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68 Unidade II Unidade II 5 IDENTIFICAÇÃO DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS 5.1 Introdução Existem diversas técnicas de identificação de compostos orgânicos, pois cada grupo funcional se apresenta de maneira característica, tornando‑os susceptíveis a reações químicas que vão identificá‑los. As mais comuns têm origem na química clássica por meio de ensaios qualitativos, os quais dirão se um determinado composto orgânico possui determinado grupo funcional. Quando se trata de definição mais exata, não apenas a existência ou não, mas a confirmação que o grupo funcional está presente, podemos lançar mão de técnicas instrumentais, como as análises espectroscópicas: espectrofotometria na região do ultravioleta, do visível e no infravermelho e a espectrometria de massas. Já a separação e a quantificação do produto e subprodutos de uma reação são executadas através de cromatografia, que pode ser dividida em cromatografia em camada delgada (CCD), cromatografia líquida de alta eficiência (Clae ou HPLC – do inglês high performance liquid chromatography) e cromatografia a gás. 5.2 Análises cromatográficas A cromatografia é uma técnica antiga de separação de componentes de uma mistura. Iniciou‑se com Friedlieb Ferdinand Runge em 1850, quando ele demonstrou a separação de pigmentos de um corante utilizando apenas um filtro de papel e solvente. Contudo, só em 1901 que Friedrich Goppelsroeder mostrou ao mundo que a separação de componentes de uma mistura sobre um papel com solventes apropriados (fase móvel, aquela que irá passar por todo o papel) era possível graças à ação da capilaridade. Por conta dessa descoberta, ele ficou conhecido como o pai da cromatografia. Em 1941, Martin e Synge publicaram um artigo que tornou a cromatografia mais refinada do ponto de vista da separação de componentes. Pacheco et al. (2015, p. 1.246) destacam o que os autores preceituaram: A fase móvel não necessariamente precisa ser um líquido, mas pode ser um vapor. [...] Separações muito refinadas de substâncias voláteis podem ser conseguidas em uma coluna onde um gás permanente é forçado a fluir através de gel impregnado com um solvente não volátil [...]. A partir disso, em 1952 nascia a cromatografia a gás e, em 1958, a cromatografia líquida. 69 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Cromatografia vem do grego chroma (cor) e graphein (escrever); seu princípio básico é a separação de misturas por meio da qual componentes de uma mistura são separados e distribuídos entre duas fases, estacionária e móvel. 5.2.1 Cromatografia em camada delgada (CCD) Do ponto de vista da química clássica, a CCD é uma técnica muito utilizada no acompanhamento de sínteses orgânicas e na identificação de produtos formados por elas. É uma técnica rápida e de baixo custo, e, assim como qualquer técnica cromatográfica, terá uma fase estacionária de alumina ou sílica e uma fase móvel feita de mistura proporcional de solventes. Os componentes desse ensaio são: uma cromatoplaca (placa de alumínio ou vidro) com uma camada finamente sobreposta a ela, podendo ser alumina ou sílica, que vai compor a fase estacionária; uma cuba que acomodará a fase móvel; um capilar para aplicação da amostra sobre a cromatoplaca; por fim, um sistema revelador para a análise das manchas cromatográficas, podendo ser iodo metálico, lâmpada de UV com comprimentos de onda 254 nm ou 365 nm ou qualquer revelador indicado na literatura. Por ação da capilaridade, a amostra será eluída sobre a cromatoplaca e a separação dos componentes ocorrerá. Ponto de aplicação Placa original Placa desenvolvida Frente de solvente Componente 2 Componente 1 Dist. 1 Dist. 2 Dist. 3 Figura 97 A análise das manchas é feita pelo cálculo de Rf (tempo de retenção) da seguinte forma: Rf = distância percorrida pelo componente (dist.) Distância percorrida pela fase móvel 5.2.2 Cromatografia em coluna Para a cromatografia como técnica instrumental, a fase estacionária é representada por colunas cromatográficas, que são cilindros preenchidos com partículas de alumina, sílica ou sílica derivatizada, porosas, cilíndricas e esféricas devidamente compactadas na coluna. Já a fase móvel pode ser uma mistura de solventes de caráter polar, apolar ou mistura de ambos para a cromatografia líquida e uma mistura de gases inertes para a cromatografia a gás. 70 Unidade II Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento a respeito das técnicas de cromatografia em coluna, leia o artigo a seguir: DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIEIRA, P. C. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola, n. 7, maio 1998. Disponível em: http:// qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf. Acesso em: 20 fev. 2020. A seguir, temos as figuras dos componentes básicos de um cromatógrafo. 