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Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 85 Unidade 3 – Aprofundamento Aula 8: Estática III Para que se decida tanto a forma quanto as dimensões adequadas a uma barra, torna-se necessário conhecer a influência das propriedades geométricas da seção no seu comportamento. Para tanto, esta aula se concentra na determinação de algumas grandezas e propriedades de uma área plana. 1. Figuras Planas O dimensionamento e a verificação da capacidade resistente de barras, como de qualquer elemento estrutural dependem de grandezas chamadas tensões, as quais se distribuem ao longo das seções transversais de um corpo. Daí vem a necessidade de se conhecer claramente as características ou propriedades das figuras geométricas que formam essas seções transversais. A Figura abaixo ilustra uma barra reta de seção transversal constante, chamada barra prismática. O lado da barra que contém o comprimento (L) e a altura (h) é chamado de seção longitudinal e o que contém a largura (b) e a altura (h) é chamado de seção transversal. Aula 8 – Estática III ESTABILIDADE 86 As principais propriedades geométricas de figuras planas são: • Área (A); • Momento Estático (M); • Centro de Gravidade (CG); • Momento de Inércia (I); • Módulo de resistência (W;) • Raio de giração (i). 2. Área A área de uma figura plana é a superfície limitada pelo seu contorno. Para contornos complexos, a área pode ser obtida aproximando-se a forma real pela justaposição de formas geométricas de área conhecida (retângulos, triângulos, etc). A unidade de área é [L]² (unidade de comprimento ao quadrado). A área é utilizada para a determinação das tensões normais (tração e compressão) e das tensões de transversais ou de corte. 3. Momento Estático Momento estático de um elemento de uma superfície plana (dA) em relação a um eixo é o produto da área do elemento pela sua distância ao eixo considerado. Logo: O momento estático do elemento em relação ao eixo x será: M’x = y . dA O momento estático do elemento em relação ao eixo y será: M’y = x . dA Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 87 Momento estático de uma superfície plana em relação a um eixo é a soma dos momentos estáticos, em relação ao mesmo eixo, dos elementos que formam a superfície total. Logo, o momento estático da superfície em relação ao eixo x será: Mx = Σ y . dA O momento estático da superfície em relação ao eixo y será: My = Σ x . dA Momento estático é uma grandeza escalar com dimensão M = [L]³, podendo ser positivo, negativo ou nulo. É utilizado para a determinação das tensões transversais que ocorrem em uma peça submetida à flexão. O Momento Estático de uma superfície composta por várias figuras conhecidas é a somatória dos Momentos Estáticos de cada figura. Exemplo: Determinar o Momento Estático das figuras abaixo: Como visto em aula anterior, o Centro de Gravidade (CG) de um retângulo é o ponto médio de suas seções. No próximo tópico será retomado o assunto, mas, com os estudos que já temos, é possível resolver a questão: Utilizando as equações do momento estático, temos: M1,X = yCG1 . A1 M2,X = yCG2 . A2 M3,X = yCG3 . A3 Como: MX = ∑ y . A Então: Aula 8 – Estática III ESTABILIDADE 88 MX = M1,X + M2,X + M3,X MX = (yCG1 . A1) + (yCG2 . A2) + (yCG3 . A3) Analogamente, se tivéssemos um elemento vazado da figura abaixo o resultado seria descrito por: MX = M1X – M2X Pois deveria ser “descontada” a parcela faltante do sólido em questão. 4. Centro de Gravidade pela Massa A definição de centro de gravidade é importante para se entender a estabilidade de um corpo. Analogamente ao centro de massa, que corresponde a uma média ponderada das massas das partículas que formam um determinado corpo, o centro de gravidade é um ponto de aplicação do peso total de um corpo. Entenda-se peso total como sendo a soma vetorial de todas as forças gravitacionais que agem em cada partícula constituinte do corpo. O cálculo do centro de gravidade (xCG) de um corpo é feito de maneira simples quando consideramos que a aceleração da gravidade que atua em um corpo é constante em todos os pontos do mesmo. Nesta situação o centro de gravidade coincide como o próprio centro de massa (xCM) com segue a baixo: xCG = xCM = x1 . m1 + x2 . m2 + x3 . m3 + ⋯ + xn . mn m1 + m2 + m3 + ⋯ + mn ∴ xCG = ∑ xi . mi n i=1 ∑ mi n i=1 Onde xi e mi são a coordenada e massa de cada partícula do corpo. É importante notar