Prévia do material em texto
JOEL NERES DE SOUZA – MEDICINA FAMETRO 2021 – DERMATOLOGIA INFECÇÕES BACTERIANAS DE PELE PIODERMITES → São processos infecciosos, classificados primariamente como cutâneos e por impetiginização ou por infecção secundária, quando a pele estiver previamente lesada. São mediados por toxinas (endo ou exotoxinas). INTRODUÇÃO ETIOLOGIA: Estafilocócica (Staphylococcus aureus) Estreptocócicas (Streptococcus pyogenes) PROFUNDIDADE DA INFECÇÃO NA PELE: Infeccão superficial da pele: impetigo e síndrome da pele escaldada estafilocócica (SSSS) Infecção da epiderme e derme: ectima Infecção mais profunda: erisipela e celulite Profunda com tendência à supuração: abscesso e fleimão Abertura do folículo pilossebáceo: ostiofoliculite Profundidade do folículo piloso: foliculite Folículo piloso juntamente com sua glândula sebácea: furúnculo e carbúnculo Glândula sudorípara écrina: periporite e abscessos múltiplos dos lactentes Unha e suas dobras: paroníquia e panarício. CONSIDERAÇÕES A pele normal é rica em bactérias, que podem ser agrupadas em: Residentes permanentes → as primeiras colonizam a pele e vivem nela como comensais, sendo de difícil remoção Residentes transitórias → podem colonizar a pele e permanecer nela e são de remoção relativamente fácil Na patogenia das piodermites, diversos fatores devem ser considerados: A interferência da flora residente, por dificultar a colonização de outras bactérias A barreira mecânica celular O grau de hidratação da pele normal Maior a umidade da pele, mais fácil a multiplicação de bactérias O pH ácido dificulta e o pH alcalino facilita a multiplicação das bactérias. O pH da pele situa-se entre 4,6 e 5,8 A barreira química representada por ácidos graxos não saturados (principalmente o oleico) produzidos à custa da ação da flora residente, sobretudo do Propionibacterium acnes A capacidade imunológica do indivíduo A patogenicidade e o grau de virulência do germe. São infecções piogênicas primárias da pele, contagiosas, superficiais, produzidas por estafilococos e estreptococos. Acometem face e os membros superiores Mácula eritematosa que evolui rapidamente para bolha e/ou vesícula → crosta Pode ser: impetigo não bolhoso (70%) e impetigo bolhoso IMPETIGO NÃO BOLHOSO Etiologia S. aureus, e S. pyogenes; por vezes, ambos se associam. Local nariz e da boca e nas extremidades Ocorre no local de pequenos traumatismos como escoriações, queimaduras e picadas de insetos. Não há elevação de antiestreptolisina O (ASLO). IMPETIGO BOLHOSO De etiologia exclusivamente Staphylococcus aureus Etiologia igual à da síndrome da pele escaldada estafilocócica (SSSS); Ocorre mais em neonatos e crianças. Formação de vesículas → bolhas grandes que sofrem processo de pustulização. → crostas Local face, períneo, nádegas e extremidades. DIAGNÓSTICO É clínico; Podem-se realizar exames bacterioscópicos e cultura para identificação do agente. Entre os diagnósticos diferenciais, destacam-se herpes simples, candidíase, dermatofitose, periporite e miliária. IMPETIGO JOEL NERES DE SOUZA – MEDICINA FAMETRO 2021 – DERMATOLOGIA TRATAMENTO Limpeza com água e sabão 3x/dia É recomendável o uso de antissépticos Lesões pequenas → Pomada de mupirocina 3x/dia por 14 dias Cefalexina, 250 mg por via oral quatro vezes ao dia Doxiciclina, 100 mg por via oral, duas vezes ao dia, para MRSA Impetigo recorrente está associado ao transporte nasal de S. aureus e é tratado com rifampicina, 300 mg por via oral duas vezes ao dia durante 5 dias ECTIMA Variante do Impetigo De etiologia estreptocócica – ou estreptoestafilocócica –, caracteristicamente inicia-se por pústula → lesão ulcerada → crosta espessa Localização preferencial nas pernas, deixando, ao