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Responsabilidade objetiva

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Profº Sérgio Cavalieri
III - RESPONSABILIDADE OBJETIVA OU PELO RISCO
1. INTRODUÇÃO 
- É a responsabilidade SEM CULPA Por isso, também chamada de RESPONSABILIDADE PELO RISCO
- Tudo o que foi estudado para a responsabilidade SUBJETIVA é aplicável à responsabilidade OBJETIVA, MENOS A CULPA. Por isso, também temos aqui:
- Conduta / Atividade / Serviço: menos a culpa
- Nexo Causal: teorias, exclusão do NC
- Dano: material, dano emergente, lucros cessantes, etc
2. EVOLUÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL
a) Fatores da evolução – acidentes de trabalho e de transporte coletivo
b) Fases da evolução – culpa presumida, responsabilidade contratual
 CULPA PRESUMIDA (presunção da CULPA, e não da responsabilidade). Alguns autores confundem CULPA PRESUMIDA com RESPONSABILIDADE OBJETIVA mas a culpa presumida foi a evolução da responsabilidade subjetiva para a responsabilidade objetiva. Em certas situações, há uma PRESUNÇÃO DE CULPA No Direito do Consumidor existe a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA (presunção iuris tantum) Melhora a situação da vítima que, outrora tinha que se “desdobrar” para obter a prova.
 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL: Já existe um VÍNCULO JURÍDICO pré-estabelecido entre as partes. Importância na responsabilidade do transportador (contrato de transporte entre o passageiro e o transportador). O transportador tem dever de transporte e, também, de segurança e de incolumidade do passageiro (implícitos no contrato). Nos casos de acidente, passou-se a admitir uma RESPONSABILIDADE SEM CULPA (OBJETIVA) do transportador (posto que descumprido o dever deste), baseada na MERA RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO.
3. TEORIA DO RISCO
- Qual foi o fundamento para justificar a RESPONSABILIDADE OBJETIVA, a responsabilidade sem culpa?
Enquanto a responsabilidade SUBJETIVA está fundada na CULPA, a responsabilidade OBJETIVA está fundada no RISCO (= perigo, probabilidade de dano). 
O entendimento inicial era de que o risco não poderia ser suportado pela vítima, o risco deveria ser suportado por aqueles que exerciam uma atividade de risco ou de distribuição de produtos perigosos.
Então, a DIFERENÇA entre RISCO e CULPA é que:
- CULPA = Falta de cuidado
- RISCO = Probabilidade de dano
- CULPA = vinculada ao homem porque é uma violação de dever de cuidado 
- RISCO = ligado à coisa, à empresa, ao serviço, do produto, ao aparelhamento.
- CULPA = pessoal, subjetiva (porque depende de uma conduta do sujeito)
- RISCO = objetivo (porque fundada no risco da própria coisa / empreendimento), vincula-se à máquina ou atividade
- SUB-TEORIAS DO RISCO (para justificar a responsabilidade objetiva):
Risco proveito: 
- 1ª teoria usada para justificar a RESPONSABILIDADE 
- Responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa. Quem tem os bônus tem os ônus
Risco profissional: o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão 
Risco excepcional: a reparação é devida sempre que o dano é conseqüência de um risco que escapa à atividade, cria um perigo
Risco criado: tem que indenizar que, em razão da sua atividade, cria um perigo
Risco integral: 
- Modalidade extremada da doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar até nos casos de inexistência do nexo causal
- Mesmo na responsabilidade objetiva, há necessidade de relação de causa e efeito entre a conduta / atividade e o dano. Mas EXCEPCIONALMENTE, há o dever de indenizar ainda que se trate de caso de EXCLUSÃO DO NEXO CAUSAL. Portanto, é exceção à regra de que apenas haverá responsabilização se houver relação de causa e efeito. 
- Na nossa legislação, há raros casos fundados na Teoria do Risco Integral, sempre com observância de 2 regras: 
1) A indenização será sempre limitada
2) Normalmente, quem arcará com a indenização é o seguro social ou fundo destinado a esse fim, e não o agente causador do dano
* Obs: 
1) Quais os exemplos de Teoria do Risco Integral?
