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Esclerose Sistêmica Quezia Brito CONCEITO Anteriormente chamada de esclerodermia, esclerose sistêmica progressiva É uma doença autoimune crônica, caracterizada por acometimento vascular principalmente da microcirculação e vasos de pequeno calibrem que evolui para endarterite, proliferativa isquêmica, associada a fibrose cutânea e visceral 3:1 mulheres para homens, podendo chegar a 10:1 no período reprodutivo (estrógeno: favorece um meio inflamatório) É pouco frequente em crianças e adolescente Costuma manifestar-se entre a 3ª e 6ª década de vida ETIOPATOGÊNESE →Ativação do sistema imune: inflamação macrófagos, linfócitos B, T, citocinas e quimocinas →Alterações vasculares: células endoteliais, adesão e atração de leucócitos, hipoxia tecidual →Aumento da deposição de matriz extracelular e colágeno: ativação dos fibroblastos = fibrose Suscetibilidade genética: ✓Agregação familiar, fatores étnicos, associação da doença com determinados alelos do HLA e associação com polimorfismos gênicos ✓Risco em familiares de primeiro grau: 1,6% ✓Risco na população geral: 0,026% Fatores ambientais: gatilhos ✓Solventes orgânicos: tolueno, benzeno, cloreto de polinivil e tricloroetileno ✓Sílica ✓Uso de inibidores do apetite ✓L-triptofano ✓Pentazocina ✓Bleomicina QUADRO CLÍNICO Espessamento cutâneo + telangiectasias + pitting scars + autoamputação de dígitos + garra esclerodérmica Faz parte do grupo de doenças do tecido conjuntivo: caráter heterogêneo, gravidade associada à extensão da fibrose cutânea e do envolvimento dos órgãos internos Fibrose cutânea (esclerodermia): remodelação tecidual anormal e fibrose excessiva Disfunção vascular: ✓fenômeno de Raynaud verdadeiro (primeira manifestação) ocorre em 95% dos pacientes; pode ser secundário a causas como tabagismo, uso de alfa adrenérgicos, doenças vasculares, instrumentos vibratórios, idiopática: chamada de doença de Raynaud A fase de rubor pode estar ausente ✓Necrose e lesões ulceradas digitais ✓Microcicatrizes: “pitting scars” ✓Autoamputação das pontas dos dedos/dígitos: alta dor FORMAS CLINICAS Esclerodermia localizada: afeta apenas a pele, sem acometimento visceral ✓Morfeia em placa ✓Esclerodermia linear: limita-se um dermátomo ✓Morfeia generalizada Esclerose sistêmica ✓Esclerose sistêmica cutânea limitada →O espessamento cutâneo é restrito às extremidades dos membros e face →É tipicamente associado à presença de anticorpos anticentrômero →Pode ocorrer hipertensão arterial pulmonar em fases tardias ✓Esclerose sistêmica cutânea difusa →O espessamento cutâneo é precoce →Região proximal dos membros e tronco →Fibrose pulmonar e a crise renal esclerodérmica são mais frequentes →Anticorpos predominantes são o anti-Scl70 (anti-topoisomerase 1) e o anti-RNA polimerase 3 ✓Esclerose sistêmica sine scleroderma: sem manifestação cutânea Disfunção cutâneas: existe o escore de Rodnan: 0 é pele normal, 1 é espessamento leve, 2 é espessamento moderado e 3 é espessamento importante; três fases de envolvimento cutâneo são descritas →Fase edematosa: fase inflamatória, por edema difuso, depressível, inicialmente em mãos e pés (puffy fingers), pode durar meses; ótima fase para fazer imunossupressão →Fase indurativa: regressão do edema e ocorre o endurecimento progressivo da pele (deposição de colágeno), iniciando-se nas extremidades e progredindo em sentido proximal; não adianta fazer imunossupressão na fibrose →Fase atrófica: pele se troca atrófica, fina e aderida aos planos profundos, deixando aparente os estigmas da doença (garra esclerodérmica: flexão, ausência de rugas nas articulações dos