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MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 1 TUTORIA 04 Incontinência Urinária - Problema de Saúde Pública Mundial; - Provoca grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, acarretando prejuízos sociais, econômicos, psicológicos e sociais; - Principais tipos: bexiga hiperativa e incontinência urinária de esforço; - Raramente acontece devido a bexiga neurogênica e a perdas extra-uretrais (fístulas urinárias); É importante saber que a continência urinária na mulher ocorre devido a: 1. Capacidade de transmissão da pressão abdominal para a bexiga e uretra e 2. Integridade anatômica e funcional das estruturas responsáveis pela sustentação A continência acontece por causa da presença de sustentação suburetral que durante o esforço funciona como suporte – comprime e oclui o trígono (orifícios ureterais e orifício interno da uretra): HAMMOCK SUBURETRAL. Para que isso ocorra de modo fisiologicamente normal é preciso que os músculos e ligamentos estejam em boa qualidade. E o principal músculo responsável por isso é o músculo elevador do ânus (pubovaginal, pubouretral, pubococcígeo, íleococcígeo) e o ligamento pubouretral. As contrações dessas fibras têm o objetivo de deslocar os órgãos (vagina) que leva a compressão da uretra, fechando-a. Além dos músculos, a ação dos ligamentos do assoalho pélvico é bastante importante para a sustentação e continência urinária. 1. Ligamento uretral externo 2. Arco tendíneo da fáscia endopelvica 3. Ligamento cardinal 4. Ligamento Uterossacrais 5. Ligamento pubouretral. O elevador do ânus se fixa a uma parte da vagina que se conecta também com a uretra e a bexiga, fazendo a sustentação dessas três áreas e compondo a área de elasticidade crítica. • Quando colocada sob pressão, essa parte da vagina permite a inibição dos receptores colinérgicos do trígono e na uretra proximal, inibindo a micção, o que oclui a via de saída vesical. Esse músculo (elevador do ânus) é inervado por fibras sacrais e que traumas obstétricos podem lesá-las, diminuindo o tônus basal e enfraquecendo o HAMMOCK. Fisiologia da micção A bexiga funciona como reservatório para armazenamento e eliminação periódica da urina. Para que isso aconteça adequadamente é preciso que a musculatura lisa vesical relaxe e haja aumento coordenado do esfíncter uretral durante a fase de enchimento da bexiga e o oposto durante a micção. MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 2 Esse acontecimento envolve a complexa interação do sistema nervoso central, periférico e os fatores regulatórios locais – neurotransmissores. Inervação simpática: musculatura lisa Inervação parassimpática: musculatura lisa Inervação somática: musculatura estriada Enchimento Vesical Durante o enchimento vesical ocorre a ativação de receptores que mandam sinais aferentes onde são processados no centro pontino da micção. 1. Ativação descendente dos neurônios simpáticos que partem de T10 a L2 - a bexiga e uretra através do trígono e colo vesical; 2. Noradrenalina: estimular os receptores beta- adrenérgicos no detrusor, promovendo o relaxamento da musculatura lisa da bexiga. A noradrenalina também ativa receptores alfa-1- adrenérgicos no colo vesical e uretra, promovendo contração da musculatura lisa e aumento da resistência uretral. 3. Neurônios somáticos partem de S2 a S4 - acetilcolina, que age sobre receptores nicotínicos na musculatura estriada da uretra - aumento da resistência uretral. 4. Enquanto ocorre o enchimento vesical os neurônios parassimpáticos estão inibidos - S2, S3 e S4. No momento da micção, após o relaxamento esfincteriano uretral, os neurônios parassimpáticos são estimulados e liberam acetilcolina na placa neuromuscular das fibras do músculo detrusor, provocando sua contração através dos receptores muscarínicos M2 e M3 (o M2 ocorre em maior número, mas a ação é predominante através do M3). Definições É caracterizada pela perda involuntária da urina que se pode apresentar-se como: • Sintoma (referido pelo paciente) • Sinal (caracterizado pelo médico) • Condição (visto urodinamicamente) Pode ser caracterizada de várias formas: 1. Alterações vesicais (bexiga hiperativa, bexiga neurogênica e baixa complacência) 2. Alterações uretrais (hipermobilidade, deficiência esfincteriana e divertículo da uretra) 3. Alterações extra-uretrais A Segunda Conferência de Incontinência validou a classificação determinada pelos sintomas e condição urodinâmica: 1. IU de esforço (48%) 2. IU de urgência (17%) 3. IU mista (34%) 4. IU funcional (dificuldade miccional Bexiga Hiperativa (BH) DEFINIÇÕES Síndrome caracterizada pelos sintomas de frequência (número aumentado de micções ao longo do dia) e urgência miccional (desejo forte e súbito de urinar) com ou sem urge-incontinência (sente vontade, mas não consegue chegar ao banheiro a tempo). - Observa-se a Hiperatividade do Detrusor que consiste na presença da contração não inibida (involuntária) durante o enchimento vesical. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS - Segunda maior causa de incontinência nas mulheres, principalmente em idosas; - Pré-menopausa: 5 a 10% dos casos; - Pós menopausa: 40 % - o trato urinário tem a mesma origem embriológica do trato genital superior, sendo ricos em receptores estrogênicos. Assim, a redução dos níveis de estrogênio na pós menopausa leva a mudanças fisiológicas dos tecidos urogenitais. A menopausa e o MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 3 envelhecimento causam alterações no metabolismo do colágeno e no sistema musculo esquelético: • Adelgaçamento do epitélio uretral; • Esclerose do tecido conjuntivo da camada submucosa (uretra); • Diminuição do tônus da musculatura lisa; • Diminuição da musculatura do assoalho pélvico. OBS: pacientes com doenças neurológicas apresentam maior risco de ter incontinência urinária por hiperatividade do detrusor chegando a ter um índice de prevalência de 90%. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Pode ser multifatorial e envolve principalmente: • Hipersensibilidade à acetilcolina; • Aumento das fibras sensitivas na submucosa; • Diminuição do controle inibitório do SNC; • Atuação dos reflexos medulares latentes em pacientes neuropatias. A bexiga hiperativa e o prolapso da bexiga são muito comuns devido ao fato dos receptores químicos e de pressão localizarem-se no colo vesical. E por isso, a ausência do suporte vesical adequado e a presença de urina estimulam os receptores e desencadeiam contrações reflexas do músculo detrusor. - Com o colo vesical aberto a urina o alcança sem que haja relaxamento. A bexiga hiperativa pode estar associada a doenças secundárias, como: 1. Infecção urinária 2. Corpo estranho na bexiga 3. Litíase 4. Tumores Vesicais QUADRO CLÍNICO É caracterizada por sintomas como: 1. Urgência miccional (espontânea ou por esforço – 54% dos casos) 2. Aumento da frequência (85% dos casos) 3. Noctúria 4. Urge-incontinência (36% dos cas0s) 5. Perda de urina no ato sexual DIAGNÓSTICO Anamnese + exame físico (afasta diagnósticos secundários) + exames complementares (exclui causas secundárias). Disúria? Hematúria? Litíase? Uso de medicações? Realizações de cirurgias prévias para IUE? OBS: atente-se para alterações na marcha e na fala que sugerem doença neurológica: 1. AVC 2. Parkinson 3. Traumas 4. Cirurgias na coluna É preciso realizar teste de esforço com o paciente em pé e avaliação funcional do assoalho pélvico. E para investigar tais queixas, normalmente utiliza-se o diário miccional: 1. Volume 2. Horário 3. Evento 4. Houve perda? Pacientes com BH apresentam volumes menores de diurese. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares auxiliam na diferenciação dos diagnósticos.1. Uroanálise: análise do sedimento urinário e cultura da urina; 2. Glicemia: pacientes com idade maior que 35 anos é preciso investigar diabetes, pois a descompensação da doença sobrecarrega o trato urinário, além de causar neuropatia. 3. USG: avalia o trato urinário como um todo. Dilatações pielocaliciais, obstruções tumorais, cálculos e volume residual pós-miccional. 4. Teste urodinâmico: capaz de avaliar a função do trato urinário superior – queixas complexas, falha em teste terapêutico, volume residual elevado, cirurgia prévia de IUE, MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 4 sugestivo de doença neurológica, cistite intestinal 5. Uretrocistoscopia: pacientes com hematúria ou disúria intensa. TRATAMENTO Medicamentoso: está associado a drogas que promovem o relaxamento do músculo detrusor – ANTICOLINÉRGICOS. Os medicamentos mais utilizados dessa classe são os que atuam sobre os receptores muscarínicos: 1. Oxibutina: 2,5 a 30 mg/dia ✓ Menor seletividade para o M3 (receptores da contração vesical); ✓ Maiores efeitos colaterais: boca seca, constipação, sonolência, náuseas, vômitos, cefaleia e vertigem 2. Tolterodina 2 a 4 mg/dia ✓ Maior afinidade com o M3 (50 a 70% dos sintomas melhoram) ✓ Alto custo Ambos os medicamentos possuem liberação lenta com posologia 1x ao dia. Além disso, existe antidepressivos, como a imipramina que apresentam efeito relaxante do músculo detrusor devido a seu efeito serotoninérgico. Recomenda-se o uso de hormonioterapia tópica devido a atrofia genital associada a bexiga hiperativa. Fisioterapia: • Tratamento comportamental (micções de horário) • Fortalecimento do assoalho pélvico (exercício de Kegel e conscientização sobre a contração dos músculos) • Eletroestimulação (estímulo dos sítios periféricos) • Biofeedback (sinais táteis, visuais e audíveis que ajudam na contração seletiva) Incontinência urinária de esforço (IUE) DEFINIÇÃO - Principal causa de IU feminina. É definida por qualquer perda involuntária de urina pelo meato uretral em momentos de esforço físico. Acontece normalmente quando a pressão máxima de fechamento uretral é maior que a pressão vesical. Pode ser dividido pela forma funcional, anatômica e pelo estudo urodinâmico. 