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Antipsicóticos Definição São chamados também de neurolépticos, antiesquizofrênicos ou tranquilizantes maiores. São drogas utilizadas para o tratamento da esquizofrenia e outros transtornos psicológicos. Psicose É o estado no qual o indivíduo perde o contato com a realidade por meio de alucinações, ilusões, delírios e transtornos do pensamento formal. Tipos de esquizofrenia • Catatônica – Rigidez, excitação, posturas estranhas e maneirismos; • Hebefrênica – Incoerência, desagregação dos pensamentos, afeto incongruente, discurso desorganizado, afeto embotado; • Paranoide – Delírios de perseguição, alucinações auditivas, violência, ansiedade, alteração nas relações pessoais; • Residual – Afastamento social, inadequação afetiva, comportamento excêntrico; • Indiferenciada – Quando preenche mais de um critério. Características clínicas – Sintomas positivos • Delírios – O indivíduo crê em ideias falsas, irracionais ou sem lógicas. Em geral são temas de perseguição, grandeza ou místicos; • Alucinações – Paciente percebe estímulos que em realidade não existem, como ouvir vozes ou pensamentos, enxergar pessoas ou vultos; • Distúrbio do pensamento – Incapacidade de organizar o pensamento em uma sequência lógica; • Comportamentos anormais – Impulsividade, agitação ou retração. Risco de suicídio ou agressão chega a 10% dos casos, além de exposição moral, como falar sozinho em voz alta ou andar sem roupa em público. Características clínicas – Sintomas negativos • Retirada de contatos sociais; • Abrandamento das respostas emocionais – Dificuldade de demonstrar emoções; • Falta de iniciativa. Sintomas cognitivos • Fluência verbal prejudicada – Incapacidade de produzir discursos espontâneo; • Problemas com aprendizado em série – Lista de itens ou sequência de eventos; • Problemas para finalizar e manter a atenção e concentração. Sintomas agressivos e hostis • Hostilidade declarada, como abusos verbais e físicos; • Comportamentos de automutilação, suicídio, incêndio ou danos a propriedades, abuso sexual; • Sintomas depressivos e ansiosos frequentemente associados. Curso variável • 30% dos canos apresentação recuperação completa ou quase completa; • 30% com remissão incompleta e prejuízo parcial de funcionamento; • 30% com deterioração importante e persistente da capacidade de funcionamento profissional, social e afetivo. Causas da esquizofrenia Permanece o questionamento, mas pode envolver uma combinação de fatores genéticos e ambientais. • Ambientais – Infecção viral materna e hipertensão na gravidez; • Genéticos – Relacionados ao desenvolvimento do sistema nervoso, especialmente do córtex cerebral: atrofia, neurônios fora de posição e com morfologia anormal. Teorias das causas da esquizofrenia Neuroanatômicas • Aumento do tamanho ventricular – Neurodegeneração dos neurônios em volta dos ventrículos cerebrais causa aumento da região; • Diminuição do córtex pré-frontal e hipocampo, com diminuição do tamanho do neurônio; • Diminuição na expressão de mielina no córtex pré-frontal e hipocampo. Neuroquímicas - Dopamina O circuito dopaminérgico é envolvido com o desenvolvimento da esquizofrenia. As diversas vias da dopamina podem afetar diferentes controles do organismo. A via mesocortical atua na cognição, emoção e afetividade. A via mesolímbica atua na motivação, emoção e recompensa. Já a via nigroestriatal atua no controle motor. Por fim, a via tuberoinfundibular atua no controle endócrino. Inicialmente, as teorias revelaram uma hiperatividade dopaminérgica. Isso foi notado a partir da administração de anfetaminas. Essas substâncias aumentam a liberação de dopamina e podem produzir uma síndrome comportamental semelhante a um episódio esquizofrênico agudo. Além disso, quando administradas em pacientes esquizofrênicos, pioram os sintomas psicóticos. Outro grupo de pesquisa descobriu