Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 1 SITUAÇÃO PROBLEMA 05 –ANEMIA? MAS, EU ME ALIMENTO TÃO BEM... 1. Definir anemia e entender seus tipos (contagem de reticulócitos). Anemia nada mais é do que um estado de queda da contagem hemoglobina no sangue, sendo que não faz referência específica a alguma doença. Quando estamos diante de um caso de anemia, devemos sempre nos perguntar qual o motivo que justifica tal achado neste paciente? Guiar nossa conduta por essa resposta permite que nós como clínicos evite erros grosseiros, tal como prescrever para todo paciente anêmico sulfato ferroso. Além disso, não vemos apenas corrigir a anemia por meio de uma hemotransfusão, devemos sempre investigar (lembrar como principal causa de perda de sangue o câncer de cólon – sangue oculto nas fezes em três amostras com ingesta privada carne). Algumas condições na composição do sangue pode levar a erros na interpretação do eritograma, como alteração na concentração do plasma. Sua redução pode mascarar uma anemia, enquanto seu aumento pode resultar em uma pseudoanima. A anemia predispõe uma redução na capacidade de transporte de oxigênio, sendo que nos quadros severos, culmine em uma disfunção miocárdica e cerebral. Quando estamos diante de um caso de anemia devemos solicitar a quantidade de reticulócitos (lembrar que a solicitação deve ser a parte). Esse exame serve para complementar o hemograma. Os reticulócitos são hemácias jovens sendo os primeiros a não possuírem núcleo em seu interior. Além disso, ele é composto por RNA basofílico que pode identificado através do esfregaço de sangue periférico. O reticulócito presente em valores aumentados durante uma anemia traduz que a medula desse indivíduo está normal ou funciona adequadamente. Isso porque o organismo desse indivíduo entende que há uma baixa concentração de eritrócitos e envia estímulos a fim de aumentar essa concentração (resposta esperada - reticulocitose). Esta resposta normal do número de reticulócitos aparece apenas em dois tipos de anemias: (1) anemias hemolíticas e (2) anemia por hemorragia aguda, pois são entidades que não apresentam mecanismos diretos sobre a medula óssea. Por outro lado, quando a contagem de reticulócitos está abaixo do esperado nos diz que a medula desse indivíduo não está respondendo bem (falta de substrato, falta de estímulo ou por infiltração medular). O valor de referência em porcentagem é de 0,5-2%, sendo que seu valor absoluto pode variar entre 25.000-75.000. Nas anemias devemos ainda corrigir o valor do número de reticulócitos, transformando em um valor absoluto. Isso por que o valor em porcentagem pode variar de acordo com a contagem total de células eritroides não traduzindo no exame um valor fidedigno. A correção envolve dois processos. O primeiro ajusta o número de reticulócitos e a segunda pega esse valor e divide pela metade, sendo mais fidedigna para análise de anemias mais intensas. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 2 As anemias hipoproliferativas compõem um grupo no qual o problema envolve a síntese das hemácias em que nosso olhar deve ser voltado ou pela falta de estímulos na medula óssea ou falta de matéria para a produção. Fazem parte desse grupo: Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 3 Anemia por deficiência de ferro: pelo seu próprio nome já traduz uma falta do elemento ferro no organismo o qual é fundamental para o transporte de oxigênio realizado pelas hemácias, pois o mesmo serve como um mediador enzimático para troca de elétrons. Este tipo de anemia é a mais comum em todo o mundo. Sua investigação deve seguir na análise da ingestão insuficiente, déficit de absorção, perdas sanguíneas ou aumento rápido da demanda. Anemia megaloblástica: consiste em um defeito na formação do material genético, o DNA. Normalmente, a divisão celular se encontra comprometida o que torna as células vermelhas grandes demais, com uma proporção aumentada de RNA e proteínas em relação ao DNA. O aspecto dessas hemácias são