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2021 Gepra Editora Barros et al. 832 Capítulo 75 ESTUDO SENSORIAL E NUTRICIONAL DA MERENDA ESCOLAR OFERTADA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE – RN DE SÁ, Ayla Dayane Ferreira Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) ayladayane@hotmail.com MAIA, Keliane da Silva Técnica de Laboratório Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) kelianemaia@gmail.com VIEIRA, Milena Sandja Ferreira Discente Universidade Potiguar (UnP) m.sandja@hotmail.com DO VALE, Maria Luiza Barbosa Discente Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) maria.vale@estudante.ufcg.edu.br FEITOZA, João Vitor Fonseca Docente Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) joaovitorlg95@hotmail.com RESUMO Os hábitos alimentares adquiridos durante a infância e adolescência podem influenciar preferências e práticas na idade adulta e, consequentemente, também o estado nutricional. Assim, é importante a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, inserida no próprio currículo escolar com enfoque no tema alimentação, nutrição e desenvolvimento de práticas saudáveis de vida. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), visa atender no mínimo 20% das necessidades nutricionais diárias dos alunos durante sua permanência na escola. Diante disso, objetivou-se avaliar a aceitação e a qualidade nutricional da alimentação escolar oferecida na rede pública de ensino no município de Campo Grande - RN. As preparações apresentaram uma aceitabilidade compatível ao padrão apropriado, contudo na qualidade nutricional, as refeições não atenderam ao exigido. Assim, seria necessário fazer uma valorização da qualidade nutricional para não interferir de modo negativo no aprendizado e nem contribuir para evasão escolar. PALAVRAS-CHAVE: Alimentação escolar, Composição centesimal, Ensino básico. INTRODUÇÃO O consumo alimentar e o quadro de sobrepeso e obesidade na população brasileira foram modificados ao longo dos anos. O consumo alimentar desta população caracteriza- 2021 Gepra Editora Barros et al. 833 se pelo aumento de refrigerantes, frituras, embutidos e salgadinhos e diminuição no consumo de frutas e hortaliças (VILLA et al., 2015). Esse tipo de alimentação reflete a ingestão excessiva de gorduras saturadas, ácidos graxos trans, açúcares livres, bem como a inadequação de macro e micronutrientes (SOUZA, 2016). O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, do Ministério da Educação (FNDE/MEC), é referência mundial na área da alimentação escolar. Atende estudantes matriculados na educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e na educação de jovens e adultos (EJA) das escolas públicas e filantrópicas do país, tendo por base a perspectiva do direito humano à alimentação. No decorrer do tempo, a concepção de merenda escolar passou por uma transformação, até fins da década de 80, o PNAE funcionava de forma centralizada no governo federal, fornecendo alimentos desidratados, que contrariavam os hábitos alimentares do público-alvo. No contexto da promoção da alimentação saudável, alguns eixos são prioritários, na qual são vinculados ao PNAE: ações de educação alimentar e nutricional; estímulo à produção de hortas escolares; estímulo à implantação de boas práticas de manipulação de alimentos; restrição ao comércio e preparações com altos teores de gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal; incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras e monitoramento da situação nutricional dos escolares (FNDE, 2007). A importância da alimentação para a criança em idade escolar reside no fato de ser uma fase de crescimento lento, porém, constante, ao passo que, para o adolescente, ocorre crescimento intenso. Em virtude dessas diferenças, as exigências nutricionais devem ser atendidas em todos os parâmetros (energéticos, proteicos, lipídicos, vitamínicos, minerais e de fibra). Muitas situações podem afetar o estado nutricional do escolar, com destaque para ingestões inadequadas, pobreza, doenças nutricionais (Desnutrição, Diabetes e Hipertensão), fatores psicossociais e modo de vida (JACOBSON, 1998). A aceitação de um alimento pelo aluno é o principal fator para determinar a qualidade do serviço prestado pelas escolas, no tocante ao fornecimento da merenda escolar. Para