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1 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA tutoria 04 Doença de Chagas “Disfagia progressiva” J.S., 62 anos, masculino, pardo, natural da zona rural de Urandi-BA. Em consulta com o médico na ESF, relata que, há cerca de um ano, iniciou com disfagia a alimentos sólidos. Há aproximadamente três meses, a disfagia vem piorando progressivamente e, há um mês, apresenta-se acompanhada de episódios persistentes de regurgitação, com restos alimentares, informa perda de 15 kg em seis meses. O médico, após avaliação clínica, solicita exames laboratoriais, ECG, RX de esôfago contrastado e encaminha para o gastroenterologista. Objetivo 01: explicar a etiologia e o ciclo da doença de Chagas. I. Conceito → Pode também ser chamada de Tripassomíase Americana, é uma antropozoonose causada por um protozoário flagelado (Trypanossoma Cruzi); → Sua transmissão vai estar intimamente ligada aos vetores, ao agente e também aos reservatórios, juntamente com alguns fatores socioeconômicos e culturais. II. Etiologia → Existem três formas: AMASTIGOTA, EPIMASTIGOTA e TRIPOMASTIGOTA forma amastigota ↳ É uma forma com membrana única; se multiplica nas células do hospedeiro vertebrado quando se encontra infectado; ↳ Sua multiplicação acontece por divisão binária e, ao acontecer a eclosão nas células do hospedeiro vertebrado, acaba se diferenciando em tripomastigota, que é a forma sanguínea. forma epimastigota ↳ Sua multiplicação acontece no hospedeiro invertebrado (vetor transmissor), e por esse motivo, não serve para testes diagnósticos no hospedeiro vertebrado; ↳ Se diferencia em tripomastigota metacíclica, e nesta forma, é liberado pelo vetor via fezes ou urina. forma tripomastigota ↳ É a forma mais alongada de todas as outras; não tem capacidade de se multiplicar; ↳ Apresenta duas formas: sanguínea (que é encontrada nos exames parasitológicos de sangue) e metacíclica (forma infectante presente nas fezes ou urina do barbeiro, que é o vetor). a. TRANSMISSÃO transmissão pelo vetor 2 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA → Dentre as formas, é a que tem a maior importância epidemiológica. Sua infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos em solução da pele ou mucosa íntegra, que são eliminados nas fezes ou na urina durante o hematofagismo. transfusão sanguínea → É o segundo mecanismo de importância epidemiológica na transmissão da doença de Chagas; não existe transfusão sem nenhum risco; Período de incubação: 30 a 40 dias transmissão congênita → Vai acontecer quando existirem ninhos de amastigotas na placenta, que acabariam liberando tripomastigotas que chegariam até a circulação fetal. A transmissão pode acontecer através da placenta, podendo ocorrer em qualquer fase da doença ou da gestação (até na hora do parto). acidentes de laboratório → Entre pesquisadores e técnicos que trabalham com o parasito, pessoas infectadas, meios de cultura ou vetor. transmissão oral → Pode acontecer na amamentação (T. Cruzi encontrado em leite materno na fase aguda da infecção); → Ingestão de alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomíneos infectados; → A penetração do parasito pode ocorrer pela mucosa da boca íntegra ou lesada. O parasita resiste á ação do suco gástrico, com período de incubação de 3 a 22 dias; transmissão sexual → Ocorre em casos de homem susceptível com mulher infectada em período menstrual; alguns relatos de eliminação do T. Cruzi no esperma de homens infectados. III. Ciclo de vida → Ciclo HETEROXÊNICO, uma fase de multiplicação intracelular no HV (homem, cachorros, gatos e etc), e extracelular no inseto vetor (triatomíneos); forma vetorial → É a forma mais clássica da doença, onde a infecção é adquirida pelo homem através da transmissão vertical; São insetos popularmente conhecidos como barbeiros. → O ciclo acontece da seguinte maneira: I. O vetor infectado defeca e lança na pele a forma tripomastigota metacíclica; II. Essas formas vão penetrar e invadir células do hospedeiro; III. A forma tripomastigota vai se converter em amastigota, se multiplicando intensamente por divisão binária na célula; IV. Ao romper a célula parasitada, vai 3 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA haver a liberação de tripomastigotas sanguíneas; essa forma pode penetrar em outra célula, levando ao início do cicli (passo 1) ou ser ingerida pelo triatomídeo, dando sequência ao ciclo; V. A forma tripomastigota chega ao estômago do triatomíneo, transformando-se em epimastigota no intestino do inseto; VI. A forma epimastigota se multiplica por divisão binária e transforma-se em tripomastigota metacíclica no reto do inseto, passando para as fezes do triatomíneo, se tornando apta a penetrar em células do hospedeiro mamífero e reiniciar o ciclo. hospedeiro vertebrado → Formas tripomastigotas circulam no sangue dos vertebrados e podem infectar diversos tipos celulares, tais como macrófagos, fibras musculares esqueléticas, fibrocelulas cardíacas e células da glia. Apesar de alguns achados controversos, a maioria dos parasitologistas aceita o conceito de que o T. cruzi penetra nos macrófagos pelo mecanismo da fagocitose. Após a interiorização, ficam envolvidos por uma membrana que delimita o vacúolo fagocitário, mas rapidamente a lisam e escapam para o citoplasma, onde se replicarão. Esse mecanismo e conhecido como fenômeno de “escape”; → Como parasitos intracelulares, os flagelados transformam-se em