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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA CURSO DE MEDICINA Apresentação de Caso Clínico Endocardite Infecciosa Salvador 2021 Aluna: Isabela Melo dos Anjos 10° semestre, Medicina, UNEB. CASO CLÍNICO: Data da Admissão: 03/09/21 >> IDENTIFICAÇÃO: J.A.M, 65 anos, natural e procedente de Olindina, católico, pedreiro aposentado. Grau de informação: bom. >> QUEIXA PRINCIPAL: falência de terapia antimicrobiana em IPMK em VJIE infectado. >>HMA: Paciente portador de HAS e DRC dialítica desde 2016 vem encaminhado do Hemovida em Alagoinhas, onde faz HD, com falência de acesso vascular, apresentando calafrios persistentes durante o procedimento. Relata uso prévio de Vancomicina e Amicacina (tempo de uso aproximado de 01 mês), porém, mantém quadro clínico. Tem hemocultura positiva (26/08/21) para Burkholderia cepacia. Nos últimos dias, vinha apresentando piora clínica e hipotensão durante HD, associado à inapetência em domicílio. Paciente com falência de acessos vasculares. Permicath atual em VJIE implantado no HGRS há cerca de nove meses. Encaminhado para troca de PMK. Nega febre, tosse ou síndrome gripal. Ecocardiograma Transtorácico realizado há cerca de 1 ano sem evidência de vegetações. CASO CLÍNICO: >>MEDICAÇÕES EM USO CONTÍNUO: Faz uso de Atensina 0,100mg 8/8h, Hidralazina 100mg 8/8h, Eritropoetina 3x/semana, Noripurum 3x/semana, Sevelamer 800mg 1 comprimido 8/8h, Calcitriol 5cp após hemodiálise, carbonato de cálcio 3x/dia. >>INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO: Geral: nega perda de peso, astenia e febre. Cabeça e pescoço: refere cefaleia intermitente pós-HD, nega tontura e vertigem. Respiratório: refere tosse seca ocasional, além de dor ventilatório dependente. Nega outras alterações. ACV: nega dor precordial, palpitações e outras alterações. TGI: sem alterações no ritmo intestinal e nega exteriorização de sangramentos Geniturinário: oligúrico, com diurese residual ínfima, nega disúria e hematúria. Pele e fâneros: nega alterações. CASO CLÍNICO: >>ANTECEDENTES MÉDICOS: Paciente apresenta diagnóstico de DRCd e HAS há aproximadamente 05 anos. Passado de coinfecção de FAV e PMK. Nega alergias. >>ANTECEDENTES FAMILIARES: Mãe e pai falecidos, não sabe informar a causa. Irmãos previamente hígidos. >> HÁBITOS DE VIDA: Nega tabagismo e uso de drogas ilícitas. Etilismo crônico, ingerindo bebida alcoólica por 43 anos. Abstêmio há seis anos. >> ANTIBIÓTICOS JÁ UTILIZADOS: Amicacina (relato de uso durante um mês) - Vancomicina (D0 03/09) Ceftazidima (D0 03/09) CASO CLÍNICO: >> EXAME FÍSICO: Geral: BEG, calmo, contactante, acianótico, hidratado e normocorado. Sinais vitais: FC: 70bpm, FR: 14ipm, Sat O2: 98%, Tax: 36,8°C. Pele e fâneros: pele com aspecto xerodérmico. Cabeça e pescoço: couro cabeludo íntegro, dentição ruim. Não palpo linfonodos ou massas. AR: tórax atípico, com expansibilidade simétrica e reduzida. MVBD, com presença de crepitações em bases pulmonares bilateralmente. ACV: BRNF em 2 tempos. Sopro plurifocal. Abdome: globoso a custa de panículo adiposo, timpânico, flácido, RHA+, indolor à palpação superficial e profunda. Extremidades: aquecidas, bem perfundidas. Presença de edema bilateral +++/4+ (com cacifo positivo). Pulsos simétricos e cheios, TEC <2seg. Neurológico: lúcido e orientado no tempo e espaço, ausência de