que antagonistas dopaminérgicos são eficazes no controle dos sintomas positivos a partir do bloqueio de receptores D2. Posteriormente foi notado que não é uma hiperatividade dopaminérgica e sim um desequilíbrio da neurotransmissão dopaminérgica. O aumento da dopamina na via mesolímbica causa os sintomas positivos (delírios e alucinações) e a diminuição na via mesocortical causa os sintomas negativos (apatia, diminuição do afeto, isolamento). Receptores de dopamina São os receptores da família D1, que compreende o receptor D1 e D5, e os receptores da família D2, que são os receptores D2, D3 e D4. A família D1 se acopla com a proteína Gs, que ativa a adenilil ciclase e aumenta a síntese de AMPc, estimulando a PKA. Já a família D2 se acopla com a proteína Gi, que possui ação inibitória na atividade da adenilil ciclase. A formação de heterodímeros é possível a partir da junção de dois receptores diferentes, como o D1 com D2. O heterodímero é acoplado com a proteína Gq, que atua na formação de IP3 e diacilglicerol, que ativam a PKC e liberam cálcio no meio intracelular. Vias dopaminérgicas centrais Cada receptor fica localizado em uma região diferente do sistema nervoso central. Dessa forma, a administração de fármaco afeta diversas regiões do SNC. • Via mesolímbica – Aumento da dopamina causa alucinações auditivas, delírios e distúrbios do pensamento. Isso ocorre porque o aumento da dopamina na via que é a conexão entre o hipocampo e o tálamo afeta o filtro sensorial, gerando os delírios. Normalmente o local possui pouca sinalização dopaminérgica e o tálamo secreta GABA para os neurônios sensoriais do córtex, o que diminui a atividade elétrica dos neurônios, deixando o cérebro mais permissivo para a realidade. Com o aumento da dopamina e ativação dos receptores D2 inibitórios sobre o tálamo, sua atividade elétrica é diminuída, reduzindo a secreção de GABA no córtex, deixando-os supersensíveis, podendo despolarizar a qualquer momento. Assim, as estruturas que bloqueiam o tálamo ficam muito ativadas em um paciente esquizofrênico, levando aos delírios e alucinações. • Via mesocortical – Diminuição de dopamina e receptores D1 causam sintomas negativos e alguns cognitivos. Isso ocorre porque há redução dos receptores excitatórios de dopamina na região do córtex, não havendo ativação dos receptores D1. Isso causa redução da atividade desses neurônios, levando aos sintomas negativos. A redução da dopamina no mesocórtex pode ser causada por aumento da deficiência primária de dopamina, por redução de receptores D1, por bloqueia dos receptores D2, ou por ativação de receptores de serotonina do tipo 5HT2A, que bloqueiam a secreção de dopamina na fenda sináptica, causando uma deficiência secundária de dopamina; • Via nigroestriatal – Corpos celulares na substância negra cujos axônios se projetam para os gânglios da base. É parte do sistema de controle de movimentos; • Via tuberoinfundibular – Neurônios se projetam do hipotálamo para a hipófise anterior, ocorre inibição da liberação de prolactina. Neuroquímicas – Serotonina Muitas substâncias antipsicóticas, além de bloquearem receptores dopaminérgicos, também bloqueiam receptores de serotonina 5HT2A, dentre elas: risperidona, olanzapina, clozapina. Neuroquímicas – Glutamato • Cérebros post-mortem de esquizofrênicos apresentam baixos níveis de glutamato e de receptores glutamatérgicos; • Antagonistas do receptor NMDA (fenciclidina e cetamina) produzem sintomas psicóticos, como alucinações, distúrbios de pensamento; • Camundongos transgênicos que apresentam expressão reduzida de receptores NMDA mostram comportamentos estereotipados e interação social reduzida, que respondem a antagonistas dopaminérgicos. Em um cérebro normal, a sinalização acontece partindodas regiões superficiais do córtex em direção ao sistema mesolímbico dopaminérgico. A circuitaria, composta de dois neurônios