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REUMATOLOGIA BÁSICA PARA ESTUDANTES Thelma L Skare ANO 2018 Faculdade Evangélica do PR SUMÁRIO 1 Noções básicas de imunologia 1 2 Noções básicas de anatomia e fisiologia articular 34 3 Abordagem do paciente com queixas reumatologicas 42 Atlas de exame físico em reumatologia 53 4 Antiinflamatórios não hormonais 68 5 Glicocorticoides 79 6 Outros medicamentos em Reumatologia 90 6.1Tratamento da dor 104 6.2 Acupuntura no tratamento da dor 107 7 Laboratório em reumatologia 109 8 Noções de imagens em reumatologia 127 9 Diagnóstico diferencial de monoartrites 138 10 Diagnóstico diferencial das poliartrites 140 11 Artrite reumatoide 144 11.1 AR e aterogenese acelerada 166 11.2 Síndrome de Felty 166 12 Lupus eritematoso sistêmico 170 12.1 Lupus por droga 193 12.2 Lupus e infecção 196 13 Esclerodermia 198 13.1 Fenômeno de Raynaud 216 13.2 Fasciite eosinofílica 224 12.4 Doença por adjuvante (ASIA) 225 14 Sìndrome de Sjögren 227 14.1 Doença por IgG4 235 15 Polimiosite e dermatomiosite 236 16 Doença mista do tecido conjuntivo 248 17 Sindrome do anticorpo antifosfolipide 251 18 Gravidez e doenças reumáticas sistemicas 261 18.1- drogas antirreumáticas e gravidez 265 19 Outras vasculites 272 20 Espondiloartrites conceitos gerais 285 21 Espondilite anquilosante 291 22 Artrite Reativa 298 23 Artrite psoriatica e das doenças inflamatórias intestinais 302 24 Microcristalinas 307 25 Sépticas 309 26 Dor lombar 331 26.1- dor lombar e afastamento do trabalho 361 27 Dor cervical e cervicobraquialgia 363 28 Reumatismo de Partes moles 374 29 Fibromialgia 384 29.1- dor miofascial 389 30 OSteoartrite 390 31 Doenças do metabolismo ósseo 402 32 Febre reumática 429 33 Artrite idiopática juvenil 235 33.1 Colagenoses na infância 440 34 Manifestações oftalmológicas das doenças reumáticas 445 35 Manifestações dermatológicas das doenças reumáticas 457 1 Capítulo 1 - Revisão em imunologia No sentido de facilitar o entendimento dos mecanismos envolvidos na patogênese das doenças reumáticas, muitos das quais ligados a desordens do sistema imune, é necessário que façamos uma revisão sumária do funcionamento deste sistema e das leis gerais que o regulam. Não estamos nos propondo, aqui, a esgotar o assunto, nem a rever imunologia em todos os seus aspectos. O conteúdo é básico e o mínimo necessário para que você possa acompanhar os assuntos descritos mais adiante. Imunologia tem fama de assunto aborrecido e difícil... Longe disto! Complexo talvez, muitas vezes por culpa do nosso conhecimento parcial da situação, o que nos leva a elaborar hipóteses complicadas para explicação do desconhecido. Além disso, temos uma verdadeira mania de classificações e de usar nomes sofisticados. Mas, o que ninguém pode negar, é que imunologia é fascinante... Prometo ser o mais simples possível. INTRODUÇÃO Para começar, imunologia é um ramo da biologia que se dedica ao estudo das reações de defesa que conferem resistência aos elementos patogênicos. Todos os organismos vivos são capazes de resistir a elementos patogênicos embora nem sempre o façam da mesma maneira. Elementos biologicamente mais simples dispõem de sistemas de defesa que também são mais simples. Já os mais complexos, dispõem de mecanismos mais sofisticados e mais eficientes, num acompanhamento da evolução de suas capacidades. O ser humano possui um sistema imunológico que pode ser divido em dois grandes grupos: o chamado sistema inespecífico e o específico ou antecipatório. Ser inespecífico é a grande vantagem e, também, a grande desvantagem do primeiro grupo. Ele consta de um sistema de defesa que já está pronto para enfrentar qualquer tipo de situação de alarme. Não interessa quem é o inimigo. Seu ponto forte é a rapidez de início de ação. Todavia, como ele não sabe contra quem vai atuar, ele trabalha em linhas gerais... e por isso pode não ser lá tão eficiente. É uma “bomba” em cima de região inimiga. Destrói toda e qualquer coisa que encontra, podendo, muitas vezes, atacar componentes que não deveriam ser atacados, no famoso “fogo amigo”. São vários os componentes do sistema imunológico inespecífico. O principal e mais bem estudado é o processo inflamatório, mas, existem, também outros como o complemento, as barreiras mecânicas, moléculas circulantes como as pentraxinas e a proteína C reativa, etc. Já o segundo grupo, o do sistema imunológico especifico é especializado, sofisticado e inteligente. Ele faz um reconhecimento de quem é o inimigo e “prepara” um sistema de ataque individual e eficiente contra o mesmo. Seus grandes componentes são os linfócitos. Entretanto, conhecer o inimigo e preparar uma arma especial contra ele exige recursos e tempo e, enquanto o sistema específico não está pronto para entrar em cena, o organismo fica na dependência do sistema inespecífico para se defender. Os linfócitos são agentes específicos contra um elemento estranho porque dispõe de receptores que só reconhecem um determinado tipo de antígeno. A diversidade de produção de receptores é determinada por codificação genética. Cada linfócito expressa um único gene e o seu produto, ou seja, um único receptor. Todas as células que derivam deste linfócito-mãe expressarão o mesmo receptor da célula inicial. Este grupo de células, expressando o mesmo gene e o mesmo receptor é chamado de CLONE. Ora, pode se entender que, sendo desta maneira, cada gene terá que ter o seu linfócito para se expressar. Assim, a população de linfócitos de um indivíduo mostra-se como um verdadeiro mosaico de clones cobrindo todas as possibilidades possíveis de encontro 2 com elementos estranhos. Os linfócitos vagueiam pelo organismo em ciclos migratórios exibindo seus receptores como verdadeiras armadilhas. Quando ele encontra o antígeno da sua vida, ele se divide formando um clone de células iguais para conseguir fazer frente ao invasor e, assim, dar conta do inimigo. A replicação leva tempo para acontecer, mas pode ser otimizada: num primeiro encontro ela é mais demorada e leva alguns dias para se completar; em encontros subsequentes o processo é bem mais rápido. Trocando em miúdos: quando alguém é exposto a um antígeno, fica melhor protegido contra exposições futuras. Um problema que nos interessa de perto e que será objeto de atenção especial mais adiante é o de que as proteínas do próprio corpo podem ser apanhadas nas armadilhas dos linfócitos ocasionando o que chamamos de autoimunidade. Este ataque deve ser prevenido a todo custo, tornando os linfócitos tolerantes aos componentes do próprio corpo. Os mecanismos de tolerância serão discutidos no final deste capítulo. QUEM É O INIMIGO Bem... Já vimos que a finalidade do sistema imune é livrar-se de elementos estranhos e nocivos ao corpo, que chamaremos a partir de agora, de antígenos. Uma substância para ser reconhecida pelo organismo como antígeno deve ser, antes de tudo, estranha. Isto implica em que o antígeno pode ser um elemento externo ao organismo, ou, um elemento interno alterado, como são as células tumorais e as células infectadas por vírus. No entanto, ser estranho, por si só, não é suficiente. Esta substância deve ter também um tamanho molecular mínimo (quanto maior, melhor) e ter certa complexidade química. Quase todos os antígenos são substâncias orgânicas. A incapacidade de substâncias inorgânicas despertarem uma resposta imune talvez se deva ao fato de a maioria ser muito pequena. Moléculas pequenas (como íons metálicos) só podem funcionar como antígeno caso elas se liguem a uma proteína carregadora. Nesta situação elas recebem o nome de hapteno. Outra condição necessária para que uma substância funcione como um antígeno é que ele tenha um grau de complexidade química. Moléculas muito simples, mesmo sendo grandes (como é o caso de certos polímeros que se formam pela repetição de um único aminoácido)são fracamente imunogênicas. Além destes elementos, a concentração em que ela é administrada e a porta de entrada da mesma no organismo, influem na capacidade de uma substância despertar resposta imune ou não. Quando o organismo recebe uma carga muito alta de antígeno ele se torna tolerante a ele; é como se o sistema imune ficasse "atordoado" e perdesse a sua capacidade de reação. Por outro lado, se as concentrações do antígeno são muito baixas, o organismo nem "se incomoda" em responder a ele. Existe, portanto, uma concentração intermediária (que não é nem muito grande, nem muito pequena) capaz de fazer o sistema imune funcionar com capacidade ótima. A via de administração é outro elemento que exerce suas influências e isto é, naturalmente, muito importante quando se leva em conta a administração de vacinas. A administração por via oral acaba sendo raramente utilizada porque as enzimas digestivas destroem o antígeno antes de sua absorção. Aliás, é graças a este mecanismo, que os alimentos normalmente não imunizam uma pessoa. Quando um antígeno é administrado pelas vias subcutânea, intradérmica ou intramuscular acaba atingindo um linfonodo regional onde é processado. Se administrado por via endovenosa ou intraperitoneal, acumula-se predominantemente no baço. Esta diferença de local de processamento talvez seja o responsável por diferenças nas respostas imunológicas. Como já foi comentado anteriormente, não é a molécula inteira do antígeno que reage com o sistema imune, e, sim, algumas de suas porções chamadas de epítopes ou determinantes antigênicos. O SISTEMA IMUNE ANTÍGENO ESPECÍFICO 3 A grande sofisticação do sistema imune dos seres mais evoluídos fica por conta do sistema antecipatório ou antígeno específico cujos agentes efetores são os linfócitos. Quem aprecia um linfócito do ponto de vista morfológico, como células sanguíneas com núcleo enso, e um pequeno anel citoplasmático, sem nenhuma organela especial, a não ser umas poucas mitocôndrias, ribossomos e lisossomos, não