grandes, com núcleos grnades de cromatina rendilhada. As causas para tal defeito são: deficiência de cobalamina (B12), deficiência de folato, drogas e síndrome mielodisplásica. A anemia de doença crônica: é a etiologia mais frequente em pacientes hospitalizados, pois as doenças crônicas levam um quadro anêmico leve ou moderado. Em tal condição, o paciente apresenta uma resposta hematológica insuficiente, sendo causada por infecções, inflamação, traumas, neoplasia, hepatopatia alcóolica, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes, trombose, DPOC, insuficiência renal e outros. A anemia da insuficiência renal: consiste na presença de anemia em paciente com uma insuficiência renal já avançada o que piora o prognóstico dos pacientes. Tal condição contribui para o agravamento dos sintomas: fadiga, diminuição da função renal, depressão, dispneia e alterações cardiovasculares. Anemias das doenças endócrinas: são quadros oriundos de disfunção endócrina. Desse modo, a conduta é identificar a causa base e trata-la. As disfunções envolvem: hipo/hipertireoidismo, hupoaldosteronismo, hiperparatireoidismo e deficiência androgênica. Anemias sideroblásticas: formam um grupo que pode ser dividido por causas congênitas (ligadas ao cromossomo X) ou adquiridas (alcoolismo, toxicidade por drogas, intoxicação por chumbo, deficiência de cobre e mielodisplasia). Ambas lembram ao comprometimento da síntese de Hb, devido uma falha na produção de protoporfirina Quanto as anemias hiperproliferativas sua análise é totalmente diferente das hipo. São elas: Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 4 Anemia pós-hemorrágica: consistitui a evolução de um quadro anêmico derivado da perda de sangue. Sobre a perda de sangue devemos compreendê-la em três etapas: (1) os primeiros sintomas estão relacionados com a hipovolemia, sendo que os níveis de Hb estão normais, visto que o volume total foi reduzido, mantendo a concentração; (2) há uma resposta à liberação de vasopressina mobilizando o líquido extravascular para dentro dos vasos a fim de aumentar o suporte hemodinâmico. Desse modo, a concentração reduz pelo aumento do volume, podendo identificar uma queda da Hb; (3) aqui temos o aparecimento do quadro de anemia e hipóxia, aumento do estímulo de síntese pela EPO e a reticulocitose aparecendo a partir de 2-3 dias. Anemias hemolíticas: compõem um grupo de causas que resultam na redução da sobrevida das hemácias, derivadas por alteração na estrutura das hemoglobinas ou da membrana plasmática. Precisamos ter em mente que a medula óssea apresenta a capacidade de aumentar sua capacidade de eritopoiese em 8 vezes. Quando a destruição de hemácias ultrapassa a sua capacidade de produção temos um quadro clássico de hemólise. Devemos ainda ter em mente que além das disfunções estruturais que podem vir aparecer, deficiências nutricionais podem potencializar a incapacidade de síntese (por exemplo, a existência de deficiência de folato). As disfunções estruturais aumentam a sensibilidade do sistema complemento e fagocitário em identificar tais células circulantes a fim de destruí-las. Tal situação pode ocorrer dentro da corrente sanguínea (alteração da membrana plasmática de hemácia – trauma mecânico ou quemaduras) ou extravascular, no baço, levando a uma esplenomegalia. A presença de Hb no sangue e na urina é indicativo de hemólise intravascular. As talassemias: são um grupo heterogêneo de causas que interferem na síntese de cadeias globinas formadoras do grupo heme. A síntese reduzida leva uma diminuição do conteúdo eritrocitário de Hb, ocasionando uma anemia hipocrômica e microcítica de intensidade variada. Esferocitose hereditária: doença autossômicadominante que modifica a síntese das proteínas que compõe a membrana plasmática das hemácias. Tal mudança ocasiona uma instabilidade o que aumenta a sensibilidade do sistema reticuloendotelial e fagocítico para destruição dessas hemácias. Deficiência de glicose-6-fosfato: tal carência culmina na perda da capacidade de resistir aos estresses metabólicos resultantes do aumento da concentração de radicais livre. Tal condição, reduz a capacidade das hemácias em ativar a via da glutationa à qual é responsável por ativar as peroxidases a fim de eliminar a ação dos radicais livres. 