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Letramento e alfabetização ipemig

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ALFABETIZAÇÃO E 
LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E 
METODOLOGIA 
 
BELO HORIZONTE / MG 
 
 
SUMÁRIO 
1 DESCREVENDO SOBRE “ALFABETIZAÇÃO” E “LETRAMENTO” ................4 
2 2 O QUE É LETRAMENTO? ...........................................................................7 
2.1 2.1 Sociedade letrada/sujeito letrado ........................................................8 
3 3 ALFABETIZAR LETRANDO ........................................................................9 
3.1 3.1 O papel do educador no letramento ..................................................11 
4 4 POR QUE SURGIU A PALAVRA LETRAMENTO? ...................................13 
4.1 4.1 Como diferenciar o apenas alfabetizado do letrado? ........................15 
5 O FOCO NAS CAPACIDADES LINGUÍSTICAS DA ALFABETIZAÇÃO ........16 
5.1 Uma questão terminológica .....................................................................18 
5.2 Os eixos ..................................................................................................20 
5.2.1 Desenvolvimento da oralidade ..........................................................20 
6 LÍNGUA E ENSINO DE LÍNGUA ...................................................................21 
7 ALFABETIZAÇÃO ..........................................................................................22 
8 CONHECER COMO SE APRENDE PARA SABER COMO ENSINAR ..........24 
8.1 Nível pré-silábico .....................................................................................25 
8.2 Nível silábico ...........................................................................................26 
8.3 Nível alfabético ........................................................................................26 
8.4 Uma concepção social da escrita na alfabetização .................................31 
8.5 Um novo conceito: letramento .................................................................34 
8.6 Alfabetização: reflexão/avaliação/informação .........................................35 
8.7 8.7 A relação social no processo de aprendizagem ................................38 
9 COMO SE APRENDE A LER E ESCREVER OU, PRONTIDÃO, UM 
PROBLEMA MAL COLOCADO ......................................................................................42 
9.1 A criança e seu processo de alfabetização .............................................42 
9.2 A hipótese silábica...................................................................................46 
9.3 A caminho da hipótese alfabética ............................................................50 
10 ALFABETIZAÇÃO: AS SONDAGENS DE HIPÓTESE DE ESCRITA ........55 
 
 
10.1 Para que serve a sondagem de hipótese de escrita? ..........................56 
10.2 Como se faz? .......................................................................................56 
11 ESCREVER QUANDO NÃO SE SABE ......................................................57 
12 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO ........................................................59 
12.1 O Alfabeto ............................................................................................61 
12.2 Situações de leitura e escrita de nomes próprios .................................63 
12.3 O que os alunos aprendem nas situações de leitura e escrita de nomes
 64 
12.4 Condições didáticas para as situações de leitura e escrita de nomes dos 
colegas da classe .......................................................................................................65 
13 APRENDER A LINGUAGEM QUE SE ESCREVE .....................................67 
13.1 O papel da leitura no desenvolvimento da capacidade de produzir textos
 68 
13.2 Os recontos e as reescritas ..................................................................69 
13.3 Os gêneros ...........................................................................................70 
13.4 Falando de alguns deles ......................................................................70 
14 NÍVEIS DE EVOLUÇÃO DA ESCRITA .......................................................72 
15 LER QUANDO NÃO SE SABE ...................................................................76 
15.1 Dez questões a considerar...................................................................77 
16 ESTRATÉGIAS DE LEITURA PROCESSOS DE LEITURA .......................80 
16.1 Os processos de leitura........................................................................82 
16.2 Processo neurofisiológico ....................................................................83 
16.3 Processo Cognitivo ..............................................................................83 
16.4 Processo afetivo ...................................................................................84 
16.4.1 Sentido sensorial .............................................................................85 
16.4.2 Sentido emocional ...........................................................................85 
16.4.3 Sentido racional ...............................................................................86 
16.5 Processo simbólico ..............................................................................86 
 
 
16.5.1 Processo sensorial ..........................................................................86 
16.5.2 Processo mental ..............................................................................87 
16.5.3 A percepção ....................................................................................87 
16.5.4 A compreensão ...............................................................................87 
16.5.5 A reação ..........................................................................................88 
16.5.6 A integração ....................................................................................88 
16.6 Processo argumentativo.......................................................................88 
16.7 Condições a serem garantidas nas situações em que o educador lê para 
os educandos 89 
16.8 Atividades e ações do educador relacionadas à prática de leitura .......90 
17 LEITURA FEITA PELO ALUNO, ANTES DE SABER LER 
CONVENCIONALMENTE ..............................................................................................92 
17.1 Leitura pelo aluno de textos memorizados ...........................................93 
17.2 Leitura pelo aluno de títulos de livros ...................................................95 
17.3 Leitura pelo aluno de textos informativos .............................................96 
18 ATIVIDADES PARA ALFABETIZAÇÃO .....................................................97 
19 ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS GERAIS DE LEITURA E ESCRITA .............98 
19.1 Intervenções do professor ....................................................................98 
19.2 Agrupamentos de alunos .....................................................................99 
20 TRABALHO COM OS CONTOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
 101 
21 ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS ................................................... 102 
21.1 Método de alfabetização .................................................................... 103 
21.2 Método tradicional .............................................................................. 103 
21.3 Método sintético ................................................................................. 105 
21.4 Método analítico ................................................................................. 106 
21.5 Método construtivista ......................................................................... 106 
22 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ........................................................................... 108 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
4 
 
1 DESCREVENDO SOBRE “ALFABETIZAÇÃO” E “LETRAMENTO” 
 
 
Fonte: hayzblog.files.wordpress.com 
O professor canadense Serge Wagner, já em 1990, apresenta-nos conceitosmuito 
interessantes, pois acompanham o termo “alfabetização” e tecem sentidos a este, 
refinando-o e, por isso, permitem trabalhos mais precisos junto com minoria linguísticas 
no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão. São eles: “analfabetismo de minorias”; 
“analfabetismo de opressão”; “analfabetismo de resistência”; e “alfabetização de 
afirmação nacional”. 
Para compreendermos as suas definições, é importante levarmos em 
consideração como este autor define “minoria linguística”, pela sua composição, a saber: 
1- Povos aborígenes: grupo de pessoas que se encontram no local há muito tempo 
e que podem ser considerados os “primeiros” habitantes da terra: indígenas no 
Brasil. 
2- Minorias estáveis: grupos que se estabelecem no local há muito tempo e que 
mantêm certas diferenças com a população local: Catalões na Espanha. 
3- Novas Minorias: grupos recém-chegados na nova localidade, chamados 
também de migrantes: nordestinos em São Paulo. 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
5 
 
 
Fonte: atividadesparaeja.online.com.br 
Para Wagner (1990), quando uma minoria linguística se vê em contato com uma 
língua majoritária, dominante em determinado local, existem duas formas de 
manifestação do “analfabetismo”: o “analfabetismo de opressão” ou o “analfabetismo de 
resistência”. Este é uma reação de um grupo de pessoas, que recusa o processo de 
assimilação, ou, ainda, de aculturação proposto. Pontuamos que esta “recusa” pode se 
dar do mais consciente até o inconsciente, com o objetivo de salvaguardar a cultura de 
origem da parte “mais fraca” da sociedade em questão. Nesta direção, quando ocorre 
esta modalidade de “alfabetização”, a pessoa, ou o grupo, pode reivindicar o direito de 
aprender à escrita e a leitura de sua própria língua, quando esta possui versão escrita; e 
caso esta língua não possua escrita, o grupo, ou pessoa, torna-se “duplamente 
analfabeto”, pois não pode aprender a língua que gostaria e não aprende a língua 
majoritária. 
Por outro lado, o “analfabetismo de opressão” tende a se desenvolver quando a 
minoria em questão é obrigada a aprender a língua do grupo dominante, seja pelo sistema 
público de ensino, seja pela necessidade de inserção no mercado de trabalho. Para 
Wagner (1990), neste caso, ao longo do tempo, a cultura da minoria, em processo de 
alfabetização na língua do outro, desaparece. Temos as minorias que frequentam escolas 
públicas, onde são “obrigadas” a aprender a língua do grupo social dominante. Tal 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
6 
 