dedos, a microstomia: afinamento dos lábios e incapacidade de abrir a boca completamente, o afilamento do nariz e a perda progressiva dos anexos): face esclerodérmica ✓Telangiectasias ✓Deposição de cálcio na pele: calcinose de extremidades (raioX) ✓Dilatação das extremidades dos capilares no leito ungueal + deleção capilar: avaliados na capilaroscopia; avalia prognóstico também Disfunção gastrointestinais: observadas em mais de 90% dos pacientes, podendo acometer qualquer sítio do TGI; ocasiona uma atrofia de musculatura lisa devido a lesão vascular e neurogênica ✓Dismotilidade esofágica presente em quase todos os pacientes, mesmo assintomáticos ✓Disfagia: musculatura de terços médio e inferior/distal do esôfago ✓Peristalse anormal e relaxamento do esfíncter esofágico inferior: refluxo/metaplasia de Barret ✓Estômago: dor epigástrica em queimação, náuseas, saciedade precoce, empachamento, perda de sangue: telangiectasias, gastrite ou ectasia vascular do antro gástrico (GAVE): estômago e melancia ✓Intestino: dismotilidade intestinal, dilatação e atonia das alças intestinais (síndrome de absorção e supercrescimento bacteriano: diarreia e constipação), telangiectasias (perda de sangue oculto intestinal), pseudo-obstrução intestinal e pneumatose cística intestinal (menos comuns), incompetência esfincteriana anal Disfunção pulmonares: maiores causas de mortalidade: pneumopatia intersticial e hipertensão arterial pulmonar; ✓pneumopatia intersticial (PI): →mais frequente: 60-90%; →é mais comum na forma cutânea difusa; →inicialmente é assintomática evoluindo para dispneia progressiva e tosse seca; →ao exame: presença de estertores crepitantes, principalmente em bases pulmonares; →anticorpo antitopoisomerase 1 (anti-Scl 70): fibrose pulmonar grave; →anticentrômero e anti-RNA polimerase 3: risco reduzido de PI Imagem em favo de mel Vidro fosco Fibrótico Inflamatório ✓hipertensão arterial pulmonar: quando a vasculopatia primária acontece na artéria pulmonar, diminuindo o lúmen do vaso: hipertensão →Secundária à doença cardíaca, à hipoxemia pelo acometimento intersticial pulmonar ou tromboembolismo crônico →Prevalência: 5-50% →Mais associada à forma cutânea limitada, mas pode estar presente na difusa também →Anticentrômero + é igual a risco aumentado →Assintomático: dispneia rapidamente progressiva e insuficiência cardíaca direita →Mortalidade alta: 40-6-% em 2 anos Disfunção cardíaca: indica mau prognóstico; pode acometer pericárdio e miocárdio ✓Derrame pericárdico: 40% dos pacientes na ecocardiografia (7-20% são sintomáticos devido a pericardite ou pela presença de derrame pericárdico); é fator de risco para crise renal esclerodérmica ✓Tamponamento cardíaco: é raro ✓Miosite/fibrose: pode evoluir para insuficiência cardíaca ✓Paciente possuem taxas mais elevadas de doença coronariana ✓Acometimento valvar é raro ✓Arritmias: fibrose nas vias de condução Disfunção renal: ✓Crise renal esclerodérmica: hipertensão arterial de início recente com disfunção real (ureia e creatinina) →Microangiopatia/elevação dos níveis de renina, (pois o organismo entende a isquemia como falta de sangue) aumento da PA →10% dos pacientes com ES cutânea difusa, ocorrendo geralmente nos primeiros 3-5 anos de doença →Fatores de risco: extensão do acometimento cutâneo, presença de crepitações tendíanea, positividade do anti-RNA polimerase 3, anemia de início recente e derrame pericárdico →Acúmulo de matriz extracelular nos compartimentos glomerular e tubulointersticial, transformação epitelial e mesenquimatosa e alterações vasculares →Sinais e sintomas de hipertensão arterial maligna: dispneia, cefalia, distúrbios