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O cerebelo, segunda maior estrutura encefálica (perdendo apenas para o telencéfalo [cérebro]), ocupa as regiões inferior e posterior da cavidade craniana(fossa posterior da cavidade craniana). Assim como o telencéfalo (cérebro), o cerebelo tem uma superfície com vários giros que aumenta muito a área do córtex (substância cinzenta), permitindo a presença de um número maior de neurônios. Ele é responsável por cerca de um décimo da massa encefálica, embora contenha quase a metade dos neurônios de todo o encéfalo. O cerebelo se localiza posteriormente ao bulbo e à ponte e inferiormente à parte posterior do telencéfalo (cérebro). Um grande sulco conhecido como fissura transversa do cérebro, junto com o tentório do cerebelo – que sustenta a parte posterior do telencéfalo (cérebro) – separa o cerebelo do telencéfalo (cérebro). Nas vistas superior e inferior, o cerebelo tem um formato que lembra o de uma borboleta. A área central menor é conhecida como verme do cerebelo, e as “asas” ou lobos laterais, como hemisférios do cerebelo. Cada hemisfério é composto por lobos separados por profundas e distintas fissuras. Os lobos anterior e posterior controlam aspectos subconscientes dos movimentos da musculatura esquelética. O lobo floculonodular da parte inferior contribui com o equilíbrio. Divide-se em: (1) arquicerebelo: sua parte mais primitiva, formada pelo lobo floculonodular; (2) paleocerebelo, constituído pelo paraflóculo, pela úvula, pela pirâmide e pela porção vermiana do lobo anterior; e (3) neocerebelo (hemisférios), sua parte mais desenvolvida, formado pelas porções laterais e vermianas da parte média do lobo posterior. O paleo e o neocerebelo compõem o corpo cerebelar, separado em lobos anterior e posterior pela cissura primária. A camada superficial do cerebelo, chamada de córtex do cerebelo, é formada por substância cinzenta disposta em uma série de dobras finas e paralelas conhecidas como folhas do cerebelo. Abaixo da substância cinzenta encontram-se tratos de substância branca chamados de árvore da vida, que se assemelham a galhos de uma árvore. Na substância branca estão localizados os núcleos do cerebelo, regiões de substância cinzenta onde se situam os neurônios que conduzem impulsos nervosos do cerebelo para outros centros encefálicos. Na substância branca estão situados os quatro pares de núcleos cerebelares: denteado, globoso, emboliforme e fastigial. Da superfície para a profundidade, são distinguidas três camadas no córtex: a molecular, com suas fibras amielínicas e com poucas células; a camada de células de Purkinje; e a granular, ricamente povoada por células. Três pares de pedúnculos cerebelares conectam o cerebelo com o tronco encefálico. Estes feixes de substância branca são compostos por axônios que conduzem impulsos entre o cerebelo e outras partes do encéfalo. Os pedúnculos cerebelares superiores contêm axônios que se estendem do cerebelo para o núcleo rubro e vários núcleos talâmicos. Os pedúnculos cerebelares médios são os maiores; seus axônios transmitem impulsos para movimentos voluntários dos núcleos pontinos (que recebem informações de áreas motoras do córtex cerebral) em direção ao cerebelo. Os pedúnculos cerebelares inferiores são formados por (1) axônios dos tratos espinocerebelares que trazem informações sensitivas procedentes de proprioceptores no tronco e nos membros; (2) axônios do aparelho vestibular e dos núcleos vestibulares do bulbo que trazem informações de proprioceptores da cabeça; (3) axônios do núcleo olivar inferior que entram no cerebelo e regulam a atividade dos neurônios cerebelares; (4) axônios que se projetam do cerebelo para os núcleos vestibulares do bulbo e da ponte; e (5) axônios que se estendem do cerebelo até a formação reticular. A função primária do cerebelo é avaliar como os movimentos iniciados nas áreas motoras do telencéfalo (cérebro) estão sendo executados. Quando estes movimentos não estão sendo executados corretamente, o cerebelo corrige estas discrepâncias. A seguir, ele envia sinais de retroalimentação para áreas motoras do córtex cerebral por meio de conexões com o tálamo. Estes sinais ajudam a corrigir os erros, tornam os movimentos mais naturais e coordenam sequências complexas de contrações da musculatura esquelética. Além da coordenação de movimentos complexos, o cerebelo é a principal região encefálica que controla a postura e o equilíbrio. Estes aspectos da função cerebelar permitem a execução de várias atividades musculares específicas, desde pegar uma bola de beisebol até dançar e falar. A presença de conexões recíprocas com áreas associativas do córtex cerebral sugere que o cerebelo também possa exercer funções não motoras, como a cognição (aquisição de conhecimento) e o processamento da linguagem. Esta teoria é fundamentada por exames de imagem utilizando RM e TEP (tomografia por emissão de pósitrons; em inglês, PET). Alguns estudos também sugerem que o cerebelo tenha um papel no processamento de informações sensitivas. Embora seja perfeitamente possível a vida sem o cerebelo, esse órgão funciona como um computador THALITA ALBUQUERQUE SOI V – APG 09 programado para interferir no controle dos movimentos. O simples ato, por exemplo, de pegar com a mão um objeto sobre a mesa desencadeia uma série de impulsos nervosos, que se originam no córtex motor cerebral e terminam em sinapses nos motoneurônios da coluna cinzenta da medula. Esses