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ÉMILLE MERGULHÃO 1 1 Clínica Cirúrgica – 1º VA AFECÇÕES CIRÚRGICAS DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO Introdução O sistema reprodutor masculino tem função de produção, maturação e transporte de gametas e produção de hormônios. Anatomia 1. Testículos 2. Epidídimo 3. Uretra 4. Ductos deferentes 5. Glândulas acessórias (vesículas seminais, próstata, glândulas bulbouretrais) 6. Pênis Afecções em pênis e prepúcio 1. Hipospadia A hipospadia é uma anomalia de desenvolvimento (congênita) em machos na qual a uretra se abre ventral e caudalmente em relação ao orifício normal. As hipospadias são classificadas de acordo com sua localização: glandular, peniana, escrotal, perianal e anal. Diagnóstico Exame físico: alterações na glande, prepúcio incompleto, pênis anormal, escroto dividido, criptorquidismo, inflamação, acúmulo de fezes e urina, infecção. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial inclui o pseudo- hermafrodita, o hermafrodita verdadeiro, fístula ou trauma uretral, persistência do frênulo peniano e hipoplasia peniana. ÉMILLE MERGULHÃO 2 2 Clínica Cirúrgica – 1º VA Tratamento clínico Queimaduras: as queimaduras por urina devem ser tratadas com banhos frequentes e aplicação de unguentos impermeáveis. Mucosa peniana: a mucosa peniana deve ser mantida úmida com o unguento. Acúmulo de urina: se houver acúmulo de urina, o prepúcio deve ser lavado diariamente com solução salina fisiológica. Tratamento cirúrgico A técnica cirúrgica escolhida vai depender do tipo de hipospadia que o animal apresenta. Não se recomenda em pacientes com menos de 2 meses. Associada a correção da hipospadia deve-se se realizar a orquiectomia. *Animais que apresentam hipospadia devem ser retirados da reprodução. Conduto pré-operatória Colocação de um cateter uretral facilita a identificação da uretra e evita urina na incisão cirúrgica durante o trans-operatório. Técnica cirúrgica Reconstrução do prepúcio; Reconstrução da uretra; Amputação peniana parcial. 2. Fimose A fimose é uma condição rara que se caracteriza pela incapacidade de exteriorizar o pênis do interior do estojo prepucial. Etiologia A fimose pode ser uma falha no desenvolvimento (congênita) ou resultado de um trauma e estenose prepucial. Pode ser também secundária a uma neoplasia peniana ou prepucial ou celulite prepucial. Devido a incapacidade de expor o pênis pode haver irritação prepucial e infecção secundária ao acúmulo de urina no prepúcio. Diagnóstico O diagnóstico é realizado por meio do histórico e exame físico. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial inclui hipoplasia peniana, persistência do frênulo e hermafroditismo. Tratamento clínico A fimose causada por uma doença inflamatória ou infecciosa pode ser aliviada com compressas quentes, antibioticoterapia e desvio da urina com um cateter. O prepúcio deve ser lavado diariamente com solução salina fisiológica para reduzir as queimaduras causadas pela urina. Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico é recomendado. Deve ser realizado uma reconstrução do orifício prepucial proporcionando um aumento do orifício e movimentação irrestrito do pênis. É recomendado a castração. 3. Parafimose A parafimose é caracterizada pela incapacidade de retrais o pênis para dentro do estojo prepucial. Pode estar relacionada a um orifício prepucial pequeno ou pênis edemaciado e com aumento de tamanho. Etiologia A parafimose tem uma etiologia variada, podendo estar associada a cópula, masturbação, trauma, hematoma peniano, neoplasia, corpos estranhos, pseudo-hermafroditismo, déficits neurológicos, constrição por pelos prepuciais, enrolamento da borda do prepúcio ou a um orifício prepucial muito pequeno. ÉMILLE MERGULHÃO 3 3 Clínica Cirúrgica – 1º VA Diagnóstico O