situação de “obrigação” provoca, para o estudioso canadense, todos os tipos de efeitos 
pedagógicos. 
Dentre eles, destacamos: “o aluno pertinente à minoria fica defasado”; “o aluno 
perde sua língua de origem e aprende mal a língua dominante por meio da qual ele deve 
pensar, agir, trabalhar”, e, ainda, “um sujeito mal equipado do ponto de vista linguístico”. 
O outro conceito de Serge Wagner (1990) que destacamos é o de “alfabetização de 
afirmação nacional”, que significa o aceitamento do aprendizado de uma língua, que não 
é a sua língua materna, sabendo que este processo deve ocorrer para determinados fins 
de afirmação do seu país, e de si mesmo, porém, tal aprendizado não significa romper 
com suas raízes. Ou seja, é uma alfabetização que significa o “aprender mais uma 
língua”, que nada se relaciona com o abandono da sua própria. Wagner ressalta termos 
decorrentes desta situação social: “alfabetização de afirmação comunitária” e 
“alfabetização de afirmação individual”. Finalmente, não obstante está “aceitação”, caso 
estas minorias venham a manter sua língua materna, sempre em paralelo com a do grupo 
dominante, por meio de instâncias institucionalizadas, com o passar dos anos, uma 
situação de separatismo político-administrativo pode ocorrer. 
No artigo, O ser e as Letras: da voz à letra, um caminho que construímos todos, 
Biarnés (1998) afirma que cada um de nós constrói uma relação com o mundo das letras 
e, por meio desta relação, constrói-se a si mesmo. Ou seja, ninguém está fora deste 
mundo e, mais do que isto, ele atribui e re-atribui sentidos para esta relação ao longo da 
vida. Vejamos abaixo diferentes passagens deste artigo, que juntas nos dão clareza 
acerca da relação entre Homem e letra: 
A letra me permite encontrar o outro, encontrar a alteridade e, sobretudo, 
construir ‘meu outro’ em mim. A letra, objeto do outro se a leio, objeto para o outro 
se a escrevo, é um espelho mágico que me permite reconhecer-me, 
descobrindome outro. O problema do acesso à leitura, como o da iniciação à 
escrita, está aí. Para que, pela letra, eu possa conhecer-me outro, é necessário 
que eu possa antes reconhecer-me nela [...] Construir uma relação de 
funcionalidade com a letra é ser em vir-a-ser. Mas ser em vir-a-ser implica um 
duplo movimento: abandonar o presente e construir o futuro, ‘fazer não ser o meu 
ser e ser um nãoser’ [...] A funcionalidade da letra não é saber preencher o 
formulário da Previdência, ou saber responder ao questionário da assistente 
social, ou da apostila do professor. Propor esse tipo de exercício em um estágio 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
7 
 
de formação, ou na escola, é um non-sens? se o exercício não servir de estímulo 
à leitura do livro. A funcionalidade da letra é ser capaz de descobrir o segredo 
contido no livro! Só se aprende ou se reaprende a ler nos livros! Foi isso, 
exatamente, que nos mostrou aquela pessoa que tinha "falado de literatura" com 
sua professora. Só a letra do livro pode deslocar o sujeito de sua aderência ao 
espaço-tempo de seu meio, daquela "imagem do mesmo", e abrir, então, o 
espaço do jogo onde a letra tem sentido. 
2 O QUE É LETRAMENTO? 
Letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, 
mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que 
vive. (SOARES, 2000). O termo letramento passou a ter veiculação no setor educacional 
há pouco menos de vinte anos, primeiramente entre os linguistas e estudiosos da língua 
portuguesa. 
No Brasil, o termo foi usado pela primeira vez por Mary Kato, em 1986, na obra 
"No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística". Dois anos depois, passou a 
representar um referencial no discurso da educação, ao ser definido por Tfouni em 
"Adultos não alfabetizados: o avesso dos avessos". 
Segundo Soares (2003), foram feitas buscas em dicionários da língua portuguesa 
quanto ao significado da palavra e nada foi encontrado nem mesmo nas edições mais 
recentes dos anos de 1998 e 1999. Na realidade, o termo originou-se de uma versão feita 
da palavra da língua inglesa "literacy", com a representação etimológica de estado, 
condição ou qualidade de ser literate, e literate é definido como educado, especialmente, 
para ler e escrever. 
Assim como as sociedades no mundo inteiro, tornam-se cada vez mais centradas 
na escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. E como ser alfabetizado, ou seja, 
saber ler e escrever, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e 
responder às demandas da sociedade atual, é preciso letrar-se, ou seja tornar-se um 
indivíduo que não só saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e 
escrita que circulam na sociedade em que vive (Soares, 2000). 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
8 
 
2.1 Sociedade letrada/sujeito letrado 
"Letrado" poderia ser, então, o sujeito - criança ou adulto - que, 
independentemente de (já) ter ido à escola e de ter aprendido a ler e escrever (ter sido 
alfabetizado), usasse ou compreendesse certas estratégias próprias de uma cultura 
letrada. (KLEIMAN, 1995, p. 19, apud MELLO; RIBEIRO, 2004, p. 26). 
Para um sujeito ser considerado letrado não é necessário que tenha frequentado 
a escola ou que saiba ler e escrever, basta que o mesmo exercitea leitura de mundo no 
seu cotidiano, sendo um cidadão partícipe de sua comunidade, atuando em associações, 
clubes, instituições, igreja, entre outros. Quem é letrado 
[...] utiliza a escrita para escrever uma carta através de um outro indivíduo 
alfabetizado, um escriba, mas é necessário enfatizar que é o próprio analfabeto 
que dita o seu texto, logo ele lança mão de todos os recursos necessários da 
língua para se comunicar, mesmo que tudo seja carregado de suas 
particularidades. Ele demonstra com isso que conhece de alguma forma as 
estruturas e funções da escrita. O mesmo faz quando pede para alguém ler 
alguma carta que recebeu, ou texto que contém informações importantes para 
ele. (SOARES, 2003, p. 43 apud PEIXOTO et al, 2004). 
 
 
Fonte: alototal.com.br 
O sujeito analfabeto não compreende a decodificação dos signos, mas possui um 
determinado grau de letramento pela prática de vida que tem em uma sociedade grafo 
Centrica, ele é letrado, porém não com plenitude. Uma criança que mesmo antes de estar 
em contato com a escolarização, e que não saiba ainda ler e escrever, porém, tem contato 
com livros, revistas, ouve histórias lidas por pessoas alfabetizadas, presencia a prática 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
9 
 
de leitura, ou de escrita, e a partir daí também se interessa por ler, mesmo que seja só 
encenação, criando seus próprios textos "lidos", ela também pode ser considerada 
letrada. (SOARES, 2003, p. 43 apud PEIXOTO et al, 2004). 
Como Soares nos relata, este é um outro grau de letramento, e há ainda aquele 
indivíduo que, mesmo tendo escolarização ou sendo alfabetizado, possui um grau de 
letramento muito baixo, ou seja, é capaz de ler e escrever, mas tem dificuldade ao fazer 
o uso adequado da leitura e da escrita, não possuindo habilidade para essas práticas, 
não sendo capaz de compreender e interpretar o que lê assim como não consegue 
escrever cartas ou bilhetes. Por esse indivíduo ser alfabetizado, mas não dominar as 
práticas sociais da leitura e da escrita, considera-se um sujeito iletrado. No entanto, em 
uma sociedade grafo Centrica, acredita-se que não há sujeito com grau "zero de 
letramento", ou seja, sujeito iletrado, pois os tipos e os níveis de letramento estão ligados 
às necessidades e exigências de uma sociedade e de cada indivíduo no seu meio social. 
 
 
Fonte: adrigomes.com 
3 ALFABETIZAR LETRANDO 
Porque alfabetização e letramento são conceitos frequentemente confundidos ou 
sobrepostos, é importante distingui-los, ao mesmo tempo que é importante também 
aproximá-los: a distinção se faz necessária porque a introdução, no campo da educação, 
do conceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade do processo 
de alfabetização; por outro lado, a aproximação é necessária porque não só o processo 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
10 
 
de alfabetização, embora distinto e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do 
conceito de letramento, como também este é dependente daquele. (SOARES, 2003, p. 
90 apud COLELLO, 2004) 
O processo de letramento inicia-se quando a criança nasce em uma sociedade 
grafo Centrica, começando a letrar-se a partir do momento em que convive com pessoas 
que fazem uso da língua escrita, e que vive em ambiente rodeado de material escrito. 
Assim ela vai conhecendo e reconhecendo práticas da leitura e da escrita. Já o processo 
da alfabetização inicia-se quando a criança chega à escola. Cabe à educação formal 
orientar esse processo metodicamente, mas, segundo Peixoto (et al, 2004), não basta 
apenas o saber ler e escrever, necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber 
responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz, pois: enquanto a 
alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, 
o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de uma sociedade. 
(TFOUNI, 1995, p. 20 apud COLELLO, 2004). 
Depois que se iniciaram os estudos do letramento, o conceito de alfabetização foi 
reduzido à mera decodificação, ao simples ensinar a ler e escrever. Não devemos 
desmerecer a árdua tarefa, a importância de ensinar a ler e a escrever, pois a aquisição 
do sistema alfabético se faz necessária para o indivíduo entrar no mundo da leitura e da 
escrita. 
 
 Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com 
Na realidade, alfabetização e letramento, esses dois processos, caminham juntos, 
ou melhor o processo de letramento, como vimos, antecede a alfabetização, permeia todo 
o processo de alfabetização e continua a existir quando já estamos alfabetizados. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
11 
 
Segundo Soares (2000) deve-se alfabetizar letrando: Alfabetizar letrando significa 
orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas 
reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, 
por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na 
sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas práticas de 
produção de textos. 
3.1 O papel do educador no letramento 
O educador que se dispõe a exercer o papel de "professor-letrador" considera que: 
[...] o ato de educar não é uma doação de conhecimento do professor aos educandos, 
nem transmissão de ideias, mesmo que estas sejam consideradas muito boas. Ao 
contrário, é uma contribuição "no processo de humanização". Processo este de 
fundamental papel no exercício de educador que acredita na construção de saberes e de 
conhecimentos para o desenvolvimento humano, e que para isso se torna um instrumento 
de cooperação para o crescimento dos seus educandos, levando-os a criar seus próprios 
conceitos e conhecimento. (FREIRE, 1990 apud PEIXOTO et al, 2004). 
Mas se faz necessário que o educador, principalmente o que já se encontra há 
anos exercendo o papel de professor-alfabetizador e que confia plenamente na mera 
aquisição de decodificação, aceite romper paradigmas e acreditar que as transformações 
que ocorrem na sociedade contemporânea atingem todos os setores, assim como 
também a escola e os saberes do educador, pois métodos que aprenderam há décadas 
podem e devem ser aprimorados, atualizados ou até mesmo modificados. O 
conhecimento não pode manter-se estagnado, pois ele nunca se completa ou se finda. 
Então, antes de o professor querer exercer esse papel de "professor-letrador" é 
necessário que ele se conscientize e busque ser letrado, domine a produção escrita, as 
ferramentas de busca de informação e seja um bom leitor e um bom produtor de textos. 
Mas para que se torne capaz de letrar seus alunos, é preciso que conheça o processo de 
letramento e que reconheça suas características e peculiaridades. E Soares (2000) pensa 
que: Os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento, 
deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
12 
 
naquela área, e na formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons 
produtores de textos naquela área. 
Percebemos que a ineficácia na formação dos professores reflete na formação de 
um sujeito que seja um bom leitor e produtor de textos. Atualmente, temos recursos a 
que o próprio educador pode recorrer para aprimorar seu conhecimento. Mas ainda não 
são todos os que têm essa coragem de reconhecer que precisa aprender e aprender 
sempre. O professor, hoje em dia, tem a oportunidade de estudar os Parâmetros 
Curriculares Nacionais e cito aqui, em especial, o de Língua Portuguesa que traz, em 
linguagem simples, o ensino da língua de forma contextualizada para auxiliá-lo em sua 
prática em sala de aula e em seu planejamento. 
 
 
 Fonte: revide.com.br 
Os estudos realizados por Peixoto (et al, 2004) sobre o papeldo "professorletrador, 
ao analisar a prática do letramento pelo professor, destacou alguns passos para o 
desempenho desse papel que considero relevante citar: 
• Investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, 
adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados; 
• Planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como 
o aluno poderá utilizá-la; 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
13 
 
• Desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes 
gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da 
sociedade; 
• Incentivar o aluno a praticar socialmente a leitura e a escrita, de forma criativa, 
descobridora, crítica, autônoma e ativa, já que a linguagem é interação e, como 
tal, requer a participação transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam; 
• Recognição, por parte do professor, implicando assim o reconhecimento daquilo 
que o educando já possui de conhecimento empírico, e respeitar, acima de tudo, 
esse conhecimento; 
• Não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia avaliativa com certa 
sensibilidade, atentando-se para a pluralidade de vozes, a variedade de 
discursos e linguagens diferentes; 
• Avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades de cada 
indivíduo; 
• Trabalhar a percepção de seu próprio valor e promover a autoestima e a alegria 
de conviver e cooperar; 
• Ativar mais do que o intelecto em um ambiente de aprendizagem, ser professor 
aprendiz tanto quanto os seus educandos; e 
• Reconhecer a importância do letramento, e abandonar os métodos de 
aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização. 
Esses passos devem servir como norteadores à prática dos professores que 
buscam exercer verdadeiramente o papel de "professor-letrador". 
4 4 POR QUE SURGIU A PALAVRA LETRAMENTO? 
A palavra analfabetismo nos é familiar, usamos essa palavra há séculos, ela já 
está presente em textos do tempo em que éramos Colônia de Portugal. É um fenômeno 
interessante: usamos, há séculos, o substantivo que nega, e não sentíamos necessidade 
do substantivo que afirmasse: alfabetismo ou letramento. Por que só agora, no fim do 
século XX, a palavra letramento se tornou necessária? 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
14 
 
Palavras novas aparecem quando novas ideias ou novos fenômenos surgem. 
Convivemos com o fato de existirem pessoas que não sabem ler e escrever, pessoas 
analfabetas, desde o Brasil Colônia, e ao longo dos séculos temos enfrentado o problema 
de alfabetizar, de ensinar as pessoas a ler e escrever; portanto: o fenômeno do estado 
ou condição de analfabeto nós o tínhamos (e ainda temos...), e por isso sempre tivemos 
um nome para ele: analfabetismo. 
À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior 
de pessoas aprende a ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade 
vai se tornando cada vez mais centrada na escrita (cada vez mais grafo Centrica), um 
novo fenômeno se evidencia: não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas 
se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a 
prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a 
leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita: não leem livros, 
jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não 
sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, 
uma carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato 
de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio... Esse novo fenômeno só ganha 
visibilidade depois que é minimamente resolvido o problema do analfabetismo e que o 
desenvolvimento social, cultural, econômico e político traz novas, intensas e variadas 
práticas de leitura e de escrita, fazendo emergirem novas necessidades, além de novas 
alternativas de lazer. Aflorando o novo fenômeno, foi preciso dar um nome a ele: quando 
uma nova palavra surge na língua, é que um novo fenômeno surgiu e teve de ser 
nomeado. Por isso, e para nomear esse novo fenômeno, surgiu a palavra letramento. 
Compreendido o que é letramento, por que surgiu a palavra letramento, qual a 
origem da palavra letramento, pode-se voltar à diferença entre letramento e alfabetização: 
• Alfabetização = ação de ensinar/aprender a ler e a escrever 
• Letramento = estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, 
mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. 
Cultiva = dedica-se a atividades de leitura e escrita 
Exerce = responde às demandas sociais de leitura e escrita 
Precisaríamos de um verbo "letrar" para nomear a ação de levar os indivíduos ao 
letramento... Assim, teríamos de alfabetizar e letrar como duas ações distintas, mas não 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
15 
 
inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a 
escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo 
se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado. 
Alfabetizado e/ou letrado - uma nova pergunta se impõe. 
4.1 4.1 Como diferenciar o apenas alfabetizado do letrado? 
Ler é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde 
simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grande Sertão Veredas de 
Guimarães Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma história em 
quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal... Assim: ler é um 
conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e 
complexo continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser 
considerada alfabetizada, no que se refere à leitura? A partir de que ponto desse 
continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à leitura? 
Escrever é também um conjunto de habilidades e comportamentos que se 
estendem desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese de 
doutorado... uma pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas não ser 
capaz de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um 
ensaio sobre determinado assunto... Assim: escrever é também um conjunto de 
habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo 
continuum: em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser considerada 
alfabetizada, no que se refere à escrita? A partir de que ponto desse continuum uma 
pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à escrita? 
Conclui-se que há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das 
necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural. 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
16 
 
 
Fonte: meussonhosdevida.blogspot.com.br 
5 O FOCO NAS CAPACIDADES LINGUÍSTICAS DA ALFABETIZAÇÃO 
 
A principal atenção se volta para fornecer subsídios para a apropriação, pelo aluno 
dos anos iniciais, do sistema de escrita alfabético e de capacidades necessárias não só 
à leitura e produção de textos escritos, mas também à compreensão e produção de textos 
orais, em situações de uso e estilos de linguagem diferentes das que são corriqueiras no 
cotidiano da criança. O desenvolvimento dessas capacidades linguísticas - ler e escrever, 
falar e ouvir com compreensão em situações diferentes dos familiares - não acontece 
espontaneamente e, portanto, elas precisam ser ensinadas sistematicamente. 
Sabe-se que os três anos iniciais da Educação Fundamental não esgotam essas 
capacidades linguísticas e comunicativas, que se desenvolvem ao longo de todo o 
processo de escolarização e das necessidades da vida social. Sabe-se, também, que os 
trabalhos a ser feito nesses trêsanos iniciais não se esgotam na alfabetização ou no 
desenvolvimento dessas capacidades linguísticas. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
17 
 
