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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS CURSO DE DIREITO NATÁLIA MORAIS CARNEIRO DA SILVA ALIENAÇÃO PARENTAL E A MEDIAÇÃO COMO ALTERNATIVA AO JUDICIÁRIO SÃO PAULO - SP JUNHO DE 2021 NATÁLIA MORAIS CARNEIRO DA SILVA ALIENAÇÃO PARENTAL E A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO AO JUDICIÁRIO Requisito parcial apresentado à coordenação do Curso de Direito da Universidade São Judas, como requisito na obtenção do diploma de Bacharel em Direito. Orientador: MS. Miguel Carlos Cristiano SÃO PAULO - SP JUNHO DE 2021 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1. ALIENAÇÃO PARENTAL.......................................................................................5 1.1 CONCEITO .............................................................................................. 5 1.2 A LEI N° 12.318/2010 E SUA APLICABILIDADE ..................................... 7 2. MEDIAÇÃO ........................................................................................................... 10 2.1 CONCEITO ............................................................................................ 10 2.2 HISTÓRIA...............................................................................................11 2.3 CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS.....................................................12 2.4 DIFERENÇAS ENTRE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO .......................... 15 2.5 FINALIDADES........................................................................................ 18 3. COMO A MEDIAÇÃO É VISTA NA SOCIEDADE............................................... 20 4. A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO AO JUDICIÁRIO...............................................................................................................23 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................27 ANEXO.......................................................................................................................29 3 INTRODUÇÃO A constituição familiar sempre esteve presente, sendo esse um meio de progresso e procriação da sociedade, tendo em vista a possibilidade de ter filhos, adotivos ou não. Todavia, junto com o casamento e a ampliação familiar surgiram os conflitos do Direito de Família, como por exemplo o divórcio, as ações de alimento, guarda e em alguns casos, a alienação parental. O tema se justifica pela demanda existente e do progresso dos conflitos até a contemporaneidade, em termos de igualdade e direitos cabíveis de proteção no seio familiar e social. Além do legislativo ter resguardado os direitos daqueles que lesados por conta da alienação parental, cada vez se faz mais presente na sociedade o instituto da mediação. Instituto este, que visa a celeridade processual, confidenciabilidade, maior autonomia das partes, sendo um meio flexível e informal, onde decisões possuem validade de sentença judicial. Nesse cenário, o questionamento que se fizera no desenvolvimento desse estudo foi: como a mediação pode ser um aliado importante nos conflitos de alienação parental? Ante a atual necessidade de resguardar os direitos do genitor que se sente prejudicado ao tentar manter vínculo com seu filho, criança ou adolescente, foi sancionada a Lei de Alienação Parental, n° 13.318 de agosto de 2010. O objetivo desse artigo é entender o conceito de alienação parental e a disposição da lei e da jurisprudência sobre o assunto. Compreender o conceito de mediação e analisar a diferença entre este instituto e o judiciário. Para isso, realiza-se uma análise da mediação, suas características e efeitos no mundo jurídico. A presente pesquisa visa também elucidar os benefícios e a importância do Instituto da Mediação como método consensual rápido e eficaz para solucionar os conflitos que envolvem alienação parental. Instituto esse que, não preza somente pela resolução do litigio, mas assegura que as partes envolvidas tenham o menor prejuízo emocional possível, já que é evidente que estes processos não trazem questões meramente patrimoniais. A metodologia no desenvolvimento deste estudo está abarcada em uma pesquisa bibliográfica e de cunho acadêmico, realizando a coleta e levantamento doutrinário e jurisprudencial, os quais foram obtidos a partir de livros, teses, teorias e artigos disponíveis nesta área. 4 Os capítulos compreenderam em 4 seções, abordando primeiramente os conceitos de alienação parental e mediação, depois trazendo uma pesquisa que elucida como a mediação é vista pela sociedade e por último, a importância da mediação como meio alternativo para solucionar conflitos. Cada capítulo compreenderá em subitens que agrega o entendimento amplo tanto na norma positivada como nas teses doutrinárias, bem como na atual jurisprudência. 5 1. ALIENAÇÃO PARENTAL 1.1 CONCEITO Os processos de separação e divórcio litigiosos deparam-se com os mais variados conflitos entre os ex-cônjuges, principalmente quando está em jogo os filhos oriundos dessa união1. Em alguns casos, as famílias dissolvidas lidam com a alienação parental, quando por alguma razão, os pais não permanecem juntos e um destes, manipula a criança ou adolescente, com o intuito de romper a relação afetiva com outro genitor. A alienação parental, caracteriza-se por uma ligação de acentuada dependência e submissão da criança ou adolescente ao genitor que detém sua guarda, com o intuito de dificultar a convivência com o genitor não guardião. Trata-se da campanha de desqualificação do genitor, não necessariamente daquele que exerce a guarda da criança, podendo ser do genitor não guardião, que exerce apenas o convívio paterno/materno filial. A alienação parental pode ser praticada tanto em contextos de guarda compartilhada tanto como na guarda unilateral. Tal prática produz um efeito maior nos filhos, principalmente, nas crianças mais novas, que não possuem discernimento e inteligência emocional suficiente para