0006 254a b c d e 0,5 13 f Figura 98 Lembrete Cromatografia vem do grego chroma (cor) e graphein (escrever); seu princípio básico é a separação de misturas por meio da qual componentes de uma mistura são separados e distribuídos entre duas fases, estacionária e móvel. No cromatógrafo líquido, os componentes essenciais são: a) reservatório de solventes da fase móvel; b) degaseificador; c) bomba; d) injetor de amostra; e) forno de aquecimento; 71 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL f) coluna de separação (fase estacionária); g) detector; h) registrador dos dados obtidos. Controle de fluxo do gás Cilindo de gás Injetor de amostra Forno de aquecimento Registrador Descarte Detector Coluna Figura 99 No cromatógrafo a gás, os componentes essenciais são mostrados no próprio esquema. Os detectores utilizados mais frequentemente são de absorção espectrofotométrica na região do ultravioleta ou fluorescência para compostos, os quais absorvem nessa região do espetro eletromagnético o índice de refração para polímeros e espetrômetro de massas. As análises obtidas pelo registrador no cromatógrafo são chamadas de cromatogramas, na quais ocorrem os picos cromatográficos, que nada mais são do que a interação do componente de uma amostra com a fase estacionária. Essa interação é dada pelo tempo de retenção em minutos ou horas, como mostrado na figura a seguir. 1 2 3 Tempo (min.) Figura 100 72 Unidade II A quantificação dos componentes de uma mistura de compostos orgânicos se dá pela área do pico cromatográfico ou da construção de uma curva analítica de concentrações de uma substância padrão. Essa curva envolve a preparação de soluções diluídas próximas da concentração de interesse, e cada concentração fornecerá as seguintes informações: concentração e área serão plotadas num gráfico de dispersão que vai gerar uma equação da reta, assim, a partir dessa equação, qualquer amostra com concentração desconhecida será facilmente obtida com exatidão. A separação de componentes de uma mistura é feita utilizando colunas preparativas, nas quais consegue‑se obter cada fração isoladamente, e isso é possível porque cada fração terá um tempo de retenção diferente. A cromatografia líquida tem sido amplamente usada em diversas áreas. Na área de farmácia, é aplicada para determinar a pureza óptica e a mistura enantiomérica de fármacos, os quais podem ser separados por meio de fase estacionária quiral. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento a respeito da separação quiral de fármacos, leia o artigo disponível em: SINGH, A. K.; KEDOR‑HACKMANN, É. R. M.; SANTORO, M. I. R. M. Cromatografia líquida com fase quiral aplicada na separação enantiomérica de fármacos cardiovasculares. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas (RBCF), v. 42, n. 4, out./dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ rbcf/v42n4/a11v42n4.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. Observação A produção de fármacos como mistura racêmica pode influenciar em sua ação farmacológica, por isso é importante sua separação. 5.3 Análises espectrofotométricas A identificação estrutural de compostos orgânicos pode ser feita por técnicas espectrofotométricas, como: espectrofotometria nas regiões do ultravioleta(UV 180‑400 nm), visível (Vis 400‑800 nm) e infravermelho (IV 4000‑400cm‑1). No entanto, para quantificação desses compostos, apenas a espectrofotometria UV e Vís são aplicadas. A análise espectrofotométrica estuda as transições eletrônicas e vibracionais de átomos e moléculas em regiões definidas do espectro eletromagnético. 73 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 5.3.1 Espectrofotometria UV‑Vis Envolve técnicas que utilizam equipamentos, os espectrofotômetros, que funcionam basicamente a partir de ondas eletromagnéticas incidentes sobre a amostra a ser analisada, que as absorverá em comprimento de onda específico. Essa absorção ocorre quando a radiação atinge um elétron em seu estado fundamental, e esse elétron passará para um nível de energia maior. Estado fundamental hv Estado excitado Figura 101 A frequência da radiação se relaciona com a energia através da equação: E = hv A quantidade de energia necessária para que ocorra a transição eletrônica do estado fundamental, E0, para o estado excitado, E1, é dado pela equação: (E1 – E0) = hv Essas transições eletrônicas geralmente envolvem elétrons π e n (não ligantes). • Transições σ → σ*: ocorrem nos hidrocarbonetos que possuem apenas ligações σ e elétrons ligantes. Exemplo: propano (máx = 135 nm). • Transições n → σ*: ocorrem em compostos saturados contendo átomos com elétrons não ligantes. Exemplo: cloreto de metila (máx = 173 nm). • Transições n → σ*: são observadas em compostos contendo orbitais π e heteroátomo com elétrons não ligantes. • Transições π → π*: compostos contendo grupo funcional insaturado. Experimentalmente, quando um comprimento de onda (λ) específico consegue excitar o elétron para um nível energético maior ele absorve a energia, e esta pode ser detectada num plano que vai ser registrado chamado de espectro de absorção, que monitora a radiação incidente (Io) e a radiação transmitida (I). A caracterização da absorção se dá pela lei de Lambert‑Beer, que correlaciona absorbância com a concentração das amostras analisadas. 