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DEFINIÇÃO Apresentação das estruturas e principais enfermidades dos órgãos que fazem parte do trato gastrointestinal e a dietoterapia específica para cada acometimento. PROPÓSITO Compreender as principais patologias que acometem o trato gastrointestinal e as possíveis intervenções dietéticas. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer as principais enfermidades que acometem o esôfago e a dietoterapia específica para cada acometimento MÓDULO 2 Reconhecer as principais enfermidades que acometem o estômago e a dietoterapia específica para cada acometimento MÓDULO 3 Reconhecer as enfermidades que acometem o intestino delgado e a dietoterapia específica para cada acometimento MÓDULO 4 Reconhecer a estrutura anátomo-funcional do intestino grosso e as principais enfermidades que acometem esse órgão INTRODUÇÃO As dietas têm um papel importante na função do trato gastrointestinal, por isso, a manipulação de sua composição é uma ferramenta terapêutica importante. Têm um efeito direto na fisiologia intestinal, afetando a motilidade, taxa de renovação celular, microbiota bacteriana entre outras funções. A manifestação mais comum dentre as alterações digestivas é a diarreia, a qual está presente em quase todos os acometimentos gastrointestinais e merece atenção especial (WGO, 2017). O risco de desnutrição é grande em qualquer doença que atinja o trato gastrointestinal e, por isso, a necessidade de se explorar ao máximo essas patologias, assim como as intervenções mais adequadas. MÓDULO 1 Reconhecer as principais enfermidades que acometem o esôfago e a dietoterapia específica para cada acometimento Fonte: GBALLGIGGSPHOTO/Shutterstock O esôfago é um órgão tubular musculomembranoso, elástico, com aproximadamente 25 cm; começa no esfíncter cricofaringeano, no nível da sexta vértebra cervical, e termina na cárdia, onde tem comunicação com o estômago. Sua função motora é conduzir o alimento da faringe até o estômago. Possui três camadas: mucosa, submucosa e muscular. O tecido conjuntivo frouxo circunda o esôfago e o prende fracamente ao mediastino. Na mucosa, o epitélio é estratificado e possui uma função de proteção mecânica. A submucosa possui glândulas tubulares que produzem uma substância com função lubrificante e também prepara o alimento pra chegar até o estômago. ATENÇÃO A deglutição, quando afetada, é um dos fatores que podem acometer o esôfago, além disso, a obstrução, a inflamação ou a disfunção do esfíncter são outros transtornos que também pode afetá-lo (MAHAM; ESCOTT-STUMP, 2010). As doenças do refluxo gastroesofágico e a hérnia hiatal são afecções mais comuns nesse orgão (CHEMIN, 2011). DISFAGIA A disfagia é descrita na literatura como sendo a dificuldade para iniciar o processo de deglutição, sendo denominada de disfagia orofaríngea, ou a sensação de que os alimentos sólidos ou líquidos estão retidos na transição da boca para o estômago, sendo denominada de disfagia esofágica. Assemelha-se à percepção de que há um impedimento para a passagem normal do conteúdo deglutido. A deglutição orofaríngea envolve estímulos neuromusculares que acontecem de maneira rápida e altamente coordenada. Inicia com o fechamento labial e termina com a abertura do esfíncter esofágico superior. A coordenação central desta complexa atividade sensório-motora utiliza uma rede difusa de estruturas corticais, subcorticais e do tronco cerebral. Algumas patologias e alguns distúrbios que afetam a região central da deglutição e/ou nervos periféricos, músculos e estruturas envolvidas podem resultar em comprometimento da deglutição orofaríngea, causando a disfagia orofaríngea, um sintoma comum que pode levar pacientes portadores de doenças neurológicas ao óbito (SILVA et al, 2010). Fonte: CGN089/Shutterstock Para os pacientes disfágicos, é fundamental uma dieta adaptada para prevenir a aspiração e sufocação, facilitando a deglutição de maneira segura e independente. A dietoterapia visa melhorar e/ou manter o estado nutricional. A disfagia orofaríngea afetará, principalmente, a ingestão de líquidos, a preocupação com a oferta hídrica é um ponto importante. A reposição pela via enteral ou endovenosa deverá ser levada em consideração durante a conduta. A adaptação da dieta tem como objetivo alcançar as necessidades calórico-proteicas e mitigar os sintomas de dor e/ou desconforto. Quando a desnutrição for diagnosticada no paciente portador de doença esofágica, deve-se considerar a associação de outras vias para administração de nutrientes e calorias (sondas nasoenterais ou ostomias). A deglutição acontece em três fases: oral, faríngea e esofágica. Embora a doença esofágica conduza o raciocínio de focar apenas na fase 3, é demonstrado que os outros segmentos também podem apresentar algum comprometimento. Na doença esofágica com presença de disfagia/odinofagia, a conduta recomendável é a modificação na textura, se necessário, e indicação de suplementos nutricionais (CHEMIN, 2011). Duas características dos alimentos são importantes: textura e viscosidade. A textura é um conjunto de sensações cinestésicas derivadas da degustação dos alimentos e envolve características, como: firmeza, elasticidade, fraturabilidade, mastigabilidade/dureza, adesividade, coesão e viscosidade, sendo essa a variável mais importante no momento da deglutição. Os líquidos ralos podem dificultar a deglutição de pacientes que apresentam o controle oral reduzido e ainda aumentam o risco de aspiração do alimento. Para não ocorrer aspiração, a viscosidade adequada do alimento deve ser determinada, tornando a deglutição mais segura. A viscosidade caracteriza como a resistência do líquido ao fluxo, ou seja, a densidade do líquido. Existem quatro tipos de viscosidade dos alimentos: RALO Líquido regular, sem alteração. Por exemplo: leite. NÉCTAR Líquido levemente espessado, mas fino o suficiente para ser ingerido aos goles, consumido sem colher. Por exemplo: leite batido com fruta e mingau ralo. MEL Líquido espessado que deverá ser consumido com colher. Por exemplo: mingau grosso. PUDIM Apresenta aparência sólida, deve ser consumido com colher, mas, rapidamente, desfaz-se na boca. Por exemplo: flan. Além da determinação da textura e da viscosidade da dieta, é necessário que se correlacione o tipo de disfagia à modificação que será realizada na dieta do paciente. A utilização de substâncias que têm a capacidade de modificar a consistência (espessantes), além de facilitar o processo de deglutição, pode, inclusive, aumentar o aporte calórico e diminuir o risco de aspiração. A textura é modificada de acordo com o grau de disfagia (WAITZBERG, 2009): Quadro 1 - Modificação da textura de acordo com o grau de disfagia. Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau de purê: purê, preparações homogêneas e pudins. Grau de alteração mecânica: semissólidos, frutas e vegetais. Grau de maciez: Sólidos macios, carnes, frutas e vegetais. Qualquer alimento de textura sólida. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: one photo/Shutterstock HÉRNIA HIATAL Provocada por uma protrusão de parte do estômago sobre o músculo diafragmático, causando um alargamento da abertura diafragmática, deixando o esôfago passar e se juntar ao estômago (PENELA, 2017). Tipos de hérnia hiatal: DESLIZAMENTO (MAIS COMUM) A junção gastroesofágica fica acima do pinçamento do diafragma, ocasionando incompetência do EEI e resultando em refluxo gastroesofágico e esofagite. PARAESOFÁGICO Ocorre plenitude gástrica sem alteração da junção gastroesofágica e refluxo. MISTA Combinação das duas anteriores. Fonte: Adaptado de Shutterstock Figura 1 - Hérnia hiatal por deslizamento e paraesofágica Há duas principais causas para a hérnia hiatal: incompetência do hiato diafragmático e aumento da pressão intra-abdominal. INCOMPETÊNCIA DO HIATO DIAFRAGMÁTICO A incompetência do hiato diafragmático pode ocorrer devido à senilidade. O envelhecimento leva ao afrouxamento do tecidomuscular fibroso, acarretando no prolapso e deslizamento. AUMENTO DA PRESSÃO INTRA-ABDOMINAL O aumento da pressão intra-abdominal é comum em pacientes obesos, com constipação intestinal, vômitos persistentes. Outra condição que também leva a um aumento da pressão intra-abdominal é a gestação. Caso o paciente evolua para complicações, pode apresentar esofagite, úlcera de esôfago e estenose esofageana. Os sintomas podem estar presentes ou não. Entretanto, quando estão presentes, os mais comuns são dor retroesternal alta, pirose, regurgitação, odinofagia, hematêmese, melena, dispneia, tosse, vertigem, taquicardia e palpitação. A terapia nutricional tem como objetivo facilitar o esvaziamento gástrico e modificar o seu conteúdo, com dieta semelhante à da esofagite, visando à redução da pressão intra-abdominal, principalmente, através da redução do peso corporal, evitando o RGE. ATENÇÃO Os alimentos que têm características excitantes e irritantes e os que têm capacidade de aumentar a pressão do EEI precisam ser retirados dos cardápio desse paciente. O tratamento de primeira escolha não é a cirurgia, e sim o controle com medicamentos e dieta (CHEMIN, 2011). ACALASIA Distúrbio motor da musculatura lisa do esôfago em decorrência da disfunção da motilidade do esôfago inferior. A destruição do plexo de Auerbach causa diminuição da inervação colinérgica da musculatura esofágica. Isso leva à susbtituição da peristalse normal do corpo por contrações anormais. O resultado desse distúrbio é a disfagia e dificuldade de deglutição, associada à odinofagia, dilatação e pode predispor o paciente a um câncer de esôfago. O esôfago, na acalasia, acumula os líquidos ingeridos e, com a pressão da gravidade, ocorre a abertura do EEI, permitindo apenas a passagem de pequenos volumes para o estômago. javascript:void(0) PLEXO DE AUERBACH O plexo de Auerbach é também conhecido como plexo mioentérico e é