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Reumatologia para estudantes 2018

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REUMATOLOGIA 
BÁSICA 
PARA 
ESTUDANTES 
 
 
 
 Thelma L Skare 
 
 
ANO 2018 
 
 
 
 
Faculdade 
Evangélica do PR 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 Noções básicas de imunologia 1 
2 Noções básicas de anatomia e fisiologia articular 34 
3 Abordagem do paciente com queixas reumatologicas 42 
 Atlas de exame físico em reumatologia 53 
4 Antiinflamatórios não hormonais 68 
5 Glicocorticoides 79 
6 Outros medicamentos em Reumatologia 90 
 6.1Tratamento da dor 104 
 6.2 Acupuntura no tratamento da dor 107 
7 Laboratório em reumatologia 109 
8 Noções de imagens em reumatologia 127 
9 Diagnóstico diferencial de monoartrites 138 
10 Diagnóstico diferencial das poliartrites 140 
11 Artrite reumatoide 144 
 11.1 AR e aterogenese acelerada 166 
 11.2 Síndrome de Felty 166 
12 Lupus eritematoso sistêmico 170 
 12.1 Lupus por droga 193 
 12.2 Lupus e infecção 196 
13 Esclerodermia 198 
 13.1 Fenômeno de Raynaud 216 
 13.2 Fasciite eosinofílica 224 
 12.4 Doença por adjuvante (ASIA) 225 
14 Sìndrome de Sjögren 227 
 14.1 Doença por IgG4 235 
15 Polimiosite e dermatomiosite 236 
16 Doença mista do tecido conjuntivo 248 
17 Sindrome do anticorpo antifosfolipide 251 
18 Gravidez e doenças reumáticas sistemicas 261 
 18.1- drogas antirreumáticas e gravidez 265 
19 Outras vasculites 272 
20 Espondiloartrites conceitos gerais 285 
21 Espondilite anquilosante 291 
22 Artrite Reativa 298 
23 Artrite psoriatica e das doenças inflamatórias intestinais 302 
24 Microcristalinas 307 
25 Sépticas 309 
26 Dor lombar 331 
 26.1- dor lombar e afastamento do trabalho 361 
27 Dor cervical e cervicobraquialgia 363 
28 Reumatismo de Partes moles 374 
29 Fibromialgia 384 
 29.1- dor miofascial 389 
30 OSteoartrite 390 
31 Doenças do metabolismo ósseo 402 
32 Febre reumática 429 
33 Artrite idiopática juvenil 235 
 33.1 Colagenoses na infância 440 
34 Manifestações oftalmológicas das doenças reumáticas 445 
35 Manifestações dermatológicas das doenças reumáticas 457 
1 
 
 
 
Capítulo 1 - Revisão em imunologia 
 
 
No sentido de facilitar o entendimento dos mecanismos envolvidos na patogênese das 
doenças reumáticas, muitos das quais ligados a desordens do sistema imune, é necessário que 
façamos uma revisão sumária do funcionamento deste sistema e das leis gerais que o regulam. 
Não estamos nos propondo, aqui, a esgotar o assunto, nem a rever imunologia em todos os 
seus aspectos. O conteúdo é básico e o mínimo necessário para que você possa acompanhar 
os assuntos descritos mais adiante. 
Imunologia tem fama de assunto aborrecido e difícil... Longe disto! Complexo talvez, 
muitas vezes por culpa do nosso conhecimento parcial da situação, o que nos leva a elaborar 
hipóteses complicadas para explicação do desconhecido. Além disso, temos uma verdadeira 
mania de classificações e de usar nomes sofisticados. Mas, o que ninguém pode negar, é que 
imunologia é fascinante... Prometo ser o mais simples possível. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Para começar, imunologia é um ramo da biologia que se dedica ao estudo das reações 
de defesa que conferem resistência aos elementos patogênicos. 
Todos os organismos vivos são capazes de resistir a elementos patogênicos embora 
nem sempre o façam da mesma maneira. Elementos biologicamente mais simples dispõem de 
sistemas de defesa que também são mais simples. Já os mais complexos, dispõem de 
mecanismos mais sofisticados e mais eficientes, num acompanhamento da evolução de suas 
capacidades. 
O ser humano possui um sistema imunológico que pode ser divido em dois grandes 
grupos: o chamado sistema inespecífico e o específico ou antecipatório. Ser inespecífico é a 
grande vantagem e, também, a grande desvantagem do primeiro grupo. Ele consta de um 
sistema de defesa que já está pronto para enfrentar qualquer tipo de situação de alarme. Não 
interessa quem é o inimigo. Seu ponto forte é a rapidez de início de ação. Todavia, como ele 
não sabe contra quem vai atuar, ele trabalha em linhas gerais... e por isso pode não ser lá tão 
eficiente. É uma “bomba” em cima de região inimiga. Destrói toda e qualquer coisa que 
encontra, podendo, muitas vezes, atacar componentes que não deveriam ser atacados, no 
famoso “fogo amigo”. São vários os componentes do sistema imunológico inespecífico. O 
principal e mais bem estudado é o processo inflamatório, mas, existem, também outros como 
o complemento, as barreiras mecânicas, moléculas circulantes como as pentraxinas e a 
proteína C reativa, etc. 
Já o segundo grupo, o do sistema imunológico especifico é especializado, sofisticado e 
inteligente. Ele faz um reconhecimento de quem é o inimigo e “prepara” um sistema de ataque 
individual e eficiente contra o mesmo. Seus grandes componentes são os linfócitos. 
Entretanto, conhecer o inimigo e preparar uma arma especial contra ele exige recursos e 
tempo e, enquanto o sistema específico não está pronto para entrar em cena, o organismo fica 
na dependência do sistema inespecífico para se defender. Os linfócitos são agentes específicos 
contra um elemento estranho porque dispõe de receptores que só reconhecem um 
determinado tipo de antígeno. A diversidade de produção de receptores é determinada por 
codificação genética. Cada linfócito expressa um único gene e o seu produto, ou seja, um único 
receptor. Todas as células que derivam deste linfócito-mãe expressarão o mesmo receptor da 
célula inicial. Este grupo de células, expressando o mesmo gene e o mesmo receptor é 
chamado de CLONE. Ora, pode se entender que, sendo desta maneira, cada gene terá que ter 
o seu linfócito para se expressar. Assim, a população de linfócitos de um indivíduo mostra-se 
como um verdadeiro mosaico de clones cobrindo todas as possibilidades possíveis de encontro 
2 
 
 
 
com elementos estranhos. Os linfócitos vagueiam pelo organismo em ciclos migratórios 
exibindo seus receptores como verdadeiras armadilhas. Quando ele encontra o antígeno da 
sua vida, ele se divide formando um clone de células iguais para conseguir fazer frente ao 
invasor e, assim, dar conta do inimigo. A replicação leva tempo para acontecer, mas pode ser 
otimizada: num primeiro encontro ela é mais demorada e leva alguns dias para se completar; 
em encontros subsequentes o processo é bem mais rápido. Trocando em miúdos: quando 
alguém é exposto a um antígeno, fica melhor protegido contra exposições futuras. 
Um problema que nos interessa de perto e que será objeto de atenção especial mais 
adiante é o de que as proteínas do próprio corpo podem ser apanhadas nas armadilhas dos 
linfócitos ocasionando o que chamamos de autoimunidade. Este ataque deve ser prevenido a 
todo custo, tornando os linfócitos tolerantes aos componentes do próprio corpo. Os 
mecanismos de tolerância serão discutidos no final deste capítulo. 
 
QUEM É O INIMIGO 
 
Bem... Já vimos que a finalidade do sistema imune é livrar-se de elementos estranhos 
e nocivos ao corpo, que chamaremos a partir de agora, de antígenos. Uma substância para ser 
reconhecida pelo organismo como antígeno deve ser, antes de tudo, estranha. Isto implica em 
que o antígeno pode ser um elemento externo ao organismo, ou, um elemento interno 
alterado, como são as células tumorais e as células infectadas por vírus. No entanto, ser 
estranho, por si só, não é suficiente. Esta substância deve ter também um tamanho molecular 
mínimo (quanto maior, melhor) e ter certa complexidade química. 
Quase todos os antígenos são substâncias orgânicas. A incapacidade de substâncias 
inorgânicas despertarem uma resposta imune talvez se deva ao fato de a maioria ser muito 
pequena. Moléculas pequenas (como íons metálicos) só podem funcionar como antígeno caso 
elas se liguem a uma proteína carregadora. Nesta situação elas recebem o nome de hapteno. 
Outra condição necessária para que uma substância funcione como um antígeno é que ele 
tenha um grau de complexidade química. Moléculas muito simples, mesmo sendo grandes 
(como é o caso de certos polímeros que se formam pela repetição de um único aminoácido)são fracamente imunogênicas. 
Além destes elementos, a concentração em que ela é administrada e a porta de 
entrada da mesma no organismo, influem na capacidade de uma substância despertar 
resposta imune ou não. Quando o organismo recebe uma carga muito alta de antígeno ele se 
torna tolerante a ele; é como se o sistema imune ficasse "atordoado" e perdesse a sua 
capacidade de reação. Por outro lado, se as concentrações do antígeno são muito baixas, o 
organismo nem "se incomoda" em responder a ele. Existe, portanto, uma concentração 
intermediária (que não é nem muito grande, nem muito pequena) capaz de fazer o sistema 
imune funcionar com capacidade ótima. 
A via de administração é outro elemento que exerce suas influências e isto é, 
naturalmente, muito importante quando se leva em conta a administração de vacinas. A 
administração por via oral acaba sendo raramente utilizada porque as enzimas digestivas 
destroem o antígeno antes de sua absorção. Aliás, é graças a este mecanismo, que os 
alimentos normalmente não imunizam uma pessoa. Quando um antígeno é administrado pelas 
vias subcutânea, intradérmica ou intramuscular acaba atingindo um linfonodo regional onde é 
processado. Se administrado por via endovenosa ou intraperitoneal, acumula-se 
predominantemente no baço. Esta diferença de local de processamento talvez seja o 
responsável por diferenças nas respostas imunológicas. 
Como já foi comentado anteriormente, não é a molécula inteira do antígeno que reage 
com o sistema imune, e, sim, algumas de suas porções chamadas de epítopes ou 
determinantes antigênicos. 
 