glutamatérgicos e um GABAérgico, secreta glutamato em direção a um neurônio GABAérgico que possui receptores NMDA. Os receptores despolarizam o neurônio GABAérgico, que secreta GABA no segundo neurônio glutamatérgico. Na presença de GABA, o neurônio glutamatérgico não consegue secretar glutamato no mesencéfalo. Na ausência de glutamato, os neurônios dopaminérgicos da região não secretam dopamina no tálamo (sistema límbico). Na presença de baixa concentração de dopamina, o tálamo funciona muito bem, secreta GABA para a região sensorial, que não fica no estado hiperestimulado. Assim, não ocorrem alucinações. Já no cérebro de um paciente com esquizofrenia, o interneurônio inibitório GABAérgico possui uma diminuição da expressão ou disfunção dos receptores de glutamato do tipo NMDA. Então, o primeiro neurônio glutamatérgico secreta glutamato no neurônio GABAérgico, que, na ausência dos receptores NMDA, para de funcionar. Assim, o próximo neurônio glutamatérgico não recebe GABA e assim fica despolarizado, secretando glutamato no mesencéfalo. O glutamato é um neurotransmissor excitatório que aumenta a liberação de dopamina nas regiões talâmicas. Isso causa inibição do tálamo, que para de secretar GABA para o córtex sensorial. Na ausência de GABA, o córtex fica muito sensível e passa a produzir alucinações e delírios. Tratamentos • Na escolha do tratamento, devem ser considerados os fármacos já utilizados, o estágio da doença, a história de resposta, a adesão e o risco-benefício; • A tranquilização instala-se rapidamente; • O controle adicional ocorre mais lentamente, ao fim de 1 a 2 semanas de tratamento. Antipsicóticos • Os efeitos não se limitam à esquizofrenia; • São úteis nos distúrbios como delírio pós- operatório, intoxicação por anfetaminas, paranoia, mania, depressão psicótica e agitação da demência de Alzheimer; • Eficazes na depressão profunda e/ou refratária ao tratamento tradicional. Fármacos 1ª geração • Clorpromazina – Comprimido 25 e 100 mg, solução oral de 40 mg/mL; • Haloperidol – Comprimido de 1 e 5 mg, solução oral de 2 mg/mL; • Decanoato de haloperidol – Solução injetável de 50 mg/mL, permite a liberação controlada ao longo dos dias. Quando os antipsicóticos chegam à via mesolímbica e bloqueiam os receptores D2 da região, ocorre bloqueio da ação inibitória desses receptores sobre o tálamo. Com isso, a atividade GABAérgica é restaurada na região e o sistema sensorial fica menos sensível aos estímulos do ambiente, permitindo uma melhora dos sintomas positivos. Já na via nigroestriatal, o bloqueio dos receptores D2 provoca aumento da acetilcolina no estriado, causando enrijecimento dos movimentos. Como efeito adverso, 90% dos pacientes podem manifestar algum sintoma motor nas primeiras semanas de tratamento, dentre eles o efeito Parkinson símile. Ocorre lentidão dos movimentos (bradicinesia), tremor nas extremidades, imobilidade da expressão fácil e espasmos nos músculos da face, pescoço e língua. Pode ocorrer acatisia, um desconforto intenso nos membros inferiores, acompanhado de incapacidade de ficar com as pernas paradas. Além disso, a discinesia tardia pode estar presente, em que se observa movimentos estereotipados, involuntários, principalmente na região facial, pode aparecer após anos de tratamento. Para reverter os quadros, deve-se diminuir a dose ou trocar o antipsicótico ou administrar anticolinérgicos. O bloqueio dos receptores D2 na via tuberoinfundibular promove aumento de secreção de prolactina na corrente sanguínea. Pode levar à ginecomastia em homens e galactorréia e amenorréia em mulheres. Alguns antipsicóticos podem bloquear os receptores D1 nas vias mesocorticais, o que pode agravar os sintomas negativos. • Reações adversas: ➢ Anticolinérgico – muscarínico: Perda da acomodação visual; Boca seca; Constipação e dificuldade de urinar. ➢ Bloqueio alfa 1 adrenérgico: Hipotensão ortostática; Disfunção