 
 Fonte: wreducacional.com.br 
É na alfabetização e no aprendizado da língua escrita que vêm se concentrando 
os problemas localizados não apenas na escolarização inicial, como também em 
fracassos no percurso do aluno durante sua escolarização. 
Espera-se, por isso, que a consolidação dos princípios aqui definidos possa se 
combinar com propostas para os demais anos da Educação Fundamental, bem como 
com propostas das outras áreas de conhecimento pertinentes a esse nível inicial de 
nosso sistema de ensino, favorecendo uma abordagem curricular interdisciplinar. 
Um sistema de escrita é uma maneira estruturada, e organizada com base em 
determinados princípios, para representação da fala. Há sistemas de escrita que são logo 
gráficos (que representam o significado das palavras) e há aqueles que representam o 
aspecto sonoro da língua, sua "pauta sonora". São chamados de sistemas de escrita 
"fonográficos". Nosso sistema de escrita (chamado de "alfabético" ou 
"alfabéticoortográfico") representa "sons" ou fonemas, em geral cada "letra" 
correspondendo a um "som" e vice-versa. É, portanto, um sistema de escrita ortográfico. 
Mas há sistemas de escrita logo gráficos que representam sílabas. Num sistema como 
esse, a palavra "apaixonado" poderia ser escrita APXAD em que cada "letra" 
corresponderia a uma sílaba. 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
18 
 
 
Fonte: arquidiocesano.com.br 
5.1 Uma questão terminológica 
Seria possível falar das capacidades das crianças usando termos e conceitos 
similares, frequentemente empregados como sinônimos, tais como "competências", 
"procedimento" e "habilidades". Esses três vocábulos têm sido utilizados como 
equivalentes, nos documentos oficiais de orientação curricular e em muitos estudos 
teóricos no campo educacional. No entanto, optou-se, aqui, pelo uso do termo 
"capacidades", aliado, quando necessário, aos termos "conhecimentos" e "atitudes". 
Essa escolha por "capacidades" se deve ao fato de o termo ser amplo o suficiente 
para abranger todos os níveis de progressão, desde os primeiros atos motores 
indispensáveis à aquisição da escrita até as elaborações conceituais, em patamares 
progressivos de abstração, que possibilitam ampliações na compreensão da leitura, na 
produção textual e na seleção o de instrumentos diversificados para tais aprendizagens. 
Com essa escolha, pretende-se também evitar que a proposta de organização geral da 
alfabetização que aqui apresentamos seja vinculada exclusivamente a uma única teoria, 
considerando que as teorizações, em geral, são parciais e se restringem a um só aspecto 
do fenômeno que tentam explicar. Prefere-se, então, um termo mais genérico, não 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
19 
 
comprometido com um modelo teórico específico, para evitar qualquer distorção de 
interpretação que leve a uma compreensão fragmentada do campo cognitivo da criança. 
Busca-se, com isso, deixar claro que não devem ser subestimadas dimensões 
imprescindíveis à totalidade do processo de alfabetização. 
Como se poderá observar, as capacidades serão descritas por procedimentos 
observáveis. Isso não significa, no entanto, que a proposta se reduza a uma taxonomia 
de objetivos comportamentais, a uma percepção imediatista de desempenhos ou a uma 
concepção estritamente empirista de ensino-aprendizagem. O que se valoriza aqui é a 
possibilidade de interpretação das capacidades da criança pelo professor, por meio de 
critérios capazes de sinalizar progressivos avanços no processo de alfabetização. 
Esses componentes "observáveis" deverão orientar as ações do professor na 
definição do tipo de abordagem que deve privilegiar no trabalho pedagógico. Em outras 
palavras, esses componentes podem auxiliar o professor a definir, tendo em vista as 
capacidades já desenvolvidas por seus alunos, o que ele deverá: 
• Introduzir, levando os alunos a se familiarizarem com conteúdo e 
conhecimentos (ou retomar eventualmente, quando se tratar de conceitos ou 
capacidades já consolidadas em período anterior); 
• Trabalhar sistematicamente, para favorecer o desenvolvimento pelos alunos; 
• Procurar consolidar no processo de aprendizagem dos alunos, sedimentando 
os avanços em seus conhecimentos e capacidades. 
 
 
 
 
 
 
Supõe-se que a clareza de diagnósticos e avaliações do professor em relação a 
tais capacidades e abordagens propiciará a base para uma descrição dos desempenhos 
dos alunos e das condições necessárias à superação de descompassos e inconsistências 
em suas trajetórias ao longo dos três primeiros anos. Vê-se, aqui, mais uma vez, a 
importância que se atribui à sensibilidade e ao saber do professor no sentido de adequar 
É importante que esses tipos de abordagem das capacidades 
(Introduzir (I), trabalhar (T), consolidar (C), retomar (R)) sejam bem 
compreendidos, pois eles serão utilizados mais à frente, na 
distribuição das capacidades ao longo do período. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
20 
 
a proposta à real situação de seus alunos. Espera-se que o docente – em conjunto com 
toda a escola - alie acuidade e disposição positiva para implementar esta proposta, 
atentando para as efetivas circunstâncias em que deverá desenvolver seu trabalho. 
 
 
Fonte: institutosingularidades.edu.br 
5.2 Os eixos 
As capacidades selecionadas estão organizadas em torno dos eixos mais 
relevantes para a apropriação da língua escrita: 
• Compreensão e valorização da cultura escrita; 
• Apropriação do sistema de escrita; 
• Leitura; 
• Produção de textos escritos; 
5.2.1 Desenvolvimento da oralidade 
As capacidades associadas a tais eixos ou campos serão objeto de 
sistematização. Todas elas serão abordadas da mesma maneira. Inicialmente, 
apresentam-se, num quadro, as capacidades mais gerais a serem desenvolvidas, 
distribuídas de acordo com os três primeiros anos da Educação Fundamental. Veja o 
exemplo no quadro. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
21 
 
 
Fonte: images.slideplayer.com.br 
• A gradação dos tons de cinza: O tom mais claro significa que a capacidade deve 
ser introduzida, para possibilitar a familiarização dos alunos com os 
conhecimentos em foco, ou retomada, se já tiver sido objeto de ensino-
aprendizagem em momentos anteriores. O médio significa que a capacidade 
deve ser trabalhada de maneira sistemática, com vista ao domínio pelos alunos. 
O tom mais escuro significa que a capacidade, tendo sido trabalhada 
sistematicamente, deve ser enfatizada de modo a assegurar sua consolidação. 
• As letras inseridas nas quadrículas: A letra I significa introduzir; a letra R, 
retomar; seu uso no quadro indica que a capacidade deve merecer ênfase 
menor, sendo ou introduzida ou retomada, conforme o caso (introduzir a 
novidade; retomar eventualmente o que já tiver sido contemplado). A letra T 
significa trabalhar sistematicamente. A letra C, consolidar. 
6 LÍNGUA E ENSINO DE LÍNGUA 
A língua é um sistema discursivo, isto é, um sistema que tem origem na 
interlocução e se organiza para funcionar na interlocução (inter+locução = ação 
linguística entre sujeitos). Esse sistema inclui regras vinculadas às relações das formas 
linguísticas entre si e às relações dessas formas com o contexto em que são usadas. Seu 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
22 
 
centro é, pois, a interação verbal, que se faz através de textos ou discursos, falados ou 
escritos. 
Partindo dessa concepção, uma proposta de ensino de língua deve valorizar o uso 
da língua nas diferentes situações sociais, com sua diversidade de funções e sua 
variedade de estilos e modos de falar. Para estar de acordo com essa concepção, é 
importante que otrabalho em sala de aula se organize em torno do uso e que privilegie 
a reflexão dos alunos sobre as diferentes possibilidades de emprego da língua. Isso 
implica, certamente, a rejeição de uma tradição de ensino apenas transmissiva, isto é, 
preocupada em oferecer ao aluno conceitos e regras prontos, que ele só tem que 
memorizar, e de uma perspectiva de aprendizagem centrada em automatismos e 
reproduções mecânicas. Por isso é que uma adequada proposta para o ensino de língua 
deve prever não só o desenvolvimento de capacidades necessárias às práticas de leitura 
e escrita, mas também de fala e escuta compreensiva em situações públicas (a própria 
aula é uma situação de uso público da língua). 
 
 
 
Fonte: cariocaped.blogspot.com.br 
7 ALFABETIZAÇÃO 
Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou como 
ensinoaprendizado da "tecnologia da escrita", quer dizer, do sistema alfabético de escrita, 
o que, em linhas gerais, significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
23 
 
gráficos, transformando-os em "sons", e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da 
fala, transformando-os em sinais gráficos. A partir dos anos 1980, o conceito de 
alfabetização foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre a psicogênese da 
língua escrita, particularmente com os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. 
De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se 
reduziria ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas (a decodificação e 
a codificação), mas se caracterizaria como um processo ativo por meio do qual a criança, 
desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre 
a natureza e o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de 
representação. 
 
