Buscar

Texto Dissertativo UNIDADE 2 - PERCURSO HISTÓRICO DA ETNOMUSICOLOGIA NO BRASIL

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA
DISCIPLINA: ETNOMUSICOLOGIA
NÍLLIA NOGUEIRA FERREIRA
Nota 01
UNIDADE 2 - PERCURSO HISTÓRICO DA ETNOMUSICOLOGIA NO BRASIL
Pinheiro
2020
TEXTO DISSERTATIVO
Na convivência em sociedade não apenas somos vistos, mas também observamos o outro. A noção que temos do outro se dá pela interação social, a partir da qual ocorre a construção da identidade que pode ser entendida como a forma que nos vemos e somos vistos, ou seja, é o reconhecimento individual e social de cada um. A identidade é formada a partir de várias experiências e elementos, expressando assim a diversidade. Podemos reconhecer elementos da diversidade nas relações sociais que envolvem cultura, religião, gênero, raça, estratificação social, etc.
Dessa forma, reconhecemos múltiplas identidades sociais que refletem em muitas dimensões na vida das pessoas. O reconhecimento das diversas identidades e da diversidade cultural não significa que as relações sociais sejam harmônicas em nossa sociedade. Ao contrário, observamos a todo instante situações de desigualdades, violência e conflitos sociais decorrentes do preconceito e da perspectiva etnocêntrica.
O etnocentrismo é uma visão de mundo caracterizada por considerar o nosso grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais. É um fenômeno fortemente enraizado na história das sociedades. Não é um problema exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade.
O plano de fundo dessa questão é a experiência de um choque cultural. Para exemplificar podemos imaginar a seguinte situação: conhecemos um grupo, o “ nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, com crenças semelhantes, casas iguais, mora no mesmo estilo, enfim. De repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma muito peculiar. Sobrevive à sua maneira e gosta dela, mas está no mundo e, ainda que diferente, também existe. 
Nesse cenário, surge por meio da Antropologia o Relativismo Cultural como uma nova forma de enxergar as outras culturas do lado de dentro, ou seja, é uma perspectiva que vê diferentes culturas de forma livre de etnocentrismo, sem julgar o outro a partir de sua própria visão e experiência, garantindo a legitimidade das manifestações culturais e levando a um entendimento de que a cultura, de forma geral, é um aparelho de realização do ser social. 
Esse pensamento foi estabelecido por Franz Boas, um alemão nascido de uma família judia em 1958, que sofreu com o racismo em sua terra e, por isso migrou para os Estados Unidos onde viveu grande parte da vida, inclusive suas experiências acadêmicas. Ele condena o determinismo geográfico como força motriz de realidades culturais. Em seus estudos observou que o meio ambiente exercia um efeito limitado sobre a cultura humana e que havia grande diversidade cultural entre os povos que viviam sob as mesmas condições geográficas.
“A Boa Mentira”, filme de drama indo-queniano-estadunidense, lançado em 2014 e dirigido por Philipe Falardeau, evidencia muito bem o relativismo cultural em seu enredo e retrata as teorias de Franz Boas. O filme é um longa baseado em fatos reais que narra a chegada de quatro irmãos sudaneses aos Estados Unidos, como refugiados de guerra. Entre 1983 e 2005, durante os terríveis anos da Guerra Civil que assolou o Sudão, milhões de pessoas perderam a vida. Muitas crianças de todas as idades foram separadas dos pais, sendo obrigadas a percorrerem milhares de quilômetros sozinhas em busca de abrigo nos campos de refugiados.
No filme, quando um ataque das milícias destrói toda a aldeia e mata os pais de Theo, ele é forçado a liderar um grupo de jovens sobreviventes, incluindo seus irmãos, e levá-los para um lugar seguro. Nesse árduo percurso, vão encontrando outras crianças em fuga, entre elas está Jeremiah e Paul. Depois de uma longa e impetuosa jornada pelo interior da África, as crianças sudanesas Mamere, Jeremiah, Paul e Abital chegam ao campo de refugiados do Quênia onde esperam para serem levados aos Estados Unidos.
Levando em consideração o relativismo cultural, um ponto bem interessante no filme é a diferença cultural. Quando, ainda no campo de refugiados, as crianças veem uma pessoa branca pela primeira vez, acreditam que “elas não têm cor” ou “elas não têm pele”. Treze anos depois, quando chegam aos Estados Unidos, as diferenças culturais e a falta de conhecimento sobre as novas tecnologias pelos jovens (conhecidos como “Garotos Perdidos do Sudão”) são notórias e logo, surgem as dificuldades de adaptação, o “choque cultural”. Não conseguem se adaptar inicialmente aos seus empregos; não conseguem dormir em camas: colocam os colchões no chão para dormirem juntos. Andam de mãos dadas mesmo sendo já jovens adultos. Esses jovens criaram entre si um elo muito forte.
Nesse país, novo para eles, conhecem outros valores e conceitos de sociedade, algo que lhes era incomum em sua terra natal. Nesses termos, observa-se a necessidade de compreender o relativismo cultural. Como cita Gusmão (2020) 
Tudo o que estudamos, pesquisamos ou adotamos como método, necessita dialogar com os contextos encontrados e com as formas de transmissão de conteúdos semelhantes ou iguais a partir de uma forma tácita e empírica presente, de diferentes maneiras, numa mesma comunidade ou presente em diferentes comunidades de uma mesma maneira, o relativismo cultural é a busca de compreensão de dimensões paradoxais e suas subjetividades (GUSMÂO, 2020, p.20).
REFERÊNCIA
GUSMÃO, Edilson Fonseca. Etnomusicologia [E-book]. Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Núcleo de Tecnologias para Educação (UemaNET) – São Luís, 2020.