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Estudo Dirigido Unidade II Histórico da Antropologia: A Expansão da Civilização Ocidental e a ideia de homem/ Colonialismo e Conhecimento.

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Estudo Dirigido – Unidade II – Histórico da Antropologia: A Expansão da Civilização Ocidental e a ideia de homem/ Colonialismo e Conhecimento.
Questões 
01. Detalhe, a partir do texto de LaPlatine (1989), como a antropologia se constituiu como ciência e como ela estabelece o conceito de homem.
Sabe-se que foi a partir do início da exploração de continentes desconhecidos, ocorrida durante o Renascimento, que surgiram os primeiros questionamentos sobre a multiplicidade de existência do homem. Porém, foi no século XVIII, com a entrada na modernidade explicitada por Michel Foucalt, que o homem começou a deixar de ser analisado a partir de especulações, criando um conhecimento mais afirmativo sobre ele. Nesse contexto, começou a se estabelecer a ciência do homem, apreendendo condições históricas, culturais e epistemológicas das bases da antropologia. 
Ao analisar o contexto do início da construção da antropologia, observa-se que é necessário a existência de alguns pontos. Primeiro, a construção de alguns conceitos, incluindo o próprio conceito do “homem”, torna-se essencial para a fundação desse projeto antropológico. O homem, além de sujeito, torna-se objeto de conhecimento, constituindo-se como sujeito observante e objeto observado, dualidade comum nas ciências exatas. Segundo, pressupõe-se a construção de um saber por observação, não apenas reflexão. Estudando a interação do homem com o meio, sua comunicação e organização. Terceiro ponto disserta sobre uma problemática essencial: a da diferença, na qual começa a ter reflexões sobre o conhecimento e sobre as relações de poder e de sentido, evidenciando a crise do humanismo e da consciência europeia. O quarto e último ponto articula sobre o método indutivo que se baseia na observação e análise do homem. Mostrando que o homem deve ser analisado empiricamente em seus grupos socais, observando os fatos ocorridos e criando leis que regem esses grupos.
 Nesse contexto, pensadores como Montesquieu, Saint-Simon, Lafitau, Adam Smith e David Hume foram essenciais no processo de construção das bases do projeto antropológico ao dissertarem sobre diversos conceitos que auxiliaram a formação da antropologia. Montesquieu na sua obra O Espírito das Leis descreve uma relação de interdependência entre os fenômenos sociais, logo após Saint-Simon começa a falar da existência de uma “ciência da sociedade”. Após isso, Lafitau publica Os Costumes dos Selvagens Americanos dos Primeiros Tempos fundando uma “ciência dos costumes e hábitos” que abrange tanto aspectos particulares, quanto compara os aspectos gerais da humanidade. Ademais, Adam Smith, com a emancipação do pensamento ideológico proposta pelo naturalismo, e David Hume, com a publicação do Tratado sobre a Natureza Humana - o qual aborda a introdução de métodos experimentais de raciocínios para o estudo de assuntos de moral-, foram essenciais para a construção das bases da antropologia.
Após esses fatos, a ruptura gradual do humanismo renascentista e do racionalismo representaram uma revolução do pensamento da sociedade. Assim, ocorreram mudanças radicais como: a natureza deixou de ser o foco de observação e ocorreu a organização da atividade epistemológica, da forma de interpretação e de observação. Tais ações ocasionaram no surgimento de uma antropologia social e cultural, atividades organizadas e elaboradas por observadores que necessitavam de certas qualidades a fim de apreender corretamente o objeto de estudo.
Assim, sociedades científicas como A Société des observateurs de l'homme' (Sociedades dos Observadores do Homem) - considerada como o berço da antropologia francesa, que analisam os aspectos físicos, psíquicos, sociais e culturais do homem – começaram a consolidar a formação da antropologia. 
Portanto, nota-se que apesar de existirem obstáculos para o advento de uma antropologia científica na época como: o estudo de indivíduos que pertencem a determinada época e cultura, não do homem em si, além da falta de emancipação da antropologia do discurso histórico. A antropologia está se desenvolvendo e consolidando suas bases até os dias atuais. 
2) A partir da leitura do artigo Cesaire (1978) sobre o Colonialismo destaque as aproximações e distanciamentos entre o processo colonial e o surgimento da antropologia enquanto ciência.
Nos anos 1950, Aimé Césaire no texto “Discurso sobre o colonialismo”, disserta sobre ações realizadas contra as civilizações colonizadas. Entre elas, cita-se a dominação dos povos, sua aculturação e as inúmeras barbáries praticadas contra essas civilizações. O autor afirma que “a Europa, moralmente, espiritualmente, é indefensável” (CÉSAIRE, 2010, p.14), referindo-se ao regime de exploração praticado por eles. Aimé Césaire disserta que o sistema de exploração de massas humanas e a capacidade do Colonialismo de difundir o racismo são a essência do Colonialismo. Gerando descivilização do colonizado e do colonizador, que perde sua sensibilidade humanística.
