Buscar

C01_Desenvolvimento_neuropsicomotor_normal indd

Prévia do material em texto

FISIOTERAPIA
NEUROFUNCIONAL I
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Reconhecer os principais marcos motores da infância.
 > Identificar os principais reflexos primitivos e o momento correto de sua 
inibição.
 > Analisar os fatores determinantes para o processo de maturação do sistema 
nervoso e fisiológico.
Introdução 
O desenvolvimento neuropsicomotor normal é caracterizado por maturação 
gradual do controle postural, integração dos reflexos primitivos e surgimento 
das reações normais de movimento. De modo geral, esse processo é dividido 
em faixas etárias, e em cada uma dessas faixas espera-se que a criança consiga 
desempenhar uma série de marcos motores.
Além disso, com o processo de maturação do sistema nervoso e o desen-
volvimento neuropsicomotor, os reflexos primitivos devem ser inibidos para o 
surgimento de reações e movimentos mais organizados e complexos.
Neste capítulo, você vai conhecer os principais marcos motores da infância, 
assim como os principais reflexos primitivos e o momento correto de sua inibi-
ção, além dos fatores determinantes para o processo de maturação do sistema 
nervoso e fisiológico.
Desenvolvimento 
neuropsicomotor 
normal
Nathalie Artigas
Marcos motores da infância
O desenvolvimento motor é um processo contínuo e que está relacionado com 
a individualidade de cada criança, pois cada indivíduo tem um cronograma 
singular para a aquisição das capacidades e habilidades de movimento. O 
desenvolvimento neuropsicomotor normal se caracteriza pela maturação 
gradual do controle postural, pela integração dos reflexos primitivos e pelo 
surgimento das reações normais de movimento (reações de retificação, equi-
líbrio e proteção) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; TECKLIN, 2019). 
Embora exista uma série de classificações (em marcos, faixas etárias, 
etapas, domínios, etc.), é importante ressaltar que elas não são fixas e de-
terminantes, mas representam períodos de tempo aproximados, ou seja, 
o desenvolvimento está relacionado com a idade, mas não depende dela 
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Veja, a seguir, o modelo de classificação por faixas etárias e os marcos 
motores mais importantes relacionados a ele (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 
2013; HAY JUNIOR et al., 2015).
 � Vida pré-natal (da concepção ao nascimento)
 � Bebê (do nascimento até 24 meses)
 ■ 1 a 2 meses
 – Mantém a cabeça ereta e levanta a cabeça.
 – Passa da posição de decúbito lateral para decúbito dorsal.
 – Fita rostos e segue objetos por meio do campo visual.
 – Deixa cair brinquedos.
 – Torna-se alerta em resposta à voz.
 – Reconhece os pais.
 – Produz vocalizações.
 – Sorri espontaneamente.
 ■ 3 a 5 meses
 – Agarra um cubo (primeiro ulnar e posteriormente com oposição 
do polegar).
 – Pega e leva objetos à boca.
 – Faz som estalando os lábios.
 – Senta com apoio.
 – Ri.
 – Aponta para a comida ao vê-la.
 – Passa da posição de decúbito dorsal para a de decúbito lateral.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal2
 ■ 6 a 8 meses
 – Senta sozinho por curto período de tempo.
 – Alcança com uma mão.
 – Primeiro alça uma bolinha e depois a agarra usando oposição 
do polegar.
 – Imita o gesto de despedida.
 – Passa objetos de uma mão para outra na linha mediana.
 – Balbucia.
 – Passa de decúbito dorsal para decúbito ventral.
 – Inibe-se com a palavra não.
 ■ 9 a 11 meses
 – Fica de pé sozinho.
 – Imita brincadeiras de palmas e de esconder o rosto.
 – Usa polegar e indicador para pegar bolinha.
 – Caminha apoiando-se na mobília.
 – Segue comandos verbais (por exemplo: “Venha aqui”, “Dá para 
mim”).
 ■ 12 meses
 – Caminha de maneira independente.
 – Diz “mamãe” e “papai” com significado.
 – É capaz de usar movimento preciso de pinça para pegar uma 
bolinha.
 – Coloca dado dentro de xícara após demonstração.
 – Dá um brinquedo a pedido.
 – Tenta construir uma torre de dois cubos.
 – Aponta para objetos desejados.
 – Diz uma ou duas palavras.