imagina que células com uma estrutura tão "vulgar" possam abrigar uma capacidade funcional tão extraordinária. Além disso, essa população, embora sendo anatomicamente homogênea, possui subdivisões bastante distintas do ponto de vista de distribuição de trabalho. A primeira grande divisão dos linfócitos é feita em linfócitos do tipo T e linfócitos B. Os linfócitos T são assim chamados porque, no seu processo de maturação, devem obrigatoriamente passar pelo timo. (T=timo). Os linfócitos B são os linfócitos cuja maturação se processa na medula óssea que seria o órgão equivalente à "bursa de Fabricius" identificada em aves. (B=bursa). O LINFÓCITO T - Já sabemos que o linfócito T é um linfócito antígeno específico e que a base desta especificidade está na presença de um receptor em sua superfície. A finalidade do receptor é reconhecer um antígeno externo e encaminhar essa informação para dentro da célula para que ela fabrique substâncias que irão ser as verdadeiras efetoras da defesa. Este receptor tem, em sua estrutura básica, 2 cadeias: a α (alfa) e a β (beta). Existem, também, alguns poucos linfócitos que exibem as cadeias γ (gama) e δ (delta), mas só os linfócitos que tem as cadeias αβ pertencem ao sistema imunológico especifico e é deles que iremos falar neste capítulo. Comentaremos sobre os γδ mais tarde... Cada uma das cadeias do receptor tem uma porção variável (para reconhecer o antígeno) e uma porção constante (que se fixa na superfície celular). Já sabemos que a estrutura destas cadeias é geneticamente determinada. Existem genes, melhor falando, famílias de genes para cada uma destas porções. Com isso dá para entender que, se existem grupos de genes para cada uma destas porções, a combinação desta variedade toda resulta num número final muito grande de diferentes receptores. Calcula-se que um único indivíduo pode ter mais de 1.000.000 de clones de células T diferentes... O receptor da célula T não consegue reconhecer o antígeno quando ele está sozinho. Este só passa a ser reconhecido quando for apresentado junto com as moléculas de HLA do próprio indivíduo. De uma maneira geral, o antígeno é processado por uma célula acessória (na maioria das vezes, um macrófago, que, quando exerce esta função, passa a se chamar de célula apresentadora de antígeno) e apresentado ao linfócito T junto com o seu próprio MHC, estimulando-o. Repetindo em outras palavras: o macrófago apanha o antígeno, desmonta-o em pedacinhos menores e expõe todos "os seus segredos" em sua superfície celular junto com o seu antígeno de histocompatibilidade. O linfócito T que encontra o conjunto é, então, ativado. Para que ocorra a estimulação do linfócito T é necessário que ambos, o antígeno e as proteínas do complexo de histocompatibilidade, estejam presentes. Isoladamente, nenhum deles consegue produzir um estímulo efetivo. Existe quem comparasse o comportamento do linfócito T ao de um velho gentleman inglês que segue à risca as regras da etiqueta. Ele sabe que o macrófago expondo o antígeno quer "falar com ele" e sabe até qual é o assunto, mas não irá até ele a menos que seja devidamente apresentado por alguém que conheça a ambos. Quem faz as apresentações? O antígeno de histocompatibilidade. Os antígenos solúveis são reconhecidos junto com o HLA classe II; os antígenos virais jun-to com os da classe I. Se você lembra o que são HLAs lá do 2º ano, tudo bem! Se não, espere um pouquinho que vamos rever esta parte também. Bem, até aqui estava tudo muito fácil, não? Vamos complicar um pouquinho? O reconhecimento do antígeno ligado ao HLA pela célula T é o início de uma longa conversa entre 4 estas duas células. Assim que o reconhecimento inicial acontece, o linfócito T expressa várias moléculas, que vão encontrar os respectivos receptores na célula apresentadora de antígeno. Estes pares de moléculas são chamados de moléculas coestimulatórias. Um desses conjuntos é o da molécula B7 do macrófago que se liga ao CD28 da célula T. Este par é importante porque ele tem um inibidor, o CTLA4, que é capaz de interromper o processo de reconhecimento e assim abortar a estimulação do linfócito T. A administração de CTLA4 exógena vem sendo usado como uma opção de tratamento para artrite reumatoide. Outro parzinho de moléculas coestimulatórias bem conhecido é o CD40-CD40L, mas existem muitos outros dos quais não falaremos aqui. É só após o reconhecimento destes pares de moléculas coestimulatórias que o processo de ativação do linfócito continua, com a elaboração de interleucina-2. Se não houver este reconhecimento, o processo já iniciado cessa. Repetindo: num primeiro momento existe o reconhecimento do antígeno montado no HLA pelo receptor da célula T. É o primeiro sinal. Num segundo momento, as moléculas coestimulatórias que aparecem, tanto do lado do linfócito como do macrófago, também se ligam e formam um verdadeiro zíper que liga as duas células entre si. É o segundo sinal. Dá-se o nome de sinapse imunológica a esse ponto de encontro entre linfócito T e macrófago. Figura 1.1 Sinapse imunológica Existem vários subtipos de linfócito T. Esta classificação pode ser feita ou de acordo com o trabalho que ele executa, ou de acordo com as proteínas que aparecem em sua membrana ou, ainda, de acordo com o tipo de antígeno de histocompatibilidade que ele reconhece. Preste bem atenção porque isto causa uma confusão danada... A primeira classificação é feita de acordo com os receptores de antígeno que aparecem na membrana e esta é a primeira subdivisão que pode ser notada quando este linfócito está amadurecendo no timo. Como já foi comentado existem linfócitos com receptores αβ e outros com receptores γδ. Só os primeiros fazem parte do sistema imunológico especifico e são eles que se diferenciam mais tarde em linfócitos CD4 e CD8. (CD= cluster of differentiation). Desta maneira um linfócito maduro αβ ou é CD4+, CD8- ou é CD4-e CD8+. 60% deles são CD4+, CD8- ; 40% são CD4, CD8+. De uma maneira geral os linfócitos CD4 são chamados de T helper e os CD8, de T citotóxicos. Durante a apresentação do antígeno os linfócitos T helper reconhecem os antígenos apresentados com o HLA classe II e os CD8, os apresentados com HLA classe I. O linfócito T helper pode ser subdividido, mais uma vez, de acordo com as citocinas que ele fabrica, em linfócitos Th1, Th2, Th17 e T regulador (ou T reg). Os linfócitos T CD4+ do grupo Th1 são linfócitos que elaboram citocinas que irão ajudar no combate a bactérias intracelulares. Para entender isto vamos nos lembrar um pouquinho 5 lá da microbiologia.... Lembra que existem certas bactérias, muito “pilantras” que, ao serem fagocitadas continuam crescendo dentro do macrófago? É o que acontece com as bactérias da tuberculose e do mal de Hansen (micobactérias). Isto só é possível porque o vacúolo onde elas estão não consegue se fundir com os lisossomos - que contém as enzimas que deveriam destruí-las. O linfócito Th1 “obriga” os lisossomos do macrófago a irem até o vacúolo onde está a bactéria e despejar o seu conteúdo enzimático. Além disso, estas células Th1 elaboram citocinas que atraem mais macrófagos. Portanto, as células Th1 são fundamentais para a destruição de patógenos intracelulares, ou seja, para a imunidade celular. O segundo subtipo de T helper é o linfócito Th2 o qual auxilia o linfócito B a fabricar anticorpos. Portanto, a célula Th2 está envolvida na resposta humoral. Já a célula Th17 é um linfócito que atua contra micro-organismos extracelulares. A cel T do tipo T reguladora pertence ao sistema de controle da imunidade específica e é uma espécie de “guardinha” que fica atendendo as demais células para que não “aprontem” contra o próprio organismo. Como cada uma dessas células executa essas tarefas? Elaborando determinado tipo de citocinas. Citocinas são substâncias solúveis e de comunicação entre o sistema imune. Como o linfócito T CD4 escolhe qual tipo de célula ele vai se tornar? De novo, por causa das citocinas circulantes... Deu para notar que essas citocinas são realmente “poderosas”! No quadro abaixo estão as principais citocinas que “mandam” na mudança dos linfócitos assim como as principais citocinas que eles fabricam depois que escolheram o seu subtipo... Veja que muitas delas atuam dos dois lados, ou seja... atuam na diferenciação do linfócito e também são elaboradas por ele. Espertinhas, não? Assim o processo faz uma retroalimentação positiva... Figura 1.2 - Subtipos de célula T CD4 O linfócito T CD8 ou citotóxico é o que, quando ativado, adquire a capacidade de lizar células alvo, que tem antígenos reconhecidos pelo seu receptor. Ele mata a célula estranha num verdadeiro “abraço de tamanduá”... Chega pertinho dela, modifica o seu exoesqueleto de tal maneira que cria uma área de comunicação com a célula alvo e, aí, deposita enzimas como granzimas e perforinas que irão lizar esse alvo. Vamos voltar, agora, lá ao encontro do linfócito T com o antígeno de sua vida. Quando ocorre esta ligação começam a acontecer coisas... 