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Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN Aula
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Caros(as) alunos(as),
Esta é a nossa segunda aula. Tivemos um contato inicial com 
alguns aspectos das Literaturas de Língua Portuguesa, que nos ofereceu 
subsídios para que possamos avançar ainda mais. 
Nosso caminho agora começa a se estreitar, portanto, nesta 
segunda aula, teremos contato com o Romantismo em Portugal. Nosso 
estudo envolverá aspectos teóricos que ampliarão nosso conhecimento 
acerca do Romantismo, mas também nos propiciará contato com a 
Literatura desenvolvida nesse período. 
Vamos então a mais uma etapa?
O ROMANTISMO EM 
PORTUGAL E SUAS FASES
Objetivos de aprendizagem 
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
• conhecer elementos específicos do Romantismo em Portugal;
• conhecer o precursor desse movimento no país;
• saber algumas características do Romantismo em Portugal;
• compreender as primeiras manifestações literárias em Portugal e no Brasil;
• identificar as fases do Romantismo em Portugal.
Seções de estudo
 Seção 1 - O Romantismo em Portugal
 Seção 2 - A Questão Coimbrã
 Seção 3 - Romantismo Em Portugal: Fases
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Vamos iniciar, então, nossos estudos! 
Seção 1 - O Romantismo em Portugal
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_do_romantismo>
Figura 1 - Pintura Roman smo
Caros(as) alunos(as), nossa caminhada continua e já vimos várias coisas 
importantes. Observamos o contexto histórico em que ocorreu o romantismo; 
quais suas principais características e alguns dos principais autores.
Assim, para aprofundarmos nosso conhecimento, é necessário focar o nosso olhar 
para sabermos como se deu o Roman smo em Portugal. Vamos fazer, para tanto, 
um percurso histórico. Tenho certeza que será muito enriquecedor. Vamos nessa?
O Romantismo em Portugal surgiu no século XIX. Nesta época, o 
país passava por grandes transformações, tanto na política e economia quanto 
na sociedade. Dessa forma, o país aderiu aos ideais do movimento romântico, 
principalmente no que diz respeito à defesa da história e cultura do país, ou seja, 
o movimento romântico em Portugal foi marcado pelo nacionalismo.
Um acontecimento histórico fundamental para a culminação do 
Romantismo em Portugal foi os vários problemas no campo da política que o país 
sofreu, ou seja, as invasões francesas, por exemplo, que obrigaram a família real 
a fugir para o Brasil, em 1807. 
Na sequência, o país foi dominado pela Inglaterra e em 1821, a família 
real regressou para Portugal. Além disso, paralelamente, ocorriam revoluções 
liberais que fizeram com que o país permanecesse sob uma situação instável 
durante um bom tempo.
Todos esses acontecimentos, é claro, foram transformando todo o país 
e atingindo todos os campos. As artes, consecutivamente, não ficam alheias a 
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essas questões e são influenciadas pela sequência de problemas com a política 
e economia do país. O Romantismo em Portugal que, dessa forma, oportunizou 
uma fuga da realidade. 
Se na aula anterior pudemos ver que o Romantismo foi iniciado na Europa 
ainda no século XVIII, agora podemos ver que em Portugal apenas no século XIX o 
Romantismo tomou forma. De fato, os problemas políticos do país foram responsáveis 
por isso, ou seja, dificultou o surgimento anterior do Romantismo em Portugal.
Para que fosse possível o Romantismo acontecer nesse país, um nome foi 
essencial: Almeida Garret. Foi após o exílio na Inglaterra, que ele manteve contato 
com a obra de Lord Byron e Scott e, além de manter relação com o Romantismo inglês, 
o escritor foi fortemente influenciado por essa situação, que o permitiu desenvolver 
criticidade em relação aos acontecimentos de seu país, do qual estava distante. 
Desse modo, sua perspectiva disso tudo o permitiu escrever o poema 
Camões, em 1825. E, devido à sua importância, foi considerada a obra precursora 
do romantismo português. O movimento, porém, teve vida curta em Portugal 
devido à Questão Coimbrã, em meados de 1865, liderada por Antero de Quental.
Seção 2 - Questão Coimbrã
(Texto retirado do blog: <http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.
com.br/search/label/Quest%C3%A3o%20Coimbr%C3%A3>)
A “Questão Coimbrã”, também conhecida como a “Questão 
do Bom Senso e Bom Gosto”, foi a primeira e uma das mais 
importantes manifestações do grupo que viria a ser apelidado 
de Geração de 70. Na linha da frente estiveram sempre Antero 
de Quental, o “Príncipe da Mocidade”, e Teófi lo Braga, já 
conhecidos no mundo das letras.
O motivo que desencadeou a revolta coimbrã, ou, como lhe 
chamou Antero de Quental, a famosa “Questão Literária ou 
a Questão de Coimbra”, foi aparentemente trivial. Em 1865, 
Pinheiro Chagas publicou o Poema da Mocidade, uma biografi a 
lírica típica do saudosismo ultra-romântico.