74 Unidade II Luz incidente l0 Luz transmitida I Figura 102 Para que ocorra essa absorção, é necessário que os compostos possuam grupos cromóforos, ou seja, grupos que permitam a passagem do elétron de um nível para outro em determinados comprimentos de onda. Tabela 8 Cromóforos Sistema λ máximo Aldeído ‑CHO 210 280‑300 Amino ‑NH2 195 Brometo ‑Br 208 Carbonila =C=O 195 270‑285 Carboxila ‑COOH 200‑210 Dissulfeto ‑S‑S 194 255 Éster ‑COOR 205 Éter ‑O‑ 185 Nitro ‑NO 2 210 Nitroso ‑NO 302 Tiocarbonila =C=S‑ 205 Tioéter ‑S‑ 194 215 Tiol ‑SH 195 O espectrofotômetro é constituído fundamentalmente pelos componentes mostrados na figura a seguir. 75 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Fonte de energia Lente Monocromador Luz incidente Luz transmitida Amostra Detector/Registrador Figura 103 A fonte de energia depende do comprimento de onda de trabalho: pode ser de deutério para a região do UV e tungstênio para a região do visível. O monocromador seleciona o comprimento de onda de interesse, a amostra é colocada sob a forma de solução em cubeta, que pode ser de quartzo (leituras do UV até Vis), de vidro ou plástico (leituras na região do visível). Por fim, tem‑se o detector que fornecerá o valor de absorbância da amostra em questão. Os resultados poderão ser visualizados por um espectro de absorção que indicará a máxima absorção, e esse espetro é conhecido como espectro de varredura, quando não se conhece o comprimento de onda e deseja‑se obtê‑lo. Cl F3C N O O 200 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 λ (nm) Ab s λ máx 204,5 nm λ máx 247 nm λ máx 292 nm Figura 104 – Estrutura química do efavirenz e seu espectro de varredura Essa técnica é muito utilizada em laboratórios de controle de qualidade, em pesquisa e desenvolvimento e em análises clínicas e toxicológicas para a quantificação de amostras. A quantificação pode ser feita diretamente pela lei de Lambert‑Beer, onde A = ε.b.c (A= absorbância; ε = absortividade molar; b = caminho óptico, em geral dado pelo tamanho da cubeta; c = concentração da amostra). 76 Unidade II Uma outra forma de quantificar uma amostra é pela construção da curva analítica. Várias concentrações de uma substância padrão são lidas no espectrofotômetro, cada uma gera uma absorbância diferente, uma vez que pela lei de Lambert‑Beer a concentração influencia diretamente na absorção. Então, pelo gráfico de dispersão absorbância x concentração, obtém‑se a equação da reta e, a partir dela, qualquer amostra de concentração desconhecida pode ser determinada. 1 2 3 4 5 6 7 0,000 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250 0,300 0,350 0,400 0,450 Ab so rb ân ci a (U CA ) Concentração (µg/mL) y = 0,0538x + 0,0085 R2 = 0,9999 Figura 105 5.3.2 Espectrofotometria no infravermelho É uma técnica de análise de grupos funcionais presentes numa determinada estrutura química. A diferença de outras técnicas espectroscópicas se dá em dois pontos essenciais: o primeiro pelo modo como a região do espectro eletromagnético é visto, não pelo comprimento de onda (λ), mas sim pelo seu inverso – chamado de número de onda; outro ponto está relacionado à interação da radiação com os átomos e moléculas de maneira vibracional, e não por transição eletrônica. Além do exposto, apenas ligações que possuam momento de dipolo variável com o tempo absorvem na região do IV, isso porque, para transmitir energia, caso uma ligação apresentar o dipolo, deve mudar na mesma frequência da radiação que está sendo introduzida. Exemplo de ligação que não absorve nessa região é o H2, pois ele não possui variação de momento de dipolo. Quando uma molécula for irradiada, a energia será absorvida se a frequência da radiação for a mesma da vibração. Como a energia é quantizada, apenas algumas energias (frequências) são absorvidas, correspondendo a variações de 8‑40 KJ/mol. Mesmo sendo quantizado, temos um espectro em forma de bandas, e não em linhas espectrais, e a intensidade das bandas é a medida de absorção. Essas vibrações na molécula vão ser vistas sob diferentes pontos. Nenhuma molécula vibra da mesma maneira que outra, por isso pode‑se dizer que o espetro no IV é uma impressão digital, o que pode ser explicado através da maneira como essas vibrações influem na molécula. 77 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Observação As moléculas aqui são tratadas como se as ligações fossem molas, portanto, passíveis de vibrações em diferentes modos. Há basicamente dois tipos de vibração: a deformação (estiramento) axial, que é o movimento ao longo do eixo da ligação que faz com que ocorra aumento e diminuição da distância interatômica alternadamente, podendo ser simétrico ou assimétrico; e a deformação angular, que ocorre em um átomo ou grupo de átomos vizinhos ao átomo central da vibração, podendo ser simétrica no plano (tesoura e balanço) e assimétrica fora do plano (torção e abano). Deformações axiais Deformações angulares simétrica fora do plano assimétrica fora do plano simétrica assimétrica simétrica assimétrica Figura 106 Para moléculas lineares, essas vibrações podem ocorrer de 3N‑5 formas, e não lineares de 3N‑6 formas, onde N é o número de átomos. A análise no infravermelho utiliza o espectrofotômetro que incide um feixe de luz infravermelho na amostra e a radiação transmitida é varrida por dispersão em uma rede de difração – que é rotacionada –, e as bandas de absorção são detectadas e registradas em espectros de frequência (cm‑1) versus intensidade das bandas. 