6 O primeiro sinal de que existe algo de diferente no ar é um fluxo de Ca++ e Na+ de fora para dentro do linfócito. O interior da célula é normalmente negativo, enquanto que as superfícies externas são carregadas positivamente. Após a ligação com receptor é como se os portões da membrana citoplasmática se abrissem e os cátions fossem despejados de acordo com o gradiente de concentração. À medida que os íons Na+ entram, começam a sair íons H+, o interior da célula se torna basofílico. Outra coisa notada nesta fase precoce é uma mudança na composição dos fosfolipídeos da membrana citoplasmática. Estas alterações iniciais são seguidas por um incremento geral no metabolismo e o que se vê é, em linhas gerais: aumento geral de síntese de proteínas em 2 horas; aumento do número de ribossomos em 6 horas; início da síntese do DNA em 24h. Em 30h o linfócito está pronto para a sua primeira divisão mitótica. Depois desta primeira divisão mitótica, todo o ciclo se repete por 5 a 10 vezes. Feito isto, o linfócito muda novamente: alguns deles retornam para a fase de repouso, outros saem para desempenhar a função imune a que estão destinados. As células que retornam à fase de repouso embora sejam morfologicamente semelhantes à célula mãe, são diferentes do ponto de vista qualitativo, uma vez que, num segundo encontro com o antígeno elas conseguem responder muito mais ligeiro. São chamadas de células da memória. Já as células que saem para desempenhar a sua função não conseguem mais se proliferar, nem se transformar em células da memória. As que não forem "gastas" ao exercer suas funções morrem em alguns dias após a sua diferenciação. Estas são as células efetoras. As células T da memória conseguem ser encontrada em todos os tecidos do corpo humano, num verdadeiro estado de alerta contra o antígeno. Já as células T primitivas (ou virgens) só conseguem atravessar o vaso sanguíneo em um ponto especial das vênulas dos órgãos linfoides, onde existem células endoteliais altas. Voltaremos a este assunto ao conversar sobre a circulação dos linfócitos. O LINFÓCITO B - Outro componente do sistema imunológico específico ou antecipatório é a célula B. Ela é responsável pela formação dos anticorpos ou imunoglobulinas. Da mesma maneira que a célula T, a especificidade da célula B é dada por um receptor de superfície que, neste caso, nada mais é do que uma imunoglobulina de superfície. Esta imunoglobulina de superfície é muito parecida com a imunoglobulina que a célula B secreta como anticorpo, quando estimulada pelo antígeno. Os precursores de célula B têm sua origem na medula óssea e podem ir diretamente aos tecidos linfoides periféricos ou passar pelo fígado, medula óssea, tecido linfoide intestinal ou de amígdala antes de se tornar uma célula funcionante. Um linfócito B, ao se diferenciar da célula tronco da medula óssea, é reconhecido como pré-célula B quando começa a fabricar imunoglobulina M intracitoplasmática. Na fase seguinte ela passa a exibir imunoglobulina M na sua superfície. Depois disso aparece, além da IgM, a IgD de superfície. Tudo que acontece até aqui não depende da presença do antígeno, mas a partir deste estágio a célula já tem a capacidade de responder a elementos estranhos. Se o linfócito B não encontrar o seu alvo, ele morre em 3-4 dias. No entanto, se ele "for salvo" pelo encontro com o antígeno, irá se transformar num linfócito B ativado e irá se diferenciar produzindo uma proporção cada vez maior de imunoglobulina na forma secretada e cada vez menor de imunoglobulina ligada a membrana. Algumas destas células B trocam o tipo de imunoglobulina, produzindo outras imunoglobulinas além de IgM e IgD, ou seja, IgA, IgG e IgE mas para isso esta célula B vai precisar de ajuda das células T helper. Para fabricar a IgM, a celula B é autônoma e trabalha sem ajuda de ninguém... A mudança do tipo de imunoglobulina elaborada é regulada pelo linfócito T helper através deligação das moléculas coestimulatorias, sendo importante aqui, a ligação entre o ligante de CD 40 (CD40 L) com a proteína de superfície da célula B, que é, no caso, o CD40. Note que este sistema é o mesmo já abordado na comunicação entre célula apresentadora de antígeno e linfócito T. Este sistema CD40-CD40L também é importante para regular a sobrevivência das células B. Existem pessoas 7 com defeitos comngenitamente determinados neste link CD40-CD40L e não conseguem fazer outras imunoglobulinas a não ser a IgM – o que é conhecido como Síndrome da hiper IgM. O linfócito B, completamente diferenciado em célula secretora de anticorpo - ou seja- a célula que é efetora- nada mais é do que o plasmócito. Existem basicamente dois tipos de plasmócitos. Os de vida curta - que trabalham enquanto a infecção está ativa e depois desaparecem, e os plasmócitosde vida longa – que ficam secretando uma quantidade basal de anticorpos. É graças a esta célula que, depois de uma infecção, a gente sempre fica “vacinado” e o título dos anticorpos contra o agente infeccioso nunca retorna ao zero. O plasmócito de vida longa, em geral, vai se alojar na medula óssea. Acompanhe esta diferenciação do linfócito B na figura abaixo . Figura 1.3: História de vida da célula B Algumas destas células B, ao invés de passar a secretar anticorpos, persistem exibindo a imunoglobulina de superfície e são chamadas de células da memória, as quais sobrevivem por bastante tempo circulando entre o sangue, linfa e órgãos linfoides. A afinidade das imunoglobulinas de superfície de uma célula B de memória é bem maior do que aquela do seu precursor não estimulado e assim o organismo, quando encontra pela segunda vez com um antígeno, já está capacitada a acionar rapidamente o sistema imunológico especifico.. Bem... Já sabemos que a finalidade da ativação do linfócito B é a produção de imunoglobulinas que são elementos mediadores da resposta imunológica humoral. Os anticorpos se ligam ao antígeno com a finalidade de inativá-lo ou removê-lo. No homem, existem 5 diferentes classes de imunoglobulinas que são designadas pelas letras: A,G,M,E.D. Cada uma destas imunoglobulinas é formada por 2 cadeias pesadas e 2 cadeias leves. Existem cinco tipos de cadeia pesada (uma para cada tipo de imunoglobulina) e 2 tipos de cadeia leve, de tal modo que são possíveis 10 combinações no total. As cadeias leves (L= light) são chamadas de kapa (k) e lambda (λ), o correspondente, em grego, às iniciais do nome dos seus descobridores. As cadeias pesadas (H=heavy) são identificadas pelas letras gregas correspondentes ao nome das imunoglobulinas, ou seja: gama (γ), para IgG; alfa (α) para IgA; delta (δ) para IgD, mu (μ) para IgM e épsilon (μ) para IgE. 8 As quatro cadeias que formam a imunoglobulina se ligam entre si por pontes dissulfetos. Cada uma das cadeias tem uma porção variável (V) e uma porção constante (C). Assim, as cadeias leves têm uma porção variável (VL) e uma porção constante (CL); as cadeias pesadas também têm uma porção variável (VH) e uma constante, (CH). Como o nome sugere, a porção constante é feita da mesma estrutura primária nas imunoglobulinas do mesmo tipo e subclasse. A porção constante está envolvida nas atividades biológicas das imunoglobulinas. Ex: CH2 da IgG e CH4 da IgM estão envolvidas na ligação com o complemento. As porções variáveis (VL e VH) constituem a região de ligação ao antígeno. Dentro da porção variável existe uma porção hipervariável chamada idiotipo que é única para cada molécula de imunoglobulina. Anticorpos contra esta porção são chamados de anticorpos anti- idiotípicos e ocorrem normalmente durante a resposta imune. Parece que eles geram um sinal para a célula B "desligar" a sua produção de anticorpos. Quando uma molécula de imunoglobulina é submetida à digestão por papaína (que age na região entre CH1 e CH2 conhecida como dobradiça), resultam 2 fragmentos: o Fab (a = antigen, b = binding) e o Fc (c = crystallizable, mas pode também servir para complemento uma vez que é esta a porção que se liga ao complemento). Figura 1.4 - Estrutura da Imunoglobulina As principais características das imunoglobulinas estão resumidas no quadro 1.1. QUADRO 1.1 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS Isotipo Cadeia pesada Cadeia leve Ativação do complemento clássica alternada IgG 1 2 3 4 e IgG1,2e3 Ig G4 IgM e + - IgA 1 2 e - + IgD e - + IgE e - + As imunoglobulinas G formam aproximadamente 75% das imunoglobulinas totais do soro. As classes de IgG, em número de 4 (IgG1; IgG2; IgG3; IgG4) estão numeradas em ordem decrescente de concentração sérica, sendo a IgG1 encontrada em maior concentração e a IgG4 em menor. Esta imunoglobulina atravessa a barreira placentária e proporciona uma linha importante de defesa contra infecções durante os primeiros meses de vida do recém-nascido. Anticorpos do tipo IgG são ótimos no preparo de células e partículas para ingestão pelos fagócitos, ou seja ,são excelentes opsoninas. A IgG se liga pela porção Fab ao antígeno e pela porção Fc a um receptor especial para Fc de IgG que existe nos fagócitos. A seguir todo o conjunto é engolfado pelo fagócito. 9 A IgG é um anticorpo de resposta secundária, ou seja, quando ocorre uma estimulação antigênica formam-se primeiro anticorpos tipo IgMs (que são os anticorpos de resposta primária) e mais tarde IgGs. A maioria dos subtipos de IgG ativa complemento pela via clássica. A imunoglobulina M circula como um pentâmero, ou seja, como um conjunto de 5 monômeros ligados entre si pela cadeia J. É, como já foi dito anteriormente, um anticorpo de resposta primária, ou seja, é o primeiro anticorpo a aparecer no organismo após uma infecção. É, também, o primeiro anticorpo a ser fabricado pelo recém-nato. A IgM, graças ao fato de ser um pentâmero e portanto, com muitos pontos de ligação com o antígeno, é eficiente nas reações de aglutinação. Além disso, o seu tamanho grande faz com que ela tenha tendência para permanecer no espaço intravascular, e, não consiga atravessar a barreira placentária. Uma das suas principais maneira de agir é através de fixação do complemento, promovendo lise do antígeno. A imunoglobulina A é responsável por 10 a 15% das imunoglobulinas do soro, mas é a principal imunoglobulina das secreções (saliva, lágrima, secreções nasais e gastrintestinais e leite humano). É especialista em se transportar para áreas do corpo inacessíveis às células produtoras de anticorpos. Nas secreções a IgA está em sua forma secretória (sIgA), que é um polímero contendo geralmente dois monômeros, uma peça de junção (cadeia J) e uma glicoproteína chamada de peça secretória. A IgA fixa complemento via alternativa e tem uma ação antiviral importante por prevenir a ligação do vírus com as células epiteliais do aparelho