entender o que está acontecendo e se impor diante de tal situação. Dessa forma, por serem um alvo fácil, acabam se tornando um meio de vingança e disputa entre os pais. Após vivenciarem esse tipo de conflito, essas crianças e adolescentes se tornam inseguros, e por medo de perder o amor dos pais ou de um desses, muitas vezes dissimulam e controlam suas emoções afim de agradá-los, o que pode causar futuros danos psicológicos. O conceito de alienação parental foi atribuído ao psiquiatra Richard Gardner, que em 1985 notou a prática de condutas negativas com a intenção de destruir a figura de um dos genitores para que se obtenha a guarda dos filhos, e considerou o ato uma síndrome denominada Alienação Parental (Silva, 2007, p. 5). Garner dizia que durante o processo de divórcio, um dos genitores pode desenvolver o hábito de induzir a criança a se afastar do outro genitor. O objetivo 1 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Mediação na Alienação Parental: A Psicanálise com crianças no Judiciário. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Lumens Juris, 2018. 6 dessa prática seria separar e alienar a criança ou adolescente e impedir o vínculo familiar. Surge então, o nome Síndrome da Alienação Parental. Richard ainda reforçava que tal ato era feito de forma intencional e consciente. No entanto, outros pesquisadores que estudaram o assunto, relatam que em muitos casos, a prática pode ser feita de forma involuntária. Isso se dá quando o alienador, de forma ingênua,adquire o habito de falar pejorativamente sobre o outro genitor como forma de desabafo, sem perceber que aos poucos a criança está absorvendo essas informações. O conceito legal de alienação parental no Brasil foi definido na Lei n° 12.318/10. Leia-se o disposto: Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. A síndrome se concretiza no momento em que a criança ou o adolescente se influencia pelas falas do alienador e adota um novo comportamento com o genitor que está distante, acreditando que este é realmente uma pessoa ruim e assim passa a apoiar aquele que o está alienando. Moacir Pereira Júnior afirma que a alienação parental consiste na atitude egoísta e desleal de um dos genitores – na maioria das vezes o genitor-guardião, no sentido de afastar os filhos do convívio com o outro. Deste processo emerge a chamada Síndrome de Alienação Parental, que nada mais é que a nova conduta agressiva e de rejeição que passa a ser ter a prole em relação ao genitor que deseja afastar-se do convívio.2 Com esse pressuposto, o legislativo entendeu a gravidade do conflito e resguardou os direitos do genitor lesado por meio da Lei de Alienação Parental, n° 12.318 promulgada em 26 de agosto de 2010. 2 PENA JÚNIOR, Moacir Cesar. Direitos das Pessoas e das Famílias Doutrina e Jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 266. 7 1.2 A LEI N° 12.318 /2010 E SUA APLICABILIDADE No mesmo ano da promulgação da Lei de Alienação Parental, a Constituição Federal assegurou a crianças e adolescentes o direito a convivência familiar. O mesmo foi incluído por meio da emenda constitucional n° 65. Leia-se o dispositivo: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (grifo nosso) No momento em que o magistrado suspeita a prática deste crime, é solicitada uma perícia. O papel psicólogo ou do assiste social é analisar o estado mental em que se encontra essa criança ou adolescente, podendo fazer uma perícia psicossocial. A lei de alienação parental nos traz um rol exemplificativo de atos de alienação, que podem ser declarados por juiz, constatados por perícia, praticados diretamente pelo genitor e/ou com auxílio de terceiros. O rol trazido pelo dispositivo legal inclui: realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; dificultar o exercício da autoridade parental; dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; e, mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. 3 Nos casos em que for caracterizada a alienação parental, poderá o juiz aplicar medidas coercitivas para reeducar o genitor praticante deste ato. Vejamos o disposto 3 Lei n° 12.318/2010, art. 2°, § único e incisos I ao VII <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/lei/l12318.htm> Acessado em 22/04/2021. 8 na Lei 12.318/2010: Art. 6° Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - Declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - Ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - Estipular multa ao alienador; IV - Determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - Determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - Determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - Declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizada mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. Para elucidar a norma positivada, analisaremos a jurisprudência abaixo que nos traz um caso de alienação parental reconhecida pelo magistrado, com penalidades ao genitor guardião, que mantinha tal conduta. Leia-se: 9 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE MENOR. IMPEDIMENTO DE CONVÍVIO. DESCUMPRIMENTO DOS TERMOS DA GUARDA COMPARTILHADA. ALIENAÇÃO PARENTAL CONFIGURADA. REVERSÃO DO DOMICÍLIO JUSTIFICADA. Furtando-se a agravante, de modo injustificado, ao cumprimento dos termos do acordo de guarda compartilhada, impedido o convívio entre pai e filho, em manifesto prejuízo ao desenvolvimento saudável da criança, resta configurada, conforme o disposto no artigo 2º da Lei nº 12.318/2010, a prática de atos típicos de alienação parental que justificam a reversão do domicílio do menor em favor do genitor/agravado e, por consequência, a confirmação da ordem de busca e apreensão. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-GO - AI: 07462143320198090000, Relator: Des(a). LEOBINO VALENTE CHAVES, Data de Julgamento: 31/03/2020, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 31/03/2020) Observa-se que, em decorrência do impedimento do convívio entre pai e filho enquanto o mesmo estava sob guarda compartilhada, a genitora teve como penalidade a reversão do domicílio do menor em favor do pai. Esta decisão está amparada pelo inciso V do artigo 6° da lei de alienação parental. 