O SISTEMA IMUNE ANTÍGENO ESPECÍFICO 
3 
 
 
 
 
A grande sofisticação do sistema imune dos seres mais evoluídos fica por conta do 
sistema antecipatório ou antígeno específico cujos agentes efetores são os linfócitos. Quem 
aprecia um linfócito do ponto de vista morfológico, como células sanguíneas com núcleo 
enso, e um pequeno anel citoplasmático, sem nenhuma organela especial, a não ser 
umas poucas mitocôndrias, ribossomos e lisossomos, não imagina que células com uma 
estrutura tão "vulgar" possam abrigar uma capacidade funcional tão extraordinária. Além 
disso, essa população, embora sendo anatomicamente homogênea, possui subdivisões 
bastante distintas do ponto de vista de distribuição de trabalho. 
A primeira grande divisão dos linfócitos é feita em linfócitos do tipo T e linfócitos B. Os 
linfócitos T são assim chamados porque, no seu processo de maturação, devem 
obrigatoriamente passar pelo timo. (T=timo). Os linfócitos B são os linfócitos cuja maturação 
se processa na medula óssea que seria o órgão equivalente à "bursa de Fabricius" identificada 
em aves. (B=bursa). 
 
O LINFÓCITO T - Já sabemos que o linfócito T é um linfócito antígeno específico e que a base 
desta especificidade está na presença de um receptor em sua superfície. A finalidade do 
receptor é reconhecer um antígeno externo e encaminhar essa informação para dentro da 
célula para que ela fabrique substâncias que irão ser as verdadeiras efetoras da defesa. 
Este receptor tem, em sua estrutura básica, 2 cadeias: a α (alfa) e a β (beta). Existem, também, 
alguns poucos linfócitos que exibem as cadeias γ (gama) e δ (delta), mas só os linfócitos que 
tem as cadeias αβ pertencem ao sistema imunológico especifico e é deles que iremos falar 
neste capítulo. Comentaremos sobre os γδ mais tarde... 
Cada uma das cadeias do receptor tem uma porção variável (para reconhecer o 
antígeno) e uma porção constante (que se fixa na superfície celular). Já sabemos que a 
estrutura destas cadeias é geneticamente determinada. Existem genes, melhor falando, 
famílias de genes para cada uma destas porções. Com isso dá para entender que, se existem 
grupos de genes para cada uma destas porções, a combinação desta variedade toda resulta 
num número final muito grande de diferentes receptores. Calcula-se que um único indivíduo 
pode ter mais de 1.000.000 de clones de células T diferentes... 
O receptor da célula T não consegue reconhecer o antígeno quando ele está sozinho. 
Este só passa a ser reconhecido quando for apresentado junto com as moléculas de HLA do 
próprio indivíduo. De uma maneira geral, o antígeno é processado por uma célula acessória 
(na maioria das vezes, um macrófago, que, quando exerce esta função, passa a se chamar de 
célula apresentadora de antígeno) e apresentado ao linfócito T junto com o seu próprio MHC, 
estimulando-o. 
Repetindo em outras palavras: o macrófago apanha o antígeno, desmonta-o em 
pedacinhos menores e expõe todos "os seus segredos" em sua superfície celular junto com o 
seu antígeno de histocompatibilidade. O linfócito T que encontra o conjunto é, então, ativado. 
Para que ocorra a estimulação do linfócito T é necessário que ambos, o antígeno e as proteínas 
do complexo de histocompatibilidade, estejam presentes. Isoladamente, nenhum deles 
consegue produzir um estímulo efetivo. 
Existe quem comparasse o comportamento do linfócito T ao de um velho gentleman 
inglês que segue à risca as regras da etiqueta. Ele sabe que o macrófago expondo o antígeno 
quer "falar com ele" e sabe até qual é o assunto, mas não irá até ele a menos que seja 
devidamente apresentado por alguém que conheça a ambos. Quem faz as apresentações? O 
antígeno de histocompatibilidade. 
Os antígenos solúveis são reconhecidos junto com o HLA classe II; os antígenos virais 
jun-to com os da classe I. Se você lembra o que são HLAs lá do 2º ano, tudo bem! Se não, 
espere um pouquinho que vamos rever esta parte também. 
Bem, até aqui estava tudo muito fácil, não? Vamos complicar um pouquinho? O 
reconhecimento do antígeno ligado ao HLA pela célula T é o início de uma longa conversa entre 
4 
 
 
 
estas duas células. Assim que o reconhecimento inicial acontece, o linfócito T expressa várias 
moléculas, que vão encontrar os respectivos receptores na célula apresentadora de antígeno. 
Estes pares de moléculas são chamados de moléculas coestimulatórias. Um desses conjuntos 
é o da molécula B7 do macrófago que se liga ao CD28 da célula T. Este par é importante porque 
ele tem um inibidor, o CTLA4, que é capaz de interromper o processo de reconhecimento e 
assim abortar a estimulação do linfócito T. A administração de CTLA4 exógena vem sendo 
usado como uma opção de tratamento para artrite reumatoide. Outro parzinho de moléculas 
coestimulatórias bem conhecido é o CD40-CD40L, mas existem muitos outros dos quais não 
falaremos aqui. 
É só após o reconhecimento destes pares de moléculas coestimulatórias que o 
processo de ativação do linfócito continua, com a elaboração de interleucina-2. Se não houver 
este reconhecimento, o processo já iniciado cessa. 
Repetindo: num primeiro momento existe o reconhecimento do antígeno montado no 
HLA pelo receptor da célula T. É o primeiro sinal. Num segundo momento, as moléculas 
coestimulatórias que aparecem, tanto do lado do linfócito como do macrófago, também se 
ligam e formam um verdadeiro zíper que liga as duas células entre si. É o segundo sinal. Dá-se 
o nome de sinapse imunológica a esse ponto de encontro entre linfócito T e macrófago. 
 
 
 
Figura 1.1 Sinapse imunológica 
 
Existem vários subtipos de linfócito T. Esta classificação pode ser feita ou de acordo 
com o trabalho que ele executa, ou de acordo com as proteínas que aparecem em sua 
membrana ou, ainda, de acordo com o tipo de antígeno de histocompatibilidade que ele 
reconhece. Preste bem atenção porque isto causa uma confusão danada... 
A primeira classificação é feita de acordo com os receptores de antígeno que aparecem 
na membrana e esta é a primeira subdivisão que pode ser notada quando este linfócito está 
amadurecendo no timo. Como já foi comentado existem linfócitos com receptores αβ e outros 
com receptores γδ. Só os primeiros fazem parte do sistema imunológico especifico e são eles 
que se diferenciam mais tarde em linfócitos CD4 e CD8. (CD= cluster of differentiation). Desta 
maneira um linfócito maduro αβ ou é CD4+, CD8- ou é CD4-e CD8+. 60% deles são CD4+, CD8-
; 40% são CD4, CD8+. 
De uma maneira geral os linfócitos CD4 são chamados de T helper e os CD8, de T 
citotóxicos. Durante a apresentação do antígeno os linfócitos T helper reconhecem os 
antígenos apresentados com o HLA classe II e os CD8, os apresentados com HLA classe I. 
O linfócito T helper pode ser subdividido, mais uma vez, de acordo com as citocinas 
que ele fabrica, em linfócitos Th1, Th2, Th17 e T regulador (ou T reg). 
Os linfócitos T CD4+ do grupo Th1 são linfócitos que elaboram citocinas que irão ajudar 
no combate a bactérias intracelulares. Para entender isto vamos nos lembrar um pouquinho 
5 
 
 
 
lá da microbiologia.... Lembra que existem certas bactérias, muito “pilantras” que, ao serem 
fagocitadas continuam crescendo dentro do macrófago? É o que acontece com as bactérias da 
tuberculose e do mal de Hansen (micobactérias). Isto só é possível porque o vacúolo onde elas 
estão não consegue se fundir com os lisossomos - que contém as enzimas que deveriam 
destruí-las. O linfócito Th1 “obriga” os lisossomos do macrófago a irem até o vacúolo onde 
está a bactéria e despejar o seu conteúdo enzimático. Além disso, estas células Th1 elaboram 
citocinas que atraem mais macrófagos. Portanto, as células Th1 são fundamentais para a 
destruição de patógenos intracelulares, ou seja, para a imunidade celular. 
O segundo subtipo de T helper é o linfócito Th2 o qual auxilia o linfócito B a fabricar 
anticorpos. Portanto, a célula Th2 está envolvida na resposta humoral. 
Já a célula Th17 é um linfócito que atua contra micro-organismos extracelulares. 
A cel T do tipo T reguladora pertence ao sistema de controle da imunidade específica 
e é uma espécie de “guardinha” que fica atendendo as demais células para que não 
“aprontem” contra o próprio organismo. 
Como cada uma dessas células executa essas tarefas? Elaborando determinado tipo 
de citocinas. Citocinas são substâncias solúveis e de comunicação entre o sistema imune. Como 
o linfócito T CD4 escolhe qual tipo de célula ele vai se tornar? De novo, por causa das citocinas 
circulantes... Deu para notar que essas citocinas são realmente “poderosas”! No quadro abaixo 
estão as principais citocinas que “mandam” na mudança dos linfócitos assim como as 
principais citocinas que eles fabricam depois que escolheram o seu subtipo... Veja que muitas 
delas atuam dos dois lados, ou seja... atuam na diferenciação do linfócito e também são 
elaboradas por ele. Espertinhas, não? Assim o processo faz uma retroalimentação positiva... 
 