2. Estudar os principais parâmetros a serem observados no eritrograma. O eritrograma é parte do exame que analisa os eritrócitos. Os glóbulos vermelhos são sintetizados na medula óssea, cujo precursor mais imaturo é o pró-eritroblásto, seguindo até as hemácias. Antes das hemácias podemos encontrar os reticulócitos na corrente sanguínea, sendo uma célula sem núcleo semelhante as hemácias (precursores das hemácias). No eritrograma observamos também a contagem de eritrócitos por mm³. Vale lembrar que há uma diferença quando comparamos ambos os sexos quanto ao valor de referência. Na anemia esse índice não é o melhor para avaliar a tal patologia. Normalmente, pacientes anêmicos apresentam a contagem de eritrócitos abaixo do valor de referência, mas isso não é regra, sobretudo em pacientes com talassemia que apresentam contagem normal. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 5 Tanto o reticulócito, quanto a hemoglobina são células anucleadas que contém em seu interior uma molécula de hemoglobina, a qual é fundamental para o transporte de oxigênio para os tecidos. Sua contagem é fundamento, haja vista que é um índice bastante importante para determinar se um paciente apresenta ou não anemia. Valores de hemoglobina abaixo desse valor de referência caracteriza-se a anemia, enquanto valores acimas caracteriza-se poliglobulia. O hematócrito é uma razão entre o volume ocupado pelos eritrócitos e o volume ocupado pelo sangue capilar. Ht: Eritrócitos x VCM/10. Valores abaixo do valor de referência pode traduzir uma anemia ou uma hemodiluição, enquanto valores acima traduz uma policitemia ou desidratação. O VCM é o volume corpuscular médio – medida do volume de eritrócitos (macrocítico ou microcítico) – variando de 80 a 96fl. Valores maiores que essa referência corresponde a presença de hemácias macrocíticas (aglutinação de hemácias – aumento de proteínas no sangue, ou na reticulocitose). Enquanto o valor está abaixo da referência temos hemácias microcíticas (alteração na síntese de hemoglobina). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 6 A hemoglobina corpuscular média (HCM) traduz a média da quantidade de hemoglobina – 27 a 31 pg. HCM: Hb X 10/eritrócitos. A concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) hemoglobina por volume globular (hipercrômica ou hipocrômica – a cor da hemácia) – 32 a 36 g/dl. CHCM: Hb X 100/Ht. Ela traduz a cor do eritrócito, por causa da molécula de ferro. Quando há uma redução do conteúdo do eritrócito podemos dizer que estamos diante de hemácias hipocrômicas, enquanto as hemácias hipercrômicas há uma redução de seu volume. As principais causas de alterações nesse índice são o esferocitoma (perda de espaço ou matriz celular pela hemácia, concentrando Hb em um menor espaço, sem haver aumento da síntese) e na anemia falciforme (desconfiguração do citoesqueleto). O índice de anisiocitose (RDW) que varia de 11 a 14,5%. Ele serve para traduzir a variação de tamanho dos eritrócitos. A elevação do RDW se dá quando há defeitos na maturação dos eritrócitos ou na fragmentação eritrocitária (anemias carenciais). As principais causas que altera esse parâmetro são: anemia ferropriva (aumento do grau de anisiocitose – grau alto de variação ou RDW), igualmente em anemia falciforme. Por outro lado, no traço talssêmico (deficiência na produção da cadeia beta da hemoglobulina). Desse modo, um paciente com uma anemia hipocrômica de RDW não é anemia ferropriva. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 7 Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 8 3. Identificar as alterações laboratoriais nos diferentes tipos de anemia. A classificação morfológica da anemia (valor de hemoglobina abaixo do normal) é dada através da análise dos índices: VCM (micro ou macrocíticas), CHCM (hipo ou hipercrômicas) e RDW. A molécula de hemoglobina é formada por 4 cadeias de globina (2 cadeias alfa e 2 não alfa), para cada cadeia de globina possui um grupo heme que é formado por uma molécula de ferro + um anel pirrólico. ANEMIA MICROCÍTICA/HIPOCRÔMICA: As anemias microcíticas e hipocrômicas (valores baixos tanto de VCM e CHCM), ocorrem quando há disfunção na síntese da molécula de hemoglobina. (1) Quando não há uma boa disponibilidade de ferro (não forma o grupo heme). (Anemias ferroprivas, anemias de doenças crônicas – dificuldade de utilizar o ferro circulante ou absorver o ferro no intestino; e na deficiência de cobre – redução da disponibilidade de ferro). (2) alteração na síntese do grupamento heme (intoxicação por chumbo ou anemia sideroblástica – congênita ou adquirida). (3) diminuição das cadeias de globina (talassemias). ANEMIA NORMOCÍTICA/NORMOCRÔMICA: Caracteriza-se quando apresenta cor normal e tamanho normal. A primeira causa ocorre quando estamos diante da fase inicial da anemia carencial (deficiência de ferro, B12 ou folato) sem que haja a alteração da síntese de hemoglobina morfológica. A segunda causa ocorre quando estamos diante de uma anemia carencial mista (deficiência de ferro –microcitose – e B12 ou ácido fólico - macrocitose). Quando se estabelece a média através do VCM temos uma anemia normo/normo. A terceira causa desse tipo de anemia é a presença de anemia de doença crônica (insuficiência renal – redução de EPO) e anemia por infiltração medular. ANEMIA MACROCÍTICA/NORMOCRÔMICA: Anemias com cor normal e tamanho aumentado. Na presença de reticulocitose temos esse tipo de anemia (anemia hemolítica ou hemorragias). Também no metabolismo anormal dos ácidos nucleicos (anemia megaloblástica – redução de B12 ou ácido fólico). E, por fim, quando há alteração do processo de maturação (mielodisplasia). Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 9 4. Discutir os diagnósticos diferenciais da anemia. A perda de sangue menstrual desempenha um papel importante no metabolismo do ferro. A perda média mensal de sangue menstrual é de aproximadamente 50 mL, mas pode ser cinco vezes maior em alguns indivíduos. Mulheres com grandes perdas menstruais devem absorver 3-4 mg de ferro da dieta a cada dia para manter reservas adequadas de ferro, o que não é comumente alcançado. Mulheres com menorragia deste grau quase sempre tornam-se deficientes em ferro sem suplementação de ferro. Em geral, o metabolismo do ferro é equilibrado entre a absorção de 1 mg / dia e a perda de 1 mg / dia. A gravidez e a lactação perturbam o equilíbrio do ferro, uma vez que as necessidades aumentam para 2–5 mg de ferro por dia. O ferro da dieta normal não pode fornecer esses requisitos, e o ferro medicinal é necessário durante gravidez e lactação. A diminuição da absorção de ferro pode também causam deficiência de ferro, como em pessoas afetadas por doença celíaca (enteropatia do glúten), e também comumente ocorre após a ressecção gástrica ou cirurgia de bypass jejunal. Outras causas de anemia microcítica incluem anemia de doença crônica (especificamente, anemia ou inflamação), talassemia, envenenamento por chumbo, Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 10 deficiência de zinco e anemiasideroblástica ligada ao X congênita. A anemia de doença crônica é caracterizada por estoques normais ou aumentados de ferro em macrófagos da medula óssea e um nível normal ou elevado de ferritina; o ferro sérico e a saturação da transferrina são baixas, muitas vezes drasticamente, e a capacidade total de ligação ao ferro (TIBC) (a capacidade do sangue para o ferro se ligar à transferrina) e a transferrina são normais ou baixas. A talassemia produz um maior grau de microcitose para qualquer nível de anemia do que a deficiência de ferro e, ao contrário de virtualmente qualquer outra causa de anemia, tem um normal ou elevado (em vez de uma baixa) contagem de glóbulos vermelhos, bem como uma reticulocitose. Na talassemia, a morfologia dos glóbulos vermelhos no esfregaço periférico assemelha-se a uma deficiência grave de ferro. 