diagnóstico é realizado por meio do histórico e exame físico. Exames de imagem devem ser solicitados se houver suspeita de trauma de uretra. Diagnóstico diferencial A parafimose deve ser diferenciada de priapismo (ereção persistente sem excitação sexual), trombose vascular, uretrite crônica, esticamento ou fraqueza músculo refrator do pênis e músculos prepuciais hipoplásicos ou cirurgicamente traumatizados. Tratamento clínico Inicialmente, o prepúcio deve ser retraído até se desdobrar e a junção mucocutânea prepucial ser identificada. Isso permite a restauração da circulação peniana e a redução do edema. O pênis deve ser examinado cuidadosamente, pesquisando- se a presença de corpos estranhos constritantes, e o pênis exteriorizado e edematoso deve ser lavado com solução salina ou água aquecida. Para reduzir o edema, massagear gentilmente o pênis e aplicar agentes hipertônicos ou higroscópicos (p. ex., açúcar). Os corticosteroides e diuréticos podem reduzir o edema após a reversão da constrição. Quando o inchaço tiver diminuído, o prepúcio deve ser lavado com sabão antisséptico ou lubrificante, e as bordas prepuciais dilatadas ou retraídas, permitindo a retração do pênis no prepúcio. Tratamento cirúrgico Reconstrução/alongamento prepucial Falopexia Amputação peniana parcial 4. Traumas O trauma pode causa formação de um hematoma ou fratura peniana. O inchaço do hematoma pode exteriorizar o pênis. As lacerações e perfurações podem sangrar por dias. Etiologia O prepúcio e o pênis podem ser traumatizados por causas diversas, como: picadas de insetos, acidentes veiculares, cópulas, mordida de outro animal etc. ÉMILLE MERGULHÃO 4 4 Clínica Cirúrgica – 1º VA Fratura do osso peniano: os sinais clínicos de uma fratura no osso peniano são calo ósseo, disúria, hematúria, crepitação, obstrução uretral. Diagnóstico: além do exame físico são necessários exames de imagem como radiografia, USG abdominal e uretrograma. Tratamento cirúrgico: as fraturas do osso peniano com deslocamento mínimo não necessitam de tratamento cirúrgico. Já as fraturas com deslocamento de parte do osso podem ser fixadas com um cateter uretral de polipropileno apoiando o osso peniano e suturando na ponta da uretra. As fraturas cominutivas podem ser estabilizadas com pequenas placas ou ser realizada amputação do pênis. 5. Neoplasias As neoplasias podem acometer tanto prepúcio quando pênis e mucosa prepucial. Tipo de tumores Hemangiomas (benigno) Papilomas (benigno) Melanomas (maligno) Carcinoma de células escamosas (maligno) Tumor venéreo transmissível (maligno) Hemangiossarcomas (maligno) Diagnóstico O diagnóstico deve começar pelo histórico do animal, as neoplasias são mais comuns em animais que não são castrados e são mais velhos, posteriormente deve ser realizado um exame físico completo do paciente. Os exames de imagem são extremamente importantes para avaliar o estadiamento do tumor, exames de citologia para identificação dos tipos de células neoplásicas e exames de sangue. Diagnóstico diferencial Os hematomas, abscessos, granulomas e infecções por fungos podem causar lesões semelhantes. Tratamento cirúrgico O TVT tem uma resposta muito boa à quimioterapia, porém, outros tumores devem ser removidos cirurgicamente por meio da amputação peniana completa ou parcial. Afecções em testículos 1. Criptorquidismo O criptorquidismo é uma falha congênita de um ou dos dois testículos em descerem para dentro do escroto. Essa condição predispões a tumores testiculares (sertoliomas e seminomas). O(s) testículo(s) ficam degenerados devido ao aumento da temperatura perdendo a função exócrina. O criptorquidismo pode ocorre tanto em cães e gato (outras espécies também). ÉMILLE MERGULHÃO 5 5 Clínica Cirúrgica – 1º VA Diagnóstico O diagnósticoé realizado por exame físico e USG abdominal; Tratamento cirúrgico Deve ser realizado a orquiectomia, e dependendo da localização do(s) testículo(s), laparotomia exploratória ou laparoscopia. 