 
Figura 1.2 - Subtipos de célula T CD4 
 
O linfócito T CD8 ou citotóxico é o que, quando ativado, adquire a capacidade de lizar 
células alvo, que tem antígenos reconhecidos pelo seu receptor. Ele mata a célula estranha 
num verdadeiro “abraço de tamanduá”... Chega pertinho dela, modifica o seu exoesqueleto 
de tal maneira que cria uma área de comunicação com a célula alvo e, aí, deposita enzimas 
como granzimas e perforinas que irão lizar esse alvo. 
Vamos voltar, agora, lá ao encontro do linfócito T com o antígeno de sua vida. Quando 
ocorre esta ligação começam a acontecer coisas... 
6 
 
 
 
O primeiro sinal de que existe algo de diferente no ar é um fluxo de Ca++ e Na+ de fora 
para dentro do linfócito. O interior da célula é normalmente negativo, enquanto que as 
superfícies externas são carregadas positivamente. Após a ligação com receptor é como se os 
portões da membrana citoplasmática se abrissem e os cátions fossem despejados de acordo 
com o gradiente de concentração. À medida que os íons Na+ entram, começam a sair íons H+, 
o interior da célula se torna basofílico. Outra coisa notada nesta fase precoce é uma mudança 
na composição dos fosfolipídeos da membrana citoplasmática. 
Estas alterações iniciais são seguidas por um incremento geral no metabolismo e o que 
se vê é, em linhas gerais: aumento geral de síntese de proteínas em 2 horas; aumento do 
número de ribossomos em 6 horas; início da síntese do DNA em 24h. Em 30h o linfócito está 
pronto para a sua primeira divisão mitótica. Depois desta primeira divisão mitótica, todo o 
ciclo se repete por 5 a 10 vezes. 
Feito isto, o linfócito muda novamente: alguns deles retornam para a fase de repouso, 
outros saem para desempenhar a função imune a que estão destinados. As células que 
retornam à fase de repouso embora sejam morfologicamente semelhantes à célula mãe, são 
diferentes do ponto de vista qualitativo, uma vez que, num segundo encontro com o antígeno 
elas conseguem responder muito mais ligeiro. São chamadas de células da memória. Já as 
células que saem para desempenhar a sua função não conseguem mais se proliferar, nem se 
transformar em células da memória. As que não forem "gastas" ao exercer suas funções 
morrem em alguns dias após a sua diferenciação. Estas são as células efetoras. 
As células T da memória conseguem ser encontrada em todos os tecidos do corpo 
humano, num verdadeiro estado de alerta contra o antígeno. Já as células T primitivas (ou 
virgens) só conseguem atravessar o vaso sanguíneo em um ponto especial das vênulas dos 
órgãos linfoides, onde existem células endoteliais altas. Voltaremos a este assunto ao 
conversar sobre a circulação dos linfócitos. 
 
O LINFÓCITO B - Outro componente do sistema imunológico específico ou antecipatório é a 
célula B. Ela é responsável pela formação dos anticorpos ou imunoglobulinas. Da mesma 
maneira que a célula T, a especificidade da célula B é dada por um receptor de superfície que, 
neste caso, nada mais é do que uma imunoglobulina de superfície. Esta imunoglobulina de 
superfície é muito parecida com a imunoglobulina que a célula B secreta como anticorpo, 
quando estimulada pelo antígeno. 
Os precursores de célula B têm sua origem na medula óssea e podem ir diretamente 
aos tecidos linfoides periféricos ou passar pelo fígado, medula óssea, tecido linfoide intestinal 
ou de amígdala antes de se tornar uma célula funcionante. 
Um linfócito B, ao se diferenciar da célula tronco da medula óssea, é reconhecido como 
pré-célula B quando começa a fabricar imunoglobulina M intracitoplasmática. Na fase seguinte 
ela passa a exibir imunoglobulina M na sua superfície. Depois disso aparece, além da IgM, a 
IgD de superfície. Tudo que acontece até aqui não depende da presença do antígeno, mas a 
partir deste estágio a célula já tem a capacidade de responder a elementos estranhos. Se o 
linfócito B não encontrar o seu alvo, ele morre em 3-4 dias. No entanto, se ele "for salvo" pelo 
encontro com o antígeno, irá se transformar num linfócito B ativado e irá se diferenciar 
produzindo uma proporção cada vez maior de imunoglobulina na forma secretada e cada vez 
menor de imunoglobulina ligada a membrana. Algumas destas células B trocam o tipo de 
imunoglobulina, produzindo outras imunoglobulinas além de IgM e IgD, ou seja, IgA, IgG e IgE 
mas para isso esta célula B vai precisar de ajuda das células T helper. Para fabricar a IgM, a 
celula B é autônoma e trabalha sem ajuda de ninguém... A mudança do tipo de 
imunoglobulina elaborada é regulada pelo linfócito T helper através deligação das moléculas 
coestimulatorias, sendo importante aqui, a ligação entre o ligante de CD 40 (CD40 L) com a 
proteína de superfície da célula B, que é, no caso, o CD40. Note que este sistema é o mesmo 
já abordado na comunicação entre célula apresentadora de antígeno e linfócito T. Este sistema 
CD40-CD40L também é importante para regular a sobrevivência das células B. Existem pessoas 
7 
 
 
 
com defeitos comngenitamente determinados neste link CD40-CD40L e não conseguem fazer 
outras imunoglobulinas a não ser a IgM – o que é conhecido como Síndrome da hiper IgM. 
O linfócito B, completamente diferenciado em célula secretora de anticorpo - ou seja- 
a célula que é efetora- nada mais é do que o plasmócito. Existem basicamente dois 
tipos de plasmócitos. Os de vida curta - que trabalham enquanto a infecção está ativa e depois 
desaparecem, e os plasmócitosde vida longa – que ficam secretando uma quantidade basal 
de anticorpos. É graças a esta célula que, depois de uma infecção, a gente sempre fica 
“vacinado” e o título dos anticorpos contra o agente infeccioso nunca retorna ao zero. O 
plasmócito de vida longa, em geral, vai se alojar na medula óssea. Acompanhe esta 
diferenciação do linfócito B na figura abaixo . 
 
 
 
Figura 1.3: História de vida da célula B 
 
Algumas destas células B, ao invés de passar a secretar anticorpos, persistem exibindo 
a imunoglobulina de superfície e são chamadas de células da memória, as quais sobrevivem 
por bastante tempo circulando entre o sangue, linfa e órgãos linfoides. A afinidade das 
imunoglobulinas de superfície de uma célula B de memória é bem maior do que aquela do seu 
precursor não estimulado e assim o organismo, quando encontra pela segunda vez com um 
antígeno, já está capacitada a acionar rapidamente o sistema imunológico especifico.. 
Bem... Já sabemos que a finalidade da ativação do linfócito B é a produção de 
imunoglobulinas que são elementos mediadores da resposta imunológica humoral. Os 
anticorpos se ligam ao antígeno com a finalidade de inativá-lo ou removê-lo. 
No homem, existem 5 diferentes classes de imunoglobulinas que são designadas pelas 
letras: A,G,M,E.D. Cada uma destas imunoglobulinas é formada por 2 cadeias pesadas e 2 
cadeias leves. Existem cinco tipos de cadeia pesada (uma para cada tipo de imunoglobulina) e 
2 tipos de cadeia leve, de tal modo que são possíveis 10 combinações no total. As cadeias leves 
(L= light) são chamadas de kapa (k) e lambda (λ), o correspondente, em grego, às iniciais do 
nome dos seus descobridores. As cadeias pesadas (H=heavy) são identificadas pelas letras 
gregas correspondentes ao nome das imunoglobulinas, ou seja: gama (γ), para IgG; alfa (α) 
para IgA; delta (δ) para IgD, mu (μ) para IgM e épsilon (μ) para IgE. 
8 
 
 
 
As quatro cadeias que formam a imunoglobulina se ligam entre si por pontes 
dissulfetos. Cada uma das cadeias tem uma porção variável (V) e uma porção constante (C). 
Assim, as cadeias leves têm uma porção variável (VL) e uma porção constante (CL); as cadeias 
pesadas também têm uma porção variável (VH) e uma constante, (CH). 
Como o nome sugere, a porção constante é feita da mesma estrutura primária nas 
imunoglobulinas do mesmo tipo e subclasse. A porção constante está envolvida nas atividades 
biológicas das imunoglobulinas. Ex: CH2 da IgG e CH4 da IgM estão envolvidas na ligação com 
o complemento. 
As porções variáveis (VL e VH) constituem a região de ligação ao antígeno. Dentro da 
porção variável existe uma porção hipervariável chamada idiotipo que é única para cada 
molécula de imunoglobulina. Anticorpos contra esta porção são chamados de anticorpos anti-
idiotípicos e ocorrem normalmente durante a resposta imune. Parece que eles geram um sinal 
para a célula B "desligar" a sua produção de anticorpos. 
Quando uma molécula de imunoglobulina é submetida à digestão por papaína (que 
age na região entre CH1 e CH2 conhecida como dobradiça), resultam 2 fragmentos: o Fab (a = 
antigen, b = binding) e o Fc (c = crystallizable, mas pode também servir para complemento 
uma vez que é esta a porção que se liga ao complemento). 
 
 
Figura 1.4 - Estrutura da Imunoglobulina 
 
As principais características das imunoglobulinas estão resumidas no quadro 1.1. 
 
QUADRO 1.1 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS IMUNOGLOBULINAS 
Isotipo Cadeia pesada Cadeia leve Ativação do complemento 
clássica alternada 
IgG 1 2 3 4  e  IgG1,2e3 Ig G4 
IgM   e  + - 
IgA  1  2  e  - + 
IgD   e  - + 
IgE   e  - + 
 
As imunoglobulinas G formam aproximadamente 75% das imunoglobulinas totais do 
soro. As classes de IgG, em número de 4 (IgG1; IgG2; IgG3; IgG4) estão numeradas em ordem 
decrescente de concentração sérica, sendo a IgG1 encontrada em maior concentração e a IgG4 
em menor. Esta imunoglobulina atravessa a barreira placentária e proporciona uma linha 
importante de defesa contra infecções durante os primeiros meses de vida do recém-nascido. 
Anticorpos do tipo IgG são ótimos no preparo de células e partículas para ingestão 
pelos fagócitos, ou seja ,são excelentes opsoninas. A IgG se liga pela porção Fab ao antígeno e 
pela porção Fc a um receptor especial para Fc de IgG que existe nos fagócitos. A seguir todo o 
conjunto é engolfado pelo fagócito. 
9 
 
 
 
A IgG é um anticorpo de resposta secundária, ou seja, quando ocorre uma estimulação 
antigênica formam-se primeiro anticorpos tipo IgMs (que são os anticorpos de resposta 
primária) e mais tarde IgGs. A maioria dos subtipos de IgG ativa complemento pela via clássica. 
A imunoglobulina M circula como um pentâmero, ou seja, como um conjunto de 5 
monômeros ligados entre si pela cadeia J. É, como já foi dito anteriormente, um anticorpo de 
resposta primária, ou seja, é o primeiro anticorpo a aparecer no organismo após uma infecção. 
É, também, o primeiro anticorpo a ser fabricado pelo recém-nato. 
A IgM, graças ao fato de ser um pentâmero e portanto, com muitos pontos de ligação 
com o antígeno, é eficiente nas reações de aglutinação. Além disso, o seu tamanho grande faz 
com que ela tenha tendência para permanecer no espaço intravascular, e, não consiga 
atravessar a barreira placentária. Uma das suas principais maneira de agir é através de fixação 
do complemento, promovendo lise do antígeno. 
A imunoglobulina A é responsável por 10 a 15% das imunoglobulinas do soro, mas é a 
principal imunoglobulina das secreções (saliva, lágrima, secreções nasais e gastrintestinais e 
leite humano). É especialista em se transportar para áreas do corpo inacessíveis às células 
produtoras de anticorpos. Nas secreções a IgA está em sua forma secretória (sIgA), que é um 
polímero contendo geralmente dois monômeros, uma peça de junção (cadeia J) e uma 
glicoproteína chamada de peça secretória. A IgA fixa complemento via alternativa e tem uma 
ação antiviral importante por prevenir a ligação do vírus com as células epiteliais do aparelho 
respiratório e gastrointestinal. Ela funciona como uma "cola" grudando os agentes patógenos 
todos juntos e impedindo a sua penetração no organismo. Existem duas subclasses de IgA. A 
IgA1 que é a principal IgA do soro e a IgA2 que é a prevalente nas secreções. Esta 
imunoglobulina é transportada pela placenta para o feto e também secretada pelo leite 
materno. 
A imunoglobulina D é encontrada em concentrações bem baixas e junto com a IgM é 
o maior receptor de antígeno de superfície de linfócito B. 
A imunoglobulina E também é encontrada em baixas concentrações. Estas Igs têm 
receptores especiais em mastócitos e basófilos de tal maneira que, quando ocorre a ligação 
IgE com antígenos, estas células liberam o conteúdo de seus grânulos, que são substâncias que 
vão promover contratura de musculatura lisa e assim tentar a expulsão de parasitas. 
Infelizmente, muitas vezes estas IgE reagem com elementos do meio ambiente como, p. ex., 
pólen, poeira, etc e a consequente liberação de material de mastócitos e basófilos é 
responsável pelo aparecimento de reações alérgicas. 
 
