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FISIOTERAPIA NEUROFUNCIONAL I OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer os principais marcos motores da infância. > Identificar os principais reflexos primitivos e o momento correto de sua inibição. > Analisar os fatores determinantes para o processo de maturação do sistema nervoso e fisiológico. Introdução O desenvolvimento neuropsicomotor normal é caracterizado por maturação gradual do controle postural, integração dos reflexos primitivos e surgimento das reações normais de movimento. De modo geral, esse processo é dividido em faixas etárias, e em cada uma dessas faixas espera-se que a criança consiga desempenhar uma série de marcos motores. Além disso, com o processo de maturação do sistema nervoso e o desen- volvimento neuropsicomotor, os reflexos primitivos devem ser inibidos para o surgimento de reações e movimentos mais organizados e complexos. Neste capítulo, você vai conhecer os principais marcos motores da infância, assim como os principais reflexos primitivos e o momento correto de sua inibi- ção, além dos fatores determinantes para o processo de maturação do sistema nervoso e fisiológico. Desenvolvimento neuropsicomotor normal Nathalie Artigas Marcos motores da infância O desenvolvimento motor é um processo contínuo e que está relacionado com a individualidade de cada criança, pois cada indivíduo tem um cronograma singular para a aquisição das capacidades e habilidades de movimento. O desenvolvimento neuropsicomotor normal se caracteriza pela maturação gradual do controle postural, pela integração dos reflexos primitivos e pelo surgimento das reações normais de movimento (reações de retificação, equi- líbrio e proteção) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; TECKLIN, 2019). Embora exista uma série de classificações (em marcos, faixas etárias, etapas, domínios, etc.), é importante ressaltar que elas não são fixas e de- terminantes, mas representam períodos de tempo aproximados, ou seja, o desenvolvimento está relacionado com a idade, mas não depende dela (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Veja, a seguir, o modelo de classificação por faixas etárias e os marcos motores mais importantes relacionados a ele (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; HAY JUNIOR et al., 2015). � Vida pré-natal (da concepção ao nascimento) � Bebê (do nascimento até 24 meses) ■ 1 a 2 meses – Mantém a cabeça ereta e levanta a cabeça. – Passa da posição de decúbito lateral para decúbito dorsal. – Fita rostos e segue objetos por meio do campo visual. – Deixa cair brinquedos. – Torna-se alerta em resposta à voz. – Reconhece os pais. – Produz vocalizações. – Sorri espontaneamente. ■ 3 a 5 meses – Agarra um cubo (primeiro ulnar e posteriormente com oposição do polegar). – Pega e leva objetos à boca. – Faz som estalando os lábios. – Senta com apoio. – Ri. – Aponta para a comida ao vê-la. – Passa da posição de decúbito dorsal para a de decúbito lateral. Desenvolvimento neuropsicomotor normal2 ■ 6 a 8 meses – Senta sozinho por curto período de tempo. – Alcança com uma mão. – Primeiro alça uma bolinha e depois a agarra usando oposição do polegar. – Imita o gesto de despedida. – Passa objetos de uma mão para outra na linha mediana. – Balbucia. – Passa de decúbito dorsal para decúbito ventral. – Inibe-se com a palavra não. ■ 9 a 11 meses – Fica de pé sozinho. – Imita brincadeiras de palmas e de esconder o rosto. – Usa polegar e indicador para pegar bolinha. – Caminha apoiando-se na mobília. – Segue comandos verbais (por exemplo: “Venha aqui”, “Dá para mim”). ■ 12 meses – Caminha de maneira independente. – Diz “mamãe” e “papai” com significado. – É capaz de usar movimento preciso de pinça para pegar uma bolinha. – Coloca dado dentro de xícara após demonstração. – Dá um brinquedo a pedido. – Tenta construir uma torre de dois cubos. – Aponta para objetos desejados. – Diz uma ou duas palavras. ■ 18 meses – Constrói torre de 3–4 cubos. – Arremessa bola. – Senta na