78 Unidade II Espelhos esféricos Fenda Feixe refletido Fenda Grade de difração Amostra Fonte de radiação Feixe transmitido Figura 107 – Configuração do infravermelho dispersivo Cada grupo funcional possui uma região específica no espectro infravermelho. Para a determinação estrutural, deve‑se considerar em cada frequência a massa dos átomos envolvidos na vibração, o tipo de ligação química,simples, dupla ou tripla (sp>sp2>sp3) e o tipo de vibração (axial ou angular). Na tabela a seguir, pode‑se ver as bandas de absorção e sua intensidade para diferentes grupos funcionais. Tabela 9 Grupos funcionais Posição da banda em cm‑1 Intensidade de absorção Alcanos 2960‑2850 Médio a forte Alcenos 3100‑1640 Médio Alcinos 3300‑2100 Médio Haletos de Alquila 800‑500 Forte Álcoois 3650‑3400 Forte/largo Aminas 3500‑3300 Médio Carbonilas 1780‑1670 Forte Nitrilas 2260‑2210 Médio Nitrocompostos 1540 Forte Fonte: Silverstein (2005, p. 120‑124). 79 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Como o arranjo dos grupos funcionais de uma molécula são específicos, suas vibrações no espectro também serão assim. Cada grupo, embora tenha uma região delimitada, aparecerá em uma área específica. R HC O R RC O R ORC O R OHC O R NH2C O Aldeído 1690‑1740 cm‑1 Cetona 1680‑1750 cm‑1 Éster 1735‑1750 cm‑1 Ácido carboxílico 1710‑1780 cm‑1 Amida 1630‑1690 cm‑1 Figura 108 A partir dos espectros, pode‑se obter a informação dos grupos que compõem a molécula de interesse a elucidar, desde que a amostra seja de alta pureza, as bandas se mostrem finas (com exceção para a hidroxila), a intensidade das bandas seja razoável, o espectrômetro esteja devidamente calibrado e o preparo da amostra corretamente identificado. Se em solução, o solvente e a concentração devem ser identificados bem como a cubeta. Exemplos são mostrados nas figuras a seguir. Número de onda cm‑1 4000 80 85 90 95 100 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 Tr an sm itâ nc ia (% ) dimetilsulfóxido H3C CH3 S O Figura 109 80 Unidade II Tr an sm itâ nc ia (% ) 4000 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2000 2981 1752 1055 1250 Estiramento C‑H alquila Acetato de etila Estiramento C = O éster Estiramento C‑O Número de onda cm‑1 H O H H H H H H C C O C C H Figura 110 6 ESTEREOQUÍMICA 6.1 Introdução Para realmente entender como os compostos orgânicos funcionam, é vital conhecer conceitos como: isomeria, tipos de isômeros e análise conformacional. Todos esses tópicos são cruciais nos estudos de estereoquímica, área da química orgânica. Sua importância se dá não apenas na visualização de moléculas no campo tridimensional, mas também no entendimento dos mecanismos de reações orgânicas, na espetroscopia e na introdução de fármacos na terapêutica. Todo o conhecimento acerca de estereoquímica se inicia com Louis Pasteur (1848), quando estudou porque o ácido tartárico cristalizava em tonéis de vinho. Ele associou estudos de química, cristalografia e óptica para explicar a parte externa dos cristais, sua constituição estrutural e o desvio de uma luz polarizada. A partir desse estudo, foi possível separar o mundo mineral do mundo orgânico, pois em suas observações ficou provado que compostos orgânicos, com determinadas características (quiralidades), podiam desviar a luz polarizada. Mais tarde (1874), dois jovens pesquisadores, J. H. Van’t Hoff e J. A, Le Bel, em estudos independentes provaram que quatro átomos ou grupo de átomos ao redor de um carbono central possuíam disposição espacial tetraédrica. Para ter ideia do que foi estudado por esses pesquisadores, cabe destacar a afirmação de que os quatro hidrogênios do metano eram equivalentes. Passados dez anos, essa descoberta finalmente foi aceita pela comunidade científica. 81 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Antes, porém, de adentrar o mundo da estereoquímica, vale ressaltar alguns conceitos importantes: • Isômeros: diz‑se que há formação de isômeros quando os compostos formados possuem a mesma fórmula química molecular, mas com propriedades químicas e físicas diferentes. • Isomeria: estudo dos isômeros e como eles se comportam. • Isomeria estrutural: também chamada de isomeria de constituição ou isomeria plana, refere‑se aos compostos orgânicos que têm a mesma fórmula molecular e diferentes conectividades de seus átomos, como mostrado no exemplo a seguir. H3C CH3 O metoxipropano H3C CH3O etoxietano Fórmulas estruturais e molecularC4H10O Nomenclatura Líquido incolor, P.E. 38,8 ºC Líquido incolor, P.E. 34,6 ºC Propriedades físicas O H3C H O H3C CH3 propanal propanona Líquido incolor, P.E. 49,0 ºC Líquido incolor, P.E. 56,0 ºC Propriedades físicas C3H6O Fórmulas estruturais e molecular Nomenclatura Figura 111 • Isomeria espacial: trata os isômeros por sua disposição espacial e é dividida em dois grupos, isomeria geométrica e isomeria óptica. Lembrete Todo o conhecimento acerca de estereoquímica inicia‑se com Louis Pasteur (1848), quando estudou porque o ácido tartárico cristalizava em tonéis de vinho. 