- Trata-se de responsabilidade em que, mesmo ocorrendo uma causa de exclusão do nexo causal, não haverá exclusão da responsabilidade. São casos excepcionais e expressamente previstos em lei.
- Ex: Acidente de trabalho Mesmo ocorrendo in itinere, mesmo que ocorra por fato exclusivo da vítima (cochilou enquanto manipulava máquina) ou força maior ou caso fortuito, haverá o dever de indenizar. Pago pelo INSS.
- Ex: DPVAT, dano ao meio ambiente (entendimento do prof°), dano causado por acidente nuclear
2) Responsabilidade do transportador pelo assalto: É controverso
I) Há quem entenda que a empresa de ônibus responde, por se tratar de CASO FORTUITO INTERNO
II) Há quem entenda que NÃO responde (entendimento prevalecente e do prof°)
 É FATO EXCLUSIVO DE 3° (ato doloso de 3°). Portanto, exclui o NC e afasta a RC da empresa de ônibus. A rigor, não cabe à empresa assegurar essa segurança externa (dever do Estado)
 * Suponha que, em um assalto de ônibus, um dos passageiros reaja e entre em luta corporal com o bandido Da luta corporal sai um disparo que atinge outro passageiro, deixando-o paralítico A responsabilidade pelo disparo e pela lesão recai sobre o passageiro que reagiu?
 R: Evidentemente que não. O passageiro estava em legítima defesa. O responsável é o assaltante.
3) Um soldado das Forças Armadas recebeu ordem de seu superior para sacrificar cães do Batalhão. O soldado, desobedecendo à ordem, levou os cães para sua residência, passando a custear a manutenção dos mesmos. Cabe indenização quanto a esses custos? Caberia indenização por danos morais em razão da perseguição sofrida pelo seu superior hierárquico? 
R: 	Não, pois que a iniciativa foi dele. Sim, enseja indenização pelo Estado pela responsabilidade civil.
4. O DEVER DE SEGURANÇA
	O aluno deve estar agora se perguntando: 
Ora, como já foi estudado, RESPONSABILIDADE É SEMPRE UM DEVER SUCESSIVO DECORRENTE DA VIOLAÇÃO DE UM DEVER ORIGINÁRIO. Mas, agora, diz-se que responsabilidade objetiva é fundada no risco. E risco, a rigor, não é violação de dever jurídico. Se alguém responde só pelo risco, responderá sem que tenha havido violação de dever jurídico. Como fica essa contradição?
O risco, a rigor, não é o fundamento da responsabilidade objetiva. RISCO É APENAS A TEORIA QUE JUSTIFICA A RO. Então, em razão do risco da atividade perigosa, que envolve a todos, é que se passou a adotar uma responsabilidade sem culpa. Mas, quer na RS, quer na RO, a responsabilidade será sempre decorrente da violação de um dever jurídico. O dever jurídico violado na RS é o dever de cuidado (culpa = violação de dever de cuidado). Na RO, não se fala em culpa, então não se fala em dever de cuidado. Fala-se em risco. Só que uma pessoa não pode responder só pelo risco que a conduta / atividade gera. Há inúmeras pessoas que exercem atividades de risco e, nem por isso, precisam responder por isso porque não causam dano a ninguém. Por que não têm que responder por exercer atividade de risco? Porque só responderão SE e QUANDO causarem um DANO.
O DANO só ocorrerá quando for violado o DEVER JURÍDICO DE SEGURANÇA.
Portanto, NÃO BASTA O RISCO PARA GERAR A OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. SERÁ PRECISO VIOLAR O DEVER JURÍDICO DE SEGURANÇA.
FUNDAMENTO DA RO = DEVER DE SEGURANÇA, DE INCOLUMIDADE com a qual toda e qq atividade de risco deve ser exercida
5. CAMPO DE INCIDÊNCIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
- A responsabilidade objetiva não substituiu plenamente a teoria da culpa. Foi sendo adotada à látera do C.Civil 1916 por leis especiais.
a) Responsabilidade das estradas de ferro – Decreto nº 2.681/1912
b) Acidente de trabalho – Decreto nº 3.724 de 1919; Dec. nº 24.637/34; Dec-Lei nº 7.036/44; Lei nº 5.136/67; Lei nº 8.213/91, regulamentada pelo Dec. nº 2.172/97
- Aqui temos uma hipótese de RISCO INTEGRAL. Se um empregado sofre um acidente de trabalho, ele sempre terá direito à indenização, ainda que o acidente tenha ocorrido in itinere, ainda que tenha havido culpa exclusiva da vítima (por exemplo, ao operar uma máquina) ou fato exclusivo de 3° (ex: assalto à empresa) ou caso fortuito (ex: relâmpago que atinge o empregado). 