10 2. DA MEDIAÇÃO 2.1 CONCEITO A mediação consiste no meio consensual de abordagem de controvérsias em que alguém imparcial atua para facilitar a comunicação entre os envolvidos e propiciar que eles possam, a partir da percepção ampliadas dos meandros da situação controvertida, protagonizar saídas produtivas para os impasses que os envolvem. 4 A mediação configura o meio consensual porque não implica a imposição de decisão por uma terceira pessoa; sua lógica, portanto, difere totalmente daquela que um julgador tem autoridade para impor decisões. No processo judicial não há sigilo e as partes se opõem, diante de um procedimento formal e inflexível. Seu andamento, bem como os agendamentos não podem ser controlados pelos envolvidos e o juiz é o encarregado de decidir sobre aquilo que muitas vezes desconhece, pois é matéria que não envolve apenas conhecimento jurídico. No mais, existem extensas opções de recursos que tornam o processo lento e com altíssimo custo, portanto, a mediação passa a ser um meio alternativo com muitas vantagens. Segundo Águida Arruda Barbosa a mediação constitui “um método fundamentado, teórica e tecnicamente, por meio do qual uma terceirapessoa, neutra e especialmente treinada, ensina os “mediandos” a despertarem seus recursos pessoais para que consigam transformar o conflito em oportunidade de construção de outras alternativas, para o enfrentamento ou prevenção de conflitos”. 5 O conceito legal de mediação é trazido pelo parágrafo único do artigo 1° da Lei n° 13.140/2015 e considera como mediação “a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.” Segundo a Autora Nazareth, a mediação é um método de condução de conflitos, voluntário e sigiloso, aplicado por um terceiro neutro e especialmente treinado, cujo objetivo é restabelecer a comunicação entre as pessoas que se encontram em um impasse, ajudando-as a chegar a um acordo. O objetivo é facilitar o diálogo, colaborar com as pessoas e ajudá-las a comunicar suas necessidades, 4 TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 4ª edição, 2017, p. 188. 5 BARBOSA, Águida Arruda. Mediação Familiar, p. 54. 11 esclarecendo seus interesses, estabelecendo limites e possibilidades para cada um, tendo sempre em vista as implicações de cada tomada de decisão a curto, médio e longo prazo.6 2.2 HISTÓRIA Há centenas de anos a mediação era usada na China e no Japão como forma primária de resolução de conflitos, não um meio alternativo. A mediação decorria diretamente sobre a harmonia natural e a solução de problemas pela moral em vez da coerção. Já a sociedade chinesa adotava a abordagem conciliatória do conflito, que persistiu ao longo dos séculos e se enraizou na cultura7. A mediação chegou ao Brasil no ano de 1989. Aguida Arruda Barbosa conheceu o instituto na França e passou a estudar e divulgar o tema no Brasil sob o prisma familiar. Neste período, haviam duas vertentes. A francesa, que se popularizou em São Paulo, e o modelo americano, que chegou pela Argentina nos anos 90 e se popularizou na região sul do país.8 Já no Brasil, o legislativo nos trazia desde meados dos anos 2000 e principalmente na área trabalhista, algumas previsões sobre conciliação e mediação. Apesar de sua baixa aplicabilidade neste período, tal instituto passou a ganhar força devido as contribuições doutrinárias, até que se promulgou a Lei de Mediação, n° 13.140/2015. No entanto, é notável que o histórico norte-americano influenciou o mundo. Países que adotam o common law, como Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia acompanharam com mais agilidade o desenvolvimento norte-americano; ainda assim, mesmo nos países de civil law, como França, Alemanha e Argentina houve influência pelos princípios e ideias que floresceram nos Estados Unidos. O Brasil também sofreu influência dos movimentos norte-americanos. Na busca de um modelo brasileiro, há também significativas influências da concepção de 6 NAZARETH, E.R. Guia de Mediação Familiar – aspectos psicológicos. In: APASE (org). Mediação Familiar. Porto Alegre: Equilíbrio, p.11-25, 2005. 7 KOVACH, Kimberlee K. Mediation: Principles and Practice. 3. ed. St. Paul: Thomson West, 2004, p. 28. 8 BARBOSA, Aguida Arruda. Composição da historiografia da mediação – instrumento para o direito de família contemporâneo. Revista Direitos Culturais, v.2, n.3, dezembro 2007, p. 19) 12 mediação como instrumento de transformação do conflito.9 2.3 CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO O Código de Processo Civil de 2015 dispõe sobre a mediação e sobre seus princípios e características. Leia-se o dispositivo abaixo: Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. § 1º A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes. § 2º Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação. § 3º Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à autocomposição. § 4º A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais. (grifo nosso) Destacam-se como diretrizes essenciais da mediação o princípio da dignidade humana – já que um dos pilares dos meios consensuais e o reconhecimento do poder de decisão das parteres (com liberdade e autodeterminação) -, a informalidade, e a participação de terceiro imparcial e a não competitividade.10 Além destes, conforme mencionado no artigo acima, são princípios da mediação: autonomia da vontade e decisão informada; informalidade e independência; oralidade; imparcialidade; busca do consenso, compreensão e não competitividade; boa-fé; confidencialidade e isonomia. Iremos compreendê-los com maior clareza nos parágrafos abaixo. 9 FALECK, Diego. TARTUCE, Fernanda. Introdução histórica e modelos de mediação. Disponível em www.fernandatartuce.com.br/artigosdaprofessora. Acesso em 24/04/2021. 