 
 
Além das contribuições da psicogênese da escrita, o conceito de alfabetização 
também foi ampliado em decorrência das necessidades da vida social contemporânea, 
que mostraram as limitações do conceito compreendido apenas como o domínio das 
"primeiras letras". Progressivamente, o termo passou a designar o processo não apenas 
de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o 
domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades nas práticas sociais 
de leitura e escrita. O termo, alfabetizado, nesse quadro, passou a designar não apenas 
aquele que domina as correspondências grafo-fonêmicas, mas também utiliza esse 
domínio em situações sociais de uso da língua escrita. 
É diante dessas novas exigências que surgiu uma nova adjetivação para o termo 
–alfabetização funcional – criada com a finalidade de incorporar as habilidades de uso da 
leitura e da escrita e, posteriormente, a palavra letramento, com o surgimento dos termos 
letramento e alfabetização (ou alfabetismo) funcional, muitos pesquisadores passaram a 
distinguir alfabetização e letramento. Passaram a utilizar o termo alfabetização em seu 
sentido restrito, para designar o aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e 
do funcionamento do sistema de escrita. Passaram, correspondentemente, a reservar os 
termos letramento ou, em alguns casos, alfabetismo funcional para designar os usos (e 
as competências de uso) da língua escrita. Outros pesquisadores tendem a utilizar 
Os termos "grafemas" e "fonemas” correspondem, aproximadamente, 
a "letra" e "som", usados na linguagem corrente 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
24 
 
apenas o termo alfabetização para significar tanto o domínio do sistema de escrita e das 
correspondências grafo fonêmicas quanto os usos da língua escrita em práticas sociais. 
Nesse caso, quando sentem a necessidade de estabelecer distinções, tendem a utilizar 
as expressões "aprendizado do sistema de escrita" e "aprendizado da linguagem escrita". 
 
Fonte: dtoday.com.br 
8 CONHECER COMO SE APRENDE PARA SABER COMO ENSINAR 
As pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1998) sobre a psicogênese da língua 
escrita demonstram como se constrói, em três níveis evolutivos, a compreensão do 
sistema alfabético de representação da língua, permitindo definir atividades e 
intervenções pedagógicas que favorecem a compreensão da escrita e da superação das 
dificuldades desta aprendizagem. 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
25 
 
 
Fonte: pedagogiaaopedaletra.com.br 
8.1 Nível pré-silábico 
A criança não estabelece relações entre a escrita e a pronúncia. Nesta fase, ela 
expressa sua escrita através de desenhos, rabiscos e letras usadas aleatoriamente, sem 
repetição e com o critério de, no mínimo, três. Outra característica desta fase é o 
“realismo nominal”, que designa a impossibilidade de conceber a palavra e o objeto a que 
se refere como duas realidades distintas. Assim, a criança pensa que a palavra trem é 
maior que telefone, porque representa um objeto maior e mais pesado. A superação do 
realismo nominal, pela percepção de que a palavra escrita, não representa o objeto, mas 
seu nome, é indispensável para o sucesso na alfabetização. 
Conflito que levará ao próximo nível: a percepção de que há estabilidade nas 
palavras (há uma forma única para escrever corretamente cada palavra). 
Dicas: usar, na escrita, a letra de imprensa maiúscula (de forma ou bastão) 
favorece a percepção das unidades sonoras e diminui o esforço e as dificuldades 
psicomotoras. A letra manuscrita (cursiva) só deve ser introduzida quando a criança 
adquire a base alfabética. A alfabetização deve ser iniciada com palavras de significado 
para a criança, como seu próprio nome, e não com palavras pequenas (pá, pé, nó) ou 
com sílabas repetidas (babá, Lili). 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
26 
 
8.2 Nível silábico 
A criança descobre a lógica da escrita, percebendo a correspondência entre a 
representação escrita das palavras e as propriedades sonoras das letras, usando, ao 
escrever, uma letra para cada emissão sonora. 
Conflito que levará ao próximo nível: impossibilidade de ler silabicamente o que os 
outros escrevem (sobram letras). 
A hipótese silábica é uma construção da criança e o treino descontextualizado e 
mecânico das sílabas não a favorece. O professor provocará o conflito que a possibilita 
com intervenções e atividades que ajudem a perceber a estabilidade da escrita 
convencional, no confronto com palavras já conhecidas (nomes dos colegas, produtos). 
Quando a criança lê o que escrever percorrendo a palavra com o dedo percebe que 
sobram letras (hipótese pré-silábica) ou faltam (hipótese silábica), facilitando a 
construção da hipótese alfabética. 
8.3 Nível alfabético 
Caracteriza-se pela correspondência entre fonemas e grafemas, quando a criança 
corresponde a organização e o funcionamento da escrita e começa a perceber que cada 
emissão sonora (sílaba) pode ser representada, na escrita, por uma ou mais letras. 
A base alfabética da escrita se constrói a partir do conflito criado pela 
impossibilidade de ler silabicamente a escrita padrão (sobram letras) e de ler a escrita 
silábica (faltam letras). Neste nível, a criança, embora já alfabetizada, escreve ainda 
foneticamente (como se pronuncia), registrando os sons da fala, sem considerar as 
normas ortográficas da escrita padrão e da segmentação das palavras na frase. Segundo 
Ferreiro e Teberosky. 
 
Aqui a criança já compreendeu que cada um dos caracteres da escrita 
corresponde a valores menores que a sílaba. Isto não quer dizer que todas as 
barreiras tenham sido superadas: a partir deste momento, a criança se defrontará 
com as dificuldades da ortografia, mas não terá mais problemas de escrita, no 
sentido estrito. (Ferreiro e Teberosky, 1998, p.15) 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
27 
 
Dicas: o tempo necessário para avançar de um nível para outro varia muito.A 
evolução pode ser facilitada pela atuação significativa do professor, sempre atento às 
necessidades observadas no desempenho de cada aluno, organizando atividades 
adequadas e colocando, oportunamente, os conflitos que conduzirão ao nível seguinte. 
O uso da metodologia contrastiva, permitindo que a criança confronte sua hipótese de 
escrita com a forma padrão (nos diversos materiais de leitura já conhecidos) é um 
importante recurso para a estabilização da escrita ortográfica. 
A sistematização do processo de alfabetização se dará ao longo dos anos 
subsequentes. Na medida em que o aluno adquire segurança no contato prazeroso, 
contextualizado e significativo com a língua escrita, sua leitura torna-se mais fluente e 
compreensiva. Por meio da leitura, o aluno assimila, aos poucos, as convenções 
ortográficas e gramaticais, adquirindo competência escritora compatível com as 
exigências da escrita socialmente escrita. Desenvolve-se, assim, o gosto e o interesse 
pela leitura e a habilidade de inferir, interpretar e extrapolar as ideias do autor, 
formandose o leitor crítico. 
A alfabetização plena, com qualidade, pressupõe e exige da escola: 
 
• Conhecer as crenças, o domínio teórico e a competência prática de seus 
professores; 
• Respeitar os professores e intervir construtivamente em sua prática, 
organizando grupos de estudo e análise de diferentes experiências, inclusive a 
própria (ação/reflexão/ação); 
• Conhecer diferentes teorias e processos de alfabetização, suas possibilidades 
de adaptação e resultados, para enriquecer a dinâmica de ensino e 
aprendizagem; 
• Ter claro que ler e escrever bem exige o prazer de fazê-lo e que, portanto, a 
aprendizagem deve ser “sedutora”, tendo o encantamento” como parte do 
processo; 
• Acompanhar e analisar o desempenho dos alunos egressos das turmas de 
alfabetização; 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
28 
 
• Definir e utilizar referenciais de enturmação coerentes e cientificamente 
aprovados, optando preferencialmente pela organização de turmas por critérios 
de idade, como tem sido recomendado pelas novas diretrizes legais; 
• Respeitar o aprendiz, seu contexto, suas vivências e necessidades, seus 
desejos e temores; 
• Acompanhar e verificar o progresso de cada aluno, observando e detectando 
dificuldades e oferecendo atividades específicas e intervenções positivas para 
sua superação; 
• Ter clareza de que esta superação depende da compreensão das estruturas 
linguísticas e não do treino pela repetição do modelo correto; 
• Definir estratégias de recuperação contínua da aprendizagem, garantindo o 
reforço necessário aos alunos mais carentes. 
 