déficit focais. Sem sinais meníngeos. Glasgow 15 CASO CLÍNICO: >> EVOLUÇÃO DURANTE O INTERNAMENTO: Paciente admitido dia 03/09, imediatamente iniciou uso de Vancomicina e Ceftazidima para tratar infecção em implante de PMK infectado (apresentava uma hemocultura positiva anterior ao internamento para Burkholderia cepacia). No dia 06/09, foi realizada nova hemocultura, novamente positiva para Burkholderia cepacia. A partir daí, foi suspensa a Vancomicina e mantiveram a Ceftazidima intravenosa, 2g, de 48/48h. Na noite desse mesmo dia, paciente apresentou quadro de taquicardia e taquidispneia durante a noite. Levantada suspeita de IAM, realizado ECG, que não evidenciou novas alterações. Apresentou 01 episódio de vômito e febre (38,1°C) no início da mesma noite, já em uso de antibioticoterapia. Realizado também USG pulmonar beira-leito que evidenciou pequeno derrame pleural à direita e consolidações em ambos os hemitórax. CASO CLÍNICO: >> EVOLUÇÃO DURANTE O INTERNAMENTO: Foi realizada Angio TC do pescoço, tórax e abdome total ainda no dia 06/09, onde foram observadas evidências de trombose crônica em veia jugular interna direita, veia braquiocefálica esquerda, veia braquiocefálica direita, veia cava inferior infrarrenal, veia ilíaca comum direita e veia ilíaca externa esquerda. Além disso, foi evidenciada esplenomegalia com infarto esplênico e imagem periférica sugestiva de infarto pulmonar. Além disso, dia 09/09 foi realizada Angio TC para protocolo TEP, onde foram visualizados achados compatíveis com tromboembolismo pulmonar e pequeno derrame pleural, mais evidente à direita. Foi solicitado Ecocardiograma Transtorácico com Doppler, sendo realizado dia 13/09, onde foi observada: FE 64%, aumento importante em átrio esquerdo, hipertrofia excêntrica do VE, valva mitral com estenose, imagem hiperecogênica móvel na face atrial aderida à cúspide posterior sugestiva de vegetação, insuficiência mitral grave e insuficiência tricúspide de grau discreto, esclerose valvar aórtica. CASO CLÍNICO: >>EXAMES LABORATORIAIS: (03/09/2021): Hb: 9,7 Hct: 32% VCM: 100,9 Leuco: 5.070 Neut: 67% Eos: 1% Bas: 1 Linf: 24% Linf. Atípicos: 3 Mon: 4% Plaq: 89.000 Volume Plaquetário Médio: 9 TP: 13,0s RNI: 1,0 TTPA: 39 Rttpa: 1 Ur: 115 Creat: 7,4 Na: 131 K: 5,2 Cl: 96 Ca: 9,4 P: 3,1 Mg: 2,3 (11/09/2021): Hb: 9,0 Hct: 28,6% VCM: 99 Leuco: 6.870 Neut: 56% Eos: 0% Bas: 1% Linf: 36% Linf. Atípicos: 5% Mon: 5% Plaq: 129.000 Volume Plaquetário Médio: 10 TP: 13,0s RNI: 1,0 TTPA: 50 Rttpa: 2 Ur: 128 Creat: 10 Na: 129 K: 5,2 Cl: 96 Ca: 8,6 P: 3,6 Mg: 2,1 CASO CLÍNICO: >>LISTA DE PROBLEMAS: P1) Vegetação em valva mitral + insuficiência mitral grave + Infarto esplênico Endocardite Infecciosa P2) Falência de terapia antimicrobiana em PKM em VJIE P3) Dispneia + dor ventilatório dependente TEP – Infarto pulmonar P4) DRC dialítica Em terapia renal substitutiva desde 2016 P5) Anemia sec DRC; P6) HAS P7) Etilismo crônico – abstêmio há 06 anos. DIAGNÓSTICO ENDOCARDITE INFECCIOSA – CRITÉRIOS DE DUKE MODIFICADOS: >> CRITÉRIOS MAIORES: Hemocultura Disfunção do endocárdio >> CRITÉRIOS MENORES: Predisposição Fenômenos Imunológicos Febre Fenômenos embólicos Microorganismos atípicos >> ENDOCARDITE INFECCIOSA DEFINITIVA: 2 critérios maiores 1 critério maior + 3 menores 5 critérios menores >> ENDOCARDITE INFECCIOSA POSSÍVEL: 1 critério maior + 1 critério menor 3 