2. Neoplasia testicular Os tumores escrotais e testiculares são mais comuns em cães do que em gatos. Geralmente acometem cães com mais de 10 anos de idade, exceto em cães criptorquídicos que podem ocorre mais precocemente. Principais tumores Sertolioma; Tumor das células de Leydig; Seminomas. Diagnóstico O diagnóstico deve ser realizado por meio do histórico, exames físicos, exames complementares (radiografia, USG abdominal, citologia e histopatologia). Tratamento cirúrgico Comumente é realizado a ablação escrotal para obtenção de margens de segurança. Associado ao tratamento cirúrgico, dependendo do caso, deve ser realizado quimioterapia. Afecções da próstata 1. Hiperplasia prostática benigna A hiperplasia prostática é o aumento benigno da próstata. O aumento no número de células prostáticas ocorre secundariamente à estimulação por hormônios androgênicos. É o distúrbio prostático mais comuns nos cães, é relacionada com idade (em 95% a partir dos noves anos). Sinais clínicos: Hematúria, cistite crônica, tenesmo vesical e fecal, dor abdominal. Diagnóstico O diagnóstico é realizado pelo histórico, exame físico, palpação retal, ultrassonografia, radiografia, citologia prostático e histopatologia. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial inclui metaplasia prostática escamosa, cistos prostáticos e periprostáticos, neoplasia prostática, abcessos prostáticos, hérnia perineal e prostatite. Tratamento clínico As drogas antiandrogênicas podem ser usadas, mas a recidiva pode ocorrer após o término do tratamento. Tratamento cirúrgico Animais assintomáticos não necessitam de terapia. A castração é o melhor tratamento para cães com a doença clínica, ela causa involução permanente ÉMILLE MERGULHÃO 6 6 Clínica Cirúrgica – 1º VA da próstata dentro de 3 a 12 semanas. A prostatectomia é uma opção para animais de alto valor genético ou que apresentam neoplasia. 2. Metaplasia escamosa da próstata A metaplasia escamosa que ocorre na próstata canina é uma alteração onde o epitélio glandular é substituído por epitélio escamoso bem diferenciado. Também é encontrado aumento da proliferação de células basais. Ela ocorre secundariamente ao hiperestrogenismo exógeno ou endógeno, podendo também estar associada à prostatite crônica e à irritação por urólitos. Diagnóstico: Biópsia prostática Tratamento cirúrgica: Orquiectomia com indicação de ablação do escroto. 3. Abcessos prostáticos Os abcessos prostáticos são acúmulos localizados de material purulento dentro do parênquima prostático. Sinais clínicos: Depressão/letargia, esforço excessivo para urinar ou defecar, hematúria, vômitos, desconforto ou dor e poliúria/polidipsia. Diagnóstico O diagnóstico é realizado por exame físico, a palpação retal geralmente é dolorosa, dor abdominal também é observada. Exames de imagem e laboratoriais também são ferramentas ótimas para auxiliar no diagnóstico. Tratamento É necessário realização da antibioticoterapia, drenagem e orquiectomia. 4. Tumores prostáticos Os tumores prostáticos podem se originar do tecido epitelial (carcinomas), do tecido muscular liso (leiomiossarcomas) ou de estruturas vasculares (hemangiossarcomas). Os tumores são mais comuns em cães castrados, bastante rara em felinos. Sinais clínicos: obstrução do cólon, edema dos membros pélvicos, distúrbios urinários e dores abdominais. Diagnóstico O diagnóstico é realizado pela avaliação clínica, ultrassonografia e exames complementares. Tratamento Os protocolos de quimioterapia não são bem- sucedido no tratamento de neoplasia prostática; inibidores de hormônio liberador gonadotrofinas, inibição da secreção de andrógenos e prostectomia.
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