amastigotas ovalados, que se multiplicam a cada 12 horas por divisão binaria, tornando-se tripomastigotas novamente, por ocasião da ruptura celular e liberação desses microrganismos no sangue. O tempo decorrido desde a penetração na célula até a sua ruptura e de cerca de 3 a 6 dias, de acordo com o tamanho da célula e a cepa do parasito; → O curso da infecção no homem segue, em geral, um padrão típico: no início, a reprodução do T. cruzi, nos tecidos, e exponencial e a parasitemia aumenta gradualmente, facilitando a visualização do protozoário no sangue periférico; com a ativação da resposta imune do hospedeiro, ocorre supressão progressiva da parasitemia, que se torna subpatente quando se instala a fase crônica da enfermidade. Em estados de imunodepressão do hospedeiro, essa parasitemia crônica pode ser significativamente exacerbada. hospedeiro invertebrado → Os tripomastigotas circulantes são infectantes para os triatomíneos vetores da doença. Esses insetos sugam o sangue diretamente dos capilares, aspirando os parasitos para o interior do seu tubo digestivo. No estomago do artrópode, o T. cruzi evolui, inicialmente, para uma forma arredondada com flagelo circundando o corpo, denominada esferomastigota; esta, posteriormente, se transformaria em epimastigota, os epimastigotas, dotados de grande mobilidade, multiplicam-se no intestino médio do inseto, por divisão binaria. Parte deles migra mais tarde para o intestino posterior, aí se diferenciando em tripomastigotas metaciclicos, as formas infectantes para os hospedeiros vertebrados; → O homem e infectado na contaminação da pele ou mucosa, pelas fezes e urina dos insetos, eliminadas durante ou logo após o repasto sanguíneo. Os tripomastigotas metaciclicos contidos nessas dejeções penetram por pequenas soluções de continuidade do tegumento cutâneo ou pelas mucosas integras, infectando posteriormente os macrófagos teciduais locais. Similar dinâmica é observada ao longo da mucosa do trato digestivo, nos casos de contaminação oral da parasitose. Os triatomíneos permanecem infectantes para o homem por toda sua vida e em todos os estádios evolutivos (com exceção dos ovos).Objetivo 02: analisar a doença de Chagas, considerando a epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, formas clínicas, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento e profilaxia. 4 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA IV. Epidemiologia → Afeta cerca de 8 milhões de pessoas e é endêmica nas Américas, desde o México, ao Norte, até a Argentina e Chile, ao Sul. Os países mais afetados são Brasil, Argentina, Venezuela, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. → Elevada morbimortalidade associada principalmente à forma cardíaca crônica, resultante da evolução de cerca de 30% dos indivíduos infectados; destes, pelo menos 10% terão formas mais graves. → Entre as doenças infecto parasitárias, constitui a 4ª causa de morte de indivíduos maiores de 45 anos no Brasil. → É hoje considerada uma endemia urbana, em consequência da migração de grandes contingentes populacionais da região rural para áreas urbanas. V. Fisiopatologia → Três são os processos patológicos fundamentais que o T. cruzi induz no tecido dos vertebrados: a resposta inflamatória, as lesões celulares e a fibrose. Esses processos, que são sequenciais e, o que é mais frequente, simultâneos e inter- relacionados, podem ocorrer em qualquer tecido ou órgão, acometendo, contudo, com maior frequência e gravidade, o coração, o tubo digestivo e o sistema nervoso; resposta inflamatória ↳ O T. cruzi parasita preferencialmente macrófagos, fibroblastos, células de Schwann e miócitos estriados; ↳ Enquanto as células parasitadas permanecem integras, não ha inflamação em torno delas. Em determinado momento do ciclo evolutivo, a célula parasitada se rompe, liberando no interstício as formas epi, tripo e amastigotas do parasito (integras ou degeneradas) e restos da célula hospedeira, induzindo a resposta inflamatória. lesões celulares ↳ Podem ser de natureza e intensidade variadas, desde degenerações discretas até a morte (necrose), ocorrendo em células parasitadas ou não pelo T. cruzi; ↳ Como o T. cruzi se multiplica dentro das células, ele causa alterações significativas: ∴ Pode ser um fenômeno degenerativo-necrótico da reação inflamatória ∴ O infiltrado contém alta de CD8 e um número menor de CD4, macrófagos e TNF-α ∴ Aumento de expressão MHC-1 – citotoxicidade mediada por LT nas fibras cardíacas fibrose ↳ Acontece lenta e progressiva, e no coração, começa nos primeiros dias de infecção; ↳ É o principal fator responsável pela perda progressiva da atividade contrátil do coração; ↳ Não existe nenhuma outra miocardite em que a fibrose seja tão significante; ↳ Origina áreas irregulares de formação colágena, com poucos capilares, sendo uma fibrose de substituição de miocélulas desaparecidas, que surge principalmente em focos (o conjunto dos focos causa o quadro final, geralmente com arritmia e IC); ↳ É um processo de imunoinflamação – alta síntese de colágeno tipo 1 e 3; ↳ Fibrose pode ter cura, que pode ser antes do final da flogose – perspectiva tratamento. patogenia na fase aguda VI. Manifestações clínicas VI. Diagnóstico VII. Tratamento 5 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA VIII. Profilaxia referências • Veronesi- Doenças infecciosas e parasitárias- 8ª ed; • Cecil- Medicina Interna- 23ª ed;
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