respiratório e gastrointestinal. Ela funciona como uma "cola" grudando os agentes patógenos todos juntos e impedindo a sua penetração no organismo. Existem duas subclasses de IgA. A IgA1 que é a principal IgA do soro e a IgA2 que é a prevalente nas secreções. Esta imunoglobulina é transportada pela placenta para o feto e também secretada pelo leite materno. A imunoglobulina D é encontrada em concentrações bem baixas e junto com a IgM é o maior receptor de antígeno de superfície de linfócito B. A imunoglobulina E também é encontrada em baixas concentrações. Estas Igs têm receptores especiais em mastócitos e basófilos de tal maneira que, quando ocorre a ligação IgE com antígenos, estas células liberam o conteúdo de seus grânulos, que são substâncias que vão promover contratura de musculatura lisa e assim tentar a expulsão de parasitas. Infelizmente, muitas vezes estas IgE reagem com elementos do meio ambiente como, p. ex., pólen, poeira, etc e a consequente liberação de material de mastócitos e basófilos é responsável pelo aparecimento de reações alérgicas. QUADRO 1.2 - PRINCIPAL FUNÇÃO DOS FRAGMENTOS DE IMUNOGLOBULINAS Fab Fc Reconhecimento do antígeno IgG fagocitose IgM lise IgA neutralização IgE expulsão ÓRGÃOS LINFOIDES E CIRCULAÇÃO DOS LINFÓCITOS Antes de continuarmos, vamos rever um pouquinho sobre os locais de formação dos linfócitos e o caminho por eles percorrido. Os orgãos linfoides podem ser divididos em 2 grupos principais: um central (composto pelo timo, medula óssea e um tecido equivalente a bursa, esta última só bem identificada ana- tomicamente em aves) e um periférico (formado pelo baço, linfonodos e tecido linfoide associado à mucosas). Nos órgãos centrais existe maturação das células independentemente do antígeno; já o antígeno é necessário para que a maturação prossiga nos órgãos linfoidesperiféricos. Como já sabemos, o linfócito B inicia o seu processo de maturação na medula óssea 10 ou órgão equivalente a bursa de Fabricius, de onde sai já com certo grau de diferenciação. A seguir, ele adentra a corrente sanguínea e pode fixar residência no baço, linfonodos ou em placas de tecidos linfoides de mucosa (p. ex: placas de PEYER). Se ele não encontrar o seu antígeno, morre. Se o encontrar, já vimos que irá se diferenciar em plasmócitos ou células da memória. Os plasmócitos fabricam anticorpos por certo tempo e depois também morrem. Já as células da memória se acumulam na porção central do folículo onde ficam provisoriamente tempo, e, depois, voltam a recircular, via ducto torácico ou sangue, podendo novamente se fixar em órgãos linfoides secundários. Quando existe um segundo encontro com o antígeno, todo o ciclo se repete. Caso isto não ocorra, elas descansam por um tempo nos tecidos, e, periodicamente, voltam a recircular. Dá para entender que elas estão “patrulhando” o organismo. Já as células T quando saem da medula são muito jovens e entram no timo onde serão amadurecidas. Do timo são carreadas, pela circulação sanguínea, para os órgãos linfoides e tecidos. Da mesma maneira que acontece com o linfócito B, se estas células não encontrarem o antígeno, elas morrem. Se, no entanto, forem estimuladas pelo antígeno, elas se dividem em células efetoras e da memória. Ambas reentram na circulação. A célula efetora vai até o ponto da infecção e morre lutando; a da memória fica alternando períodos de descanso em órgãos linfoides com períodos de recirculação. É interessante saber que, tanto o linfócito T como o B, deixa o vaso sanguíneo para adentrar nos tecidos em um ponto especial. Normalmente as células endoteliais são achatadas e finas, mas existem alguns pontos, em vênulas pós-capilares, com células de endotélio altas, grandes e colunares. É aí que ocorre a passagem dos linfócitos para os tecidos. Linfócitos maduros contêm moléculas de adesão que permitem a ligação com este endotélio especial. Feita a ligação, a célula atravessa o vaso, saindo da circulação sanguínea. Diferentes linfócitos têm diferentes moléculas de adesão o que explica a localização preferencial de um ou outro tipo de linfócito nas diferentes partes dos órgãos e tecidos. Veja o que são moléculas de adesão mais à frente quando tratarmos de processo inflamatório. INTERLEUCINAS, CITOCINAS E QUIMIOCINAS Como já comentado anteriormente interleucinas ou citocinas são substâncias que servem para a comunicação celular. As células interligadas por estes agentes devem ter receptores especiais para a citocina em questão e podem pertencer tanto ao sistema imunológico especifico como inespecífico ou, ainda, serem células que não pertençam ao sistema imunológico. Quimiocinas, como o nome sugere, atuam como elementos quimiotáticos sendo responsável pela movimentação celular. Estas substâncias têm se tornado alvos importantes no tratamento das doenças reumáticas e existem fármacos que conseguem inibí-las ou ocupar o seu receptor. Por isso, embora pareça meio chato, é necessário que você guarde as principais. O grupo mais importante das citocinas pró-inflamatórias é a tríade IL-1, IL-6 e TNFα e essas três podem ser bem inflamatórias quando estão sozinhas... Imagine só quando se juntam... Aqui vão as principais citocinas: Interleucina-1 (IL-1): É responsável pela indução da saída de neutrófilos da medula óssea, e, uma vez que eles estejam circulando, promove a sua marginalização e entrada nos tecidos. É, portanto, uma das grandes atrizes do processo inflamatório. Em músculo, promove liberação de prostaglandinas, estimula proteólise e liberação de aminoácidos o que, a longo prazo, resulta em perda de massa muscular. Em sistema nervoso central promove sonolência, anorexia e pode agir como pirógeno. 11 Linfócitos T e B também sofrem ação da IL-1. Neles esta linfocina induz diferenciação e proliferação, aumenta produção de IL-2, atividade de célula T citotóxica e da natural killer. A ação da IL-1 está na dependência de sua ligação com receptores específicos. Existe, também, um receptor “falso” para a IL-1, ou seja, um receptor que se liga com a sua molécula, mas não passa a informação para a frente, funcionando como um bloqueador. (Faz inibição competitiva.) Este tipo de receptor é chamado de antagonista de receptor de IL-1 (IL-1-Ra). Existe, na farmacologia aplicada à reumatologia inibidores da IL-1, como é o caso do anakinra, um medicamento utilizado, por exemplo, para tratamento da artrite idiopática juvenil. Interleucina-6 (IL-6): Age em estádios finais de diferenciação de célula B e induz a formação de reagentes de fase aguda pelos hepatócitos erguendo as provas de atividade inflamatória como VHS e proteína C reativa. Ativa proliferação de célula B e T, síntese de imunoglobulina e medeia alguns dos efeitos da IL-1. A inibição da IL-6 é usada no tratamento da artrite reumatoide do adulto e é feita através do tocilizumabe. Fator tumoral de necrose (TNF): é um grupo de substâncias produzidas principalmente por macrófagos ativados e que promove uma necrose hemorrágica em células tumorais (daí o seu nome). É ela o elemento responsável direta ou indiretamente (através de liberação de IL-1) pela febre, recrutamento e ativação dos neutrófilos e monócitos em infecções. O TNF α também é essencial para a formação de granulomas como os que atuam na defesa contra as micobactérias. Junto com IL-6 atua no fígado levando à formação dos reagentes de fase aguda. Produção prolongada de TNF α causa perda de massa muscular e de tecido adiposo ocasionado a caquexia. Em casos de sepsis por bactérias gram negativas existe produção maciça de TNFα que é o responsável por alguns dos achados do choque séptico. O bloqueio do TNF α foi pioneiro na terapia biológica e existe um grande numero de fármacos que atuam nessa inibição tais como infliximabe, etanercepte, adalimumabe etc... Interleucina 10: Tem atividade anti-inflamatória porque inibe macrófagos e células dendriticas ativadas. Interlecina 4: Estimula a formação de IgE e suprime reações que dependem de macrófagos. Transforming Growth Factor β (TGF-β): Inibe a proliferação e ativação de linfócitos e outros leucócitos. Interferons (INF) tipo I: Os principais são os INF α e INFβ. O nome interferon vem da capacidade que estas substâncias têm de interferir na infecção viral que é a sua principal finalidade. Interferon tipo II: É o INF γ. Ativa macrófagos aumentando a sua capacidade microbicida; atua na troca de fabricação de tipo de imunoglobulinas pelo linfócito B e diferencia células T em Th1 . Interleucina 2: É elaborada pelo linfócito T e é um grande fator de para o seu próprio crescimento respondendo pela sua expansão clonal após o reconhecimento do antígeno Interleucina 17: Tem atuação pró-inflamatória e está associada a processos alérgicos. Induz a formação de IL-6, GM-CSF, IL-1β, TGF-β, TNF-α, quimiocinas e prostaglandinas. 