 Masa indenização, a rigor, não é paga pelo empregador, é paga pelo INSS (o empregador paga um tributo para o INSS) e essa indenização é limitada por lei. 
 Se o empregador tiver culpa, ele também responderá: haverá dupla indenização. Poderá ser abatida da indenização do empregador aquilo que o empregado recebe pelo INSS.
c) Seguro obrigatório (DPVAT) – Lei nº 6.194/74, alterada pela Lei nº 8.441/92
- Responsabilidade objetiva fundada em RISCO INTEGRAL
- Se a pessoa sofreu um acidente (morrendo ou não) tem direito ao DPVAT, ainda que haja culpa exclusiva da vítima ou de 3° ou caso fortuito. Haverá esse direito desde que envolva veículo automotor.
d) Responsabilidade Civil do Estado – art. 94 da CF de 1946; art. 37, § 6º da CF de 1988
- A RC do Estado é objetiva e estende-se aos prestadores de serviços públicos
e) Danos ao meio ambiente – Lei nº 6.938/81, art. 14, § 1º; CF art. 225
f) Transportes Aéreos – Código Brasileiro de Aeronáutica ( Lei nº 7.565/86)
g) Responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços – CDC, arts. 12 e 14
 
6. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002
O CC 1916 era essencialmente subjetivista. O CC de 2002 é prevalentemente objetivista 
Três cláusulas gerais de responsabilidade objetiva: 
- Abuso do direito (art. 927 c/c 187)
- Desempenho pela atividade de risco (art. 927, parágrafo único)
- Fato do produto (art.931)
7. CLÁUSULAS GERAIS DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
- Cláusulas tão amplas que restringem a responsabilidade praticamente à RO. Hoje, a regra é a RO, estando a RS praticamente à responsabilidade pessoal (pessoa atuando individualmente). A responsabilidade empresarial é, via de regra, objetiva porque o CC 2002, além de manter as leis especiais que, antes dele, já previam a RO, ainda trouxe 3 cláusulas gerais de RO.
7.1. ABUSO DO DIREITO (art. 927 c/c 187) - 1ª CLÁUSULA GERAL DE RO
- Quem comete o ato ilícito do art. 187 e causa um dano a outrem é obrigado a REPARÁ-LO, por determinação do art. 927.
- Exercer um direito regularmente = exercício regular de direito
- Exercer um direito excedendo os limites estabelecidos em lei = Abuso de direito O que era lícito, vira ilícito; o direito que era legítimo, vira ilegítimo, e se gerar dano, gera o dever de indenizar
- Fundamento Principal do Abuso do Direito: IMPEDIR QUE O DIREITO SIRVA COMO FORMA DE OPRESSÃO. Os direitos nos são concedidos para serem EXERCIDOS DE MANEIRA JUSTA, SOCIAL.
Art. 927 – “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
Art. 187 – “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim (1) econômico ou (2) social, pela (3) boa-fé ou pelos (4) bons costumes.”
* Obs: - Art. 186 = ATO ILÍCITO STRICTU SENSU (ilícito que tem como fundamento a CULPA, que serve como cláusula geral da RS)
- “Titular de um direito” = Titular do DIREITO SUBJETIVO
- Assim, o ABUSO DE DIREITO passou a ter relevância em sede de RC porque ele passou a ser uma cláusula geral de RO
- Vê-se que o art. 187 não faz nenhuma referência ao elemento subjetivo, à intenção do titular do direito. Isso equivale dizer que o nosso CC adotou a corrente objetiva, isto é, POUCO IMPORTA A INTENÇÃO DO AGENTE AO ABUSAR DE SEU DIREITO. O abuso de direito do art. 187, CC é o abuso de direito da corrente objetiva: BASTA EXCEDER OS LIMITES DO DIREITO (este entendimento já está pacificado)
 PORTANTO: A RC decorrente do Abuso de Direito INDEPENDE DE CULPA !!!