cadeira. – Derruba bolinha da garrafa. – Sobe e desce escadas com ajuda. – Diz de 4-20 palavras. – Compreende comandos mais elaborados. – Carrega e abraça boneca. Desenvolvimento neuropsicomotor normal 3 – Alimenta-se sozinho. ■ 24 meses – Fala pequenas frases, de duas palavras ou mais. – Chuta bola a pedido. – Constrói torre de 6–7 cubos. – Aponta para objetos ou figuras nomeadas. – Pula do chão com os dois pés. – Fica de pé sobre qualquer uma das pernas. – Usa pronomes. – Verbaliza necessidades higiênicas. – Veste sozinho roupas simples. – Vira páginas de livro uma por uma. – Brinca de imitação doméstica. � Infância (dos 24 meses até 10 anos) ■ 30 meses – Anda de costas. – Começa a pular sobre um dos pés. – Usa preposições. – Copia um círculo grosseiro. – Aponta para objetos descritos pelo uso. – Refere-se a si mesmo como “eu”. – Segura giz de cera com o punho. – Ajuda a guardar as coisas. – Mantém uma conversa. ■ 3 anos – Segura giz de cera com os dedos. – Constrói torre de 9–10 cubos. – Imita ponte de três cubos. – Copia círculo. – Diz seu nome e sobrenome. – Anda em triciclo usando pedais. – Veste-se com supervisão. ■ 3 a 4 anos – Sobe escadas alternando os pés. – Começa a abotoar e desabotoar. – Responde a questões usando plurais, pronomes pessoais e verbos. – Responde ao comando de colocar brinquedo dentro, sobre ou embaixo da mesa. – Desenha um círculo quando solicitado a desenhar uma pessoa. Desenvolvimento neuropsicomotor normal4 – Sabe o próprio sexo. – Diz o nome completo. – Copia um círculo já desenhado. – Alimenta-se sozinho. – Descalça sapatos e tira o casaco. ■ 4 a 5 anos – Corre e se vira sem perder o equilíbrio. – É capaz de ficar sobre um dos pés por pelo menos 10 segundos. – Abotoa roupas e coloca o cadarço nos sapatos (não dá o laço). – Conta até quatro de cabeça. – Desenha uma pessoa (cabeça, duas protuberâncias e possivel- mente dois olhos; ainda sem busto). – Sabe os dias da semana. – Dá respostas apropriadas a: “O que a gente precisa fazer quando está com sono? Com fome? Com frio?”. – Copia em imitação. – Tem autocuidado no banheiro. – Brinca na rua por ao menos 30 minutos. – Veste-se sozinho. ■ 5 a 6 anos – É capaz de pegar uma bola. – Salta num pé só com agilidade. – Copia uma cruz já desenhada. – Diz a idade. – Recita números até 10 ou mais. – Conhece mão direita e esquerda. – Desenha pessoa reconhecível com, pelo menos, oito detalhes. – Pode descrever o programa de televisão predileto com alguns detalhes. – Realiza tarefas domésticas simples. – Vai para escola ou ao encontro do ônibus escolar sem supervisão. – Boa habilidade motora, mas pouca consciência de perigos. ■ 6 a 7 anos – Copia um triângulo. – Define palavras pelo uso. – Sabe se é manhã ou tarde. – Desenha uma pessoa com 12 detalhes. Desenvolvimento neuropsicomotor normal 5 – Lê várias palavras de uma sílaba impressas. ■ 7 a 8 anos – Conta de dois em dois e de cinco em cinco. – Dá o laço nos sapatos. – Copia um losango. – Sabe que dia da semana é hoje (não a data ou o ano). – Nenhum sinal de substituição de sons na fala. – Desenha uma figura humana com 16 detalhes. – Lê um parágrafo simples. – Adiciona e subtrai números de um dígito. ■ 8 a 10 anos – Define palavras melhor do que pelo uso. – É capaz de dar uma resposta apropriada para: “O que você deve fazer se você quebra alguma coisa que pertence a outra pessoa? E se um amigo bate em você sem querer?”. – Lê parágrafos mais longos. – Está aprendendo os processos operacionais da adição e da subtração. O desenvolvimento psicomotor normal depende de inúmeros fatores e de experiências internas e externas às quais que a criança é exposta. Por isso, todas essas faixas etárias e os marcos motores relacionados a ela são períodos de tempo para auxiliar o fisioterapeuta, mas não devem ser consi- derados como determinantes. O profissional dele avaliar e considerar todas as questões envolvidas em cada situação e que podem estarinterferindo no desenvolvimento do indivíduo para escolher o manejo ou tratamento adequado (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; HAY JUNIOR et al., 2015). O desenvolvimento motor, processo contínuo e complexo, pode ser dividido em quatro fases que são essenciais para a aquisição de habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013): � fase motora reflexiva (movimentos involuntários); � fase de movimentos rudimentares (movimentos estabilizadores, como obter o controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco; tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar; e movimentos locomotores de arrastar-se, engatinhar e caminhar); � fase de movimentos fundamentais (exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos); Desenvolvimento neuropsicomotor normal6 � fase de movimentos especializados (habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes). Reflexos primitivos O ser humano nasce com uma série de reflexos, cuja presença ou ausência pode ser utilizada como indicativo importante da saúde do sistema nervoso da criança. Os reflexos podem ser adaptativos, que auxiliam na sobrevivência das crianças, ou primitivos (GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os reflexos primitivos são reações automáticas desencadeadas por estí- mulos que impressionam diversos receptores e que compartilham, com o resto do processo evolutivo, as características dinâmicas da maturação infantil. Os reflexos primitivos são controlados pela medula e pelo mesencéfalo, ou seja, regiões encefálicas menos sofisticadas do sistema nervoso, e devem desaparecer até o primeiro ano de vida da criança (GRAEF; WOLFSDORF; GRE- ENES, 2010; BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A avaliação dos reflexos primitivos, por parte do fisioterapeuta, constitui- -se em uma ferramenta útil para verificar a integridade do sistema nervoso da criança. Algumas manifestações reflexas primitivas desaparecem durante os seis primeiros meses de vida, reaparecendo no segundo semestre como atividade motora voluntária; outras devem desaparecer com a evolução normal do sistema nervoso e serão observadas somente em condições patológicas (GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A seguir, estão descritos alguns dos reflexos primitivos, bem como o momento em que eles devem ser inibidos. � Reflexo de marcha: o fisioterapeuta deverá segurar o bebê ereto, de modo que só os pés toquem o solo (Figura 1). Em resposta a esse es- tímulo, o bebê deverá fazer movimentos semelhantes aos de marcha, com alternância de membros durante os passos. Espera-se que esse reflexo desapareça por volta de 16 semanas de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Desenvolvimento neuropsicomotor normal 7 Figura 1. Demonstração do reflexo de marcha. Fonte: Oksana Kuzmina/Shutterstock.com. � Reflexo de engatinhar: com o bebê em decúbito ventral, o fisioterapeuta deverá aplicar uma pressão à sola do pé. Como resposta a isso, o bebê assumirá uma posição de engatinhar, usando membros superiores e inferiores. Espera-se que esse reflexo desapareça em torno dos três aos quatro meses de idade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). � Reflexo de preensão: o fisioterapeuta deverá tocar a palma da mão do bebê com o dedo e, como reposta, o bebê deverá agarrar firmemente o dedo do fisioterapeuta (Figura 2). Espera-se que esse reflexo desapa- reça por volta dos três aos quatro meses de idade (GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011). Desenvolvimento neuropsicomotor normal8 Figura 2. Demonstração do reflexo de preensão. Fonte: Lena Lir/Shutterstock.com. � Reflexo tônico assimétrico do pescoço: com o bebê em decúbito dorsal e acordado, o fisioterapeuta deverá virar a cabeça dele para o lado. Como resposta a esse estímulo, o bebê deverá assumir uma postura de “esgrimista”, com o membro superior estendido para o lado em que a cabeça está virada. Espera-se que esse reflexo desapareça aos quatro meses de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). � Reflexo tônico simétrico do pescoço: com o bebê na posição sentada