12 Existe um grande número de outras citocinas que não serão abordadas aqui, porque isto escapa ao intuito desta revisão. Para guardar o principal veja que IL-1 IL-6 e TNFα são pró- inflamatórias e que a IL-10, IL-4 e TGFβ tem atividade anti-inflamatória. Quando uma citocina se liga ao seu receptor que está na membrana da célula, ela tem que mandar a mensagem lá para dentro da célula para que, de uma forma ou outra, chegue ao núcleo e o DNA “tome as devidas providências” para cumprir a ordem da citocina. Para isso ela vai precisar de “mensageiros” que travessem o citoplasma e cheguem ao núcleo. Por que saber isso? Porque existem alguns medicamentos que podem inibir alguns esses mensageiros e assim anular a ordem da citocina. Um desses intermediários é um sistema de enzimas chamado de JANUS kinases (ou JAKs - para os mais íntimos). Outro grupo é o dos STATs (Systems Transducers and Activators of Transcription).Os sistemas JAK/STATs podem ser usados por mais do que uma citocina. Assim é possível, inibindo só um deles, impedir a atuação de várias citocinas ao mesmo tempo. Um aparte curioso: o nome Janus das nossas amigas JAKs vem do deus romano JANUS que deu origem ao nome do mês de janeiro e que era o deus das portas (das entradas, saídas e das transições). Ele era representado por uma figura masculina com duas faces: cada uma olhando para lado... A “nossa” JAK faz uma transição entre a ordem da citocina que se ligou ao receptor e as reações enzimáticas que vão parar lá no núcleo. O SISTEMA DO COMPLEMENTO Microbiologistas descobriram no final do século 19 que existiam algumas substâncias que deveriam estar presentes no soro de um ser vivo para que os elementos estranhos pudessem ser efetivamente combatidos. Uma delas - que era estável ao calor - foi chamada de complemento porque complementava a ação bactericida do anticorpo. Descobriu-se, depois, que o complemento não era uma substância única e, sim, um verdadeiro time, com pelo menos 20 componentes. Normalmente estes componentes estão na forma inativa, mas, a um sinal específico, o primeiro componente do time se ativa e começa todo o processo, o qual, segundo um imunologista tem um comportamento muito parecido com o de corridas de bastão. Uma vez ativado o primeiro componente, este vai até o segundo e "passa o bastão". Este segundo componente se ativa e corre até o terceiro "passando-lhe o bastão" e assim por diante. O último membro do time termina a corrida fazendo um buraco na membrana da célula invasora através da formação do complexo de ataque à membrana. Como, de maneira gráfica, a ativação do complemento se assemelha a pequenas quedas de água, vê-se por aí, o sistema todo sendo chamado de cascata do complemento. A função do complemento não é apenas lizar a célula cavando buracos na sua membrana. Ele também contribui de outras maneiras para a eliminação do elemento indesejável. Alguns dos seus componentes se ligam à partícula em questão tornando-a presa fácil para o macrófago, ou seja, servindo como opsonina. Outros componentes funcionam como quimiotáticos, ou seja, atraem fagócitos para o ponto de inflamação. Uma corrida pode ser iniciada de várias maneiras: com um tiro, uma batida de palmas ou um comando verbal. Da mesma maneira, a cascata do complemento pode ser ativada por vários tipos de substâncias. Estas substâncias ativadoras podem ser agrupadas em três classes principais, que seguem, no início, três caminhos diferentes entre si, mas que acabam por desembocar em uma via comum e chegar ao mesmo resultado final. Assim, existem elementos que ativam o complemento VIA CLÁSSICA, um segundo grupo que ativa pela VIA DA MANOSE LECTINA e um terceiro grupo que ativa o complemento pela VIA ALTERNATIVA. Para entender o que vai acontecer na ativação do complemento, preste atenção na nomenclatura utilizada: (A)- precursores inativos das moléculas são designados por números 13 que se seguem à letra C (C=complemento). Ex: C1, C2 etc.; (B)- componentes ativados do complemento são designados por uma barra sobre o símbolo do componente. Ex: C1 etc.; (C)- fragmentos do complemento resultantes da quebra enzimática são designados por letras minúsculas seguindo o nome da fração do complemento. Ex. C4a, C3b etc. Como já foi afirmado anteriormente são três as vias iniciais de ativação do complemento, as quais desembocam numa via comum, também chamadas de sequência de ataque terminal. Veja a figura 1.5. Figura 1.5- Vista geral das vias do complemento A via clássica é assim chamada por ser a primeira a ser descoberta. É uma via de ativação rápida, eficiente e mais moderna do ponto de vista evolutivo; a via alternativa é uma via filogeneticamente mais primitiva, mais lenta e menos eficiente. Entretanto, a via clássica para que seja ativada está na dependência de formação de anticorpos específicos, o que, naturalmente, leva certo tempo para acontecer. A via alternativa, ao contrário, consegue se ativar espontaneamente, não dependendo destes anticorpos, mantendo sempre um ritmo basal, meio baixo de ativação. A velocidade de funcionamento desta via alternativa aumenta quando os anticorpos aparecem. Já a via da manose-lectina é uma via muito parecida com clássica só diferindo desta nos momentos iniciais, por não depender da formação de anticorpos. Assim, frente a uma infecção, a via alternativa e a via do receptor da manose- lectina são as primeiras a intervir na defesa, o que não acontece com a via clássica, a qual só será funcionante após o organismo fabricar os anticorpos específicos. Os elementos capazes de ativar cada uma dessas vias são diferentes. A via clássica é ativada por complexos imunes contendo IgG1, IgG2, IgG3 e IgM e também por diversas substâncias químicas como proteína C reativa, DNA e enzimas semelhantes à tripsina. A via alternativa é ativada por complexos imunes contendo IgG4, IgA, IgE, certos polissacarídeos como endotoxinas bacterianas e cápsulas de fungos, membranas de diálise, veneno de cobra e contrastes endovenosos usados para estudos radiológicos. A via da manose-lectina é ativada por certos antígenos que têm moléculas com resíduos de manose e outros açúcares que seguem uma determinada orientação espacial e são encontrados em vários micro-organismos. Todas as vias convergem para a ativação do componente C3, que é onde se inicia a via terminal ou comum. Eventualmente a via comum ou terminal pode ser ativada diretamente por certas enzimas que não fazem parte do complemento, sem a participação das vias iniciais de ativação. ATIVAÇÃO DA VIA CLÁSSICA - A vista clássica compõe-se de reações sequenciais envolvendo C1, C2, C4 e C3. O primeiro passo é a ativação de C1. C1 é uma molécula muito grande 14 composta por 3 frações: C1q, C1r, C1s, ligadas entre si por pontes dependentes de cálcio. É a fração C1q que possui um receptor para se ligar as imunoglobulinas IgG e IgM e, quando ocorre esta ligação inicia-se o processo de ativação desta via. Após a ativação da fração C1q, esta se liga a C1r e adquire capacidade de clivar a C1s. A ativação de C1s leva à próxima reação que é a formação de C4b2a.C4b2a é uma enzima proteolítica que assume o papel de continuar a reação em cascata do complemento e, nesta fase os primeiros elementos já não são necessários para que o processo continue. C4b2a também é chamada de C3 convertase e faz a clivagem do próximo componente que é C3, um elemento da via comum. ATIVAÇAO DA VIA DO RECEPTOR DE MANOSE-LECTINA - Esta via difere da via clássica porque não usa a ligação com o C1. Quem começa o processo é a ligação do receptor de manose- lectina com resíduos de manose existentes na parede de certos micro-organismos como enterobactérias. Esta ligação forma duas enzimas que são a MASP-1 e a MASP-2 que ativam C 4 e C2, passando a partir dai a seguir o mesmo caminho da via clássica. A B Figura 1.6 - Ativação de vias clássica e da manose ATIVAÇÃO DA VIA ALTERNATIVA- Quatro elementos participam da formação da convertase da via alternativa. O fator D é homólogo ao C1s da via clássica, o C3 equivale ao C4 e o fator B ao C2. Uma proteína extra, a properdina (P) serve para estabilizar o complexo C3 convertase, que é o C3bBb, o qual equivale ao C4b2a em sua capacidade de iniciar a sequência terminal. Embutida dentro da via alternativa existe uma via de amplificação do sistema. O C3b é um produto de clivagem da reação catalisada por C3bBb e é capaz de formar um complexo com o fator B e torná-lo suscetível à clivagem por fator D e formando C3bBb adicional. ATIVAÇÃO DA SEQUÊNCIA TERMINAL OU VIA COMUM - Leva à formação do complexo C5b- 9, também chamado de complexo de ataque à membrana. O complexo de ataque à membrana é uma estrutura que se insere através das duas camadas lipoídicas da membrana celular da célula-alvo formando verdadeiros canais que permitem a passagem desenfreadade íons e água com embebimento da célula em água a qual incha até se romper. Ou seja, funciona como um sabão. A ativação terminal ocorre segundo o esquema da figura 1.6B. A ativação do complemento fica confinada a superfície no qual esta se inicia. 15 A B Figura 1.7 – Complemento: (A) ativação da via alternativa; (c) via final. FRAGMENTOS DE COMPLEMENTO - Além do complexo de ataque à membrana que é o produto principal e final da ativação do complemento, vários outros fragmentos formados durante a cascata de ativação têm atividade biológica. Veja, no quadro 1.3, os principais. QUADRO 1.3 - FUNÇÃO DOS PRINCIPAIS FRAGMENTOS DO COMPLEMENTO C3bBb:-quimiotático para polimorfo nucleares e macrófagos; C3a:- anafilatoxina, libera histamina dos mastócitos; C3b:- funciona como opsonina, ou seja, favorece a aderência do complexo-imune, o qual é um prelúdio à fagocitose. Além disso, várias células (eritrócitos, PMNs, e linfócitos) contêm receptores para este fragmento. Estes receptores ajudam no transporte do complexo imune até órgãos do SRE onde serão metabolizados. Na verdade, eles funcionam como verdadeiros ganchos para o complexo imune que assim se liga às células circulantes e vai de "carona" até órgãos do SRE. O número destes receptores é altamente variável na população e significativamente reduzido em pacientes com lúpus; C5a:- anafilatoxina, libera histamina dos mastócitos, quimiotático para polimorfo nucleares e monócitos. Aumenta a produção de moléculas de adesão. MECANISMOS DE CONTROLE DO SISTEMA DO COMPLEMENTO - A ativação não controlada do sistema imune é prevenida pela labilidade dos sítios ativados, e, pela dissociação da C3 convertase dependente de tempo e temperatura. Existem também algumas proteínas séricas que servem para modular e limitar esta ativação, tais como: 1. C1 inibidor: inibe a atividade de C1 por se ligar a C1r e C1s; 2. fator I: ataca C3b; 3. fator H: age na C3b acelerando a formação do fator I. DOSAGEM DO COMPLEMENTO - Medir o complemento pode ser útil no diagnóstico e avaliação do grau de atividade de uma doença assim como, da resposta