 ■ 18 meses
 – Constrói torre de 3–4 cubos.
 – Arremessa bola.
 – Senta na cadeira.
 – Derruba bolinha da garrafa.
 – Sobe e desce escadas com ajuda.
 – Diz de 4-20 palavras.
 – Compreende comandos mais elaborados.
 – Carrega e abraça boneca.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 3
 – Alimenta-se sozinho.
 ■ 24 meses
 – Fala pequenas frases, de duas palavras ou mais.
 – Chuta bola a pedido.
 – Constrói torre de 6–7 cubos.
 – Aponta para objetos ou figuras nomeadas.
 – Pula do chão com os dois pés.
 – Fica de pé sobre qualquer uma das pernas.
 – Usa pronomes.
 – Verbaliza necessidades higiênicas.
 – Veste sozinho roupas simples.
 – Vira páginas de livro uma por uma.
 – Brinca de imitação doméstica.
 � Infância (dos 24 meses até 10 anos)
 ■ 30 meses
 – Anda de costas.
 – Começa a pular sobre um dos pés.
 – Usa preposições.
 – Copia um círculo grosseiro.
 – Aponta para objetos descritos pelo uso.
 – Refere-se a si mesmo como “eu”.
 – Segura giz de cera com o punho.
 – Ajuda a guardar as coisas.
 – Mantém uma conversa.
 ■ 3 anos
 – Segura giz de cera com os dedos.
 – Constrói torre de 9–10 cubos.
 – Imita ponte de três cubos.
 – Copia círculo.
 – Diz seu nome e sobrenome.
 – Anda em triciclo usando pedais.
 – Veste-se com supervisão.
 ■ 3 a 4 anos
 – Sobe escadas alternando os pés.
 – Começa a abotoar e desabotoar.
 – Responde a questões usando plurais, pronomes pessoais e verbos.
 – Responde ao comando de colocar brinquedo dentro, sobre ou 
embaixo da mesa.
 – Desenha um círculo quando solicitado a desenhar uma pessoa.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal4
 – Sabe o próprio sexo.
 – Diz o nome completo.
 – Copia um círculo já desenhado.
 – Alimenta-se sozinho.
 – Descalça sapatos e tira o casaco.
 ■ 4 a 5 anos
 – Corre e se vira sem perder o equilíbrio.
 – É capaz de ficar sobre um dos pés por pelo menos 10 segundos.
 – Abotoa roupas e coloca o cadarço nos sapatos (não dá o laço).
 – Conta até quatro de cabeça.
 – Desenha uma pessoa (cabeça, duas protuberâncias e possivel-
mente dois olhos; ainda sem busto).
 – Sabe os dias da semana.
 – Dá respostas apropriadas a: “O que a gente precisa fazer quando 
está com sono? Com fome? Com frio?”.
 – Copia em imitação.
 – Tem autocuidado no banheiro.
 – Brinca na rua por ao menos 30 minutos.
 – Veste-se sozinho.
 ■ 5 a 6 anos
 – É capaz de pegar uma bola.
 – Salta num pé só com agilidade.
 – Copia uma cruz já desenhada.
 – Diz a idade.
 – Recita números até 10 ou mais.
 – Conhece mão direita e esquerda.
 – Desenha pessoa reconhecível com, pelo menos, oito detalhes.
 – Pode descrever o programa de televisão predileto com alguns 
detalhes.
 – Realiza tarefas domésticas simples.
 – Vai para escola ou ao encontro do ônibus escolar sem supervisão.
 – Boa habilidade motora, mas pouca consciência de perigos.
 ■ 6 a 7 anos
 – Copia um triângulo.
 – Define palavras pelo uso.
 – Sabe se é manhã ou tarde.
 – Desenha uma pessoa com 12 detalhes.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 5
 – Lê várias palavras de uma sílaba impressas.
 ■ 7 a 8 anos
 – Conta de dois em dois e de cinco em cinco.
 – Dá o laço nos sapatos.
 – Copia um losango.
 – Sabe que dia da semana é hoje (não a data ou o ano).
 – Nenhum sinal de substituição de sons na fala.
 – Desenha uma figura humana com 16 detalhes.
 – Lê um parágrafo simples.
 – Adiciona e subtrai números de um dígito.
 ■ 8 a 10 anos
 – Define palavras melhor do que pelo uso.