formado por uma cadeia de neurônios e celulas da glia interconectados atuando no controle do peristaltismo. Fonte: DROBOT VIKTORIIA/Shutterstock Deve ser ofertada uma dieta na consistência líquida, hiperproteica, normoglicidica, evitando alta concentração de dissacarídeos, normolipídica. A dificuldade com o rito da alimentação pode contribuir para uma depreciação do estado nutricional. Fonte: Adaptado de Sakurra/Shutterstock Figura 2 - Esôfago normal e com acalasia. REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) E ESOFAGITE Fonte: namtipStudio/Shutterstock O refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago pode ocorre em indivíduos sem histórico de patologias associadas. Alguns podem apresentar sintomas considerados clássicos como azia. Um pecentual de 7% a 8% da população apresenta azia diária, resultante do refluxo frequente do conteúdo gástrico e, algumas vezes, duodenal, para o esôfago (MAHAM; ESCOTT-STUMP, 2010). Os fatores contribuintes são a hérnia hiatal, os hormônios envolvidos com a gravidez e anticoncepcionais orais (progesterona), a obesidade, a úlcera péptica com a presença da bactéria Helicobacter pylori, a esclerose sistêmica progressiva e o uso de anti-inflamatórios não esteroides (CHEMIN, 2011). O paciente portador de DRGE pode ter, durante o curso da doença, sintomas como pirose, disfagia, regurgitações, dor retroesternal baixa ou atrás do apêndice xifoide com irradiação e sialorreia. Pode também observar-se eructações e espasmo esofageano. Manifestações como irritação da faringe, pigarro, rouquidão e agravamento de sintomas asmáticos também são descritas pela literatura (HENRY, 2014). O prolongamento da doença acarreta na inflamação do esôfago, que é conhecida como esofagite, além dessa inflamação o paciente pode também evoluir para erosão do tecido, provocando ulceração, hemorragia, perfuração, estenose e disfagia. A longo prazo, esse indivíduo pode desenvolver esôfago de Barrett. javascript:void(0) ESÔFAGO DE BARRETT Esôfago de Barrett é uma condição na qual o tecido que reveste o esôfago é substituído por tecido semelhante ao de revestimento do intestino. Este processo chama-se metaplasia intestinal e resulta da exposição recorrente ao ácido gástrico. A seguir, vejamos as características e recomendações da dieta Quadro 2 - Características da dieta na DRGE e esofagite. Consistência da dieta Fase aguda: dieta líquida ou semilíquida, evoluir até normal para melhora da disfagia. Fracionamento 6 a 8 refeições ao dia de pequenos volumes (melhora da distensão, desconforto e contribui para o aumento da pressão abdominal). Volume Diminuído e concentrado, evitando a distensão intra-abdominal e a estimulação do ácido gástrico. Temperatura Normal, de acordo com a preparação. Líquidos Entre as refeições. VET Suficiente para manter o peso ideal. Caso seja necessário, é interessante promover a perda de peso, evitando a obesidade. O objetivo é reduzir a pressão intra-abdominal e a pressão do EEI, consequentemente, diminuindo o refluxo. Lipídios Hipolipídica (< 20% das calorias totais). Proteínas Hiperproteica, em decorrência da liberação de gastrina, que auxilia na redução da pressão do EEI e na cicatrização. Carboidratos Normo, tendendo a hipoglicídica, para evitar a fermentação e o desconforto abdominal. Vitaminas Atender às necessidades do paciente e avaliando as interações com fármacos. Minerais Adequar as necessidades do paciente, com atenção ao ferro, em decorrência da interação medicamentosa que pode causar anemia (antiácidos). Evitar medicamentos que diminuem a pressão do EEI Teofilina/ β-adrenérgicos. Dieta de exclusão de alimentos que: Diminuem a pressão EEI: gorduras, álcool e carminativos (hortelã e menta), refeições volumosas e de alto teor de gordura, café, mate, chá preto, chocolate. Irritam a mucosa inflamada: frutas cítricas, sucos cítricos, tomate, refrigerantes, condimentos (pimenta vermelha e do reino). Em raras condições: alimentos ásperos (batatas fritas, bolachas crocantes e cascas secas). Estimulam secreção ácida: café, bebidas alcoólicas fermentadas (cerveja e vinho), chocolate, refeições volumosas ricas em gordura e proteínas, alimentos com alto teor de purinas (consome de carne). Acentuam o refluxo: álcool, alimentos xantinados (chocolate, café, chá-mate ou preto), bebidas alcoólicas, licorosas, principalmente, à base de menta e hortelã, alimentos e preparações gordurosas. Observação: estes alimentos devem ser evitados e, quando consumidos, devem ser acompanhados de outros alimentos. Caldos concentrados em purinas, excitantes da mucosa GI - aumentam secreção ácida. Infusos concentrados diminuem a pressão do EEI e são excitantes da mucosa GI, aumentam a secreção ácida e produzem dispepsia. Reduzir alimentos de difícil digestibilidade, flatulentos e fermentáveis- evitar distensão abdominal, desconforto e aumento da pressão intra-abdominal. Refrigerantes a base de cola, chocolate, suco de laranja, tomate e carminativos (hortelã e menta) diminuem a pressão do EEI. Café e bebidas alcoólicas aumentam a secreção ácida. Modificar o comportamento: Evitar ficar deitado após as refeições. Elevar a cabeceira para evitar refluxo, aspiração e outras complicações. Elevar cabeceira da cama em 10 a 15 cm para diminuir a probabilidade do refluxo noturno. Fazer refeições até 3 a 4 horas antes de dormir. Evitar usar roupas apertadas, pois aumentam a pressão intra-abdominal e diminuem a pressão do EEI. Evitar o tabagismo (reduz a pressão do EEI). Evitar a obesidade e, se apresentar excesso de peso, emagrecer. Evitar atividade física vigorosa após alimentar-se. Manter horários regulares de alimentação para não comer demais. Tratamento clínico: Antagonistas de receptor de histamina-2, Inibidores da bomba de prótons, antiácidos. Agentes pró-cinéticos – São usados em pessoas com retardo do esvaziamento gástrico. Tratamento cirúrgico: Fundoplicatura (pacientes com doença grave que não responderam ao tratamento medicamentoso após 3 a 6 meses). Fonte: Chemin, 2011. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: crystal light/Shutterstock CÂNCER DE ESÔFAGO Câncer de esôfago é o oitavo mais frequente no mundo e a incidência em homens é cerca de duas vezes maior do que em mulheres (INCA, 2020). O câncer avançado de esôfago pode levar à disfagia, que se instala de maneira progressiva e persistente, o que pode ser um fator contribuinte para a desnutrição. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS O tratamento escolhido ao paciente portador de câncer de esôfago é a ressecção cirúrgica acompanhada, quando indicado, por radioterapia (RT) e quimioterapia (QT) pós-operatória. Essas terapias também podem ser utilizadas no pré-operatório na tentativa de reduzir a massa tumoral e, assim, ter a chance de maior sucesso na intervenção cirúrgica (INCA, 2020). A esofagectomia total ou distal + remoção do nervo vago + gastrectomia proximal é a intervenção cirúrgica comum para ressecção do câncer esofágico. Após o ato cirúrgico, o paciente pode apresentar complicações que vão desde a deiscência de sutura e vazamento pela anastomose até a estenose da anastomose e o retardo do esvaziamento gástrico. A vagotomia é a causa dessa estenose e também do retardo do esvaziamente gástrico. Outras ocorrências são fístula esofágica e quilotórax (acúmulo de líquido quiloso no espaço pleural). Fonte: Madeleine Steinbach/Shutterstock Após as cirurgias que envolvem a boca e o esôfago, caso haja a possibilidade da utilização da via oral, a conduta deve ser a consistência líquida ou de textura úmida e macia com o objetivo de facilitar a mastigação e deglutição. Deve ser isenta ou com poucos alimentos considerados fermentativos, como: chá, ovo quente, gelatina, sopas e sucos. A evolução deve ocorrer baseada na tolerância do paciente e as características da dieta devem ser hipercalórica e hiperproteica. Deve-se dar preferência aos carboidratos complexos aos simples. Fonte: Markus Mainka/Shutterstock O fracionamento é outra conduta importante para esse paciente e indica-se de cinco ou mais refeições ao longo do dia com volume reduzido, optando por alimentos com maior densidade calórica. A utilização de saliva artifical é um facilitador na alimentação, pois previne a boca seca. O aumento do consumo de líquidos também pode evitar esse sintoma. Uma jejunostomia no ato cirúrgico deve ser considerada caso haja uma previsibilidade de repouso da área da sutura por um período superior a 10 dias, e essa via deve ser mantida até que o paciente atinja 60% das necessidades diárias via oral (VO). 1 O processo de realimentação no pós-cirúrgico, quando a via oral não for viável, deve iniciar com a nutrição enteral que precisa ser infundida via jejunostomia e estendida até o oitavo dia de pós-operatório. 2 Após esse período, antes da liberação da via oral, é necessária a realização de um raios-X contrastado para verificar a capacidade do paciente de deglutir (deglutograma). 3 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Caso o resultado do exame seja satisfatório, a dieta na consistência líquida, com ou sem resíduo, é liberada e mantida até o décimo dia de pós-operatório. 4 O paciente precisa ser acompanhado e, na ausência de complicações, a consistência deve ser evoluida para semilíquida, pastosa e branda. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MARQUE A OPÇÃO ABAIXO QUE CORRESPONDE AO ALIMENTO QUE DEVE SER EXCLUÍDO NA DIETA DOS PACIENTES COM REFLUXO GASTROESOFÁGICO (RGE). A) Suco de caju. B) Caldo purínico. C) Suco de abacaxi. D) Banana 2. NAS CIRURGIAS DE CÂNCER DE ESÔFAGO, SE A VIA ORAL FOR POSSÍVEL APÓS A CIRURGIA: javascript:void(0) A) Utilizar alimentos de textura macia e secos para facilitar mastigação e deglutição. B) Refeições frequentes e pequenas, com baixa densidade calórica. C) Preferir carboidratos simples. D) Usar solução de saliva artificial ou aumentar consumo de líquidos para evitar a boca seca. GABARITO 1. Marque a opção abaixo que corresponde ao alimento que deve ser excluído na dieta dos pacientes com refluxo gastroesofágico (RGE). A alternativa "B " está correta. Os caldos concentrados em purinas são excitantes da mucosa gastrointestinal e aumentam a secreção ácida, por isso, deve ser excluído da dieta dos portadores de RGE, conforme visto no quadro 2, que relaciona as características da dieta na DRGE e esofagite. 