ao tratamento. O resultado da dosagem do complemento reflete o balanço entre o complemento sintetizado e aquilo que é consumido. Deve-se lembrar que, no entanto, em certas condições inflamatórias, frações do complemento têm comportamento de reagentes de fase aguda, podendo, antes de se iniciar o consumo, ter um nível aumentado. Com isto o valor final após o consumo simplesmente "cai para um valor normal", podendo dar uma impressão falsa, de que não existe consumo. Além disso, situações de síntese diminuída, como é a desnutrição severa e a 16 insuficiência hepática (porque é lá que são fabricados os componentes do complemento), promovem um valor final baixo, sem que exista consumo. No quadro 1.4, algumas das situações associadas com o achado de uma dosagem diminuida de complemento. QUADRO 1.4 - CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DO NÍVEL SÉRICO DO COMPLEMENTO HIPOSSÍNTESE: deficiências congênitas, insuficiência hepática,desnutrição HIPERCATABOLISMO: deficiência de proteínas controles: Ex: deficiências de C1 inibidor; doenças reumáticas com depósito de complexo-imune : LES, vasculites AR. doenças infecciosas: endocardite, hepatite B, sepsis etc doenças renais: Ex: glomerulonefrites pós-estreptocócica, membrano-proliferativa e proliferativa idiopática. Outro aspecto a ser lembrado é a alta frequência de deficiências congênitas de síntese do complemento, as quais podem ser causa de uma dosagem sérica baixa. Algumas pessoas com defeito de complemento são normais; outras têm, no entanto, maior incidência de certas doenças como, por exemplo, o lúpus. Veja alguns exemplos no quadro 1.5. Note como as deficiências dos componentes iniciais se associam com doenças reumáticas; as demais com doenças infecciosas. QUADRO 1.5 - DEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS DO COMPLEMENTO E SÍNDROMES ASSOCIADAS C1q:- glomerulonefrite, poiquiloderma congênito C1r:- glomerulonefrite, lúpus-like C1s:- lúpus like C4:- LES, e síndrome de Sjögren C2:- LES, lúpus discóide, Hodgkin e glomerulonefrites C3:- lúpus-like e glomerulonefrites C5:- LES, infecções por Neisseria C6:- Infecções por Neisseria C7:- LES, AR e infecções por Neisseria C8:- LES, infecções por Neisseria C9:- infecção por Neisseria Embora os defeitos homozigóticos sejam relativamente raros, os defeitos heterozigóticos são relativamente comuns. Com exceção da properdina, que é regulada por gene ligado ao cromossoma X, todas as outras proteínas do complemento são herdadas através de genes autossômicos dominantes. Genes que controlam C2, C4 e fator B estão no cromossoma 6. Quando se pretende avaliar a atividade de uma doença através daquilo que ela está consumindo de complemento, pode-se proceder à medida do complemento hemolítico total (CH50) ou dos componentes individuais (os mais usados são C3 e C4). A dosagem do complemento hemolítico total representa o resultado da atividade de todos os componentes do sistema, atuando de maneira encadeada, sem especificar se o processo começou via clássica ou via alternativa. A dosagem de C3 também está diminuída em casos de ativação de ambos os braços do complemento, visto que este elemento se situa na via comum. Já o C4, só estará diminuído em casos de ativação da via clássica e da do receptor de manose-lectina. Repetindo: uma diminuição de C3, C4 e CH50 indica que está existindo consumo do complemento via clássica (Ex: LES); uma diminuição de C3 e CH50 com C4 normal indica que este consumo ocorre em via alternada (Ex: glomerulonefrite, choque endotóxico). Uma medida de atividade CH50 de zero aponta para deficiência hereditária de um dos 17 componentes, o que interrompe a sequência dos eventos totalmente, impedindo que se forme o complexo de ataque à membrana. SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECÍFICO. Bem, já analisamos a parte mais sofisticada do sistema imune que é privilégio dos animais mais evoluídos. Só que, enquanto ela não age com toda a sua potência, o organismo fica na dependência de uma defesa não específica, que nem por isso é menos importante e espetacular em sua maneira de ação. Além disso, os componentes do sistema não específico interagem com o específico e funcionam também na limpeza do campo após o final da batalha... Os principais componentes do sistema imunológico não específico no homem são fagocitose, febre, resposta inflamatória e formação dos reagentes de fase aguda. De todos eles, vamos analisar a fagocitose e a resposta inflamatória, que são os dois elementos que mais nos interessam. A FAGOCITOSE- Existem células no corpo humano que circulam no sangue e outros fluidos do corpo e que migram para áreas onde existam elementos estranhos, com a finalidade de atacar o intruso. Nesta luta a célula lança mão de várias armas, mas a principal delas é engolir o seu inimigo. Por isto elas células são chamadas de fagócitos, ou seja, "células que comem". Muitas células de nosso corpo são capazes de englobar pequenas partículas líquidas ou sólidas (praticam endocitose), mas só os fagócitos conseguem ingerir partículas maiores (fagocitose verdadeira) porque dispõe de métodos especiais para isto. Os monócitos são fagócitos que se originam na medula óssea e têm uma meia vida circulante de 1 a 3 dias. Quando os monócitos migram para o espaço extracelular eles passam a se chamar de macrófagos, podendo ter nomes especiais conforme o local em que se encontrem, como por exemplo: células de Küpffer no fígado, micróglia no SNC, macrófagos alveolares no pulmão, etc... Existe um conceito por aí, de que os macrófagos são os maiores "comilões" do organismo, o que não é verdadeiro. Embora eles estejam sempre a postos e por isto são as primeiras células a se ver frente a frente com o inimigo (acabando, por isso, por ingerí-lo), matá-lo por digestão intracelular não é o seu forte.Seu principal papel parece ser o de sentinela, avisando da presença do inimigo, e, através da secreção de substâncias, atraindo outros fagócitos mais eficientes. Durante os períodos de paz estas células servem para ingerir restos celulares e partículas inertes numa verdadeira operação de limpeza. O grande fagócito do organismo é o neutrófilo, o qual dispõe de métodos altamente sofisticados para a digestão de antígenos. O único problema é que ele é "meio ceguinho", ou seja, tem pouca habilidade intrínseca para distinguir o que é um antígeno daquilo que é próprio do organismo e, para a seleção do seu alvo, está na dependência de outros elementos do sistema imune. Se a identificação for inapropriada, a ação destrutiva dos neutrófilos pode se fazer contra elementos do próprio organismo. Os eosinófilos são também bons fagócitos e seus pratos preferidos são invasores de grande porte como os parasitas. Os basófilos provavelmente não têm muita importância na fagocitose. Quando um fagócito não está envolvido com invasores ou com a limpeza dos próprios restos celulares diz-se que ele está em estado de repouso andando para lá e para cá, com seu metabolismo em nível basal. Para que ele comece a funcionar deve passar para um estado ativado, o que acontece quando ele recebe estímulos, via receptores de membrana citoplasmática, que transmitem sinais de ativação para citoplasma e núcleo. Só os eosinófilos parecem estar sempre num estado de agitação crônica. Eles têm um nível basal de resposta que os outros fagócitos não têm, só que, quando recebem sinal de ativação, não conseguem ficar tão ativados quanto os outros. 18 Está servida a refeição ... Houve um imunologista que disse que “os fagócitos não engolem os micróbios a menos que alguém passe manteiga neles”. Ora, a manteiga nada mais é do que a opsonina, uma substância que, como já vimos anteriormente, facilita a fagocitose. Existem 3 tipos de opsoninas: 1. - os anticorpos IgG (porção Fc); 2. - a fração C3b do componente C3 do complemento; 3. - certos carboidratos e proteínas que se ligam a carboidratos como, por exemplo, manose, fucose e resíduos de glicoproteínas. O fagócito dispõe de receptores para a porção Fc da IgG e para o complemento (CR). O terceiro grupo de opsoninas se liga à superfície do fagócito por reações químicas com oligossacarí-deos da membrana citoplasmática. Agora pare e pense bem ... Não é um paradoxo que, um sistema imune não antecipatório que, supostamente tem que dar conta do inimigo já nos primeiros estágios de infecção, dependa da formação de um anticorpo para funcionar como opsonina, o qual, por sua vez, é um elemento do sistema antecipatório? A melhor explicação para isto é a de que o fagócito se utiliza de um mecanismo alternativo a opsonização, além de ser capaz de fagocitar bactérias não opsonizadas. As bactérias sem cápsula são passíveis de fagocitose sem opsonização porque têm uma superfície hidrofóbica que permite um contato direto com a membrana do fagócito. Já as capsuladas são altamente hidrofílicas e repelem os fagócitos que se aproximam. Aliás, foi exatamente para se livrar dos fagócitos que estas bactérias desenvolveram cápsulas... O mecanismo alternativo à opsonização seria aproximação entre fagócito e bactérias via interação de lecitina e oligossacarídeos. Outras possibilidades são a fagocitose de bactérias opsonizadas por complemento ativado via alternativa e, finalmente, opsonização com anticorpos já existentes que porventura reajam com alguns dos componentes existentes nas bactérias em questão, em geral elaborados pelas células B1. A fase da digestão... Depois que a partícula se fixa na membrana do fagócito ela é engolfada formando uma vesícula, o fagossomo, que nada mais é do que uma bolsa formada ao redor do elemento estranho, às custas de membrana citoplasmática. O citoplasma dos fagócitos está repleto de pequenos vacúolos que estão cheios de enzimas. Esses vacúolos se chamam grânulos nos neutrófilos e lisossomos nos macrófagos; a principal diferença entre elas está