A escola assume compromisso com o sucesso do aluno a partir do momento em 
que aceita sua matrícula. Mas os fatores determinantes do fracasso ou do sucesso na 
alfabetização podem ter origem no contexto escolar, familiar e social. Daí porque a 
atuação da escola não pode ficar confinada às salas de aulas. Como instituição social, 
ela deve ser presença significativa na comunidade, envolvendo as famílias em sua 
proposta pedagógica, até porque a eficácia do trabalho educativo em sala de aula 
depende do conhecimento da realidade sociocultural dos alunos e do comprometimento 
das famílias com o processo de alfabetização de suas crianças. A seguir, serão descritas 
algumas práticas administrativas e orientações pedagógicas que podem favorecer o êxito 
do processo de alfabetização. 
• Prever, no planejamento escolar, como parte da dinâmica de matrícula: acolhida 
dos alunos novatos com programação de atividades lúdicas e agradáveis; 
informação da proposta pedagógica aos pais, em reuniões significativas, com 
textos e atividades participativas; circulares com orientações sobre como 
acompanhar e auxiliar os filhos e sobre como será feito o atendimento 
individualizado quando necessário; 
• Usar estratégias criteriosas e bem fundamentadas, em relação a: enturmação, 
remanejamento e aprovação, de maneira que não sejam discriminadoras ou 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
29 
 
excludentes. A escola produz fracasso ou sucesso quando, na busca da 
homogeneidade, seleciona, classifica, compara e rotula alunos; 
• Desenvolver, nos primeiros dias de aula, atividades artísticas, roda de conversa, 
hora do conto, recreação dirigida, jogos e brincadeiras cantadas, observando 
os alunos, para elencar o repertório de experiências, hábitos, atitudes, 
capacidades, habilidades, competências, conhecimentos e carências que 
trazem. Observar a linguagem oral tanto quanto a expressão gráfica, o 
relacionamento, a psicomotricidade, o interesse, a curiosidade e a criatividade; 
• Criar clima de confiança e ambiente acolhedor, conhecendo bem os alunos, 
para desenvolver o planejamento, adequando as atividades aos seus 
interesses, possibilidades e necessidades; 
• Ter entusiasmo e real envolvimento com as atividades e as turmas, contagiando 
e motivando os alunos para o empenho em realizar bem as tarefas; 
• Organizar as turmas em pequenos grupos para facilitar o respeito e o 
atendimento aos ritmos e diferenças individuais; 
• Utilizar atividades abertas e espontâneas, que desenvolvam a criatividade, a 
autonomia e a iniciativa, eliminando os modelos a serem copiados; 
• Desenvolver projetos de trabalho, com participação da turma, desde a definição 
do tema, no desenrolar das etapas, até sua culminância e avaliação, 
assegurando o empenho dos alunos em colaborar e seu compromisso com a 
expectativa dos resultados. Os projetos podem ser: específicos da turma, para 
atender a um interesse, problema, desejo, necessidade ou curiosidade; 
coletivos, para toda escola; como envolvimento da comunidade; em parceria 
com outras escolas e entidades; ou para estudo e intercâmbio de experiência 
entre os professores; 
• Valorizar cada tentativa do aluno, independentemente do nível de resultado, 
pois a experiência do sucesso aumenta a autoestima e garante a continuidade 
do esforço. Orientá-lo durante a produção, pela intervenção e mediação 
preventiva, tornando o “erro” observável para o aluno, que se incumbirá, ele 
mesmo, da correção, pela compreensão do processo. A correção posterior só 
tem efeito punitivo, desencorajando o aluno de novas tentativas; 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
30 
 
• Ter atitude preventiva, fornecendo as informações necessárias em cada 
situação, numa concepção construtiva de “erro” como hipótese provisória, como 
etapa do processo evolutivo a ser superada e não penalizada; 
• Ter clareza de que o êxito da alfabetização não depende de um método 
determinado nem do livro didático / cartilha, mas da postura, da segurança e do 
comprometimento do professor com o desempenho da turma. O importante é 
transformar a sala de aula, a biblioteca e toda a escola em ambiente 
alfabetizador, com material de leitura farto e diversificado; 
• Explorar literatura infantil, que oferece ricas oportunidades de interação com a 
língua escrita, além de sua função catártica para os conflitos inconscientes. 
Ouvir, dramatizar, ilustrar, recontar e reescrever histórias são atividades 
indispensáveis durante o processo de alfabetização, ao longo da primeira fase 
do ensino fundamental; 
• Atender, resolver, recuperar, imediata e adequadamente, com responsabilidade 
e criatividade as dificuldades que naturalmente aparecerão, para que não se 
transforme me problemas; 
• Prever, no planejamento, as competências a desenvolver e os níveis de 
desempenho a serem alcançados em cada etapa da escolaridade. Isto 
possibilitará o acompanhamento sistemático do desenvolvimento dos alunos, 
com indicadores de progresso facilmente observáveis, dispensando um 
processo de avaliação formal com testes, provas e notas que inibem e 
discriminam os alunos mais carentes, frustrando-os e rotulando-os como fracos. 
 
A eficácia do trabalhoeducativo em sala de aula, depende do conhecimento da 
realidade sociocultural dos alunos e do comprometimento das famílias com o processo 
de alfabetização. 
É possível e necessário estar aberto às transformações, buscando novas formas 
de tornar eficaz e prazeroso o processo de alfabetização. É preciso querer que cada 
aluno matriculado seja respeitado como cidadão com direito à aquisição de competências 
como leitor e escritor. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
31 
 
8.4 Uma concepção social da escrita na alfabetização 
A alfabetização de crianças continua a ser um grande desafio para a sociedade 
brasileira, em geral, e para o educador, em particular. Entre várias contribuições para a 
reflexão nesse campo, as que se centram nas concepções da escrita são muito 
relevantes, uma vez que trazem nos matizes e dimensões para questões importantes do 
cotidiano pedagógico, como a dificuldade na aprendizagem e a progressão no ensino, as 
quais incidem em decisões sobre que materiais didáticos utilizar, como escolher textos, 
o que ensinar primeiro. 
O capítulo explora as consequências de se adotar uma concepção social da escrita 
na alfabetização em contraste com uma concepção tradicional, que considera a 
aprendizagem de leitura e produção textual como a aprendizagem de habilidades 
individuais. 
A concepção de escrita que se tem mostrado mais produtiva na alfabetização de 
crianças é a que enfatiza a dimensão social, tanto da aprendizagem de leitura e produção 
de textos quanto do uso dos materiais escritos. Por dimensão social estamos entendendo 
o caráter não-individual do processo. 
A concepção tradicional da escrita considera ler e escrever como habilidades 
individualmente adquiridas, independentemente da situação, da época e do grupo social. 
no ensino, é essa a concepção que tem orientado o livro didático e também o professor. 
E, quando se enfatiza a dimensão individual, a atenção recai principalmente sobre a 
aprendizagem do alfabeto para a formação de palavras e frases, sem que se considerem 
os usos e as funções sociais do tipo de texto que se está lendo ou escrevendo. 
A concepção que enfatiza a dimensão social não está apenas preocupada com o 
domínio das letras por cada aluno. Considera-se que esse aspecto corresponde apenas 
aos aspectos de instrumentação: se o sujeito conhecer as funções sociais dos textos 
escritos, perceberá a necessidade de adquirir o código para poder ler e escrever 
independentemente. Se, por outro lado, o sujeito não conhecer as funções sociais de um 
texto, a aquisição do alfabeto passará a ser uma habilidade necessária para ler e escrever 
os textos escolares, os quais nem sempre refletem a diversidade textual de fora da 
escola. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
32 
 
Como, na prática social, o aluno depara-se com textos não-simplificados, na sala 
de aula é preciso pensar como pode ocorrer a facilitação para que ele consiga vencer os 
obstáculos. A resposta, na concepção que enfatiza o social, é que a facilitação só poderá 
ocorrer por meio do trabalho colaborativo com o professor e os colegas. 
Por exemplo, se os alunos estiverem interessados na leitura de um manual para 
inscrição em um concurso, a facilitação será dada, por um lado, pela ajuda do professor 
na ativação e na utilização de conhecimentos relevantes para caracterizar o texto e sua 
função e, por outro lado, pela identificação de pistas para decifração e inferência das 
informações desejadas. 
De forma semelhante, se um aluno quiser reclamar de um serviço público 
qualquer, o processo de escrever uma carta de reclamação, por exemplo, será facilitado 
pelo fornecimento de modelos de carta de reclamação pelo professor para que a turma 
possa encontrar os meios linguísticos e textuais necessários à transposição, para a 
escrita, dos conteúdos trazidos pelo reclamante. Como se pode depreender desses 
exemplos, quando se enfatiza a dimensão social da escrita, a atenção recai nas práticas 
de utilização da leitura e da escrita de textos em diferentes situações comunicativas. 
A mudança na concepção da escrita acarreta também mudança nos critérios para 
avaliação de dificuldades de ensino e aprendizagem e, consequentemente, nos critérios 
para a progressão didática. 
No ensino da leitura, o conceito de dificuldade passa a ser relativo não só a 
correspondência letra-som, mas, sobretudo, à familiaridade do aluno com um 
determinado tipo de texto. Em contextos urbanos, por exemplo, é comum o alfabetizando 
saber reconhecer um jornal e uma notícia de jornal, bem como conhecer suas funções, 
mesmo sem saber decifrar o texto. 
É possível, pois, escolher a notícia de jornal como ponto de partida e suporte do 
trabalho pedagógico. As letras, as sílabas e as palavras são ensinadas a partir da 
manchete do jornal ou do título da notícia, através da observação e da identificação dos 
elementos que compõem a frase e as palavras. Segundo essa lógica, as chamadas 
“dificuldades ortográficas”, que sempre são deixadas para depois, por serem 
consideradas como problemáticas, podem aparecer em qualquer etapa do processo, 
desde que sejam apreendidas globalmente em um contexto significativo para o aluno. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
33 
 