5. Compreender anemia falciforme, sua fisiopatologia e QC. A anemia falciforme se encontra dentro de um grupo chamado de hemoglobinopatias, as quais cursam com alguma alteração na formação das cadeias de globina que compõe a hemoglobina. A história da anemia falciforme iniciou a partir de 1910, com relato de um jovem negro com episódios de dor, anemia crônica e presença de hemácias “afoiçadas” no esfregaço de sangue periférico. Tal condição reduzia o limiar de pO2 e aumentava a viscosidade do sangue. A anemia falciforme se configura em um grupo de anemias que têm o componente genético envolvido, configurando-se como uma condição hereditária autossômica recessiva. A mutação envolvida nesse processo consiste na substituição do ácido glutâmico pela valina, na posição 6 da cadeia de beta-globina, cirando uma hemoglobina com comportamento anômalo: hemoglobina S. Como consiste em uma doença que possui um componente genético importante. Embora seja ocasionada por uma mutação pontual com substituição de dois aminoácidos indivíduos que possuem o traço falcêmico (apenas um alelo recessivo) pode apresentar enormes variedades de apresentações clínicas. Isso ficará claro mais adiante quando for mencionado a relação da hemoglobina S com outros tipos de hemoglobinas. Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 11 O surgimento da hemoglobina S deriva de uma seleção natural que ocorreu no que denominamos: cinturão da malária. Na antiguidade quando o homem abandonou o comportamento nômade isso favoreceu a disseminação de tal mutação, bem como o aumento da população do mosquito Anopheles. Indivíduos que possuem o traço falcêmico apresentam uma vantagem comparada com os que não apresenta tal mutação. A explicação para isso deriva de uma mudança de antígenos expressos na superfície da hemácia a qual permite maior sinalização para o sistema retículoendotelial para opsonizar e destruir as hemácias. Uma vez que essas hemácias que estão parasitadas pelo Plasmodium são destruídas, elas impedem o desenvolvimento da infecção, servindo de um controle espontâneo para tal condição. Por outro lado, os indivíduos que apresentam homogozigose para anemia falciforme possuem um aumento na taxa de hemólise, bem como exacerba os sintomas agudo da infecção por malária. Desse modo, a malária se configura como a principal causa de mortalidade. FISIOPATOLOGIA i. Comportamento anômalo da hemoglobina S A simples mutação resulta na baixa solubilidade na hemácia, resultando na perda de eletronegatividade e ganho de hidrofobicidade. Tais condições estão relacionadas por alterações bioquímicas que resulta na redução da carga negativa, aliada a maior agregação. A mudança conformacional na hemoglobina deriva na formação de polímeros no interior do citoplasma (afoiçamento) que prejudica sua deformabiidade. Devemos sempre lembrar que a hemoglobina S não carregam oxigênio. O portador de hemoglobina S o afoiçamento acontece em diferentes graus, variando de acordo com: hipóxia, acidose e desidratação celular. (1) a hipóxia transforma a oxi-HbS em desoxi-HbS o que reduz a capacidade de transporte de oxigênio o que acentua o grau de polimeração. (2) a acidose reduz a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, deslocando sua concentração. (3) a desidratação aumenta o grau de polimerização, fazendo com que as Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 12 hemácias ultrapassem seu grau de solubilidade. Vale ressaltar, que mesmo havendo a polimerização as hemoglobinas S podem retomar sua morfologia normal, mas em algumas situações isso não acontecem, denominando-se, assim, ISC. Uma situação que deve ser dita é a relação entre a hemoglobina S com a hemoglobina F (fetal). A HbF apresenta uma afinidade por oxigênio muito maior quando comparada com a HbS. As situações que permite a presença dos dois tipos são: os primeiros seis meses de