6.2 Isomeria geométrica Esse tipo de isomeria ocorre entre cadeias carbônicas que possuem carbonos insaturados e cicloalcanos. Aos substituintes ligados aos carbonos insaturados, podem fornecer isômeros do tipo cis, trans, E ou Z. 6.2.1 Isomeria geométrica cis/trans Para ocorrer esse tipo de isomeria, deve haver dois átomos ou grupos de átomos idênticos em cada carbono que participa da dupla ligação. 82 Unidade II H2N H3C NH2 H Ligação entre carbonos insaturados Ligantes iguais Figura 112 A determinação espacial cis ou trans vai ser feita a partir de um plano imaginário na dupla ligação. Se os grupos estiverem do mesmo lado do plano, então teremos a formação do isômero cis; caso eles estejam em lados opostos ao plano, ele será denominado trans. H2N H3C NH2 H H2N H3C NH2 H Isômero cis Isômero trans Figura 113 Para que esse tipo de isomeria de fato ocorra, teremos: R2 R4 R1 R3 Figura 114 Onde R1≠R2 e R3≠R4 Para a nomenclatura dos compostos isoméricos geométricos, basta adicionar cis ou trans no início do nome do composto. Cis‑but‑2‑eno Trans‑but‑2‑eno CH3 HH H3C H CH3H H3C Figura 115 Para os compostos cíclicos, além de terem que possuir apenas ligações saturadas, a estrutura química deve apresentar ao menos dois ligantes diferentes em pelo menos dois átomos de carbono. O plano que vai identificar o tipo de isômero é o mesmo que a ligação saturada. 83 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Cl Cl H H Cl ClH H Figura 116 – Cis‑1,2‑diclorociclopropano / trans‑1,2‑diclorociclopropano 6.2.2 Isomeria E/Z Esse tipo de isomeria ocorre quando há a dupla ligação, porém pelo menos três de seus ligantes são diferentes. Como determinar, então, os isômeros E e Z? A resposta é: agrupar os ligantes em ordem decrescente de número atômico do átomo ligado diretamente à dupla ligação. Se os ligantes de maior número atômico estiverem do mesmo lado do plano, trata‑se de isômeros Z (Zusammen, palavra derivada do alemão que significa juntos). Caso os ligantes de maior número atômico estejam em lados opostos ao plano, têm‑se isômeros E (Entgegen, palavra alemã que significa opostos). No exemplo a seguir, temos os ligantes metil, cloro e bromo. Pela tabela periódica, o número atômico desses grupos são, respectivamente: C(6), cloro(17), bromo(35) e hidrogênio(1). Z‑2‑bromo‑1‑cloroprop‑1‑eno Br CH3H Cl Onde: a≠b≠c≠d b dc a 1E‑2‑bromo‑1‑cloroprop‑1‑eno CH3 BrH Cl Figura 117 Caso os ligantes diretos tenham o mesmo número atômico, considera‑se o número atômico dos vizinhos, como demonstrado no exemplo a seguir: E‑3‑metil‑pent‑2‑enoZ‑3‑metil‑pent‑2‑eno CH3 CH3H H3C CH3 CH3H H3C Figura 118 Em compostos cíclicos, mantém‑se a regra anterior: H3C CH3 Cl H H3C H Cl CH3 Z‑1‑cloro‑1‑metil‑2‑metilcicloexano E‑1‑cloro‑1‑metil‑2‑metilcicloexano Figura 119 84 Unidade II As representações das ligações em estereoquímica seguem a fórmula de perspectiva de Haworth, em que as ligações não se encontram exatamente no mesmo plano. Assim, ligações representadas com um traço estão no mesmo plano; cunha tracejada significa que o átomo ou o grupo de átomos está atrás do plano; e cunha cheia significa que eles estão à frentedo plano. 6.3 Isomeria óptica Esse tipo de isomeria somente ocorrerá se na estrutura química houver ao menos um carbono assimétrico. Por definição, diz‑se que um carbono assimétrico (também denominado carbono quiral) será aquele que possuir quatro ligantes diferentes em sua composição, e este deverá ser representado com um asterisco. Br F Cl Carbono assimétrico *C H H ClC* F NH2 Figura 120 Alguns conceitos importantes devem ser lembrados antes de se discutir a estereoquímica em si: • Estereoisomeria: fala‑se quando o mais importante é a análise espacial, ou seja, a disposição tridimensional dos átomos ou grupos de átomos ligados ao carbono assimétrico. • Estereoisômeros: são isômeros que têm a mesma fórmula molecular e a mesma conectividade entre os átomos, no entanto, a maneira como estão dispostos espacialmente é diferente. • Análise conformacional: é um termo usado para prever e entender como ocorre a seletividade e o mecanismo das reações através da variação de energia que a estrutura química sofre ao ter seus grupos girando em torno de uma ligação saturada. Tendo em mente esses conceitos, é possível classificar os estereoisômeros como: • Enantiômeros: os compostos formados são imagens especulares não sobreponíveis, só haverá interconversão com quebra de ligação. 85 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Não sobreponíveis Mão esquerda Espelho Mão direita Figura 121 – Imagens especulares não sobreponíveis CH3 Br H H3C CH3 Br H H3C Imagem especular sobreponível Figura 122 – Enantiômeros • Diastereoisômeros: são estereoisômeros formados que não são imagens especulares uma da outra, ou seja, não há sobreposição entre elas. OH ClBr H H H3C CH3 ClBr H H HO Figura 123 – Diastereoisômeros Embora sejam dois compostos diferentes, os enantiômeros possuem propriedades físico‑químicas idênticas, como densidade, solubilidade, ponto de fusão e ebulição, e eles podem ser diferenciados em processos biológicos, por exemplo, na interação com os receptores do nosso corpo. A interação entre esses compostos quirais e os receptores acontecem de maneira muito diferente. Para que os fármacos tenham sua plena ação farmacológica, é necessário que interajam com um receptor. Sabe‑se que essa interação se dá por complementaridade: um enantiômero pode “encaixar” perfeitamente no receptor, enquanto o outro enantiômero não, levando à toxicidade, por exemplo. 