averiguar a aceitação de determinado alimento, a pesquisa de preferência e aceitação da merenda escolar é um instrumento fundamental, pois é de fácil execução e permite verificar a preferência média dos alimentos oferecidos (CALIL et al., 1999). O planejamento do cardápio deve ser fundamentado para auxiliar no respeito às diretrizes do PNAE (SOUSA et al., 2015). Sendo assim, o cardápio bem planejado e executado pode auxiliar na formação de hábitos alimentares saudáveis. Existem métodos que auxiliam na avaliação dos cardápios e dos gêneros alimentícios adquiridos para a alimentação escolar, como forma de analisar as dimensões de qualidade nutricional, sensorial e o cumprimento das regulamentações. Avaliar o cardápio é fundamental para auxiliar na garantia da qualidade nutricional das preparações servidas no ambiente escolar. No entanto, avaliar o cardápio isoladamente não garante a qualidade do alimento ofertado, pois se torna necessário analisar os alimentos adquiridos, ou seja, as listas de compras. Os cardápios e as listas de compras são documentos que devem demonstrar as modificações da legislação sobre alimentação escolar, refletindo a qualidade nutricional da alimentação proposta (MARTINELLI et al., 2014). 2021 Gepra Editora Barros et al. 834 A escola é um espaço que permite a construção do hábito alimentar saudável, para tanto, deverá ofertar e facilitar o acesso a refeições que atendam às necessidades nutricionais dos estudantes e incluir no currículo escolar temas relacionados à saúde. O acesso facilitado a esses alimentos tem um reflexo positivo nas escolhas alimentares dos estudantes (ABREU et al., 2009). Nesse contexto da contribuição da alimentação e a segurança nutricional no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis na escola e fora dela, este estudo teve como objetivo analisar a composição centesimal, calórica e sensorial da merenda nas escolas públicas do município de Campo Grande - RN frente aos objetivos propostos pelo PNAE. MATERIAL E METÓDOS Foi realizado um teste de aceitabilidade da merenda escolar nas quatro unidades de ensino público do município de Campo Grande no estado do Rio Grande do Norte, pelo método resto ingestão, descrito por Dutcosky (2007), que consiste, basicamente, em pesar a refeição preparada antes e depois de servida. Os valores das pesagens são utilizados para calcular o percentual de rejeição de acordo com a equação (1) obtendo-se o índice de aceitabilidade de cada refeição. As escolas visitadas foram codificadas em A, B, C e D com o intuito de preservar a imagem das instituições de ensino. Paralelamente, avaliou- se o cardápio da semana, quanto ao conteúdo de macronutrientes e valor calórico. Para isso foram coletadas cinco amostras da merenda de cada unidade escolar, uma para cada dia da semana. As amostras das refeições foram acondicionadas em sacos plásticos, armazenadas em embalagens térmicas e enviadas para o Laboratório de Nutrição Animal do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN Campus Apodi para seguir com os testes de avaliação nutricional. Equação (1) Percentual de rejeição: Peso da refeição rejeitada x 100(Peso do alimento preparado – sobras) A avaliação nutricional foi determinada pela composição centesimal das preparações da merenda e usou-se os métodos analíticos do Instituto Adolfo Lutz (2008). Foi determinado o teor de umidade por secagem em estufa a 105°C; conteúdo mineral (cinzas) por incineração em mufla a 550°C; lipídios pelo método Folch; proteínas método Kjeldahl e os carboidratos foram calculados por diferença, subtraindo-se de 100 os valores encontrados para umidade, cinza, lipídio e proteínas. As porções servidas na merenda das escolas em estudo foram observadas pelo método de visualização de porções, utilizando os utensílios disponíveis no local (caneca, colher de servir, escumadeira). Os dados foram anotados e posteriormente convertidos em valores numéricos, por meio de Tabelas de Composição dos Alimentos e Medidas caseiras (PACHECO, 2006), para posterior cálculo de valor calórico. 