13 O tema da autonomia traz a mente um ponto importante: a voluntariedade. A conversação só pode ser realizada se houver aceitação expressa dos participantes; eles devem escolher o caminho consensual e aderir com disposição a mediação do início ao fim do procedimento. Ao abordar o tema no cenário da autocomposição judicial, a Resolução 125/2010 do CNJ dispõe que11: Art. 2º As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são normas de conduta a serem observadas pelos conciliadores/mediadores para o bom desenvolvimento daquele, permitindo que haja o engajamento dos envolvidos, com vistas à sua pacificação e ao comprometimento com eventual acordo obtido, sendo elas: [...] II - Autonomia da vontade - dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva, com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo e de interrompê-lo a qualquer momento; (grifo nosso) A Resolução 125/2010 do CNJ em seu anexo III, artigo 1°, inciso II, assegura também a aplicação do princípio da decisão informada. O artigo garante o “dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido”. O princípio da informalidade busca facilitar o diálogo entre as partes envolvidas. No entanto, vale destacar que, embora a Lei de Mediação assegure esse princípio12, ela direciona a atuação do mediador ao dispor que ele deva alertar as partes sobre as regras de confidenciabilidade aplicáveis ao procedimento13. A previsão não deve ser vista como uma contraindicação: a Lei regula o tema para trazer parâmetros úteis e alguma previsibilidade, mas não impõe um modo rígido de atuação. A informalidade se conecta a outra importante diretriz: pelo princípio da independência, a atuação de conciliadores e mediadores judiciais deve se dar com 11 https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156 <Acesso em 29/04/2021.> 12 Lei n° 13.140/2015, art. 2°, inciso IV. 13 Lei n° 13.140/2015, art. 14. 14 autonomia e liberdade, sem subordinação nem influência de qualquer ordem.14 O princípio da oralidade é importante para que cada pessoa tenha voz ao abordar suas perspectivas e possa se sentir efetivamente escutada. Esta técnica permite perceber que a pessoa e destinatária da atenção mostrando-se o interlocutor interessado em seus pensamentos e opiniões. As partes estão comprometidas no processo de ouvir ativamente e trocar informações. O princípioda imparcialidade assegura que o terceiro imparcial que irá atuar na causa deve ser completamente estranho aos interesses, não sendo ligado às partes por especiais relações pessoais: tal abstenção é fundamental para o reconhecimento de sua credibilidade em relação aos litigantes e a opinião pública. Isso se dá porque os mediadores são reconhecidos como auxiliares da justiça, e portanto, sofrem a incidência dos motivos de impedimento e suspeição atribuídos aos magistrados (art. 148. II, CPC/2015 e artigo 5° da Lei n° 13.140/2015). No que tange ao princípio da busca do consenso, cooperação e não competitividade, observamos o disposto no artigo 6° do CPC que diz: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. Assim, entendemos que se espera dos envolvidos que cooperem com o resultado da mediação, que cheguem a um consenso e que não ajam com com competitividade. O princípio da boa-fé consiste no sentimento e no convencimento íntimo quanto à lealdade, à honestidade e à justiça do próprio comportamento, afim de que se atinja os fins almejados15. Afinal, se um dos envolvidos faltar com boa-fé e seriedade durante a mediação, sua posturá gerará lamentável perda de tempo para todos, sendo esse requisito imprescindível para que se cumpra com a finalidade da negociação. Já a confidencialidade (artigo 166, §1°, CPC/2015) é um instrumento que confere confiança para que as partes se sintam à vontade para revelar informações íntimas, e por vezes, estratégicas, já que talvez não seriam exteriorizadas em um procedimento público. Vejamos o disposto na Lei de Mediação sobre o sigilo das reuniões: 14 TARTUCE, Fernanda. Comentários aos artigos 166/175, item 2. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (coords.). Breves comentários ao novo código de processo civil. São Paulo: RT, 2015, p. 525. 15 Este conceito pertence a Gino Zani e é citado por Helena Abdo em sua obra Abuso do Processo (São Paulo: RT, 2007). 15 Art. 30. Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação for exigida por lei ou necessária para cumprimento de acordo obtido pela mediação. § 1º O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta ou indiretamente, participado do procedimento de mediação, alcançando. I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou proposta formulada por uma parte à outra na busca de entendimento para o conflito; II - reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento de mediação; III - manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo mediador; IV - documento preparado unicamente para os fins do procedimento de mediação. [...] Por fim, temos a isonomia. Este princípio confere o direito a igualdade de oportunidades aos envolvidos para que estes tenham plenas condições de se manifestar durante todo o procedimento. 2.4 DIFERENÇA ENTRE MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO Antes de aprofundarmos sobre as diferenças entre os dois institutos, vale ressaltar os pontos que estes possuem em comum, tais como: autonomia privada para decidir dentre as possíveis opções de resolução dos conflitos; o desejo dos envolvidos de buscar uma solução; a não imposição de resultados; o intuito de promover ou 16 reestabelecer a comunicação entre as partes e a participação de um terceiro imparcial à lide. A mediação e conciliação podem ocorrer tanto pela via judicial como extrajudicialmente, a depender da preferência dos envolvidos e do caso concreto. São algumas possibilidades: celebra-lo em câmaras públicas instauradas no Tribunal; em ambientes privados, tais como escritórios de advocacia; ou mesmo em câmaras administrativas, vinculadas à administração pública. Quanto ao terceiro mediador ou conciliador, é facultativo que as partes o escolham, podendo ser tanto um funcionário público, como um