86 Unidade II RR CC CO2 – H +NH3 +NH3 –O2CH Figura 124 – Interação fármaco‑receptor Um caso interessante e que explica muito bem esse tipo de interação é a descoberta da talidomida em 1957 por uma indústria alemã. Sua ação antiemética fez com que esse fármaco fosse usado por mulheres grávidas para reduzir as crises de enjoo, e sua prescrição tornou‑se comum em mais de quarenta países. Todavia, em meados de 1960, houve vários casos de bebês com focomelia (anomalia congênita que causa encurtamento dos braços e pernas), e esse fato ficou conhecido como a “tragédia da talidomida” ou “os bebês da talidomida”. Tal anomalia ocorreu porque em sua síntese o produto (talidomida) apresentava carbono assimétrico (quiral) e os testes efetuados não tinham o rigor que se tem nos dias atuais. Essa informação da quiralidade não foi levada tão a fundo, somente após cerca de 10 mil casos de bebês com má‑formação congênita serem detectados pelo mundo ela foi retirada da terapêutica. Hoje, temos sua volta nas prescrições médicas para casos de hanseníase, lúpus e outras doenças, mas há um controle rígido sobre o uso desse fármaco por mulheres que desejam engravidar. O O O ON * N H O O O O N* N H S‑talidomida / ação teratogênica R‑talidomida / ação antiemética Figura 125 Vários são os exemplos que mostram a estereoquímica como aliada para explicar certos fenômenos, tanto químicos quanto biológicos: os vinte aminoácidos naturais são todos assimétricos; o sabor de alguns compostos químicos muda com a configuração; a seletividade de determinados fármacos pode ser explicada pela complementaridade espacial deles com o receptor. Alguns exemplos são mostrados na figura a seguir: 87 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Limoneno H CH3 S CH2CH3 Odor de limão H CH3 R H2C CH3 Odor de laranja Carvona H CH3 S CH2 O O CH3 H CH3 R H2C CH3 Odor de semente de cominho AsparginaS Sabor amargo Sabor doce R H H2N NH2 CO2H O H NH2 NH2 HO2C O DOPAS Antiparkinsoniano Tóxico R HO H OH NH2 CO2H H OH OH NH2 HO2C EpinefrinaS R Tóxico Hormônio HO H H OH HO CH3 HO OH OH CH3 H N H N Figura 126 Saiba mais Para saber mais sobre fármacos quirais e sua ação farmacológica, leia o artigo a seguir: COELHO, F. A. S. Fármacos e quiralidade. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, São Paulo, n. 3, maio 2001. Disponível em: http://qnesc.sbq. org.br/online/cadernos/03/quiral.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. 88 Unidade II 6.3.1 Nomenclatura de enantiômeros A nomenclatura associada aos enantiômeros foi feita por três pesquisadores: R. S. Cahn, C. K. Ingold e V. Prelog. Eles criaram uma regra sequencial (R/S) para designar a disposição espacial dos ligantes do carbono assimétrico: R vem do latim rectus (direita) e agrupa os ligantes em sentido horário; S, do latim sinister (esquerda), agrupando os ligantes em sentido anti‑horário. Sistema Cahn‑Ingold‑Prelog ou R/S Determina‑se o estereocentro, isto é, determina‑se o carbono assimétrico e colocam‑se os ligantes a ele em ordem de prioridade. Os ligantes são colocados em ordem de prioridade, que é dada pelo número atômico (Z) ligado diretamente ao carbono assimétrico; o de menor Z tem prioridade 4, o próximo de mais baixo Z 3 e assim por diante. Para o caso de isótopos, considera‑se o de maior massa atômica. 1 1 4 3 3 2 2 Cl ClBr Br R S F F H H Figura 127 Quando não há possibilidade de se determinar diretamente a prioridade do ligante direto, a prioridade vai ser avaliada pelos vizinhos desse ligante. CH3 H 41 HO 2 ou 3 2 ou 3 CH2 CH3 C C C 3 3 4 H H H H H H (H, H, H) (C, H, H) 1 HO 2 C C H H H Figura 128 Depois, visualiza‑se o ligante de menor prioridade longe do campo de visão. 89 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Se a distribuição dos ligantes (por prioridade) dos enantiômeros estiver no sentido horário, então ele será nomeado R. Se estiver anti‑horário, será designado S. C 2 3 4 1H OH H3C COOH H CC OH COOH CH3 3 2 1 R‑ácido 2 hidroxipropanoico C 2 1 4 33 H CH3HO COOH H CC CH3 COOH OH3 1 2 S‑ácido 2 hidroxipropanoico Figura 129 Caso os ligantes do carbono assimétrico tenham duplas ou triplas ligações, receberão prioridade como se fossem duplicados ou triplicados. C 2 1 4 3H CH2OHHO CHO C 2 1 4 3H CH3H2N COOH C = Z C = Z (Z) (C) C ≡ Z C = Z (Z) (C) (Z) (C) S‑gliceraldeído S‑alanina Figura 130 Observação Em estereoquímica, os átomos ou grupos de átomos que estão dispostos ao longo da sua estrutura química devem ser vistos como um modelo tridimensional. 6.3.2 Propriedades dos enantiômeros: atividade óptica Além da diferenciação através de sistemas biológicos, os enantiômeros podem ser diferenciados quanto à atividade óptica. Essa propriedade é a uma medida do desvio da luz polarizada, o que ocorre do seguinte modo: ao incidir uma luz polarizada sobre um enantiômero, este consegue desviá‑la para a direita ou para a esquerda; seu correspondente tem a mesma capacidade, mas o desvio é feito para o lado oposto. 