2021 Gepra Editora Barros et al. 835 O valor calórico das amostras foi determinado através da soma das calorias fornecidas por carboidratos, lipídios e proteínas, multiplicando-se seus valores em gramas pelos fatores de 4 kcal, 9 kcal e 4 kcal, respectivamente (RIBEIRO et al., 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os cardápios oferecidos pelo PNAE devem ser planejados, de modo a atender, em média, às necessidades nutricionais, de modo a suprir no mínimo, 20% (vinte por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica, em período parcial; no mínimo, 30% (trinta por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados em escolas localizadas em comunidades indígenas e em áreas remanescentes de quilombos. Os alunos matriculados na educação básica, no período parcial, quando ofertadas duas ou mais refeições, devem atender no mínimo, 30% (trinta por cento) das necessidades nutricionais diárias; quando em período integral, no mínimo, 70% (setenta por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos, incluindo as localizadas em comunidades indígenas e em áreas remanescentes de quilombos (FNDE, 2003). Os hábitos alimentares adquiridos durante a infância e adolescência podem influenciar preferências e práticas na idade adulta e, consequentemente, também o estado nutricional. Assim, uma importante inovação trazida pela Lei no 11.947/2009 é a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, inserida no próprio currículo escolar com enfoque no tema alimentação, nutrição e desenvolvimento de práticas saudáveis de vida, sob a ótica da segurança alimentar e nutricional. Com efeito, o fato de a educação nutricional ser o meio mais concreto de orientação para o aprendizado, adequação e incorporação de hábitos nutricionais adequados entre os escolares é inquestionável. Estudos mostram que a correta formação dos hábitos alimentares na infância favorece a saúde, permitindo o crescimento e o desenvolvimento normal e prevenindo uma série de doenças crônico-degenerativas na idade adulta (GANDRA, 2000). Não há dúvida de que muitos hábitos alimentares são condicionados desde os primeiros anos de vida, o que evidencia o importante papel da família e da equipe escolar na alimentação e na educação nutricional das crianças, na medida em que possibilita a oferta de uma aprendizagem formal a respeito do conhecimento da alimentação saudável e adequada. (DOMENE, 2008). Segundo a resolução nº 26, de 17 de junho de 2013 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que dispõe sobre o atendimento a alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar- PNAE (BRASIL, 2020) a merenda só é considerada aceita se apresentar índice de aceitabilidade igual ou maior que 90% quando realizado teste de resto ingestão. Os valores de aceitação e o cardápio semanal das escolas estão expressos na Tabela 1 e 2 respectivamente. 2021 Gepra Editora Barros et al. 836 Tabela 1: Percentual de aceitação da merenda escolar em Campo Grande-RN ESCOLAS ÍNDICE DE ACEITAÇÃO (%) SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA A 58.47 90.20 78.82 83.48 89.16 B 84.15 96.25 93.16 79.68 89.73 C 85.07 93.36 87.74 94.36 83.41 D 96.04 85.99 92.61 98.33 96.11 Nota-se que na escola A apenas a refeição da terça-feira (cuscuz com suco) conseguiu atingir esse valor. Na escola B, os dias de terça-feira (suco com bolacha) e quarta-feira (risoto de frango) ultrapassaram o valor referência de 90%. Analisando a escola C, percebe-se que os dias de terça-feira (macarronada) e quinta-feira (salada), são os dias em que a merenda possui uma boa aceitabilidade pelos alunos apresentando valores superiores a 90% de aceitação. A escola D tem sua merenda aceita em quase todos os dias da semana, com exceção para a terça-feira (sopa de costela) que foi o único dia em que não atingiu 90% de aceitabilidade. No geral, a merenda mostrou-se satisfatória quanto ao aspecto sensorial já que nos dias em que a meta não foi atingida ela apresentou valores próximos ao valor de referência, variando de 78% a 89% de aceitabilidade. O dia em quem a merenda teve o seu pior índice foi na segunda-feira (sopa de carne) na escola A, apresentando apenas 58,47% de aceitabilidade. Um estudo realizado com escolares matriculados na antiga 8ª série do ensino fundamental da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro verificou-se alto consumo de alimentos não saudáveis, como doces, refrigerantes, frituras e salgados e baixo consumo de frutas e hortaliças (CASTRO et al., 2008). Em outro estudo, avaliaram- se práticas alimentares de adolescentes entre 10 e 17 anos de idade