e com apoio, o fisioterapeuta deverá estender ou flexionar a cabeça e o pescoço do bebê. Como resposta ao estímulo em extensão, o bebê deverá estender os membros superiores e flexionar os membros infe- riores. Como resposta ao estímulo em flexão, o bebê deverá flexionar os membros superiores e estender os membros inferiores. Espera-se que esse reflexo desapareça aos quatro meses de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). � Reflexo de endireitamento do pescoço: com o bebê em decúbito dorsal, o fisioterapeuta deverá virar a cabeça dele para o lado. Em resposta, o bebê movimentará todo o corpo para o mesmo lado em que a cabeça está virada. Primeiro, ele movimentará os membros inferiores e, em seguida, o tronco. Espera-se que esse reflexo desapareça até os seis meses de idade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). � Reflexo de Moro: para a avaliação desse reflexo, o fisioterapeuta de- verá fazer um som alto perto do bebê ou, ainda, deixar o bebê “cair” Desenvolvimento neuropsicomotor normal 9 suave e repentinamente. Como resposta a esses estímulos, o bebê deverá arquear as costas, além de estender pernas, braços e dedos. Espera-se que esse reflexo desapareça aos seis meses de idade (GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011). � Reflexo de Babinski: com o bebê em decúbito dorsal, o fisioterapeuta deverá tocar a sola do pé do bebê, deslizando dos dedos em direção ao calcanhar. Como resposta a esse estímulo, o bebê deverá abrir os dedos em leque (Figura 3). Espera-se que esse reflexo desapareça até os quatro meses de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Figura 3. Demonstração do reflexo de Babinski. Fonte: Krystyna Taran/Shutterstock.com. Com o desenvolvimento neuropsicomotor normal da criança, ocorre o desaparecimento dos reflexos primitivos. O período esperado para que isso aconteça é por volta dos seis aos oito meses. Entretanto, quando esses reflexos primitivos persistirem para além desse período, pode tratar-se de um indício de problema neurológico (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Por exemplo, em condições como a prematuridade, baixo peso ao nascer, distúrbios neurológicos, complicações durante o parto, entre outros, a criança Desenvolvimento neuropsicomotor normal10 pode apresentar uma resposta que perdure mais tempo do que o esperado para os reflexos primitivos. Por isso, é fundamental realizar essa avaliação da função reflexiva e saber o período em que esses reflexos devem desaparecer, tanto para auxiliar em diagnósticos de distúrbios neurológicos quanto para acompanhar da evolução do tratamento fisioterapêutico que está sendo realizado na criança (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os reflexos primitivos são respostas automáticas que auxiliam no de- senvolvimento e sobrevivência do bebê, mas que devem desaparecer ainda no primeiro ano de vida. A avaliação desses reflexos permite inferir sobre a saúde do sistema nervoso e sobre o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Em função disso, é importante que o fisioterapeuta realize a avaliação da atividade reflexiva, como forma de mensurar os efeitos do tratamento que está sendo aplicado, mas também como forma de alerta e busca por diagnósticos mais precisos. No artigo “Reflexos Primitivos de Neonatos Nascidos em uma Mater- nidade no Sul do Brasil” (CENTENARO et al., 2019), você pode encontrar mais informações sobre os reflexos primitivos, assim como os fatores associados a eles em crianças nascidas em uma maternidade de um hospital do norte do estado do Rio Grande do Sul. Fatores determinantes para o processo de maturação do sistema nervoso O sistema nervoso em desenvolvimento é plástico eapresenta uma grande capacidade de reorganizar padrões e sistemas de conexões sinápticas com objetivo de readequar o crescimento do organismo às novas capacidades intelectuais e comportamentais da criança (FACCHINI, 2001). O desenvolvimento motor é um processo contínuo, em que a criança ad- quire inúmeras