 Enunciado nº 37 da Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal
- Cláusula geral para todas as áreas do direito: É O ABUSO DE DIREITO QUE JUSTIFICA A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (desconsidera-se a personalidade da PJ porque houve um abuso na utilização da personalidade jurídica), as cláusulas abusivas, desfalque no patrimônio do casal. 
7.1.1. OS LIMITES ESTABELECIDOS PELA LEI
a) FIM ECONÔMICO 
- É o PROVEITO MATERIAL OU VANTAGEM que o exercício do direito trará para o seu titular, ou a PERDA QUE SUPORTARÁ pelo seu não exercício 
- Todo direito, principalmente o de natureza patrimonial, tem um fim econômico, e só em razão desse fim ele deve ser exercido. O direito não pode ser exercido anormalmente para, unicamente, causar embaraço para quem quer que seja. Toda vez que alguém exerce um direito sem qq finalidade, ela exerce um abuso de direito. 
AULA 6 - CASO 1
Silvia propôs ação de indenização por danos materiais e morais em face de Matheus, objetivando a reparação por danos sofridos.
Alega, em síntese, que o réu transferiu duas linhas telefônicas de sua propriedade, que estavam instaladas no consultório da autora para seu consultório de fonoaudiologia, o que lhe causou graves prejuízos, tendo em vista que firmou vários convênios com planos de saúde, tendo disponibilizado, para marcação de consultas, os referidos números de telefone, os quais constavam nos livros médicos, distribuídos aos conveniados. 
Assevera que a transferência deveu-se à sua separação com o réu, tendo o mesmo determinado a transferência das linhas sem qualquer aviso.
Em contestação, alega o réu culpa exclusiva da vítima quanto ao período sem telefone, visto que somente após sete meses do término da relação fora solicitada a transferência dos terminais telefônicos.
Pergunta-se: caso seja devida alguma indenização a Sílvia, qual seria o fundamento jurídico?
R:	No caso em tela, constata-se que o réu incorreu em ato ilícito, posto que agiu com abuso de direito, nos termos do art. 187 c/c 927, CC. A princípio, sendo as linhas telefônicas de propriedade de Mateus (titular desse direito patrimonial), poderia ele ordenar a transferência das mesmas. Mas poderia ele exercer esse direito da forma que exerceu, sem nenhum aviso e sem demonstrar nenhum fim econômico? Não, fez como forma de prejudicar a ex-mulher. Qual o proveito que será obtido ou qual o prejuízo que o titular visa evitar com o exercício de um direito? O réu deveria ter notificado previamente a autora de que determinaria a transferência dos terminais telefônicos pois a ninguém é lícito exercer o seu direito excedendo os limites legais (Mateus excedeu os limites do fim econômico). Mateus manteve as linhas no consultório da autora, criando nela a expectativa de que manteria essa conduta. Quando, súbita e inexplicavelmente, ordena a transferência das linhas, está adotando comportamento contraditório, o que é reprovado pelo direito.
Isto posto, procede o pleito autoral no tocante aos danos materiais e morais (pelo fato de ter sido agredida na sua integridade psicológica).
* Obs.: Vedação de comportamento contraditório = Trata-se de uma teoria alemã. Se uma pessoa se comporta de uma forma que gera uma expectativa em outra pessoa, não pode aquela comportar-se de forma contraditória à sua primeira atitude por lesar a expectativa gerada em outrem.
"Venire contra factum proprium" significa vedação do comportamento contraditório, baseando-se na regra da pacta sunt servanda. Segundo o prof. Nelson Nery, citando Menezes Cordero, venire contra factum proprium' postula dois comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si e diferidos no tempo. O primeiro - factum proprium - é, porém, contrariado pelo segundo. 
 	O venire contra factum proprium encontra respaldo nas situações em que uma pessoa, por um certo período de tempo, comporta-se de determinada maneira, gerando expectativas em outra de que seu comportamento permanecerá inalterado.