vida, heterozigoze (HbS/HPFH) ou uso de hidroxiureia. A presença da HbF em um paciente com a hemoglobina S há uma redução do afoiçamento, derivado da redução da polimerização o que reduz os efeitos clínicos da anemia falciforme. Desse modo, podemos concluir que mesmo na presença de HbF em um paciente com uma concentração muito superior de HbS as manifestações clínicas serão inevitáveis. Por isso, ratificado a afirmação acima, um paciente que possui traço falcêmico pode manifestar a doença de formas variadas, isso porque a clínica apresenta relação direta com a quantidade de HbS e a presença ou ausência de fatores que minimizam tal condição, como: a HbF. Ainda sobre a hemácia, devemos ter em mente que como produto de uma mutação a HbS apresenta uma instabilidade latente. Essa condição torna a hemácia mais susceptível à oxidação. O aumento da taxa de oxidação está relacionado com o contato direto de fosfolipídios que tornam as hemácias “desnaturadas” sem a ligação do ferro com o grupamento heme. Toda essa alteração culmina com a ancoragem dos produtos na face interna da membrana plasmática o que torna instável a célula. (Modificação da apresentação de antígenos para destruição pelo sistema retiículoendotelial). ii. Consequências para hemácias As consequências paras hemácias derivam de todas as modificações morfológicas e fisiológicas das mesmas. Como foi dito acima, a hemoglobina S aumenta a polimerização dentro das hemácias (resulta no formato patognomônico da doença) e aumento do estresse oxidativo no seu interior. O curioso é que indivíduos que possuem o traço falcêmico também apresentam uma taxa elevada de estresse oxidativo. Como foi dito, um dos produtos desses mecanismos é a desnaturação das hemácias retirando o ferro do seu grupamento heme. Sabe- se que o ferro é catalizador dos eventos oxidativos. Desse modo, o produto do estresse oxidativo acentua a oxidação em todas as hemácias, tendo ou não alteração morfológica. Um dos principais efeitos do estresse oxidativo é o dano cumulativo na membrana plasmática. Uma vez que há a peroxidaçao dos lipídeos há o rompimento das interações do citoesqueleto da hemácia. Microvesículas com produtos dessa oxidação são criadas e anexadas a superfície interna da membrana plasmática. Por conseguinte, temos o aumento da rigidez plasmática, fazendo com que as hemácias em forma de foice não retornem a sua configuração original. Tal condição torna a hemácia sensível o cisalhamento da corrente sanguínea, podendo ocorrer lise por diferença de concentração de íons ou por choque mecânico dentro do próprio compartimento intravascular. (Hemólise intravascular) Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 13 Como consequência da oxidação temos ainda alteração do transporte iônico na membrana, reduzindo sua fluidez. Tal modificação resulta em um estado de desidratação celular. Além disso, como foi descrito as alterações na presença de antígenos que sinalizam o sistema reticuloendotelial, aumentando a eritofagocitose, temos ainda a exposição da fosfatidilserina (FS).A exposição da FS culmina no aumento da adesão das hemácias nos vasos sanguíneos e aumenta a concentração de citocinas pró-inflamatórias. iii. Consequências para o organismo A primeira repercussão no organismo nada mais é do que as manifestações da anemia hemolítica. Seu entendimento deriva da repercussão da destruição da hemácia e a liberação dos seus produtos na corrente sanguínea. A liberação dos produtos da oxidação após a destruição das hemácias pelo sistema reticuloendotelial causa uma depleção na concentração de óxido nítrico (importante vasodilatador, realiza ação antitrobótica e anti- inflamatória) dando início a destruição endotelial. Além dos efeitos diretos causados pela circulação dos produtos na corrente sanguínea as vesículas de FS estimulam a imunidade inata através de sensibilizar os macrófagos e monócitos em secretar TNF-alfa e interleucinas. Desse modo, entendemos então que o paciente falcêmico apresenta uma inflamação sistêmica