2. Nas cirurgias de câncer de esôfago, se a via oral for possível após a cirurgia: A alternativa "D " está correta. Após a cirurgia de câncer de esôfago, a dieta deve facilitar a mastigação e a deglutição, por isso a opção deve ser sempre por alimentos macios ou líquidos, buscando uma densidade calórica maior com refeições fracionadas e volume reduzido. Esse item está descrito na abordagem sobre câncer gástrico que fala sobre as cirurgias de boca e esôfago, caso a via oral seja possível no pós-cirúrgico. MÓDULO 2 Reconhecer as principais enfermidades que acometem o estômago e a dietoterapia específica para cada acometimento Fonte: Alekseeva Yulia/Shutterstock Após a passagem do alimento pela boca e esôfago, o processo de decomposição física dos alimentos tem continuidade no estômago. Esse órgão divide-se em fundo (região superior), corpo (região central) e antro (região entre a incisura angular e piloro). O estômago apresenta também duas curvaturas, dois esfíncteres (cárdia e piloro), plexo celíaco (vaso principal) e as artérias para irrigação do órgão. O revestimento epitelial superficial desse órgão é feito por células mucosas prismáticas, e há invaginações no epitélio revestido dentro da lâmina própria. A lâmina própria é constituída por tecido conjuntivo frouxo que se encontra entremeado por fibras musculares do tipo lisa e células linfoides infiltradas. O estômago pode ser dividido em 4 camadas, que são de fora para dentro: camada serosa, porção muscular, submucosa e mucosa. Esse órgão, geralmente, possui a forma da letra (J), é móvel e, em decorrência da sua capacidade de relaxar, pode armazenar grande quantidade de alimento. GASTRITE E ÚLCERA PÉPTICA Trata-se de uma inflamação do revestimento do estômago com causa multifatorial, envolvendo questões infecciosas, químicas ou neurais. Essa patologia tem ligação com a ingestão de ácool, algumas drogas (uso crônico de aspirina ou outros AINES), ingestão de susbstâncias corrosivas e até mesmo o tabaco. Também é causada por enfermidades infecciosas, sendo a infecção por Helicobacter pylori a mais comum. O Helicobacter pylori é um patógeno de ação lenta e classificado como uma bactéria gram- negativa, flagelada e sua característica principal é a resistência ao meio ácido. Esse micro-organismo leva ao desenvolvimento de um quadro inflamatório agudo na mucosa gástrica, envolvendo a migração, principalmente, de neutrófios da circulação sistêmica para o local da lesão. Sua colonização é feita abaixo da superfície mucosa. Ocorre produção de urease e amônia, com capacidade de alcalinizar o ambiente gátrico. Esse cenário pode ser um agente causador de câncer gástrico e já se encontra descrito na literatura (FERNANDES, 2016). A idade do paciente, a concentração dos organismos e sua cepa específica e o estilo de vida são fatores que podem afetar a ocorrência e até influenciar na gravidade dos sintomas. O estado nutricional prévio também faz diferença para o início e a gravidade dos sintomas e da cicatrização (CHEMIN, 2011). Fonte: PopTika/Shutterstock TIPOS DE GASTRITE Os tipos de gastrite são: AGUDA - SIMPLES OU EXÓGENA, CORROSIVA E TÓXICA Aguda simples ou exógena: Podem ser provocadas pela ingestão de álcool, drogas e enfermidades infecciosas. Podem causar sintomas de anorexia, desconforto epigástrico, náuseas, vômitos e, ocasionalmente, com hematêmese, mal-estar, calafrio, cefaleia, dor epigástrica em queimação, diarreia e dor em cólica (enterite), cãibras musculares, edema e hiperemia da mucosa, prostração e desidratação (caso grave). O tratamento envolve focar nas infecções e verificar e corrigir possíveisdistúrbios hidroeletrolíticos. Habitualmente, adota-se a dieta via oral zero até desaparecerem os sinais agudos da dor, náuseas e vômitos. Aguda corrosiva: Iniciada após ingestão de substâncias corrosivas como álcalis e ácidos. Habitualmente, acompanhada de esofagite aguda corrosiva e apresenta uma sintomatologia que envolve dor em queimação, náuseas e vômitos, diarreia, rigidez abdominal, sede intensa, prostração e choque. O tratamento é dieta via oral zero na fase aguda; em seguida, adota-se uma dieta semelhante à úlcera, hidratação venosa, analgésico, sedativo, antiácido. Aguda tóxica: Desencadeada pelo uso de drogas à base de salicilatos, barbitúricos etc. CRÔNICA A inflamação ocorre com característica difusa ou parcial da mucosa gástrica, tendo o antro como o local primariamente atingido. Esse acometimento pode ser dividido em superficial (pressão e empachamento, anorexia, náuseas, vômitos, pirose), cujo tratamento é antiespasmódico, antiácido e regulador fisiológico digestivo; atrófica (indisposição gástrica, anorexia, náuseas e vômitos, podendo ou não haver dor, hematêmese), que utiliza regulador fisiológico digestivo, antiespasmódico e sedativo ou tranquilizante como formas de terapia medicamentosa; hipertrófica (dispepsia, pirose, edema, hipoalbuminemia, hipersecreção gástrica), tendo como tratamento medicamentoso o uso de antiácido, regulador fisiológico digestivo, anitespasmódicos e sedativos ou tranquilizantes. ESPECIAL Após gastrectomia, pode surgir a redução da capacidade gástrica, gerando saciedade precoce, perda de peso e desnutrição. O tratamento pós-gastrectomia envolve a adoção de uma alimentação em baixo volume e suplementação via parenteral de potássio em solução fisiológica, vitamina A (30.000 UI), B1 (3 mg), B2 (5mg), C (200mg), etc. No caso de uma detecção de anemia perniciosa, suplementar com B12 (100 mcg) e ferro (20mg). Fonte: Sakurra/Shutterstock Figura 3 - Mucosa gástrica normal e com gastrite. CONDUTA DIETOTERÁPICA Pode variar dependendo da origem da inflamação e da presença de sintomas. Há necessidade de adaptação de acordo com os medicamentos utilizados, almejando manter ou recuperar o estado nutricional do paciente; facilitar o trabalho gástrico e reduzir a secreção gástrica, dificultando o progresso das lesões e a hemorragia; promover o esvaziamento adequado do estômago para permitir que o revestimento mucoso cicatrize; evitar ou minimizar os efeitos colaterais e as interações; hidratar o paciente adequadamente; promover a educação nutricional do paciente. Quadro 3 - Recomendações nutricionais e gerais na gastrite. Especificação Recomendação VET Ajustar as necessidades do paciente (ANP). Distribuição calórica CHO 50-60%; PTN 10-15%; LIP 25- 30%. Consistência Dieta geral ou adaptar às condições da cavidade oral. Fracionamento 4-5 refeições (evitar jejum prolongado). Alimentos indicados Fibras – atuam como tampão, diminuindo a concentração de ácidos biliares no estômago e do tempo de trânsito intestinal, levando a menor distensão. Alimentos que devem ser evitados Bebidas alcoólicas – irritam a mucosa. Café descafeinado - estimula a produção ácida gástrica. Refrigerantes – estímulo da produção ácida (à base de cola e de limão); aumento da distensão (gasosos). Pimenta vermelha – capsaicina – irrita a mucosa gástrica. Mostarda em grão chili e chocolate – irritantes. Frutas ácidas Atenção à tolerância do paciente. Ambiente Calmo, agradável, comer devagar e mastigar bem. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: Cuppari, 2014. Fonte: Tashatuvango/Shutterstock ÚLCERA PÉPTICA É uma ulceração, que pode ser classificada como aguda ou crônica, que se instala em uma porção do TGI acessível ao ácido gástrico. Pode ser localizada, principalmente, no estômago ou no duodeno. Pode ocorrer em todas as faixas etárias, mas principalmente entre 45 a 60 anos, em ambos os sexos. A complicação ocorre quando há perfuração e hemorragia, infecção, divertículos, penetração em estruturas adjacentes e obstrução pilórica. A melena (fezes enegrecias) é um achado comum associado à úlcera no idoso, pode ser sugestiva de hemorragia gastrointestinal aguda ou crônica. Os pacientes costumam apresentar dor abdominal ou o desconforto que se assemelha àqueles associados à dispepsia e gastrite. O quadro de anorexia, perda de peso, náuseas, vômitos e azia pode ocorrer com frequência. (CHEMIN, 2011). Fonte: Designua/Shutterstock Figura 4 - Úlcera péptica. Existem questões que envolvem ambas as úlceras gástricas e duodenais, por exemplo, o anti- inflamatório não esteroidais (AINE), inibe a produção das prostaglandinas, não permitindo os efeitos protetores, além disso está associada ao aumento da lipogênese. Outro aspecto é a redução na síntese de muco e bicarbonato pelo AINE. A aspirina é outro medicamento que tem ação nesses acometimentos, apesar de ser amplamente utilizada, produz um ácido fraco que forma salicilato ao penetrar na célula. Essa substância formada é lesiva à estrutura celular. Fonte: Monster e/Shutterstock O estresse contribui para o desenvolvimento das úlceras e afetam, mais comumente, a região média do corpo gástrico. Tanto o tabagismo como a cafeína e as bebidas alcoólicas estimulam a secreção de ácido gástrico, aspecto negativo quanto se trata de úlcera gastrica e duodenal. O tabaco ainda tem o poder de estimular o refluxo duodeno gástrico (CHEMIN, 2011). Quadro 4 - Características e comparações entre úlceras gástricas e duodenais. Úlceras gástricas Frequente na pequena curvatura Comum na gastrite difusa, inflamação das células oxínticas e atrofia das células produtoras de ácido e pepsina Secreção ácida normal ou diminuída Hipomotilidade antral, estase e aumento do refluxo duodenal são comuns Frequente hemorragia e mortalidade – índices mais elevados Úlceras duodenais