impulsos estimulam simultaneamente o córtex cerebelar, cuja resposta para a área cerebral (retroalimentação) e para a medula corrige, modula, harmoniza, regula, coordena e integra o referido ato motor. As manifestações decorrentes do comprometimento das estruturas cerebelares podem ser assim resumidas: (1) ataxia da marcha, nistagmo e vertigem nas lesões do arquicerebelo; (2) ataxia da marcha e dos membros inferiores nas lesões do paleocerebelo; e (3) hipotonia, disdiadocodicinesia, decomposição dos movimentos, dismetria, disartria, tremores postural e de ação, nistagmo e ataxia da marcha nas lesões do neocerebelo. Vale lembrar que, ao contrário do cérebro, as lesões dos hemisférios cerebelares produzem manifestações homolaterais. Coordenação adequada traduz o bom funcionamento de, pelo menos, 2 setores do sistema nervoso: o cerebelo (centro coordenador) e a sensibilidade proprioceptiva. À sensibilidade proprioceptiva cabe informar continuamente ao centro coordenador as modificações de posição dos vários segmentos corporais. A perda de coordenação é denominada ataxia, a qual pode ser de três tipos: cerebelar, sensorial e mista. Cumpre mencionar que, nas lesões da sensibilidade proprioceptiva, o paciente utiliza a visão para fiscalizar os movimentos incoordenados. Cerradas as pálpebras, acentua-se a ataxia. Tal fato não ocorre nas lesões cerebelares. í A síndrome cerebelar é constituída de alterações da coordenação e do tônus muscular. Podem-se identificar os sintomas próprios da lesão do vérmis e dos hemisférios cerebelares. As alterações dependentes das lesões hemisféricas refletem-se nos membros e são sempre do mesmo lado; as decorrentes da lesão do vérmis localizam-se de modo predominante no tronco. As principais causas são: neoplasias, infecções, distúrbios vasculares (isquemia, hemorragia), intoxicações exógenas (álcool), uso de medicamentos (hidantoinato, piperazina), doença desmielinizante (esclerose múltipla), doenças heredodegenerativas e traumatismos. Os sinais e sintomas são: alterações dos movimentos ativos (ataxia) e alterações do tônus (hipotonia). ■ Alterações dos movimentos ativos (ataxia) ■ Dismetria: constitui um distúrbio na medida do movimento, verificável pelas provas dedo–nariz, calcanhar–joelho e das linhas horizontais ■ Dis ou adiadococinesia: é a dificuldade ou a incapacidade de realizar movimentos rápidos e alternados, como fazer alternadamente supinaçãoe pronação da mão ■ Tremor: chamado tremor intencional, cinético ou cerebelar. Ocorre quando o paciente executa um movimento. Reflete sua descontinuidade ■ Dis ou assinergia: é a dificuldade ou a incapacidade de efetuar um conjunto de movimentos que representam determinado ato. Na mudança da posição deitada para a sentada, por exemplo, o paciente eleva demasiadamente os membros inferiores, dificultando ou impossibilitando essa ação ■ Disartria: é caracterizada pela fala lenta, monótona e explosiva ■ Disgrafia: as letras tornam-se maiores (macrografia) e irregulares ■ Distúrbios dos movimentos oculares: representados pela lentidão e descontinuidade dos movimentos, além da instabilidade na fixação dos olhos ■ Disbasia: marcha do tipo embrioso ou em zigue- zague, com ampliação da base de sustentação. ■ Discronometria é a disfunçãona qual o indivíduo não consegue estimar com precisão a velocidade durante os movimentos. ■ Nistagmo. Movimentos repetitivos rítmicos dos olhos, tipo de nistagmo. ■ Alterações do tônus (hipotonia) ■ Exagero do balanço das extremidades distais dos membros ■ Aumento da passividade ■ Aumento da extensibilidade ■ Reflexos patelar e tricipital pendulares. É conveniente ressaltar que, não obstante a dificuldade para manter o equilíbrio, o sinal de Romberg é negativo, porque o desequilíbrio não se modifica significativamente quando se fecham os olhos. Distúrbios atáxicos > Os sinais e sintomas de ataxia consistem em comprometimento da marcha, fala pouco clara (“escandida”), turvação visual secundária a nistagmo, descoordenação das mãos e tremor aos movimentos. Essas manifestações resultam de acometimento do cerebelo e de suas vias aferentes e eferentes, incluindo as vias espinocerebelares, e do trato frontopontocerebelar proveniente do lobo frontal rostral. A ataxia cerebelar verdadeira deve ser distinguida daquela associada a doenças do nervo vestibular ou do labirinto, pois a última acarreta um distúrbio da marcha associado a grau significativo de tontura ou percepção de movimento. A ataxia cerebelar verdadeira é desprovida dessas queixas vertiginosas, e a marcha instável advém nitidamente de desequilíbrio. As perturbações sensitivas às vezes também simulam o desequilíbrio de uma doença cerebelar; na ataxia sensitiva, o desequilíbrio piora abruptamente quando os impulsos aferentes visuais são removidos (sinal de Romberg). Raras vezes, a fraqueza dos músculos proximais dos membros inferiores simula uma doença cerebelar. No paciente que se apresenta com ataxia, o ritmo e o padrão de aparecimento dos sintomas cerebelares ajudam a estreitar as possibilidades diagnósticas. Um aumento gradual e progressivo dos sintomas com acometimento bilateral e simétrico sugere uma etiologia genética, metabólica, imune ou tóxica. Já sintomas focais unilaterais com cefaleia e redução do nível de consciência, acompanhados de paralisia de nervos cranianos ipsilaterais e fraqueza contralateral, indicam uma lesão cerebelar expansiva.
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