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SEPSE SEPSE Definição: Sepse é um quadro de disfunção orgânica aguda que ameaça a vida, desencadeado por uma resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção (Infecção + SOFA >=2). Nos dias de hoje, o diagnóstico de sepse não depende mais do diagnóstico de SIRS. Fisiopatologia: Para que ocorra sepse, é preciso que a secreção de citocinas pró-inflamatórias ultrapasse os limites de uma resposta estritamente LOCAL tornando-se uma resposta SISTÊMICA à infecção, quer dizer, os fenômenos de ativação vascular e leucocitária observados nas imediações do processo infeccioso inicial passam a ser observados em órgãos e tecidos à distância, mesmo na ausência de infecção direta destes. Alguns autores chamam isso de inflamação intravascular maligna. Os mecanismos que explicam a “transição” de uma resposta local para uma resposta sistêmica desregulada ainda não são totalmente compreendidos, mas acredita-se que o processo seja multifatorial. As principais hipóteses (não mutuamente exclusivas) são: (1) certos constituintes dos micro-organismos possuiriam maior capacidade de estimulação da imunidade inata – são os chamados “superantígenos”, como toxinas específicas produzidas somente por cepas mais virulentas; (2) uma carga muito grande de antígenos invasores pode levar a uma secreção proporcionalmente mais alta de citocinas, de modo que as citocinas produzidas em nível local inevitavelmente “vazam” para a circulação sistêmica; (3) alguns indivíduos possuiriam polimorfismos genéticos que os tornariam mais propensos à sepse (ex.: síntese exagerada de citocinas pró-inflamatórias); (4) sabe-se que junto com a produção de citocinas pró-inflamatórias ocorre secreção concomitante de citocinas anti-inflamatórias. Se esta também for excessiva, o hospedeiro acaba ficando paradoxalmente mais propenso à invasão e disseminação dos patógenos invasores, de modo a favorecer a perpetuação do estímulo séptico, criando um ciclo vicioso. Disfunção orgânica: A disfunção orgânica que acompanha a sepse começa pelo mau funcionamento das células individuais, em nível molecular. Este fenômeno não é totalmente compreendido, e se acredita que seja multifatorial. Seus mecanismos seriam: (1) hipóxia celular, devido à diminuição do aporte de O2 aos tecidos, secundária às alterações circulatórias generalizadas da sepse; (2) efeito citopático direto das citocinas pró-inflamatórias e/ou antígenos invasores; (3) disfunção das mitocôndrias (“envenenamento mitocondrial”), rompendo a complexa cadeia de reações da fosforilação oxidativa, que resulta na síntese de ATP, o que explica o bloqueio do metabolismo aeróbio celular mesmo quando o aporte de O2 aos tecidos ainda não se encontra muito diminuído; (4) aumento na taxa de apoptose (morte celular programada), provavelmente em decorrência de todos os fatores citado. Nenhum órgão está protegido dos efeitos da sepse. Na medida em que o processo evolui, o paciente pode atingir o estágio de “disfunção orgânica múltipla”, isto é, disfunção multiorgânica progressiva e cumulativa, cuja letalidade é de virtualmente 100% quando 3 ou mais órgãos apresentam critérios de disfunção aguda. Os órgãos e sistemas mais afetados na sepse são: (1) circulação; (2) pulmões; (3) tubo digestivo; (4) rins; e (5) SNC. Fatores de risco: Os principais fatores de risco para sepse são: (1) internação em CTI; (2) infecção nosocomial; (3) bacteremia; (4) idade avançada; (5) imunodepressão; (6) história de hospitalização prévia, principalmente se a causa da internação foi uma infecção; (7) pneumonia. Diagnostico (SOFA e Q-SOFA): Avaliação clínica e tratamento: A sepse é uma emergência médica, e seu tratamento deve ser imediato. As prioridades terapêuticas são: (1) proteger a via aérea; (2) assegurar a ventilação e as trocas gasosas; (3) obter acesso vascular e administrar fluidos para restaurar a volemia e a perfusão tecidual; (4) ministrar antibioticoterapia empírica direcionada contra os germes mais provavelmente envolvidos. Recomenda-se que nos primeiros 45 minutos do atendimento os seguintes exames sejam coletados (sem prejuízo às manobras de suporte anteriormente citadas): (1) exames de sangue “de rotina”; (2) lactato sérico; (3) gasometria arterial; (4) amostras de hemocultura obtidas de dois sítios periféricos distintos e de um cateter venoso profundo, se houver. Cada amostra deve ser dividida em frascos para aeróbios e anaeróbios (isto é, 2 amostras produzem 4 “garrafinhas” de hemocultura: 2 para aeróbios e 2 para anaeróbios); (5) culturas de sítios facilmente acessíveis (ex.: escarro, urina), desde que haja suspeita clínica de infecção nesses locais; (6) exames de imagem da fonte suspeita (ex.: RX de tórax, USG/TC de abdome). A antibioticoterapia empírica (aquela que é iniciada antes do conhecimento do resultado das culturas e antibiograma) deve ser ministrada dentro da primeira hora do atendimento. O esquema deve ser de “amplo espectro”, isto é, deve prover cobertura contra múltiplos patógenos potencialmente envolvidos. Em muitos casos é necessário também obter o “controle” do foco infeccioso, em associação à antibioticoterapia sistêmica. Na prática, este termo significa “drenagem de pus” e/ou “retirada de material exógeno infectado”. São exemplos frequentes: drenagem de abscessos, lavagem da cavidade articular, desobstrução urinária/biliar, retirada de cateter venoso profundo infectado. Recomenda-se que as medidas para controle do foco infeccioso sejam tomadas nas primeiras 6-12h do atendimento. Após conhecimento do resultado das culturas e antibiograma, o tratamento antimicrobiano deve ser reajustado. Neste momento, ele pode ser mantido, ampliado ou de-escalonado. O ideal é que se escolha a droga com menor espectro de ação possível, que de preferência tenha pouca toxicidade e baixo custo. Em média, a duração do tratamento antimicrobiano na sepse deve girar em torno de 7-10 dias. A ressuscitação volêmica precoce e agressiva, utilizando fluidos intravenosos, é outra etapa crucial da conduta. O fluido de escolha é a salina isotônica (ex.: SF 0,9%, Ringer Lactato). A meta de PAM (Pressão Arterial Média) é ≥ 65 mmHg. Uma das metas de perfusão tecidual é manter o débito urinário > 0,5 ml/kg/h. Outra é a normalização do lactato sérico (recomenda-se dosar o lactato de maneira seriada, a cada 6h). O ideal é que a ressuscitação volêmica atinja seus objetivos nas primeiras três horas do atendimento. OBS: Choque séptico é um subtipo especial de sepse caracterizado por profundas alterações circulatórias, celulares e metabólicas, acarretando risco de óbito superior ao da sepse (≥ 10% versus ≥ 40%). Seus critérios demandam que o paciente tenha sepse: O lactato medido isoladamente não tem valor preditivo, mas diante do uso de vasopressores e do estado do paciente é um preditor de mortalidade.
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