profissional liberal que tenha cargo compatível. Tanto a conciliação como a mediação constituem meios alternativos de solução de conflitos com a função de auxiliar as partes a autocomposição, sem que se submetam a jurisdição estatal. As duas técnicas possuem respaldo no Código de Processo Civil de 2015, que já nos traz algumas diferenças importantes entre estes institutos. Vejamos o dispositivo abaixo: Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. § 1º A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça. § 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. § 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento 17 da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos. (grifo nosso) A conciliação é um método indicado nos casos em que as partes buscam a resolução de um problema específico. Nesse contexto, estes conseguem dialogar, no entanto, não estão conseguindo entrar em um acordo, portanto, recorrem a um terceiro que irá analisar a situação e assim interferir e sugerir um acordo. Já a mediação é buscada por aqueles que visam recuperar o diálogo entre si. Neste caso, o objetivo não é somente um acordo. O intuito é que se supere os traumas vividos, reconheça os sentimentos envolvidos e assim se restaure a comunicação perdida. Feito isso, encontrarão um novo caminho para solucionar os problemas. A diferença fundamental entre mediação e conciliação reside no conteúdo de cada instituto. Na conciliação, o objetivo é o acordo, ou seja, as partes, mesmo adversárias, devem chegar a um acordo para evitar um processo judicial. Na mediação as partes não devem ser entendidas como adversárias e o acordo é a consequência da real comunicação entre as partes. Na conciliação o conciliador sugere, interfere, aconselha. Na mediação, o mediador facilita a comunicação, sem induzir as partes ao acordo.16 Em ambos institutos faz-se necessário a presença de um terceiro desconhecido e imparcial que consiga facilitar o diálogo e convívio entre as partes de forma eficaz. Os meios consensuais, diferente do judiciário, não permite que este terceiro expresse opiniões acerca do assunto discutido. Além disso, seria antiético se aliar a uma dessas partes ou mesmo proferir julgamentos. 17 Afim de sintetizar a explicação acima, e acrescendo o instituto da arbitragem, que também é um meio alternativo de resolução de conflitos, repare as diferenças esquematizadas no quadro abaixo: 16 SALES, Lilia Maia de Morais. Justiça e Mediação de conflitos, cit; p. 38. 17 BARBOSA E SILVA, Erica. Conciliação Judicial. Brasília: Gazeta Jurídica, 2003, p. 173. 18 CONCILIAÇÃO MEDIAÇÃO ARBITRAGEM Forma de autocomposição do conflito. Forma de autocomposição do conflito Forma de hetero composição do conflito O terceiro não decide o conflito. Ele facilita que as partes cheguem ao acordo. O terceiro não decide o conflito. Ele facilita que as partescheguem ao acordo. O terceiro é quem decide o conflito. Atua preferencialmente nos casos que não houver vínculo anterior entre as partes. Atua preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes. Atua em ambos os casos. Propõe soluções para os litigantes. Não propõe soluções para os litigantes. Decide o conflito. 2.5 FINALIDADES DA MEDIAÇÃO A mediação possui algumas finalidades sociais, das quais podemos citar: o reestabelecimento da comunicação; a prevenção do relacionamento entre as partes; a prevenção de conflitos; inclusão social e a pacificação social. Discorreremos abaixo sobre estas. Para atingir o reestabelecimento da comunicação, se faz necessário na mediação que as partes sejam protagonistas e elaborem por si mesmos, acordos duráveis. Um dos objetivos deste instituto é promover o diálogo e a pacificação duradoura. Em decorrência dos fatores emocionais das partes como rancor e insegurança, a comunicação e o diálogo direto se tornam um desafio. Por isso a figura de um terceiro, neutro à lide, para trabalhar as tensões e tornar possível o reestabelecimento do contato entre estes. Nos casos em que as partes vivenciaram grandes traumas e por este motivo 19 não têm condições de avançar com o procedimento consensual, é possível que se façam sessões particulares entre o individuo e o mediador. Após este entender os interesses de ambas as partes, então se agendará uma sessão conjunta para que sejam abordadas as possibilidades de acordo. As finalidades de preservação do relacionamento e da prevenção de conflitos existem para que mesmo após a resolução da lide, as partes continuem em harmonia e assim evitem a ocorrência de novos litigios. A experiência anterior de composição pela mediação gera aprendizado sobre formas proveitosas de comunicação e serve como diretriz para futuros encaminhamentos de controvérsias. Para que a distribuição da justiça seja efetivamente racionalizada e tornada eficiente, é preciso contar com todos os setores da sociedade. Incumbe ao cidadão a importante tarefa de colaborar para o exercício da jurisdição, reconhecendo também sua responsabilidade na busca da justiça e do consenso. Nesse ponto se encaixa a finalidade da inclusão social, onde a participação do indivíduo fortalece seu senso cívico e revela-se importantíssima para a credibilidade e eficiência das instituições.18 No que tange a pacificação social, entende-se que a verdadeira justiça só se alcança quando os casos se solucionam mediante consenso que resolva não só a parte do problema em discussão, mas também todas as questões que envolvam o relacionamento entre os interessados. Com a implementação da mediação, o Estado estará mais próximo da pacificação social e da harmonia entre as pessoas. 18 TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 4ª edição, 2017, p. 238. 