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PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO TUTORIA 5 1) Analisar a dengue, considerando o conceito, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, classificação, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e prevenção 2) Descrever os programas governamentais destinados ao combate à dengue 3) Explicar a notificação epidemiológica da dengue DENGUE É uma doença transmitida por um mosquito e é causado por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue Os sintomas vão desde febre e sintomas constitucionais leves até manifestações hemorrágicas e choque, ou dengue hemorrágica/síndrome do choque associada a dengue A dengue clássica é uma enfermidade autolimitada, não específica, caracterizada por febre, cefaleia, mialgia e sintomas constitucionais A dengue hemorrágica é um quadro clínico mais sério, surgiu em 1950 na Ásia e desde então se transformou num grave problema de saúde pública mundial, sendo causa de morbidade e mortalidade pediátrica EPIDEMIOLOGIA 70% dos casos de dengue da América do Sul são do Brasil No Brasil a primeira epidemia documentada clinicamente foi entre 1981-1982 em Roraima Em 2002 ocorreu umas das maiores incidências da doença no Brasil, foram quase 700.000 casos notificados Atualmente, todos os sorotipos virais 1, 2, 3 e 4 são circulantes, isso é relevante não apenas para o aumento de casos, mas para a maior gravidade por afetados Em, 2010, o sorotipo 4 que há 28 anos não circulava no Brasil, foi isolado em Roraima PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO ETIOLOGIA A dengue é causada pelo vírus do gênero Flavivirus com fita de RNA simples Foram descritos 4 sorotipos desse vírus, sendo que eles contêm três proteínas estruturais e a proteína de membrana M + glicoproteína E se juntam e integram a bicamada lipídica do vírus Os vetores são os mosquitos do gênero Aedes Nas Américas, a espécie Aedes aegypti é responsável pela transmissão da dengue Outra espécie, Aedes albopictus, embora presente no Brasil, ainda não tem comprovada sua participação na transmissão, embora na Ásia seja um importante vetor VIROLOGIA Os vírus penetram na célula hospedeira através de endocitose após a ligação do domínio de ligação ao receptor Depois o vírus se funde a membrana celular mediada pela proteína E Após a ligação viral ao receptor de membrana ele entra no citoplasma por pinocitose Após esse processo, a fita de RNA do vírus é traduzida VETOR O Aedes aegypti é um mosquito de hábito diurno, principalmente no início da manhã e final da tarde Tem preferência por ambientes urbanos e intradomiciliares e alimenta-se principalmente de sangue humano A proliferação do mosquito é feita pela postura de ovos pela fêmea em coleções de água parada, onde posteriormente eles eclodem originando larvas O tempo entre a eclosão das larvas e o mosquito adulto são 10 dias, esse tempo depende de fatores externos, como temperatura O ovo do mosquito sobrevive por até um ano fora da água, aguardando condições ambientais favoráveis para se desenvolver Esse vetor é antropofilíco, ou seja, prefere fazer hematofagia em humanos Nesse caso, apenas as fêmeas fazem hematofagia o que é necessário para maturação dos seus ovos OBS: a fêmea uma vez infectada fica o resto de sua vida infectada e todos os ovos também ficam infectafos TRANSMISSÃO INDIRETA: o mosquito faz hematofagia em uma pessoa doente, passa a ser infectado e infecta toda a sua prole DIRETA: o mosquito faz hematofagia em uma pessoa infectada e depois hematofagia em outra sã. Assim, a segunda pessoa acaba se infectando FISIOPATOLOGIA PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO A introdução de um sorotipo do vírus da dengue confere imunidade contra um vírus do mesmo sorotipo Esses anticorpos facilitam a ação dos outros sorotipos, de modo que a doença se comporta de maneira agressiva Isso ocorre devido aos anticorpos capazes de entrar nos monócitos através da ligação do FC da imunoglobulina e do receptor FC da célula As epidemias de dengue hemorrágica foram relatadas na ausência de anticorpos contra outros sorotipos Interleucinas e mediadores químicos produzidos por linfócitos T e monócitos infectados podem causar extravasamento de fluido As mialgias são parcialmente correlacionadas à multiplicação do vírus no tecido muscular MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DENGUE CLÁSSICA Caracteriza-se por doença febril aguda, com duração máxima de sete dias, acompanhada de, pelo menos dois dos sintomas: a) Cefaleia b) Dor retro-orbitária c) Mialgia d) Artralgia e) Prostração f) Exantema Esses achados têm que ser confirmados por laboratório ou clinicamente É importante ressaltar que os pacientes com dengue clássica podem apresentar manifestações hemorrágicas e apresentações atípicas FEBRE HEMORRÁGICA DA DENGUE Refere-se a todos os casos de dengue clássica que também apresentam manifestações hemorrágicas e todos os critérios abaixo: Tendências hemorrágicas evidenciadas