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Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 1 de 109 SEMIOLOGIA: GUIA PARA O EXAME FÍSICO E SÍNDROMES ECTOSCOPIA E SINAIS VITAIS ........................................................................ ................. ... 2 EXAME FÍSICO DE PELE E FÂNEROS .. ... .. ... .. ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ... 1 4 EXAME FÍSICO E SÍNDROMES DE CABEÇA E PESCOÇO ......................................................... 28 EXAME FÍSICO E SÍNDROMES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR . ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... ..45 EXAME FÍSICO E SÍNDROMES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO .................................................. .50 EXAME FÍSICO E SÍNDROMES DO ABDOME .. ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ... . 67 EXAME FÍSICO E SÍNDROMES DO SISTEMA URINÁRIO .................... .................................... 83 EXAME FÍSICO NEUROLÓGICO . .. ... ... .. ... ... ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ... ... .. ... ... .. ... ...89 Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 2 de 109 ECTOSCOPIA E SINAIS VITAIS ECTOSCOPIA Estado Geral: • BEG = Bom Estado Geral. • REG = Regular Estado Geral. • MEG = Mau Estado Geral. Biotipo: • Brevilínio. • Mediolíneo. • Longilíneo. Fácies: • Atípica: normal. • Hipocrática: paciente emagrecido, pele pálida, olhar vazio (olhos fundos, parados e inexpressivos), desidratado, batimento de asa de nariz (dispneico) → indica doença grave. • Adenodiana ou respirador bucal: boca entreaberta, nariz fino, rosto oval comprido. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 3 de 109 • Basedowiana: exoftalmia, rosto magro, presença de bócio → hipertireoidismo. • Parkinsoniana: inexpressiva, cabeça inclinada para frente. • Depressiva: olhos fixos e rebaixados, sulco nasolabial acentuado, canto da boca rebaixado, característica de indiferença e tristeza. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 4 de 109 • Paralisia facial: assimetria da face, ausência de rugas frontais, incapacidade de fechar o olho, canto da boca para baixo. • Esclerodérmica: quase completa imobilidade facial. Pele com aspecto de pergaminho, endurecida e aderente aos planos profundos, com repuxamento dos lábios, afinamento do nariz e imobilização das pálpebras. Fisionomia inexpressiva, parada, imutável. • Mitral: bochechas eritemato-violáceas, com contornos pálidos. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 5 de 109 • Miastênica: ptose palpebral bilateral, que obriga o paciente a franzir a testa e levantar a cabeça → miastenia gravis e outras miopatias que comprometem os músculos da pálpebra superior. • Renal: edema bilateral ao redor dos olhos, com palidez cutânea → síndrome nefrótica, glomerulonefrite difusa aguda. • Cushingoide: aumento da gordura na região das bochechas, que também se encontram eritematosas → excesso de corticoide sistêmico. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 6 de 109 • Leonina: pele espessa, grande número de hanseniomas de tamanhos variados, sem supercílios, nariz espessado e alargado, lábios grossos e proeminentes, bochechas e queixos deformados pelo aparecimento de nódulos, barba escassa ou ausente em homens → hanseníase. • Mixedematosa: edema palpebral, aumento das rugas, aumento do nariz, face edemaciada, devido à infiltração → hipotireoidismo. Estado de Hidratação: observar mucosa oral e turgor da pele (puxar a pele do antebraço com os dedos em pinça e observar o retorno da pele para o lugar). • Hidratado: mucosa oral brilhosa, pele com turgor normal (no paciente hidratado, a pele volta rapidamente para o lugar). • Desidratado: mucosa oral sem brilho, pele com turgor diminuído (a pele demora para voltar para o lugar, pois o paciente está desidratado). Mucosas • Hipocoradas. • Hipercoradas. • Normocoradas. • Ictéricas/Anictéricas. • Cianóticas/Acianóticas. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 7 de 109 Respiração: observar se, visivelmente, o paciente respira normalmente ou com dificuldade. Esse não é o momento de medir a frequência respiratória, apenas observar. • Eupneico. • Dispneico. • Taquidispneico. Postura • Ativa: assumida espontaneamente. o Boa: postura neutra, sem cifose, lordose, escoliose, ombros caídos. o Má: apresenta escoliose, cifose, lordose ou ombros caídos. • Passiva: o paciente está impossibilitado de mudar de posição sem o auxílio de outra pessoa. • Sofrível/Antálgica: postura de dor; tronco inclinado para a frente, mão no local da dor; etc. Extras • O paciente está vestido de forma adequada ao clima? o Se estiver agasalhado demais, pode indicar hipertireoidismo ou, por exemplo, estar escondendo lesões provocadas por agulhas (usuários de drogas injetáveis) ou a roupa pode ser uma tentativa de disfarçar anorexia, etc. • Observar se o paciente está tendo calafrios, pois pode ser indicativo de febre. • Observar higiene do paciente: o Má higiene pode indicar demência ou depressão. FREQUÊNCIA CARDÍACA E FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA Frequência Cardíaca (FC) • Medir a ‘’quantidade’’ de pulsos em pulso radial por 30 segundos e multiplicar por 2. O ideal é fazer a contagem durante 60 segundos completos, mas nem sempre é possível. • Medir com o dedo indicador e dedo médio e, se precisar, incluir o dedo anelar. Nunca utilizar o polegar. • Se perceber que o ritmo está anormal, contar durante 1 minuto, em vez de 30 segundos. • FC NORMAL: o FC normal adultos: 60-100 bpm. o FC normal idosos e atletas: 50-90 bpm. o FC normal criança de 0 a 2 anos: 120-140 bpm. o FC normal criança 8-17 anos: 80-100 bpm. • FC ALTERADA: o Taquisfigmia: acima do normal. o Bradisfigmia: abaixo do normal. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 8 de 109 Frequência Respiratória (FR): • Medir a frequência respiratória enquanto finge medir a frequência cardíaca para que o paciente não altere involuntariamente o ritmo respiratório ao perceber que está sendo observado. • Contar a quantidade de respirações completas (inspiração e expiração) durante 60 segundos (é o ideal). Na prática, costuma-se contar por 30 segundos e multiplicar por 2 ou durante 15 segundos e multiplicar por 4. • FR NORMAL: o FR normal adultos: 16 a 20 irpm. o FR normal recém nascidos: 40 a 45 irpm. o FR normal lactentes: 25 a 35 irpm. o FR normal pré-escolares: 20 a 35 irpm. o FR normal escolares: 18 a 35 irpm. • FR ALTERADA: o Taquipnéia: acima do normal. o Bradipnéia: abaixo do normal. VARIÁVEIS NO EXAME DO PULSO ARTERIAL Frequência: avaliada no tópico de cima ‘’Frequência Cardíaca’’ Ritmo: • Rítmico. • Arrítmico: o Arritmia respiratória: Durante a inspiração → pressão negativa intratorácica aumenta o retorno venoso → aumenta o enchimento ventricular → aumento do cronotropismo e inotropismo cardíaco → aumenta a frequência e intensidade do pulso. Na expiração é ao contrário. Logo, durante uma inspiração profunda pode ocorrer uma pulsação mais precoce que a esperada, e na expiração profunda, uma pulsação mais tardia. o Caso não haja correlação entre pulso arrítmico e respiração, há duas possibilidades comuns: extrassistolia ou fibrilação atrial. ▪ Extrassistolia: a mais comum de todas. Não é capaz de gerar um volume sistólico suficiente para se gerar pulso, dando a impressão de uma falha no mesmo. Ao palpar o pulso junto da ausculta do coração, os dois não serão coincidentes (assíncronos). ▪ Fibrilação atrial: pulso e ausculta cardíaca síncronos. Mariana Macabúe Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 9 de 109 Intensidade e forma: o pulso mais recomendado para a avaliação da forma é o pulso braquial, já que o pulso carotídeo sofre interferências (respiração, deglutição, movimentação da cabeça) e o pulso radial está muito distal. • Forma normal: é descrita como arredondada, elevada em cúpula. • Pulso fraco / fino / filiforme: é uma característica de corações com algum grau de comprometimento sistólico, quando a força de contração do ventrículo está diminuída e a ejeção do sangue expande pouco a parede do vaso. • Pulso aumentado: pode ser encontrado em algumas situações. o Condições hiperdinâmicas: febre, emoção forte, anemia, hipertireoidismo, gestação. o Hipertensão arterial. o Insuficiência aórtica grave: pulso aumentado de forma exagerada → pulso de ascensão muito rápida e duração muito curta (pulso em martelo d’água ou pulso de Corrigan). • Pulso alternante / alternans: alternância de pulsos fracos e fortes em ritmo regular. Ocorre na insuficiência cardíaca e em outras situações em que o miocárdio está comprometido. • Pulso paradoxal: rebote do pulso na expiração e pulso fraco na inspiração. Ocorre na pericardite, derrame pericárdico, choque. (slide da Jovana) TEMPERATURA AXILAR • Deixar o termômetro na axila por 2-3min; o braço precisa estar posicionado de modo que a porção aferidora do termômetro fique em contato apenas com o paciente e não com o ar. • Temperatura normal: 35,5 a 37oC. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 10 de 109 • Hipotermia: abaixo de 35,5oC. • Febre baixa: de 37 a 37,8oC. • Febre alta: acima de 37,8oC. PRESSÃO ARTERIAL (PA) HIPERTENSÃO ARTERIAL (HA): Condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 mmHg para pressão arterial sistólica e/ou 90 mmHg para diastólica. • Tipos de hipertensão: o Hipertensão do jaleco branco: resposta condicionada de ansiedade em decorrência do ambiente hospitalar / ambulatorial / de consultório. ▪ A monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) e a medição residencial da pressão arterial (MRPA) são métodos utilizados para realizar medições fora do consultório. o Hipertensão mascarada: normal em consultório (< 140/90 mmHg), mas elevada em exame domiciliar ou ambulatorial (> 135/85 mmHg). o Hipertensão noturna: queda da pressão durante o sono menor que 10% em comparação à pressão de vigília; a queda maior que 20% também indica prognóstico cardiovascular ruim. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 11 de 109 • Fatores de risco: o Dislipidemia, obesidade abdominal e sedentarismo. o Intolerância à glicose e diabetes melito. o Alta ingesta de sal e álcool. o Envelhecimento (H> 55; M > 65). o Mulheres > homens. o Negros > brancos > pardos. o Menor nível de escolaridade. • Eventos independentes associados: o Infarto agudo do miocárdio. o Acidente vascular encefálico. o Insuficiência cardíaca. o Doença arterial periférica. o Doença renal crônica. o Morte súbita. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 12 de 109 SEMIOTÉCNICA: • Preparo do paciente: o Explicar o procedimento ao paciente e deixá-lo em repouso de 3 a 5 minutos em ambiente calmo. Deve ser instruído a não conversar durante a medição. o Certificar-se de que o paciente NÃO: ▪ Está com a bexiga cheia; ▪ Praticou exercícios físicos há pelo menos 60 minutos; ▪ Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos; ▪ Fumou nos 30 minutos anteriores. • Posicionamento: o Paciente sentado, com pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado; o O braço deve estar na altura do coração, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e as roupas não devem garrotear o membro (o braço deve ser despido para a aferição). • Etapas para a medição: o Determinar a circunferência do braço no ponto médio entre acrômio e olécrano; o Selecionar o manguito de tamanho adequado; ▪ Largura bexiga inflável da braçadeira: aproximadamente 40% da circunferência do braço; ▪ Comprimento: 80%; Braçadeira padrão: 12 x 23cm, apropriada para até 28cm de circunferência. o Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital; o Centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria braquial (alguns modelos de manguito sinalizam a posição a ser orientada para a artéria braquial com uma seta); o Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso radial; Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 13 de 109 o Palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva. Como os sons a serem auscultados, os ruídos de Korotkoff, apresentam tom relativamente baixo (grave), de modo geral são mais bem auscultados com a campânula; o Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela palpação; o Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo); o Determinar a PAS pela ausculta do primeiro som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação; o Determinar a PAD no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff); o Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa; o Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a PAD no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/PAD/zero; o Realizar pelo menos duas medições, com intervalo em torno de um minuto. Medições adicionais deverão ser realizadas se as duas primeiras forem muito diferentes. Caso julgue adequado, considere a média das medidas. ▪ Em diabéticos, idosos e em outras situações em que a hipotensão ortostática possa ser frequente ou suspeitada, deve-se medir a PA na posição de pé, após 3 minutos. o Medir a pressão em ambos os braços na primeira consulta e usar o valor do braço onde foi obtida a maior pressão como referência. o Informar o valor de PA obtido para o paciente; o Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a PA foi medida. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 14 de 109 PELE E FÂNEROS AVALIAÇÃO DA PELE • Coloração: o Ictérica/Anictérica: ▪ Hepatite infecciosa, hepatite alcóolica ou por medicamentos, leptospirose, malária, septicemia, lesões obstrutivas das vias biliares extra-hepáticas (litíase biliar, câncer da cabeça do pâncreas). o Cianótica/Acianótica: ▪ Cianose generalizada: • Central: insaturação arterial. • Periférica: perda de O2 capilar. • Mista: mecanismos da cianose central e periférica. É encontrada na insuficiência cardíaca grave, na qual ocorre congestão pulmonar. ▪ Cianose localizada: isquemia venosa. o Pálida: ▪ Generalizada: choque, anemia, lipotímia, estresse, dor. ▪ Localizada: isquemia arterial. o Eritema: ▪ Generalizado: febre, insolação. ▪ Localizado: rubor, flogose. o Fenômeno de Raynaud: alteração cutânea que depende das pequenas artérias e arteríolas das extremidades. Inicialmente, observa-se palidez, seguida de grave cianose, terminando com vermelhidão da área. É encontrado no lúpus eritematoso sistêmico, na esclerodermia e em intoxicação medicamentosa. • Umidade: o Normal. o Seca: esclerodermia, mixedema, insuficiência renal crônica desidratação, etc. o Umidade aumentada ou pele sudorenta: pode ser observada em indivíduos normais ou pode estar associada a febre, ansiedade, hipertireoidismo e câncer. Em mulheres na menopausa, a sudorese está relacionada às ondas de calor. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 15 de 109 • Textura: o Normal. o Fina: pessoas idosas, hipertireoidismo, áreas recentemente edemaciadas. o Áspera: observada em lavradores, pescadores, garise no mixedema e dermatopatias crônicas, como a esclerodermia. o Enrugada: idosos, após emagrecimento rápido ou quando se elimina o edema. • Espessura: avalia-se fazendo movimento de pinça. o Normal. o Atrófica: tem alguma translucidez que possibilita a visualização da rede venosa superficial. Observada em idosos, prematuros e em algumas dermatoses. o Hipertrófica ou espessa: em indivíduos que trabalham expostos ao sol, esclerodermia. • Temperatura: usar o dorso da mão ou dos dedos, comparando sempre um lado com o outro do segmento analisado (ex.: avaliar a temperatura das duas pernas). o Febre: aumento generalizado da temperatura. o Processo inflamatório: aumento localizado. o Hipotermia: diminuição generalizada. o Obstrução arterial: diminuição localizada. • Elasticidade: pinçar a pele. o Normal. o Hiperelástica: semelhante à borracha. Ao efetuar uma leve tração, a pele se distende de 2 a 3 vezes mais que uma pele normal. Ocorre na síndrome de Ehlers-Danlos. o Hipoelástica: idosos, pacientes desnutridos, desidratação. • Mobilidade: pousar firmemente a palma da mão sobre a superfície que se deseja examinar e movimentar a mão para todos os lados, fazendo-a deslizar sobre as estruturas subjacentes (ossos, articulações, tendões, glândula mamária, etc.). o Normal. o Diminuída ou ausente: ocorre em área sede de processo cicatricial, na esclerodermia, elefantíase e nas infiltrações neoplásicas próximas à pele, cujo exemplo típico são as neoplasias malignas da glândula mamária. o Mobilidade aumentada: observada em pessoas idosas e na síndrome de Ehlers- Danlos. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 16 de 109 • Turgor: discutido em exame físico geral e hidratação. • Sensibilidade: o Sensibilidade dolorosa: testada tocando a pele com a ponta de algo afiado (exceto na hiperalgesia, pois até os toques mais suaves já vão causar dor). ▪ Hipoalgesia: diminuição da sensibilidade dolorosa. Ocorre na hanseníase. ▪ Hiperestesia: aumento da sensibilidade dolorosa. Ocorre no abdome agudo, na síndrome isquêmica das extremidades inferiores e em neuropatias periféricas. ▪ Analgesia: perda da sensibilidade dolorosa. Ocorre na hanseníase. o Sensibilidade tátil: friccionar levemente o local com um pouco de algodão. ▪ Anestesia: perda da sensibilidade tátil. ▪ Hipoestesia: diminuição da sensibilidade tátil. o Sensibilidade térmica: um tubo de ensaio com água quente e outro com água gelada (ou um gelo). Nem sempre esses recursos são disponíveis na prática clínica, portanto, pode-se utilizar um algodão molhado com álcool ou o diapasão para avaliar a sensibilidade térmica fria e o cabo do martelo neurológico aquecido (com as próprias mãos do avaliador) para avaliar a sensibilidade ao calor. EDEMA A investigação do edema começa na anamnese, quando se deve obter três informações: tempo de duração, localização e evolução. • Localização: o Generalizado ou anasarca: síndrome nefrótica. o Localizado: sinal de Romaña, insuficiência cardíaca direita. • Intensidade: o Comprimir a área investigada contra uma estrutura óssea, usando o polegar ou dedo indicador, por aproximadamente 5 segundos e avaliar depressão e elasticidade. o Referindo-se à profundidade da fóvea formada pela compressão caracteriza-se o edema em: +; ++; +++ e ++++ (lê-se: uma cruz, duas cruzes, três cruzes e quatro cruzes; Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 17 de 109 sempre dizer em relação ao parâmetro utilizado, ou seja “uma cruz de quatro”, “duas cruzes de quatro” e assim por diante). o Todo paciente que apresenta edema deve ser pesado diariamente! o Uma outra estratégia para análise da evolução do edema é medir o perímetro da região edemaciada, comparar com o outro lado e repetir diariamente. Isso é feito, principalmente, no membro inferior. • Consistência: o Edema mole: facilmente depressível. Observado em diferentes condições, significa apenas que a retenção hídrica é de duração não muito longa, e o tecido subcutâneo se encontra infiltrado por água. o Edema duro: nesse tipo de edema, encontra-se maior resistência para obter a formação da fóvea após a compressão. Consiste em proliferação fibroblástica que ocorre nos edemas de longa duração ou que se acompanharam de repetidos surtos inflamatórios. • Elasticidade: o Edema elástico: a pele retorna imediatamente à sua situação normal, ou seja, a fóvea dura pouco tempo. É típico do edema inflamatório. o Edema inelástico: a pele comprimida demora a voltar à posição primitiva, ou seja, a fóvea dura mais tempo. • Temperatura: o Normal: é frequente. o Quente: edema inflamatório. o Fria: comprometimento da irrigação sanguínea daquela área. • Sensibilidade: o Doloroso: edema inflamatório. o Indolor. • Outras alterações da pele adjacente: o Palidez: transtorno da irrigação sanguínea. o Cianose: indicativa de perturbação venosa localizada ou TVP. o Vermelhidão: processo inflamatório ou TVP. o Pele espessa: edema de longa duração. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 18 de 109 o Pele lisa e brilhante: edema recente e intenso. o Pele enrugada: edema sendo eliminado. o Simétrico ou assimétrico: em edemas assimétricos, sempre investigar TVP. • Principais causas de edema: o Síndrome nefrítica. o Síndrome nefrótica. o Pielonefrite. o Insuficiência cardíaca. o Cirrose hepática. o Hepatite crônica. o Desnutrição proteica. o Edema alérgico. o Gravidez. o Toxemia gravídica. o Obesidade. o Hipotireoidismo. o Medicamentos (corticosteroides, anti-inflamatórios, antagonistas do cálcio). o Varizes. o Flebites e trombose venosa. o Processos inflamatórios. o Afecções dos linfáticos. o Postura. • Edema renal: síndromes nefrítica e nefrótica e pielonefrite. Edema generalizado, predominantemente facial, acumulando-se de modo particular nas regiões subpalpebrais, mais evidente pela manhã. Edema mole, inelástico, indolor, temperatura normal ou discretamente frio. o Síndrome nefrótica: +++ a ++++. o Síndrome nefrítica e pielonefrite: + a ++. • Edema cardíaco: insuficiência cardíaca. Edema generalizado, predominando nos membros inferiores, vespertino, mole, inelástico, indolor, pele lisa e brilhante, varia de + a ++++. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 19 de 109 • Edema da cirrose hepática: generalizado, predomina nos membros inferiores, mole, inelástico, indolor, + a ++, é comum ascite concomitante. • Edema da desnutrição proteica: generalizado, predomina nos membros inferiores (MMII), mole, inelástico, indolor, + a ++. • Edema alérgico: pode ser generalizado, mas costuma restringir-se a algumas áreas, principalmente a face. Instala-se de modo súbito e rápido, pele lisa e brilhante, pode ter a temperatura aumentada e eritema, mole e elástico. • Edema medicamentoso: predomina nos MMII, mas, quando é mais intenso, pode ser facial. • Edema varicoso (varizes): nos MMII, + a ++, acentua-se na posição em pé ou sentada. Mole, porém, em casos crônicos, pode ser duro; inelástico; com o passar do tempo, a pele altera sua coloração até atingir uma tonalidade castanha ou mesmo mais escura (dermatite ocre). A pele pode se tornar espessa. • Edema da trombose venosa: mole, assimétrico, pele eritematosa, lisa e brilhante, pode ser +++ a ++++. Em certos casos, adquire tonalidade cianótica. Sensação de queimação na região afetada. Paciente tem dificuldade de locomoção. • Edema inflamatório: localizado, mole, elástico, doloroso, quente, eritematoso, + a ++, pele lisa e brilhante. • Edema postural: ocorre nos MMII das pessoas que permanecem por longo tempo na posição de pé ou que ficam com as pernas pendentes por várias horas, como acontece em longas viagens. Mole, indolor, + a ++, desaparecer rapidamente na posição deitada. • Linfedema: edema originado nas afecções dos vasos linfáticos.Mais comumente por erisipela ou filariose. Duro, inelástico, indolor, pele espessa, grossa e áspera. Em casos avançados, caracteriza a elefantíase. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 20 de 109 o Elefantíase: síndrome caracterizada por hiperplasia cutânea regional em decorrência de obstrução da circulação linfática, com acúmulo de linfa (linfedema) que provocou proliferação fibroblástica intensa. LESÕES ELEMENTARES DA PELE As lesões elementares da pele são decorrentes de processos inflamatórios, degenerativos, circulatórios, neoplásicos, alterações metabólicas ou congênitas. Podem ser primárias, quando ocorrem em pele previamente hígida, ou secundárias, se forem alterações nas lesões primárias. 1. MODIFICAÇÃO DA COR: São lesões em que a cor é diferente da cor normal da pele. Podem ser máculas (até 1cm) ou manchas (maiores de 1cm). • Pigmentares: acrômicas, hipocrômicas, hipercrômicas. • Vasculares: eritema, cianose, telangiectasia, angioma, nevo anêmico. • Hemorrágicas: púrpuras -> petéquias, equimoses, víbice. • Deposição pigmentar: bilirrubina, betacaroteno, artificial (tatuagem). Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 21 de 109 2. FORMAÇÕES SÓLIDAS: Podem ser decorrentes de processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos. • Pápulas/placas: elevações superficiais bem delimitadas. Pápulas medem menos de 5mm, placas são maiores e podem coalescer entre si; quanto à coloração, podem ser róseas, castanhas ou arroxeadas; quanto às camadas, podem ser epidérmicas, dérmicas ou mistas. • Infiltração: aumento de consistência da pele, em geral por aumento de celularidade dérmica ou hipodérmica, sem acentuação de seus sulcos. • Tubérculo: lesão dura, elevada, maior que 5mm; surge de infiltração mesenquimal dérmica e pode deixar cicatriz permanente. • Nódulos: lesão sólida, mal delimitada, de consistência variável (firme, elástica, mole) localizada em derme profunda ou hipoderme; é mais bem avaliada durante a palpação. • Tumores: lesões elevadas, maiores que 3cm; podem ser benignas ou malignas. • Vegetações: lesões sólidas, salientes, de formato variado (lobular, filiforme, em couve-flor) e consistência mole. Podem ser verrucosas (seca, epiderme íntegra, proliferação da camada córnea) ou condilomatosas (úmidas, camada córnea normal ou diminuída, exosserose, em mucosas e dobras). o Diagnóstico diferencial das lesões vegetantes: PLECCT. ▪ Paracoccidioidomicose; ▪ Leishmaniose; ▪ Esporotricose; ▪ Cromomicose; ▪ Carcinoma espinocelular; ▪ Tuberculose. 3. COLEÇÕES LÍQUIDAS: Lesões que encarceram conteúdo líquido / fluido em seu interior. • Vesículas/bolhas: elevações contendo líquido claro em seu interior. As vesículas são menores que 1cm, ao passo que as bolhas são maiores. Varicela, herpes zoster, queimaduras, pênfigo (vulgar e foliáceo), epidermólise bolhosa. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 22 de 109 • Cisto epidermoide ou sebáceo: origem na pele ou no folículo piloso, é preenchido por queratina ou resíduos lipídicos. • Pústulas: vesículas com conteúdo purulento; presença de inflamação. • Abscessos: coleções purulentas, maiores que as pústulas, presentes na derme e na hipoderme; “furúnculo”. • Hematomas: coleções resultantes do derrame sanguíneo fora do leito vascular (na pele ou tecidos subjacentes). 4. ALTERAÇÕES DA ESPESSURA: Modificação da espessura normal / fisiológica da pele. • Ceratose/queratose: lesão áspera e esbranquiçada resultante do espessamento da epiderme por proliferação da camada córnea (queratina); sulcos dermatológicos são evidentes e os limites da lesão são precisos. Ceratose senil, ceratordermia palmar e plantar, ceratose actínica (lesão pré-cancerosa). • Espessamento: aumento da espessura e da consistência da pele, de limites imprecisos e sem formação de sulcos evidentes. A pele se mantém depressível. • Liquenificação: aumento da espessura epidérmica que surge do ato de coçar a pele cronicamente (comum na dermatite atópica). A lesão é circunscrita e segue um padrão quadriculado / em rede, com aumento de sulcos e saliências. Frequentemente acompanhada de alterações na coloração. • Esclerose: endurecimento cutâneo, que pode ter aderência a planos profundos, circunscrito ou difuso, acompanhado da diminuição ou ausência de pelos e sulcos que ocorre como consequência da fibrose dérmica. Proliferação de colágeno. • Atrofias: diminuição do tecido cutâneo, podendo ser superficial (pele fina, com transparência dos vasos dérmicos), profunda (perda do tecido conectivo dérmico) ou lipoatrófica (perda do tecido adiposo subcutâneo). • Edema: acúmulo de líquido na derme tornando a pele lisa, brilhante e depressível quando pressionada contra uma protuberância óssea. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 23 de 109 o Urtica: elevação transitória da pele produzida por edema dérmico. Apresenta tamanho e configurações variadas, coloração eritematosa e prurido. Em geral, desaparece em até 24 horas. 5. ALTERAÇÕES DE CONTINUIDADE E PERDAS TECIDUAIS: • Escamas: lâminas de estrato córneo que se desprendem da pele. o Furfuráceas (pitiriasiforme): farelenta, branca, fina, milimétrica. o Micáceas (psoriasiformes): branco-prateadas, de espessura variável. o Foliáceas: grande, fina e branca, como folha de papel. o Ictiosiformes: poligonal, como escama de peixe, branca ou escura. • Erosão ou exulceração: solução e continuidade que afeta a epiderme e que não deixa cicatriz. • Escoriações: lesões, em geral produzida pelo ato de coçar, constituídas por erosões e, mais raramente, por ulcerações. • Úlceras: solução de continuidade que pode chegar até o tecido celular subcutâneo ou fáscia e sempre deixa cicatriz. Lesão de bordos elevados e centro deprimido em relação à periferia e à pele saudável adjacente. • Fissuras: perda tecidual linear, geralmente encontrada onde a pele é fisiologicamente mais espessa como palmas das mãos e plantas dos pés. • Crostas: correspondem a líquidos extravasados que se solidificaram. Podem ter origem em transudato, exsudato, pus ou sangue. • Cicatriz: proliferação de tecido fibroso resultante de do processo fisiológico de reparo de tecidos danificados. o Hipertrófica: elevada; mantém-se nos limites do tecido lesado. o Queloide: o tecido fibrótico ultrapassa os limites do tecido lesionado. o Atrófica: em vez de elevada, é deprimida. • Estria: cicatriz atrófica linear violácea (recente) ou nacarada (antiga). Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 24 de 109 Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 25 de 109 AVALIAÇÃO DOS FÂNEROS • Cabelo: o Implantação: ▪ Mulheres têm implantação mais baixa e homens, mais alta. ▪ Diversos transtornos endócrinos concomitantes ao hipogonadismo no homem determinam a implantação feminoide dos cabelos. ▪ Alterações endócrinas na mulher com hiperprodução de substâncias androgênicas invertem o tipo de implantação dos cabelos. o Distribuição: ▪ Alopecia: áreas sem pelo. • Areata: ‘’buracos’’ sem cabelo. • Total: sem cabelo nenhum. • Androgenética: em homens e mulheres em uso de testosterona. o Quantidade: a queda de cabelos é um dado de interesse. o Coloração: ▪ Sinal da bandeira: associado a desnutrição calórica em crianças. Faixa avermelhada na raiz dos cabelos. o Brilho, espessura, consistência: os cabelos podem perder o brilho e se tornarem quebradiços e secos. Essas alterações ocorrem no mixedema, nos estados carenciais e em várias outras afecções. o Verificar no couro cabeludo: ▪ Caspa. Lembrar que nem toda descamação de couro cabeludo é caspa. ▪ Piolho (pediculose). ▪ Psoríase. ▪ Dermatite atópica. • Pelos: o Hipertricose: aumento exagerado dos pelos terminais, sexuais ou não sexuais em relação ao indivíduo.Pode ser congênita ou adquirida, difusa ou localizada. o Hirsutismo: aumento exagerado de pelos sexuais masculinos na mulher. ▪ A virilização é o hirsutismo relacionado ao aprofundamento da voz e aumento do clitóris. ▪ O aumento da produção de androgênios pelas suprarrenais ou pelos ovários pode ser responsável por esses fenômenos. ▪ Tumores de ovário: geralmente associados à amenorreia, hirsutismo e virilização. o Queda dos pelos: atentar-se à queda de pelos axilares e pubianos. ▪ Causas mais frequentes: desnutrição, hepatopatias crônicas, mixedema, colagenoses, quimioterapia e certas dermatoses. • Unhas: o Forma ou configuração: Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 26 de 109 ▪ Normal: curvatura lateral nítida. o Tipo de implantação: ▪ Normal: forma um ângulo menor que 160o. ▪ Hipocratismo digital: ângulo de aproximadamente 180o. o Espessura: ▪ Normal: firme. o Superfície: ▪ Normal: lisa. ▪ Irregular. o Consistência: ▪ Normal: firme. ▪ Diminuída. o Brilho: ▪ Normal: brilhosa. ▪ Sem brilho. o Coloração: ▪ Normal: róseo-avermelhada. ▪ Pálida: anemia. ▪ Azulada: cianótica. o Unhas distróficas: espessadas, rugosas, formato irregular. Frequentes em pessoas que trabalham descalças, sujeitas a repetidos traumatismos, portadores de isquemia crônica dos membros inferiores, onicomicose. o Coiloníquia: ‘’unha em colher’’. É um estado distrófico no qual a placa ungueal torna- se fina e desenvolve-se uma depressão. Tais alterações ocorrem na anemia ferropriva grave e são provocadas por irritantes locais. o Linhas de Beau: sulcos transversais à lúnula. ▪ Causas: doenças renais e hepáticas. o Baqueteamento digital ou hipocratismo digital: associado a pacientes com hipoxemia crônica. Tumefação bulbosa dos tecidos moles na base da unha, com desaparecimento do ângulo normal entre a unha e a prega ungueal proximal. O ângulo aumenta para 180 graus ou mais. ▪ Cardiopatias congênitas cianóticas. ▪ Endocardite infecciosa. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 27 de 109 ▪ Cardiopatias com shunt direita-esquerda. ▪ Asbestose. ▪ Pneumonite por hipersensibilidade. ▪ Sarcoidose. ▪ Tuberculose. ▪ Abuso de laxativos. ▪ Doenças hepáticas. ▪ Doenças tireóideas. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 28 de 109 CABEÇA E PESCOÇO INSPEÇÃO DO CRÂNIO OBS.: Fazer a inspeção de frente para o paciente, por cima de sua cabeça e também tangencial (observando o paciente lateralmente). • Tipos de crânio: o Microcefalia: relacionado com infecções congênitas por: rubéola, toxoplasmose, Zika; síndrome genética. o Macrocefalia: tumor cerebral, raquitismo, hipertensão intracraniana. o Escafocefalia: aumento da região antero-posterior; em indivíduos que tiveram fechamento prematuro das suturas cranianas. Formato de ‘’barco invertido’’. o Hidrocefalia: acúmulo anormal de líquido dentro do crânio; edema e aumento da pressão intracraniana; pode ser decorrente de infecções, tumores ou desenvolvimento fetal incompleto. o Abaulamentos: decorrentes de eventos traumáticos. • Posicionamento e movimentos: se atentar para movimentos anormais, tremores, manutenção da inclinação da cabeça (torcicolo congênito, por exemplo). PALPAÇÃO E AUSCULTA DO CRÂNIO • Verificar pontos dolorosos, tumorações, ulcerações e linfonodos. • Se o paciente tiver muito cabelo, será preciso fazer a avaliação repartindo o cabelo de modo a deixar áreas nuas na cabeça para melhor visualização. • Palpação da artéria temporal superficial: entre a sobrancelha e a orelha. • Articulação temporo-mandibular: com o dedo médio e o dedo anelar, pressionar a ATM, pedir para o paciente abrir e fechar a boca e fazer lateralização da mandíbula. Pode ter uma leve crepitação normalmente. Não é esperado que o paciente sinta dor importante. FACE: INSPEÇÃO E PALPAÇÃO • Glândula sublingual. • Glândula submandibular. • Glândula parótida aumentada: caxumba, etilista crônico (hipertrofia bilateral), pessoas que estão há muito tempo sem comer. • É imprescindível calçamento de luva para palpação; pode ser apenas na mão que entrará em contato com a mucosa do paciente. • Uma mão do avaliador puxa o mento para baixo e a outra realiza a palpação. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 29 de 109 OLHOS: REVISÃO DE SINAIS E SINTOMAS • Sensação de corpo estranho. • Queimação ou ardência: o Conjuntivite, ceratite, sono insuficiente, exposição a fumaça, poeira, produtos químicos e síndrome de Sjogren. • Dor ocular: o Inflamação da pálpebra, dacrioadenite, celulite orbitária, abscesso, periostite, conjutivite aguda, esclerite, episclerite, corpo estranho corneano, uveíte anterior (irite e iridociclite) e sinusite. • Prurido: o Quando o prurido é muito acentuado, quase sempre é sinal de alergia, mas também pode ser causado por vício de refração não corrigido. • Lacrimejamento. • Sensação de olho seco (xeroftalmia): o Ocorre na síndrome de Sjogren, conjuntivite crônica, exposição da conjuntiva por mal posicionamento da pálpebra, e quando há dificuldade de fechar a pálpebra corretamente (paralisia facial). • Hemeralopia ou cegueira diurna. • Nictalopia ou cegueira noturna. • Alucinações visuais. • Diminuição ou perda da visão. • Diplopia: é importante saber o momento do aparecimento da diplopia, se é constante ou intermitente, se ocorre em certas posições do olhar ou a determinadas distâncias, se os dois objetos vistos são horizontais ou verticais. • Fotofobia. • Nistagmo: pode ser caracterizado como rápido ou lento; amplo ou estreito; horizontal, vertical ou rotacional; movimento pendular (os dois olhos iguais) ou movimento jerk (um olho lento em uma direção e o outro rápido em outra direção). • Xantopsia: visão amarelada. o Intoxicação medicamentosa (fenacetina, digitálicos). o Icterícia intensa. • Iantopsia: visão violeta. • Cloropsia: visão verde. • Escotomas: área de cegueira parcial ou completa, dentro de um campo visual normal ou relativamente normal. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 30 de 109 OLHOS: EXAME FÍSICO • Inspeção: tamanho, simetria, distância entre os olhos, cílios e supercílios, pálpebras, aparelho lacrimal. o Hipertelorismo: afastamento entre os olhos. Altamente associado a síndromes genéticas. o Exoftalmia: olho protruso. Vê-se o branco do olho (esclera) entre a pálpebra superior e a íris e entre a pálpebra inferior e a íris (rever em fácies basedowiana). o Cílios e supercílios: ▪ Madarose: queda dos cílios e supercílios (principalmente do terço distal). Causado por hanseníase, hipotireoidismo e insuficiência renal. ▪ Triquíase: quando o cílio entra no vestíbulo ocular / toca o olho. ▪ o Pálpebras: ▪ Blefarite: inflamação da pálpebra. Dor, calor, rubor e edema. ▪ ▪ Sinal do guaxinim: equimose palpebral bilateral. Importante indicativo de fratura de base de crânio. ▪ Ptose: abertura incompleta bilateral ou unilateral. ▪ Fechamento incompleto. ▪ Entrópio: borda da pálpebra invertida para dentro (pode cursar com triquíase). ▪ Ectrópio: borda da pálpebra invertida para fora. ▪ Hordéolo ou terçol: abscesso das glândulas palpebrais. ▪ Calázio: abscesso de glândulas sebáceas. É mais endurecido que o terçol. ▪ Xantelasma: placas amareladas (depósito lipídico), associadas a dislipidemia. ▪ o Inflamação da glândula lacrimal . o Conjuntiva: ▪ Palpebral: avaliar inferior e superior segundo as imagens. Se estivar pálida, indica provável anemia. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 31 de 109 ▪ Conjuntiva e esclera: • Icterícia. • Esclera azul: associada a osteogênese imperfeita. • Pterígio: proliferação de tecido fibrovascular benigna. • Quemose: edema da conjuntiva. • Conjuntivite: inflamação da conjuntiva;hiperemia evidente. • Hemorragia subconjuntival. o Córnea e cristalino: ▪ Catarata: cristalino opaco. ▪ Halo senil: dislipidemia em pacientes jovens, normal em idosos. o Pupila e íris: ▪ Midríase ou miose podem estar associadas a intoxicação por drogas. ▪ Reflexo fotomotor: ver em exame neurológico. ORELHA • Otalgia. • Irritação. • Otorragia. • Tontura, vertigem. • Zumbidos. • Hipoacusia: importante interrogar o paciente a respeito de sua ocupação laboral; pessoas que trabalham com construção civil ou outras atividades expostas a poluição auditiva costumam ter hipoacusia, por exemplo. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 32 de 109 • Pavilhão auricular: inspecionar tamanho, forma, simetria, cor, implantação e condições de higiene. o Palpação: as orelhas devem ser firmes e móveis, sem lesões associadas. Atentar para dor, edema, hiperemia e presença de nódulos / linfadenopatia reacional. • Processo mastoideo: sua palpação pode evidenciar mastoidite. • Avaliar implantação da orelha: se for baixa, há chances de síndrome genética. • Lesões possíveis: o Sinal de Frank: prega lobular diagonal bilateral. Associação importante com aterosclerose, em adultos e idosos. Em jovens, atentar para possibilidade de doença coronariana (investigar histórico familiar do paciente). NARIZ • Dor. • Rinorreia: mucosa, serosa, purulenta. • Obstrução nasal: testar a permeabilidade da via aérea; tapar uma narina do paciente e pedir para que respire pelo lado contralateral (que deve estar livre); repetir avaliação do outro lado. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 33 de 109 • Hiposmia e anosmia: sensibilidade olfatória diminuída ou abolida. Se o paciente relatar que consegue sentir o cheiro de café (grão ou bebida), ele não terá anosmia, pois é um cheiro dificilmente imperceptível; a hiposmia não pode ser avaliada com essa técnica. • Ronco. • Epistaxe. SEIOS DA FACE • Palpação de seios frontais: pressionar, com os polegares, embaixo do osso frontal. A sinusite pode ser diagnosticada, clinicamente, se o paciente sentir dor durante essa palpação. • Palpação de seios maxilares: pressionar, com os polegares, abaixo dos processos zigomáticos e "empurrar” em direção cranial. A dor à palpação também indica sinusite. BOCA, LÍNGUA E ASSOALHO BUCAL • Odinofagia: dor ao deglutir. • Disfagia: dificuldade de deglutir. • Tosse: secretiva / produtiva (amarela, mucoide, com sangue) ou seca. • Halitose: mal hálito. • Sempre pedir ao paciente para remover a prótese dentária antes da avaliação. • Inspeção da boca: examinar “de fora para dentro”. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 34 de 109 o Lábio: cor, umidade, lesão. ▪ Queilite angular: pode ser causada por ressecamento, agente infeccioso (cândida, estreptococcus, estafiloccocus), deficiência nutricional (riboflavina, folato e ferro), prótese mal adaptada, envelhecimento, dermatite atópica. ▪ Herpes: vesículas. o Língua: inspeção do dorso e das laterais. ▪ Candidíase oral: lesão esbranquiçada em placa; se passar a espátula sob a lesão, ela será ‘’removida / descamada’’ (se a placa não sair com a espátula, investigar leucoplasia pilosa oral por Epstein-Bahr ou HIV). ▪ Língua em fambroesa: escarlatina. ▪ Sinal de Koplik: pontos esbranquiçados com hiperemia ao redor. Patognomônico de sarampo. o Gengivas: cor, bordas, edemas. o Dentes. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 35 de 109 o Mucosa oral: úlceras, placas e nódulos. o Assoalho da boca. o Pedir ao paciente para abrir a boca e falar ‘’ah’’, mantendo a língua dentro da boca (pode-se ajudar o paciente usando um abaixador de língua no terço distal do músculo). ▪ Palato duro e mole: cor e arquitetura. ▪ Tonsilas. ▪ Úvula: forma e simetria. TRAQUÉIA E TIREÓIDE • Traqueia: avaliar a posição e se não tem nenhum desvio (a traqueia normal está centralizada, não deve desviar para a direita nem para a esquerda). • Tireóide: paciente não pode levantar a cabeça. o Aproximação anterior: utilizar dedos polegar, indicador e médio em um movimento de pinça e em movimentos circulares (variando de acordo com a etapa da palpação). ▪ Localizar a cartilagem tireoidea. ▪ Abaixo da cartilagem, localizar o anel cricoide. ▪ Palpar um pouco mais abaixo até sentir o istmo da tireoide. ▪ Delimitar os hemisférios (dedilhar para o lado esquerdo e depois para o lado direito até conseguir fazer a delimitação). ▪ Palpar sempre com movimentos circulares. ▪ Avaliação da mobilidade: pedir para o paciente deglutir enquanto o examinador estiver com os dedos no istmo da tireoide e avaliar se a glândula se move com a deglutição. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 36 de 109 o Aproximação posterior: ▪ Ficar atrás do paciente e repetir os mesmos passos da aproximação anterior, usando os dedos indicador, médio e anelar. • Sinal de Pemberton: indicativo de tireoide aumentada. Pedir ao paciente para elevar os braços por 3-5min; a tireoide aumentada, juntamente com a posição da clavícula, obstrui a traqueia e a VCS; o paciente fica com a face bastante hiperemiada e pode referir dispneia. • • Caracterização de tireoide: o Dimensões: normal, aumentada (aumento difuso ou localizado). o Mobilidade: o normal é móvel deglutição. o Superfície: lisa ou nodular. o Consistência: elástica, cística, pétrea, lenhosa). o Sensibilidade: com ou sem dor. o Sinais flogísticos: presentes ou ausentes. o Presença de frêmito / sopro. CARÓTIDAS • O primeiro passo é sempre a ausculta. • Em seguida, fazer a palpação: o Entre o ECM e a traqueia. o Palpar uma carótida isoladamente, depois a outra. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 37 de 109 LINFONODOS Palpação em movimentos circulares com os dedos indicador e médio. O movimento de dedilhar é apenas para localizar a região a ser examinada. • Occipitais: na base do crânio. • Retro-auriculares: auriculares posteriores, se aproximando do processo mastoide. • Pré-auriculares: na parte anterior da orelha, próxima ao tragus. • Cervicais superficiais: ao longo, ‘’em cima’’, do ECM. • Cervicais profundos: ao longo do ECM, porém “a baixo” do músculo. o Pedir para o paciente olhar para o lado, para expor o ECM e poder palpar ‘’embaixo’’ dele com mais facilidade. o Outra técnica é empurrar o ECM para um lado, com uma das mãos em garra, e palpar ‘’embaixo’’ dele com a mão livre. • Cervicais posteriores: ao longo do ECM, porém mais posteriormente. • Tonsilares. • Mandibulares: ao longo da borda inferior da mandíbula. • Submentuais: abaixo do queixo. • Supraclaviculares. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 38 de 109 • Caracterização de linfonodos palpáveis: o Localização. o Tamanho: normal ou aumentado. o Formato: simétrico ou assimétrico. o Organização: isolados ou agrupados. o Mobilidade: fixos ou móveis. o Consistência: endurecido ou amolecidos. o Sensibilidade: doloroso ou não. • Linfonodos alterados: podem indicar estado reacional, inflamação ou neoplasia. o Neoplasia: aumentado, pétreo (endurecido), indolor, fixo. o Inflamação: móvel, dolorido, associado a sinais flogísticos. • Sinal de Troisier: linfonodo de Virchow (linfonodo aumentado na região supraclavicular esquerda). Associado a neoplasia gástrica. • Sinal de Irish: linfonodo aumentado na região axilar. Associado a neoplasia. SÍNDROMES DE CABEÇA E PESCOÇO A maioria das síndromes de cabeça e pescoço tem origem endocrinológica. 1. HIPERTIREOIDISMO: O hipertireoidismo é caracterizado pelo aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide. A tireotoxicose refere-se à síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianoscirculantes, secundário ao hipertireoidismo ou não. De modo geral, é observada uma correlação entre os níveis hormonais e a apresentação clínica, sendo que: • Sinais e sintomas secundários ao estímulo adrenérgico, como taquicardia e ansiedade, são mais evidentes em pacientes jovens e com bócios volumosos. • Perda de peso é um achado frequente, no entanto alguns pacientes, especialmente os mais jovens, podem relatar ganho ponderal devido ao aumento do apetite. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 39 de 109 • Em idosos, predominam sintomas cardiopulmonares, tais como taquicardia (ou fibrilação atrial), dispneia e edema. • O termo “tireotoxicose apática” é utilizado para descrever o paciente idoso assintomático, exceto pela presença de fraqueza e astenia. Exame físico e manifestações clínicas: • A determinação do peso corporal, pressão arterial e frequência cardíaca são particularmente importantes. Taquicardia sinusal e hipertensão arterial sistólica são comuns, e a fibrilação atrial pode estar presente, principalmente em idosos. • Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo ou assustado e sinal de lid-lag são decorrentes da hiperatividade adrenérgica e podem ser observados em qualquer quadro de tireotoxicose. No quadro de tireotoxicose, a pele geralmente é quente e úmida. Tremor fino de extremidades, fraqueza muscular proximal e hiperreflexia são achados frequentes. • A palpação e ausculta da glândula tireoide permitem avaliar o tamanho, a consistência, a presença de nódulos ou o sopro tireoidiano. • Dor espontânea ou à palpação da tireoide é característica da tireoidite subaguda, enquanto a presença de nódulo único leva à suspeita de adenoma folicular hiperfuncionante. Doença de Graves: hiperemia conjuntival e palpebral, edema palpebral, quemose, paralisia de músculos extraoculares ou exoftalmia são característicos da oftalmopatia da doença de Graves. Dermatopatia infiltrativa (mixedema pré-tibial) é uma manifestação rara. Bócio de tamanho variado é geralmente observado na Doença de Graves e no bócio multinodular tóxico. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 40 de 109 Diagnóstico e tratamento: O diagnóstico clínico do hipertireoidismo, geralmente, não oferece dificuldade e a confirmação diagnóstica deverá ser feita com as dosagens das concentrações séricas de TSH e hormônios tireoidianos. O tratamento pode ser realizado com drogas antitireoidianas, administração de radioiodoterapia ou cirurgia de acordo com a etiologia da tireotoxicose, as características clínicas, disponibilidade local de métodos e preferências do médico-assistente e paciente. O diagnóstico de crise ou tempestade tireotóxica é essencialmente clínico. As manifestações são as mesmas apresentadas pelos pacientes com tireotoxicose, porém de forma exacerbada. Essas incluem taquicardia (> 140 batimentos por minuto), insuficiência cardíaca, hipertermia, agitação, ansiedade, delírio, psicose, coma, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, insuficiência hepática e icterícia. A avaliação laboratorial da função tireoidiana apresenta o mesmo padrão encontrado no hipertireoidismo (elevação dos níveis séricos dos hormônios da tireoide e supressão do TSH). 2. HIPOTIREOIDISMO: Hipotireoidismo é um estado clínico em que a quantidade de hormônios tireoidianos circulantes é insuficiente para suprir uma função orgânica normal. Isso pode ser causado por uma variedade de anormalidades. A forma mais prevalente é a doença primária, causada por uma falha da própria glândula. O hipotireoidismo severo é chamado de mixedema. O hipotireoidismo subclínico é caracterizado por um aumento do TSH e níveis normais de hormônios tireoidianos livres. No Brasil, o hipotireoidismo é o agravo mais comum da tireoide, especialmente em mulheres (8M:1H) acima de 60 anos. A deficiência de iodo é a causa mais comum em países em desenvolvimento e em países desenvolvidos, a principal causa é autoimune (tireoidite de Hashimoto). Hemocromatose, amiloidose, esclerose sistêmica e outras doenças infiltrativas também podem prejudicar a função tireoidiana. Manifestações clínicas: Fadiga, letargia, ganho de peso, inapetência, intolerância ao frio, rouquidão, constipação, fraqueza, mialgias, artralgias, parestesias, pele seca, queda de cabelo, humor deprimido. Em quadros de mixedema (edema duro e pele opaca, geralmente por hipotireoidismo prolongado), os sintomas anteriores se apresentam de forma mais grave, além da possibilidade de outras alterações como rosto sem expressão, cabelo esparso, cardiomegalia, megacólon, ataxia cerebelar, neuropatia periférica, encefalopatia, hiperlipidemia, hipercarotenemia e depressão. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 41 de 109 Diagnóstico: Após suspeita diagnóstica, solicitar os níveis de TSH e T4 livre. • TSH aumentado e T4 livre baixo: hipotireoidismo primário. • TSH aumentado e T4 normal: hipotireoidismo subclínico. • TSH baixo ou normal e T4 baixo: investigar hipotireoidismo central e efeito de drogas. Tratamento: reposição hormonal gradual. Hipotireoidismo versus Hipertireoidismo: principais manifestações clínicas. 3. SÍNDROME DE CUSHING: A síndrome de Cushing é um complexo de sinais e sintomas que resulta da excessiva exposição dos tecidos ao cortisol. Geralmente, há uma doença neuroendocrinológica causada pela interrupção do Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 42 de 109 eixo hipotálamo-hipófise-adrenal levando à exposição crônica a glicocorticoides (hipercortisolismo), cuja fonte tanto pode ser endógena quanto exógena, resultando em aspectos clínicos de distribuição anormal de gordura (obesidade central), disfunção gonadal, hipertensão, entre outras. O adenoma hipofisário (doença de Cushing) corresponde a aproximadamente 70% das causas, enquanto os adenomas adrenais são responsáveis por cerca de 10% dos casos. Manifestações clínicas: As manifestações do hipercortisolismo incluem hipertensão, distribuição anormal de gordura, pele fina sensível a hematomas, fraqueza muscular, osteoporose, hirsutismo e disfunção gonadal, podem apresentar uma ampla variedade de sintomas psiquiátricos, incluindo depressão, instabilidade emocional, deficiências cognitivas, apatia, ansiedade e psicose. Os sinais considerados mais específicos são pletora facial, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal, estrias cutâneas largas e avermelhadas/violáceas (> 1 cm), pele atrófica e fragilidade capilar/equimoses espontâneas num paciente que apresenta ganho de peso ou redistribuição do peso. • Sistema reprodutivo: irregularidades menstruais, sinais de excesso de andrógenos adrenais (hirsutismo, pele facial oleosa, acne em rosto, pescoço e ombros, virilização). • Manifestações dermatológicas: estrias largas roxo-avermelhadas (a derme mais fina permite visualizar o sangue venoso subjacente), atrofia de pele (perda de gordura subcutânea), infecções fúngicas (tínea versicolor), hiperpigmentação (aumento de ACTH). • Metabolismo: intolerância à glicose, obesidade progressiva central (face, pescoço, tronco, abdome, canal medular e mediastino). • Cardiovascular: risco aumentado para IAM, AVE e tromboembolismo, hipertensão, dislipidemia. • Musculoesquelético: perda muscular e fraqueza proximal (efeito catabólico), perda óssea. • Neuropsiquiátricas: insônia, depressão, perda de memória. • Infecciosas: aumento da frequência de infecção por inibição de citocinas. Diagnóstico: Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 43 de 109 Inicialmente, a anamnese cuidadosa deve excluir a hipótese de ingestão de glicocorticoides exógenos. O diagnóstico depende da determinação de um estado de hipercortisolismo e da perda do ritmo circadiano da secreção do cortisol, preferencialmente confirmado por dois testes: teste de supressãocom dexametasona 1 mg e 2 mg, medida do cortisol salivar à meia noite ou sérico noturno e medida do cortisol urinário de 24 horas. Uma vez confirmado o hipercortisolismo endógeno, o segundo passo na investigação é determinar se a síndrome de Cushing é dependente ou independente de ACTH, que se faz pela medida de duas amostras do ACTH plasmático. Se for independente de corticotropina (ACTH), a tomografia computadorizada das glândulas suprarrenais é geralmente o próximo procedimento, procurando uma massa adrenal. Tratamento: A base da terapia inclui a remoção do adenoma hipofisário, o que pode ser feito usando cirurgia transesfenoidal. As complicações cirúrgicas mais frequentes são o pan-hipopituitarismo e o diabetes insípidus central, por lesão da neuro-hipófise. Radioterapia (convencional ou estereotáxica) e adrenalectomia total bilateral com terapia diária de reposição de glicocorticóides e mineralocorticóides (por toda a vida) também são opções de tratamento. 4. SÍNDROME MONONUCLEOSE-LIKE: Mononucleose: infecção por EBV. Quando ocorre em pré-escolares, a evolução é com síndrome gripal (países em desenvolvimento), mas em países desenvolvidos, onde a infecção acontece mais tardiamente (adolescentes e adultos jovens), tem-se o quadro clássico de mononucleose. A transmissão ocorre por gotículas (“doença do beijo”), secreção vaginal ou transfusão sanguínea. Os pacientes infectados excretam o vírus por até 6 meses após a ocorrência da doença aguda e podem ter secreção intermitente do patógeno por toda a vida, devido à replicação viral assintomática. O período de incubação é de 30-50 dias e o pródromo inclui mal-estar, fadiga, cefaleia, dor de garganta com piora progressiva e febre prolongada (1-2 semanas). Exame físico: linfadenopatia (cervical anterior e posterior, submandibular, axilar, inguinal e epitroclear – bem característica), hepatoesplenomegalia, hipertrofia de amígdalas (com exsudato cinza claro), petéquias de orofaringe. Diagnóstico: o diagnóstico é clínico, porém pode ser confirmado laboratorialmente (leucocitose, linfocitose, trombocitopenia e aumento de transaminases). Pode ser solicitada a sorologia para EBV para confirmação de diagnóstico. Diagnóstico diferencial: faringoamigdalite estreptocócica. A prescrição de antibióticos derivados da penicilina, no caso desse diagnóstico, faz com que o paciente com mononucleose manifeste outro sinal, o exantema maculopapular pruriginoso, com início em tronco. Isso acontece porque o paciente Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 44 de 109 com mononucleose tem hipersensibilidade transitória à penicilina. Devem ser considerados o CMV, HIV, toxoplasmose e leucemia aguda, que são as doenças da “síndrome mono-like". Tratamento: antitérmicos, repouso (3 semanas). Complicações: rotura esplênica, anemia hemolítica, trombocitopenia, obstrução de vias aéreas superiores, meningoencefalite. 5. “SÍNDROME” DE LINFONODOMEGALIA CERVICAL: Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 45 de 109 EXAME FÍSICO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR INSPEÇÃO • Ictus cordis → no 5o espaço intercostal esquerdo (EICE), na linha hemiclavicular esquerda (LHCE). o Inspeção frontal e tangencial. PALPAÇÃO • Frêmito cardiovascular: o Se um sopro cardíaco tiver frêmito ele já é, no mínimo, +++/++++. o Ictus cordis: 4o ou 5o EICE, LHCE. Dura no terço inicial da sístole. ▪ Deitar o paciente em decúbito lateral esquerdo e pedir para inspirar e segurar a respiração (apneia) ajuda a exteriorizar o ictus para palpação. AUSCULTA • Posição do paciente: o Decúbito lateral esquerdo: facilita a ausculta do foco mitral. o Sentado com o tórax levemente inclinado para frente: facilita a ausculta dos focos pulmonar e aórtico. • Bulhas cardíacas: o Primeira bulha (B1): fechamento das válvulas mitral e tricúspide no final da diástole e início da sístole. Som mais grave e longo. Melhor auscultado com a campânula. “TUM”. ▪ Desdobramento de B1: som da valva tricúspide fechando um pouco depois da mitral. “TRUM TÁ”. • Desdobramento fisiológico: quando se prende a respiração, o retorno venoso aumenta e a tricúspide atrasa para fechar. • Desdobramento patológico: doença na tricúspide (calcificação, etc.). o Segunda bulha (B2): fechamento das valvas aórtica e pulmonar no final da sístole e início da diástole. Som mais agudo e curto. Melhor auscultado com a membrana. “TÁ”. ▪ Desdobramento de B2: “TUM TLÁ”. • Desdobramento fisiológico: Mais comum em crianças e idosos. • Desdobramento patológico: alguma doença na aórtica (calcificação). • Focos de ausculta: o Foco aórtico: 2o EICD parasternal. o Foco pulmonar: 2o EICE parasternal. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 46 de 109 o Foco aórtico acessório: 3o EICE parasternal. o Foco mitral: 4o a 5o EICE na LHCE. o Foco tricúspide: à esquerda da base do apêndice xifoide (do lado esquerdo do foco mitral). • Sopro cardíaco: sentir o pulso radial quando auscultar um sopro. Se o sopro coincidir com o pulso é sopro sistólico, caso contrário, é sopro diastólico. o Foco mitral: colocar o paciente em decúbito lateral esquerdo facilita a ausculta do sopro (mais forte). o Foco aórtico: dá pra ouvir na fúrcula e no foco aórtico acessório. Aumenta quando o paciente inclina o tórax para a frente (cerca de 45o). o Foco pulmonar: aumenta quando inclina o tórax para sempre. Paciente segura a respiração e piora o sopro (aumentar a intensidade do sopro) o Foco tricúspide: aumenta prendendo a respiração; não aumenta em decúbito lateral. ▪ Se colocar em decúbito lateral e não aumentar, não significa que é tricúspide, ainda pode ser mitral; nesse caso testar prendendo a respiração. Aumentou? Tricúspide. Não aumentou? Mitral. • Insuficiência e estenose: o Insuficiência aórtica: sopro diastólico em foco aórtico, melhor ouvido em foco aórtico acessório. o Estenose aórtica: sopro sistólico de ejeção, no foco aórtico. o Insuficiência pulmonar: sopro diastólico em foco pulmonar, mais bem auscultado quando o paciente realiza apneia. o Estenose pulmonar: sopro sistólico de ejeção, em foco pulmonar. o Insuficiência mitral: sopro sistólico de regurgitação, no foco mitral. o Estenose mitral: sopro diastólico com estalido em foco mitral, mais bem auscultado em decúbito lateral esquerdo. o Insuficiência tricúspide: sopro sistólico de regurgitação em foco tricúspide. o Estenose tricúspide: sopro diastólico em foco tricúspide. Aumenta quando o paciente realiza apneia. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 47 de 109 SÍNDROMES CARDIOVASCULARES INSUFICIÊNCIA CARDÍACA As sintomatologias abaixo se referem a um processo progressivo de evolução da insuficiência cardíaca. As sintomatologias não estão separadas de acordo com a classificação ‘’IC direita’’ e ‘’IC esquerda’’, mas pode-se considerar que os sintomas respiratórios se referem exclusivamente a IC esquerda e o tópico ‘’outras sintomatologias’’ se refere exclusivamente a IC direita, mas tenham em mente que uma IC direita eventualmente gera uma IC esquerda e vice-versa. • Sintomatologia respiratória: o ‘’Fadiga’’: dispneia, normalmente, mas pode ser por fraqueza muscular. ▪ Aos grandes esforços: exercício físico (andar de bicicleta, capinar a horta). ▪ Aos médios esforços: arrumar a casa (varrer, lavar roupa), carregar compras de supermercado. ▪ Aos pequenos esforços: tomar banho, lavar o cabelo, levantar-se da cadeira, do sofá, da cama. o Congestão pulmonar: ortopneia (dispneia de decúbito). o Dispneia paroxística noturna: o paciente vai dormir sem ‘’falta de ar’’ e, durante a noite, acorda (após apneia) com dificuldade para respirar. Muitas vezes o incômodo é tamanho, que é necessário procurar uma fonte de ar (janela, ventilador) para respirar melhor. o Pacientes com ortopneia ou dispneia paroxística noturnageralmente dormem com vários travesseiros ou no sofá (aumentar a inclinação facilita a respiração). • Sintomatologia cardíaca: todas são decorrentes de mecanismos compensatórios. o Cardiomegalia. o Taquicardia. o Pulso alternante. o Arritmia. o Baixa reserva. • Sintomatologia urinária: o Oligúria: mal funcionamento renal e baixo volume sanguíneo. Pode evoluir para insuficiência renal. o Nictúria: micção noturna. • Outras sintomatologias: o Edema de MMII: conferir no resumo de ‘’pele’’. o Cianose. o Turgência jugular. o Hepatomegalia. o Esplenomegalia. o Ascite. • Exame físico: Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 48 de 109 o Galope ventricular B3: vibração da parede ventricular na fase rápida do enchimento ventricular (disfunção sistólica; dificuldade de contrair). o Galope atrial B4: maior resistência ventricular ao enchimento, gerando disfunção diastólica e maior dificuldade de relaxar. o Pulso alternante: rever na parte de ‘’pulso’’. o Linhas B de Kerley: exame de imagem; congestão / edema pulmonar. o Estertores crepitantes: presentes na congestão pulmonar. o Estase jugular: ver em paciente deitado, com o tronco inclinado em 45o; IC grave. o Edema MMI. o Hepatomegalia. o Ascite. o Reflexo hepatojugular: pressionar o fígado do paciente durante sua expiração (inclinação de 45o) e observar se turgência jugular por refluxo sanguíneo. o Cianose. o Icterícia. SÍNDROME CORONARIANA AGUDA – INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ANGINA INSTÁVEL • Dor precordial: lancinante, em queimação, em peso. • Pode irradiar para membro inferior esquerdo, mandíbula (pensar em IAM) e outros. • Exame físico: pode apresentar sinais de dor, sudorese, palidez cutânea. o Se a FC estiver elevada significa que o miocárdio ainda tem força, porém está no seu limite e esse paciente provavelmente irá infartar em breve. MIOCARDIOPATIAS • Hipertensiva: hipertrofia miocárdica. • Isquêmica: dilatação miocárdica. ENDOCARDIOPATIA – ENDOCARDITE • Principais causas: doenças reumatológicas ou infecciosas. • Febre baixa, arrastada, que geralmente dura de 1 a 2 semanas. PERICARDIOPATIAS – PERICARDITE • Principais causas: doenças reumatológicas ou infecciosas. • Ausculta cardíaca: hipofonese e atrito pericárdico. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 49 de 109 VALVOLPATIAS • Quadro parecido com endocardite, porém de caráter mais crônico. • Avaliação específica durante exame físico. ARRITMIAS • Bradiarritmia: coração com batimento mais lento devido a baixo fluxo. Paciente desmaia. • Taquiarritmia: batimento cardíaco acelerado e ejeção de volume insuficiente para suprir a demanda do organismo. O sente palpitação e pode desmaiar. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 50 de 109 EXAME FÍSICO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO • Posição para o exame físico da parede torácica anterior: decúbito dorsal. • Posição para o exame físico da parede torácica posterior: paciente sentado com as mãos apoiadas na perna descruzada. Se necessário, colocar a mão direita sobre o ombro esquerdo e vice-versa (paciente se abraçando), pois o afastamento das escápulas auxilia na propagação do som, aumentando o campo pulmonar audível. o Se não for possível para o paciente se sentar, solicitar que fique em decúbito direito e depois em decúbito esquerdo. INSPEÇÃO • Estática: observar formato do tórax, abaulamentos e depressões. o Adulto normal: o Tórax escavado (pectus excavatum): pode ser somente uma variação anatômica ou estar relacionado a síndromes genéticas. É relativamente comum. o Tórax em tonel (barril): relacionado ao enfisema pulmonar. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 51 de 109 o Tórax carenado (pectus carinatum): o Tórax instável traumático: o Cifoescoliose torácica: o Tórax em sino: alteração não ocorre diretamente no tórax, e sim no abdome; o tórax fica aparentemente mais fino que o abdome, dando o aspecto de formato de sino. Está relacionado a visceromegalias abdominais (hepatomegalia, esplenomegalia etc.) o Tórax cifótico: desabamento vertebral. Pode ser causado por tubérculo vertebral e infecções. Comum em idosos (causado por envelhecimento). Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 52 de 109 o Rosário raquítico: abaulamento na articulação costocondral. • Dinâmica: frequência da respiração, tipo respiratório, ritmo e amplitude dos movimentos respiratórios, ausência ou presença de tiragem, expansibilidade dos pulmões. o Frequência respiratória: ver em ‘’exame físico geral’’. o Ritmo respiratório: os padrões são a frequência, a profundidade e a regularidade. ▪ Bradipneia: respiração lenta. Pode ser causada por uremia, depressão respiratória induzida por fármaco e aumento da pressão intracraniana. ▪ Taquipneia: respiração rápida e superficial. Hiperpneia, hiperventilação. Reposta à demanda metabólica de causas como atividade física, altitude elevada, sepse, anemia. A respiração de Kussmaul é uma aceleração da respiração compensatória à acidose sistêmica. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 53 de 109 ▪ Respiração obstrutiva: na DPO, a expiração é prolongada, porque as vias respiratórias estreitadas aumentam a resistência ao fluxo de ar. As causas incluem asma, bronquite crônica e DPOC. ▪ Cheyne-Stokes: normal em crianças e adultos mais velhos durante o sono. As causas incluem IC, uremia, depressão respiratória induzida por fármaco e lesão cerebral. o Esforço: o recrutamento da musculatura acessória é sinal clássico de esforço respiratório. Na inspiração ocorre contração dos ECM/escalenos ou retração supraclavicular. Pode haver tiragem intercostal, ou seja, retração muscular anormal dos EIC, mais visíveis inferiormente. Além dos músculos cervicais e intercostais, pode haver uso de musculatura abdominal e batimento de asa do nariz. PALPAÇÃO • Deve-se palpar qualquer área com dor ou qualquer tipo de lesão, fazer manobras para avaliar a expansibilidade da caixa torácica e o frêmito toracovocal. • Expansibilidade da caixa torácica: o Posicionar os polegares a nível da décima costela, com as mãos paralelas ao gradil costal lateral. o Deslizar os polegares medialmente para a formação de uma prega entre os dedos. o Observar o afastamento dos polegares (esticamento da prega) à medida que o paciente inspira. • Frêmito toracovocal (FTV): vibrações palpáveis e simétricas na parede torácica transmitidas pela árvore broncopulmonar à medida que o paciente fala (‘’trinta e três’’ é a principal frase utilizada na área da saúde). É mais proeminente na região interescapular do que nos campos pulmonares inferiores. A palpação deve ser feita de forma simétrica, dos dois lados ao mesmo tempo. o Posicionar a parte óssea da palma da mão (base dos dedos) ou a superfície ulnar (otimização da sensibilidade vibratória dos ossos da mão) nos pontos de palpação bilateralmente. o Pedir ao paciente para repetir ‘’trinta e três’’ em cada ponto de palpação. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 54 de 109 o Identificar e localizar regiões de aumento, diminuição ou ausência de FTV. o Se o FTV estiver fraco, pedir ao paciente que fale mais alto ou com a voz mais grave. o Alterações no FTV: o FTV em maior em indivíduos com vozes mais graves (homem tem FTV maior que mulher) e indivíduos magros têm FTV maior que de indivíduos gordos. ▪ FTV aumentado: consolidação pulmonar (pneumonias, infarto pulmonar). O frêmito é ‘’amigo’’ das lesões pulmonares, ou seja, o som se propaga melhor no líquido dentro do parênquima pulmonar, então com o parênquima inflamado, o frêmito é alto. ▪ FTV diminuído: anormalidade que impede, parcial ou totalmente, a transmissão vocal. O frêmito é ‘’inimigo’’ dapleura, porque diminui a propagação do ar. Logo, derrame pleural, espessamento pleural, atelectasia por oclusão brônquica e pneumotórax resultarão em FTV diminuído ou abolido. O mesmo ocorre no enfisema pulmonar. PERCUSSÃO • A percussão ajuda a determinar se os tecidos subjacentes estão cheios de ar, líquidos ou consolidados (com células e exsudato). • O golpe da percussão penetra apenas 5 a 7 cm no tórax, portanto não ajuda a detectar lesões profundas. • Hiperestender o dedo médio da mão não-dominante (dedo plexímetro) e pressionar a articulação interfalângica distal com firmeza na superfície a ser percutida. Evitar contato com qualquer outra parte da mão para não abafar as vibrações. Somente o dedo plexímetro enconsta no paciente. • Golpear duas vezes seguidas a flange média do dedo plexímetro com a ponta do dedo médio da mão dominante (dedo plexor) em um movimento movendo apenas o punho. • Afastar rapidamente o dedo. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 55 de 109 • Sons obtidos na percussão: esses sons ocorrem em algumas síndromes, que serão discutidas no tópico ‘’síndromes respiratórias’’. o Claro-pulmonar ou sonoridade pulmonar: áreas de projeção dos pulmões. Som normal. o Timpânico: normal no espaço de Traube (baço). Som de víscera mais ar. o Submaciço: normal na região inferior do esterno. o Maciço: normal na região inframamária direita (fígado) e precórdio (coração). o Hipersonaridade: som mais claro e intenso. É a palavra-chave para o diagnóstico de pneumotórax. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 56 de 109 AUSCULTA • A ausculta compreende os sons gerados pela respiração, investigação de ruídos adventícios e, se houver suspeita de anormalidades, auscultar os sons da voz falada ou sussurrada do paciente durante sua transmissão através da parede torácica. • Antes de começar a ausculta, peça ao paciente para tossir 1-2 vezes para limpar a atelectasia leve ou muco das vias respiratórias que pode produzir ruídos extras. • Orientar o paciente a respirar profundamente com a boca aberta, para evitar que possíveis obstruções nasais ou da nasofaringe atrapalhem a ausculta. • Os sons são auscultados com o diafragma do estetoscópio, que deve ser posicionado diretamente na pele do paciente, pois as roupas podem causar atrito e ruídos adicionais. • Deslocar o estetoscópio pelos mesmos pontos demarcados para a palpação do FTV, comparando as regiões simétricas dos pulmões. • Auscultar por pelo menos um ciclo respiratório completo. Havendo sons anormais, pesquisar regiões adjacentes à alteração. • Se o paciente sentir tontura devido a hiperventilação, pedir que ele descanse, respirando normalmente, por alguns minutos antes de prosseguir com o exame físico. • Sons respiratórios: podem diminuir quando ocorre redução do fluxo do ar (DPOC, fraqueza de musculatura respiratória) ou se a transmissão for precária (derrame pleural, DPOC, pneumotórax). O hiato silencioso sugere sons respiratórios brônquicos. É importante identificar sons respiratórios por sua intensidade, tom e duração relativa das fases inspiratória e expiratória. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 57 de 109 Sons respiratórios normais: Sons respiratórios adventícios: estertores, sibilos e roncos. • Estertores: anormalidades do parênquima pulmonar (pneumonia, doença pulmonar intersticial, fibrose pulmonar, atelectasia, IC) ou das vias respiratórias (bronquite, bronquiectasia). Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 58 de 109 o Finos ou crepitantes: ‘’som de cabelo esfregando na orelha’’. Não são alterados pela tosse. A principal causa é congestão pulmonar (extravasamento de líquido. Ficar em pé pode modificar o barulho). Predomina em base. Som resultante da entrada de ar no alvéolo colabado. o Grossos, bolhosos ou subcrepitantes: ‘’som de soprar bolhas em um canudo com o copo com líquido’’. A tosse pode alterar o som (via área mais alta), ao passo que a mudança de posição (em pé ou sentado) não causa alterações. Pode estar localizado em qualquer região que tenha brônquio. • Estridor: som ofegante durante a inalação, resultante de uma obstrução parcial da laringe, faringe ou traqueia. Pode ser causado por edema de glote, corpo estranho ou difteria. O estridor e os ruídos laríngeos são mais altos no pescoço. Verdadeiros sibilos e roncos são suaves ou ausentes nessa região. • Sibilos: sons altos, semelhantes a um assobio que ocorrem durante a respiração quando há bloqueio parcial das vias aéreas. Pode ser causado por asma, DPOC e bronquite. Na obstrução avançada das vias respiratórias da asma grave, sibilos e sons respiratórios podem estar ausentes devido ao baixo fluxo de ar respiratório (‘’tórax silenciosos’’), uma emergência médica. • Roncos: termo usado para descrever sons de secreção em grandes vias respiratórias. Podem ser alterados com a tosse. Ausculta da voz: Se for auscultada respiração broncovesicular ou brônquica em localização anormal, devem ser avaliadas as vozes falada e sussurrada. • Egofonia: falar ‘’i’’. É normal ouvir um som longo e abafado. O som anormal se parece com uma cabra, por isso também é chamado de som caprino. Pode ser causado por derrame pleural. • Broncofonia: falar ‘’trinta e três’’. O normal é som abafado e indistinto. Se o som vocal for mais intenso e nítido, ou seja, o som normal ‘’melhorado’’, tem-se broncofonia. Causada por acúmulo de líquido. Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 59 de 109 • Pectorilóquia afônica: sussurrar ‘’trinta e três’’. Voz sussurrada normalmente não é auscultada ou, no máximo, aparece como um som baixo e indistinto. Se der para ouvir a voz sussurrada é pectorilóquia afônica. SÍNDROMES RESPIRATÓRIAS Resumo dos diagnósticos sindrômicos respiratórios: 1. Síndromes Parenquimatosas ou Pulmonares: 1.1. Consolidação 1.2. Atelectasia 1.3. Hiperaeração 1.4. Congestão Passiva dos Pulmões 1.5. Escavação ou Caverna Pulmonar 2. Síndromes Brônquicas: 2.1. Asma 2.2. Bronquite Aguda 2.3. Bronquite Crônica 2.4. Bronquiectasia 3. Síndromes Pleurais: 3.1. Pleurites Agudas e Crônicas 3.2. Derrames Pleurais 3.3. Pneumotórax (Síndrome Pleural Aérea) Mariana Macabú e Fernanda Sales – MedUfes 103 Página 60 de 109 1. SÍNDROMES PARENQUIMATOSAS OU PULMONARES: 1.1. CONSOLIDAÇÃO: Ocupação dos espaços alveolares por células ou exsudato. Causas: pneumonia (viral, bacteriana), tuberculose, infarto pulmonar. Manifestações clínicas: dispneia, tosse seca ou produtiva, dor torácica ventilatório-dependente (sinônimo de dor torácica pleurítica). • Inspeção: expansibilidade reduzida. • Palpação: expansibilidade (ápice e base) reduzida; frêmito aumentado. • Percussão: macicez ou submacicez. • Ausculta: murmúrio vesicular reduzido, respiração brônquica substituindo o MV; sopro tubário (som central sendo ouvido em região periférica - som traqueal); broncofonia (sinônimo de pectorilóquia fônica), egofonia (voz caprina) e pectorilóquia afônica (paciente susurrando); crepitações / estertores finos. 1.2. ATELECTASIA: Desaparecimento de ar dos alvéolos e ocupação do espaço alveolar por células e exsudato. Atelectasia passiva: ocorre nas bases pleurais devido à posição de decúbito em pacientes internados. Causas: oclusão da luz dos brônquios (neoplasias, corpo estranho, secreção espessa / “rolha”); pode ser parcial ou total (mais importante), dependendo da localização da oclusão. Manifestações clínicas: a traqueia desvia para o lado da lesão, visível no exame de imagem. • Inspeção: retração do hemitórax acometido e tiragem. • Palpação: expansibilidade diminuída; frêmito toracovocal reduzido ou abolido. • Percussão: macicez ou submacicez. Mariana Macabú e Fernanda Sales
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