no seu conteúdo enzimático. Os grânulos e os lisossomos estão se movendo livremente e sem direção definida dentro da célula. Assim que o vacúolo fagocítico começa a se formar estes grânulos colidem com o fagossomo e se aderem a ele despejando todo o seu conteúdo (e formando um fagolisossomo). De verdade, o esvaziamento do conteúdo enzimático para dentro do fagossomo começa quando ele ainda não se fechou completamente e pode existir escape de enzimas para o meio extracelular, naturalmente, com todo o potencial de lesão do mesmo. Uma das consequências da degranulação é a acidificação do fagossomo, a qual facilita a morte do organismo ingerido. Além da bactéria não conseguir sobreviver em meio ácido, muitas das enzimas funcionam melhor neste meio. O que fazer com as sobras... Sempre que o fagócito destrói o elemento invasor aproveita muito da sua matéria prima, como por exemplo, aminoácidos, açúcares e nucleotídeos, os quais são reutilizados no metabolismo da célula. O problema é com os restinhos indigeríveis. Para eles, o fagócito tem 3 opções possíveis, que são: a defecação, a indigestão ou a morte. Se ele optar pela primeira possibilidade, irá despejar no meio extracelular não só os restos indesejáveis como também muitas enzimas potencialmente danosas. A segunda alternativa leva o fagócito a estocar material indigerível dentro dos lisossomos, os quais se fundem e formam uma grande vesícula cheia de lixo. Optando por esta possibilidade o fagócito fica 19 "cronicamente constipado" e isto também não é bom para o organismo. Na última opção, o fagócito acumula o material indesejável em tantos quantos vacúolos ele conseguir e, após isto, ele morre. O "cadáver" é expelido do corpo na forma de secreções purulentas etc... Esta última forma de opção parece ser a mais adequada e a mais frequente. Quando uma célula exerce a fagocitose, segue-se um pico de consumo de oxigênio por esta célula. Este consumo de oxigênio não tem nada a ver com o processo respiratório o qual é executado pelas mitocôndrias. Na realidade, ele depende de um conjunto de enzimas - o complexo NADPH oxidase, que existe na membrana da célula (e também na membrana do fagossomo, a qual é a própria membrana da célula invaginada). A finalidade deste conjunto de reações é converter oxigênio molecular em ânion superóxido, peróxidos, oxigênio singlet e radicais hidroxilas. Destes, os 3 primeiros representam radicais de oxigênio livre; o radical hidroxila não é um radical de oxigênio livre mas também é altamente reativo. Devido a este alto grau de reatividade, estas substâncias são altamente tóxicas, atacando as partículas que são ingeridas. O ânion superóxido, por ser uma substância altamente instável, não tem tempo de participar deste ataque, mas se transforma em outros radicais de oxigênio livre que serão os elementos ativos. O peróxido de hidrogênio é um agente germicida bem conhecido e sua atividade aumenta ainda mais quando reage com agentes halogenados. Da interação com cloretos, por exemplo, resulta a formação do ácido hipocloroso que é, também, agente bactericida. Ao contrário dos elementos oxidantes, os quais têm vida curta e são incapazes de selecionar seu alvo, as enzimas proteolíticas contidas nos grânulos permanecem ativas por um longo período de tempo e se dirigem para um substrato selecionado, podendo catalisar uma mesma reação diversas vezes. Os grânulos dos neutrófilos contem um grande número de enzimas, porém 3 delas nos interessam de perto pelo grande potencial de destruição tissular: a elastase e duas metaloproteinases (a colagenase e a gelatinase). Não deixa de ser interessante notar o fato de que enzimas como colagenases e gelatinases são liberadas como pró-enzimas (inativas) e necessitam de exposição aos radicais de oxigênio livre para a sua ativação. Os grânulos dos eosinófilos têm várias enzimas com propriedades anti-inflamatóriascomo histaminase, arilsulfatase e fosfolipase D e, por isso estas células parecem desempenhar um fator regulador no término do processo inflamatório. Quanto aos basófilos, as suas funções não são bem compreendidas. Acredita-se que mediadores liberados pelos basófilos aumentem a permeabilidade vascular e assim melhore a entrega de outros elementos da resposta imune. Os basófilos têm em sua superfície receptores para IgE, C3a e C5a. A ligação de receptores para IgE com a imunoglobulina e a ligação desta com o antígeno pode levar a liberação de seus grânulos que são ricos em histamina, proteases neutras e mediadores da resposta de hipersensibilidade imediata (anafilaxia). A NETOSE – Embora a função mais conhecida de um neutrófilo seja a de eliminar o elemento estranho por digestão enzimática, descobriu-se recentemente que estas células são, na verdade, muito mais sofisticadas do que parecem à primeira vista. Uma dessas descobertas mostra que o neutrófilo é capaz de eliminar microorganismos, formando uma rede com a sua própria cromatina (DNA + histona) misturada com suas enzimas lisossômicas. A cromatina pode se originar do seu núcleo ou das mitocôndrias. Esta rede tem um aspecto de “teia de aranha” na qual os microorganismos ficam presos e são eliminados. Isto acontece mais comumente com um tipo de neutrófilo menorzinho chamado de neutrófilo de baixa densidade. Nesta brincadeira o PMN pode ou não morrer. A exposição do material intranuclear e das enzimas lisossômicas ao meio extracelular - que é um material que mormalmente fica escondido dentro da célula - pode parecer “novidade“ ao sistema imune e despertar autoimunidade. Pacientes com lúpus parecem ser mais propendos a ter PMNs que façam netose. 20 Figura 1.8 - Mecanismo esquemático da netose O PROCESSO INFLAMATÓRIO - Os sinais clássicos da inflamação, calor, rubor, dor e tumor já são conhecidos de longa data tendo sido descritos por Celsus no século I A.D. Inicialmente considerada um fenômeno deletério, à medida que os conhecimentos sobre a sua fisiopatologia foram elucidados, passou a significar defesa contra agentes infecciosos. É bem verdade que, em certas situações, a resposta inflamatória é de tal magnitude que o organismo bem que passaria melhor sem ela... Situações em que existe doença por causa de um funcionamento inadequado do processo inflamatório são chamadas de autoinflamatórias. Todo o processo de inflamação começa quando um macrófago encontra um elemento estranho... Células dendriticas ou macrófagos são células que ficam rondando os tecidos exatamente para isso. Para cuidar que nenhum elemento invasor entre. Ele se comporta de uma maneira muito parecida com a de um cachorro tomando conta do terreno baldio. O que acontece quando um ladrão entra? O cachorro late e assim atrai a atenção de outras pessoas para ajudá-lo ou, ainda, morde o ladrão. Pois bem, é o que macrófago faz. Ele “late” citocinas chamando o processo inflamatório e morde o ladrão para transformá-lo em epítopes antigênicos que serão apresentados ao linfócito T junto com o HLA. Bem, este segundo pedaço nós já vimos com a atuação do sistema imunológico específico. Vamos ver, portanto, o primeiro: o processo inflamatório. Mas, antes disso, uma pergunta. Como o macrófago sabe que o ladrão é um ladrão? Ou seja, como ele reconhece que o elemento é um invasor e o distingue das próprias células do organismo? Porque ele tem receptores para isso. Os mais conhecidos são chamados de receptores Toll like que reconhecem estruturas que são muito comuns nos micro-organismos chamadas de PAMPs (Padrão Molecular Associado a Patógeno). Os Toll like não são os únicos receptores, mas são os mais reconhecidos e por isso vamos nos concentrar neles. Existem receptores Toll like que ficam na superfície do macrófago: alguns reconhecem lipopolissacarideos de bactérias gram negativas, outros reconhecem flagelina etc... vejam que não interessa quem tem essa molécula. O receptor simplemente reconhece a molécula e ...pronto! Sem mais perguntas. Por isso que este mecanismo está nos sistema inespecífico. Entretanto existem micro-organismos que entram na célula e que tem que ser reconhecidos como estranhos lá mesmo, dentro dela. É o caso dos vírus. Então existem receptores Toll like que são intracelulares e que reconhecem DNA e RNA viral. São os receptores 3,7,8 e 9. 21 Uma vez reconhecido o elemento estranho o macrofago fabrica citocinas como IL-1. IL-6 e TNF-α. A IL-1 e TNF-α chegam ao vaso mais próximo e desencadeiam o processo inflamatório. Num período inicial, logo após o estímulo pelas citocinas ocorre uma vasoconstrição transitória seguida de uma vasodilatação. A vasodilatação, em uma primeira fase, promove transudação de líquido de baixo teor proteico. À medida que o processo progride, formam-se espaços entre as células endoteliais resultando numa exsudação de macromoléculas para fora do vaso. Esta perda de plasma acarreta num aumento de viscosidade sanguínea local e estase dos eritrócitos. Nesta fase, leucócitos aderem ao endotélio vascular, em um processo chamado de marginalização, e se espremem, passando através dos espaços entre as células endoteliais e membrana basal, indo ganhar o espaço extracelular, onde está o inimigo. Recentemente as questões da marginalização e da diapedese das células para fora do vaso têm recebido considerável atenção. É que se descobriu um grupo de substâncias responsáveis por este processo. Assim sendo, pode-se pensar no que fazer para impedir que ele aconteça e, assim, inibir a inflamação. Vamos parar um pouquinho para tentar entender o que acontece aqui. Quando o leucócito vem “rolando” dentro do vaso e chega num local onde ele deve passar para fora do mesmo, as células daquele lugar (leucócitos, plaquetas e células endoteliais) passam a expressar um grupo de moléculas chamadas de moléculas de adesão. As primeiras delas são as seletinas. Este grupo de moléculas é suficiente para desacelerar o fluxo dos leucócitos, mas