depósito das células na parede dos vasos ocorre de forma concêntrica lembrando anéis de cebola. → A figura ao lado representa em um mesmo campo microscópico a presença da arteriosclerose hialina e a arteriosclerose hiperplásica. → Paciente que apresentava hipertensão benigna e que evoluiu para hipertensão maligna. → Na macroscopia haveria uma sobreposição das alterações da hipertensão maligna com a da hipertensão benigna. NEOPLASIAS DO TRATO URINÁRIO Neoplasias renais Podem afetar tanto crianças, quanto adultos, indivíduos de meia idade e idosos → independentemente da faixa etária pode-se encontrar tumores benignos ou malignos. Carcinoma de células renais (hipernefroma ou adenocarcinoma renal) Epidemiologia ● Cerca de 80% das neoplasias renais. ● Afeta especialmente homens, com pico na sexta década de vida Fatores de risco ● Tabagismo → principal fator de risco ● Obesidade (especialmente em mulheres) ● Exposição a determinados grupos de carcinógenos Tipos ● Pode ser: ➢ esporádico → mais comum - 95% dos casos ➢ hereditário → cerca de 5% dos casos → associado à síndrome de Von Hippel-Lindau. Os pacientes que possuem a forma hereditária geralmente apresentam tumores múltiplos e podem apresentar tumores em outras localidades, como tumores do SNC, adrenal etc (diferentemente dos que apresentam a forma esporádica) ❖ Esses tumores em outras localidades NÃO são metástases do carcinoma renal → são tumores independentes que podem aparecer em associação ao carcinoma de células renais. Genética ● Alterações do gene VHL → gene supressor de tumor que regula o ciclo celular e a angiogênese → portanto, com a alteração do gene VHL o ciclo celular fica desregulado e serão produzidos vasos que permitem a perpetuação, proliferação e nutrição das células neoplásicas Apresentação clínica ● A maioria permanece assintomática por longo tempo → pode retardar o diagnóstico da doença. ● Diagnóstico precoce: depende de exames de imagem ● Sinais clássicos: hematúria, dor e massa palpável → os sinais clássicos só aparecem tardiamente, e em cerca de 10% dos casos ● “Simulador” → quando o tumor apresenta sintomatologia, podem aparecer sintomas gerais e inespecíficos, como por exemplo sinais associados a síndromes paraneoplásicas: hipercalcemia, anemia, disfunção hepática, leucocitose, entre outros. Macroscopia do Carcinoma de células renais Classicamente se apresenta em um dos pólos renais Morfologia ● Aspecto arredondado, ovalado, e que na superfície de corte apresenta coloração amarelada → células que compõem a lesão tem o citoplasma rico em lipídeos. ● São comuns áreas de necrose e hemorragia → áreas avermelhadas mais escuras ● Podem ser observadas traves fibrosas no interior da lesão → septos de coloração pardacenta na figura inferior à direita ● Seta cheia → parênquima renal preservada. ● Seta pontilhada→ região tumoral Evolução e prognóstico → associado especialmente ao estadiamento ● Tamanho → Tumores com mais de 7cm costumam evoluir de maneira pior ● Grande tendência em produzir metástases tanto para linfonodos quanto para órgãos sólidos (pulmão, osso, fígado, adrenal, e órgãos que não se espera que recebam metástase, como a tireóide). Microscopia do Carcinoma de células renais ● Figura inferior → células de citoplasma amplo e claro, rico em lipídeos → o lipídio é lavado durante o processamento histológico → imagem negativa. ● Os núcleos são pequenos e as células não apresentam muitas atipias ● Seta pontilhada aponta um vaso → lesão ricamente vascularizada → contribui para a hemorragia vista na hemorragia ● Figura superior → seta cheia aponta uma área de necrose da lesão → necrose isquêmica (também é vista na macroscopia). ➢ Obs: Pode-se dar o diagnóstico de: Carcinoma de células renais ou Carcinoma de células claras (subtipo histológico mais comum do carcinoma de células renais) ➢ Obs 2: As células que originam essa lesão não são adipócitos, mas sim as células epiteliais que revestem os túbulos renais → são células que acumulam lipídeos no citoplasma. Tumor de Wilms (nefroblastoma) Epidemiologia ● É o tumor renal maligno mais comum em crianças ● Representa cerca de 13% das neoplasias