matriculados na rede pública de ensino da cidade de Piracicaba (São Paulo), por meio de questionário de frequência alimentar semiquantitativo, revelando que 83,8% apresentaram ingestão energética e 36,7% de lipídios, acima das recomendações (CARMO et al., 2006). Tabela 2: Cardápio semanal fornecido nas escolas do município de Campo Grande-RN. ESCOLAS CARDÁPIO SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA A Sopa de carne Cuscuz com ovo Risoto de frango Risoto de frango Macarronada de frango B Sopa de carne Suco com bolacha Risoto de frango Sopa de carne Canja C Risoto de frango Macarronada de carne Pão com ovo Salada de frutas Canja D Bolacha com suco Sopa de costela Bolacha com suco Canja Bolacha com suco 2021 Gepra Editora Barros et al. 837 A aceitação de um alimento pelo aluno é o principal fator para determinar a qualidade do serviço prestado pelas escolas, no tocante ao fornecimento da merenda escolar. A busca de uma maior aceitação e adesão dos alunos à alimentação oferecida na escola deve partir da realização de diagnósticos sobre as suas preferências alimentares. A qualidade e, consequentemente, a maior aceitabilidade do cardápio escolar depende da obediência a critérios como hábitos alimentares, características nutricionais, aceitação, custo, horário de distribuição e estrutura das cozinhas das unidades educacionais (MARTINS et al., 2004). Observando-se os critérios definidos pela FNDE em resoluções específicas dispondo sobre a alimentação escolar a alunos atendidos pelo PNAE, sugere-se a elaboração de cardápios com função de suprir as necessidades nutricionais de acordo com a faixa etária, permanência na escola e número de refeições oferecidas, oferecendo nutrientes e calorias adequadas. A resolução do FNDE número 26/2013 define os valores do consumo dos escolares (BRASIL, 2020). Dessa forma, os resultados encontrados durante o período de análise da qualidade nutricional da alimentação escolar nas escolas do município de Campo Grande - RN, demonstrou variação no valor energético e de macronutrientes, como pode ser observado na Tabela 3. Em diferentes ocasiões, o cardápio avaliado não supre as exigências em calorias,como é o caso das bolachas com suco. A escola A e B que apresenta faixa etária de 4 a 10 anos e 4 a 14 anos, respectivamente, atendem as exigências calóricas em apenas dois dias do cardápio semanal, sendo esses na quinta (risoto de frango) e sexta (macarronada de frango) para a escola A e as quintas (sopa de carne) e sextas (canja), para a escola B. Já a escola C com alunos de 6 a 14 anos atende ao exigido em um dia na semana, nas terças feiras, com a oferta de macarronada de carne. A escola D com idades de 15 a 18, é a que apresenta situação mais crítica pois não atende as exigências em nenhum dia da semana. Tabela 3: Composição centesimal do cardápio semanal das merendas escolares do município de Campo Grande-RN. Escola A – faixa etária de 4 a 10 anos Composição centesimal (%) Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Resolução 26/2013 do FNDE* Umidade 87,1 81,7 66,1 48,0 76,5 __ Cinzas 1,2 0,5 3,9 0,5 1,0 __ Lipídios 0,7 2,4 2,4 0,95 2,2 6,8g – 7,5 Proteínas 0,85 1,0 2,95 1,75 3,0 8,4g – 9,4g Carboidratos 10,0 14,4 24,65 48,8 17,3 43,9g – 48,8g Kcal por porção 258,35 166,4 229,8 358,3 404 270Kcal – 300Kcal Escola B - faixa etária 4 a 14 anos 2021 Gepra Editora Barros et al. 838 Composição centesimal (%) Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Umidade 88,2 81,3 72,55 88,0 86,2 __ Cinzas 0,7 0,1 0,2 0,3 0,3 __ Lipídios 1,15 1,35 1,8 0,6 1,3 6,8g – 10,9g Proteínas 1,25 0,45 3,55 0,5 4,35 8,4g – 13,6g Carboidratos 6,67 17,3 22,6 11,4 7,9 43,9g – 70,7g Kcal por porção 219,2 135,7 205,7 276,3 315,6 270Kcal – 435Kcal Escola C - faixa etária 6 a 14 anos Composição centesimal (%) Segunda- feira Terça- feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta-feira Umidade 76,65 74,8 76,35 55,8 91,3 __ Cinzas 0,8 0,4 0,45 1,2 2,1 __ Lipídios 1,08 2,05 1,27 0,29 1,1 6,8g – 10,9g Proteínas 1,97 3,35 0,55 0,35 0,5 8,4g – 13,6g Carboidratos 19,49 19,19 21,37 42,36 5,0 43,9g – 70,7g Kcal por porção 162,4 437,6 99,11 260,1 165,5 270Kcal – 435Kcal Escola D – faixa etária 15 a 18 anos Composição centesimal (%) Segunda- feira Terça- feira Quarta- feira Quinta- feira Sexta-feira Umidade 85,8 88,3 81,3 79,0 87,65 __ Cinzas 