QUADRO 1.2 - PRINCIPAL FUNÇÃO DOS FRAGMENTOS DE IMUNOGLOBULINAS 
Fab Fc 
Reconhecimento do antígeno IgG  fagocitose 
IgM  lise 
IgA  neutralização 
IgE  expulsão 
 
ÓRGÃOS LINFOIDES E CIRCULAÇÃO DOS LINFÓCITOS 
 
Antes de continuarmos, vamos rever um pouquinho sobre os locais de formação dos 
linfócitos e o caminho por eles percorrido. 
Os orgãos linfoides podem ser divididos em 2 grupos principais: um central (composto 
pelo timo, medula óssea e um tecido equivalente a bursa, esta última só bem identificada ana-
tomicamente em aves) e um periférico (formado pelo baço, linfonodos e tecido linfoide 
associado à mucosas). Nos órgãos centrais existe maturação das células independentemente 
do antígeno; já o antígeno é necessário para que a maturação prossiga nos órgãos linfoidesperiféricos. Como já sabemos, o linfócito B inicia o seu processo de maturação na medula óssea 
10 
 
 
 
ou órgão equivalente a bursa de Fabricius, de onde sai já com certo grau de diferenciação. A 
seguir, ele adentra a corrente sanguínea e pode fixar residência no baço, linfonodos ou em 
placas de tecidos linfoides de mucosa (p. ex: placas de PEYER). Se ele não encontrar o seu 
antígeno, morre. Se o encontrar, já vimos que irá se diferenciar em plasmócitos ou células da 
memória. Os plasmócitos fabricam anticorpos por certo tempo e depois também morrem. Já 
as células da memória se acumulam na porção central do folículo onde ficam provisoriamente 
tempo, e, depois, voltam a recircular, via ducto torácico ou sangue, podendo novamente se 
fixar em órgãos linfoides secundários. 
Quando existe um segundo encontro com o antígeno, todo o ciclo se repete. Caso isto 
não ocorra, elas descansam por um tempo nos tecidos, e, periodicamente, voltam a recircular. 
Dá para entender que elas estão “patrulhando” o organismo. 
Já as células T quando saem da medula são muito jovens e entram no timo onde serão 
amadurecidas. Do timo são carreadas, pela circulação sanguínea, para os órgãos linfoides e 
tecidos. Da mesma maneira que acontece com o linfócito B, se estas células não encontrarem 
o antígeno, elas morrem. Se, no entanto, forem estimuladas pelo antígeno, elas se dividem em 
células efetoras e da memória. Ambas reentram na circulação. A célula efetora vai até o ponto 
da infecção e morre lutando; a da memória fica alternando períodos de descanso em órgãos 
linfoides com períodos de recirculação. 
É interessante saber que, tanto o linfócito T como o B, deixa o vaso sanguíneo para 
adentrar nos tecidos em um ponto especial. Normalmente as células endoteliais são achatadas 
e finas, mas existem alguns pontos, em vênulas pós-capilares, com células de endotélio altas, 
grandes e colunares. É aí que ocorre a passagem dos linfócitos para os tecidos. Linfócitos 
maduros contêm moléculas de adesão que permitem a ligação com este endotélio especial. 
Feita a ligação, a célula atravessa o vaso, saindo da circulação sanguínea. 
Diferentes linfócitos têm diferentes moléculas de adesão o que explica a localização 
preferencial de um ou outro tipo de linfócito nas diferentes partes dos órgãos e tecidos. Veja 
o que são moléculas de adesão mais à frente quando tratarmos de processo inflamatório. 
 
 
INTERLEUCINAS, CITOCINAS E QUIMIOCINAS 
 
Como já comentado anteriormente interleucinas ou citocinas são substâncias que 
servem para a comunicação celular. As células interligadas por estes agentes devem ter 
receptores especiais para a citocina em questão e podem pertencer tanto ao sistema 
imunológico especifico como inespecífico ou, ainda, serem células que não pertençam ao 
sistema imunológico. Quimiocinas, como o nome sugere, atuam como elementos 
quimiotáticos sendo responsável pela movimentação celular. 
Estas substâncias têm se tornado alvos importantes no tratamento das doenças 
reumáticas e existem fármacos que conseguem inibí-las ou ocupar o seu receptor. Por isso, 
embora pareça meio chato, é necessário que você guarde as principais. 
O grupo mais importante das citocinas pró-inflamatórias é a tríade IL-1, IL-6 e TNFα e 
essas três podem ser bem inflamatórias quando estão sozinhas... Imagine só quando se 
juntam... 
Aqui vão as principais citocinas: 
 
Interleucina-1 (IL-1): É responsável pela indução da saída de neutrófilos da medula óssea, e, 
uma vez que eles estejam circulando, promove a sua marginalização e entrada nos tecidos. É, 
portanto, uma das grandes atrizes do processo inflamatório. Em músculo, promove liberação 
de prostaglandinas, estimula proteólise e liberação de aminoácidos o que, a longo prazo, 
resulta em perda de massa muscular. Em sistema nervoso central promove sonolência, 
anorexia e pode agir como pirógeno. 
11 
 
 
 
Linfócitos T e B também sofrem ação da IL-1. Neles esta linfocina induz diferenciação 
e proliferação, aumenta produção de IL-2, atividade de célula T citotóxica e da natural killer. 
A ação da IL-1 está na dependência de sua ligação com receptores específicos. Existe, 
também, um receptor “falso” para a IL-1, ou seja, um receptor que se liga com a sua molécula, 
mas não passa a informação para a frente, funcionando como um bloqueador. (Faz inibição 
competitiva.) Este tipo de receptor é chamado de antagonista de receptor de IL-1 (IL-1-Ra). 
Existe, na farmacologia aplicada à reumatologia inibidores da IL-1, como é o caso do 
anakinra, um medicamento utilizado, por exemplo, para tratamento da artrite idiopática 
juvenil. 
 
Interleucina-6 (IL-6): Age em estádios finais de diferenciação de célula B e induz a formação 
de reagentes de fase aguda pelos hepatócitos erguendo as provas de atividade inflamatória 
como VHS e proteína C reativa. Ativa proliferação de célula B e T, síntese de imunoglobulina e 
medeia alguns dos efeitos da IL-1. A inibição da IL-6 é usada no tratamento da artrite 
reumatoide do adulto e é feita através do tocilizumabe. 
 
Fator tumoral de necrose (TNF): é um grupo de substâncias produzidas principalmente por 
macrófagos ativados e que promove uma necrose hemorrágica em células tumorais (daí o seu 
nome). É ela o elemento responsável direta ou indiretamente (através de liberação de IL-1) 
pela febre, recrutamento e ativação dos neutrófilos e monócitos em infecções. O TNF α 
também é essencial para a formação de granulomas como os que atuam na defesa contra as 
micobactérias. Junto com IL-6 atua no fígado levando à formação dos reagentes de fase aguda. 
Produção prolongada de TNF α causa perda de massa muscular e de tecido adiposo ocasionado 
a caquexia. Em casos de sepsis por bactérias gram negativas existe produção maciça de TNFα 
que é o responsável por alguns dos achados do choque séptico. O bloqueio do TNF α foi 
pioneiro na terapia biológica e existe um grande numero de fármacos que atuam nessa inibição 
tais como infliximabe, etanercepte, adalimumabe etc... 
 
Interleucina 10: Tem atividade anti-inflamatória porque inibe macrófagos e células dendriticas 
ativadas. 
 
Interlecina 4: Estimula a formação de IgE e suprime reações que dependem de macrófagos. 
 
Transforming Growth Factor β (TGF-β): Inibe a proliferação e ativação de linfócitos e outros 
leucócitos. 
 
Interferons (INF) tipo I: Os principais são os INF α e INFβ. O nome interferon vem da 
capacidade que estas substâncias têm de interferir na infecção viral que é a sua principal 
finalidade. 
 
Interferon tipo II: É o INF γ. Ativa macrófagos aumentando a sua capacidade microbicida; atua 
na troca de fabricação de tipo de imunoglobulinas pelo linfócito B e diferencia células T em 
Th1 . 
 
Interleucina 2: É elaborada pelo linfócito T e é um grande fator de para o seu próprio 
crescimento respondendo pela sua expansão clonal após o reconhecimento do antígeno 
 
Interleucina 17: Tem atuação pró-inflamatória e está associada a processos alérgicos. Induz a 
formação de IL-6, GM-CSF, IL-1β, TGF-β, TNF-α, quimiocinas e prostaglandinas. 
 