1. Hipermobilidade do colo vesical 2. Defeito no esfíncter da uretra ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Fatores de risco: 1. Envelhecimento 2. Gravides 3. Parto vaginal: é a principal causa de danos ao assoalho pélvico, lesões ao corpo perineal, suporte pélvico e esfíncter anal. 4. Menopausa 5. Obesidade: o excesso de peso sobrecarrega e traumatiza os músculos e as fáscias responsáveis pelo suporte. 6. Fatores genético (metabolismo do colágeno) 7. Tosse crônica (DPOC) 8. Trabalhar o dia todo em pé 9. Levamento excessivo de peso QUADRO CLÍNICO - Perda de urina associada aos esforços - Prolapso genital (sensação de bola na vagina) DIAGNÓSTICO Achados clínicos e urodinâmicos É preciso atentar-se a comorbidades e atividades que cursam com aumento da pressão abdominal. 1. Uso de fármacos (diuréticos ou alfa bloqueadores); 2. Uso de cafeína; 3. Ingesta hídrica; MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 5 4. Tabagismo 5. Diabetes Miellitus 6. Ciclo Menstrual 7. Neuropatias 8. Afecções da coluna 9. Infecção urinária 10. Mal-formações geniturinárias 11. Cirurgias pelvicoginecológicas 12. Partos 13. Número de gestações 14. Uso de fórceps 15. Peso do recém-nascido EXAME FÍSICO 1. Toque vaginal: investiga prolapso e tumores pélvicos 2. Teste do cotonete: mobilidade uretral 3. Manobra de Valsava: observa-se a presença ou não da perda de urina 4. Neurológico: sensibilidade perineal e dos reflexos sacrais EXAMES COMPLEMENTARES 1. Urocultura 2. Urina tipo I 3. Teste do absorvente 4. USG transperineal: avaliar a mobilidade 5. Estudo urodinâmico TRATAMENTO Hipermobilidade do colo vesical: 1. Fisioterapia 2. Cirurgia (quando a fisioterapia é falha) – sling sintéticos Defeito no esfíncter 1. Correção cirúrgica 2. Fisioterapia O impacto da idade na incontinência urinária Em qualquer faixa etária, a continência urinária não depende somente da integridade do trato urinário inferior. Alterações da motivação, da destreza manual, da mobilidade, da lucidez e a existência de doenças associadas (diabetes mellitus e insuficiência cardíaca, entre outras) estão entre os fatores que podem ser responsáveis pela incontinência urinária, sem que haja comprometimento significativo do trato urinário inferior. Embora essas alterações sejam raras nos pacientes jovens, são freqüentemente encontradas no idoso e podem agravar ou causar incontinência urinária. • Força de contração da musculatura detrusora • Capacidade vesical • Habilidade de adiar a micção aparentemente diminuem, no homem e na mulher • Contrações involuntárias da musculatura vesical e o volume residual pós-miccional aumentam com a idade em ambos os sexos A pressão máxima de fechamento uretral, o comprimento uretral e as células da musculatura estriada do esfíncter alteram-se predominantemente nas mulheres. Além das alterações decorrentes da senilidade dos tecidos, doenças próprias do indivíduo idoso também contribuem para o desenvolvimento de incontinência urinária. 1. Hiperplasia prostática benigna, que está presente em aproximadamente 50% dos homens aos 50 anos de idade, em metade dos quais causa obstrução ao fluxo urinário e acarreta alterações significativas do trato urinário inferior, como a instabilidade do músculo detrusor. Uma possível explicação para este fato é que, nos idosos, a característica das contrações involuntárias, de menor amplitude, necessitem de alterações estruturais e funcionais do esfíncter uretral para que ocorra a urge- incontinência. 2. Trofismo vaginal 3. Presença de distopias também influenciam a presença da urge-incontinência. Uma das alterações mais freqüentes do hábito urinário no idoso é a noctúria. Alterações hormonais decorrentes do envelhecimento, como o aumento na secreção de vasopressina e do hormônio natriurético, podem resultar na eliminação preponderante dos líquidos ingeridos (durante o dia) no período noturno, mesmo na ausência de insuficiência venosa, insuficiência cardíaca, doenças renais ou obstrução prostática. Essas mudanças, associadas à ocorrência de distúrbios do sono fazem com que pessoas com mais de 65 anos apresentem 1 a 2 episódios de noctúria mesmo na ausência de qualquer enfermidade. MILENA CARVALHO QUEIROZ MIRANDA – MEDICINA V – UNIFASB 6 Como essas alterações também são encontradas em indivíduos idosos continentes, não podemos apontar nenhuma delas como causa da incontinência urinária, mas fatores predisponentes que, associados à maior probabilidade de os indivíduos idosos apresentarem alterações psicológicas, efeitos colaterais a medicações e doenças concomitantes, explicam a maior susceptibilidade à incontinência urinária. A identificação de fatores que predispõem à incontinência urinária não localizados no trato urinário inferior é de fundamental importância para que possamos abordar a incontinência urinária de maneira adequada.
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