0,1 0,7 0,2 0,5 0,1 __ Lipídios 0,25 0,55 2,15 0.9 0,9 10,9g – 12,5g Proteínas 0,4 1,05 0,5 1,9 0,85 13,6g – 15,6g Carboidratos 13,45 9,4 15,85 17,7 10,5 70,7g – 81,3g Kcal por porção 118,2 243,1 173,7 449,9 109,7 435Kcal – 500Kcal Fonte: BRASIL, 2020. Segundo Assis et al. (2000), o consumo de alimentos ricos em vitamina A, complexo B, minerais, cálcio, ferro e zinco é inadequado para todas as faixas etárias. Assim como as necessidades de cálcio para a mineralização adequada e a manutenção do crescimento ósseo, a vitamina D é necessária para absorção do cálcio, da proteína e do fósforo. As crianças com idade entre 2 e 8 anos precisam de duas a quatro vezes mais cálcio por quilograma. Os minerais e as vitaminas são essenciais para o crescimento e o desenvolvimento normal de uma criança. A ingestão insuficiente desses elementos pode resultar em atraso de crescimento e em doenças como o raquitismo, anemia, infecções, depressão, entre outras. As crianças em idade pré-escolar e escolar estão sob o alto risco de anemia por deficiência em ferro (FLAVIO et al., 2004). 2021 Gepra Editora Barros et al. 839 O leite e seus derivados, por serem fontes primárias de cálcio, as crianças que não consomem nenhuma quantidade ou consomem quantidades limitadas desses alimentos estão em risco de deficiência de cálcio quando adultos (KRAUSE, 1998), suscetíveis ao desenvolvimento da osteoporose, entre outras doenças quando adultas. Um conjunto de fatores que interagem entre si para contribuir com a saúde e o desenvolvimento da criança, e a alimentação têm um papel fundamental no seu processo. Estabelecendo-se um comparativo entre a recomendação do PNAE e os resultados obtidos nas avaliações realizadas nas escolas (Tabela 3), constata-se as inadequações referentes as quantidades de macro nutrientes em relação as exigências estabelecidas por lei, em todas as escolas, demonstrando que não há pelo cardápio original (Tabela 2), distinção de elaboração para as diferentes faixas etárias. Logo, no que se refere aos nutrientes estudados, as refeições reuniram quantidades que se mostraram insuficientes a atender 20% das necessidades nutricionais, como preconiza o FNDE/PNAE. CONCLUSÃO Os estudos demonstraram que há uma deficiência energética e uma negligência nutricional na dieta escolar dos alunos. As preparações de alimentação escolar oferecidas não atenderam às metas propostas pelo PNAE no que se refere ao valor calórico e macronutrientes. Pesquisas direcionadas aos hábitos alimentares da população, contribuem para a formação de um consumo consciente e saudável na escola, evidenciando a relevância de um cardápio bem planejado. Apesar de possuir boa aceitação pelos alunos, a merenda não está balanceada podendo causar danos à saúde dos alunos da escola, contribuindo para o sobrepeso e obesidade. Levando em conta a necessidade nutricional que a alimentação escolar deve fornecer aos alunos, seria necessário fazer uma valorização da qualidade nutricional para não interferir de modo negativo no aprendizado e na evasão escolar. REFERÊNCIAS ABREU, E. S.; SPINELLI, N. G.; PINTO, A. M. S. O processo administrativo. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. São Paulo: Metha, 2009. ASSIS, A. M. O. Condições de vida, saúde e nutrição na infância em Salvador. Brasília, DF: INAN, Salvador: UFBA/Escola de Nutrição/Instituto de Saúde Coletiva, 2000.163 p. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução FNDE/ CD n° 06, de 08 de maio de 2020. Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução FNDE /CD n° 38, de 23 de agosto de 2004. Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. 2021 Gepra Editora Barros et al. 840 CALIL, R.; AGUIAR, J. Nutrição e administração nos serviços de alimentação escolar. São Paulo: Marco Markovitchi, 1999. 80 p. CAMARGO R. B.; ROVINA R. B.; NOGUEIRA. Avaliação da aceitação do novo cardápio escolar por alunos e professores em uma escola de município de piracicaba. 2007. Disponível em:<http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/534.pdf>. CASTRO, C.T.; VANZELLI, A.S.; PINTO, M.S.; PASSOS, S.D.; Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da rede pública do município de Jundiaí, São Paulo; Rev Paul Pediatr 2008;26(1):48-53. DOMENE, M. A.; PEREIRA, T. C.; ARRIVILLAGA, R. 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