A título de ilustração, o dígrafo, o ditongo e o encontro consonantal existentes em 
uma manchete como O salário mínimo no Brasil é uma vergonha não impedirão sua 
escolha para o trabalho de sala de aula, se esse for um assunto de interesse dos alunos 
e em discussão na sociedade naquele momento. O trabalho pedagógico pode chegar à 
observação e à decomposição de elementos do título (palavras, sílabas) como um dos 
meios de sistematização e memorização do código. 
Não se pode esquecer que a memorização de qualquer um desses elementos é 
facilitada pelo fato de ocorrer em contextos significativos. Os textos podem vir, nesse 
caso, de redes mnemônicas. Entretanto, como já apontado, o ensino e a sistematização 
do código decorrem de uma prática de leitura coletiva e colaborativa que visa à ação 
independente, individual, de um aluno que já conhece a função e o uso dos textos lidos. 
Na produção escrita, um critério importante para a avaliação de dificuldades de 
ensino e aprendizagem é a familiaridade do aluno com o texto e com sua função na 
sociedade. Assim, mesmo em um contexto não-urbano, é possível escolher o bilhete ou 
a carta como ponto de partida e suporte do trabalho pedagógico antes de o aluno saber 
escrever sequer uma frase. A dificuldade individual é reduzida, na medida em que o texto 
é construído coletivamente sob a orientação do professor. 
O trabalho individual do aluno consistirá em tentativas de transcrição e composição 
do texto que está sendo construído. Uma outra alternativa é a escolha do relato pessoal 
como ponto de partida para favorecer a expressão subjetiva (opiniões, desejos, reflexões) 
em uma estrutura textual que se aproxima das estruturas orais mais familiares. 
Pode-se objetar que, se o aluno analfabeto não tem, por definição, familiaridade 
com o código, qualquer tipo de texto é ilegível para ele. Em primeiro lugar, deve-se 
considerar que, hoje em dia, são raras as comunidades suficientemente isoladas para 
não terem nenhum contato com a escrita, mesmo que pela mídia audiovisual (rádio e 
televisão). Desse modo, embora o aluno nunca tenha visto um poema, uma trova ou uma 
rima escritos, por exemplo, ele pode tê-los ouvido e até memorizado e, portanto, ter 
familiaridade com esse tipo de texto. 
Em segundo lugar, a literatura especializada já mostrou que a leitura não se faz 
letra a letra ou sílaba a sílaba, mas por blocos maiores. Em vez de o aluno ter que juntar 
as letras Q, U e E para poder ler a palavra QUE, por exemplo, ele deveria ser capaz de 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
34 
 
reconhecer de uma só vez a palavrapela sua forma global, sua posição e sua função 
relacional no bloco. O que tornaria o texto ilegível, justamente, seria a leitura de unidades 
tão pequenas como a letra e a sílaba. 
8.5 Um novo conceito: letramento 
Resumindo, no enfoque tradicional, a pergunta para o professor é sempre qual a 
sequência mais adequada da apresentação das letras para formarem sílabas, das sílabas 
para formarem palavras e das palavras para formarem frases. No enfoque socialmente 
contextualizado, conhecido na literatura como relacionado aos estudos do letramento, a 
pergunta seria: quais os textos significativos para a comunidade e para o aluno? 
É importante, então, que o professor conheça o contexto cultural de seus alunos e 
os modos de produção e de circulação da grande variedade de textos valorizados pela 
sociedade. É tão importante saber ler e escrever uma carta, quanto consultar uma lista 
telefônica, tomar notas, fazer um resumo, ler um editorial ou uma crônica. As habilidades 
e os conhecimentos envolvidos em cada uma dessas atividades não são 
necessariamente os mesmos, e a alfabetização deve contemplar tudo isso. 
A questão da progressão didática e da dificuldade no processo de ensino e 
aprendizagem coloca-se em relação à familiaridade do aluno com o texto, ou seja, com 
o tratamento do tema, o modo de estruturação do texto e o estilo do autor. Quanto mais 
familiaridade o aluno adquirir com cada um desses elementos, mais fáceis vão-se 
tornando a leitura e a escrita para ele. Isso quer dizer que a aula deve estar orientada 
para a prática sistemática da leitura e da escrita: aprende-se a ler lendo e escrever 
escrevendo. 
Nessa perspectiva, o trabalho pedagógico incidirá sobre a escolha e o modo de 
tratamento dos textos. Do ponto de vista do professor, a grande vantagem do enfoque 
socialmente contextualizado é da autonomia no planejamento das unidades de ensino e 
na escolha de materiais didáticos. 
E, da mesma forma como os alfabetizandos e adultos devem ser estimulados a 
trabalhar em conjunto em sala de aula, o professor também precisará trabalhar em 
conjunto com seus pares na escola para que possa aproveitar melhor a própria 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
35 
 
experiência e a de seus colegas e, principalmente, para que possa discutir e aprofundar 
os problemas e as alternativas que forem apresentando-se no decorrer do processo de 
ensino e de aprendizagem. Esse enfoque permite ao professor assumir o papel de 
regente, isto é, de alguém que organiza e sistematiza os esforços e os recursos 
individuais em função de um objetivo comum. 
8.6 Alfabetização: reflexão/avaliação/informação 
A educação, cada vez mais subordinada ao mercado de trabalho, é “levada” a 
cuidar do perfil do futuro cidadão, preparando-o para adaptar-se às contínuas e 
crescentes mudanças tecnológicas com base em competências e habilidades que 
satisfaçam às necessidades do mercado extremamente competitivo. 
O paradigma da qualidade total tem íntima ligação com o modelo conservador que 
o gerou. Embora traga consigo valores defendidos por escolas que têm como meta 
educar para a transformação – espírito de equipe, cooperação, solidariedade, integração 
ao grupo, pertencimento ao grupo, só que a qualidade total deturpa valores. 
Frente a um discurso que ganha hegemonia em todos os segmentos da sociedade, 
faz-se necessário ficarmos atentos para perceber as artimanhas das propostas que se 
apresentam como boas ou salvadoras. Urge que os educadores se disponham a discutir 
com seriedade sobre o que deve mudar e como mudar os rumos da educação. Como 
assinala Silva: 
“Cremos haver um caminho, o da reflexão/avaliação/informação, ligado à 
realidade escolar, contando com a participação efetiva dos educadores atuantes, 
que articulem/orientem a elaboração de um projeto educativo e de sociedade a 
partir daí buscando uma prática coerente com o ideal traçado neste projeto 
participativo, com vistas aos ideais de sociedade que desejam ajudar a construir. 
” (Silva, 1999, p.75). 
 
Silva (1999) acredita que a tradição democrática se contrapõe à visão 
conservadora e autoritária de educação e que uma visão democrática da qualidade em 
educação deve se concentrar não apenas na questão de sua distribuição, mas também 
no questionamento daquilo que é distribuído. Então, se a distribuição é malfeita e o que 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
36 
 
é distribuído é melhor para uns que para os outros, não podemos esquecer que não existe 
qualidade, já que isso se chama “privilégio” e “discriminação”. 
Em se tratando de educação, não se pode pensar qualidade de forma neutra, 
acrítica, abstrata. Há que se pensar no contexto social concreto, no tipo de homem 
concreto que a escola deseja formar e nos valores com os quais ela se acha 
comprometida. 
A qualidade que tem sido pregada/divulgada mostra que há ganhos em termos de 
melhoria das instalações, de aumento do número de horas de aula, de infraestrutura, de 
equipamentos. Falta, no entanto, ganho pedagógico. As escolas, em sua maioria, não 
estão preparadas para garantir melhoria na qualidade do processo ensino-aprendizagem, 
despendem mais energia com rotinas administrativas e deixam de lado a gestão 
pedagógica. Proporcionam mudanças nos detalhes exteriores sem, contudo, provocar 
mudanças internas nas condições de aprendizagem dos alunos, no sentido de colocar 
em prática novas ideias e novas alternativas de ensino. 
Moraes chama a atenção para o fato de as ações implementadas não estarem 
provocando mudanças importantes no processo ensino-aprendizagem, mas perpetuando 
o velho ensino: 
“Em nosso cotidiano, aprendemos que não se muda um paradigma educacional 
colocando uma nova roupagem, camuflando velhas teorias, pintando a fachada 
da escola, colocando telas nas salas de aula, se o aluno continua na posição de 
mero espectador, de simples receptor, presenciador e copiador, e se os recursos 
tecnológicos pouco fazem para ampliar a cognição humana. ” (Moraes, 1997, 
p.17) 
 
A característica marcante do fazer pedagógico continua sendo a transmissão dos 
conteúdos necessários para o futuro exame vestibular e preparação para o mercado de 
trabalho. Portanto, a educação de nosso país continua seletiva e reforçadora de 
desigualdades. 
Podemos dizer que a questão da qualidade está associada aos seguintes 
pressupostos: 
 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
37 
 
• Boa administração: gerenciar de forma eficiente os recursos existentes é 
importantíssimo, tanto para o setor privado quanto para o público, mas, 
sobretudo, deve existir uma gestão verdadeiramente democrática; 
• Formação contínua dos profissionais, que nem sempre se formaram ou se 
formam parta assumir com eficiência uma tarefa pedagógica de qualidade; 
Libertação da ideia de que a finalidade da educação é preparar para o mercado 
de trabalho. 
 