Maioria próxima ao piloro Aumento da massa parietal Secreção ácida aumentada Redução de bicarbonato Obstrução é mais comum Pode ocorrer metaplasia gástrica relacionada à infecção por H.pylori O tratamento utilizado é com bloqueador de receptor H2 ou inibidor da bomba de prótons – supressão de ácido É frequente em homens (3x mais) 4x mais comum que a úlcera gástrica Fonte: Chemin, 2011. CONDUTA DIETOTERÁPICA Tem como finalidade manter ou melhorar o estado nutricional do paciente, minimizar os sintomas na fase aguda, promover repouso da mucosa gástrica, evitar a distensão abdominal e diminuir os efeitos colaterais de fármacos, buscando sempre a correção dos hábitos alimentares. Fonte: DONOT6_STUDIO/Shutterstock Na conduta dietoterápica, alguns alimentos devem ser evitados durante o tratamento do paciente portador de úlcera, como o leite puro, que estimula a secreção gástrica. Após 20 a 40 minutos da ingestão de leite puro, devido à presença de cálcio e proteínas, ocorre um rebote de ácido no estômago. Fonte: Africa Studio/Shutterstock Conforme anteriomente mencionado, o álcool e o café, mesmo o descafeinado, aumentam a produção de ácido gástrico, irritando a mucosa gástrica. O álcool está relacionado à quantidade ingerida e, no caso de consumo de doses elevadas, pode causar lesões superficiais de mucosa e agravamento de doenças pré-existentes ou mesmo prejudicar no tratamento da úlcera. Fonte: monticello/Shutterstock Mostarda em grão, chocolate e condimentos do tipo picante (pimenta vermelha, preta, chilli e malagueta) estão relacionados à irritação gástrica e intestinal. As pimentas malagueta (chili), de caiena e pimenta preta (do reino), quando ingeridas em doses elevadas, além de aumentarem a secreção ácida, causam pequenas erosões superficiais e inflamação da mucosa. Fonte: successo images/Shutterstock Não há comprovação científica sobre a associação de ingestão de frutas e sucos de frutas ácidas, assim como os refrigerantes, causarem úlcera e interferirem na sua cicatrização. Porém, os refrigerantes derivados de cola aumentama produção ácida e promovem distensão abdominal e dispepsia (CHEMIN, 2011). Na fase em que o paciente esteja em remissão da úlcera, a conduta dietoterápica deve envolver alcance das suas necessidades, considerando a terapia medicamentosa. Os fatores que, por ventura, possam ser inseridos na categoria de risco (físicos e psíquicos), devem ser evitados, como alimentação excessiva, horários irregulares, abuso de agentes medicamentosos sem prescrição médica e o consumo de bebidas alcoólicas. Quadro 5 - Características gerais da dieta. Especificações Características VET Adequado às necessidades do paciente. Proteínas N/Hiper Até 1,2g/Kg (fase aguda). Até 1,5g/Kg (fase de recuperação). Sacarídeos Isentos dissacarídeos para reduzir a fermentação 50 a 60% de carboidratos no VET. Lipídios Sem alteração, reduz a saciedade precoce e a hiperlipoproteinemia. 25 a 30% do VET. Vit. e Minerais Adequado às necessidades do paciente. Caldos [purinas] Isentos. Fibras Alterar por cocção – facilita o processo digestório. Rica em fibras solúveis – efeitos benéficos: age como tampão, reduz a concentração de ácidos biliares no estômago e aumenta o tempo de trânsito intestinal, o que leva à menor distensão. Líquidos Normal ou aumentado. Temperatura Evitar alimentos quentes (leva à congestão da mucosa, maior secreção ácida e menor tempo de esvaziamento gástrico). Fracionamento Normal (fase de recuperação). Refeições pequenas e frequentes podem confortar, mas também aumentam secreção ácida. Evitar o consumo de refeições volumosas. 4 a 5 refeições ao dia - evitar longos períodos de jejum. Volume Reduzido (fase aguda). Normal (fase de recuperação). Consistência Líquida completa – pastosa (fase aguda). Branda - normal (fase de recuperação). Exitantes da mucosa gástrica Evitar: bebida alcoólica e derivados de cola, cigarro, carminativos, alimentos flatulentos e ricos em enxofre, infusos concentrados e alimentos fermentáveis. Leite Não consumir! Provoca queimação. Probióticos (Lactobacilos) Tratamento e/ou prevenção da colonização por H. pylori. Outros Uso regular de alimentos protetores que contenham antioxidantes fenólicos como o mirtilo - podem ter a capacidade de erradicar o H. pylori. Açafrão - pode inibir a adesão do H. pylori ao estômago. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: Chemin, 2011. CÂNCER DE ESTÔMAGO O câncer de estômago também é chamado de câncer gástrico. O tipo adenocarcinoma é responsável por cerca de 95% dos casos de tumor do estômago. A desnutrição pode ocorrer na presença de neoplasias malignas do estômago em decorrência das possíveis perdas de sangue e proteínas, ou mais comumente por questão obstrutiva, influenciando ou até mesmo impedindo a ingestão alimentar (INCA, 2020). A mortalidade é influenciada pela idade, pelo estado nutricional do paciente, pelo estágio e pela localização do tumor. A origem é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, ambientais e a presença anterior de gastrite crônica, úlcera gástrica e acloridria, associados ou não à presença do H. Pylori. Também há associação com o tabagismo, abuso de álcool, obesidade, baixa ingestão de fibras, alto consumo de alimentos salgados, em conservas ou inadequado em micronutrientes. Os conservantes contêm nitratos e nitritos que podem ser convertidos em carcinógenos (N- nitrosaminas) ativos e, por isso, são considerados de alto risco para o câncer de estômago (alimentos conservados em sal, picles e defumados). O sal também está associado à irritação gástrica, sendo comum a sua presença em produtos industrializados. RECOMENDAÇÃO A sintomatologia é descrita como perda de apetite, fraqueza, dor abdominal, emagrecimento, aquilia gástrica, que se trata de ausência de ácido clorídrico e pepsina, ou acloridria. O ato cirúrgico é um dos tratamentos, sendo denominado de gastrectomia e podendo ser parcial ou total, radical ou paliativo. A quimioterapia e/ou radioterapia também podem ser utilizadas sozinhas ou associadas para intervir nesse tipo de câncer. A aplicabilidade do ácido ascórbico e do betacaroteno na prevenção do carcinoma gástrico é também descrita na literatura, pois ambos agem como antioxidantes, e o ácido ascórbico ainda inibe a formação endógena de compostos nitrosos (INCA, 2020). A tabela a seguir mostra os componentes da dieta e as evidências de associação com risco para câncer gástrico. Quadro 6 - Componentes da dieta e evidências de associação com risco para câncer gástrico. Evidência Reduz risco Nenhuma relação Aumenta risco Convincente (evidência alta) Vegetais e frutas Refrigeração adequadas dos alimentos Provável (evidências existem, mas são fracas e pouco consistentes) Vitamina C (laranja, acerola, limão, brócolis) Álcool Café Chá preto Nitratos (vegetais) Sal Conservação em sal Possível (estudos apoiam relação, mas evidências são limitadas) Carotenoides Gênero Allium (alho, cebola, alho poro, cebolinha) Cereais integrais Chá verde Açúcar Vitamina E (azeite, castanha do Pará, amêndoa) Retinol Amido Churrasco Grelhado Insuficiente (poucos estudos e limitados) Fibras Selênio (castanha do Pará, semente de girassol) Alho Carne defumada N- nitrosaminas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: AIRC, 2020. TERAPIA NUTRICIONAL Fonte: Kitzcorner/Shutterstock Precisa estar adaptada, de acordo com a localização do tumor, pelo distúrbio funcional e pelo estágio da doença. Após tratamento cirúrgico (gastrectomia parcial ou total), pode ocorrer algumas complicações ou problemas com a alimentação, como a Síndrome de Dumping . No câncer avançado, o paciente deve receber uma dieta adequada, buscando adaptar respeitando as preferências alimentares, podendo ser necessária a dieta na consistência líquida ou NPT. Fonte: Aksabir/Shutterstock CIRURGIAS GÁSTRICAS INDICAÇÕES Úlcera péptica complicada com hemorragias, perfuração, intratabilidade – Atualmente, com a eficácia dos tratamentos medicamentos, as cirurgias ocorrem com menor frequência. Câncer ou obstruções. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS Vagotomia com antrectomia Além da remoção do estímulo à secreção ácida gástrica, tem-se a ressecção do antro e piloro com reconstrução a Billroth tipo I (gastroduodenostomia) ou Billroth tipo II (gastrojejunostomia) (Figura 5). Quanto maior a ressecção, mais rápida é a passagem do alimento para o intestino. Reconstrução a BII - Cursa mais comumente com Síndrome de Dumping, esteatorreia, perda de peso, vômitos e proliferação bacteriana do que a reconstrução a BI (DAN, 2009). Fonte: Adaptado de Artemida-psy/Shutterstock Figura 5 - Reconstrução Billroth I e Billroth II. Gastrectomia parcial ou total A gastrectomia parcial no tratamento das úlceras é realizada para remoção da porção ulcerada. As gastrectomias parcial e total (Figura 6) também podem ser utilizadas para tratamento do câncer gástrico. Fonte: Adaptado de marina_ua/Shutterstock Figura 6 - Gastrectomia total. VAGOTOMIA A ressecção do nervo vago é utilizada no tratamento para úlceras pépticas com o objetivo de reduzir atividade das células parietais. Reduz também a resposta celular à gastrina e diminui secreção ácida. Vagotomia de célula parietal Localizada na área da secreção ácida gástrica. Na vagotomia de célula parietal, apenas o nervos responsáveis pela secreção gástrica são seccionados, assim, a motilidade e o esvaziamento gástrico continuam normais. (MAHAM; ESCOTT-STUMP, 2010). Fonte: Adaptado de Shutterstock Figura 7 - Vagotomia. Terapia nutricional no pós-operatório A terapia nutricional deve ser iniciada o mais precocemente possível no pós-operatório com o objetivo de preservar ou recuperar o estado nutricional do paciente. Nas gastrectomias subtotais, a via oral é a opção de escolha (CHEMIN, 2010). A jejunostomia é comumente adotada em casos de cirurgias que exigirão maior tempo para cicatrização, e