 – É capaz de dar uma resposta apropriada para: “O que você deve 
fazer se você quebra alguma coisa que pertence a outra pessoa? 
E se um amigo bate em você sem querer?”.
 – Lê parágrafos mais longos.
 – Está aprendendo os processos operacionais da adição e da 
subtração.
O desenvolvimento psicomotor normal depende de inúmeros fatores e 
de experiências internas e externas às quais que a criança é exposta. Por 
isso, todas essas faixas etárias e os marcos motores relacionados a ela são 
períodos de tempo para auxiliar o fisioterapeuta, mas não devem ser consi-
derados como determinantes. O profissional dele avaliar e considerar todas 
as questões envolvidas em cada situação e que podem estarinterferindo 
no desenvolvimento do indivíduo para escolher o manejo ou tratamento 
adequado (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; HAY JUNIOR et al., 2015).
O desenvolvimento motor, processo contínuo e complexo, pode ser 
dividido em quatro fases que são essenciais para a aquisição de 
habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013): 
 � fase motora reflexiva (movimentos involuntários);
 � fase de movimentos rudimentares (movimentos estabilizadores, como obter 
o controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco; tarefas manipulativas 
de alcançar, agarrar e soltar; e movimentos locomotores de arrastar-se, 
engatinhar e caminhar);
 � fase de movimentos fundamentais (exploração e na experimentação das 
capacidades motoras de seus corpos);
Desenvolvimento neuropsicomotor normal6
 � fase de movimentos especializados (habilidades estabilizadoras, locomotoras 
e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas 
e elaboradas para o uso em situações crescentemente exigentes).
Reflexos primitivos
O ser humano nasce com uma série de reflexos, cuja presença ou ausência 
pode ser utilizada como indicativo importante da saúde do sistema nervoso 
da criança. Os reflexos podem ser adaptativos, que auxiliam na sobrevivência 
das crianças, ou primitivos (GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 
2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Os reflexos primitivos são reações automáticas desencadeadas por estí-
mulos que impressionam diversos receptores e que compartilham, com o resto 
do processo evolutivo, as características dinâmicas da maturação infantil. 
Os reflexos primitivos são controlados pela medula e pelo mesencéfalo, ou 
seja, regiões encefálicas menos sofisticadas do sistema nervoso, e devem 
desaparecer até o primeiro ano de vida da criança (GRAEF; WOLFSDORF; GRE-
ENES, 2010; BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
A avaliação dos reflexos primitivos, por parte do fisioterapeuta, constitui-
-se em uma ferramenta útil para verificar a integridade do sistema nervoso 
da criança. Algumas manifestações reflexas primitivas desaparecem durante 
os seis primeiros meses de vida, reaparecendo no segundo semestre como 
atividade motora voluntária; outras devem desaparecer com a evolução normal 
do sistema nervoso e serão observadas somente em condições patológicas 
(GRAEF; WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; 
GOODWAY, 2013).
A seguir, estão descritos alguns dos reflexos primitivos, bem como o 
momento em que eles devem ser inibidos.
 � Reflexo de marcha: o fisioterapeuta deverá segurar o bebê ereto, de 
modo que só os pés toquem o solo (Figura 1). Em resposta a esse es-
tímulo, o bebê deverá fazer movimentos semelhantes aos de marcha, 
com alternância de membros durante os passos. Espera-se que esse 
reflexo desapareça por volta de 16 semanas de idade (BOYD; BEE, 2011; 
GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 7
Figura 1. Demonstração do reflexo de marcha.
Fonte: Oksana Kuzmina/Shutterstock.com.
 � Reflexo de engatinhar: com o bebê em decúbito ventral, o fisioterapeuta 
deverá aplicar uma pressão à sola do pé. Como resposta a isso, o bebê 
assumirá uma posição de engatinhar, usando membros superiores e 
inferiores. Espera-se que esse reflexo desapareça em torno dos três 
aos quatro meses de idade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
 � Reflexo de preensão: o fisioterapeuta deverá tocar a palma da mão do 
bebê com o dedo e, como reposta, o bebê deverá agarrar firmemente o 
dedo do fisioterapeuta (Figura 2). Espera-se que esse reflexo desapa-
reça por volta dos três aos quatro meses de idade (GRAEF; WOLFSDORF; 
GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011).