involuir, cicatriz. Pode ser única, mas, em geral, há várias lesões. Além dos cuidados locais (água e sabão, compressas com água boricada ou permanganato seguido de antibiótico tópico). Tratamento basicamente o mesmo do impetigo Conceito A SSSS (do inglês staphylococcal scalded skin syndrome) ou impetigo neonatal → é uma doença bolhosa superficial produzida pela toxina esfoliativa – esfoliatina – do Staphylococcus aureus do grupo 2 Epidemiologia Acomete basicamente crianças, apresentando, na maioria das vezes, curso benigno. Rara no adulto, quando presente tem mortalidade de 60%, podendo chegar a 100% nos pacientes com alguma doença de base, como insuficiência renal, imunossupressão, etilismo, malignidade ou infecção por HIV. Clínica A infecção primária conjuntiva → rash eritematoso escarlatiforme → bolhas flácidas → se romperem, originam extensas áreas exulceroexsudativas, de maneira que o paciente assemelha-se a um grande queimado. O sinal de Nikolsky é positivo A descamação resultante revela base eritematosa de rápida cicatrização. Associada a IVAS, conjuntivite, sepse umbilical Febre e irritabilidade presentes Diagnóstico (1) a clínica, em que há eritrodermia, descamação ou formação de bolhas; (2) o isolamento do S. aureus produtor de toxina esfoliativa; (3) a histopatologia → clivagem intraepidérmica na altura da camada granulosa. Tratamento Internação Deve ser feito com penicilinas semissintéticas resistentes à penicilinase, Oxacilina via intravenosa – 50 a 100 mg/kg/dia em recém- nascidos; e Oxacilina via intravenosa – 100 a 200 mg/kg/dia em adultos Conceito É uma infecção aguda da derme, com importante comprometimento linfático. Etiopatogenia Estreptocócica, sobretudo do grupo A, porém eventualmente dos grupos B, C e G. O início ocorre após perda da barreira cutânea. Fatores de risco incluem tinea pedis, insuficiência venosa, diabetes, tromboflebite, trauma, desnutrição, abuso de álcool ou drogas ilícitas e infecções respiratórias nos casos de erisipela na face. Clínica Eritema vivo e intenso edema doloroso, com bordas bem delimitadas, Quando o processo é intenso, surgem bolhas, necrose com ulceração posterior Acomete a parte distal de um membro inferior, em função de intertrigo interpododáctilo. É acompanhada de linfangite e linfadenopatia regional aguda, Febre, mal-estar, calafrios, Edema duro (linfedema) que acaba levando à elefantíase Complicações, podem-se citar nefrite e septicemia. SÍNDROME DA PELE ESCALDADA ESTAFILOCÓCICA ERISIPELA JOEL NERES DE SOUZA – MEDICINA FAMETRO 2021 – DERMATOLOGIA Diagnóstico É fundamentalmente clínico. Pode-se realizar cultura para identificação do agente infeccioso. Deve-se diferenciar de trombose venosa profunda e tromboflebite. Tratamento Na erisipela, o repouso é essencial, Droga de escolha para o seu tratamento a penicilina. Penicilina G cristalina, 5 a 10 milhões de unidades, vias intramuscular ou intravenosa, a cada 4 a 6 horas. Penicilina G potássica procaína, 400 mil unidades, 2 a 3 vezes por dia. Na possibilidade de associação estreptoestafilocócica, é indicada a oxacilina, 500 mg, a cada 4 a 6 horas. Elevação do membro, compressas frias e desbridamentos S/N Conceito Infecção grave e profunda do tecido subcutâneo → destruição progressiva da fáscia e do panículo adiposo, → necrose rápida e extensa, com gangrena da pele e das estuturas subajacentes. Etiopatogenia Estreptococo do grupo A (S. pyogenes, tipo II) ou por bactérias anaeróbias e aeróbias como outros Streptococci, enterococos, S. aureus, espécies de Clostridium Clínica Em cerca de 50% das vezes ocorre após um procedimentocirúrgico ou trauma; Após cerca de 48 h, surgem lesões eritematosas, semelhantes à celulite, dolorosas, que rapidamente se