habilidades motoras que permitem a execução de movimentos complexos e organizados (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Esse processo ocorre de forma dinâmica e é suscetível a ser moldado por uma série de estímulos externos (TECKLIN, 2019). Por isso, a plasticidade do sistema nervoso central nesse momento é tão importante, permitindo que as células em desenvolvimento tenham maior capacidade de adaptação e que a criança passe da realização de movimentos Desenvolvimento neuropsicomotor normal 11 reflexos e involuntários para movimentos complexos e organizados (FACCHINI, 2001; TECKLIN, 2019). De modo geral, o desenvolvimento motor é influenciado por uma ampla variedade de fatores, entre eles: fatores do indivíduo, do ambiente e da tarefa física. É importante ressaltar que esses fatores, sejam de forma isolada ou em conjunto, conseguem causar interferências no processo e nos resultados do desenvolvimento neuropsicomotor da criança. A maturação do sistema nervoso e o desenvolvimento neuropsicomotor são influenciados por esses fatores de forma complexa, considerando a hereditariedade e as experiências de cada criança (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Como exemplos de fatores do indivíduo, estão a genética e inúmeros fatores biológicos que podem afetar o desenvolvimento motor, tais como (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013): � a direção do desenvolvimento (da cabeça aos pés e do centro do corpo para as extremidades); � a taxa de crescimento (conforme o padrão característico universal); � o entrelaçamento recíproco dos mecanismos neurais e motores; � diferenças individuais (cada criança apresenta um cronograma sin- gular, que está relacionado com a hereditariedade e as influências ambientais); � filogenia (habilidades resistentes a influências ambientais externas); � ontogenia (habilidades que dependem do aprendizado e de oportu- nidades ambientais). Entre os fatores ambientais, é possível destacar os laços com os familiares e cuidadores, além dos estímulos ou a privação que os responsáveis impõem aos bebês. Nos dois primeiros anos, é fundamental que a criança seja exposta a diversos estímulos, como forma de promover o desenvolvimento neurop- sicomotor normal. O contrário disso pode gerar atraso ao desenvolvimento normal do sistema nervoso (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Esses fatores ambientais estão diretamente relacionados com a influência do comportamento dos pais, cuidadores e responsáveis em relação ao bebê e à criança nos primeiros anos de vida, principalmente pela dependência dos bebês e das crianças em relação aos seus pais ou responsáveis (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Além dos fatores individuais e ambientais, os fatores das tarefas físicas também podem interferir na maturação do sistema nervoso e no desenvol- vimento neuropsicomotor. Como exemplos de fatores das tarefas físicas Desenvolvimento neuropsicomotor normal12 destacam-se classe social, etnia, gênero, formação étnica e cultural. Em função de o desenvolvimento motor não ser um processo estático, a interação entre fatores ambientais e biológicos pode modificar o curso do desenvolvimento ao longo da vida toda, mas principalmente nos primeiros anos de vida. Portanto, situações como prematuridade, baixo peso ao nascer, transtornos alimen- tares, níveis de aptidão física, fatores biomecânicos (equilíbrio, locomoção e manipulação) e mudanças fisiológicas influenciam o desenvolvimento neuropsicomotor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A partir disso, é possível perceber quão complexo pode ser o processo de desenvolvimento motor e maturação do sistema nervoso e identificar situações em que um fator biológico pode ser agravado por um ambiente privado de estímulos, assim como esse fator biológico pode ser reduzido ou controlado por um ambiente de apoio e com estímulos. Os diversos fatores envolvidos no desenvolvimento neuropsicomotor são mais dependentes da quantidade do que da