Desenvolvimento neuropsicomotor normal8
Figura 2. Demonstração do reflexo de preensão.
Fonte: Lena Lir/Shutterstock.com.
 � Reflexo tônico assimétrico do pescoço: com o bebê em decúbito dorsal 
e acordado, o fisioterapeuta deverá virar a cabeça dele para o lado. 
Como resposta a esse estímulo, o bebê deverá assumir uma postura de 
“esgrimista”, com o membro superior estendido para o lado em que a 
cabeça está virada. Espera-se que esse reflexo desapareça aos quatro 
meses de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
 � Reflexo tônico simétrico do pescoço: com o bebê na posição sentada 
e com apoio, o fisioterapeuta deverá estender ou flexionar a cabeça e 
o pescoço do bebê. Como resposta ao estímulo em extensão, o bebê 
deverá estender os membros superiores e flexionar os membros infe-
riores. Como resposta ao estímulo em flexão, o bebê deverá flexionar 
os membros superiores e estender os membros inferiores. Espera-se 
que esse reflexo desapareça aos quatro meses de idade (BOYD; BEE, 
2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
 � Reflexo de endireitamento do pescoço: com o bebê em decúbito dorsal, 
o fisioterapeuta deverá virar a cabeça dele para o lado. Em resposta, o 
bebê movimentará todo o corpo para o mesmo lado em que a cabeça 
está virada. Primeiro, ele movimentará os membros inferiores e, em 
seguida, o tronco. Espera-se que esse reflexo desapareça até os seis 
meses de idade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
 � Reflexo de Moro: para a avaliação desse reflexo, o fisioterapeuta de-
verá fazer um som alto perto do bebê ou, ainda, deixar o bebê “cair” 
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 9
suave e repentinamente. Como resposta a esses estímulos, o bebê 
deverá arquear as costas, além de estender pernas, braços e dedos. 
Espera-se que esse reflexo desapareça aos seis meses de idade (GRAEF; 
WOLFSDORF; GREENES, 2010; BOYD; BEE, 2011).
 � Reflexo de Babinski: com o bebê em decúbito dorsal, o fisioterapeuta 
deverá tocar a sola do pé do bebê, deslizando dos dedos em direção 
ao calcanhar. Como resposta a esse estímulo, o bebê deverá abrir os 
dedos em leque (Figura 3). Espera-se que esse reflexo desapareça 
até os quatro meses de idade (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; 
GOODWAY, 2013).
Figura 3. Demonstração do reflexo de Babinski.
Fonte: Krystyna Taran/Shutterstock.com.
Com o desenvolvimento neuropsicomotor normal da criança, ocorre o 
desaparecimento dos reflexos primitivos. O período esperado para que isso 
aconteça é por volta dos seis aos oito meses. Entretanto, quando esses 
reflexos primitivos persistirem para além desse período, pode tratar-se de 
um indício de problema neurológico (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; 
GOODWAY, 2013).
Por exemplo, em condições como a prematuridade, baixo peso ao nascer, 
distúrbios neurológicos, complicações durante o parto, entre outros, a criança 
Desenvolvimento neuropsicomotor normal10
pode apresentar uma resposta que perdure mais tempo do que o esperado 
para os reflexos primitivos. Por isso, é fundamental realizar essa avaliação da 
função reflexiva e saber o período em que esses reflexos devem desaparecer, 
tanto para auxiliar em diagnósticos de distúrbios neurológicos quanto para 
acompanhar da evolução do tratamento fisioterapêutico que está sendo 
realizado na criança (BOYD; BEE, 2011; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Os reflexos primitivos são respostas automáticas que auxiliam no de-
senvolvimento e sobrevivência do bebê, mas que devem desaparecer ainda 
no primeiro ano de vida. A avaliação desses reflexos permite inferir sobre a 
saúde do sistema nervoso e sobre o desenvolvimento neuropsicomotor da 
criança. Em função disso, é importante que o fisioterapeuta realize a avaliação 
da atividade reflexiva, como forma de mensurar os efeitos do tratamento 
que está sendo aplicado, mas também como forma de alerta e busca por 
diagnósticos mais precisos.
No artigo “Reflexos Primitivos de Neonatos Nascidos em uma Mater-
nidade no Sul do Brasil” (CENTENARO et al., 2019), você pode encontrar 
mais informações sobre os reflexos primitivos, assim como os fatores associados 
a eles em crianças nascidas em uma maternidade de um hospital do norte do 
estado do Rio Grande do Sul.