por pelo o menos umas das manifestações: prova do laço +, petéquias, equimoses, púrpura, sangramento do TGI e de mucosas Trombocitopenia com plaquetas menor ou igual a 100.000/mm3 Extravasamento de plasma pelo aumento da permeabilidade capilar – com hematócrito aumentado em 20% no valor basal ou queda de 20% após tratamento e presença de derrames cavitários (ex.: derrame pleural) Confirmação laboratorial Além de preencher os critérios acima, os casos de FHD são classificados em 4 categorias, segundo a OMS Grau I: febre acompanhada de sintomas inespecíficos, tendo a última manifestação hemorrágica a prova do laço + Grau II: além das manifestações do Grau I, hemorragias espontâneas leves (sangramento de pele, epistaxe, gengivorragia) Grau III: colapso circulatório com pulso fraco e rápido, estreitamento da PA ou hipotensão Grau IV: ou síndrome do choque da dengue – choque profundo com PA ausente e pressão de pulso imperceptível DIAGNÓSTICO O laboratório é muito útil no manuseio do caso suspeito de dengue PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO A presença de linfócitos atípicos é comum, assim como a elevação transitória dos níveis de transaminases que pode chegar até 1.000 U/l Contagem de plaquetas baixa, menor que 100.000/mm3 também é frequente O hemograma é muito útil para definir a conduta terapêutica e se o caso deve ser hospitalizado e como vai ser observado adiante DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DENGUE CLÁSSICA: gripe, rubéola, sarampo e outras infecções virais, bacterianas e exantemáticas FHD: no início da fase febril, o diagnóstico diferencial deve ser feito com outras infecções virais e bacterianas A partir do 3º ou 4º dia, com choque endotóxico secundário a infecção bacteriana ou meningococcemia As doenças a serem consideradas são: leptospirose, febre amarela, malária, hepatite infecciosa, influenza, ou outras febres hemorrágicas que são transmitidas por mosquitos ou carrapatos DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ESPECÍFICO A confirmação ocorre pela identificação de anticorpos específicos ou isolamento viram ou do seu RNA Em contexto epidêmico, a necessidade de confirmação etiológica dos quadros clínicos típicos se torna secundária A sorologia deve ser solicitada nas situações endêmicas ou na suspeita de FHD e a coleta deve ser feita após o 6º dia do início da doença O teste MAC-ELISA tem sido o mais utilizado nos últimos anos, para identificar os anticorpos contra a dengue Após 5 dias de sintomas, é possível identificar os anticorpos IgM que podem perdurar até90 dias Em uma segunda infecção, os títulos de IgM costuma ser mais modestos que em uma primeira exposição A identificação de IgG é mais tardia, além disso ele é mais inespecífico, com a possibilidade de múltiplas reações cruzadas DIAGNÓSTICO LABORATORIAL INESPECÍFICO DENGUE CLÁSSICA Hemograma: leucopenia é o achado usual, pode ocorre leucocitose. Pode ter linfocitose e trombocitopenia em alguns casos FHD Hemograma: pode ter leucopenia até leucocitose leve, linfocitose. Destaca-se concentração de hematócrito e trombocitopenia (plaquetas abaixo de 100.000/m3) Hemoconcentração: aumento de hematócrito em 20% do valor basal (antes da doença) ou valores maiores que 38% em criaças, 40% em mulheres e a 45% em homens Trombocitopenia: contagem de plaquetas abaixo de 100.000/mm3 Coagulograma: aumento nos tempos de protrombina, tromboplastina parcial e trombina. PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Diminuição de fibrinogênio, protrombina, fator VIII, fator XII, antitrombina e alfa antiplasmina Bioquímica: diminuição da albumina no sangue, albuminúria e discreto aumento dos testes de função hepática: TGO e TGP alterados TRATAMENTO A terapia dos casos mais graves requer hospitalização Com reposição de volume, combate ao choque e reposição de fatores de coagulação Na dengue clássica, a terapia deve ser realizada com medicação sintomática e repouso O uso de salicitatos é contraindicado pelos riscos de potencializar a hemorragia e do aparecimento da síndrome de Reye O uso de paracetamol ou dipirona, além de outros sintomáticos é suficiente para o controle dos sintomas álgicos e da febre Pacientes com dengue clássica leve e hemograma normal, devem ser acompanhados ambulatorialmente Se o hemograma apresentar alterações leves (hematócrito acima de 10%, plaquetas entre 50- 100.000/mm3 e leucócitos abaixo de 1.000/mm3) O paciente deve ser acompanhado em regime ambulatorial, com reavaliação diária e orientação sobre sinais de alerta Pacientes com alterações moderadas (hematócrito acima de 10% e plaquetas abaixo de 50.000/mm3) ou FHD devem ser hospitalizados e observados, com reavaliação contínua e hidratação vigorosa Pacientes com menos de 50.000 plaquetas/mm3 e manifestações hemorrágicas viscerais, principalmente no SNC, devem receber transfusão de plaquetas e em casos mais graves a transferência para a UTI PREVENÇÃO Controlar o vetor, de forma sistêmica e continuada, além de contar