tornam violáceas e com bolhas e, posteriormente, ulceradas e gangrenosas Febre alta e mal-estar estão presentes. Diagnóstico É clínico Confirmado pelo Gram e pela cultura feitos do aspirado da lesão Tratamento ATB de largo espectro deve ser iniciado. O desbridamento cirúrgico é essencial, sendo importante na diferenciação com a celulite. Frequentemente está associada à síndrome do choque tóxico. Infecções estafilocócicas que atingem o folículo pilossebáceo. Trauma ou oclusão Podem ser classificadas em superficial e profunda Áreas de cabelo, barba e axilas Foliculite superficial Foliculite ostial ou impetigo de Bockhart Caracteriza-se por pequenas pústulas muito superficiais, em número variável, centradas por pelo, atingindo qualquer área do corpo. No início podem ser extremamente pruriginosas. A depilação de extensas áreas muito em voga atualmente, a cera e mesmo com o uso de lâmina, favorece a sua instalação. Foliculites profundas Foliculite decalvante É uma foliculite representada por pústulas relativamente superficiais, mas que provocam a depilação definitiva de cada pelo comprometido É de evolução crônica Em função da fibrose, vários fios podem emergir da mesma abertura folicular (politriquia) dando o aspecto típico de “cabelo de boneca”; Localizações frequentes o couro cabeludo, a barba (sicose lupoide de Brocq) e os membros inferiores (foliculite decalvante de Arnozan e Dubreuilh). O tratamento oferece resultados bastante precários e deve ser feito com antibióticos por longos períodos. Dapsona pode ser útil na dose de 100 mg/dia durante alguns poucos meses com resultados após 2 meses e deve ser reduzida posteriormente para 25 mg/dia, assim como dapsona tópica 1 a 2 vezes ao dia. FASCIÍTE NECROSANTE FOLICULITE INFECCIOSA JOEL NERES DE SOUZA – MEDICINA FAMETRO 2021 – DERMATOLOGIA Foliculite queloidiana Localização típica na nuca. Pústulas confluem e levam à formação de fístulas e fibrose de aspecto queloidiano É um quadro muito crônico, rebelde e peculiar do homem adulto, predominantemente de raça negra. O tratamento consiste no uso de antibióticos tópicos (clindamicina) e orais. Pode-se utilizar corticoide de alta potência tópico e intralesional. Se a lesão for crônica e estável, excisão cirúrgica torna-se uma opção. Foliculite da barba ou sicose Caracteriza-se por sua localização (região da barba) e elevada cronicidade. Pústulas isoladas ou confluentes, formando verdadeiras placas infiltradas. É exclusiva do adulto masculino. A chamada sicose lupoide é uma foliculite decalvante da barba. Impõe-se diferenciá-la principalmente da dermatofitose, herpes simples e pseudofoliculite Conceito É uma estafilococcia necrosante do aparelho pilossebáceo. Clínica Inicia-se por lesão eritematoinflamatória, dolorosa, centrada por pelo, com evolução aguda (dias), levando à necrose central (carnegão), que acaba por eliminar-se. É comum em axilas e nádegas Histologia → acúmulo de neutrófilos formando abscessos. Carbúnculo confluência de vários furúnculos ao mesmo tempo e no mesmo lugar Antraz para a infecção pelo B. anthracis, O carbúnculo é típico do idoso, sobretudo diabético. À multiplicidade de lesões ou recidivas frequentes dá-se o nome de furunculose. Diagnóstico É clínico. Quando necessário, exame bacteriológico e antibiograma no caso de suspeita de MRSA comunitário. Tratamento Evolução em torno de 10 a 14 dias; ATB Cefalexina 2g/dia As lesões com flutuação ou muito dolorosas devem ser drenadas. Nas lesões importantes de face, recomenda-se o uso de antibiótico via parenteral. Uso de sabonetes antissépticos → clorexidina, Uso tópico de mupirocina, no vestíbulo nasal, por 5 dias. Rifampicina, 600 mg/dia durante 10 dias, também tem mostrado eficácia. FURÚNCULO