critérios menores DIAGNÓSTICO – CRITÉRIOS MAIORES: >> HEMOCULTURA: Hemocultura positiva para Endocardite Infecciosa – com microorganismos típicos de Endocardite Infecciosa em 2 hemoculturas separadas, dos seguintes germes: Streptococcus viridans Staphylococcus aureus Streptococcus gallolyticus (S. bovis) Grupo HACEK* (Haemophilus, actinobaculum, cardiobacterium, Eikenella e Kingella). Enterococcus sp. 02 culturas positivas com intervalo de pelo menos 2h de diferença 03 culturas positivas com intervalo maior do que 1h entre a 1° e a 3° cultura. 04 ou mais culturas, sendo a maioria delas positiva, com intervalo maior do que 1h entre a 1° e a última. OU cultura única positiva para Coxiella burnetii ou IgG >800 para esse microorganismo. DIAGNÓSTICO – CRITÉRIOS MAIORES: >> DISFUNÇÃO DO ENDOCÁRDIO: Ecocardiograma com alteração sugestiva de endocardite infecciosa Vegetação Abscesso Deiscência (de uma válvula de uma prótese valvar). Sopro novo identificado Nova regurgitação valvar (o agravamento de um sopro pré-existente não satisfaz o critério maior) DIAGNÓSTICO – CRITÉRIOS MENORES: >> PREDISPOSIÇÃO: Uso de drogas intravenosas Lesão prévia em valva Valva protética >> FEBRE:T: >38°C >> EVIDÊNCIA DE MICROORGANISMOS ATÍPICOS: Presença de hemocultura positiva, mas não para os microorganismos típicos que fecham o critério maior de Duke. Ou evidência sorológica de infecção ativa com organismo consistente com Endocardite Infecciosa. DIAGNÓSTICO – CRITÉRIOS MENORES: >> FENÔMENOS IMUNOLÓGICOS: Glomerulonefrite Fator reumatoide positivo Nódulos de Osler Nódulos violáceos, dolorosos, acometem mãos e pés. Manchas de Roth Exame de fundo de olho mostra manchas na retina. (uma hemorragia com um centro pálido, que é a fibrina).* DIAGNÓSTICO – CRITÉRIOS MENORES: >> FENÔMENOS EMBÓLICOS: Infarto pulmonar Hemorragia no SNC Hemorragia conjuntival Aneurisma micótico (é um “aneurisma infectado” que é uma dilatação formada a partir de fenômenos tromboembólicos, associados à infecção bacteriana/fúngica/viral da parede arterial.) Lesões de Janeway Manchas hiperemiadas, mas não dolorosas, causadas por fenômenos embólicos. CASO J.A.M. Vegetação em valva mitral ao ECOTT (critério maior) Febre > 38°C (critério menor) Evidência de microorganismo atípico em hemoculturas, Burkholderia cepacia (critério menor) Infarto pulmonar (fenômeno embólico, critério menor) 1 critério maior e 3 critérios menores -> Diagnóstico: Endocardite Infecciosa Definitiva >> ENDOCARDITE INFECCIOSA DEFINITIVA: 2 critérios maiores 1 critério maior + 3 menores 5 critérios menores >> ENDOCARDITE INFECCIOSA POSSÍVEL: 1 critério maior + 1 critério menor 3 critérios menores TRATAMENTO EMPÍRICO: Ao aguardar o resultado da hemocultura, devemos iniciar imediatamente o tratamento empírico baseado no germe mais prevalente em cada caso. Tratamento de valva natural: tratamento prolongado, de 4 a 6 semanas. Endocardite Subaguda: quadro clínico que dura semanas ou meses. Agente mais comum: Streptococcus viridans. Tratar com Penicilina OU Ampicilina OU ceftriaxone + Gentamicina. História de procedimento no TGU ou TGI: enterococcus sp. Penicilina (ou Ampicilina) + Gentamicina Usuário de drogas injetáveis: S. Aureus* MSSA: Oxacilina MRSA: Vancomicina TRATAMENTO EMPÍRICO: Tratamento de valva protética: tratamento mais prolongado, de 6 a 8 semanas. Prótese precoce (Implantada há <1 