é feitano ato cirúrgico para viabilizar a precocidade da nutrição, almejando a preservação da função intestinal e favorecer a cicatrização. Dieta via jejunostomia pode ser iniciada dentro de 24h após a cirurgia com auxílio de bomba infusora e a preferência são as fórmulas isotônicas e uma velocidade inicial de infusão de 20 ml/h. Caso as fórmulas elementares sejam utilizadas, devem ter osmolaridade entre 280 – 300 mOsm. As fórmulas mais concentradas (1,5 a 2 Kcal/ml) podem ser bem toleradas após a adaptação intestinal e com o retorno da peristalse, a dieta via oral pode ser iniciada, com líquidos claros (chás, água de coco, caldos de vegetais) evoluindo para líquida completa. A temperatura ambiente ou morna é melhor tolerada por alguns pacientes do que alimentos frios. A introdução deve ser feita de maneira gradual, alimentos de consistência pastosa, hiperproteica, hipolipídica e com poucos condimentos. Após o paciente iniciar a fase inicial do pós-operatório, a alimentação é mantida na consistência branda entre 15 a 30 dias, com uma dieta equilibrada e individualizada. Os líquídos não devem ser ingeridos durante a refeição, e sim 30 a 60 minutos antes ou após desta, em volume máximo de 200 ml. Em caso de diarreia, a hidratação precisa ser intensificada, um aporte mínimo de 1,2L/ dia. É importante que o paciente coma devagar e mantenha uma boa mastigação, é fundamental orientá-lo a manter-se sentado ou em um ângulo de 30 a 45° após o término das refeições. Segue sendo contraindicado ingestão de álcool e também o tabagismo. O paciente submetido à gastrectomia total apresenta alteração no metabolismo proteico, tendo uma redução plasmática de aminoácidos essenciais e da relação aminoácidos essenciais/não essenciais e elevação plasmática de glutamato e citrulina. Esse achado é consequência da má- absorção de proteínas, resultando em proteólise persistente no pós-operatório tardio de gastrectomia total (WAITZBERG, 2009). O diagnóstico de desnutrição é comum nesses pacientes pós-gastrectomia e se deve à ingestão oral inadequada, à estase gástrica, ao supercrescimento bacteriano e ao rápido trânsito intestinal (má-absorção do alimento ingerido). ATENÇÃO É necessário administrar B12 intramuscular a partir do 2º ou 3º mês pós-operatório. Fonte: Shutterstock COMPLICAÇÕES SÍNDROME DE DUMPING A incidência varia em torno de 5%, após cirurgias menores, a 40% em gastrectomias totais. Um dos fatores causais são os carboidratos simples solúveis que provocam deslocamento de líquidos para o intestino delgado, aumentando o fluxo sanguineo periférico, levando a uma queda moderada do volume plasmático com elevação do hematócrito e redução discreta do potássio sanguineo. (CHEMIN, 2011). O Dumping pode ser classificado como precoce, ocorrendo entre 15 a 30 min após a alimentação. O paciente apresenta, principalmente, taquicardia e tonturas, relacionadas à hipovolemia (desvio de líquidos). Também pode ser classificado como dumping tardio, que ocorre entre 90 a 120 min após a sudorese. Os sintomas estão relacionados à hipoglicemia, como sudorese, taquicardia e desmaios. CONDUTA DIETOTERÁPICA O objetivo é restabelecer o estado nutricional e a qualidade de vida, reduzindo ou eliminando os sintomas na maioria das pessoas. Precisa eliminar carboidratos simples e alternar alimentos sólidos com líquidos para prevenir ou controlar a diarreia e a síndrome de dumping. Quando o paciente não pode utilizar a via oral, deve ser introduzida a dieta enteral para prevenir depreciação do estado nutricional e instalação da desnutrição. No caso da impossibilidade de utilização do TGI no pós-operatório, a nutrição parenteral é a via de escolha. Fonte: ARTFULLY PHOTOGRAPHER/Shutterstock O cuidado nutricional para os pacientes com síndrome de dumping envolvem o aumento do fracionamento da dieta, mantendo pequenas refeições ao longo do dia; 6 a 8 refeições/ dia, escolha de alimentos ricos em proteínas e moderados em gorduras. Os carboidratos complexos podem ser incluídos caso haja tolerância do indivíduo e até ingestão de alimentos ricos em fibras solúveis (pectina e gomas) e pobre em fibras insolúveis, com a intenção de diminuição da velocidade do trânsito, reduzindo assim a absorção de glicose e a resposta insulinêmica. Deve-se atentar para o risco de obstrução por excesso de fibra, principalmente se a hidratação for insuficiente. RECOMENDAÇÕES NA EVOLUÇÃO DIETOTERÁPICA Na fase inicial as refeições devem ser frequentes e em pequeno volume. Deve-se evitar alimentos fermentativos e carboidratos simples; lipídios – 23 a 30% do VET; proteínas – 20% do VET de AVB. Se necessário, utiliza-se suplementos hipercalóricos via oral. Manter postura ereta ao se alimentar e não consumir líquidos junto às refeições são importantes para evitar a síndrome, assim como ingerir pequenas quantidades de líquidos durante o dia entre as refeições. Atenção à possibilidade de intolerância de lactose e à necessidade de suplementos de vitamina D e cálcio. Utilizar triglicerídeos de cadeia média (TCM) caso haja esteatorreia porque são melhor tolerados (CHEMIN, 2011). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (RESIDÊNCIA – HUPE/2003) NA DIETA PARA TRATAMENTO DA SÍNDROME DE DUMPING, COM O OBJETIVO DE LENTIFICAR A ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS E REDUZIR A RESPOSTA GLICÊMICA, É INDICADA A INCLUSÃO DE: A) Pectina. B) Gordura. C) Líquidos. D) Dextrose. 2. (IABAS 2010) PARA PACIENTES COM ÚLCERA GÁSTRICA, É INDICADA DIETA: A) Rica em lipídios. B) Pobre em potássio. C) Pobre em sódio. D) Rica em fibras. GABARITO 1. (Residência – HUPE/2003) Na dieta para tratamento da Síndrome de Dumping, com o objetivo de lentificar a absorção de carboidratos e reduzir a resposta glicêmica, é indicada a inclusão de: A alternativa "A " está correta. O acréscimo de fibra solúvel (pectina) diminui a velocidade do trânsito intestinal, a absorção de glicose e a resposta insulinêmica (Conduta Nutricional da Síndrome de Dumping). 2. (IABAS 2010) Para pacientes com úlcera gástrica, é indicada dieta: A alternativa "D " está correta. As fibras agem como tampão, reduzem a concentração de ácidos biliares no estômago e aumentam o tempo de trânsito intestinal, o que leva à menor distensão. MÓDULO 3 Reconhecer as enfermidades que acometem o intestino delgado e a dietoterapia específica para cada acometimento Fonte: sciencepics/Shutterstock. O intestino delgado vai do piloro até a junção ileocecal, dividindo-se em duodeno, jejuno e íleo. A organização morfológica macro e microscópica da parede do órgão é bem parecida em toda sua extensão, sendo composta por quatro camadas: SEROSA MUSCULAR SUBMUCOSA MUCOSA Fonte: Tefi/Shutterstock. A mucosa e a submucosa apresentam uma organização de modo a aumentar a área de superfície do lúmen, aumento este que se dá devido às pregas circulares, das vilosidades e das bordas estriadas. Essa característica favorece uma das funções do intestino que é o processo absortivo após a digestão. DOENÇA CELÍACA OU ENTEROPATIA SENSÍVEL AO GLÚTEN OU ESPRU NÃO TROPICAL Fonte: Lightspring/Shutterstock. A doença celíaca (DC) é uma enteropatia crônica do intestino delgado com uma resposta autoimune ocasionada por uma hipersensibilidade à gliadina, com um alcance sistêmico. A patologia desta doença acomete indivíduos geneticamente predispostos, quando expostos ao glúten e às prolaminas relacionadas e a outros fatores ambientais. Fonte: Dragana Gordic/Shutterstock. É uma doença caracteriza por manifestações clínicas dependentes do glúten, anticorpos específicos, presença de halótipos HLA-DQ2 e/ou HLA- DQ8 e enteropatia. Os principais fatores que envolvem a suscetibilidade genética para doença celíaca são os genes HLA classe II, HLA-DQ2 e HLA-DQ8, presentes no braço curto do cromossomo 6. Mais de 95% dos pacientes com doença celíaca apresentam os genes (LIU, 2014). A doença celíaca é mais frequente em indivíduos de raça branca e no sexo feminino, 8 a 13% dos pacientes adultos com doençacelíaca irão desenvolver alguma doença maligna, sendo linfoma intestinal não Hodgkin, carcinoma de esôfago e carcinoma de orofaringe as mais frequentes. ATENÇÃO A exclusão do glúten da dieta reduz o risco significativamente de linfoma intestinal não Hodgkin, carcinoma de esôfago e carcinoma de orofaringe ou outra doença maligna, tornando- se semelhante ao da população em geral após cinco anos de tratamento adequado (FENACELBRA, 2020). A doença acomete a mucosa das porções proximal e média do intestino delgado, porém, não exclusivamente, podendo se estender pelos segmentos mais distais. A resposta autoimune leva à atrofia das vilosidades e, em decorrência de uma redução na superfície de absorção, pode acarretar em má absorção e desnutrição. Além disso, as células das vilosidades tornam-se deficientes nas dissacaridases e peptidases necessárias para digestão e também nos carreadores necessários para transporte de nutrientes para a corrente sanguínea. A liberação diminuída de colecistoquinina reduz as secreções da vesícula biliar e pancreática e contribui ainda mais para a má-absorção (LIU, 2014). Também são observados hiperplasia das criptas e aumento no número de células (WAITZBERG, 2009). Durante a digestão, o glúten é parcialmente digerido no intestino em frações denominadas de gliadina. Na lâmina própria, a gliadina ativa a enzima tecidual transglutaminase, sofrendo desamidação e aumentando sua imunogenicidade. A partir de então, a glidina é apresentada às células apresentadoras de antígeno HLA-DQ2 ou DQ-8 para ativação de linfócitos T- CD4+. Uma vez ativados, ocorre a produção de citocinas inflamatórias na mucosa intestinal. Toda essa ação, envonveldo a resposta imunológica na presença da gliadina, é responsável pelo dano à mucosa intestinal. Fonte: Designua/Shutterstock. Figura 8 - Mucosa intestinal normal (A) e atrofiada (B). DIAGNÓSTICO DA DOENÇA CELÍACA: O processo diagnóstico de doença celíaca é feito por meio de uma combinação dos métodos de avaliações clínicas, exames sorológicos e de perfil genético. A biópsia de intestino delgado é considerada padrão ouro do diagnóstico. Esse procedimento é realizado no duodeno, jejuno ou íleo, enquanto o paciente está com uma dieta com glúten. ATENÇÃO Não é indicada a exclusão do glúten antes da biópsia, pois o tecido intestinal é altamente ativo e pode mascarar o diagnóstico com rapidez na regeneração. A resposta positiva mediante a exclusão do glúten na dieta também precisa ser considerada. Os anticorpos circulantes e seu subsequente desaparecimento com dieta sem glúten fortalece o diagnóstico. Quanto aos testes sorológicos: TÉCNICA DE IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA TÉCNICA DE IMUNOENSAIO ENZIMÁTICO (ELISA) TESTE DE ANTIGLIADINA DEAMIDADA O anticorpo antiendomísio da classe IgA, obtido pela técnica de imunofluorescência indireta, é considerado o teste de referência pela alta especificidade (93-100%) e sensibilidade (98- 100%). Os anticorpos transglutaminase são realizados pela técnica de imunoensaio enzimático (ELISA) e possuem sensibilidade superiores a 90%. O teste de antigliadina deamidada pode ser útil em crianças e em pacientes com deficiência de IgA, realizando a dosagem de IgG. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os sintomas da DC dividem-se em gastrointestinais e extraintestinais. Os sintomas gastrointestinais são mais imediatos e agudos como diarreia, dor e distensão abdominal, constipação, flatulência e cefaleia. Pode ocorrer perda de peso e deficiências nutricionais. São manifestados em pacientes entre 6 e 24 meses de idade. Quadro 7 - Manifestações extraintestinais da doença celíaca e suas possíveis causas. Órgão Manifestação Causa provável Hematopoiético Anemia Hemorragia, purpura Deficiência de folato, ferro, vitamina B12. Hipoprotrombinemia, geralmente, devido à má-absorção de vitamina K. Esquelético Osteomalácia Osteoporose, dor óssea Osteopenia, fraturas Absorção prejudicada de vitamina D. Formação de sabões de cálcio insolúveis por ácidos graxos no lúmen intestinal, levando ao transporte e à absorção de cálcio defeituoso. Hipoplasia de esmalte dentário Muscular Parestesias, câimbras musculares, tetania, fraqueza Depleção de cálcio ou magnésio devido à absorção precária; hipocalemia em razão da perda de potássio. Neurológico Neuropatia periférica Deficiências de vitaminas tais como tiamina e vitamina B12. Endócrino Hiperpartireoidismo secundário Hipopituitarismo secundário Insuficiência adrenocortical Hiperceratose folicular Petéquias e equimoses Má-absorção de cálcio e vitamina D, causando hipocalcemia; desnutrição devido à má-absorção. Hipopituitarismo; deficiência de vitamina A. Hipoprotrombinemia. Fonte: Adaptado de LIU, 2014. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal DICA A doença celíaca pode ser silenciosa com pacientes assintomáticos, mas com sorologia e biopsia positivas para a DC, e potencial ou latente naqueles que possuem sorologia positiva, mas com biopsia intestinal normal, mesmo com dieta contendo glúten (SILVA, 2010). Fonte: Stephen Barnes/Shutterstock. A dermatite herpetiforme é mais uma manifestação comum na doença celíaca. Trata-se de um distúrbio de pele papulovascular com prurido e mostra sensibilidade intestinal à gliadina, 60% possuem atrofia vilosa grave do intestino delgado. A manifestação cutânea também responde a uma dieta sem glúten (LIU, 2014; SILVA, 2010). Fonte: Eskemar/Shutterstock. O único tratamento atualmente é submeter o paciente a uma dieta sem glúten por toda a vida, isto é, excluindo trigo, centeio, aveia e cevada da alimentação. A retirada da gliadina (e das outras proteínas), geralmente, reverte o processo e a mucosa intestinal se regenera, entretanto, alguns pacientes podem necessitar de um período maior para a recuperação. DICA Como opção, pode ser utilizado o milho, batata, arroz, soja, tapioca, amaranto, quinoa, painço, araruta, polvilho doce e azedo, sagu, mandioca, fécula de batata, fubá, farinha de milho, amido de milho e canjica e trigo sarraceno (é assim conhecido, mas não pertence à família do trigo comum e não possui glúten). Existe uma tolerância do celíaco à ingestão de glúten, e a literatura diz que não pode ser consumido em quantidade superior a 50mg/dia. ATENÇÃO Devido à impossibilidade de analisar o conteúdo de glúten que o paciente com doença consome por dia, a dieta isenta de glúten deve ser adotada. Fonte: Tefi/Shutterstock. Segundo o Codex Alimentarius , para que um produto industrializado seja denominado gluten free , a quantidade de glúten não pode exceder 20mg/kg. A não adesão à isenção de glúten, com exposição periódica do paciente a essa fração proteica, pode levar o indivíduo a atingir um estado no qual não responde mais à dieta. Fonte: LightField Studios/Shutterstock. Também pode ser observada a intolerância à lactose, condição secundária à doença celíaca. Normalmente, após a dieta sem gliadina, a lactase volta a níveis normais e a intolerância à lactose retrocede. Os pacientes que continuam com má-absorção devem receber um suplemento de vitaminas e minerais para atingir as necessidades diárias e cada caso deve ser avaliado individualmente. Se houver má-absorção, o TCM pode auxiliar a fornecer calorias. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS (DII) Fonte: sdecoret/Shutterstock. As duas principais DIIs são a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI). São de evolução crônica, caracterizadas por períodos de atividade e/ou complicações, intercalados com fases de recindiva, as intervenções terapêuticas se assemelham entre essas duas patologias. Compartilham características clínicas, por exemplo, as intolerâncias alimentares, diarreia, febre, perda de peso, desnutrição, deficiência de crescimento e manifestações extraintestinais (artrítica, dermatológica e hepática). Em ambas, o risco de doença maligna existe, pois tratam-se de doenças crônicas. A diferença entreas duas doenças está em termos genéticos (SANTOS, 2019). As doenças inflamatórias intestinais podem ser influenciadas por fatores ambientais, envolvendo a dieta habitual do paciente e as interações virais e bacterianas com células intestinais. Nas DIIs, os mecanismos que têm capacidade de regular a resposta imune são defeituosos e, por isso, pode haver uma resposta imunológica intensa na presença do glúten, levando à fibrose e destruição tecidual. Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock. Figura 9 - Retocolite ulcerativa e doença de Crohn. Há uma tendência de aumento da incidência de doenças inflamatórias intestinais, e esse fato não é observado apenas em países desenvolvidos. A principal razão desse aumento nos países em desenvolvimento deve-se ao estilo de vida ocidental associado ao fator ambiental. As DIIs podem se desenvolver em ambos os sexos em proporções semelhantes, sendo a DC presente em maior prevalência nas mulheres. A faixa etária pode variar entre 15 e 30 anos com um segundo pico a partir dos 60 a 80 anos. Há alterações quantitativa e qualitativas na microbiota intestinal de pacientes com DIIs. Também ocorre aumento de bactérias anaeróbias com redução de bifidobactérias e lactobacillus. A tolerância às bactérias que fazem parte da flora intestinal parece ser perdida nas DIIs. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal DOENÇA DE CROHN (DC) Fonte: Lightspring/Shutterstock. A incidência de doença de Crohn vem aumentando nos últimos anos por motivos deconhecidos e acomete o indivíduo de ambos os sexos. Destaca-se o fator genético com um papel importante na gênese da patologia, principalmente, quando comparada à RCU (MS, 2014). Predominantemente, afeta pessoas jovens e com faixa etária entre 10 e 40 anos de idade. As características particularmente importantes da DC, além de acometer todo o TGI, incluem o envolvimento de qualquer parte do TGI, da boca ao ânus, e ocorrência de inflamação segmentar – áreas sadias intercaladas com áreas inflamadas. As complicações também podem estar presentes, como fístulas, ulceração, abscessos, espessamento submucoso, estenoses (Figura 10) e obstruções parciais do trânsito. Fonte: Alila Medical Media/Shutterstock. Figura 10. Fístula e Estenose na doença de Crohn. As cirurgias podem ser necessárias para desobstruir a luz intestinal, que pode ocorrer devido ao estreitamento. A cirurgia não tem poder curativo, servindo apenas para ressecção de trechos inflamados para que o paciente possa entrar na fase latente da doença. RETOCOLITE ULCERATIVA INESPECÍFICA (RCUI) Fonte: Designua/Shutterstock. A RCUI acomete igualmente ambos os sexos e, ao contrário da DC, a RCU apresenta dois picos de incidência: Fonte: Cat Box/Shutterstock. No adulto jovem, entre 15 e 35 anos; Fonte: wavebreakmedia/Shutterstock. Entre os 60 e 70 anos, sendo que a doença no idoso caracteriza-se por um quadro mais leve. As características que se destacam são a doença envolvendo apenas o cólon, estendendo-se a partir do reto; inflamação limitada à camada mucosa; sangramento retal ou diarreia com sangue (e maiores que a DC). Indica-se a ressecção total do cólon, com a criação de uma ileostomia ou bolsa ileal caso a doença seja grave ou haja risco aumentado do paciente desenvolver câncer. Fonte: Emily frost/Shutterstock. Os sintomas podem variar, sendo os principais: dor abdominal, cólicas em hipogástrio, dor difusa associada à distensão abdominal e acompanhada de náuseas e vômitos. No caso de oclusão ou suboclusão, o paciente para de eliminar gases e fezes. A diarreia crônica, geralmente, apresenta-se sem sangue, muco ou pus quando o cólon não está acometido. Sintomas sistêmicos também podem estar presentes, como: mal- estar, anorexia, emagrecimento e febre. DICA A colelitíase pode acometer os pacientes com RCUI devido à redução da reabsorção dos sais biliares pela