em indivíduos com menos de 15 anos de idade ● Acomete principalmente crianças entre 6 meses a 6 anos de idade com o pico na faixa etária de 2 a 4 anos. Tipos ● Esporádico → mais comum ● Pode associar-se a outras síndromes e malformações congênitas variadas Genética ● Gene WT-1 → gene supressor de tumor (método mnemônico: WT - tumor de wilms) Apresentação clínica ● Massa palpável abdominal que muitas vezes abaula o abdômen, dor abdominal, hematúria, HAS (70% dos casos); febre, anemia e leucocitose → diagnóstico diferencial para esses três últimos poderia ser hepatoesplenomegalia de origem infecciosa por exemplo ● A lesão pode se tornar muito volumosa a ponto de perder a noção anatômica do local. Metástases ● Linfonodos ● Hematogênica → pulmões e fígado Prognóstico ● O prognóstico deste tumor é variável e depende de alguns fatores como o estadiamento → o tamanho da lesão não tem uma relação tão significativa com o prognóstico. ● O mais importante para o prognóstico é saber se a lesão é unilateral (mais comum- cerca de 80% dos casos) ou bilateral (pior prognóstico) ● Idade → prognóstico melhor em crianças com menos de 2 anos de idade ● Grau de anaplasia das células → grau de atipias celulares do ponto de vista histológico → quanto maior o grau de anaplasia, pior resposta ao tratamento combinado, pior o prognóstico. Macroscopia do Tumor de Wilms ● Seta cheia aponta para o rim preservado ● Seta pontilhada aponta para o tumor ● O tumor é volumoso e ocupa grande parte da superfície renal ● Figura à esquerda → tumor sólido, pardacento, e que apresenta grandes áreas de necrose e hemorragia ● Figura à direita → tumor sólido branco acinzentado ● A necrose e a hemorragia geralmente aparecem em lesões mais volumosas Microscopia do Tumor de Wilms Geralmente o Tumor de Wilms se origina a partir de células pequenas que têm padrão embrionário (células que lembram as estruturas renais-fetais). Classicamente a histologia se apresenta em um aspecto trifásico → não é obrigatória a apresentação dos três componentes. ● Componente epitelial: Estruturas com lúmen → lembram os túbulos renais. Apontado nas figuras superiores pelas setas verdes ● Componente blastematoso ou blastema: células hipercoradas, pouco diferenciadas, que estão dispostas no tumor formando ninhos e arranjos mais difusos. Apontado nas figuras superiores pelas setas amarelas ● Componente estromatoso ou estromal: Área de tecido mais claro, que lembra o tecido conjuntivo. Apontado nas figuras superiores pelas setas azuis Na figura inferior à esquerda observa-se em associação com a área do componente blastematoso, uma área rósea que representa uma necrose coagulativa e isquêmica da lesão → pode ser vista na macroscopia Na figura inferior à direita observa-se os três elementos → histologia trifásica: ● área à esquerda, mais clara → componente estromatoso. ● no centro da figura, há estruturas que lembram os túbulos renais → componente epitelial ● as células à direita da lesão → células mais hipercoradas, pouco diferenciadas que estão se distribuindo de forma difusa → compontente blastematoso NEOPLASIAS DA BEXIGA ● Tumores de maior importância → são os que derivam das células do epitélio de revestimento das vias urinárias → neoplasias uroteliais (uroteliomas ou neoplasia de células transicionais) ● Podem aparecer como neoplasias únicas ou múltiplas e podem atingir vários componentes das vias urinárias. ● Clínica: ➢ hematúria indolor, em geral macroscópica ➢ urgência miccional → especialmente quando os tumores já estão mais volumosos → se manifestam com uma redução da capacidade vesical. ● Propedêutica: ➢ citologia → pode ser feito por meio de um exame de urina de 24h → a urina é levada ao laboratório e processada → células ou grupos celulares vistos nas lâminas → podem ser vistas atipias das neoplasias uroteliais ➢ cistoscopia → como se fosse uma “endoscopia” da bexiga → introdução de uma câmera por meio da uretra → permite a visualização do lûmen da bexiga → permite a biópsia de lesões aparentes. ➢ histopatologia Neoplasias uroteliais A bexiga está exposta a um grande número de substâncias, e muitas vezes de forma