natureza dos fatores de risco, visto que diferen- tes fatores de risco produzem resultados semelhantes (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Cada bebê ou criança deve ser visto como um indivíduo único e singular, que pode ser exposto a diversas particularidades e experiências que compro- metam ou favoreçam o seu desenvolvimento neuropsicomotor. É essencial que o fisioterapeuta tenha isso em mente durante as avaliações e os trata- mentos fisioterapêuticos de bebês e crianças (FACCHINI, 2001; TECKLIN, 2019; HAYWOOD; GETCHELL, 2004; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Outro detalhe importante nesse processo é que a idade não deve ser considerada um fator determinante do desenvolvimento neuropsicomotor. Embora a classificação seja por faixas etárias, apena fornece ao fisioterapeuta uma orientação ou direção. Antes de determinar e diagnosticar um distúrbio, inúmeros fatores devem ser levados em consideração, pois o atraso no de- senvolvimento neuropsicomotor está relacionado com questões individuais, ambientais e das tarefas físicas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). No Quadro 1, a seguir, você confere a relação entre os reflexos primitivos e o período de inibição esperado. Desenvolvimento neuropsicomotor normal 13 Quadro 1. Reflexos primitivos e o período de inibição esperado Reflexo primitivo Meses 1 2 3 4 5 6 Reflexo de marcha Reflexo de engatinhar Reflexo de preensão Reflexo tônico assimétrico do pescoço Reflexo tônico simétrico do pescoço Reflexo de Babinski Reflexo de endireitamento do pescoço Reflexo de Moro Veja, a seguir, dois exemplos da influência dos fatores determinantes para o processo de maturação do sistema nervoso (individuais, biológicos e da tarefa física). Uma criança nasce em uma família com excelentes condições financeiras. A mãe realizou o acompanhamento pré-natal sem intercorrências e a criança nasceu a termo. A criança criará laços com a família, terá a oportunidade de brincar, brinquedos para explorar, boas condições de estudo, poderá praticar natação, ballet, entre outros esportes desde cedo, sendo estimulada com ques- tões culturais e sem privação alimentar, etc. Embora questões individuais, como a genética, possam interferir, as questões ambientais e de tarefas físicas têm uma maior chance de se sobressair e de permitir que essa criança tenha um desenvolvimento neuropsicomotor dentro do padrão de normalidade. O contrário disso, uma criança privada de alimentos, sem brinquedos, sem estímulo intelectual e cultural, que nasceu prematura, com baixo peso e cujo vínculo familiar não se estabeleceu, tem uma grande probabilidade de que seu desenvolvimento neuropsicomotor não seja normal. Isso não significa que não ocorrerá ou que haverá algum distúrbio, mas esse desenvolvimento pode ser mais demorado em função do déficit de estímulos nessa fase tão importante. Desenvolvimento neuropsicomotor normal14 Referências BOYD, D.; BEE, H. A criança em crescimento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2011. CENTENARO, O. et al. Reflexos primitivos de neonatos nascidos em uma maternidade no sul do Brasil. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamenta, v. 11, n. 3, p. 588-493, abr./ jun. 2019. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/ article/view/6588/pdf_1. Acesso em 19 out. 2019. FACCHINI, L. Brainpower: a compreensão neuropsicológica do potencial da mente de um bebê. Revista Educação, Porto Alegre, ano 24, n. 45, p.93-106, 2001. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. GRAEF, J. W.; WOLFSDORF, J. I.; GREENES, D. S. Manual de terapêutica pediátrica. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. HAY JUNIOR, W. et al.Current pediatria: diagnóstico e tratamento. 22. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. TECKLIN, J. S. Fisioterapia pediátrica. 5. ed. São Paulo: Manole, 2019. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Desenvolvimento neuropsicomotor normal 15
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