crônica a qual altera os exames de sangue como leucocitose e proteína C reativa. Todo esse caos sistêmico apresentada causa a disfunção endotelial que pode ser entendida por duas modificações. A primeira deriva do aumento de fatores adesiogênicos os quais permite a maior ancoragem de hemácias na superfícia do endotélio, enquanto a segunda resulta em hiperplasia e fibrose do endotélio de vasos mais calibrosos que pode resultar em obstrução. iv. Vaso-oclusão capilar Configura-se como um evento fisiopatológico presente em pacientes que apresentam anemia falciforme. Tal evento justifica as crises álgicas e as manifestações crônicas a longo prazo que tais pacientes apresentam. Todos os mecanismos envolvem os dois conceitos básicos: aumento da adesão das hemácias ao endotélio lentificando o fluxo sanguíneo local e a impactação e empilhamento de hemácias (normais e as ISC), provocando estase sanguínea, hipóxia, acidose e isquemia tecidual. As principais consequências dessas manifestações é a isquemia tecidual que pode causar necrose (medula óssea, medula renal, baço, pulmões, mucosa intestinal e outros). Podemos Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 14 ainda concluir que os mecanismos criam um ciclo vicioso no qual o estresse oxidativo culmina na instabilidade da hemácia a qual permite aumenta a disfunção endotelial. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico da anemia falciforme é denominado por uma síndrome hemolítica de variados graus e fenômenos vaso-oclusivos e suas consequências. Os sinais e sintomas aparecem a partir do sexto mês de vida (redução da HbF circulante). Os principais órgãos acometidos são: baço, ossos, rins, cérebro, pulmões, pele e coração. Cabe ressaltar que os falcêmicos apresentam uma expectativa de vida de 42 anos (homens) e 48 anos (mulheres), situação muito melhor do que antes quando tínhamos uma expectativa de 20 anos. A heterogenicidade das manifestações clínicas pode variar de um assintomático a um paciente que necessite de hospitalização. Podemos entender que quanto maior quantidade de HbS, maior o grau de sintomas o paciente vai manifestar. O quadro clínico inicia com anemia hemolítica crônica, icterícia (aumento da bilirrubina, devido à hemólise) e esplenomegalia. A esplenomegalia pode se manter presente por toda a vida, mas em algumas situações esse órgão pode ser acometido por infartos nos capilares, denominados de autoesplenectomia (asplenia funcional). Desse modo, o órgão perde sua função de opsonização, levando o aumento de susceptibilidade às infecções. Podemos ainda identificar atraso no crescimento, desenvolvimento e atraso da puberdade nos portadores da doença. Nos dois primeiros anos de manifestação o quadro Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 15 caracterísitico é denominado síndrome mão-pé ou dactilite. Tal síndrome cursa com edema, calor e rubor (sinais flogísticos) nas articulações interfalageanas como resultado de infartos que culminam em síndromes álgicas. A síndrome álgica mais comum é a causada por infartos ósseos que cursa com dor e febre baixa. Devemos ter em mente que quadros infecciosos, desidratação, exercícios intensos, mudanças bruscas na temperatura, estresse emocional, menstruação e ingestão de bebida alcóolica deflagram as síndromes álgicas. A dor dessa síndrome pode ser tal intensa que o paciente necessite de hospitalização. Outros achados importantes no exame físico são a presença de úlceras perimaleolares. Tais lesões são frutos de micro-lesões causadas pelos infartos localizados em tal região. Podemos ainda ter infartos locais em órgãos nobres: AVC (mais prevalente em crianças e apresentando caráter recorrente – realizar profilaxia), pulmonar (hipertensão e cor pumonale). Seguindo o raciocínio também podemos observar manifestações renais oriundas da hipertensão e isquemia local (proteinúria, IRC, diabetes insipidus e aumento da chance de carcinoma). Outra lesão importante é na visão ocasionada por oclusão da artéria retiniana e descolamento por hemorragia, podendo levar a cegueira. Complicações comuns são as ósseas, podendo ocorrer osteonecrose na cabeça do fêmur e úmero. As alterações cardíacas são aumento da hemodinâmica e raramente teremos isquemia do miocárdio por oclusão coronariana. As alterações hepatobiliares são o aumento na formação dos cálculos biliares pelo excesso de bilirrubina indireta, levando a um quadro de colescistite. 