90 Unidade II Essa propriedade é medida através de um polarímetro: O plano de polarização da luz não teve rotação Direção da propagação da luz Fonte luminosa Luz normal Polarizador Luz‑plano polarizada Tubo contendo amostra de um composto quiral Luz‑plano polarizada Figura 131 – Esquema de um polarizador A luz emitida pela lâmpada passa por um filtro polarizador que a torna polarizada, fazendo com que apenas no comprimento de onda em que se encontra o vetor elétrico chegue até a amostra a ser analisada (geralmenteuma solução contendo amostra e solventes como água, clorofórmio ou etanol). Se a amostra desviar a luz polarizada, ela é chamada de opticamente ativa e a direção e a medida de rotação observadas são obtidas por meio do analisador. Experimentalmente, quando a luz polarizada é desviada no sentido horário, os compostos são denominados dextrogiros ou dextrorrotatórios (dexter, em latim, significa direita), e o enantiômero é designado como (+); já quando ocorre o desvio da luz polarizada no sentido anti‑horário, eles são denominados levogiros ou levorrotatórios (laevus, em latim, significa esquerda) e o enantiômero será designado como (‑). Exemplo de substância que desvia a luz polarizada é o ácido lático, que possui carbono assimétrico, portanto, um enantiômero. H OH COOH Ácido (+)‑lático HHO COOH Ácido (‑)‑lático Figura 132 Para ter um dado quantitativo dessa propriedade óptica, calcula‑se o quanto a substância desvia a luz polarizada, processo chamado de rotação específica [α], a qual pode ser determinada através da equação: [α]tl = α C.l 91 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Onde: α = rotação observada ao fim do experimento, em graus C = concentração do analito em uma solução ou a densidade de um líquido puro, em g.cm‑3 l = comprimento do tubo analisador, em dm T = temperatura da amostra, em oC L = comprimento de onda utilizado A rotação específica vai depender de alguns fatores como: comprimento de onda, (em geral, utiliza‑se lâmpada de Na cujo comprimento de onda é 589,3 nm, simbolizado por D), do solvente (caso a amostra analisada esteja em solução) e da temperatura do ensaio realizado. A direção e a rotação específica são adicionadas à nomenclatura do composto. CH3 HHO CH2 CH3 C CH3 H OH CH2 CH3 C (R)‑(–)‑butan‑2‑ol (S)‑(+)‑butan‑2‑ol �� � � �D25 13 52. º �� � � �D25 13 52. º Figura 133 Tabela 10 – Rotação específica de alguns compostos orgânicos Composto [α]D (graus) Composto [α]D (graus) Cânfora +44.26 Penicilina V +223 Morfina –132 Glutamato monossódico +25,5 Sacarose +66.47 Benzeno 0 Colesterol –31.5 Ácido acético 0 Um composto quiral pode possuir apenas um enantiômero ou pode se apresentar como uma mistura dos dois. Substâncias enantiomericamente puras são chamadas de homochiral ou enantiopuras. Quando se tem a proporção de 1:1 de enantiômeros, diz‑se que ele é uma mistura racêmica e tem rotação líquida zero (em que as rotações causadas pelo par de enantiômeros são anuladas). 92 Unidade II Em uma mistura de enantiômeros, pode‑se determinar a proporção de cada enantiômero através do excesso enantiomérico (ee): ee = quantidade do enantiômero em maior proporção – quantidade do enantiômero em menor proporção Pode‑se ainda determinar a pureza óptica em porcentagem: Pureza óptica (%) = rotação específica observada/rotação específica do enantiômero puro 6.3.3 Substâncias que apresentam mais de um centro quiral ou estereocentro Diastereoisômeros Pode‑se estimar quantos enantiômeros ocorrerão quando se tem mais de um carbono assimétrico na estrutura química através da expressão 2n, onde n expressa o número de carbonos assimétricos. Substâncias que apresentam mais de um estereocentro cujas imagens não sejam especulares são chamadas de diastereoisômeros. O O O O O O H H H H H H H H H HO OH H H H H H H HO HO HO OH HO HO HO A B C D OH HO OH OH OH H H H OH OH OH HO OH R R R S S R R R S R S R Enantiômeros Diastereoisômeros Espelho Figura 134 93 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Compostos meso Compostos meso são definidos como substâncias aquirais que possuem centros quirais mesmo tendo quatro ligantes diferentes. Só existem quando há pares de carbonos assimétricos e são inativos opticamente pela lei da compensação simétrica. COOH1 2 3 4 COOH 2R, 3R 2S, 3S 2S, 3R2R, 3S OH HO H H C C COOH COOHCOOH1 11 2 22 3 3 4 44COOH COOHCOOH OH HOH HO HO H3C H3C H H HOH H HOH C C C C H H Br Br C C C Espelho Espelho COOH COOH Rotação 1 1 2 2 3 3 4 4COOH COOH 2R, 3S 2S, 3R OH HO H H H H OH HO C C C C 180º Idênticos Figura 135 Por fim, podemos separar em grupos os isômeros: Isômeros Compostos moleculares com a mesma fórmula molecular Isômeros constitucionais Isômeros nos quais os átomos possuem conectividade diferente Enantiômeros Estereoisômeros cuja imagem especula é não sobreponível Diastereoisômeros Estereoisômeros que não se sobrepõem Estereoisômeros Isômeros nos quais os átomos possuem conectividade igual, porém com arranjo especial diferente Figura 136 94 Unidade II Resumo Quando compostos orgânicos são produzidos sinteticamente, são desenvolvidos, além do produto principal, subprodutos que precisam ser eliminados da mistura