12 
 
 
 
Existe um grande número de outras citocinas que não serão abordadas aqui, porque 
isto escapa ao intuito desta revisão. Para guardar o principal veja que IL-1 IL-6 e TNFα são pró-
inflamatórias e que a IL-10, IL-4 e TGFβ tem atividade anti-inflamatória. 
Quando uma citocina se liga ao seu receptor que está na membrana da célula, ela tem 
que mandar a mensagem lá para dentro da célula para que, de uma forma ou outra, chegue 
ao núcleo e o DNA “tome as devidas providências” para cumprir a ordem da citocina. Para isso 
ela vai precisar de “mensageiros” que travessem o citoplasma e cheguem ao núcleo. Por que 
saber isso? Porque existem alguns medicamentos que podem inibir alguns esses mensageiros 
e assim anular a ordem da citocina. Um desses intermediários é um sistema de enzimas 
chamado de JANUS kinases (ou JAKs - para os mais íntimos). Outro grupo é o dos STATs 
(Systems Transducers and Activators of Transcription).Os sistemas JAK/STATs podem ser 
usados por mais do que uma citocina. Assim é possível, inibindo só um deles, impedir a atuação 
de várias citocinas ao mesmo tempo. 
Um aparte curioso: o nome Janus das nossas amigas JAKs vem do deus romano JANUS 
que deu origem ao nome do mês de janeiro e que era o deus das portas (das entradas, saídas 
e das transições). Ele era representado por uma figura masculina com duas faces: cada uma 
olhando para lado... A “nossa” JAK faz uma transição entre a ordem da citocina que se ligou ao 
receptor e as reações enzimáticas que vão parar lá no núcleo. 
 
 
O SISTEMA DO COMPLEMENTO 
 
 
Microbiologistas descobriram no final do século 19 que existiam algumas substâncias 
que deveriam estar presentes no soro de um ser vivo para que os elementos estranhos 
pudessem ser efetivamente combatidos. Uma delas - que era estável ao calor - foi chamada 
de complemento porque complementava a ação bactericida do anticorpo. Descobriu-se, 
depois, que o complemento não era uma substância única e, sim, um verdadeiro time, com 
pelo menos 20 componentes. 
Normalmente estes componentes estão na forma inativa, mas, a um sinal específico, 
o primeiro componente do time se ativa e começa todo o processo, o qual, segundo um 
imunologista tem um comportamento muito parecido com o de corridas de bastão. Uma vez 
ativado o primeiro componente, este vai até o segundo e "passa o bastão". Este segundo 
componente se ativa e corre até o terceiro "passando-lhe o bastão" e assim por diante. O 
último membro do time termina a corrida fazendo um buraco na membrana da célula invasora 
através da formação do complexo de ataque à membrana. 
Como, de maneira gráfica, a ativação do complemento se assemelha a pequenas 
quedas de água, vê-se por aí, o sistema todo sendo chamado de cascata do complemento. 
A função do complemento não é apenas lizar a célula cavando buracos na sua 
membrana. Ele também contribui de outras maneiras para a eliminação do elemento 
indesejável. Alguns dos seus componentes se ligam à partícula em questão tornando-a presa 
fácil para o macrófago, ou seja, servindo como opsonina. Outros componentes funcionam 
como quimiotáticos, ou seja, atraem fagócitos para o ponto de inflamação. 
Uma corrida pode ser iniciada de várias maneiras: com um tiro, uma batida de palmas 
ou um comando verbal. Da mesma maneira, a cascata do complemento pode ser ativada por 
vários tipos de substâncias. Estas substâncias ativadoras podem ser agrupadas em três classes 
principais, que seguem, no início, três caminhos diferentes entre si, mas que acabam por 
desembocar em uma via comum e chegar ao mesmo resultado final. Assim, existem elementos 
que ativam o complemento VIA CLÁSSICA, um segundo grupo que ativa pela VIA DA MANOSE 
LECTINA e um terceiro grupo que ativa o complemento pela VIA ALTERNATIVA. 
Para entender o que vai acontecer na ativação do complemento, preste atenção na 
nomenclatura utilizada: (A)- precursores inativos das moléculas são designados por números 
13 
 
 
 
que se seguem à letra C (C=complemento). Ex: C1, C2 etc.; (B)- componentes ativados do 
complemento são designados por uma barra sobre o símbolo do componente. Ex: C1 etc.; (C)-
fragmentos do complemento resultantes da quebra enzimática são designados por letras 
minúsculas seguindo o nome da fração do complemento. Ex. C4a, C3b etc. 
Como já foi afirmado anteriormente são três as vias iniciais de ativação do 
complemento, as quais desembocam numa via comum, também chamadas de sequência de 
ataque terminal. Veja a figura 1.5. 
 
 
Figura 1.5- Vista geral das vias do complemento 
 
A via clássica é assim chamada por ser a primeira a ser descoberta. É uma via de 
ativação rápida, eficiente e mais moderna do ponto de vista evolutivo; a via alternativa é uma 
via filogeneticamente mais primitiva, mais lenta e menos eficiente. Entretanto, a via clássica 
para que seja ativada está na dependência de formação de anticorpos específicos, o que, 
naturalmente, leva certo tempo para acontecer. A via alternativa, ao contrário, consegue se 
ativar espontaneamente, não dependendo destes anticorpos, mantendo sempre um ritmo 
basal, meio baixo de ativação. A velocidade de funcionamento desta via alternativa aumenta 
quando os anticorpos aparecem. Já a via da manose-lectina é uma via muito parecida com 
clássica só diferindo desta nos momentos iniciais, por não depender da formação de 
anticorpos. Assim, frente a uma infecção, a via alternativa e a via do receptor da manose-
lectina são as primeiras a intervir na defesa, o que não acontece com a via clássica, a qual só 
será funcionante após o organismo fabricar os anticorpos específicos. 
Os elementos capazes de ativar cada uma dessas vias são diferentes. A via clássica é 
ativada por complexos imunes contendo IgG1, IgG2, IgG3 e IgM e também por diversas 
substâncias químicas como proteína C reativa, DNA e enzimas semelhantes à tripsina. A via 
alternativa é ativada por complexos imunes contendo IgG4, IgA, IgE, certos polissacarídeos 
como endotoxinas bacterianas e cápsulas de fungos, membranas de diálise, veneno de cobra 
e contrastes endovenosos usados para estudos radiológicos. A via da manose-lectina é ativada 
por certos antígenos que têm moléculas com resíduos de manose e outros açúcares que 
seguem uma determinada orientação espacial e são encontrados em vários micro-organismos. 
Todas as vias convergem para a ativação do componente C3, que é onde se inicia a via 
terminal ou comum. Eventualmente a via comum ou terminal pode ser ativada diretamente 
por certas enzimas que não fazem parte do complemento, sem a participação das vias iniciais 
de ativação. 
 
ATIVAÇÃO DA VIA CLÁSSICA - A vista clássica compõe-se de reações sequenciais envolvendo 
C1, C2, C4 e C3. O primeiro passo é a ativação de C1. C1 é uma molécula muito grande 
14 
 
 
 
composta por 3 frações: C1q, C1r, C1s, ligadas entre si por pontes dependentes de cálcio. É a 
fração C1q que possui um receptor para se ligar as imunoglobulinas IgG e IgM e, quando ocorre 
esta ligação inicia-se o processo de ativação desta via. Após a ativação da fração C1q, esta se 
liga a C1r e adquire capacidade de clivar a C1s. A ativação de C1s leva à próxima reação que é 
a formação de C4b2a.C4b2a é uma enzima proteolítica que assume o papel de continuar a 
reação em cascata do complemento e, nesta fase os primeiros elementos já não são 
necessários para que o processo continue. C4b2a também é chamada de C3 convertase e faz 
a clivagem do próximo componente que é C3, um elemento da via comum. 
 
ATIVAÇAO DA VIA DO RECEPTOR DE MANOSE-LECTINA - Esta via difere da via clássica porque 
não usa a ligação com o C1. Quem começa o processo é a ligação do receptor de manose-
lectina com resíduos de manose existentes na parede de certos micro-organismos como 
enterobactérias. Esta ligação forma duas enzimas que são a MASP-1 e a MASP-2 que ativam C 
4 e C2, passando a partir dai a seguir o mesmo caminho da via clássica. 
 
 
A 
 
B 
Figura 1.6 - Ativação de vias clássica e da manose 
 
ATIVAÇÃO DA VIA ALTERNATIVA- Quatro elementos participam da formação da convertase 
da via alternativa. O fator D é homólogo ao C1s da via clássica, o C3 equivale ao C4 e o fator B 
ao C2. Uma proteína extra, a properdina (P) serve para estabilizar o complexo C3 convertase, 
que é o C3bBb, o qual equivale ao C4b2a em sua capacidade de iniciar a sequência terminal. 
Embutida dentro da via alternativa existe uma via de amplificação do sistema. O C3b é um 
produto de clivagem da reação catalisada por C3bBb e é capaz de formar um complexo com o 
fator B e torná-lo suscetível à clivagem por fator D e formando C3bBb adicional. 
 
ATIVAÇÃO DA SEQUÊNCIA TERMINAL OU VIA COMUM - Leva à formação do complexo C5b-
9, também chamado de complexo de ataque à membrana. O complexo de ataque à membrana 
é uma estrutura que se insere através das duas camadas lipoídicas da membrana celular da 
célula-alvo formando verdadeiros canais que permitem a passagem desenfreadade íons e 
água com embebimento da célula em água a qual incha até se romper. Ou seja, funciona como 
um sabão. A ativação terminal ocorre segundo o esquema da figura 1.6B. A ativação do 
complemento fica confinada a superfície no qual esta se inicia. 
 
15 
 
 
 
 
A 
 
B 
 Figura 1.7 – Complemento: (A) ativação da via alternativa; (c) via final. 
 
 
FRAGMENTOS DE COMPLEMENTO - Além do complexo de ataque à membrana que é o 
produto principal e final da ativação do complemento, vários outros fragmentos formados 
durante a cascata de ativação têm atividade biológica. Veja, no quadro 1.3, os principais. 
 
QUADRO 1.3 - FUNÇÃO DOS PRINCIPAIS FRAGMENTOS DO COMPLEMENTO 
 C3bBb:-quimiotático para polimorfo nucleares e macrófagos; 
 C3a:- anafilatoxina, libera histamina dos mastócitos; 
 C3b:- funciona como opsonina, ou seja, favorece a aderência do complexo-imune, 
o qual é um prelúdio à fagocitose. Além disso, várias células (eritrócitos, PMNs, e 
linfócitos) contêm receptores para este fragmento. Estes receptores ajudam no 
transporte do complexo imune até órgãos do SRE onde serão metabolizados. Na 
verdade, eles funcionam como verdadeiros ganchos para o complexo imune que 
assim se liga às células circulantes e vai de "carona" até órgãos do SRE. O número 
destes receptores é altamente variável na população e significativamente 
reduzido em pacientes com lúpus; 
 C5a:- anafilatoxina, libera histamina dos mastócitos, quimiotático para polimorfo 
nucleares e monócitos. Aumenta a produção de moléculas de adesão. 
 