redução da absorção ileal. O tratamento clínico das DIIs envolve tentar atingir e manter a remissão da patologia, além de manter ou recuperar o estado nutricional. O tratamento das manifestações GI primárias parece corrigir a maioria das características extraintestinais da doença. As medicações utilizadas são os corticosteroides, os agentes anti-inflamatórios (aminossalicilatos), agentes imunossupressores e antibióticos (metronidazol). CUIDADO NUTRICIONAL NAS DIIS Os principais objetivos da terapia nutricional são: Controlar os sintomas, induzindo a remissão da doença. Otimizar a qualidade de vida. Minimizar a toxicidade dos medicamentos utilizados em curto e longo prazo. Retardar e reduzir as recidivas da atividade da doença. Restaurar e manter o estado nutricional. Promover o desaparecimento das lesões inflamatórias. Manter o crescimento em crianças. Garantir suporte nutricional no pré e pós-operatório de pacientes com indicações cirúrgicas. Utilizar dietas que diminuam a atividade de doença; aumentar o tempo de remissão da doença. Reduzir as indicações cirúrgicas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Não se sabe se os fatores dietéticos podem ter papel na atenuação dos sintomas, mas, certamente, uma alimentação inadequada pode piorar o quadro. A DII, pelo seu envolvimento do TGI e seus impactos, pode estar associada à deficiência nutricional e tem níveis variáveis de déficits de vitaminas e minerais, tendo a necessidade de uma avaliação individual. Sabe-se, porém, que é possível ter pacientes com desnutrição severa, incluindo perda de peso (CHEMIN, 2011). A função digestiva e a absortiva estão comprometidas nos portadores de DII, apresentando redução da secreção de enzimas pancreáticas e diminuição da atividade enzimática na borda em escova das células da mucosa intestinal. Pode haver aumento da permeabilidade do TGI a agentes inflamatórios. A desnutrição aguda observada durante os surtos de atividade de doença tem como principais manifestações clínicas a perda de peso, anemia e hipoalbuminemia. As manifestações de desnutrição são mais frequentes na DC e, habitualmente, relacionada à atividade da doença. A diarreia intensa propicia a perda de cobre, zinco, magnésio e fósforo. A deficiência de fósforo interfere no equilíbrio da microbiota intestinal e no equilíbrio ácido-base. O déficit de selênio também pode refletir-se na redução sérica da fosfatase alcalina, uma vez que esta é uma metaloenzima do zinco. Também pode ocorrer deficiência de niacina (pelagra). Em pacientes com DC e ressecções intestinais maiores de 20 cm e naqueles que recebem nutrição enteral, foi descrita deficiência de selênio. SAIBA MAIS Segundo Chemin, pacientes com DII (especialmente, de DC) têm um risco maior de fratura óssea consequente da redução do conteúdo mineral ósseo. Constituem fatores de risco para a osteoporose nesses pacientes o uso de corticoides, baixo peso, má-absorção de cálcio e vitaminas lipossolúveis e o próprio processo inflamatório. A dieta e a nutrição desempenham um papel importante no tratamento de exacerbações e sintomas das DIIs. Quadro 8 - Principais problemas nutricionais associados às DIIs. Vitaminas antioxidantes Pacientes com DII estão propenso a intenso estresse oxidativo. É importante destacar que a suplementação com vitaminas E e C favorece a redução do estresse oxidativo. Vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) Comum nos pacientes com DC e má-absorção e/ou naqueles com comprometimento ileal (ou ressecção). Devido à falta de reabsorção dos sais biliares no íleo terminal, provoca redução no pool de sais biliares e prejuízo na absorção dos lipídios, inclusive das vitaminas lipossolúveis. O uso de colestiramina (que promove a quelação de ácidos biliares) também prejudica a absorção dessas vitaminas. A vitamina D é a vitamina lipossolúvel, mais frequentemente, afetada, o que contribui ainda mais para o desenvolvimento de osteoporose. Zinco 50% dos pacientes com DC podem desenvolver déficit de zinco, a baixa do zincocontribui para diminuição do apetite. Além disso, a redução na fosfatase alcalina, que é uma metaloenzima do zinco. Ácido fólico A deficiência de ácido fólico é mais comum na retocolite ulcerativa (RCU) (até 60%) do que na doença de Crohn (DC) (até 40%) em grande parte pelo uso mais corriqueiro de sulfassalazina na RCU. A sulfassalazina interfere na absorção intestinal de ácido fólico, ocasionando anemia macrocítica. Metotrexato também pode provocar deficiência de ácido fólico e consequente mucosite, principalmente, oral. Nessas duas situações, o paciente deve repor ácido fólico na dose de 1 a 5mg/dia, por via oral. Cálcio O uso de corticosteroides interfere na absorção do cálcio, o que deve ser um ponto de atenção no tratamento de crianças e adolescentes, pois pode interferir no desenvolvimento e no crescimento. Além de ser descrita má-absorção de cálcio em pacientes com DC. A deficiência de cálcio é relacionada com o desenvolvimento de osteopenia e osteoporose e com o risco de fraturas. Cobre Pacientes com intensa diarreia, fístulas e estomias têm risco de desenvolver redução de cobre. Ferro A redução da ingestão, a perda crônica ou aguda de ferro por diarreia ou enterorragia justifica a redução da ingestão de ferro nos pacientes com DII (anemia ferropriva, microcítica, hipocrômica). A perda é comum na RCU (até 70% maior do que na DC (até 40%). A deficiência de ferro ocasiana redução da qualidade de vida dos pacientes, supressão da produção de eritropoietina por citocinas proinflamatórias (por exemplo, interleucina 6) e alteração no metabolismo do ferro provocada pelo incremento de citocinas proinflamatórias, de metabólitos reativos de oxigênio e do óxido nítrico. Homocisteína Os níveis de homocisteína costumam estar elevados, tanto em crianças, quanto em adultos com DII, particularmente na DC, aumentando ainda mais o risco trombótico já existente. Lipoproteínas Transportam gorduras e vitaminas lipossolúveis na circulação, contribuindo para a integridade da membrana celular. O colesterol LDL e as lipoproteínas A-I e B estão geralmente diminuídos na DC, e os níveis não se correlacionam com atividade da doença. Magnésio e fósforo Redução da ingestão oral, por perdas crônicas (diarreia, fístulas) e por má-absorção intestinal, ocasionando osteopenia e osteoporose. O fósforo desempenha papel importante na manutenção das funções intestinais (por exemplo, processo de absorção e reconhecimento de antígenos) e do equilíbrio da microbiota intestinal (equilíbrio entre bactérias não patogênicas e potencialmente patogênicas). Niacina A deficiência de niacina gera pelegra, que pode ser verificada em pacientes com DC e importante má-absorção. Apresenta lesões descamativas e hipercrômicas pelo corpo, particularmente em áreas expostas ao sol. Pode ocasionar fadiga e quadro psiquiátrico (por exemplo, lentidão, confusão). Proteínas Hipoalbuminemia é relativamente comum em pacientes com DII (até 65% dos casos). Ocasiona hipoproteinemia, redução na ingestão alimentar, perdas intestinais e aumento do catabolismo. A dosagem de alfa-1-antitripsina nas fezes é útil na avaliação de perda proteica intestinal. A depleção associa-se à maior moralidade pós-cirúrgica. Selênio Normalmente, reduzido nos pacientes com intestino curto e naqueles submetidos à nutrição enteral por longo tempo. Vitamina A Baixa em pacientes com má-absorção intestinal (esteatorreia) e naqueles com baixa ingestão. Seu déficit provoca xerostomia, xeroftalmia, cegueira noturna e aumenta o risco de fraturas. Vitamina B12 A baixa da ingestão também contribui para o déficit de vitamina B12 e as ressecções, com consequente anemia megaloblástica. A reposição por via intramuscular, nesses casos, é recomendada. Vitamina K É fundamental nos processos de coagulação, a vitamina K também é um cofator na carboxilação de osteocalcina, uma proteína crucial para incorporar o cálcio ao osso. Além de promover a carboxilação dos resíduos do ácido glutâmico nas proteínas que contêm esse ácido, como é o caso da osteocalcina. Relaciona-se, portanto, com o desenvolvimento de osteoporose. Fonte: Chemim, 2011. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: fizkes/Shutterstock. A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel que tem o papel de fazer equilíbrio da resposta inflamatória. A deficiência de vitamina D pode facilitar o desenvolvimento da DC e da RCU e contribuir para uma evolução insatisfatória do paciente, conferindo um desequilibrio da resposta imunológica nas DIIs. Aparentemente, os indivíduos que possuem níveis de vitamina D menores apresentam maior necessidade de medicamento anti-inflamatório, além de outras intervenções. Quadro 9 - Cuidado nutricional na fase aguda das DIIs (dieta de resíduo mínimo). Característica da dieta Recomendação Valor energético total 25-35 kcal/kg peso ideal/dia. As necessidades podem alcançar ate 45 kcal/kg/dia. Proteínas 1,2 a 1,5 g/kg peso ideal/dia. Lipídios Hipolipídica (< 20% das calorias totais), uma vez que podem piorar a diarreia (deficiência de sais biliares). Dar preferência ao TCM. Carboidratos Normoglicídica. Isenta de lactose (níveis de lactase diminuídos pela diarreia). Controle de mono e dissacarídeos para evitar soluções hiperosmolares que possam aumentar a diarreia – dar preferência à maltodextrina e a polímeros de glicose. Rica em fibras solúveis (atuam na formação de AGCC) e pobre em fibras insolúveis. Alimentos fermentativos Devem ser evitado excesso de sacarose e fibras. Vitaminas e minerais Alguns autores recomendam suplementação diária de vitaminas e minerais. A vitamina B12 deve ser medida regularmente em portadores de DC com ou sem ressecção de íleo distal. Em uso de corticosteroides – Ca 1500-2000 mg/dia. Intestino curto ou ressecções múltiplas de intestino – avaliar vitamina D. Volume Diminuído. Fracionamento Aumentado. Fonte: Chemim, 2011. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal O tratamento dos pacientes portadores de DIIs envolve a utilização de pré e probióticos. Os probióticos têm a função de modificar a microbiota intestinal e com isso melhorar a resposta do sistema imunológico, afetando de maneira positiva o intestino, já que se trata de doenças inflamatórias. Segundo Chemin (2011), “eles atuariam como coadjuvantes na terapia de manutenção, aumentando seu período tanto na DC quanto na RCU.” Fonte: Vasilinka/Shutterstock. A produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) a partir da fermentação dos prebióticos pelas bactérias probióticas é importante para o trofismo da mucosa intestinal. Eles servem como fonte de energia e assim podem melhorar a intolerância à lactose e até o quadro de diarreia aguda. A literatura relata, inclusive a melhora nas recidivas das DIIs com a utilização de pré e probióticos (CHEMIN, 2011). Quadro 10 - Efeitos de nutrientes específicos. Nutrientes Funções Ácido graxo ômega 3 Melhora da inflamação, sintomas e necessidades de corticosteroides, promovendo melhora colônica, histológica e endoscópica. Fibras solúveis As bactérias após a fermentação produzem AGCC que fornecem 4,4 kcal/g, importante fonte E no cólon. Redução da frequência de evacuações com sangue em pacientes com RCU através do uso de enema de butirato via retal. As fibras auxiliam na remissão da RCU. Os ácidos graxos de cadeia curta contribuem para redução do pH colônico, favorecendo o crescimento de bactérias não patogênicas, como Lactobacillus e Bifidobactérias, e atuam na redução do desenvolvimento de bactérias potencialmente patogênicas (por exemplo, Clostridium , Pseudomonas e Klebsiellla ); além de estimular a secreção de mucina, aumentando o fluxo vascular e absorção colônica de sódio e água. Fonte: Chemim, 2011. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal TERAPIA NUTRICIONAL NAS DIIS Fonte: Microgen/Shutterstock. A escolha da via de alimentaçãovai depender de como e quais os sintomas o paciente esteja apresentando, sendo necessária a dieta enteral caso as necessidades por via oral não sejam atingidas. A alteração da microbiota intestinal, eliminação de ingestão de antígenos dietéticos, a diminuição da síntese intestinal dos mediadores inflamatórios pela redução da gordura dietética, a diminuição das citocinas pró-inflamatórias, o aporte nutricional adequado e a oferta de micronutrientes são as hipóteses para a melhora clínica do paciente com a nutrição enteral, tendo esta um efeito antinflamatório e imunomodulador. O início da nutrição enteral deve ser gradual. Há uma melhor tolerância com baixo volume (20 ml/h) até que atinja a plenitude em 3-4 dias, prevenindo assim a diarreia. As fórmulas oligoméricas são absorvidas, praticamente, em sua totalidade no duodeno e jejuno proximal e podem ser eficazes no fechamento de fístulas distais. DICA A não utilização do TGI durante a NPT não é mais considerada a melhor opção e nem mesmo está relacionada com a remissão da doença, como se achava anteriormente. Essa via de alimentação é indicada quando o paciente não tolera a NE ou na presença de obstrução intestinal, fístulas de alto débitos, doença grave clinicamente de difícil controle e frente a ressecções GI. SAIBA MAIS Os portadores de DIIs têm mais chance de desenvolver alergias alimentares. O alérgeno é identificado na dieta de eliminação (adição e eliminação repetidas de alimento) e também na sintomatologia do paciente. A presença de anticorpos circulantes às proteínas alimentares pode ser considerado alergia, mas eles podem ser um indicativo de permeabilidade aumentada. SÍNDROME DO INTESTINO CURTO (SIC) Fonte: Magic mine/Shutterstock. A síndrome do intestino curto (SIC) é um estado clínico de má-absorção intestinal secundário à perda da superfície mucosa funcionante, em consequência de ressecção cirúrgica (ex. doença de Crohn), de derivações do trânsito intestinal, como no caso de fístulas e cirurgia bariátrica, ou de perda das células mucosas (enterócitos) devido à infecção, isquemia, quimio e/ou radioterapia. Desse modo, a insuficiência intestinal pode ser caracterizada por causa anatômica ou funcional. Envolve o comprimento do intestino ou a sua fisiologia primária, levando à dificuldade de absorção, que pode ser compensada pela hiperfagia e por adaptações estruturais e metabólicas do intestino (SBNPE, 2011). O comprimento do intestino delgado varia e pode ir de 300 cm até quase um metro. Alguns sintomas, classificados como graves, podem ser observados em pacientes que foram submetidos à ressecção intestinal e permaneceram apenas com cerca de 200 cm de intestino delgado remanescente (jejuno e íleo). Os casos mais graves ocorrem quando restam menos de 100 cm de intestino delgado. O comprimento remanescente de intestino e a presença de anastomose jejunoileal se correlacionam com a insuficiência intestinal. De modo geral, necessita-se de um determinado comprimento crítico de intestino remanescente capaz de evitar a dependência permanente da TNP: intestino remanescente (IR) maior que 35 cm nos pacientes com anastomose jejunoileal; IR maior que 60 cm dos pacientes com anastomose jejunocólica; IR maior que 115 cm nos pacientes com jejunostomia terminal. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: Designua/Shutterstock. Figura 11 - Síndrome do Intestino Curto (SIC) A etiologia da SIC é variada. No adulto, predominam a doença vascular mesentérica, o câncer e doença de Crohn; em crianças, a enterocolite necrotizante, o volvo e a atresia intestinal. ATENÇÃO A falência intestinal ocorre quando não se pode manter o estado nutricional através de alimentação oral ou enteral, sendo necessário o uso contínuo da nutrição parenteral (CHEMIN, 2011). Porém, o intestino delgado possui grande capacidade de reserva funcional para absorção de nutrientes, permitindo a remoção de até 45% sem prejuízo no processo absortivo. A preservação do íleo terminal e particularmente do esfíncter íleo cecal favorece a compensação caso haja uma extensa ressecção intestinal. Fonte: Olga Yatsenko/Shutterstock. Pacientes submetidos a ressecções distais do intestino delgados geralmente apresentam problemas para absorção de gorduras e consequentemente deficiência de vitaminas lipossolúveis. Pode ocorrer irritação do cólon por sais biliares e ácidos graxos não absorvidos. Esses pacientes também não conseguem absorver B12, pois seu sítio absortivo, íleo terminal, foi ressecado e na ausência da válvula íleo-cecal, ocorre refluxo de conteúdo bacteriano colônico, desconjugação dos sais biliares e utilização bacteriana de vitamina B12. ATENÇÃO A deficiência de cálcio, magnésio e zinco pode ocorrer nesses pacientes e isso é ocasionado pela formação de sabões insolúveis com ácidos graxos que tornam esses minerais menos biodisponiveis. A menor absorção do cálcio aumenta o risco de formação de cálculos de oxalato pela maior absorção deste no cólon. A hipersecreção gástrica é comum ser observada em pacientes submetidos a ressecções proximais do intestino delgado em decorrência de um maior estímulo. O pH ácido provoca inativação enzimática (lípase pancreática), o que compromete o processo digestivo e pode provocar a redução da secretina e colecistoquinina, levando a uma insuficiência pancreática. Progressivamente, ocorre uma adaptação intestinal que se inicia 12 - 24h da ressecção intestinal com aumento gradativo ao longo do tempo. Caracteriza-se pela melhora da capacidade absortiva do intestino remanescente. A mucosa intestinal consegue se regenerar e até observa-se uma hiperplasia. Para que haja essa adaptação, é necessária a utilização do TGI durante a alimentação. A ausência de nutrientes intraluminais diminui a adaptação intestinal pós-ressecção, pela liberação ou intensificação da apoptose enterocítica na mucosa. A adaptação intestinal na SIC pode ser influenciada pela presença de nutrientes na luz intestinal, metabolizados ou não. As secreções pancreático-biliares, que são estimuladas pela ingestão de nutrientes, também auxiliam no processo de adaptação, além da atuação dos hormônios como GH (hormônio do crescimento), IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1), insulina, EGF (fator de crescimento epidérmico). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A manutenção do cólon no ato cirúrgico é um aspecto positivo para adaptação do paciente, pois assume o papel de digerir carboidratos, os quais são fermentados pelas bactérias colônicas formando AGCC que, quando absorvidas, fornecem calorias adicionais (4,4 kcal/g) e estimulam a absorção de sódio e água. O cólon também tem a capacidade de absorver TCM. A arginina e a glutamina auxiliam na proliferação celular, pois são essenciais para o crescimento e a diferenciação de células. Alguns fatores contribuem de maneira negativa para a doença, são eles: idade avançada. Tamanho pequeno de intestino residual. Ressecção distal ou invés de proximal. Ausência de válvula íleo-cecal e/ou cólon (o cólon pode atuar no esvaziamento gástrico, pelo mecanismo inibitório de retroalimentação hormonal, o chamado “freio colônico”). Relação entre tamanho do intestino residual e peso do paciente. Doenças nos segmentos intestinais remanescentes. Enterite de radiação. Desnutrição coexistente e incapacidade adaptativa do intestino remanescente, podem contribuir de forma negativa no curso da doença. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A diarreia associada à SIC possui diversas causas e precisa ser adequadamente tratada, como pode ser observado abaixo. FASE INICIAL DA SIC Dura, em média, até 01 mês, quando há redução da diarreia. As características dessa fase, logo após a ressecção intestinal, são: desequilíbrio hidroeletrolítico; incapacidade de usar o TGI. Necessário o início da NPT no pós-operatório, porém precisa
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