20 3. COMO A MEDIAÇÃO É VISTA NA SOCIEDADE Para elucidar o conteúdo exposto neste trabalho, realizei uma pesquisa com pessoas que já recorreram ao judiciário ou à mediação para resolver conflitos familiares. Essa pesquisa foi realizada de forma individual e anônima, por meio de um formulário elaborado na plataforma online “Google Docs” e divulgada em redes sociais como Facebook, WhatsApp e LinkedIn no ano de 2020. Foram entrevistadas 64 pessoas de 19 a 65 anos, de diferentes estados brasileiros e classes sociais. Além de perguntas objetivas, os entrevistados relataram de forma dissertativa e orgânica suas experiências nos processos em que foram parte ou que indiretamente puderam acompanhar. Todos os relatos estavam relacionados ao direito de família, matéria delicada e que as parte não discutem apenas questões patrimoniais. Sobre o Judiciário e a Mediação foram abordadas perguntas como: tempo de duração do processo; efetividade das decisões; pontos positivos, e sugestões de melhoria. Os entrevistados que não foram parte ativa em processos, relataram apenas suas respectivas opiniões e entendimentos acerca do assunto, tendo como base experiências vividas por pessoas próximas ou conhecimento técnico/teórico oriundo de alguma forma de ensino. O questionário elaborado visa comparar o Judiciário e a Mediação, conhecer dos anseios e das frustações dessas pessoas no decorrer do andamento processual e entender se seus resultados foram satisfatórios. Os entrevistados responderam quais foram os assuntos discutidos nessas demandas, o que entendem por mediação e se já a utilizaram como meio alternativo para solucionar conflitos de cunho familiar. De antemão, observamos que a insatisfação com os processos judiciais é praticamente unânime entre todos os entrevistados na pesquisa. Se tratando do tempo de duração dos processos, suma maioria levou entre três meses e um ano para obter uma solução. No entanto, houve relatos de pessoas que levaram mais de dois anos para solucionar o mesmo tipo de litígio. O maior tempo para solucionar um conflito relatado na pesquisa, foi uma ação de alimentos que levou oito anos para ter um desfecho. Vejamos o gráfico abaixo: 21 Quando questionados sobre o que deveria melhorar no judiciário, a resposta mais recebida foi celeridade, ocupando um espaço de quase 50% das respostas. Na sequência as sugestões foram: sensibilidade com as partes; garantir o efetivo cumprimento das decisões proferidas; fornecer mais espaço para os interessados falarem (como os filhos); agilidade para conseguir um defensor público; análise mais detalhada das provas e dos fatos apresentados, e maior participação de especialistas em relações humanas, entre outras. 22 Preliminarmente, diante do cenário atual exposto, nos resta claro o entendimento de que a mediação se faz necessária e contempla todos os projetos de melhoria acima descritos. No entanto, quando questionados sobre esse meio, um terço dos entrevistados respondeu que nunca sequer ouviu falar no instituto. Dos que já conheciam, apenas 10% do total de entrevistados havia o utilizado para solucionar conflitos. Ou seja, temos a primeira dificuldade encontrada, que é a falta de conhecimento dos meios alternativos. A pequena porcentagem que já resolveu um litígio por meio da mediação, afirma que tiveram experiências positivas, conseguindo reestabelecer o diálogo e chegar a um consenso. Afirmam que o entendimento do mediador evitou maiores problemas e que no geral consideram o meio como prático e rápido. A entrevista, portanto, ressalta a importância e eficiência da mediação, bem como a necessidade de levar a informação sobre esse instituto à sociedade. 23 4. A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO AO JUDICIÁRIO Tanto o legislativo quanto o judiciário, possuem o dever de reconhecer, acautelar e solucionar os casos de Alienação Parental. Corroborando com estes, existem outros dispositivos que facilitam esse desafio, como o institutito da mediação, que tem sido cada vez mais eficaz e promissora diante de tais conflitos. Segundo dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)19 em relatório analítico de 201920 (ano base 2018), o judiciário brasileiro teve a abertura de 20,6 milhões de casos pelo meio eletrônico, sendo o índice de conciliação apenas 12% desses processos. Se tratando do tempo de duração, o relatório mostra que os processos sem solução definitiva aguardam desfecho em média há 4 anos e 10 meses. O tempo médio até a sentença subiu 1 ano e meio desde 2015 para 2 anos e 2 meses em 2018. Dada a relevância do Direito de Família e os grandes efeitos que as decisões geram, esperar meses ou anos para ter um litígio solucionado poderá trazer grandes prejuízos às partes envolvidas. No mais, o Poder Judiciário não conseguiria solucionar a demandas analisando-as sob a ótica afetiva, diferentementeda mediação. Afim de ilustrar as pesquisas realizadas, analisamos um caso concreto, julgado recentemente, para entendermos como se desdobra a prática deste crime e a sua resolução por meio do judiciário. Leia-se a jurisprudência abaixo: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INCIDENTAL DE DECLARAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL. ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL PRATICADO PELO GENITOR CONTRA A FILHA/INFANTE. CONSTATADA A OCORRÊNCIA DE ALIENAÇÃO PARENTAL PERPETRADA PELA MÃE. NECESSIDADE DE RECONSTRUÇÃO DOS LAÇOS AFETIVOS ENTRE PAI E FILHA. SENTENÇA REFORMADA. O presente recurso tem por objetivo a reforma da decisão proferida pelo juízo singular que, nos autos da ação incidental de 19 https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/. Acesso em 28/04/2021. 20 https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em-N%C3%BAmeros- 2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf. Acesso em 28/04/2021. 