 
Em vista desse comportamento, existe um investimento, a confiança de que a conduta será a adotada anteriormente, mas depois de referido lapso temporal, é alterada por comportamento contrário ao inicial, quebrando dessa forma a boa-fé objetiva (confiança).
Existem, portanto quatro elementos para a caracterização do venire: 
- Comportamento, 
- Geração de expectativa
- Investimento na expectativa gerada 
- Comportamento contraditório.
Nos dizeres de Anderson Schreiber, a tutela da confiança atribui ao venire um conteúdo substancial, no sentidode que deixa de se tratar de uma proibição à incoerência por si só, para se tornar um princípio de proibição à ruptura da confiança, por meio da incoerência. Em suma, segundo o autor fluminense, o fundamento da vedação do comportamento contraditório é, justamente, a tutela da confiança, que mantém relação íntima com a boa-fé objetiva.
b) FIM SOCIAL 
- Toda sociedade tem um fim a realizar: a paz, a ordem, a solidariedade e a harmonia coletiva – enfim, o bem comum. E o Direito é o instrumento de organização social para atingir essa finalidade
Art. 421, CC: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”
- Nada de usar o direito egoisticamente, sem nenhum proveito social.
c) BOA-FÉ OBJETIVA 
- A conduta adequada, leal e honesta que as pessoas devem empregar em todas as relações sociais. Sentimento de solidariedade, de colaboração, de informação. Ética negocial. 
- Se o titular de um direito não observa a boa fé objetiva, comete abuso de direito
- No entender do prof°:
- O princípio constitucional + importante é a dignidade humana
- O princípio infra-constitucional + importante é a boa-fé objetiva (serve de contenção de exercício de um direito)
 FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA
I) INTERPRETATIVA = Norma que se dirige ao JUIZ (intérprete da lei)
- Art. 113, CC: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”
- Por exemplo, o juiz deve interpretar um negócio jurídico, observando se os contratantes estavam de boa-fé
II) INTEGRATIVA = Fonte de deveres anexos 
- Art. 422, CC: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” 
- “obrigados” = significa DEVER JURÍDICO; portanto, a violação de um dever jurídico gera o dever de indenizar
III) CONTROLE = Limite ao exercício dos direitos subjetivos 
- Art. 187, CC = Padrão ético de confiança e lealdade
- Essa é a principal função da boa-fé em sede de RC, eis que estabelece o controle do exercício de um direito subjetivo
e) BONS COSTUMES 
- Concepções ético-jurídicas dominantes na sociedade; conjunto de regras de convivência. Ética dominante
7.2. RESPONSABILIDADE PELO DESEMPENHO DE ATIVIDADE DE RISCO (art. 927 § único) - 2ª CLÁUSULA GERAL DE RO
Art. 927, § único: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”
- O art. 927 § único deveria ser um novo artigo, já que traz uma nova regra, diferente da do caput
- Aqui foi adotada a TEORIA DO RISCO CRIADO: pouco importa se houve proveito ou não, O QUE IMPORTA É SE A ATIVIDADE CRIOU OU NÃO UM RISCO PARA A SOCIEDADE. Mas o CC adotou a Teoria do Risco Criado para estabelecer quais condutas geram o risco.
a) “Atividade normalmente desenvolvida”
- ATIVIDADE = Não é a ação / omissão (não é a conduta eventual). Indica um exercício profissional (entendimento pacificado na doutrina e na jurisprudência), uma conduta reiterada, por isso é que o CC usa a expressão “normalmente desenvolvida”. Trata-se do serviço profissional exercido de forma habitual por empresa ou pessoa física.
- Esse dispositivo só se aplica à ATIVIDADE PROFISSIONAL!!! O CC estabeleceu uma RO para todos aqueles que exercem profissionalmente uma atividade de risco.
- Lembrar que NÃO BASTA EXERCER ATIVIDADE DE RISCO para haver RC, deve haver também a INOBSERVÂNCIA AO DEVER DE SEGURANÇA.
b) RISCO + DEVER DE SEGURANÇA 
- A lei impõe o dever de segurança para todos aqueles que exercem atividade de risco
- Serviço perigoso e serviço defeituoso
c) Art. 14, CDC (RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO)
- Também é cláusula geral de RO
- Há 2 normas regulando a mesma questão (art. 14, CDC e 927 § único): prestação de serviço e RO. Trata-se de conflito aparente de normas? Qual prevalece?