Na carta-posfácio redigida por António Feliciano de Castilho, este 
aludiu à moderna escola de Coimbra e à sua poesia ininteligível, 
referências claramente adversas a Antero e a Teófi lo.
Este ataque directo, aliado ao desejo de polémica dos académicos 
coimbrões, levou Antero a lançar um opúsculo, intitulado Bom 
aSenso e Bom Gosto, as duas virtudes que Castilho lhes negava. 
Antero contestava o exagero cansativo do gosto ultra-romântico 
personifi cado em Castilho e na sua escola, que apelidou de "Escola 
do Elogio Mútuo", uma vez que os seus membros mais não faziam 
do que elogiarem-se constantemente. Num tom, de certo modo, 
panfl etário, Antero delineou um conceito novo da missão do 
escritor, reivindicando a liberdade e a independência de espírito, 
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contra as teocracias literárias. Este protesto, que se investiu de um 
carácter essencialmente moral, afi rmou a insubmissão iconoclasta 
dos jovens de Coimbra à escola de Castilho.
Quando os intelectuais conservadores acorreram em defesa de 
Castilho, instaurou-se a batalha. Os artigos, folhetins e opúsculos 
em apoio de uma e de outra parte multiplicaram-se.
Do lado da nova geração, aberta às recentes correntes europeias, 
seguiu-se o opúsculo de Antero, A Dignidade das Letras e 
as Literaturas Ofi ciais, e o panfl eto de Teófi lo, Teocracias 
Literárias. Do lado do patriarca literário, surgiu Literatura de 
Hoje, do ilustre Ramalho Ortigão, que viria a integrar mais tarde 
a Geração de 70. A batalha entre o Romantismo agonizante e o 
novo Realismo fervilhante prolongou-se pelo ano de 1866. A 
partir de Março desse ano, a polémica começou a declinar em 
quantidade e qualidade.
Com a “Questão Coimbrã” entraram em confl ito o velho 
sentimentalismo do Ultra-romantismo vernáculo e o novo 
espírito científi co europeu. Apareceu um novo lirismo social, 
humanitário e crítico que se insurgiu contra a tirania do gosto 
literário protagonizada por Castilho. No entanto, a questão não foi 
só literária, mas denunciou incompatibilidades mais profundas, 
espelhando um movimento político, histórico e fi losófi co de grande 
amplitude. Sacudiu, também, o marasmo da vida cultural do país, 
e, se não contribuiu, desde logo, para a introdução do Realismo 
em Portugal, veio demarcar as fronteiras entre os autênticos 
românticos e o Ultra-romantismo obsoleto e convencional.
A partir do texto acima, percebe-se que a obra de Camões é a precursora do 
romantismo em Portugal, e possui como características principais o subjetivismo, 
o saudosismo, as marcas do exílio sofrido por Garrett entre outras. O próprio 
autor reconhece as inovações presentes em sua obra:
A índole deste poema é absolutamente nova: e assim não tive 
exemplar a que me arrimas-se, nem norte que seguisse Por 
mares nunca dantes navegados. Conheço que ele está fora das 
regras; e que se pelos princípios clássicos o quiserem julgar, não 
encontrarão aí senão irregularidades e defeitos. Porém declaro 
desde já que não olhei a regras nem a princípios, que não consulteiHorácio nem Aristóteles, mas fui insensivelmente depôs o coração 
e os sentimentos da natureza, que não pelos cálculos da arte e 
operações combinadas do espírito. Também o não fi z por imitar o 
estilo de Byron, que tão ridiculamente aqui macaqueiam hoje os 
Franceses a torto e a direito (...). Não sou clássico nem romântico 
(Texto de Garret citado por Massaud Moisés. Disponível em: 
sitehttp://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com.br/2009/09/
introducao-do-romantismo-em-portugal.html)
Vamos conhecer um pouquinho mais sobre a obra lendo um trecho que segue? 
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CAMÕES
Almeida Garret
Saudade! Gosto amargo de infelizes,
Delicioso pungir de acerbo espinhos,
Que me estás repassando o íntimo peito
Com dor que os seios d’alma dilacera
- Mas dor que tem prazeres – saudade!
Misterioso númen que aviventas
Coração que estalaram, e gotejam
Não já sangue de vida, mas delgado
Soro de estanques lágrimas – saudade!
Mavioso nome que tão meio soas
Nós, lusitanos sábios não, sabidos
Das orgulhosas bocas dos Cicrambos
Destas alheias terras – Oh Saudade!