erétil e retardo na ejaculação. ➢ Bloqueio H1 histaminérgico: Ganho de peso (agravado na 2ª geração); Sedação. Fármacos 2ª geração • Risperidona – Comprimidos de 1, 2 e 3 mg; • Quetiapina – Comprimidos de 25, 100, 200 e 300 mg; • Ziprasidona – Cápsulas de 40 e 80 mg; • Olanzapina – Comprimidos de 5 e 10 mg; • Clozapina – Comprimidos de 25 e 100 mg. São mais eficazes no alívio dos sintomas negativos, devido à atividade anti-serotoninérgica potente, além de serem eficazes no alívio dos sintomas positivos. São eficazes em pacientes resistentes aos antipsicóticos típicos. Pequena propensão em produzir efeitos extrapiramidais (motores). A principal ação é bloquear os receptores de serotonina 5HT2A. O antagonismo do receptor 5HT2A na via nigroestriatal promove restauração da secreção de dopamina na região. E o antagonismo de receptores D2 será deslocado pelo excesso de dopamina liberado na área. A dopamina extra entra em competição com o antipsicótico para reverter o bloqueio dos receptores D2, assim reduz os sintomas motores e discinesia tardia. Na via mesocortical, o bloqueio do receptor 5HT2A permite que dopamina extra seja liberada no córtex pré-frontal, o que reverte o antagonismo do receptor D1 e assim os sintomas negativos. Na via mesolímbica, há uma carência dos receptores do tipo 5HT2A, então o fármaco de 2ª geração possui baixa eficácia na região. Prevalecendo o antagonismo do receptor D2, o que diminui os sintomas positivos. O antagonismo dos receptores 5HT2A na via tuberoinfundibular vai restaurar a quantidade de dopamina liberada na região. Isso reverte o antagonismo D2, diminuindo a hiperprolactinemia. Contudo, os antipsicóticos de 2ª geração causam distúrbios metabólicos. O paciente sofre com ganho de peso, aumento da glicemia, aumento dos triglicerídeos e outros. Pode haver aumento do risco de desenvolver ou agravar a diabetes tipo 2, hipertensão e hiperlipidemia. Esses riscos são acentuados com clozapina e olanzapina e pequenos com aripiprazol e ziprasidona. Antipsicóticos típicos X atípicos Quadrado vermelho – Fármacos típicos (1ª geração); SEP – Síndrome extrapiramidal. Fármacos que não são mais utilizados Não foram encontradas evidências que corroborem a inclusão desses medicamentos no protocolo de tratamento da esquizofrenia: Valproato, carbamazepina, lítio, estrogênio, antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina, antidepressivos gerais, benzodiazepínicos, ácidos graxos poli-insaturados; L-dopa, gingko biloba, inibidores da colinesterase, fármacos glutamatérgicos, nicotina, testosterona, ácido eicosapentaenoico, anti-inflamatórios não esteroidais, antagonistas alfa-2 e moduladores do receptor NMDA. Tratamento da fase aguda Sintomas positivos respondem bem ao tratamento com os antipsicóticos típicos ou convencionais (1ª geração). Os mais usados são a clorpromazina e o haloperidol. Na impossibilidade de uso oral de qualquer antipsicótico, pode-se utilizar injeções intramusculares de depósito, que permitem grande espaçamento entre doses e garantem a adesão. É o caso do haloperidol decanoato. Não pode associar ao haloperidol comprimido. Tratamento na fase de manutenção e prevenção de recorrência de surtos esquizofrênicos Ocorre substituição da medicação típica por antipsicóticos atípicos (2ª geração), como a risperidona, ziprasidona e quetiapina. A clozapina é utilizada quando o paciente apresenta refratariedade a pelo menos 2 antipsicóticos utilizados por pelo menos seis semanas, nas doses adequadas ou quando o paciente apresenta alto risco de suicídio. Esse fármaco possuirisco de causar agranulocitose, que pode ser fatal. Tratamento dos sintomas negativos Os sintoma negativos respondem bem ao tratamento com os antipsicóticos atípicos. Taxa de recaída entre Risperidona e Haloperidol O haloperidol apresenta maior chance de recaída do que a risperidona, que possui menos riscos.