Sabemos que o sistema neoliberal, responsável pela estruturação do mercado 
globalizado, é o mentor da ideia de que a educação deve atrelar-se às necessidades do 
mercado. Portanto, caminhar na dinâmica de preparar para o vestibular e o mercado de 
trabalho é estar a serviço desse sistema, o que implica entrar na ciranda de formar nossas 
crianças para um desempenho competitivo, brutalmente seletivo e discriminador. 
Fazem-se necessárias mudanças na realidade educacional e estas não deveriam 
partir de determinações de instâncias superiores, mas do desejo e compromisso dos 
responsáveis pela execução dos projetos. Daí a necessidade de se ampliarem os 
espaços de discussão entre os educadores sobre a temática da Qualidade em Educação. 
É preciso dar um passo de qualidade para atender às necessidades da sociedade 
futura, o que exige abandono de certas crenças e mudança radical na relação 
saberaprendizagem. Só assim, nossos olhos poderão contemplar a realidade de sujeitos 
dahistória: cidadãos preparados com o processo de transformação da sociedade, 
utilizando o saber para questionar o mundo e para gerar sinais de vida; adeptos da política 
de inclusão, justiça e solidariedade, tão propalada no discurso dos políticos, porém tão 
distante da realidade. 
Entendemos que, para uma Educação de Qualidade, faz-se necessário construir 
um projeto político-pedagógico para a educação brasileira, pautado pela construção da 
cidadania, pela participação democrática e pela necessidade da socialização do saber. 
Com isso, estamos objetivando o resgate dos valores éticos e humanos, a efetiva 
participação no processo de construção de uma nova sociedade e a eliminação do caráter 
dual de nosso sistema educacional. Este seria, sem dúvida, um efetivo avanço da 
Qualidade Total para a Qualidade Social. 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
38 
 
8.7 A relação social no processo de aprendizagem 
Piaget (1998) esclarece a importância da relação social no processo de 
aprendizagem. A inteligência humana somente desenvolve no indivíduo em função de 
suas interações sociais. Os fundamentos sociointeracionistas de Vygotsky (1997) 
também alertam sobre a importância da relação do indivíduo com o mundo, pois é nesse 
espaço exterior que as funções superiores se originam. 
Para a construção do conhecimento há a necessidade de um processo contínuo 
de relações pedagógicas. Estas interações pedagógicas se relacionam com 
metodologias de ensino, relação professor/aluno, conteúdos e avaliação. A construção 
do conhecimento é um fator responsável pelo sucesso do aluno na escola. É preciso 
entender como o aluno se organiza e atua para aprender. 
Nesta construção de conhecimento, encontra-se o que se entende por 
aprendizagem significativa. Denomina-se a aprendizagem significativa quando 
corresponde às reais necessidades e interesses dos alunos. As hipóteses formuladas 
estão de acordo com a atividade do próprio aluno, com o aluno pensante. Ele aprende 
um conteúdo, um conceito, explica um fenômeno, resolve problemas, adquire normas de 
comportamento e valores. 
Nesta perspectiva, o aluno é capaz de atribuir aos conhecimentos sentido e 
significado, estabelecendo relações entre o que aprende e o que conhece. A construção 
do conhecimento é processo de elaboração pessoal. É o aluno construtor do 
conhecimento. O professor é o mediador que orienta esta construção, orientando-o numa 
direção. 
O pensamento é um dos grandes ausentes no trabalho de nossos alunos. Na 
realidade, na maior parte do tempo transcorrido nas aulas, o que lhes solicitamos é 
atenção para a reprodução mecânica, aplicação de regras e de normas, repetições a 
críticas do que o texto ou o professor afirmam, aproximações do que se considera correto 
ou, inclusive, verdadeiro. Copiar modelos, resolver os problemas da forma correta, 
fornecer a resposta correta. Submissão, pensamento único. 
No entanto, o conhecimento da realidade exige a consideração de opções 
distintas, a formulação de hipóteses, a decisão e a comparação dos resultados para 
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA 
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retroceder ou avançar, a escuta atenta do que é distinto ou divergente, do que é novo. 
Basta que se leiam jornais diferentes para saber até que ponto uma mesma notícia pode 
ser transmitida de diversas maneiras, às vezes, contraditórias. 
A literatura que permanece e é clássica não é a que seguiu modelos e conceitos 
já experimentados, e sim a que abriu novas possibilidades para compreender os seres 
humanos. Há mil formas para expressar cores, sensações ou ideias, para expressar as 
necessidades do homem. A riqueza é a diversidade, e nossa escola tende a confundir 
modelos com repetição. 
Uma atividade de alfabetização valiosíssima é a reescrita de textos. Olhamos, 
falamos e explicamos um conto e voltamos a falar sobre ele, recapitulamos, analisamos 
e comentamos. Depois, pedimos aos alunos, sozinhos, em duplas ou em pequenos 
grupos, que voltem a escrevê-lo à sua maneira. 
O conto original proporciona o esqueleto ou a estrutura que arma o pensamento, 
mas cada aluno contribui com seu modo peculiar de entendê-lo e de expressá-lo. Na 
escrita compartilhada, cada frase deve resultar do acordo entre opiniões distintas. Uma 
vez que a estrutura narrativa tenha ficado clara, a atenção pode centrar-se na linguagem, 
nas diferentes formas de expressão, nas palavras e frases opcionais que se pode 
escolher. Na verdade, centrar-se no que é a escrita dos escritores, e não dos escreventes, 
ou seja, a criação. 
Alfabetizar-se é um processo que tem tido seu sentido ampliado no decorrer dos 
tempos. O conhecimento histórico das diferentes formas de escrita e da escrita e da sua 
inserção na cultura em que surgiram e desenvolveram-se tem-nos mostrado a íntima 
relação existente entre a alfabetização e a cultura. A ideia de que estamos em um 
processo contínuo de alfabetização por toda a vida, conhecendo novos gêneros literários, 
novos estilos e novas linguagens, tem adquirido grande força nestes últimos anos. 
A alfabetização permitirá ao aluno a aprender a ler pensando, estabelecendo e 
descobrindo relações, organizando um sistema. A alfabetização se dá num processo 
natural desde o momento que considerarmos a construção do conhecimento. O uso da 
leitura será mais tranquilo, produtivo e importante se a criança for levada para o mundo 
da leitura através de seu uso social, isto é, contextualizada. 
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A leitura será espontânea, quando os materiais usados forem jornais, revistas, 
bulas, embalagens de produtos usados em casa. O papel do professor é marcante neste 
período de construção da leitura. O professor deve selecionar atividades e tarefas que 
sejam realmente significativas para os alunos. 
As crianças diferem entre si. Por isto, não se pode esperar que todas se 
desenvolvam ao mesmo tempo e do mesmo modo na aquisição de habilidades de leitura 
e escrita. Um bom programa organiza atividades diferentes, em épocas e situações 
diversas, procurando atender às necessidades de todas as crianças. 
A linguagem está diretamente ligada aos interesses e experiências da criança, 
desenvolvendo-se em situações normais de comunicação, na classe e fora dela. A 
linguagem é a expressão do pensamento. Se a linguagem é a expressão do pensamento 
o que a escola deve pensar? Ela é considerada não só expressão do pensamento, não 
só forma de comunicação, mas é também forma de interação entre os indivíduos numa 
sociedade. 
A escola tem que preparar os indivíduos para o desempenho das funções sociais, 
a partir do desenvolvimento de suas aptidões, adaptando aos valores da sociedade, 
através de seu desenvolvimento da cultura individual. Por isso, as atividades devem estar 
centradas na percepção de convívio social, desenvolvendo a consciência de nossas 
construções e trocas simbólicas, não pela anulação das diferenças, mas pela melhor 
inserção num espaço próprio delas, que é muitas vezes o espaço do diálogo e das 
conexões. 
Em nossa sociedade, fala-se para informar, para persuadir, para manter contato 
com os interlocutores. Fala-se para conhecidos ou para um grande público; narram-se 
histórias, dialoga-se. Também se escreve cartas ou bilhetes, telegramas, anúncios, 
requerimentos, relatórios para destinatários variados. Alguns chegam a escrever 
reportagens, ensaios, poemas, crônicas, contos, novelas. 
Cabe ao professor repensar o processo de produção de textos, criando condições 
e oportunidades para o aluno formar estruturas mentais, relacionando pensamentos, 
formando sua própria visão do mundo, desenvolvendo seu espírito crítico, criativo e ao 
aluno cabe entender o para quê e o porquê de fazer uma produção de texto. 
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O início do aprendizado da escrita, como também da leitura, define-se

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