24 declaração de alienação parental, julgou improcedente o pedido formulado na inicial. Para tanto, o apelante alegou que os autos estão alicerçados na palavra de uma mãe alienadora, que é fantasiosa e totalmente distorcida da realidade.Com efeito, após uma análise cuidadosa e detalhada dos autos, verificou-se que as graves acusações de abuso sexual praticadas pelo genitor contra a filha não passam de alegações, sem qualquer elemento de prova que possa embasar os relatos, e que, inclusive, são eivados de contradições e ausência de esclarecimentos coerentes sobre a dinâmica do ocorrido. A genitora criou uma história, que talvez tenha passado a acreditar, em que o pai figurava como um monstro abusador, de quem a mãe iria proteger a filha, ao contrário do que a própria progenitora fez. Assim, desqualificou o pai, que se tornou pessoa da qual a infante passou a ter medo, causando evidente prejuízo à manutenção de vínculos com este, além dos prejuízos psicológicos fatalmente acarretados na menina, em evidente prática de alienação parental. Apelação provida. (TJ-RS - AC: 70080365315 RS, Relator: José Antônio Dalto e Cezar, Data de Julgamento: 10/07/2020, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: 25/09/2020) (grifo nosso) A referida jurisprudência relata um caso que foi ajuizado em novembro de 2015 pelo pai da criança vítima da alienação, que possuía apenas dez anos de idade na época. Relata, ainda, que desde o nascimento da criança, a mesma esteve sob os cuidados e guarda da mãe e que em todas as visitas algum familiar materno tinha que estar presente. De antemão, podemos notar que o conflito já existia há dez anos, desde o nascimento da criança até o genitor ir buscar reparo judicial. No entanto, desde o ajuizamento da demanda, o caso só veio ser solucionado no ano de 2020, quase cinco anos depois. Ou seja, ainda que o magistrado reconheça e assegure os direitos deste pai, já se rompeu o laço afetivo existente entre as partes. A filha, que era uma criança, 25 hoje já é uma adolescente. No mais, tal julgado está presente em diversos sites de pesquisas, com fácil acesso e exposto a qualquer interessado ao tema. Com base nesses fatos, conseguimos traçar a importância da mediação em casos delicados como a alienação parental. Conforme explicamos nos capítulos anteriores, a mediação possui algumas características como o sigilo, a celeridade, a confidenciabilidade e informalidade, que fariam toda a diferença no resultado de um caso como este. 26 CONCLUSÃO A alienação parental é um tema complexo e delicado, tendo em vista toda a situação inserida diante do abuso de poder unilateral de um dos genitores e do prejuízo imaterial e psicológico causados aos filhos destes e ao genitor prejudicado. Desde a Constituição Federal de 1988, já haviam previsões legais que resguardavam e protegiam o convívio familiar, como o artigo 227, que assegura a criança e ao adolescente o direito à convivência familiar e comunitária. Com o crescimento da prática, o legislativo reconheceu a importância de se promulgar uma lei específica que estipulasse direitos e deveres entre os genitores, quando se insere a Lei de Alienação Parental, n° 12.318/2010. O presente estudo que desencadeou o artigo, teve como objetivo estudar a diferenciação deste tema quando tratado por meio do judiciário e quando solucionado por meio da mediação. Instituto esse alternativo e recente, já que só teve respaldo de em junho de 2015, com a promulgação da Lei de Mediação n° 13.140. A mediação surgiu como um mecanismo mais célere, discreto e eficaz, onde as partes possuem total autonomia para controlar todo o procedimento e tornar algo que poderia ser traumático e cansativo em uma solução rápida e pacífica para todos os envolvidos. No entanto, ainda se faz pouco conhecida na sociedade, como pudemos observar pela entrevista realizada. O presente artigo reuniu conceitos, parte histórica, características da alienação parental e da mediação e a demonstração prática de como esses dois temas podem se relacionar de forma positiva. Quando analisada a jurisprudência, notou-se a necessidade de existir um meio alternativo para solucionar esse tipo de conflito, já que por meio da justiça as partes eram prejudicadas em decorrência do tempo disponibilizado para resolver os litígios, ainda mais quando levadas em consideração o aspecto emocional envolvido na lide de cunho familiar. 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA. Aguida Arruda. Mediação Familiar Interdisciplinar. Volume único, 1ª edição, 216 páginas, 2015. Conselho Nacional de Justiça. A Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, 2010. Disponível em: <https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156>. Acesso em: 18 de abr. de 2021. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números, 2020. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em- N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf.>. Acesso em: 22 de abr. de 2021. DINIZ, Maria Helena. Curso Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. Volume 5, 33ª edição, 863 páginas, 2019. FILAGRANA, Tatiana. Mediação familiar como solução para alienação parental. Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), 2017. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/1216/Media%C3%A7%C3%A3o+familiar+como+solu% C3%A7%C3%A3o+para+aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+#_ftnref16>. Acesso em: 29 de abr. de 2021. GOMES, Acir. Alienação parental e suas implicações jurídicas. Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), 2013. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/870/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+e+suas+impli ca%C3%A7%C3%B5es+jur%C3%ADdicas>. Acesso em: 23 de maio de 2021. https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156 https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/ https://ibdfam.org.br/artigos/1216/Media%C3%A7%C3%A3o+familiar+como+solu%C3%A7%C3%A3o+para+aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+#_ftnref16 https://ibdfam.org.br/artigos/1216/Media%C3%A7%C3%A3o+familiar+como+solu%C3%A7%C3%A3o+para+aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+#_ftnref16 https://ibdfam.org.br/artigos/870/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+e+suas+implica%C3%A7%C3%B5es+jur%C3%ADdicas https://ibdfam.org.br/artigos/870/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental+e+suas+implica%C3%A7%C3%B5es+jur%C3%ADdicas 28 OLIVEIRA, Cauã. Alienação parental: os desdobramentos da legislação brasileira e suas medidas para combate-la. Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), 2020. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/1584/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental%3A+os+des dobramentos+da+legisla%C3%A7%C3%A3o+brasileira+e+suas+medidas+para+co mbate-la>. Acesso em: 28 de abril de 2021. PLANALTO. Código Civil, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>.Acesso em: 18 de abr. de 2021. PLANALTO. Constituição Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 02 de maio de 2021. PLANALTO. Lei de Alienação Parental, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 28 de abr. de 2021. TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 4ª edição, 2017. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 8ª edição, 2018. https://ibdfam.org.br/artigos/1584/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental%3A+os+desdobramentos+da+legisla%C3%A7%C3%A3o+brasileira+e+suas+medidas+para+combate-la https://ibdfam.org.br/artigos/1584/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental%3A+os+desdobramentos+da+legisla%C3%A7%C3%A3o+brasileira+e+suas+medidas+para+combate-la https://ibdfam.org.br/artigos/1584/Aliena%C3%A7%C3%A3o+parental%3A+os+desdobramentos+da+legisla%C3%A7%C3%A3o+brasileira+e+suas+medidas+para+combate-la 29 ANEXO Qual é a sua idade? 64 respostas Você já foi parte em algum processo (judicial ou extrajudicial) relacionado ao Direito de Família? 64 respostas Direito de Família: Judiciário e Mediação Extrajudicial 64 respostas Publicar análise 19 21 24 27 31 37 40 46 48 51 58 0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 3 (4,7%)3 (4,7%)3 (4,7%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 10 (15,6%)10 (15,6%)10 (15,6%) 4 (6,3%)4 (6,3%)4 (6,3%) 6 (9,4%)6 (9,4%)6 (9,4%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 2 (3,1%)2 (3,1%)2 (3,1%) 3 (4,7%)3 (4,7%)3 (4,7%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%1 (1,6%1 (1,6% nao Já pedi pens… Nao Nao NÃO Não Não Sim Sim não não sim 0 10 20 30 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 3 (4,7%)3 (4,7%)3 (4,7%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) 19 (29,7%)19 (29,7%)19 (29,7%) 13 (20,3%)13 (20,3%)13 (20,3%) 21 (32,8%)21 (32,8%)21 (32,8%) 1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%)1 (1,6%) https://docs.google.com/forms/d/1Xiep0h7v9Z3Ic3na9ovRqhJnd7LCNy6okZhwj6aeO1k/edit?usp=redirect_edit_m2#start=publishanalytics Se sim, em qual estado brasileiro tramitou este processo? 27 respostas Selecione abaixo, caso houver, o(s) assunto(s) que era(m) discutido(s) nessa ação: 26 respostas Bahia Guarda Não Não fui Não fui parte Rio Grande… Sp São Paulo São Paulo São Paulo sp São paulo são p… 0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%) 2 (7,4%)2 (7,4%)2 (7,4%) 1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%) 9 (33,3%)9 (33,3%)9 (33,3%) 6 (22,2%)6 (22,2%)6 (22,2%) 2 (7,4%)2 (7,4%)2 (7,4%) 1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%)1 (3,7%) 0 5 10 15 20 Guarda Alimentos Reconhecimento de filhos Adoção Alienação parental Nunca participei de ação de família Colisão de veículo Estupro de Vulneravel 5 (19,2%)5 (19,2%)5 (19,2%) 18 (69,2%)18 (69,2%)18 (69,2%) 4 (15,4%)4 (15,4%)4 (15,4%) 1 (3,8%)1 (3,8%)1 (3,8%) 1 (3,8%)1 (3,8%)1 (3,8%) 2 (7,7%)2 (7,7%)2 (7,7%) 1 (3,8%)1 (3,8%)1 (3,8%) 1 (3,8%)1 (3,8%)1 (3,8%) Quanto tempo durou este processo? 22 respostas As questões discutidas na ação foram solucionadas? 24 respostas 1 2 anos 2meses 3 meses 3meses e 6 meses 6 meses 9 meses Em torno de 8 a… Menos de 3 meses Tr… 0 1 2 1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%) 2 (9,1%)2 (9,1%)2 (9,1%) 1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%) 2 (9,1%)2 (9,1%)2 (9,1%) 1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%) 2 (9,1%)2 (9,1%)2 (9,1%) 1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%)1 (4,5%1 (4,5%1 (4,5% Sim Não Apenas parte delas Ainda nao temos um decreto 25% 66,7% O que você acha que poderia ser melhor no judiciário? Especialmente quando relacionado ao Direito de Família. 64 respostas Você conhece ou já utilizou a Mediação como meio alternativo ao Judiciário? 64 respostas Os direitos ser iguais para ambos tanto para receber pensão quanto para fazer visitas Celeridade para proteção das partes Acompanhamento judicial dos pagamentos de pensão alimentícia Agilidade Celeridade Sensibilidade, pois os temas geralmente são danosos à saúde mental das partes Procurar agilizar processos, principalmente com relação à guarda de filhos e procurar ouvir a opinião do mais interessado (filho). Creio que o direito de família vem avançando, se adequando à realidade da atual sociedade. No momento, não vejo questões que devam ser melhoradas. No que diz respeito ao judiciário, acho que os juízes deveriam tratar os casos com Desconheço Conheço, mas nunca o utilizei Conheço e já utilizei25% 40,6% 34,4% Se já utilizou a Mediação, descreva abaixo como foi sua experiência: 19 respostas Este conteúdo não foi criado nem aprovado pelo Google. Denunciar abuso - Termos de Serviço - Política de Privacidade O acordo de como seria feito o pagamento da pensão não só em dinheiro como o auxílio na educação escolar. Nunca utilizei Péssima, psicólogos traves tidos de advogados e defensoria com estagiários ignobeis Tranquila, mais objetiva. Frustrante porque a causa era relacionada à relação de consumo e a empresa usa o procedimento para ganhar tempo, recusando a solução compositiva Não utilizei Não foi na vara de família.. tive sucesso total Já utilizei a medição em um caso consumerista em que a questão só dependia de um dialogo com a empresa, que por conta das vias de contato não eram possíveis, por Formulários https://docs.google.com/forms/d/1Xiep0h7v9Z3Ic3na9ovRqhJnd7LCNy6okZhwj6aeO1k/reportabuse https://policies.google.com/terms https://policies.google.com/privacy https://www.google.com/forms/about/?utm_source=product&utm_medium=forms_logo&utm_campaign=forms
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