ano): Pensar em Staphylococcus Coagulase negativos, como o S. epidermidis. Usar Vancomicina + Gentamicina + Rifampicina* Prótese tardia (Implantada há >1 ano): pensar em Streptococcus viridans. *Usar Vancomicina + Gentamicina + Rifampicina ou Ampicilina + Gentamicina + Rifampicina ou Oxacilina + Gentamicina + Rifampicina Após resultado da cultura, SEMPRE se guiar por ela! BURKHOLDERIA CEPACIA >> Grupo de bactérias gram negativas, produtoras de catalase, composto por mais de 20 espécies diferentes. Patógeno oportunista, afetando principalmente pacientes com fibrose cística e doença granulomatosa crônica. Essa bactéria tem sido reconhecida como um patógeno importante para endocardite, principalmente em usuários de drogas intravenosas. Tal microorganismo é resistente a muitos agentes antimicrobianos. BURKHOLDERIA CEPACIA Tratamento: antibióticos intravenosos Ceftazidima, Levofloxacina, Doxiciclina, Piperacilina, Meropenem ou Trimetoprim/Sulfametoxazol (Bactrim). A escolha dos antibióticos deve ser guiada pelo antibiograma. (testar a sensibilidade aos antibióticos). É recomendado que os antibióticos sejam administrados por 4 a 6 semanas. Repetir culturas de 72 a 72h para acompanhar e garantir a eliminação do microorganismo no sangue. INDICAÇÕES DE CIRURGIA >> TRÊS SITUAÇÕES PRINCIPAIS: Insuficiência cardíaca Pode se manifestar com edema agudo de pulmão ou choque cardiogênico Infecção não controlada por antibiótico Abcesso (SNC, baço, pulmão), aumento de vegetação. HMC persistentemente positiva Endocardite Infecciosa por fungo (extremamente difícil de se tratar) Prevenção do embolismo Vegetação > 10mm + embolia (diretriz europeia) CONTRAINDICAÇÃO: Embolia + hemorragia no SNC ADIAR a cirurgia por pelo menos 1 mês, tratando com antibiótico. PISTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Endocardite em valva nativa Streptococcus viridians Comum após procedimentos dentários. Usuário de drogas Intravenosas S. Aureus Estafilococos coagulase-negativos Estreptococos β-hemolíticos Bacilos Gram-negativos aeróbios, como Pseudomonas aeruginosa. Fungos PISTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Dispositivos artificiais cardiovasculares S. Aureus Estafilococos coagulase-negativos Bacilos Gram-negativos aeróbicos Fungos Distúrbios geniturinários (infecção, manipulação – gravidez, parto e aborto) Enterococcus sp * Streptococcus do grupo B Listeria monocytogenes Bacilos aeróbicos gram-negativos Neisseria gonorrhoeae PISTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Colocação de valva protética precoce (< 1 ano): Staphylococcus aureus S. coagulase negativos, como o S. epidermidis. Bacilos gram - aeróbios Fungos Legionella sp Colocação de valva protética tardia (> 1 ano): Streptococcus viridans Staphylococcus aureus. S. coagulase negativos Espécies de Enterococcus Fungos PISTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Lesões Gastrintestinais Streptococcus gallolyticus (S.bovis) Enterococcus sp Alcoolismo/Cirrose Bartonella sp Aeromonas sp Listeria sp S. Pneumoniae Estreptococos β-hemolíticos PISTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Queimaduras S. Aureus Bacilos Gram-negativos aeróbios, incluindo P. aeruginosa Fungos Diabetes Mellitus S. Aureus Estreptococos β-hemolíticos S. pneumoniae AGRADECIMENTOS Obrigada pela atenção!
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