não é suficiente para imobilizá-los completamente. É como quando alguém lança um anzol; o peixe fisgado não consegue ir longe, mas também não sai pulando para fora d’água. Pois bem... quem vai puxar o peixe para fora da água, ou melhor, segurar o leucócito e permitir que ele penetre dentro do vaso para sair do lado de lá, são outras moléculas, as integrinas e as pertencentes à superfamília das imunoglobulinas. São estas moléculas que medeiam a fase definitiva da adesão para que ocorra o extravasamento dos leucócitos para os sítios de inflamação. As integrinas se localizam no lado do leucócito e as moléculas da superfamilia das imunoglobulinas se localizam no endotélio vascular. É interessante notar que, embora tenhamos falado das moléculas de adesão no processo inflamatório elas também atuam em outras células como, por exemplo, os linfócitos auxiliando-os a se localizarem nos pontos corretos. Além disso, desempenham um papel muito importante na coagulação sanguínea, na embriogênese, na osteoporose (agindo como elementos de ligação entre os osteoclastos e o a superfície do osso), em câncer, e, naturalmente, em muitas doenças infecciosas dentre outros. Figura 1.9 Processo inflamatório 22 Voltando ao processo inflamatório, os fagócitos que saíram do lado de lá do vaso e chegaram aos pontos de inflamação, engolfam partículas estranhas, bactérias, restos celulares e cristais. A fagocitose, como já foi visto, leva a uma eliminação dos elementos indesejáveis, mas o processo por vezes leva a um extravasamento de materiais de dentro da célula que provocam mais lesão tecidual ainda. Isto acontece quando o fagócito morre ou quando existe ruptura das membranas dos fagolisossomos dentro da própria célula, (o que não é raro quando o fagócito ingere cristais pontudos, como os de urato, que causam perfuração no sistema vacuolar). Outros mecanismos incluem extrusão de grânulos lisossômicospara o fagossomo que ainda não havia se fechado completamente e a endocitose reversa - que é provocada por uma perturbação na membrana do fagócito que libera seu conteúdo granular. Esta perturbação acontece quando o fagócito encontra complexos imunes ou agregados de imunoglobulinas depositados em superfícies sólidas de tamanho grande demais para serem abocanhados pela célula. Mediadores do processo inflamatório- Mediador é um termo mal definido que serve para designar um grupo heterogêneo de substâncias que, apesar de estarem presentes em concentração muito baixa no organismo, são capazes de provocar respostas marcantes, as quais são muito importantes para a nossa defesa. Eles agem sobre a musculatura lisa (contração ou relaxamento), sobre a parede do vaso (causando aumento ou diminuição da permeabilidade) e na quimiotaxia. Existem vários mediadores inflamatórios. Alguns podem estar prontos e estocados nas células sendo liberados por ocasião da inflamação; outros são fabricados conforme a necessidade. Os principais são: derivados do ácido aracdônico, histamina, serotonina, heparina, bradicinina, fator de ativação plaquetário etc. Aqui, nós vamos nos concentrar nos derivados do ácido aracdônico. Lembra-se de que os fosfolipídeos são os principais constituintes da membrana plasmática, e que eles se compõe de uma "cabeça" polar e de duas "caudas" de ácidos graxos? Pois um desses ácidos graxos é o ácido aracdônico. Quando uma célula sofre uma injúria qualquer ou é estimulada de alguma maneira ocorre liberação deste ácido aracdônico. Se a perturbação da membrana plasmática é do tipo inespecífico (por ex: traumática) existe uma liberação de pequenas quantias de ácido aracdônico. Por outro lado, se o estímulo é específico, determinado pela ocupação de receptores, a liberação é grande. Neste último caso, a liberação do ácido aracdônico é determinada por uma enzima, a fosfolipase. O ácido aracdônico que foi liberado tem vida muito curta. Ele é oxidado imediatamente por várias enzimas, seguindo dois caminhos principais: ou ele se submete à ação da ciclo-oxigenase o que irá dar origem a várias prostaglandinas, prostaciclina e tromboxane; ou ele se submete à ação das lipo-oxigenases, o que irá originar leucotrienos e lipoxinas. Acompanhe a sequência no esquema da figura 1.10. Figura 1.10- Metabolismo do ácido aracdônico 23 As prostaglandinas têm este nome devido à falsa crença de que eram elaboradas na próstata e estocadas na vesícula seminal. O tromboxane (TX) é importante para a agregação plaquetária; a prostaclicina é a prostaglandina PGI2 e tem um efeito oposto ao do tromboxane. As outras PGs têm um efeito biológico variado no aparelho reprodutor feminino, nas secreções gástricas, no controle da pressão arterial e no processo inflamatório. Em altas concentrações agem diretamente nos receptores de dor e no centro hipotalâmico causando febre. Os leucotrienos não contem anéis em sua estrutura. Os leucotrienos C4, D4 e E4 influem na contração de musculatura lisa principalmente da pele e pulmões. Estas substâncias eram chamadas originalmente de SRS-A ou slow-reacting substance of anaphylaxis. O leucotrieno B4 tem um papel importante no processo inflamatório por ser quimiotático. As lipoxinas causam contração de músculos lisos, vasodilatação da microcirculação, quimiotaxia, e inibem a atividade das células natural-killer. Prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxane, leucotrienos e lipoxinas são fabricadas "sob medida" conforme a necessidade. Quando a célula é estimulada a sua síntese começa em 10 a 30 segundos, se mantém pelos próximos 1-5 minutos, e, daí pára. De acordo com o padrão de enzimas existentes no tecido, existe predominância para fabricação de um determinado tipo de prostaglandina, que irá servir para as necessidades específicas daquele tecido. Desta maneira, plaquetas fazem quase só tromboxane, células endoteliais preferem a prostaciclina, células de túbulo renal fazem PGE2 etc... Recentemente descobriu-se que não existe apenas uma ciclo-oxigenase e sim duas delas, que são abreviadamente chamadas de COX-1 e COX-2. A COX-1 é a enzima responsável por fabricar as prostaglandinas necessárias para as funções fisiológicas, ou seja, aquelas prostaglandinas que servem para fabricar o muco do estômago, para manter o fluxo sanguíneo renal, etc... A COX-2 entra em ação quando existe um estímulo inflamatório e as prostaglandinas que ela fabrica são pró-inflamatórias e destinadas a atender o organismo em uma situação de exceção. Voltaremos a comentar este assunto ao tratar dos anti-inflamatórios não hormonais, uma vez esta enzima é um dos seus pontos de ação. Os leucotrienos e lipoxinas são produzidos só por células brancas, o que aliás, já está sugerido pelo seu nome. COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECÍFICO. Os componentes celulares do sistema imunológico inespecífico podem ser dividos em tres grupos principais: (a) células linfoides inatas; (b) células semelhantes à célula B; (c) células T não convencionais. Veja no quadro abaixo a subdivisão estes grupos. QUADRO 1.6 - CÉLULAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECIFICO 1-Grupo das células linfoides inatas Células NK Celula linfoide (CL)-1 Célula linfoide (CL)-2 Célula linfoide (CL)-3 2-Grupo das células semelhantes à célula B Celula B1 Celula B da zona marginal Celula B10 3- Grupo das células T não convencionais Células NKT Células T γδ Celulas MAIT(Mucosal Associated Innate T cell) 24 As celuals NK, lá do primeiro grupo, são muito importantes para defesa contra tumores e células infectadas por vírus. Elas ficam sabendo que estas células não estão normais porque percebem modificações na molécula de histocompatibilidade classe I da superfície das células tumorais ou infectadas. Quando ativadas as células NK liberam grânulos com material citotóxico. Sua ação acontece sem que a célula NK tenha tido contato anterior com o elemento estranho. As célula C1, C2 e C3 são células que “ espelham” a atuação das células Th1, Th2 e Th17 respectivamente. As C1 fazem INF δ, as C2 fazem IL-4,IL-5, Il-9 e IL-13 e as células C3 fazem IL-17e IL 22. Veja na figura abaixo a atuação das células linfoides do sistema inespecífico e a sua respectica “imagem refletida” do sistema imunológico especifico. Figura 1.11 - Atuação das células do sistema imunológico especifico e do inespecifico mostrando uma correspondência em “ espelho” As células semelhantes aos linfócitos B são as células B1, as células B da zona marginal e as as células B10. As duas primeiras: as B1 e da zona marginal elaboram anticorpos do tipo IgM contra antígenos muito comuns na natureza. Elas nascem “ prontas” para fabricar este anticorpos não precisando passar por todo aquele processo do sistema especifico. A célula B10 elabora IL-10 e tem características de uma célula reguladora. As do grupo das células T não variáveis são as NKT, os linfocitos T com receptor γδ e as células MAIT ou linfócitos T associado a mucosa. Os linfócitos MAIT eas NKT têm atividade citotóxica. ANTÍGENOS DE HISTOCOMPATIBILIDADE (HLAs) Quando um indivíduo é transplantado com tecido de outra pessoa, o tecido é destruído pelas células do seu sistema imune porque as células do doador têm, nas suas superfícies, proteínas estranhas, que agem como antígenos. São estas proteínas que determinam quem pode receber transplante de quem... Assim, para que o transplante tenha sucesso é necessário que estes antígenos sejam compatíveis. Por isso eles são chamados de antígenos de histocompatibilidade. Este termo é genérico, usado para várias espécies animais. No caso do homem eles recebem o nome mais "específico" de H.L.A. por terem sido identificados primeiramente nos leucócitos (H=human, L=leucocyte, A= antigen). Embora 25 tenham sido historicamente identificados nos leucócitos, sabe-se que sua distribuição no organismo é muito mais
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