com o envolvimento da população Combater os depósitos de água limpa e criadores de ovos e larvas é mais efetivo que combater o inseto vivo Ter o cuidado de fechar janelas, utilizar inseticidas e não permitir acúmulo de água limpa e potenciais criadouros do mosquito PROGNÓSTICO A dengue é uma doença autolimitada e não deixa sequelas Quando diagnosticada de forma precoce e monitorada adequadamente, tem baixa letalidade VIGILÂNCIAS O termo vigilâncias está relacionado aos conceitos de saúde e doenças vigentes em cada época e lugar, às práticas de atenção aos enfermos e aos mecanismos adotados para impedir a disseminação das doenças TIPOS DE VIGILÂNCIA Vigilância epidemiológica: faz a vigilância e controle das doenças transmissíveis, não transmissíveis e agravos, como um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, detecção ou prevenção PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e anotar as medidas Vigilância da situação de saúde: desenvolve ações de monitoramento contínuo no país, estado, região, município ou áreas de abrangência de equipes de atenção à saúde, por estudos e análises que identificam e explicam problemas de saúde e o comportamento dos principais indicadores de saúde, contribuindo para um planejamento de saúde mais abrangente Vigilância em saúde ambiental: conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde Vigilância sanitária: conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo o controle de bens de consumo, que direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente NOTIFICAÇÕES Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Historicamente, a notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação-decisão-ação. COMPULSÓRIA A notificação compulsória é obrigatória para os médicos, outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente. Ela será realizada diante da suspeita ou confirmação de doença ou agravo (dano) em paciente. A comunicação de doença, agravo ou evento de saúde pública de notificação compulsória à autoridade de saúde competente também será realizada pelos responsáveis por estabelecimentos públicos ou privados educacionais, de cuidado coletivo, além de serviços de hemoterapia, unidades laboratoriais e instituições de pesquisa. Ela também pode ser realizada à autoridade de saúde por qualquer cidadão que deles tenha conhecimento. A notificação compulsória imediata deve ser realizada pelo profissional de saúde ou responsável pelo serviço assistencial que prestar o primeiro atendimento ao paciente, em até 24 (vinte e quatro) horas desse atendimento, pelo meio mais rápido disponível. Os parâmetros para inclusão de doenças e agravos na lista de notificação compulsória devem obedecer aos critérios a seguir: Magnitude: Aplicável a doenças de elevada frequência, que afetam grandes contingentes populacionais e se traduzem por altas taxas de PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO incidência, prevalência, mortalidade e anos potenciais de vida perdidos. Potencial de disseminação: Representado pelo elevado poder de transmissão da doença, através de vetores ou outras fontes de infecção, colocando sob risco a saúde coletiva. Transcendência: expressa-se por características subsidiárias que conferem relevância especial à doença ou agravo, destacando-se: severidade, medida por taxas de letalidade, de hospitalização e de sequelas; relevância social, avaliada, subjetivamente, pelo valor imputado pela sociedade à ocorrência da doença, e que se manifesta pela sensação de medo, de repulsa ou de indignação; e relevância econômica, avaliada por prejuízos decorrentes de restrições comerciais, redução da força de trabalho, absenteísmo escolar e laboral, custos assistenciais e previdenciários, entre outros. Vulnerabilidade: Medida pela disponibilidade concreta de instrumentos específicos de prevenção e controle da doença, propiciando a atuação efetiva dos serviços de saúde sobre indivíduos e coletividades. Compromissos internacionais: Relativos ao cumprimento de metas continentais ou mundiais de controle, de eliminaçãoou de erradicação de doenças, previstas em acordos firmados pelo governo brasileiro com organismos internacionais. Ocorrência de emergências de saúde pública, epidemias e surtos: São situações que impõe notificação imediata de todos os eventos de saúde que impliquem risco de disseminação de doenças, com o objetivo de delimitar a área de ocorrência, elucidar o diagnóstico e deflagrar medidas de controle aplicáveis. Mecanismos próprios de notificação devem ser instituídos, com base na apresentação clínica e epidemiológica do evento. REFERÊNCIAS Dengue e seus avanços. Amanda Naiala Ribeiro Furtado et al. Revista RBAC, 2018 Dengue e dengue hemorrágico: aspectos do manejo na unidade de terapia intensiva. Sunit Singhi et al. Jornal de pediatria, vol. 83, 2017 Clínica Médica, FMUSP, vol 7 Dengue, aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. Ministério da Saúde, 2012
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