concentrada → o rim é utilizado para depurar substâncias, por meio da formação da urina → urina é um líquido concentrado, portanto se ali houver algum agente de potencial carcinogênico, ele terá contato com a bexiga. Etiologia ● Tabagismo → um dos principais fatores de risco → os produtos tóxicos do tabaco podem induzir a mutações do epitélio que reveste a bexiga ● Exposição ocupacional → ex: indústria petroquímica, de borrachas, de corantes, etc → as pessoas que trabalham nesses lugares podem estar expostas a produtos que funcionam como fatores mutagênicos para o epitélio da bexiga ● Drogas → ciclofosfamida (imunossupressor) e fenacetina (anti-inflamatório) ● Estase urinária e infecção crônica ➢ Estase urinária → se houver algum carcinógeno na urina, ele terá maior tempo de contato entre esse fator carcinógeno e o epitélio da bexiga, uma vez que a urina está parada. ➢ Infecção crônica → produção de citocinas que às vezes podem ter efeito mutagênico sob o epitélio da bexiga ● Defeitos genômicos: inatividade dos genes p53 e RB (genes supressores de tumor) ● *Infecção Schistosoma haematobium: carcinoma escamoso → essa infecção não é comum no Brasil (muito comum no Egito). A infecção por Schistosoma haematobium NÃO se associa às neoplasias uroteliais, e sim ao carcinoma de células escamosas (carcinoma epidermóide) Tipos de neoplasias uroteliais ● As neoplasias uroteliais representam cerca de 90% dos tumores primários da bexiga, do ureter e da pelve renal. ● Na bexiga, mais de 80% dos casos ocorrem após 50 anos ● Homem:mulher- 3 a 4:1 Divisão → comportamento biológico das neoplasias uroteliais: Papiloma ● Se comporta como uma neoplasia benigna ● Representa 1 a 2% dos tumores vesicais ● Indivíduos mais jovens ● Em sua maioria é uma lesão única, solitária, pediculada e pequena → não ultrapassa 2 cm ● É constituído por estruturas alongadas chamadas de papilas → são ricamente vascularizadas → se houver algum traumatismo da lesão pode levar à hematúria ● Pode sofrer lacerações e hemorragia Neoplasia urotelial de baixo potencial de malignidade ● Estruturas que microscopicamente lembram as papilas do papiloma porém o epitélio que reveste essas papilas é mais espessado e apresenta mais atipias. ● Papilas delicadas, com > espessura do urotélio e núcleos aumentados ● Lesão com baixo potencial de malignidade ● Não há invasão → não invade a parede da bexiga e nem os vasos de dentro das papilas → portanto não pode ser caracterizada como uma lesão maligna Carcinoma de células transicionais ● 90%de todas as neoplasias da bexiga ● Tumor solitário ou multifocal ● Critério histológico mais importante para o diagnóstico → invasão e infiltração das células neoplásicas na base do tumor (parede da bexiga) ou no eixo conjuntivo das papilas → nessas regiões há a presença de vasos sanguíneos → possibilidade de metástase → tumor maligno. ● Macroscopia do papiloma → várias projeções compõe a lesão → papilas. ● As papilas são revestidas pelas células uroteliais ● Essas projeções apresentam um eixo conjuntivo vascular → justifica a hematúria quando há trauma da lesão ● Na figura inferior à direita → células uroteliais estão à esquerda da figura, e à direita está o estroma com um grande vaso nele → NÃO há invasão do estroma ● Macroscopia do carcinoma de células transicionais → na figura a bexiga foi aberta e a seta aponta uma massa tumoral de aspecto vegetante que preenche grande parte do interior da bexiga, com áreas amareladas de necrose e áreas avermelhadas de hemorragia. ● Na microscopia as setas apontam células neoplásicas que estão invadindo o estroma → capacidade de invadir os vasos e de dar metástases → classificação obrigatória como neoplasia maligna. Questão: Qual dos seguintes tumores de bexiga é o mais frequente? (UFPR, Residência médica- 2011) a) adenocarcinoma b) leiomiossarcoma c) carcinoma epidermoide d) carcinoma urotelial e) carcinoma misto Todos os tumores citados podem acontecer na bexiga, porém o mais frequente é o que deriva do epitélio que reveste a bexiga e as vias urinárias → epitélio urotelial ou célula transicional.
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