Mágico númen que transportas a alma
Do amigo ausente ao solitário amigo
Do amado amante a amada inconsolável
E até ao triste ao infeliz proscrito
— Dos entes o misérrimo na terra —
Ao regaço da pátria em sonhos levas, 
— Sonhos que são mais doces do que amargo, 
Cruel é o despertar! — Celeste númen, 
Se já teus dons cantei e os teus rigores 
Em sentidas endechas, se piedoso 
Em teus altares húmidos de pranto
Depus o coração que inda arquejava 
Quando o arranquei do peito malsofrido 
À foz do Tejo — ao Tejo, ó deusa, ao Tejo 
Me leva o pensamento que esvoaça 
Tímido e acovardado entre os olmedos 
Que as pobres águas deste Sena regam, 
Do outrora ovante Sena. Vem, no carro 
Que pardas rolas gemedoras tiram, 
A alma buscar-me que por ti suspira (GARRET, s.d. p. 1).
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Agora que lemos uma pequena parte do poema precursor do romantismo 
em Portugal, voltamos a conhecer o modo com que esse movimento ocorreu no país.
Seção 3 - Romantismo em Portugal: fases
Mesmo que o romantismo em Portugal não tenha durado tanto tempo, 
três gerações podem ser destacadas e é a elas que vamos partir agora. Vejamos: 
Primeira Geração: a primeira fase contribuiu imensamente para o 
liberalismo em Portugal. O nacionalismo é um ponto forte dessa fase, como 
demonstra o trecho de Camões apresentado acima. Foi uma época de transição 
entre o modelo clássico e o Romantismo. Obviamente, a literatura era marcada 
por ambos os períodos e boa parte dos indivíduos ainda eram muito ligados aos 
modelos clássicos e defendiam a permanência desse período. Já os que clamavam 
por mudanças, lutavam pela implantação do romantismo:
Estes, por sua vez, possuíam tal força persuasiva que os primeiros 
românticos aderem ao novo credo em meio a contradições 
que se manterão irresolúveis ainda por muito tempo. Refi ro-
me de modo particular a Garrett, Herculano e Castilho. Duas 
circunstâncias aproximam-os vivamente, em que pese à 
diferença de temperamento, de talento, etc., que neles é fácil 
observar: primeiro, contribuíram cada qual a seu modo, para a 
defi nição e o êxito da revolta romântica em Portugal; segundo, 
porque formados na tradição neoclássica, de que jamais se 
libertaram. Em resumo, românticos em espírito, ideal e ação 
política e literária, mas ainda clássicos em muitos aspectos das 
obras que legaram (MOISÉS, 1999, p.128).
Segunda Geração: essa geração, ocorrida entre 1838 e 1860, também 
chamada de Ultra-Romantismo, marca-se pelo exagero e sentimentalismo. A fase 
de transição já passou e o romantismo firma-se de vez. Portanto, as obras possuem 
unicamente as características desse período e o modelo clássico foi abandonado.
Destacamos um dos principais autores dessa geração: o escritor Camilo Castelo 
Branco: nascido em Lisboa em 16 de março de 1825, foi romancista, cronista, crítico, 
dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Além disso, participava da vida política de Portugal.
Suas obras possuía o satírico como característica, mas foram as novelas 
passionais que marcaram de modo mais forte o nome do autor, como Amor de 
perdição e Amor de salvação.
Terceira Geração: este é o período de maior efervescência das 
características românticas na literatura. A poesia é o forte da época. No entanto, 
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esta época marca novamente uma transição: agora, do romantismo para o realismo. 
Se a idealização da imagem da mulher e a idealização do amor ainda persistem, 
alguns poetas já são considerados pré-realistas, como por exemplo, João de Deus 
(1830-1896), que abandonam essa prática de idealização.
Retomando a conversa inicial 
Chegamos ao fi nal da segunda aula. Vamos, então, recordar:
  Seção 1 - O Romantismo Em Portugal
Na primeira seção, pudemos perceber que o Romantismo em Portugal teve 
seu início conflituoso e incerto, mas totalmente desencadeado pela instabilidade 
política e econômica do país. 
 Seção 2 - A Questão Coimbrã
Entre os principais fatores, a perda do domínio sobre o Brasil destaca-se 
como o fundamental, pois, a partir dele, o povo português viu a situação política 
de seu país se complicando cada vez mais.
 Seção 3 - Romantismo Em Portugal: Fases
Também pudemos ver que o Romantismo ocorrido em Portugal se divide 
em três gerações e tudo isso ocorreu dentro de um período de quarenta anos.
Sugestões de leituras, sites e fi lmes 
Leituras
Que tal conhecer a obra Camões da íntegra? A obra está disponível em site 
indicado logo abaixo.
Sites
http://www.culturabrasil.org/carta.htm 
http://web.portoeditora.pt/bdigital/pdf/NTSITE99_Camoes.pdf;
http://www.brasilescola.com/biografia/padre-anchieta.htm;
Filmes
Camões, um filme português que foi realizado por José Leitão de Barros e 
concorreu à primeira edição do Festival de cinema de Cannes. Assim, conheça 
acerca da vida e das empreitadas de Luís de Camões.
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