reacional (reagente, solventes, produtos e subprodutos). Para tanto, é necessário lançar mão de técnicas de separação. Outro ponto a considerar é: realmente o produto criado é aquele proposto? Quanto de produto foi produzido? Nesta unidade, essas técnicas foram separadas conforme suas questões características, ou seja, o que se deseja responder. Caso a identificação dos grupos funcionais seja a etapa crítica, pode‑se utilizar técnicas como a espectrofotometria, tanto UV‑Vis quanto IV. Por outro lado, quando se deseja acompanhar uma reação química, a CCD é a técnica mais aplicada, pois é de baixo custo e possui resultados rápidos. Já para a quantificação dos produtos produzidos, a cromatografia em coluna é a técnica a ser usada: além da separação, é possível quantificar cada composto criado numa rota sintética. A separação de misturas racêmicas (quando são produzidos isômeros espaciais) pode ser feita por Clae utilizando‑se uma coluna quiral. O conhecimento dos conceitos de estereoquímica, ou seja, como os isômeros espaciais são produzidos, destacando‑se a formação de isômeros cis/trans ou E/Z para compostos insaturados e R/S para compostos que apresentam carbono assimétrico (carbono quiral), é fundamental quando se trata de produção de fármacos ou de candidatos a fármacos. Esse conhecimento prévio nos leva a identificar tanto os isômeros que possuem atividade biológica (a espacialidade dos grupos químicos de um fármaco é essencial para entender a complementaridade com o receptor), quanto os isômeros que possuem algum tipo de toxicidade (cabe aqui lembrar o evento talidomida). Com o que foi exposto, podemos produzir fármacos com nível de segurança maior para o paciente. 95 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Exercícios Questão 1. (FGV 2012) Considerando a análise de substâncias orgânicas por cromatografia em camada delgada, assinale a alternativa correta. A) Duas substâncias orgânicas jamais terão o mesmo RF (índice de retenção). B) Substâncias que não absorvem radiação na região do ultravioleta não podem ser analisadas por essa técnica. C) Por meio dessa técnica, não é necessário o uso de padrão para identificação prévia de uma substância orgânica. D) Esse método pode ser utilizado para análises quantitativas através do estabelecimento da área da mancha da amostra por densitometria, comparada a um padrão. E) Apenas a mistura de sílica gel e gesso pode ser usada como suporte/fase estacionária em cromatografia em camada delgada. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: pode ocorrer igualdade de RF (índice de retenção). B) Alternativa incorreta. Justificativa: substâncias que não absorvem radiação na região do ultravioleta podem ser analisadas por outro meio, outro revelador. C) Alternativa incorreta. Justificativa: geralmente usamos um padrão para confirmar a substância por comparação de seus RF (que devem ser iguais). D) Alternativa correta. Justificativa: esse método pode ser utilizado para análises quantitativas através do estabelecimento da área da mancha da amostra por densitometria, comparada a um padrão, e, inclusive, pode‑se raspar a sílica na região do RF e fazer a dosagem doque foi eluído. 96 Unidade II E) Alternativa incorreta. Justificativa: várias fases estacionárias podem ser aplicadas. Questão 2. (Uespi) A anfetamina é uma substância com poderosa ação estimulante sobre o sistema nervoso central. É usada no tratamento de pacientes que sofrem de depressão e também em regimes de emagrecimento. Todavia, algumas pessoas utilizam a anfetamina sem orientação médica, com o objetivo de obter a sensação de euforia por ela provocada. A fórmula estrutural da anfetamina, representada a seguir, exemplificando um caso de isomeria é: CH2 NH2 CH CH3 Figura 137 – Fórmula da anfetamina em exercício sobre isomeria óptica A) Geométrica. B) De função. C) De cadeia. D) De compensação. E) Óptica. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: não é geométrica porque não possui ligação dupla entre carbonos que tenham grupos ligantes distintos. B) Alternativa incorreta. Justificativa: não é isomeria de função, porque estamos falando de uma única molécula, e não de outros isômeros, para que seja possível comparar se pertencem à mesma função orgânica, se possuem o mesmo tipo de cadeia ou se possuem heteroátomos em posições diferentes. 97 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL C) Alternativa incorreta. Justificativa: a isomeria de cadeia é um tipo de isomeria plana ou constitucional, ou seja, em que dois ou mais compostos possuem a mesma fórmula molecular (os mesmos elementos químicos e na mesma quantidade), mas se diferenciam pela fórmula estrutural. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a isomeria de compensação é um tipo de isomeria plana, ou seja, a diferença entre os isômeros pode ser identificada por meio da análise da fórmula estrutural plana da molécula. E) Alternativa correta. Justificativa: é um caso de isomeria óptica, em que o carbono assimétrico é mostrado com um asterisco, como se observa na figura a seguir: CH2 NH2 CH* CH3 Carbono assimétrico em molécula de anfetamina
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