 
MECANISMOS DE CONTROLE DO SISTEMA DO COMPLEMENTO - A ativação não controlada 
do sistema imune é prevenida pela labilidade dos sítios ativados, e, pela dissociação da C3 
convertase dependente de tempo e temperatura. Existem também algumas proteínas séricas 
que servem para modular e limitar esta ativação, tais como: 
1. C1 inibidor: inibe a atividade de C1 por se ligar a C1r e C1s; 
2. fator I: ataca C3b; 
3. fator H: age na C3b acelerando a formação do fator I. 
 
DOSAGEM DO COMPLEMENTO - Medir o complemento pode ser útil no diagnóstico e 
avaliação do grau de atividade de uma doença assim como, da resposta ao tratamento. O 
resultado da dosagem do complemento reflete o balanço entre o complemento sintetizado e 
aquilo que é consumido. Deve-se lembrar que, no entanto, em certas condições inflamatórias, 
frações do complemento têm comportamento de reagentes de fase aguda, podendo, antes de 
se iniciar o consumo, ter um nível aumentado. Com isto o valor final após o consumo 
simplesmente "cai para um valor normal", podendo dar uma impressão falsa, de que não existe 
consumo. Além disso, situações de síntese diminuída, como é a desnutrição severa e a 
16 
 
 
 
insuficiência hepática (porque é lá que são fabricados os componentes do complemento), 
promovem um valor final baixo, sem que exista consumo. 
No quadro 1.4, algumas das situações associadas com o achado de uma dosagem diminuida 
de complemento. 
 
QUADRO 1.4 - CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DO NÍVEL SÉRICO DO COMPLEMENTO 
HIPOSSÍNTESE: deficiências congênitas, insuficiência hepática,desnutrição 
HIPERCATABOLISMO: deficiência de proteínas controles: Ex: deficiências de C1 
inibidor; 
doenças reumáticas com depósito de complexo-imune : LES, 
vasculites AR. 
doenças infecciosas: endocardite, hepatite B, sepsis etc 
doenças renais: Ex: glomerulonefrites pós-estreptocócica, 
membrano-proliferativa e proliferativa idiopática. 
 
Outro aspecto a ser lembrado é a alta frequência de deficiências congênitas de síntese 
do complemento, as quais podem ser causa de uma dosagem sérica baixa. Algumas pessoas 
com defeito de complemento são normais; outras têm, no entanto, maior incidência de certas 
doenças como, por exemplo, o lúpus. Veja alguns exemplos no quadro 1.5. Note como as 
deficiências dos componentes iniciais se associam com doenças reumáticas; as demais com 
doenças infecciosas. 
 
 
QUADRO 1.5 - DEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS DO COMPLEMENTO E SÍNDROMES 
ASSOCIADAS 
C1q:- glomerulonefrite, poiquiloderma 
congênito 
C1r:- glomerulonefrite, lúpus-like 
C1s:- lúpus like 
C4:- LES, e síndrome de Sjögren 
C2:- LES, lúpus discóide, Hodgkin e 
glomerulonefrites 
C3:- lúpus-like e glomerulonefrites 
C5:- LES, infecções por Neisseria 
C6:- Infecções por Neisseria 
C7:- LES, AR e infecções por Neisseria 
C8:- LES, infecções por Neisseria 
C9:- infecção por Neisseria 
 
Embora os defeitos homozigóticos sejam relativamente raros, os defeitos 
heterozigóticos são relativamente comuns. Com exceção da properdina, que é regulada por 
gene ligado ao cromossoma X, todas as outras proteínas do complemento são herdadas 
através de genes autossômicos dominantes. Genes que controlam C2, C4 e fator B estão no 
cromossoma 6. 
Quando se pretende avaliar a atividade de uma doença através daquilo que ela está 
consumindo de complemento, pode-se proceder à medida do complemento hemolítico total 
(CH50) ou dos componentes individuais (os mais usados são C3 e C4). A dosagem do 
complemento hemolítico total representa o resultado da atividade de todos os componentes 
do sistema, atuando de maneira encadeada, sem especificar se o processo começou via 
clássica ou via alternativa. 
A dosagem de C3 também está diminuída em casos de ativação de ambos os braços 
do complemento, visto que este elemento se situa na via comum. Já o C4, só estará diminuído 
em casos de ativação da via clássica e da do receptor de manose-lectina. 
Repetindo: uma diminuição de C3, C4 e CH50 indica que está existindo consumo do 
complemento via clássica (Ex: LES); uma diminuição de C3 e CH50 com C4 normal indica que 
este consumo ocorre em via alternada (Ex: glomerulonefrite, choque endotóxico). Uma 
medida de atividade CH50 de zero aponta para deficiência hereditária de um dos 
17 
 
 
 
componentes, o que interrompe a sequência dos eventos totalmente, impedindo que se forme 
o complexo de ataque à membrana. 
 
 
SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECÍFICO. 
 
Bem, já analisamos a parte mais sofisticada do sistema imune que é privilégio dos 
animais mais evoluídos. Só que, enquanto ela não age com toda a sua potência, o organismo 
fica na dependência de uma defesa não específica, que nem por isso é menos importante e 
espetacular em sua maneira de ação. Além disso, os componentes do sistema não específico 
interagem com o específico e funcionam também na limpeza do campo após o final da 
batalha... 
Os principais componentes do sistema imunológico não específico no homem são 
fagocitose, febre, resposta inflamatória e formação dos reagentes de fase aguda. De todos 
eles, vamos analisar a fagocitose e a resposta inflamatória, que são os dois elementos que mais 
nos interessam. 
 
A FAGOCITOSE- Existem células no corpo humano que circulam no sangue e outros fluidos do 
corpo e que migram para áreas onde existam elementos estranhos, com a finalidade de atacar 
o intruso. Nesta luta a célula lança mão de várias armas, mas a principal delas é engolir o seu 
inimigo. Por isto elas células são chamadas de fagócitos, ou seja, "células que comem". 
Muitas células de nosso corpo são capazes de englobar pequenas partículas líquidas 
ou sólidas (praticam endocitose), mas só os fagócitos conseguem ingerir partículas maiores 
(fagocitose verdadeira) porque dispõe de métodos especiais para isto. 
Os monócitos são fagócitos que se originam na medula óssea e têm uma meia vida 
circulante de 1 a 3 dias. Quando os monócitos migram para o espaço extracelular eles passam 
a se chamar de macrófagos, podendo ter nomes especiais conforme o local em que se 
encontrem, como por exemplo: células de Küpffer no fígado, micróglia no SNC, macrófagos 
alveolares no pulmão, etc... Existe um conceito por aí, de que os macrófagos são os maiores 
"comilões" do organismo, o que não é verdadeiro. Embora eles estejam sempre a postos e por 
isto são as primeiras células a se ver frente a frente com o inimigo (acabando, por isso, por 
ingerí-lo), matá-lo por digestão intracelular não é o seu forte.Seu principal papel parece ser o 
de sentinela, avisando da presença do inimigo, e, através da secreção de substâncias, atraindo 
outros fagócitos mais eficientes. Durante os períodos de paz estas células servem para ingerir 
restos celulares e partículas inertes numa verdadeira operação de limpeza. 
O grande fagócito do organismo é o neutrófilo, o qual dispõe de métodos altamente 
sofisticados para a digestão de antígenos. O único problema é que ele é "meio ceguinho", ou 
seja, tem pouca habilidade intrínseca para distinguir o que é um antígeno daquilo que é próprio 
do organismo e, para a seleção do seu alvo, está na dependência de outros elementos do 
sistema imune. Se a identificação for inapropriada, a ação destrutiva dos neutrófilos pode se 
fazer contra elementos do próprio organismo. 
Os eosinófilos são também bons fagócitos e seus pratos preferidos são invasores de 
grande porte como os parasitas. Os basófilos provavelmente não têm muita importância na 
fagocitose. 
 Quando um fagócito não está envolvido com invasores ou com a limpeza dos próprios 
restos celulares diz-se que ele está em estado de repouso andando para lá e para cá, com seu 
metabolismo em nível basal. Para que ele comece a funcionar deve passar para um estado 
ativado, o que acontece quando ele recebe estímulos, via receptores de membrana 
citoplasmática, que transmitem sinais de ativação para citoplasma e núcleo. Só os eosinófilos 
parecem estar sempre num estado de agitação crônica. Eles têm um nível basal de resposta 
que os outros fagócitos não têm, só que, quando recebem sinal de ativação, não conseguem 
ficar tão ativados quanto os outros. 
18 
 
 
 
 
Está servida a refeição ... Houve um imunologista que disse que “os fagócitos não engolem os 
micróbios a menos que alguém passe manteiga neles”. Ora, a manteiga nada mais é do que a 
opsonina, uma substância que, como já vimos anteriormente, facilita a fagocitose. Existem 3 
tipos de opsoninas: 
1. - os anticorpos IgG (porção Fc); 
2. - a fração C3b do componente C3 do complemento; 
3. - certos carboidratos e proteínas que se ligam a carboidratos como, por exemplo, manose, 
fucose e resíduos de glicoproteínas. 
O fagócito dispõe de receptores para a porção Fc da IgG e para o complemento (CR). 
O terceiro grupo de opsoninas se liga à superfície do fagócito por reações químicas com 
oligossacarí-deos da membrana citoplasmática. 
Agora pare e pense bem ... Não é um paradoxo que, um sistema imune não 
antecipatório que, supostamente tem que dar conta do inimigo já nos primeiros estágios de 
infecção, dependa da formação de um anticorpo para funcionar como opsonina, o qual, por 
sua vez, é um elemento do sistema antecipatório? 
A melhor explicação para isto é a de que o fagócito se utiliza de um mecanismo 
alternativo a opsonização, além de ser capaz de fagocitar bactérias não opsonizadas. As 
bactérias sem cápsula são passíveis de fagocitose sem opsonização porque têm uma superfície 
hidrofóbica que permite um contato direto com a membrana do fagócito. Já as capsuladas são 
altamente hidrofílicas e repelem os fagócitos que se aproximam. Aliás, foi exatamente para se 
livrar dos fagócitos que estas bactérias desenvolveram cápsulas... O mecanismo alternativo à 
opsonização seria aproximação entre fagócito e bactérias via interação de lecitina e 
oligossacarídeos. Outras possibilidades são a fagocitose de bactérias opsonizadas por 
complemento ativado via alternativa e, finalmente, opsonização com anticorpos já existentes 
que porventura reajam com alguns dos componentes existentes nas bactérias em questão, em 
geral elaborados pelas células B1. 
 