 R: As normas não são colidentes, apenas a aplicação será distinta. Lembrar que o CDC é lei especial, só aplicável nas relações de consumo e só haverá consumidor quando a vítima for o destinatário final do serviço. O CC será aplicável quando tivermos uma atividade de risco que não envolva relação de consumo. Amplia, assim, a incidência da RO nas atividades de risco além da relação de consumo.
 Pessoa que leva seu filho e os filhos de amigos para escola todas as manhãs, sem remuneração, responde pelos danos que vier a causar em um acidente de trânsito? Responde pelo art. 186 ou 927 § único, CC?
R:	Essa pessoa não está exercendo uma atividade profissional habitual, está praticando uma ação por interesse próprio e de alguns amigos. A sua responsabilidade é subjetiva, portanto, é aplicável o art. 186, CC.
AULA 6 - CASO 2
O jornal “Mundo” publicou a seguinte notícia. O corpo do Juiz do Tribunal Marítimo Carlos Silva, 56 anos, foi encontrado às 5 h de ontem dentro do sistema de tratamento de esgoto do Condomínio Via Expresso, na Barra. O Juiz estava desaparecido desde às 22 horas do dia anterior. Ele assistia a um jogo de futebol, na Associação Bosque Marapendi, quando a bola caiu no terreno do Condomínio onde morava, e prontificou-se a resgatá-la. Como demorasse a voltar, os rapazes que jogavam futebol continuaram a partida com outra bola. Apenas no dia seguinte, amigos e parentes deram conta do sumiço do Juiz e começaram uma busca angustiante. Ao que tudo indica, o Juiz, enquanto procurava a bola (local pouco iluminado), caiu acidentalmente dentro da caixa de esgoto, que estaria destampada. 
Caso comprovada essa versão fática, o Condomínio poderá ser responsabilizado civilmente? Qual seria o fundamento dessa responsabilidade? Em defesa, poderia o condomínio alegar com êxito não ter dado causa ao evento e que este ocorreu por culpa exclusiva da vítima? Resposta fundamentada.
R:	Não há que se aplicar o art. 14, CDC, posto que inexiste relação de consumo entre Condomínio e condômino (é mero participante do Condomínio).
	Não há que se alegar culpa exclusiva da vítima pois o que existia era verdadeira armadilha e ninguém poderia imaginar que poderia cair em uma rede de esgoto. 
	No caso concreto, não há dúvida de que o Condomínio exerce atividade de risco, não só em relação às suas caixas de esgoto mas, também, em relação a várias outras coisas que o integram e que são perigosas (ex: conservação do elevador, a princípio, é responsabilidade do Condomínio; piscina devidamente cercada e controlada). Assim, será aplicável o art. 927 § único, CC (responsabilidade objetiva pelo exercício profissional de atividade de risco) pois o Condomínio, não obstante, exercer profissionalmente uma atividade de risco, não observou o seu dever de segurança. 
> Questão das empresas locadoras de veículos: quem responde pelos acidentes que, eventualmente, podem acontecer durante a locação? E se a pessoa que causou o acidente é um turista que, após o acidente, retorna ao seu país de origem?
R:	A locadora de veículo exerce uma atividade de risco, portanto, aplicável o § único do art. 927, CC. Portanto, responde objetivamente independentemente de culpa.
Existe relação de consumo apenas entre a locadora e aquele que alugou o veículo; entre o locatário e a vítima do acidente não existe relação de consumo.
 
d) PROFISSIONAIS LIBERAIS QUE EXERCEM ATIVIDADE DE RISCO – CDC, art. 14, § 4°
“A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”
- PROFISSIONAIS LIBERAIS: Todos aqueles que exercem atividade por conta própria, sem vínculo empregatício (mecânico, marceneiro, médico, advogado) Embora exerçam profissionalmente ATIVIDADE DE RISCO, a responsabilidade é SUBJETIVA, havendo, portanto, culpa provada ou culpa presumida (caso se trate de obrigação de resultado)
- E o taxista (exerce atividade profissional de risco)? Responde?