6.Caracterizar o aconselhamento genético e o acompanhamento multidisciplinar nas doenças genéticas familiares. O aconselhamento genético, também conhecido por mapeamento genético, é um processo realizado com o objetivo de identificar a probabilidade de ocorrência de determinada doença e chances de ser transmitida para os familiares. Esse exame pode ser feito Matheus dos Santos Correia UniFG – Medicina (Perda de Peso, Fadiga e Anemia) 16 pelo portador de determinada doença genética e por seus familiares e a partir da análise das características genéticas pode-se definir métodos de prevenção, riscos e alternativas de tratamento. O aconselhamento genético tem várias aplicações, podendo ser utilizado no planejamento da gravidez ou no pré-natal, para verificar se há alguma chance de alteração no feto, e no câncer, com o objetivo de avaliar as chances de ocorrer o câncer e estabelecer a possível gravidade e tratamento. A consulta médica constitui ato imprescindível para o Aconselhamento Genético, pois dela resulta o diagnóstico e, a partir deste, a determinação do prognóstico clínico e reprodutivo em pacientes, indivíduos ou famílias com doenças de etiologia genética ou susceptibilidade geneticamente determinada. A responsabilidade do diagnóstico é do médico, que deve estar familiarizado com o método para atingir tal objetivo, qual seja o da propedêutica genético- clínica. Em todas as especialidades médicas, e em genética clinica não é diferente, os pilares da propedêutica são os mais eficazes para se alcançar o diagnóstico: a anamnese e o exame físico. A partir dessas intervenções iniciais, o paciente e/ou a família deverão ser esclarecidos e estimulados a participar do processo. Os exames complementares necessários para firmar ou descartar uma hipótese diagnóstica deverão ser explicados, assim como o significado e alcance dos resultados. Todo o processo e o relacionamento com a equipe de saúde devem ser executados segundo o modelo do consentimento livre e esclarecido. Com o diagnóstico definitivo, ou não, o paciente e a família começam a ser esclarecidos dos recursos terapêuticos ou, mais frequentemente, das possibilidades de prevenção primária, secundária ou terciária. Este evolver de consultas, exames complementares, intervenções, esclarecimentos, apoio e respeito nas decisões, praticados em pacientes e famílias visando ao diagnóstico, tratamento e prevençãode doenças genéticas é o Aconselhamento Genético. Através dele deve-se alcançar o diagnóstico acurado, a identificação de indivíduos em risco clínico e reprodutivo; deve-se assegurar que paciente e família entendem como a herança contribui para a doença e para os riscos de recorrência. É preciso alcançar também a linha de ação que atenda às necessidades e ao ajustamento psicológico e social dos pacientes e famílias. Além de tudo isso, em muitas situações, o paciente e a família devem entender que o diagnóstico de uma condição genética implica riscos, benefícios, limitações e consequências psicológicas e econômicas. Como em qualquer outro ato médico complexo, exige uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar. Além da competência específica que a profissão lhes atribui, todos os profissionais envolvidos devem ter recebido formação em genética médica básica e treinamento nos procedimentos e intervenções sob sua responsabilidade. Há necessidade de que estes profissionais contem com equipe de apoio psicossocial. Elas são fundamentais para garantir que os pacientes e famílias tenham melhor entendimento sobre o processo, o que otimizará a aderência necessária.
Compartilhar