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Ana Luiza Bittencourt DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO I Estado civil e Domicílio - Além do nome, existem dois outros elementos de identificação da pessoa natural: estado civil e domicílio. Estado civil - O estado de uma pessoa é a soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos. É o modo de uma pessoa existir. É uma situação jurídica resultante de certas qualidades inerentes à pessoa humana (qualidades essas indivisíveis, indisponíveis e imprescritíveis). Esse estado é resultante das diferentes posições que a pessoa ocupa na sociedade e identifica as pessoas no meio jurídico e social, bem como no seio de sua família. - Na família, o ser humano modela a sua personalidade e se desenvolve para ocupar diferentes posições sociais em outros grupos, e daí ocupar diferentes posições sociais que têm repercussão no ordenamento jurídico. - Essas diferentes posições assumidas no seio social forma o estado civil da pessoa, qualificando-a de modo a produzir efeitos diversos. Ex.: a pessoa casada, a depender do regime de bens do casamento, necessita de outorga do cônjuge para alienar ou onerar bens imóveis; o estrangeiro não pode exercer cargos privativos de brasileiros natos e etc. - O estado da pessoa, enquanto atributo de sua personalidade, tem a característica de inalienabilidade (indisponibilidade; constitui relação fora de comércio), indivisibilidade (não é possível possui mais de um estado. Ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro, maior e menor, brasileiro e estrangeiro) e imprescritibilidade (não se perde e nem se adquire o estado pela prescrição > o estado nasce com a pessoa e com ela desaparece). - A doutrina em geral distingue três classificações de estado: o individual (ou físico), o familiar e o político: • Estado individual: diz respeito à idade, ao sexo, à cor, à altura, à saúde (são ou insano e incapaz > art. 3° e 4° CC). Diz respeito a aspectos ou particularidades de sua constituição orgânica que exercem influência sobre a capacidade civil (homem, mulher, maioridade, menoridade, etc.); • Estado familiar: é o que indica a situação na família, em relação ao matrimônio (solteira, casada, divorciada, viúva) e o parentesco, por consanguinidade ou afinidade (mãe, filha, irmã, sogra, nora, cunhada, etc.) Obs.: entre as pessoas que convivem em união estável não há ainda designação específica quanto ao estado civil. • Estado político: qualidade que advém da posição do indivíduo na sociedade política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) ou estrangeiro. Obs.: é possível ter mais de uma nacionalidade // a naturalidade (local de nascimento) também integra o estado político dizendo respeito ao seu posicionamento geográfico no país. Domicílio (art. 70 a 78) - É relevante para o indivíduo, para a sociedade e para o Estado que a pessoa, seja física ou jurídica, esteja fixada a um lugar onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Toda pessoa de direito deve ter um lugar certo de onde praticam sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu domicílio (casa ou morada). - Essa importância de localização é para tratar de diversos assuntos no ramo do direito: obrigações, ausência, sucessão, competência de foto, eleitoral, etc. - O domicílio, em última análise, é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos. - No Direito, toma-se a palavra “domicílio” sob duas acepções: objetiva (a fixação da residência) e subjetiva (ânimo de permanecer naquele local e de ali manter suas atividades). Logo, a residência é apenas um elemento componente do conceito de domicílio, o qual é mais amplo. Residência é simples estado de fato e domicílio é situação jurídica. Esse termo (residência) também não se confunde com morada ou habitação, local que a pessoa ocupa esporadicamente. Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. - O artigo 71 permite a chamada pluralidade de domicílios: Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. - Uma pessoa pode ter só um domicílio e mais de uma residência. Pode ter também mais de um domicílio. - Admite-se também que uma pessoa possa ter domicílio sem possuir residência determinada, ou em que esta seja de difícil identificação > “domicílio ocasional ou “domicílio aparente”. Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. - Obviamente que a lei admite a mudança de domicílio que pode ser provada por meio de declarações feitas às autoridades locais ou simplesmente pelas circunstâncias da mudança. Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem. Espécies - O primeiro domicílio da pessoa, que se prende ao seu nascimento é denominado domicílio de origem e corresponde ao de seus pais, à época. - O domicílio pode ser classificado em: • Voluntário: quando a pessoa tem o poder de livremente escolher. Qualquer pessoa que não esteja sujeita a domicílio necessário tem a liberdade de escolher o local em que pretende instalar a sua residência com ânimo definitivo, assim como mudá-lo. • Necessário ou legal: imposto pelo Direito (nos casos de artigo 76). Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença. Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. - Domicílio especial (contratual ou de eleição): utilizado em negociações contratuais. Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. Bibliografia: Gonçalves, Carlos Roberto. Parte Geral – Coleção Direito Civil Brasileiro volume 1
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