Fatores determinantes para o processo de 
maturação do sistema nervoso
O sistema nervoso em desenvolvimento é plástico eapresenta uma grande 
capacidade de reorganizar padrões e sistemas de conexões sinápticas com 
objetivo de readequar o crescimento do organismo às novas capacidades 
intelectuais e comportamentais da criança (FACCHINI, 2001). 
O desenvolvimento motor é um processo contínuo, em que a criança ad-
quire inúmeras habilidades motoras que permitem a execução de movimentos 
complexos e organizados (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Esse processo ocorre 
de forma dinâmica e é suscetível a ser moldado por uma série de estímulos 
externos (TECKLIN, 2019). 
Por isso, a plasticidade do sistema nervoso central nesse momento é tão 
importante, permitindo que as células em desenvolvimento tenham maior 
capacidade de adaptação e que a criança passe da realização de movimentos 
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 11
reflexos e involuntários para movimentos complexos e organizados (FACCHINI, 
2001; TECKLIN, 2019).
De modo geral, o desenvolvimento motor é influenciado por uma ampla 
variedade de fatores, entre eles: fatores do indivíduo, do ambiente e da tarefa 
física. É importante ressaltar que esses fatores, sejam de forma isolada ou 
em conjunto, conseguem causar interferências no processo e nos resultados 
do desenvolvimento neuropsicomotor da criança. A maturação do sistema 
nervoso e o desenvolvimento neuropsicomotor são influenciados por esses 
fatores de forma complexa, considerando a hereditariedade e as experiências 
de cada criança (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Como exemplos de fatores do indivíduo, estão a genética e inúmeros 
fatores biológicos que podem afetar o desenvolvimento motor, tais como 
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013):
 � a direção do desenvolvimento (da cabeça aos pés e do centro do corpo 
para as extremidades); 
 � a taxa de crescimento (conforme o padrão característico universal); 
 � o entrelaçamento recíproco dos mecanismos neurais e motores; 
 � diferenças individuais (cada criança apresenta um cronograma sin-
gular, que está relacionado com a hereditariedade e as influências 
ambientais); 
 � filogenia (habilidades resistentes a influências ambientais externas);
 � ontogenia (habilidades que dependem do aprendizado e de oportu-
nidades ambientais). 
Entre os fatores ambientais, é possível destacar os laços com os familiares 
e cuidadores, além dos estímulos ou a privação que os responsáveis impõem 
aos bebês. Nos dois primeiros anos, é fundamental que a criança seja exposta 
a diversos estímulos, como forma de promover o desenvolvimento neurop-
sicomotor normal. O contrário disso pode gerar atraso ao desenvolvimento 
normal do sistema nervoso (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Esses fatores ambientais estão diretamente relacionados com a influência 
do comportamento dos pais, cuidadores e responsáveis em relação ao bebê 
e à criança nos primeiros anos de vida, principalmente pela dependência dos 
bebês e das crianças em relação aos seus pais ou responsáveis (GALLAHUE; 
OZMUN; GOODWAY, 2013). 
Além dos fatores individuais e ambientais, os fatores das tarefas físicas 
também podem interferir na maturação do sistema nervoso e no desenvol-
vimento neuropsicomotor. Como exemplos de fatores das tarefas físicas 
Desenvolvimento neuropsicomotor normal12
destacam-se classe social, etnia, gênero, formação étnica e cultural. Em função 
de o desenvolvimento motor não ser um processo estático, a interação entre 
fatores ambientais e biológicos pode modificar o curso do desenvolvimento ao 
longo da vida toda, mas principalmente nos primeiros anos de vida. Portanto, 
situações como prematuridade, baixo peso ao nascer, transtornos alimen-
tares, níveis de aptidão física, fatores biomecânicos (equilíbrio, locomoção 
e manipulação) e mudanças fisiológicas influenciam o desenvolvimento 
neuropsicomotor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). 