Depende:
1) Se estiver trabalhando com seu veículo como PROFISSIONAL LIBERAL, responde subjetivamente, incidindo o art. 14 §4°, CDC. 
2) Caso seja PREPOSTO DE UMA EMPRESA DE TÁXI,esta responderá OBJETIVAMENTE por ser prestadora de serviço. Nesta hipótese, a norma aplicável dependerá de quem é a vítima:
- Se a vítima não for o passageiro (ex: taxista atropela alguém na rua), incidirá o art. 927 § único (já que nesse caso não há relação de consumo) 
- Se a vítima for o passageiro: incidirá o art. 14, CDC (pois nesse caso será relação de consumo).
7.3. RESPONSABILIDADE DOS EMPRESÁRIOS E EMPRESAS POR DANOS CAUSADOS POR PRODUTOS (art. 931, CC) – 3ª CLAÚSULA GERAL DE RO
Art. 931, CC: “Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação”
- Deve ser interpretado restritivamente pois, se assim não for, o empresário / empresa teria de responder sempre por qq dano que, eventualmente, o produto colocado no mercado vier a causar, independentemente de ter um defeito, e isso seria um absurdo. Interpretação da mesma forma que aquela feita para o art. 12, CDC.
 Portanto, a empresa / empresário responde pelo fato do produto QUANDO O PRODUTO TIVER UM DEFEITO E ESTE DANO DECORRER DESSE DEFEITO, isto é, QUANDO HOUVER UMA RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO ENTRE O DANO E O DEFEITO DO PRODUTO.
- Aqui também SÃO APLICÁVEIS AS CAUSAS DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE pela falta de nexo causal (caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima)
- RISCO DO EMPREENDIMENTO E O DEVER DE SEGURANÇA – produto perigoso e produto defeituoso
- Art. 12 do CDC: Cláusula geral de RO pelo fato do produto nas relações de consumo. Aplicável caso haja relação de consumo
- Art. 931, CC: Aplicável caso NÃO haja relação de consumo
AULA 3 - CASO 3
O depósito de fogos de artifício de Antônio explodiu na madrugada do dia 24/10/2006. Embora não tenha havido vítimas, deu-se a perda total do material estocado e a destruição completa do prédio. A perícia não apurou nenhuma irregularidade de estocagem, apontando como possível causa da explosão defeito em alguma peça pirotécnica que estava no galpão. Antônio, pequeno empresário, quer ser indenizado. De quem poderá pleitear a indenização, com que fundamento e o que poderá pedir?
- Não seria aplicável o art. 12, CDC porque não existe relação de consumo (Antônio não era destinatário final dos produtos estocados, os quais se destinavam à revenda). Trata-se de relação empresarial
- Aplicável o art. 931, CC. A peça pirotécnica tinha um defeito, o que acarretou a explosão
- Quem responde? O fabricante da peça pirotécnica
- Recebe danos materiais (danos emergentes e lucros cessantes por um tempo razoável).
R:	Antônio poderá pleitear indenização do fabricante da peça pirotécnica, com fundamento no art. 931, CC, posto que há uma relação de causa e efeito entre o dano e o defeito do produto, vale dizer, o produto tinha um defeito e esse defeito causou um dano a alguém (Antônio). Desta feita, deverá o fabricante da peça com defeito responder, independentemente de culpa.
	Frise-se que não há que se invocar o art. 12, CDC, posto inexistir, no caso em tela, relação de consumo. Ao revés, trata-se de relação empresarial, na qual Antônio não era o destinatário final dos produtos fornecidos pelo fabricante. 
Antônio poderá pedir ressarcimento pelos danos materiais (danos emergentes e lucros cessantes por um tempo razoável).
* Obs: Caso semelhante mas que não é aplicável o art. 931, CC: 
 Pessoa estava soltando morteiro, que explodiu antes, em sua mão, causando-lhe a perda de um dedo Trata-se de acidente de consumo: a vítima era destinatária final e houve um fato do produto (porque foi o produto que causou o dano) Aplica-se o art. 12, CDC (é norma especial, que prevalece sobre a geral)

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