A fase da digestão... Depois que a partícula se fixa na membrana do fagócito ela é engolfada 
formando uma vesícula, o fagossomo, que nada mais é do que uma bolsa formada ao redor do 
elemento estranho, às custas de membrana citoplasmática. O citoplasma dos fagócitos está 
repleto de pequenos vacúolos que estão cheios de enzimas. Esses vacúolos se chamam 
grânulos nos neutrófilos e lisossomos nos macrófagos; a principal diferença entre elas está no 
seu conteúdo enzimático. Os grânulos e os lisossomos estão se movendo livremente e sem 
direção definida dentro da célula. Assim que o vacúolo fagocítico começa a se formar estes 
grânulos colidem com o fagossomo e se aderem a ele despejando todo o seu conteúdo (e 
formando um fagolisossomo). De verdade, o esvaziamento do conteúdo enzimático para 
dentro do fagossomo começa quando ele ainda não se fechou completamente e pode existir 
escape de enzimas para o meio extracelular, naturalmente, com todo o potencial de lesão do 
mesmo. 
Uma das consequências da degranulação é a acidificação do fagossomo, a qual facilita 
a morte do organismo ingerido. Além da bactéria não conseguir sobreviver em meio ácido, 
muitas das enzimas funcionam melhor neste meio. 
 
O que fazer com as sobras... Sempre que o fagócito destrói o elemento invasor aproveita 
muito da sua matéria prima, como por exemplo, aminoácidos, açúcares e nucleotídeos, os 
quais são reutilizados no metabolismo da célula. O problema é com os restinhos indigeríveis. 
Para eles, o fagócito tem 3 opções possíveis, que são: a defecação, a indigestão ou a morte. Se 
ele optar pela primeira possibilidade, irá despejar no meio extracelular não só os restos 
indesejáveis como também muitas enzimas potencialmente danosas. A segunda alternativa 
leva o fagócito a estocar material indigerível dentro dos lisossomos, os quais se fundem e 
formam uma grande vesícula cheia de lixo. Optando por esta possibilidade o fagócito fica 
19 
 
 
 
"cronicamente constipado" e isto também não é bom para o organismo. Na última opção, o 
fagócito acumula o material indesejável em tantos quantos vacúolos ele conseguir e, após isto, 
ele morre. O "cadáver" é expelido do corpo na forma de secreções purulentas etc... Esta última 
forma de opção parece ser a mais adequada e a mais frequente. 
Quando uma célula exerce a fagocitose, segue-se um pico de consumo de oxigênio por 
esta célula. Este consumo de oxigênio não tem nada a ver com o processo respiratório o qual 
é executado pelas mitocôndrias. Na realidade, ele depende de um conjunto de enzimas - o 
complexo NADPH oxidase, que existe na membrana da célula (e também na membrana do 
fagossomo, a qual é a própria membrana da célula invaginada). A finalidade deste conjunto de 
reações é converter oxigênio molecular em ânion superóxido, peróxidos, oxigênio singlet e 
radicais hidroxilas. Destes, os 3 primeiros representam radicais de oxigênio livre; o radical 
hidroxila não é um radical de oxigênio livre mas também é altamente reativo. Devido a este 
alto grau de reatividade, estas substâncias são altamente tóxicas, atacando as partículas que 
são ingeridas. O ânion superóxido, por ser uma substância altamente instável, não tem tempo 
de participar deste ataque, mas se transforma em outros radicais de oxigênio livre que serão 
os elementos ativos. O peróxido de hidrogênio é um agente germicida bem conhecido e sua 
atividade aumenta ainda mais quando reage com agentes halogenados. Da interação com 
cloretos, por exemplo, resulta a formação do ácido hipocloroso que é, também, agente 
bactericida. 
Ao contrário dos elementos oxidantes, os quais têm vida curta e são incapazes de 
selecionar seu alvo, as enzimas proteolíticas contidas nos grânulos permanecem ativas por um 
longo período de tempo e se dirigem para um substrato selecionado, podendo catalisar uma 
mesma reação diversas vezes. Os grânulos dos neutrófilos contem um grande número de 
enzimas, porém 3 delas nos interessam de perto pelo grande potencial de destruição tissular: 
a elastase e duas metaloproteinases (a colagenase e a gelatinase). Não deixa de ser 
interessante notar o fato de que enzimas como colagenases e gelatinases são liberadas como 
pró-enzimas (inativas) e necessitam de exposição aos radicais de oxigênio livre para a sua 
ativação. 
Os grânulos dos eosinófilos têm várias enzimas com propriedades anti-inflamatóriascomo histaminase, arilsulfatase e fosfolipase D e, por isso estas células parecem desempenhar 
um fator regulador no término do processo inflamatório. 
Quanto aos basófilos, as suas funções não são bem compreendidas. Acredita-se que 
mediadores liberados pelos basófilos aumentem a permeabilidade vascular e assim melhore a 
entrega de outros elementos da resposta imune. Os basófilos têm em sua superfície receptores 
para IgE, C3a e C5a. A ligação de receptores para IgE com a imunoglobulina e a ligação desta 
com o antígeno pode levar a liberação de seus grânulos que são ricos em histamina, proteases 
neutras e mediadores da resposta de hipersensibilidade imediata (anafilaxia). 
 
A NETOSE – Embora a função mais conhecida de um neutrófilo seja a de eliminar o elemento 
estranho por digestão enzimática, descobriu-se recentemente que estas células são, na 
verdade, muito mais sofisticadas do que parecem à primeira vista. Uma dessas descobertas 
mostra que o neutrófilo é capaz de eliminar microorganismos, formando uma rede com a sua 
própria cromatina (DNA + histona) misturada com suas enzimas lisossômicas. A cromatina 
pode se originar do seu núcleo ou das mitocôndrias. Esta rede tem um aspecto de “teia de 
aranha” na qual os microorganismos ficam presos e são eliminados. Isto acontece mais 
comumente com um tipo de neutrófilo menorzinho chamado de neutrófilo de baixa 
densidade. Nesta brincadeira o PMN pode ou não morrer. A exposição do material 
intranuclear e das enzimas lisossômicas ao meio extracelular - que é um material que 
mormalmente fica escondido dentro da célula - pode parecer “novidade“ ao sistema imune 
e despertar autoimunidade. Pacientes com lúpus parecem ser mais propendos a ter PMNs que 
façam netose. 
 
20 
 
 
 
 
 
Figura 1.8 - Mecanismo esquemático da netose 
 
 
O PROCESSO INFLAMATÓRIO - Os sinais clássicos da inflamação, calor, rubor, dor e tumor já 
são conhecidos de longa data tendo sido descritos por Celsus no século I A.D. Inicialmente 
considerada um fenômeno deletério, à medida que os conhecimentos sobre a sua 
fisiopatologia foram elucidados, passou a significar defesa contra agentes infecciosos. É bem 
verdade que, em certas situações, a resposta inflamatória é de tal magnitude que o organismo 
bem que passaria melhor sem ela... Situações em que existe doença por causa de um 
funcionamento inadequado do processo inflamatório são chamadas de autoinflamatórias. 
Todo o processo de inflamação começa quando um macrófago encontra um elemento 
estranho... Células dendriticas ou macrófagos são células que ficam rondando os tecidos 
exatamente para isso. Para cuidar que nenhum elemento invasor entre. Ele se comporta de 
uma maneira muito parecida com a de um cachorro tomando conta do terreno baldio. O que 
acontece quando um ladrão entra? O cachorro late e assim atrai a atenção de outras pessoas 
para ajudá-lo ou, ainda, morde o ladrão. Pois bem, é o que macrófago faz. Ele “late” citocinas 
chamando o processo inflamatório e morde o ladrão para transformá-lo em epítopes 
antigênicos que serão apresentados ao linfócito T junto com o HLA. Bem, este segundo pedaço 
nós já vimos com a atuação do sistema imunológico específico. Vamos ver, portanto, o 
primeiro: o processo inflamatório. Mas, antes disso, uma pergunta. Como o macrófago sabe 
que o ladrão é um ladrão? Ou seja, como ele reconhece que o elemento é um invasor e o 
distingue das próprias células do organismo? Porque ele tem receptores para isso. Os mais 
conhecidos são chamados de receptores Toll like que reconhecem estruturas que são muito 
comuns nos micro-organismos chamadas de PAMPs (Padrão Molecular Associado a Patógeno). 
Os Toll like não são os únicos receptores, mas são os mais reconhecidos e por isso vamos nos 
concentrar neles. Existem receptores Toll like que ficam na superfície do macrófago: alguns 
reconhecem lipopolissacarideos de bactérias gram negativas, outros reconhecem flagelina 
etc... vejam que não interessa quem tem essa molécula. O receptor simplemente reconhece a 
molécula e ...pronto! Sem mais perguntas. Por isso que este mecanismo está nos sistema 
inespecífico. Entretanto existem micro-organismos que entram na célula e que tem que ser 
reconhecidos como estranhos lá mesmo, dentro dela. É o caso dos vírus. Então existem 
receptores Toll like que são intracelulares e que reconhecem DNA e RNA viral. São os 
receptores 3,7,8 e 9. 
21 
 
 
 
Uma vez reconhecido o elemento estranho o macrofago fabrica citocinas como IL-1. 
IL-6 e TNF-α. A IL-1 e TNF-α chegam ao vaso mais próximo e desencadeiam o processo 
inflamatório. 
Num período inicial, logo após o estímulo pelas citocinas ocorre uma vasoconstrição 
transitória seguida de uma vasodilatação. A vasodilatação, em uma primeira fase, promove 
transudação de líquido de baixo teor proteico. À medida que o processo progride, formam-se 
espaços entre as células endoteliais resultando numa exsudação de macromoléculas para fora 
do vaso. Esta perda de plasma acarreta num aumento de viscosidade sanguínea local e estase 
dos eritrócitos. Nesta fase, leucócitos aderem ao endotélio vascular, em um processo chamado 
de marginalização, e se espremem, passando através dos espaços entre as células endoteliais 
e membrana basal, indo ganhar o espaço extracelular, onde está o inimigo. 
Recentemente as questões da marginalização e da diapedese das células para fora do 
vaso têm recebido considerável atenção. É que se descobriu um grupo de substâncias 
responsáveis por este processo. Assim sendo, pode-se pensar no que fazer para impedir que 
ele aconteça e, assim, inibir a inflamação. 
Vamos parar um pouquinho para tentar entender o que acontece aqui. Quando o 
leucócito vem “rolando” dentro do vaso e chega num local onde ele deve passar para fora do 
mesmo, as células daquele lugar (leucócitos, plaquetas e células endoteliais) passam a 
expressar um grupo de moléculas chamadas de moléculas de adesão. As primeiras delas são 
as seletinas. Este grupo de moléculas é suficiente para desacelerar o fluxo dos leucócitos, mas 
não é suficiente para imobilizá-los completamente. É como quando alguém lança um anzol; o 
peixe fisgado não consegue ir longe, mas também não sai pulando para fora d’água. Pois bem... 
quem vai puxar o peixe para fora da água, ou melhor, segurar o leucócito e permitir que ele 
penetre dentro do vaso para sair do lado de lá, são outras moléculas, as integrinas e as 
pertencentes à superfamília das imunoglobulinas. São estas moléculas que medeiam a fase 
definitiva da adesão para que ocorra o extravasamento dos leucócitos para os sítios de 
inflamação. As integrinas se localizam no lado do leucócito e as moléculas da superfamilia das 
imunoglobulinas se localizam no endotélio vascular. 
É interessante notar que, embora tenhamos falado das moléculas de adesão no 
processo inflamatório elas também atuam em outras células como, por exemplo, os linfócitos 
auxiliando-os a se localizarem nos pontos corretos. Além disso, desempenham um papel muito 
importante na coagulação sanguínea, na embriogênese, na osteoporose (agindo como 
elementos de ligação entre os osteoclastos e o a superfície do osso), em câncer, e, 
naturalmente, em muitas doenças infecciosas dentre outros. 
 