Ademais, a hipocrisia de intelectuais de diversos campos, como da etnologia, filosofia, sociologia, geografia e história, é abordada no texto no âmbito da associação dos discursos intelectuais na legitimação de preconceitos. Assim, o confisco de terras e o assassinato das religiões dessas civilizações colonizadas são legitimados pelo discurso desses “mestres do saber”, corroborando com uma característica do colonialismo, a postura de cão de guarda.
Ao correlacionar o Colonialismo com o surgimento da antropologia, ciência que possui como objeto de estudo o ser humano e todas as suas dimensões, nota-se que foi a partir da colonização que houve o desenvolvimento da antropologia. Com a colonização, ocorreu o estudo de diversas sociedades, com diferentes padrões culturais. Porém, ao analisar os fatos que possibilitaram o desenvolvimento da antropologia, incluindo o as diversas ações realizadas sobre os povos colonizados, como a aculturação e a dizimação de muitos deles, observa-se que existem mais lados negativos que positivos nesse processo.
Desse modo, é evidente que o processo civilizatório, incentivado por um quesito econômico, mediado pela coisificação e desumanização dos civilizações colonizadas. Assim, nota-se que as excursões realizadas no Colonialismo possibilitou o desenvolvimento da consolidação da antropologia como ciência, demonstrando a aproximação entre ambos os processos. Mas, apresentam, também, um distanciamento no quesito do estudo do homem a partir de suas diversas peculiaridades, sendo elas culturais, religiosas e sociais, já que o Colonialismo tirou essas importantes traços de uma civilização.
3. Em diálogo com as discussões que realizamos na Unidade I, destaque os principais pontos entre os textos de LAPLA NTINE, François. 1989. "O século XVIII: a invenção do conceito de Homem". In: Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense. (pp. 54-62) e CESAIRE, Aime. 1978. “O discurso sobre o colonialismo”. (pp. 39-51)
O capítulo "O século XVIII: a invenção do conceito de Homem" do texto “Aprender Antropologia”, de François Lapantine, como o artigo “O discurso sobre o colonialismo” de A. Cesaire correlacionam-se com a análise da história única de um povo, dissertada na Unidade I. Os dois textos mostram que a antropologia passou por diversos processos na construção de suas bases.
Nesse sentido, observa-se que os primórdios da antropologia como ciência surgiu a partir de especulações debatidas no Renascimento, tese defendida no texto de Françoies Lapantine. Porém, apenas na Modernidade o projeto antropológico começou a ser moldado com o desenvolvimento de pontos essenciais, fato estimulado pelo estudo cada vez mais frequente do homem e suas multiplicidades. O desenvolvimento desse projeto antropológico acarretou no fim do racionalismo e humanismo vigentes na época.
Conjuntamente a isso, é notório que a indistinção entre o conhecimento filosófico e o científico e a caracterização da inerência do discurso antropológico com o discurso histórico apresentam-se como obstáculos prejudiciais na construção deuma antropologia multidirecionada e culturalmente inclusiva. Fato demonstrado no discurso de Chimamanda, o qual demonstra que tais ações desestimulam o desenvolvimento de múltiplas histórias culturais, privilegiando a história única.
O poeta Aime Cesaire, em sua obra “O discurso sobre o colonialismo”, estabelece que o etnocentrismo existente nos processos colonizadores está correlacionado com o capitalismo, com o comércio principalmente. Fato esse que prejudicou a humanização e socialização dos povos dominados, prejudicando, assim, o desenvolvimento da antropologia, que adquiriu um viés etnocentrista. Desse modo, observa-se que muitos intelectuais do campo da história, geografia, filosofia, sociologia e antropologia apresentaram uma visão etnocêntrica nos seus estudos, fato que corroborou com a prática de supressão dos povos conquistados, além da sua aculturação. Ação que provoca o distanciamento do antropólogo com as diversas multiplicidades culturais dos povos dominados, confirmando a aculturação e a continuação de uma história única, dissertada por Chimamanda.
Ademais, ao analisar os textos da Unidade I, observa-se que um aspecto comumente retratado é a divinização dos homens brancos, os colonizadores brancos europeus. Esse fato permitiu que uma relação de dominação violenta fosse praticada, ocasionando na supressão cultural de diversos povos.
Conclui-se, portanto, que ao analisar os textos é notório que o projeto antropológico em seu início nem sempre favoreceu inclusão dos diversos povos, nem sua humanização. Porém, tais aspectos estão sendo desconstruídos a fim de estabelecer uma antropologia que alcance múltiplas visões, abrangendo os diversos aspectos do homem nas mais diversas culturas. Estabelecendo o fim da perpetuação de uma história única e alcançando a humanização e inclusão dos múltiplos povos no estudo antropológico.

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