A partir disso, é possível perceber quão complexo pode ser o processo 
de desenvolvimento motor e maturação do sistema nervoso e identificar 
situações em que um fator biológico pode ser agravado por um ambiente 
privado de estímulos, assim como esse fator biológico pode ser reduzido ou 
controlado por um ambiente de apoio e com estímulos. Os diversos fatores 
envolvidos no desenvolvimento neuropsicomotor são mais dependentes 
da quantidade do que da natureza dos fatores de risco, visto que diferen-
tes fatores de risco produzem resultados semelhantes (GALLAHUE; OZMUN; 
GOODWAY, 2013).
Cada bebê ou criança deve ser visto como um indivíduo único e singular, 
que pode ser exposto a diversas particularidades e experiências que compro-
metam ou favoreçam o seu desenvolvimento neuropsicomotor. É essencial 
que o fisioterapeuta tenha isso em mente durante as avaliações e os trata-
mentos fisioterapêuticos de bebês e crianças (FACCHINI, 2001; TECKLIN, 2019; 
HAYWOOD; GETCHELL, 2004; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Outro detalhe importante nesse processo é que a idade não deve ser 
considerada um fator determinante do desenvolvimento neuropsicomotor. 
Embora a classificação seja por faixas etárias, apena fornece ao fisioterapeuta 
uma orientação ou direção. Antes de determinar e diagnosticar um distúrbio, 
inúmeros fatores devem ser levados em consideração, pois o atraso no de-
senvolvimento neuropsicomotor está relacionado com questões individuais, 
ambientais e das tarefas físicas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
No Quadro 1, a seguir, você confere a relação entre os reflexos primitivos 
e o período de inibição esperado.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 13
Quadro 1. Reflexos primitivos e o período de inibição esperado
Reflexo primitivo Meses
1 2 3 4 5 6
Reflexo de marcha
Reflexo de engatinhar
Reflexo de preensão
Reflexo tônico assimétrico do 
pescoço
Reflexo tônico simétrico do 
pescoço
Reflexo de Babinski
Reflexo de endireitamento do 
pescoço
Reflexo de Moro
Veja, a seguir, dois exemplos da influência dos fatores determinantes 
para o processo de maturação do sistema nervoso (individuais, 
biológicos e da tarefa física). 
Uma criança nasce em uma família com excelentes condições financeiras. 
A mãe realizou o acompanhamento pré-natal sem intercorrências e a criança 
nasceu a termo. A criança criará laços com a família, terá a oportunidade de 
brincar, brinquedos para explorar, boas condições de estudo, poderá praticar 
natação, ballet, entre outros esportes desde cedo, sendo estimulada com ques-
tões culturais e sem privação alimentar, etc. Embora questões individuais, como 
a genética, possam interferir, as questões ambientais e de tarefas físicas têm 
uma maior chance de se sobressair e de permitir que essa criança tenha um 
desenvolvimento neuropsicomotor dentro do padrão de normalidade. 
O contrário disso, uma criança privada de alimentos, sem brinquedos, sem 
estímulo intelectual e cultural, que nasceu prematura, com baixo peso e cujo 
vínculo familiar não se estabeleceu, tem uma grande probabilidade de que seu 
desenvolvimento neuropsicomotor não seja normal. Isso não significa que não 
ocorrerá ou que haverá algum distúrbio, mas esse desenvolvimento pode ser 
mais demorado em função do déficit de estímulos nessa fase tão importante. 
Desenvolvimento neuropsicomotor normal14
Referências
BOYD, D.; BEE, H. A criança em crescimento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2011. 
CENTENARO, O. et al. Reflexos primitivos de neonatos nascidos em uma maternidade 
no sul do Brasil. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamenta, v. 11, n. 3, p. 588-493, abr./
jun. 2019. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/
article/view/6588/pdf_1. Acesso em 19 out. 2019.
FACCHINI, L. Brainpower: a compreensão neuropsicológica do potencial da mente de 
um bebê. Revista Educação, Porto Alegre, ano 24, n. 45, p.93-106, 2001.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: 
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
GRAEF, J. W.; WOLFSDORF, J. I.; GREENES, D. S. Manual de terapêutica pediátrica. 7. ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2010. 
HAY JUNIOR, W. et al.Current pediatria: diagnóstico e tratamento. 22. ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2015.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3. ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2004. 
TECKLIN, J. S. Fisioterapia pediátrica. 5. ed. São Paulo: Manole, 2019.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos 
testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da 
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas 
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores 
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou 
integralidade das informações referidas em tais links.
Desenvolvimento neuropsicomotor normal 15

Continue navegando