visuais, congestão pulmonar insuficiência renal rapidamente progressiva →Exames laboratoriais: anemia, presença de esquizócitos no sangue periférico, plaquetopenia, insuficiência renal, proteinúria e sedimento ativo Disfunção neurológica: são mais raras ✓Sistema nervoso central: cefalia, convulsões, comprometimento cognitivo ✓Sistema nervoso periférico: neuropatia trigeminal,polineuropatia sensoriomotora periférica e a síndrome do túnel do carpo traduzem o envolvimento do SNP Disfunção musculoesquelética: são mais comuns ✓Fadiga, mialgia e artralgia ✓Sobreposição com miosite ✓Artropatia inflamatória crônica ✓Contraturas em flexão = garra esclerodérmica (pela fibrose) ✓Crepitação tendínea: mau prognóstico renal e cardíaco ✓Acrosteólise: reabsorção de falanges EXAMES COMPLEMENTARES Autoanticorpos servem para ✓Diagnóstico ✓Caracterização das formas clínicas ✓Fator prognóstico ✓ANA/FAN: está presente na maioria dos pacientes, mas também pode ser positivo em pessoas normais, ou seja, FAN só se valoriza dentro do contexto clínico; o padrão ajudará; quanto maiores os títulos do FAN, maior a chance de ser uma doença autoimune ✓Padrão de imunofluorescência mais comum: nucleolar (brilha mais próximo do nucléolo) ✓Padrão centromérico: presença do anticorpo anticentrômero Outros exames complementares dependerão do acometimento visceral que será analisado no paciente Esofagograma Endoscopia digestiva alta Manometria Cintilografia esofágica Radiografia de tórax Tomografia computadorizada de alta resolução Ecocardiograma Espirometria DLCO (capacidade de difusão de monóxido de carbono) Capilaroscopia Hemograma: anemia de doença crônica Ureia, creatinina Enzimas musculares Dosagem sérica de peptídeo atrial natriurético (NT pró BNP): alterado em hipertensão arterial pulmonar DIAGNÓSTICO É clínico: espessamento cutâneo dos dedos de ambas as mãos com extensão para região proximal das articulações metacarpofalaneanas + Critérios de classificação: ≥9 pontos TRATAMENTO Depende diretamente da extensão do acometimento cutâneo e visceral de cada paciente Não existe um medicamento que seja eficiente para todas as manifestações da doença Não existe tratamento para fibrose avançada Devemos tratar de acordo com cada manifestação individualmente: Pele: metotrexato, ciclofosfamida, micofenolato, rituximabe, imunoglobulina Imunossupressor só na fase inflamatória, se houver fibrose não adianta fazer Fenômeno de Raynaud: BCC, fluoxetina, nitrato tópico, sildenafila, tadalafila Não adianta imunossupressor Hipertensão pulmonar: antagonistas dos receptores de endotelina, sildenafila, tadalafila, análogos de prostaciclinas, BCC Não adianta imunossupressor Pulmão: ciclofosfamida, micofenolato, azatioprima, rituximabe, nintedanibe Imunossupressor só na fase inflamatória Nintedanibe: tratar fibrose pulmonar Trato gastrointestinal: IBP, procinéticos, antibióticos Rins: IECA Artrite: antiinflamatorios, corticoesteroides, hidroxicloroquiina, metotrexato Miosite: corticoesteroides, azatioprina, metotrexato, micofenolato Imunossupressores Úlceras: sildenafila, bosentana (prevenção), analgesia, tratar a infecção secundária CONSIDERAÇÕES FINAIS Associação com depressão em 17% em casos moderados a graves Disfunção erétil em 80% Mulheres: secura vaginal, dispareunia e ulcerações genitais Associação com neoplasias Mortalidade associado com envolvimento renal, cardíaco e pulmonar Elevação do VSH, anemia, proteinúria e escores elevadores de áreas avasculares na capilaroscopia periungueal: mortalidade Transplante de medula: casos selecionados gravíssimos
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