que a rigor a aceleração da gravidade varia com a altitude, mas para objetos comuns com essa variação é bem sutil podemos desprezá-la. Outra consideração importante a se fazer é que dependendo da simetria do corpo o centro de gravidade coincide com o centro geométrico do corpo. Para corpo com geometrias mais complexas podemos determinar o centro de gravidade do corpo Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 89 suspendendo o mesmo por pontos diferentes e a cada suspensão são traçadas linhas verticais de forma que a interseção entre essas linhas determina o centro de gravidade (figura). O centro de gravidade é importante também na estabilidade dos corpos. Nos automóveis quanto mais baixo for o seu centro de massa e quanto maior for a área de apoio do carro em relação ao chão, maior é sua estabilidade. Isso permite o carro percorrer curvas com uma determinada inclinação sem que o mesmo tombe. Para que isso ocorra a reta vertical que passa pelo centro de massa do um corpo deve sempre passar pela base de apoio, conforme a figura. Exemplo: Uma viga uniforme de comprimento L e massa M repousa sobre dois apoios deparados por uma distância D, localizados em pontos equidistantes do centro de gravidade da viga. Roberto quer ficar em pé na extremidade direita da viga. Qual deve ser a sua massa m para que a viga permaneça em repouso? Resolução: Na figura a baixo temos o esquema do problema. Vamos considerar a origem do sistema como sendo o ponto C (centro geométrico da viga). Para que a viga permaneça em equilíbrio o centro de massa do sistema deve ficar delimitado pelas bases de apoios. Na situação mais extrema de equilíbrio o centro de massa deve ficar exatamente na vertical que passa pelo apoio da direita (D/2 em relação à origem). Temos então: XR = L/2 (coordenada do CM de Roberto); Aula 8 – Estática III ESTABILIDADE 90 XV = 0 (coordenada do centro de massa da viga); XCG = D/2 (coordenada do centro de gravidade do sistema). xCG = ∑ xi . mi n i=1 ∑ mi n i=1 xCG = (M . 0) + (m . L 2 ) M + m xCG = m M + m . 𝐿 2 𝐷 2 = m M + m . 𝐿 2 m = D . m L − D 5. Centro de Gravidade pela Área Como na seção anterior, o Centro de Gravidade também pode ser definido utilizando- se as dimensões do corpo ao invés de sua massa. Os artifícios físicos e matemáticos envolvidos neste conceito não serão tradados aqui por envolverem cálculo diferencial e integral (aprendidos no ensino superior nas disciplinas de cálculo) e conceitos aprofundados em Resistência dos Materiais, também de ensino superior. Na verdade, a demonstração que vem sendo dada até agora será para o desenvolvimento do próximo tópico, que será Momento de Inércia. Existem “2 Momentos de Inércia”: Momento de Inércia de Massa, que é aplicado a problemas de rotação e dinâmica dos corpos rígidos, e o Momento de Inércia de Área, que se utiliza em dimensionamento de estruturas que são sujeitas à deformação. Para o aluno, é suficiente saber que a expressão apresentada a seguir também é válida para se achar ascoordenadas do CG, e é baseada nas equações do Momento Estático. Se um corpo for dividido em partículas mínimas, estas ficam sujeitas à ação da gravidade, isto é, em todas estas partículas está aplicada uma força vertical atuando de Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 91 cima para baixo. A resultante de todas estas forças verticais e paralelas entre si, constitui o peso do corpo. Mesmo mudando a posição do corpo aplicando-lhe uma rotação, ele permanecerá sempre sujeito à ação da gravidade. Isto significa que as forças verticais girarão em relação ao corpo, mas continuaram sempre paralelas e verticais. O ponto onde se cruzam as resultantes dessas forças paralelas, qualquer que seja a posição do corpo, chama-se Centro de Gravidade (CG). Portanto, atração exercida pela Terra sobre um corpo rígido pode ser representada por uma única força P. Esta força, chamada peso do corpo, é aplicada no seu baricentro, ou cento de gravidade (CG). O centro de gravidade pode localizar-se dentro ou fora da superfície. Sendo CG o centro de gravidade de uma superfície plana de área A definido pelo par ordenado (x,y) tem-se as seguintes expressões: MX = yCG . A e MY = xCG . A As expressões exprimem o chamado teorema dos momentos estáticos e possibilitam determinar centro de gravidade da superfície plana, ou seja: yCG = MX/A e xCG = MY/A Onde: xCG = distância do CG da figura até o eixo y escolhido arbitrariamente; yCG = distância do CG da figura até o eixo x escolhido arbitrariamente; MX = momento estático da figura em relação ao eixo x; MY = momento estático da figura em relação ao eixo y; A = Área da Figura. São Propriedades do Centro de Gravidade pela Área: Aula 8 – Estática III ESTABILIDADE 92 • O momento estático de uma superfície em relação a qualquer eixo baricêntrico (que passe pelo CG) é nulo; • Se existe um eixo de simetria na peça, então o CG está contido neste eixo. 5.1. Centro de Gravidade de Área Composta Qualquer polígono pode ser decomposto em retângulos ou triângulos, cujos CG’s podem ser facilmente determinados. O centro de gravidade de uma superfície composta por várias figuras, é expresso por: xCG = ∑ xi .Ai n i=1 ∑ Ai n i=1 e yCG = ∑ xi .𝐴i n i=1 ∑ Ai n i=1 Exemplo: Determinar o Centro de Gravidade da Figura hachurada abaixo: 1º Passo: Encontrar a Área que se deseja A = A1 – A2 – A3 → A = (8 . 15) – (6 x 4) – (4 . 3) → A = 84 cm² 2º Passo: Encontrar os momentos estáticos das seções Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 93 M1,X = yCG1 . A1 → M1,X = 7,5 . (8 . 15) → M1,X = 900 cm³ M2,X = yCG2 . A2 → M2,X = 10 . (6 . 4) → M2,X = 240 cm³ M3,X = yCG3 . A3 → M3,X = 3,5 . (3 . 4) → M3,X = 42 cm³ 3º Passo: Calcular o momento estático da seção hachurada MX = M1,X – M2,X – M3,X MX = 900 – 240 – 42 MX = 618 cm³ 4º Passo: Encontrar o yCG, já que o xCG é evidente = 4 yCG = MX/A → yCG = 618/84 → yCG = 7,36 cm 6. Momento de Inércia de Massa A primeira lei de Newton afirma que todos os corpos devem permanecer em movimento ou em repouso a menos que uma força altere esse estado do corpo (princípio da inércia). Isto é válido para qual quer corpo, seja ele uma partícula ou um corpo rígido de dimensões não desprezíveis. O princípio da inércia é válido ainda para os corpos em rotação, um corpo que gira em torno de um eixo deve permanecer girando a menos que uma força atue sobre ele, costuma-se chamar essa propriedade de inércia rotacional. Da mesma forma que em um movimento linear a inércia do corpo depende de sua massa, no movimento de rotação ela dependerá da massa e também de como essa massa se distribui no corpo em relação ao eixo de rotação. Um corpo rígido em rotação possui associado a ele uma energia cinética K em razão da velocidade vi de cada partícula de massa mi que forma esse corpo: K = 1 2 . m1 . v1 2 + 1 2 . m2 . v2 2 + ⋯ + 1 2 . mn . vn 2 → K = ∑ 1 2 . mi . vi 2 n i=1 A grande dificuldade de se trabalhar com a equação acima é que para cada partícula temos uma velocidade diferente de forma que é mais conveniente substituir vi = ωri uma vez que a velocidade angular de cada partícula é a mesma, senão o corpo não seria rígido. A grandeza ri representa a distância entre cada partícula e o eixo de rotação do corpo. Portanto: K = ∑ 1 2 . mi(ωri 2) = 1 2 . (∑ mi . ri 2) . ω2 Essa grandeza entre parênteses é o que se define como momento de inércia: Aula 8 – Estática III ESTABILIDADE 94 I = ∑ mi . ri 2 Note que quanto maior o momento de inércia do corpo maior será sua energia cinética de rotação, ou seja, maior será o trabalho realizado para desacelerar ou acelerar esse corpo caso ele esteja em repouso. É importante notar ainda que um corpo pode ter um número infinito de momentos de inércia já que pode existir um número infinito de eixos de rotação. Desta forma é conveniente conhecer um teorema chamada de Teorema dos eixos paralelos que afirma mostra uma relação entre o momento de inércia em relação ao centro de massa ICM de um corpo de massa “m” e o Momento de Inércia IP em relação a um eixo paralelo ao primeiro e a uma distância “d” do mesmo. IP = ICM + md² OBS: Para o cálculo do momento de inércia é necessário o conhecimento do cálculo diferencial e integral, que não é do objetivo do curso. Abaixo segue uma tabela com momentos de inércia de alguns corpos: Exemplo: Três massas esféricas (A = 200 g, B = 400 g e C = 450 g) são colocadas nos vértices de um triangulo de lados AB = 30 cm, BC = 40 cm e CA = 50 cm. Determine o momento de inércia em relação ao um eixo imaginário que passa pelo centro da esfera A e seja perpendicular ao plano do desenho. Aula 8 – Estática III UNIDADE 3 – APROFUNDAMENTO 95 Resolução: I = ∑ mi . ri 2 = mA . rA 2 + mB . rB 2 + mC . rC 2 I = 0,2 . 02 + 0,4 . 0,42 + 0,45 . 0,52 I = 0,17 Kgm² Baseado e adaptado de Marcio Varela. Edições sem prejuízo de conteúdo.
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