 
 
 
Figura 1.9 Processo inflamatório 
22 
 
 
 
 
Voltando ao processo inflamatório, os fagócitos que saíram do lado de lá do vaso e 
chegaram aos pontos de inflamação, engolfam partículas estranhas, bactérias, restos celulares 
e cristais. A fagocitose, como já foi visto, leva a uma eliminação dos elementos indesejáveis, 
mas o processo por vezes leva a um extravasamento de materiais de dentro da célula que 
provocam mais lesão tecidual ainda. Isto acontece quando o fagócito morre ou quando existe 
ruptura das membranas dos fagolisossomos dentro da própria célula, (o que não é raro quando 
o fagócito ingere cristais pontudos, como os de urato, que causam perfuração no sistema 
vacuolar). Outros mecanismos incluem extrusão de grânulos lisossômicospara o fagossomo 
que ainda não havia se fechado completamente e a endocitose reversa - que é provocada por 
uma perturbação na membrana do fagócito que libera seu conteúdo granular. Esta 
perturbação acontece quando o fagócito encontra complexos imunes ou agregados de 
imunoglobulinas depositados em superfícies sólidas de tamanho grande demais para serem 
abocanhados pela célula. 
 
Mediadores do processo inflamatório- Mediador é um termo mal definido que serve para 
designar um grupo heterogêneo de substâncias que, apesar de estarem presentes em 
concentração muito baixa no organismo, são capazes de provocar respostas marcantes, as 
quais são muito importantes para a nossa defesa. Eles agem sobre a musculatura lisa 
(contração ou relaxamento), sobre a parede do vaso (causando aumento ou diminuição da 
permeabilidade) e na quimiotaxia. Existem vários mediadores inflamatórios. Alguns podem 
estar prontos e estocados nas células sendo liberados por ocasião da inflamação; outros são 
fabricados conforme a necessidade. Os principais são: derivados do ácido aracdônico, 
histamina, serotonina, heparina, bradicinina, fator de ativação plaquetário etc. Aqui, nós 
vamos nos concentrar nos derivados do ácido aracdônico. 
Lembra-se de que os fosfolipídeos são os principais constituintes da membrana 
plasmática, e que eles se compõe de uma "cabeça" polar e de duas "caudas" de ácidos graxos? 
Pois um desses ácidos graxos é o ácido aracdônico. Quando uma célula sofre uma injúria 
qualquer ou é estimulada de alguma maneira ocorre liberação deste ácido aracdônico. Se a 
perturbação da membrana plasmática é do tipo inespecífico (por ex: traumática) existe uma 
liberação de pequenas quantias de ácido aracdônico. Por outro lado, se o estímulo é específico, 
determinado pela ocupação de receptores, a liberação é grande. Neste último caso, a liberação 
do ácido aracdônico é determinada por uma enzima, a fosfolipase. O ácido aracdônico que foi 
liberado tem vida muito curta. Ele é oxidado imediatamente por várias enzimas, seguindo dois 
caminhos principais: ou ele se submete à ação da ciclo-oxigenase o que irá dar origem a várias 
prostaglandinas, prostaciclina e tromboxane; ou ele se submete à ação das lipo-oxigenases, o 
que irá originar leucotrienos e lipoxinas. Acompanhe a sequência no esquema da figura 1.10. 
 
 
Figura 1.10- Metabolismo do ácido aracdônico 
23 
 
 
 
As prostaglandinas têm este nome devido à falsa crença de que eram elaboradas na 
próstata e estocadas na vesícula seminal. 
O tromboxane (TX) é importante para a agregação plaquetária; a prostaclicina é a 
prostaglandina PGI2 e tem um efeito oposto ao do tromboxane. As outras PGs têm um efeito 
biológico variado no aparelho reprodutor feminino, nas secreções gástricas, no controle da 
pressão arterial e no processo inflamatório. Em altas concentrações agem diretamente nos 
receptores de dor e no centro hipotalâmico causando febre. 
Os leucotrienos não contem anéis em sua estrutura. Os leucotrienos C4, D4 e E4 
influem na contração de musculatura lisa principalmente da pele e pulmões. Estas substâncias 
eram chamadas originalmente de SRS-A ou slow-reacting substance of anaphylaxis. O 
leucotrieno B4 tem um papel importante no processo inflamatório por ser quimiotático. As 
lipoxinas causam contração de músculos lisos, vasodilatação da microcirculação, quimiotaxia, 
e inibem a atividade das células natural-killer. 
Prostaglandinas, prostaciclinas, tromboxane, leucotrienos e lipoxinas são fabricadas 
"sob medida" conforme a necessidade. Quando a célula é estimulada a sua síntese começa em 
10 a 30 segundos, se mantém pelos próximos 1-5 minutos, e, daí pára. 
De acordo com o padrão de enzimas existentes no tecido, existe predominância para 
fabricação de um determinado tipo de prostaglandina, que irá servir para as necessidades 
específicas daquele tecido. Desta maneira, plaquetas fazem quase só tromboxane, células 
endoteliais preferem a prostaciclina, células de túbulo renal fazem PGE2 etc... 
Recentemente descobriu-se que não existe apenas uma ciclo-oxigenase e sim duas 
delas, que são abreviadamente chamadas de COX-1 e COX-2. A COX-1 é a enzima responsável 
por fabricar as prostaglandinas necessárias para as funções fisiológicas, ou seja, aquelas 
prostaglandinas que servem para fabricar o muco do estômago, para manter o fluxo sanguíneo 
renal, etc... A COX-2 entra em ação quando existe um estímulo inflamatório e as 
prostaglandinas que ela fabrica são pró-inflamatórias e destinadas a atender o organismo em 
uma situação de exceção. Voltaremos a comentar este assunto ao tratar dos anti-inflamatórios 
não hormonais, uma vez esta enzima é um dos seus pontos de ação. 
Os leucotrienos e lipoxinas são produzidos só por células brancas, o que aliás, já está 
sugerido pelo seu nome. 
 
 
COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECÍFICO. 
 
 Os componentes celulares do sistema imunológico inespecífico podem ser dividos em 
tres grupos principais: (a) células linfoides inatas; (b) células semelhantes à célula B; (c) células 
T não convencionais. Veja no quadro abaixo a subdivisão estes grupos. 
 
QUADRO 1.6 - CÉLULAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO INESPECIFICO 
1-Grupo das células linfoides inatas Células NK 
Celula linfoide (CL)-1 
Célula linfoide (CL)-2 
Célula linfoide (CL)-3 
2-Grupo das células semelhantes à célula B Celula B1 
Celula B da zona marginal 
Celula B10 
3- Grupo das células T não convencionais Células NKT 
Células T γδ 
Celulas MAIT(Mucosal Associated Innate T cell) 
 
24 
 
 
 
 As celuals NK, lá do primeiro grupo, são muito importantes para defesa contra 
tumores e células infectadas por vírus. Elas ficam sabendo que estas células não estão normais 
porque percebem modificações na molécula de histocompatibilidade classe I da superfície das 
células tumorais ou infectadas. Quando ativadas as células NK liberam grânulos com material 
citotóxico. Sua ação acontece sem que a célula NK tenha tido contato anterior com o elemento 
estranho. As célula C1, C2 e C3 são células que “ espelham” a atuação das células Th1, Th2 e 
Th17 respectivamente. As C1 fazem INF δ, as C2 fazem IL-4,IL-5, Il-9 e IL-13 e as células C3 
fazem IL-17e IL 22. Veja na figura abaixo a atuação das células linfoides do sistema inespecífico 
e a sua respectica “imagem refletida” do sistema imunológico especifico. 
 
 
 
Figura 1.11 - Atuação das células do sistema imunológico especifico e do inespecifico 
mostrando uma correspondência em “ espelho” 
 
 
 As células semelhantes aos linfócitos B são as células B1, as células B da zona marginal 
e as as células B10. As duas primeiras: as B1 e da zona marginal elaboram anticorpos do tipo 
IgM contra antígenos muito comuns na natureza. Elas nascem “ prontas” para fabricar este 
anticorpos não precisando passar por todo aquele processo do sistema especifico. A célula B10 
elabora IL-10 e tem características de uma célula reguladora. 
As do grupo das células T não variáveis são as NKT, os linfocitos T com receptor γδ e 
as células MAIT ou linfócitos T associado a mucosa. Os linfócitos MAIT eas NKT têm atividade 
citotóxica. 
 
ANTÍGENOS DE HISTOCOMPATIBILIDADE (HLAs) 
 
Quando um indivíduo é transplantado com tecido de outra pessoa, o tecido é 
destruído pelas células do seu sistema imune porque as células do doador têm, nas suas 
superfícies, proteínas estranhas, que agem como antígenos. São estas proteínas que 
determinam quem pode receber transplante de quem... Assim, para que o transplante tenha 
sucesso é necessário que estes antígenos sejam compatíveis. Por isso eles são chamados de 
antígenos de histocompatibilidade. Este termo é genérico, usado para várias espécies animais. 
No caso do homem eles recebem o nome mais "específico" de H.L.A. por terem sido 
identificados primeiramente nos leucócitos (H=human, L=leucocyte, A= antigen). Embora 
25 
 
 
 
tenham sido historicamente identificados nos leucócitos, sabe-se que sua distribuição no 
organismo é muito mais

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